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Seção 1 SUA PETIÇÃO DIREITO DO TRABALHO 2 Olá, aluno! Nesta disciplina, teremos a oportunidade de estudar a realidade profissional envolvendo o Direito do Trabalho e o Direito Processual do Trabalho perante o Poder Judiciário. As constantes modificações legislativas destes ramos do Direito serão aqui abordadas, com ênfase para as mudanças perpetradas pela Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/17). Também, trataremos da interpretação da legislação pelos Tribunais do Trabalho. Você, aluno, foi procurado por Pedro Castilho, brasileiro, solteiro, pedreiro. Ele lhe diz que estava desempregado, portanto resolveu aceitar uma proposta de trabalho da Construtora Viver Bem Ltda. Todavia, para sua surpresa, a construtora lhe propôs uma contratação por meio de pessoa jurídica, ao fundamento de que não havia qualquer impedimento para a realização deste tipo de terceirização. Foi sugerido que ele criasse uma Microempresa Individual, popularmente conhecida como MEI. Esta sua empresa é que firmaria um contrato de prestação de serviços com a Construtora Viver Bem. Este contrato foi firmado em 7 de janeiro de 2019, data em que o trabalho se iniciou. Na realidade, o Sr. Pedro laborava de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, com intervalo de 1h. No contrato, ficou ajustado o valor fixo mensal de R$ 3.000,00 (três mil reais) pela prestação de serviços. Como se tratava de contrato de natureza civil, sem vínculo de emprego, não recebia qualquer valor a título de horas extras. Também, não recebia vale-transporte, embora, diariamente, precisava se deslocar de ônibus de sua casa para o trabalho e o trajeto contrário, gastando R$ 4,50 em cada uma das duas passagens que necessitava por dia. Ele laborou ininterruptamente até 20 de dezembro de 2019, quando foi notificado pela construtora acerca da rescisão do seu contrato. No pacto firmado, havia a previsão de necessidade de prévio aviso da rescisão contratual com 10 (dez) dias de antecedência, o que foi observado. Houve, portanto, o pagamento de todos os serviços prestados no mês de dezembro de 2019. Seção 1 DIREITO DO TRABALHO Sua causa! 3 Pedro lhe procura para verificar se existe alguma possibilidade jurídica de ajuizamento de reclamação trabalhista contra a Construtora Viver Bem Ltda., pois informa que não podia faltar ao trabalho; tinha que cumprir o horário previsto no contrato, sob pena de advertência; estava subordinado ao Sr. Marcelo, encarregado da obra em que prestou serviços e funcionário celetista da empresa; e que tinha que usar uniforme da construtora. Pedro Castilho lhe informa que a Construtora Viver Bem Ltda. tem, aproximadamente, 12 (doze) funcionários e que o local de trabalho era na Avenida Rebouças, nº 1.500, no Bairro de Pinheiros, em São Paulo/SP. Ele lhe entrega cópia do contrato de prestação de serviços entre a Pedro Castilho MEI e a mencionada construtora. Por este documento, verifica-se que o endereço da construtora é na Av. Paulista, nº 500, 14º andar, Bairro Bela Vista, São Paulo/SP, CEP 00.010-30. Já o Sr. Pedro é residente e domiciliado na Rua Fontoura Xavier, nº 20, Bairro Itaquera, São Paulo/SP, CEP 00.120- 50. Agora é com você. Diante de todas as informações que foram repassadas por Pedro, que está novamente desempregado, você deve analisar os direitos a que ele faz jus e elaborar a peça processual adequada à postulação junto ao Poder Judiciário dos direitos trabalhistas que lhe são devidos. Caro aluno, a situação narrada tem se tornado cada dia mais frequente, sobretudo após a Lei nº 13.429/17 e a Lei nº 13.467/17, além da decisão do Supremo Tribunal Federal, que declarou a possibilidade de terceirização na atividade fim. Assim, o caso apresentado lhe prepara para a vida prática, seja como advogado, seja atuando em outra área da esfera trabalhista. Vamos, então, à análise das questões relativas ao Direito Processual do Trabalho e ao Direito do Trabalho que devem ser abordadas na peça processual a ser elaborada. . Fundamentando! 4 DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 1 – PEÇA PROCESSUAL Toda peça processual deve ser iniciada com o endereçamento, que nada mais é do que a indicação a quem ela se destina. No caso proposto, deve-se analisar se a competência material é da Justiça do Trabalho ou da Justiça Comum. Para o deslinde desta controvérsia, é imprescindível a leitura do art. 114 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88). Dirimido o ramo do Poder Judiciário que é competente para processar e julgar o litígio, deve-se proceder à leitura do art. 651 da CLT. Nele estão elencadas as regras inerentes à competência em razão do lugar, ou seja, qual a localidade em que a peça processual deve ser distribuída. Dúvida que sempre surge diz respeito à aplicação do Código de Processo Civil ao Direito Processual do Trabalho. A resposta pode ser extraída da redação do art. 769 da CLT. Segundo ele, as normas processuais cíveis podem ser aplicadas ao Processo do Trabalho, desde que haja lacuna legislativa e na hipótese de elas serem compatíveis com os princípios trabalhistas. No caso proposto, a leitura inicial deve ser do § 1º do art. 840 da CLT. A partir dela, você verificará se a legislação processual trabalhista trata ou não da peça processual a ser elaborada, isto é, se será necessária a consulta também ao Código de Processo Civil. Merece, também, leitura atenta a Instrução Normativa nº 41, de 21 de junho de 2018, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), especialmente o § 2º do art. 12. Ela dispõe sobre a aplicação das normas processuais da Consolidação das Leis do Trabalho alteradas pela Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Nessa peça processual (como prática jurídica) a ser elaborada, não é necessária a aposição de valor para cada pedido. Basta indicar que se trata de requisito essencial, o que pode ser feito mediante aposição, por exemplo, um “R$” no local destinado a cada valor. O mesmo deve ser feito no que diz respeito ao valor da causa, eis que também é requisito obrigatório da peça processual a ser elaborada. Lembre-se da assinatura da peça processual e de que, no Exame de Ordem, não pode haver indicação, mas você deve fazer menção de que a petição não pode ser apócrifa. No Direito 5 Processual do Trabalho, há a peculiaridade que ela pode ser assinada pelas próprias partes. Conclui- se, portanto, que é possível litigar sem a necessidade de contratação de advogado, conforme se extrai da leitura do caput do art. 791 da CLT, consagrando o denominado jus postulandi. Todavia, a jurisprudência trabalhista limita a prática de atos processuais sem a representação de advogado, o que está sedimentado na Súmula nº 425 do TST. Por fim, é absolutamente relevante destacar que o rito ou procedimento sob o qual a reclamação trabalhista deve tramitar é definido pelo valor atribuído à causa, quando da sua distribuição perante o Poder Judiciário. Tendo em vista que no caso proposto não será exigida a aposição de valor da causa, deve-se adotar as regras do rito ordinário, em que tal valor é superior a 40 (quarenta) salários mínimos nacionais no momento do ajuizamento da ação judicial. No Direito Processual do Trabalho, ainda existem outros dois ritos. Caso não seja atribuído à demanda um valor superior a duas vezes o salário mínimo, o procedimento é o sumário, cujas regras estão descritas na Lei nº 5.584/70. Também conhecido como “causa de alçada”, sua principal característica é que o Recurso Ordinário que combate a sentença somente poderá ser interposto na hipótese de violação à Constituição da República Federativa do Brasil, nos termos do § 4º do art. 2º da referida Lei. Existe, ainda, o rito sumaríssimo. Ele abarca as reclamações trabalhistas, cujo valor da causa está situado acima de 2 (dois)salários mínimos nacionais até 40 (quarenta) vezes o referido salário. Para sua compreensão, é fundamental a leitura do art. 852-A até o art. 852-I da CLT. A nomenclatura “rito sumaríssimo” indica que este deveria ser o procedimento cujo valor da causa fosse inferior àquele atribuído as causas sujeitas ao “rito sumário”. Entretanto, o “rito sumaríssimo” surgiu no ordenamento jurídico em momento posterior, ou seja, quando já havia previsão legislativa acerca do “rito sumário. Ocorre que o legislador não adequou as nomenclaturas, de modo que, hoje, temos esta incoerência semântica. PONTO DE ATENÇÃO 6 Uma vez esgotados os principais aspectos processuais, passaremos aos pontos principais que envolvem o Direito do Trabalho. 2 – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Esta temática sofreu modificações pela Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/17), sendo o debate doutrinário e jurisprudencial bastante amplo. Antes da Reforma Trabalhista, os honorários advocatícios de sucumbência somente eram devidos ao advogado do reclamante, desde que o profissional do Direito estivesse vinculado ao sindicato da categoria. Agora, as regras a serem aplicadas estão previstas no art. 791-A da CLT. Dessa forma, você deve analisar se a peça processual deve ou não conter pleito referente aos honorários advocatícios. DIREITO DO TRABALHO 1 – TERCEIRIZAÇÃO O fenômeno da terceirização é bastante polêmico, uma vez que a comunidade jurídica trabalhista o encara como uma precarização das relações de trabalho. Além disso, a grande dificuldade enfrentada pelos operadores do direito residia na ausência de previsão legislativa sobre o tema, ou seja, não havia qualquer regulamentação. Diante de lacuna legislativa, não restou alternativa senão a Justiça do Trabalho firmar entendimento para dirimir os conflitos que eram levados até ela. Surgiu, assim, a Súmula nº 331, do TST, que diferenciava a terceirização na atividade meio daquela realizada na atividade fim, vedando esta última. Assim, na hipótese de se entender que ela ocorria no caso concreto, a consequência jurídica era o reconhecimento do vínculo empregatício com o tomador dos serviços. 7 A referida súmula previa a legalidade da terceirização da atividade meio. Logo, não se formava o vínculo de emprego com o tomador dos serviços, mas, em caso de descumprimento da ordem legal, ele era responsabilizado de forma subsidiária, isto é, se o empregador não fizesse os corretos pagamentos, esta reponsabilidade recairia sobre aquele que realizou a contratação da atividade terceirizada. Este panorama foi alterado com a Lei nº 13.439/17, que antecedeu a conhecida Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/17). Esta modificação legislativa trouxe os primeiros contornos regulatórios acerca da terceirização. A modificação desta situação teve início com a promulgação da Lei nº 13.429, de 31 de março de 2017. Ela mudou o texto da Lei nº 6.019/74 e estabeleceu que a contratação de trabalhadores por empresa de trabalho temporário pode se destinar à realização de trabalhos tanto da atividade-fim quanto da atividade-meio da empresa tomadora dos serviços. Entretanto, a alteração legislativa foi tímida, não conferindo, na prática, maior segurança jurídica para a realização de terceirização, sobretudo na atividade fim. A Reforma Trabalhista que, de fato, trouxe mais mudanças nesse regramento, promovendo outras alterações na Lei nº 6.019/74. Ocorre que nem sempre é a legislação que traz segurança jurídica para as partes envolvidas na relação jurídica. Via de regra, as decisões dos Tribunais Superiores é que têm essa capacidade. Neste contexto, o ato de terceirizar somente se tornou mais seguro com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de 30 de agosto de 2018, no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 324 e no Recurso Extraordinário (RE) 958252, com repercussão geral reconhecida, isto é, com aplicação automática para todas as ações judiciais em curso, desde que, obviamente, versem sobre o tema. O STF entendeu que é lícita a terceirização em todas as etapas do processo produtivo, inclusive na atividade fim. Foi editada a seguinte tese de repercussão geral, a qual deve ser aplicada a todos os processos em curso sobre terceirização, mesmo aqueles iniciados antes do advento da mencionada decisão, desde que não tenha ocorrido o trânsito em julgado: “É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto social das empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da empresa contratante” (BRASIL, 2019, [s.p.]). Não se pode perder de vista a importância do conhecimento jurídico específico. Muitos operadores do Direito, após a decisão do STF que declarou a licitude de terceirização, inclusive na atividade fim, passaram a entender que bastaria a contratação de um trabalhador por intermédio de uma Microempresa Individual (MEI) ou de outra roupagem societária para que fosse afastado o vínculo 8 de emprego. Esta análise é equivocada e já traz à Justiça do Trabalho diversas reclamações trabalhistas que apontam fraude na terceirização praticada. Quando se terceiriza, o tomador dos serviços não pode mais usar o seu poder diretivo no dia a dia. Para que fique mais claro, levaremos em consideração uma construtora que resolve contratar cada um de seus pedreiros como microempresário individual, ou seja, sem vínculo empregatício. Entretanto, no dia a dia, essas pessoas estão submetidas ao controle de horário e a regras estabelecidas pela construtora e têm o seu trabalho fiscalizado. Trata-se de terceirização lícita, autorizada pelo STF? Obviamente, não. A situação narrada é a típica hipótese de “pejotização”, que não se confunde com a terceirização. Ela é justamente a fraude à terceirização, como ocorrido no caso utilizado a título de exemplo. Para melhor compreensão do que se pretende analisar, é fundamental a leitura das decisões do TST, especialmente os acórdãos publicados em 24 de agosto de 2018 e 26 de outubro de 2018, ambos no Processo nº 1251-67.2013.5.09.00841. A análise do caso proposto, que envolve o Sr. Pedro Castilho, assim como das demais situações concretas, deve perpassar pela leitura dos arts. 3º e 9º da CLT. No art. 3º, estão elencados os requisitos da relação de emprego, enquanto o art. 9º dispõe que são “nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação” (BRASIL, 1943, [s.p.]). Não se pode perder de vista o art. 4º-A da Lei nº 6.019/74, introduzido pela Reforma Trabalhista. Ele passou a definir a possibilidade de terceirização da seguinte forma: Art. 4º-A. Considera-se prestação de serviços a terceiros a transferência feita pela contratante da execução de quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal, à pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços que possua capacidade econômica compatível com a sua execução. § 1o A empresa prestadora de serviços contrata, remunera e dirige o trabalho realizado por seus trabalhadores, ou subcontrata outras empresas para realização desses serviços. § 2º Não se configura vínculo empregatício entre os trabalhadores, ou sócios das empresas prestadoras de serviços, qualquer que seja o seu ramo, e a empresa contratante. (BRASIL, 1974, [s.p.]) 1 Pode ser acessado pelo seguinte endereço eletrônico: http://aplicacao4.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&num eroTst=1251&digitoTst=67&anoTst=2013&orgaoTst=5&tribunalTst=09&varaTst=0084&submit=Consultar# http://aplicacao4.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=1251&digitoTst=67&anoTst=2013&orgaoTst=5&tribunalTst=09&varaTst=0084&submit=Consultarhttp://aplicacao4.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=1251&digitoTst=67&anoTst=2013&orgaoTst=5&tribunalTst=09&varaTst=0084&submit=Consultar 9 Neste contexto, você deve analisar se no caso concreto estão presentes os requisitos caracterizadores da relação de emprego. Caso positivo, pode-se invocar o art. 9º da CLT para declarar nula a terceirização realizada e, consequentemente, reconhecer a existência de vínculo de emprego? 2 – REQUISITOS DA RELAÇÃO DE EMPREGO A relação de emprego é de ordem pública, ou seja, sua existência não é determinada pela vontade dos particulares, mas pela presença concomitante dos requisitos que a caracterizam, que estão previstos no art. 3º da CLT. São eles: a. Trabalho prestado por pessoa física: como a própria nomenclatura sugere, trata-se do labor executado por pessoa física. b. Pessoalidade: muitos doutrinadores tratam este requisito junto ao explicitado anteriormente. Todavia, o fato de o labor ser prestado por pessoa física não quer dizer, necessariamente, que haja pessoalidade. Para que este requisito esteja presente, é fundamental que o trabalhador não possa ser substituído por outro, haja vista que a prestação de serviços é intuito personae. Além disso, deve-se mencionar que eventuais substituições consentidas pelo empregador não desnaturam o vínculo empregatício, assim como substituições em virtude de férias, cumprimento de mandato sindical, entre outras. c. Não eventualidade: para caracterização do vínculo empregatício, é necessário que o trabalho tenha caráter de permanência, não se qualificando como trabalho esporádico. A não eventualidade na prestação dos serviços significa a prestação de trabalho em caráter permanente, o que não se confunde com intermitência. d. Onerosidade: existência de contraprestação, uma vez que o trabalho prestado de forma voluntária, sem pagamento de salário, também descaracteriza a relação de emprego. A pesquisa da onerosidade tem a esfera objetiva, que se traduz pela verificação do pagamento da contraprestação, do salário, e a subjetiva. Esta última deve ser pesquisada quando a contraprestação não for clara, por exemplo, em trabalho religioso, voluntário ou político. Nesses casos, deve-se analisar a intenção contraprestativa, econômica, conferida pelas partes, em especial pelo prestador dos serviços. 10 e. Subordinação: é a dependência hierárquica (jurídica) em que se encontra o empregado em face do empregador. Apesar de o empregado alienar sua força laborativa, esta não se desvincula de sua pessoa. O empregado, então, subordina-se à vontade do empregador, respeitados os limites contratuais, legais e constitucionais. Ele deve cumprir as ordens emanadas do seu contratante, desde que inerentes ao contrato firmado e se não violarem os preceitos legais e constitucionais, sobretudo o princípio da dignidade da pessoa humana. Você, na qualidade de futuro advogado, deve investigar no caso concreto se todos os citados elementos estão presentes, isto é, se há relação de emprego na situação que envolve Pedro Castilho e a Construtora Viver Bem. Para se buscar a melhor solução para o caso de Pedro, é necessário avaliar também o disposto no art. 9º da CLT, assim como todas as parcelas que porventura lhe tenham sido sonegadas em razão da inexistência de contrato de trabalho. Não se pode esquecer da assinatura da CTPS, que deve observar o disposto na Orientação Jurisprudencial nº 82, da SDI-I, do TST. Por fim, não se pode perder de vista o entendimento jurisprudencial sobre a aplicabilidade da multa prevista no art. 477 da CLT no caso sob exame. 3 – VERBAS RESCISÓRIAS Na hipótese de haver a nulidade da contratação de Pedro, a consequência jurídica será o reconhecimento do vínculo empregatício, com o deferimento das parcelas sonegadas no curso do contrato de trabalho, especialmente o aviso prévio, as férias acrescidas do 1/3 constitucional, o décimo terceiro salário proporcional, o pagamento da multa de 40% do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), o direito ao recebimento do valor do FGTS e as guias para fins de seguro- desemprego. Para tanto, é fundamental a análise da legislação: • Aviso prévio: analisar o art. 1º da Lei nº 12.506/11, assim como do disposto no art. 487 da CLT. • Férias: analisar do art. 129 até o art. 148 da CLT, com ênfase nos arts. 146 e 147, assim como o disposto no inciso XVII do art. 7º da CF/88. 11 • Décimo terceiro salário: analisar o inciso VIII do art. 7º da CF/88 e o art. 1º da Lei nº 4.090/62. • Multa de 40% do FGTS: analisar o art. 18 da Lei nº 8.036/90 e inciso I do art. 7º da CF/88. Quando da verificação das férias proporcionais e do décimo terceiro proporcional, é muito importante observar que, a cada período completo de um mês de labor, o reclamante fará jus a 1/12 a este título. Da mesma forma, terá direito a 1/12 quando o período incompleto for igual ou superior a 15 (quinze) dias de trabalho. Estas regras estão previstas no art. 146 da CLT e no art. 1º da Lei nº 4.090/62. 4 – MULTA DO § 8º DO ART. 477 DA CLT A ausência do reconhecimento da relação de emprego acarretou o não recebimento das verbas rescisórias por parte do reclamante, ou seja, caracterizou-se o atraso no seu pagamento e a consequente incidência da multa prevista no § 8º do art. 477 da CLT. Neste sentido, vale também a leitura da Súmula nº 462 do TST. 5 – VALE-TRANSPORTE A Lei nº 7.418/85 disciplina a obrigatoriedade de o empregador fornecer vale-transporte, de forma antecipada, para que o trabalhador possa se deslocar da casa para o trabalho, e vice-versa. A referida lei é regulamentada pelo Decreto nº 95.247/1987. Dessa forma, você deve analisar a legislação pátria, a fim de verificar se Pedro faz jus ao reembolso dos valores gastos no deslocamento casa/trabalho/casa. A análise jurídica deve passar dever de seu fornecimento mesmo se a relação de emprego não for reconhecida em juízo. 6 – JUSTIÇA GRATUITA Outro ponto bastante sensível do nosso ordenamento jurídico diz respeito à justiça gratuita. A Lei nº 13.467/17 buscou sistematizar a questão em matéria trabalhista, como se pode inferir da nova redação do art. 790 da CLT, especialmente nos §§ 3º e 4º. 12 Diante do exposto, você deve analisar a situação concreta e avaliar o cabimento do requerimento dos benefícios da justiça gratuita em sua peça processual. Quadro 1.1 | Sinótico da legislação e jurisprudência consolidada aplicável (referidos e não referidos nas explicações anteriores) Assunto CF/88 CLT CPC/2015 TST Outros Peça processual Art. 114. Art. 651; art. 769; art. 787; art. 790, § 3º; art. 791; art. 838; art. 840; art. 852-A ao art. 852-I. art. 287; art. 292; art. 319; art. 322 e seguintes. Instrução Normativa nº 41; Súmula nº 425. Lei nº 5.584/70. Terceirização - Art. 3º; Art. 9º. - Súmula nº 331; Acórdão proferido no Processo nº 1251- 67.2013.5.09.008 4. Lei nº 13.429/17; Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 324 e Recurso Extraordinário (RE) 958252; art. 4º-A da Lei nº 6.019/74. Relação de Emprego - Art. 3º; art. 9º; art. 477. - Orientação Jurisprudencial nº 82, da SDI-I. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 324 e Recurso Extraordinário (RE) 958252. Verbas Rescisórias Art. 7º, incisos I, VIII e XVII. Art. 129 ao art. 148; art. 487. - - Art. 1º da Lei nº 12.506/11; art. 1º da Lei nº 4.090/62; art. 18 da Lei nº 8036/90. Multa do art. 477 da CLT - Art. 477. - Súmula nº 462. - Vale- transporte - Art. 457. - - Lei nº 7.418/85; Decreto nº 95.247/1987. Gratuidade judiciária - Art. 790; art. 790-A. Art. 99, caput. - - Honorários advocatícios - Art. 791-A. - - - Fonte: elaborado pelo autor.13 Agora é com você! Como já de posse das informações necessárias, elabore a peça processual adequada. Observe todos os requisitos formais e os fundamentos que devem estar contidos na petição a ser elaborada. A falta de um deles pode torná-la deficiente, não se prestando para o fim pretendido. Vamos peticionar? REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 24 out. 2020. BRASIL. Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962. Institui a Gratificação de Natal para os trabalhadores. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4090.htm. Acesso em: 24 out. 2020. BRASIL. Lei nº 5.584, de 26 de junho de 1970. Dispõe sobre normas de Direito Processual do Trabalho, altera dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho, disciplina a concessão e prestação de assistência e prestação de assistência judiciária na Justiça do Trabalho, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5584.htm. Acesso em: 24 out. 2020. BRASIL. Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho Temporário nas Empresas Urbanas, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6019.htm. Acesso em: 24 out. 2020. BRASIL. Decreto nº 95.247, de 17 de novembro de 1987. Regulamenta a Lei nº 7.418, de 16 de dezembro de 1985, que institui o vale-transporte, com a alteração da Lei nº 7.619, de 30 de setembro de 1987. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d95247.htm. Acesso em: 24 out. 2020. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 24 out. 2020. BRASIL. Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990. Dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8036consol.htm. Acesso em: 24 out. 2020. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Orientação Jurisprudencial nº 82, de 28 de abril de 1997. Aviso prévio. Brasília, DF: TST, [2020]. Disponível em: http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/OJ_SDI_1/n_s1_081.htm. Acesso em: 24 out. 2020. Vamos peticionar! http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4090.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5584.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6019.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d95247.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8036consol.htm http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/OJ_SDI_1/n_s1_081.htm 14 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 425. Jus Postulandi na Justiça do Trabalho. Brasília, DF: TST, 2010. Disponível em: http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_401_450.html#SUM-425. Acesso em: 24 out. 2020. BRASIL. Lei nº 12.506, de 11 de outubro de 2011. Dispõe sobre o aviso prévio e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12506.htm. Acesso em: 24 out. 2020. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 331. Contrato de prestação de serviços. Brasília, DF: TST, 2011. Disponível em: http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_301_350.html#SUM-331. Acesso em: 24 out. 2020. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 462. Multa do art. 477, § 8º, da CLT. Incidência. Reconhecimento judicial da relação de emprego. Brasília, DF: TST, 2016. Disponível em: http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_451_600.html#SUM-462. Acesso em: 24 out. 2020. BRASIL. Lei nº 13.429, de 31 de março de 2017. Altera dispositivos da Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974, que dispõe sobre o trabalho temporário nas empresas urbanas e dá outras providências; e dispõe sobre as relações de trabalho na empresa de prestação de serviços a terceiros. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2017/lei/l13429.htm. Acesso em: 24 out. 2020. BRASIL. 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