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AULA 4 Profª Iracema de Almeida Benevides ANTROPOSOFIA APLICADA À SAÚDE 2 CONVERSA INICIAL O objetivo da quarta aula deste curso de introdução à Medicina e Terapias Antroposóficas é apresentar como esse sistema de caráter multiprofissional pode contribuir para o cuidado em saúde, de forma integrada e complementar à abordagem convencional em saúde. Ao longo de um século de existência, a Medicina antroposófica alcançou ser desenvolvida em todas as áreas da saúde e da medicina, compreendendo os níveis de atenção à saúde primário, secundário e terciário, conquistando bons resultados e reconhecimento. Essa situação é possível exatamente pelo fato de tratar-se de uma ampliação da própria medicina convencional e ser praticada por profissionais com formação acadêmica prévia. Recentemente, a Seção Médica no Goetheanum, órgão responsável pela coordenação, desenvolvimento e aperfeiçoamento da Medicina Antroposófica em âmbito mundial, vem buscando identificar as maiores necessidades dos nossos tempos e áreas em que essa abordagem possa contribuir de forma mais relevante e oportuna, com seu olhar ampliado para o ser humano e os temas de saúde e doença. Foi então desenvolvido o conceito de áreas “CARE”, que na língua inglesa significa “cuidado”. Cinco áreas foram consideradas como aquelas em que a Medicina e Terapias Antroposóficas possuem uma compreensão clara e estratégias de abordagem bem definidas e validadas, podendo contribuir de maneira decisiva e com recursos acessíveis, para um resultado melhor. São elas: • CARE 1: Gravidez, nascimento e primeira infância. Pessoas com deficiência; • CARE 2: Tratamento de febres e infecções febris, tendo em vista a resistência a antibióticos; • CARE 3: Distúrbios do sono, formas comuns de ansiedade e depressão, distúrbios de estresse pós-traumático; • CARE 4: Oncologia; • CARE 5: Cuidados paliativos, terapia da dor, acompanhamento de pacientes que estão morrendo. Esta aula contemplará uma introdução aos tópicos CARE. 3 TEMA 1 – CARE 1: GRAVIDEZ, NASCIMENTO E PRIMEIRA INFÂNCIA. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA Esse tema tem relação com o começo da vida, considerando a vida intrauterina e os primeiros anos, em especial os primeiros sete anos. Considera ainda o cuidado e apoio ao desenvolvimento das crianças e pessoas com deficiência. 1.1 Gestação e nascimento As contribuições da Medicina e Terapias Antroposóficas nessa fase da vida da mãe e do bebê são muito amplas. Trata-se de uma fase em que o corpo físico da criança está sendo formado, abrigado no interior do corpo materno. A primeira perspectiva apresentada aqui será a da criança que está sendo gerada. A partir da Antroposofia pode-se compreender que o ser humano, com sua dimensão espiritual, é o artista e autor que vai moldar sua própria casa futura, usando o “material” genético dos pais, o aconchego e a nutrição maternos. Na Aula 2, foi apresentado como o ser humano é constituído por quatro dimensões ou elementos constituintes: corpo físico, corpo vital ou etérico, corpo astral e “Eu”. Estes quatro elementos constituintes estão presentes desde a gestação: • O saco vitelino está intimamente ligado ao aspecto físico do corpo (nutrição, hereditariedade). • O âmnio e o líquido amniótico representam uma proteção vital para o feto, criando uma atmosfera “antigravitacional”. O relacionamento do âmnio com a organização da vida humana, o corpo etérico, é uma conclusão óbvia. • O alantoide e as estruturas derivadas deste – vasos umbilicais e bexiga urinária - estão claramente conectados à organização chamada corpo astral. • O córion e a placenta realizam a conexão com a mãe, formando uma unidade ‘materno-fetal”. A relação com o calor pode ser observada facilmente e, nesse sentido, é um envoltório relacionado com o Eu humano. A segunda perspectiva a ser apresentada é a materna, da mulher que vai vivenciar essa condição especial da gravidez por 9 meses e depois, a maternidade, que se estende até a vida adulta dos filhos. 4 De maneira resumida, a Medicina Antroposófica vai buscar incentivar, nesse período: 1. Que a mãe, e idealmente, o casal, procure desenvolver uma relação amorosa e espiritual com o ser da criança que está a caminho, dentro de sua compreensão e prática religiosa, caso tenham; 2. Que o casal e, em especial, a mãe, procure compreender o máximo possível os benefícios do parto natural, vaginal. E que busquem preparar- se emocional e fisicamente para isso; 3. Que os pais e familiares compreendam o melhor possível como cuidar de crianças pequenas, auxiliando-os na obtenção de informações e preparação interna e também prática para essa fase. Que esse ambiente de chegada seja sereno e silencioso, adequado a quem chega em condição bastante frágil e que está ainda sendo formado; 4. Incentivo ao aleitamento materno – além de todos os aspectos já conhecidos e enfatizados pela medicina convencional, destacamos a relevância do calor e do contato da criança com o sistema rítmico da mãe – sentir o pulsar do coração e o balanço da respiração – essas percepções conectam o bebê com seu próprio sistema rítmico e contribuem para o seu amadurecimento funcional; 5. Alguns recursos medicamentosos e terapias antroposóficas podem ser muito benéficos no apoio à gestante com relação às náuseas, refluxo gastresofágico, lombalgias, sensação de peso nas pernas, obstipação intestinal etc. Também na fase de lactação, existem recursos que possibilitam obter um melhor desempenho. O mesmo é válido para as cólicas do lactente e outras situações comuns nessa fase. Em resumo, o momento da chegada é bastante delicado e exige uma educação dos pais e familiares. Os principais aspectos são o calor (físico, anímico e espiritual), a proteção (sentidos abertos ao mundo), a nutrição (aleitamento materno sempre que possível), a educação dos ritmos dia e noite e demais ritmos do organismo. Médicos e enfermeiros com formação em Antroposofia aplicada à Saúde vão saber avaliar cada caso individualmente e definir, em conjunto com o casal, ou a mãe, a conduta e as informações mais adequadas. 5 1.2 Primeira Infância – “O mundo é bom” O olhar da Antroposofia para a primeira infância é bastante especial, considerando que nos primeiros sete anos o sistema nervoso e também alguns outros órgãos da criança ainda estão em fase de desenvolvimento. Até o final dos primeiros três anos de vida a criança vai conquistar três habilidades essencialmente humanas, e que serão decisivas para a sua biografia: Andar – a marcha, conquista geralmente ao final do primeiro ano, está relacionada ao sistema metabólico motor; Falar – a fala, conquistada geralmente durante o segundo ano, ou antes, está relacionada com o âmbito do sistema rítmico; Pensar – o pensar de forma mais conexa começa a manifestar-se geralmente ao terceiro ano e a criança começa a perceber a si mesma como separada de seus pais. Conforme apresentado anteriormente, o sistema rítmico é o sistema da saúde e da recuperação, que equilibra as polaridades dos sistemas neurossensorial e metabólico-motor. A educação da criança pequena acontece principalmente pela imitação. As crianças são totalmente abertas ao mundo e esse imprime-se em sua constituição. Se atentarmos para como criança, em essência, é um ser imitador, ela, em certa medida, é um órgão sensorial anímico que, de uma maneira corpórea, está entregue ao ambiente que a circunda. Teremos então de atentar essencialmente para que, nesta fase da vida, portanto, até à troca de dentes, tudo atue verdadeiramente, no ambiente que a circunda, de modo que a criança possa assimilar sensorialmente e elaborar em si. Teremos como que preparado, na criança, até a troca de dentes, em verdade tudo o que se relaciona com os mais importantes impulsos da vida. (Rudolf Steiner) Assim, todo o ambienteda criança contribui para o seu desenvolvimento nesses primeiros sete anos. Segundo a Antroposofia, o brincar é tão importante para as crianças quanto a alimentação saudável e a proteção afetuosa dos pais. No brincar, a criança vai desenvolver sua relação com o mundo e construir as bases para uma vida adulta saudável. As forças de crescimento (corpo etérico) ligadas à cabeça da criança, ao completarem a formação do sistema nervoso, metamorfoseiam-se em capacidades para o pensar. Esse processo acontece quase que contemporaneamente ao nascimento da dentição definitiva. Assim é que, na 6 pedagogia Waldorf, inspirada nos ensinamentos de Rudolf Steiner, procura-se alfabetizar a criança, preferencialmente após essa fase. O brincar da criança é a manifestação mais profunda do impulso que conduz ao fazer, sendo que nesse fazer o homem tem a sua verdadeira essência humana. Não seria possível imaginar uma criança que não desejasse ser mais ativa, como o é quando brinca, pois o brincar representa a liberdade de uma atividade que deseja se libertar do cerne do ser humano. (Rudolf Steiner) 1.3 Vivendo com deficiência A visão materialista e utilitarista conduziu a humanidade a cometer erros graves ao lidar com as pessoas com deficiência, aquelas que possuem alguma forma de limitações em sua estrutura física, suas funções corpóreas ou cognitivas. A Antroposofia desenvolveu uma abordagem única para lidar com essas crianças e adultos, denominada Pedagogia Curativa ou, como mais recentemente passou a ser chamada no Brasil, Educação terapêutica. Com o apoio de cuidadores e de uma comunidade, esses indivíduos são acolhidos e estimulados a desenvolverem-se ao ponto máximo que conseguirem. Cada pequena conquista significa uma grande transformação e é comemorada com alegria. A diferença nessa abordagem é a compreensão das dimensões humanas, ou seus elementos constituintes – mesmo que esse indivíduo, criança ou adulto, manifeste limitações que o impeçam de atuar com autonomia física ou psíquica, a dimensão humana está sempre presente. Trata-se de um ser humano completo e íntegro, que temporariamente não apresenta uma manifestação física habitual. Compreende-se como uma etapa no desenvolvimento dessa individualidade, que nessa encarnação precisará de mais apoio e por mais tempo que o habitual. No Brasil, existem algumas iniciativas que trabalham com essa orientação e que realizam também a formação de profissionais em Educação Terapêutica: • Associação Beneficente Parcifal (São Paulo - SP): Disponível em: <http://parsifal.org.br/>. Acesso em: 18 dez. 2019. • Associação Solar Ita Wegman (Curitiba-PR): Disponível em: <http://www.itawegman.org.br/>. Acesso em: 18 dez. 2019. • Associação Ita Wegman (Belo Horizonte-MG): Disponível em: <https://www.facebook.com/associação-ita-wegman-mg- 188611028604003/>. Acesso em: 18 dez. 2019. 7 1.4 Medicina Escolar Esse cuidado especial que a Antroposofia tem para com a primeira infância estende-se também à escola. A Medicina Escolar ou Pedagógica compreende uma formação para médicos que os habilita a acompanharem o desenvolvimento das crianças de maneira mais individualizada e em conjunto com professores, no âmbito escolar. A função do médico escolar abrange o diagnóstico evolutivo, acompanhamento, aconselhamento, estímulo desde a primeira infância até o final do período escolar, bem como conhecimentos básicos de prevenção e salutogênese. Uma parte integrante essencial dessa atividade é a disponibilidade para adquirir os fundamentos da Pedagogia Waldorf e trabalhar junto aos pedagogos e pais. A formação tem duração mínima de três anos, em módulos com duração de dois dias e um um módulo intensivo mais longo anual, bem como o trabalho prático numa escola ou jardim de infância Waldorf, com acompanhamento de um mentor. Curso de formação em Medicina Pedagógica Sociedade Antroposófica no Brasil. Disponível em: <http://www.sab.org.br/portal/>. Acesso em: 13 dez. 2019. 1.5 Medicina A Pedagogia Waldorf foi desenvolvida por Rudolf Steiner, juntamente com professores, em 1919, visando uma educação para a liberdade e, considerando a dimensão espiritual do ser humano. De maneira resumida, a Pedagogia Waldorf vai considerar a globalidade do desenvolvimento da criança e dos jovens, desenhando um currículo que acompanhe cada fase do pensar, sentir e agir (querer). Saiba mais Para saber mais, acesse: <http://www.sab.org.br/portal/pedagogiawaldorf>. Acesso em: 13 dez. 2019. TEMA 2 – CARE 2: TRATAMENTO DE FEBRES E INFECÇÕES FEBRIS, TENDO EM VISTA A RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS As doenças infecciosas e inflamatórias são mais características do início da vida, em especial da infância e, a maturidade é caracterizada pelas doenças crônicas, “frias”. Na perspectiva da Medicina Antroposófica, uma das interpretações para esse processo é fato de o corpo vital ser mais abundante na infância e juventude, possibilitando reações de caráter mais inflamatório, ao passo que seu declínio com o envelhecimento conduz a processos de enrijecimento, desgaste, cristalização. 8 2.1 Abordagem da febre A abordagem da febre na medicina convencional considera seu papel como imunomoduladora, ou seja, responsável pelo funcionamento adequado do sistema imunológico. A febre é gerada, comumente, no organismo por delicados e complexos mecanismos fisiológicos, em resposta a situações de estresse ou infecção, que desencadeiam a elevação da temperatura e concomitante aumento da atividade do sistema imunológico. A literatura aponta que a febre é um mecanismo benéfico e salutar. No caso das doenças infecciosas, vírus e bactérias atuam como agentes estranhos, que precisam ser combatidos. É importante também que os pais e adultos consigam medir adequadamente a temperatura das crianças. Na abordagem pela Medicina Antroposófica a febre ganha uma valorização ainda maior. Em todas as aulas anteriores o tema do calor vem sendo apresentado como um elemento vinculado ao Eu humano, à individualidade. Assim, a elevação da temperatura é uma manifestação do Eu que assume a liderança no reestabelecimento da condição de saúde. Frente às febres, médicos com formação em Medicina Antroposófica vão avaliar uma série de fatores, como idade, condição geral da criança ou adulto, diagnóstico provável e recursos de cuidado e autocuidado disponíveis, além da avaliação de risco de vida. Vão buscar, dentro do possível, controlar a elevação da temperatura com recursos sem medicamentos (compressas) e também com alguns medicamentos específicos (apis, beladona). Na primeira fase da febre recomenda-se ingestão de bebidas aquecidas e aplicações externas também aquecidas. No caso de temperatura corporal alta e com grande desconforto, as compressas na temperatura corporal podem ajudar. Não aplicar frias pois podem dar reação rebote. Remédios domésticos simples podem ser usados para melhorar o bem- estar sem diminuir a febre usando medicamentos: • Recomenda-se fatias de limão nas panturrilhas e solas dos pés para reduzir a dor de cabeça, especialmente quando as pernas estão frias; • Em febre alta com desconforto: compressas mornas na panturrilha (nunca frias), de preferência com rodelas finas de limão; 9 • As compressas na testa (com algumas gotas de suco de limão ou essência de Arnica) podem aliviar a dor de cabeça. Cuidado com os olhos. (Anthromedics). Na Alemanha, o pediatra e professor David Martin da Universidade de Tübingen está aprofundando bastante o tema e está desenvolvendo a campanha “Warm up to fever” (Aquecer até ter febre), debatendo com pais e com a comunidade os medos e mitos sobre a febre. Com essa campanha, ele espera conseguir mobilizar para que menos antitérmicos venham a ser usados precocemente, limitando o potencial de amadurecimento do sistema imunológico das crianças. 2.2 Abordagem das doençasinfecciosas A resistência aos antibióticos é um problema de saúde pública internacional muito complexo e em contínuo crescimento. A Organização Mundial de Saúde estabeleceu essa questão como prioritária e emitiu um alerta para o risco de grande aumento de mortalidade por resistência aos antibióticos. Os números são alarmantes: potencialmente 10 milhões de mortes por ano até 2050 caso a situação não receba abordagem adequada. Entre as estratégias que vêm sendo desenvolvidas, considera-se a prescrição “atrasada” – ou seja, aguardar 24 ou 48 horas, monitorando o paciente, para observar a necessidade concreta do antibiótico, combinado com uso de sintomáticos eficazes. Esse é um campo com grande potencial para a atuação a partir da Medicina Antroposófica e também outras abordagens integrativas como a Homeopatia, Medicina Chinesa e Fitoterapia, como alguns estudos já vem demonstrando, que apresentam recursos consistentes e eficazes para evitar o uso desnecessário de antibióticos. Na Medicina Antroposófica existe um leque muito amplo de recursos terapêuticos não medicamentosos, em especial as compressas. Saiba mais O vade-mécum de aplicações externas da Enfermagem Antroposófica, que está sendo traduzido para o espanhol, traz orientações muito detalhadas sobre diversas compressas e usos de substâncias em aplicações externas: Disponível em: <http://www.pflege-vademecum.de/anwendungsformen.php>. Acesso em: 18 dez. 2019. 10 Igualmente amplas são as possibilidades de utilização de medicamentos antroposóficos e homeopáticos pelos médicos para o controle dos sintomas, melhora do bem-estar e estímulo da imunidade. E para concluir esta aula sobre os Temas CARE 1 e CARE 2, que estão muito relacionados com a infância, é importante acrescentar a orientação que a Medicina Antroposófica faz aos pais de redução do uso das telas digitais por crianças, especialmente as mais pequenas. Existem já estudos consistentes apontando que esses recursos hiper-estimulam as crianças e contribuem negativamente para o desenvolvimento neurológico e emocional saudável das crianças. TEMA 3 – CARE 3: DISTÚRBIOS DO SONO, FORMAS COMUNS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO, DISTÚRBIOS DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO A área temática CARE 3 contempla, de maneira geral, processos relacionados à saúde mental. Para facilitar a compreensão da perspectiva antroposófica a respeito desses aspectos, faz-se necessário revisar alguns conceitos básicos. A Aula 2 apresentou os conceitos dos quatro elementos constituintes ou quatro organizações que formam uma unidade: • Organização física ou corpo físico; • Organização vital ou corpo etérico; • Organização anímica ou corpo astral; • Organização calórica ou Organização do Eu. De forma resumida, a compreensão do processo saúde e doença na perspectiva desse sistema médico-terapêutico compreende um ou mais desses processos abaixo: a. Desequilíbrio na relação entre os quatro membros essenciais; b. Desequilíbrio nas forças que predominam em cada polo dos sistemas da trimembração; c. Obstáculos no desenvolvimento biográfico: fases biográficas são suprimidas, saltadas ou adiantadas. 11 Crédito: Thyago Macson. 3.1 Distúrbio do sono O sono é uma necessidade vital para a saúde humana e compreende, de forma geral, um terço da vida. Diversos processos de regeneração e homeostase acontecem durante o sono, permitindo que a pessoa possa sentir a sensação de frescor e renovação após algumas horas. Na perspectiva da Medicina Antroposófica, durante o dia as quatro organizações estão interligadas e o ser humano vivencia os processos relacionados ao estado de vigília: consciência e autoconsciência. Essa ligação das organizações anímica e do Eu às organizações física e vital promovem desgaste, processos de ‘morte’. O sono representa o desligamento dessas organizações ou ‘corpos’. Organização do Eu e organização astral distanciam-se do físico-vital permitindo que processos regenerativos aconteçam. Os distúrbios do sono podem ter diferentes origens e a abordagem de investigação dos mesmos deverá ser sempre individualizada. Podem compreender aspectos constitucionais, comportamentais, crises biográficas ou desequilíbrio de órgãos específicos. Entretanto, um elemento comum é o prolongamento do estado de vigília provocado pelo não desligamento ou religamento precoce do Astral e do Eu. A abordagem dos distúrbios de sono segundo esse sistema contempla muitas possiblidades e vão buscar alcançar um equilíbrio: 12 1) Abordagens não medicamentosas principais: • Aconselhamento e autoeducação em relação aos ritmos; • Estímulo a mudanças em relação a alimentação e atividade física; • Euritmia terapêutica; • Escalda-pés e aplicações externas com óleos e pomadas específicos; • Abordagem por meio de modalidades de terapias artísticas; • Abordagem biográfica. 2) Abordagem medicamentosa: algumas medicações antroposóficas ajudam a organizar o ritmo de ‘liga-desliga’ das quatro organizações e também a revitalizar o organismo que sofre cronicamente de insônia. O médico antroposófico fará uma escolha de acordo com o diagnóstico ampliado e individualizado sobre as origens do problema. Frequentemente, o tratamento deverá combinar medidas medicamentosas e não medicamentosas. 3.2 Ansiedade, Depressão e estresse pós-traumático A abordagem desses temas deverá ocorrer, idealmente, de forma multiprofissional e pressupõe a realização de uma anamnese detalhada pelos profissionais de saúde habilitados e estabelecimento do diagnóstico clínico. A atuação do médico antroposófico vai dirigir-se à diferenciação do tipo de distúrbio e sua gravidade, avaliando a possibilidade de ocorrências de complicações psiquiátricas concomitantes ou necessidade de intervenção específica desse campo. Contemplará também o diagnóstico constitucional e a participação de disfunção de órgãos específicos. Esses aspectos vão orientar quanto ao estabelecimento da terapêutica. A atuação do psicólogo vai dirigir-se à avaliação das condições emocionais e do desenvolvimento anímico e biográfico. Atuando em conjunto, podem formar uma imagem comum sobre a condição do paciente, sobre os elementos envolvidos e estabelecerem, com a participação do paciente, um plano terapêutico. Esse plano terapêutico poderá contemplar, além da abordagem de psicoterapia antroposófica, outras modalidades terapêuticas e, também medicamentos antroposóficos, fitoterápicos, homeopáticos. Quando necessário, medicamentos alopáticos prescritos também. 13 TEMA 4 – CARE 4: ONCOLOGIA A atuação da Medicina Antroposófica na abordagem complementar do câncer remonta aos tempos da médica pioneira, Dra. Ita Wegman, que delineou as primeiras estratégias quando a medicina convencional oferecia ainda muito poucas possibilidades terapêuticas. Ao longo do Século XX e, também XXI, ampliou-se consideravelmente a compreensão sobre os mecanismos moleculares envolvidos no câncer, da participação dos componentes genéticos e dos fatores ambientais e de estilo de vida. Em paralelo, observou-se o desenvolvimento de sofisticados recursos terapêuticos, tanto cirúrgicos quanto medicamentosos e de radioterapia que contribuíram muito para mudanças no prognóstico da doença, possibilitando a reabilitação à vida normal de muitos indivíduos. Concomitante com esses avanços, as estatísticas apontam um aumento crescente dos casos diagnosticados e da incidência de diferentes tipos de câncer, acompanhando diversas mudanças na vida humana. A compreensão molecular foi complementada pela visão sistêmica, chegando a uma imagem do papel do sistema imunológico como um dos fatores determinantes do desenvolvimento e do prognóstico da doença. Essa visão sistêmica e ampliada aponta também as relações entre a saúde emocional e o equilíbrio imunológico, o papel da alimentação e da atividadefísica balanceados para a preservação da vitalidade, além de outros componentes protetores relacionados a estilo de vida. A abordagem da Medicina Antroposófica em forma complementar e integrada às medidas convencionais, de forma multidisciplinar, pode contribuir: • Para o fortalecimento dos mecanismos intrínsecos de conservação da saúde e melhoria da vitalidade; • Orientação de processos terapêuticos que abarquem a esfera emocional e biográfica; • Incentivo à compreensão da doença como oportunidade para o desenvolvimento anímico e espiritual. No campo dos medicamentos, a terapia com viscum album apresenta uma trajetória de 100 anos de documentação científica. 14 TEMA 5 – CARE 5: CUIDADOS PALIATIVOS, TERAPIA DA DOR, ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES QUE ESTÃO MORRENDO Com base em uma visão ampliada do ser humano, que aborda as questões de saúde considerando as dimensões física, emocional e espiritual, a Medicina Antroposófica acumula experiências relevantes em cada uma dessas temáticas CARE 5. A abordagem da dor compreende medidas que são dirigidas aos sintomas físicos, destacando-se o papel de medicamentos e das aplicações externas e, também, recursos para melhoria da qualidade de vida e desenvolvimento de forças internas que permitam a convivência com quadros de dor crônica por meio de diversas abordagens. • Dimensão físico-vital: reforço global dos processos vitais e de calor, terapia com viscum album, uso de outros medicamentos antroposóficos, homeopáticos e fitoterápicos de forma individualizada e uso de aplicações externas (Disponível em: <http://www.pflege- vademecum.de/anwendungsformen.php>. Acesso em: 18 dez. 2019). • Dimensão anímica-espiritual: as terapias artísticas (artes plásticas ou canto e música) e o Aconselhamento Biográfico e exercícios meditativos podem contribuir de maneira significativa nos quadros de dor crônica. No âmbito dos cuidados paliativos e acompanhamento de pacientes que estão morrendo, além de todos os recursos terapêuticos que podem ser usados para dar conforto e qualidade nos momentos finais da vida, a relação profissional- paciente e família ganha uma luz renovada a partir da compreensão desse momento como um nascimento da individualidade para a vida espiritual. 15 REFERÊNCIAS BAARS, E. et al. The Contribution of Complementary and Alternative Medicine to Reduce Antibiotic Use: A Narrative Review of Health Concepts, Prevention, and Treatment Strategies. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine Volume 2019, Article ID 5365608, 29 pages. Disponível em: <https://doi.org/10.1155/2019/5365608>. Acesso em: 18 dez. 2019. GIRKE, M. Medicina Interna. Fundamentos e conceitos terapêuticos da Medicina Antroposófica. São Paulo: João de Barro, 2014. GOEBEL, W.; GLÖECKER, M. Consultório Pediátrico: um conselheiro médico pedagógico. São Paulo: Antroposófica, 2016. KIENLE, G.S.; ALBONICO, H-U.; BAARS, E.; HAMRE, H. J.; ZIMMERMANN, P.; KIENE, H. Anthroposophic Medicine: An Integrative Medical System Originating in Europe. Global Advances in Health and Medicine, v. 2, n. 6, 2013, p. 20-31. MARTIN, D. et al. Anthroposophic approach to fever. International experts’ recommendations. Disponível em: <https://www.anthromedics.org/PRA-0815- EN>. Acesso em: 13 dez. 2019. VADEMECUM de Aplicaciones externas en la Enfermería Antroposofica. Disponível em: <http://www.pflege-vademecum.de/anwendungsformen.php>. Acesso em: 13 dez. 2019. MEDICINA Antroposofia Aplicada À SAÚDE Conversa inicial
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