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Resistência Interna de um Voltímetro Analógico Introdução Quando se trata do ramo da engenharia elétrica, técnicos ou eletricistas em geral, diariamente lidamos com dispositivos que idealizamos, ou seja, tem valores que não são possíveis de serem obtidos na realidade, mas que constituem uma boa aproximação, ou uma boa extrapolação do que de fato ocorre. Um bom exemplo disso, são os sensores de circuito, como amperímetro e voltímetro, que, para efeito simplificador, atribuímos resistências nula e infinita, respectivamente, de forma que a medição não interfira nos valores reais das grandezas associadas ao circuito. Nesse experimento, iremos discorrer mais acerca de voltímetros analógicos, e ao fim, determinar com relativa precisão o valor de resistência de um voltímetro comercial. Objetivos Com auxílio de materiais disponíveis em laboratório, iremos determinar a resistência interna de um voltímetro analógico, de forma experimental, baseada em valores coletados, juntamente a sua incerteza, e discorrer sobre o porquê desse experimento poder ser utilizado apenas para medição de resistência interna de um voltímetro analógico, e não em voltímetros digitais, como presentes num multímetro digital. Materiais 01 Capacitor eletrolítico de 2200𝜇𝐹 ± 3% 01 Fonte de tensão contínua 01 Voltímetro analógico 01 Cronômetro Fios/cabos metálicos para conexão de componentes Computador para elaboração de gráficos e ajustes de curvas. Métodos Para podermos medir a tensão do capacitor ao longo de sua descarga, precisamos inicialmente carregar este dispositivo, portanto, conectando-o a uma fonte externa, como ilustrado na montagem do circuito da figura 1-a. Escolhemos um capacitor de alta capacitância, pois como sabemos, em circuitos RC, a constante de tempo capacitiva, dada pela relação (1), rege o comportamento do circuito ao longo do tempo, determinando se este carrega/descarrega mais ou menos rapidamente, uma vez que 𝜏 é uma grandeza temporal. Assim, como iremos realizar medidas manuais, desejamos aumentar o valor de 𝜏 para que seja possível um maior número de amostragens. 𝜏 = 𝑅𝐶 𝑒𝑞𝑢𝑎çã𝑜 (1) Após o carregamento, retiramos a fonte do contato com o capacitor, e conectamos seu terminal ao voltímetro (figura 1-b), simbolizado apenas por sua resistência interna 𝑅, cujo valor queremos determinar. Para este novo circuito, composto apenas por resistor e capacitor (circuito RC), sabemos como calcular a tensão 𝑉, para cada instante de tempo 𝑡, sobre o resistor 𝑅, de acordo com a equação a seguir (2), dada pela lei de Kirchhoff, em que 𝑉0 é a tensão sob a qual o capacitor foi submetido durante seu carregamento. 𝑉(𝑡) = 𝑉0𝑒 −𝑡/𝜏 𝑒𝑞𝑢𝑎çã𝑜 (2) Assim, tendo montado corretamente o circuito do experimento, e tendo em mãos as relações físico-matemáticas que o descrevem, podemos executá-lo, coletar pares tempo-tensão, para em seguida montarmos o gráfico e encontrarmos nosso objetivo. Resultados Executando o experimento, obtemos a seguinte tabela de pares de valores (tabela 1). Tabela 1, coletada experimentalmente Tempo 𝑡 (em segundos) Tensão 𝑉 (em volts) 6,0 24,0 15,0 22,0 21,0 20,0 29,0 18,0 39,0 16,0 50,0 14,0 63,0 12,0 79,0 10,0 102,0 8,0 126,0 6,0 Que por sua vez, (tabela 1) pode ser convertida em um gráfico correspondente. Optando por um ajuste linear, conhecido por todos graduandos das engenharias, por utilizar o método dos mínimos quadrados. Para tanto, linearizamos em 𝑡 a função da equação (2) da seguinte forma (equação 3), e obtemos então, o gráfico (1). ln 𝑉 = ln 𝑉0 − 1 𝜏 ∙ 𝑡 𝑒𝑞𝑢𝑎çã𝑜 (3) Gráfico 1 O ajuste de curvas do gráfico 1, informa que nossa função é da forma 𝑉(𝑡) = 3,23 − 0,01156 ∙ 𝑡. Comparando esse ajuste com o resultado que esperávamos obter (equação 3), encontramos relações de equivalência entre elas. { ln 𝑉0 = 𝐵 ⟹ 𝑉0 = 25,3 𝑣𝑜𝑙𝑡𝑠 − 1 𝜏 = 𝐴 ⟹ 𝜏 = 86,5 𝑠𝑒𝑔𝑢𝑛𝑑𝑜𝑠 Ou seja, o valor da fonte sob a qual o capacitor foi previamente carregado (figura 1-a) é de aproximadamente 25,3 𝑉𝑐𝑐, e nossa constante de tempo capacitiva equivale á 86,5 segundos. Isso é equivalente a dizer que nosso produto 𝑅𝐶 = 86,5. Assim, conhecendo a capacitância do capacitor que foi utilizado, encontramos a resistência interna de um voltímetro analógico. 𝑅 ∙ 2200𝜇𝐹 = 86,5 𝑠𝑒𝑔𝑢𝑛𝑑𝑜𝑠 . : 𝑅 = 39.320,5Ω Como essa medida foi obtida a partir de outras grandezas, a incerteza e o erro das mesmas é propagado sobre nosso valor desejado. Assim, calculamos a incerteza padrão combinada de 𝑅 através de (4): 𝑢𝑐 2(𝑦) = ∑ ( 𝜕𝑓 𝜕𝑥𝑖 ) 2 ∙ 𝑢2(𝑥𝑖) 𝑛 𝑖=1 (4) Para 𝑅, essa relação torna-se: Δ𝑅2 = ( 1 𝐶2𝐴 ) 2 ∙ Δ𝐶2 + ( 1 𝐶𝐴2 ) 2 ∙ Δ𝐴2 (5) Logo: Δ𝑅 = 1,3 𝑘Ω Este experimento só pode ser utilizado para medir a resistência interna de um voltímetro analógico pois, este é normalmente um galvanômetro, ou seja, um dispositivo sensível á alterações magnéticas. Esse dispositivo contém espiras que, ao circular uma corrente, criam um capo magnético forte o suficiente para defletir o ponteiro do voltímetro, proporcionalmente ao módulo do campo gerado. Para que esse voltímetro, ao ser colocado em paralelo com o circuito, não o altere globalmente de forma significativa, desviando para sua espira a corrente circulante, é inserido um resistor de alta impedância, que reduz a corrente desviada para um valor próximo ao desprezível, interferindo minimamente em nosso circuito. No entanto, voltímetros digitais, que se tornaram mais comuns hoje em dia, não detêm o mesmo funcionamento. Por serem digitais, tais dispositivos são sensíveis a valores discretos de potencial elétrico. Funcionam da seguinte maneira: sensores captam o potencial (valores contínuos) presente no circuito, e transmitem esse sinal para um conversor A/D (analógico para digital), que compara tais valores com valores discretos de tensão gerados internamente. Ou seja, seu funcionamento é baseado em circuitos mais complexos de medição, envolvendo circuitos integrados e outros elementos de circuito, e portanto, não é adequado realizar esse experimento para esse subgrupo de voltímetros. Conclusão Portanto, utilizando-se o rigor matemático e a interpretação física do experimento e dos funcionamentos dos dispositivos nele utilizados, convergimos para nosso objetivo: calcular a resistência de um voltímetro analógico comercial. 𝑅 = (39,3 ± 1,3)𝑘Ω Como esperávamos, este valor é um valor finito (não infinito como idealizado), mas é consideravelmente grande, para uma ampla faixa de utilizações cotidianas, cuja resistência equivalente ao circuito 𝑅𝑒𝑞 ≪ 𝑅, portanto, uma boa aproximação é tratar 𝑅 como infinito.
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