Buscar

Infecções rastreadas no pré natal

Prévia do material em texto

Fonte: Protocolo FEBRASGO, TeleCondutas UFRGS, Ministério da Saúde (COVID-19) 
Introdução 
 No Brasil, justifica-se o rastreamento universal da 
toxoplasmose durante o pré-natal pela alta 
prevalência da doença na população e, 
principalmente, pela possibilidade de adoção de 
medidas profiláticas e terapêuticas, assim, 
reduzindo a taxa de transmissão vertical e o 
acometimento fetal. 
 A toxoplasmose é uma infecção causada pelo 
toxoplasma gondii, um protozoário que tem o gato 
como hospedeiro definitivo e os outros animais, 
incluindo o homem, como hospedeiros 
intermediários. 
 
 No Brasil, a incidência de toxoplasmose congênita 
varia entre 4 a 10 casos para cada 10 mil nascidos 
vivos. 
A taxa de transmissão ao feto é 14% no primeiro 
trimestre e 60% no terceiro trimestre. Já a gravidade, 
tende a ser maior nas infecções adquiridas no começo 
da gestação. 
Quadro clínico 
 A infecção é assintomática na maioria dos casos. 
 Os sintomas, quando presentes, são inespecíficos, 
como febre (com curta duração – 2 dias a 3 dias), 
calafrio, sudorese, cefaleia, mialgia, faringite, 
hepatoesplenomegalia, linfonodomegalia e/ou rash 
maculopapular difuso e não pruriginoso. 
 A manifestação mais comum e específica da 
infecção aguda seria a linfonodomegalia de 
localização cervical, bilateral e simétrica que pode 
durar por semanas. 
 Os linfonodos geralmente são pequenos (menores 
do que 3 cm) e sem tecido de flutuação. 
 Já no recém-nascido a apresentação clínica é 
variável, tipicamente com acometimento 
neurológico (encefalite, convulsões, micro ou 
macrocefalia, hipotonia, paralisia de nervos 
cranianos, alterações psicomotoras e déficit 
intelectual) e ocular (coriorretinite). 
 Outras manifestações sistêmicas, como 
hepatoesplenomegalia, ascite, pericardite, icterícia, 
deficiências hormonais (hipopituitarismo) e perda 
auditiva, podem estar presentes. 
Os achados ultrassonográficos mais comuns que 
sugerem infecção fetal são intracranianos: calcificação 
e dilatação ventricular, geralmente bilateral e 
simétrica. Também pode-se observar hidrocefalia, 
ascite e alterações da ecotextura hepática e esplênica 
fetal. 
Diagnóstico 
 O diagnóstico é laboratorial, a partir dos anticorpos 
IgG e IgM para toxoplasmose, visto que os sintomas 
da doença costumam ser inespecíficos. 
 Deve-se sempre considerar sorologias realizadas 
previamente a gestação na interpretação dos 
exames atuais. 
O momento ideal para realizar o exame é no período 
pré-concepcional. Contudo, quando não possível, os 
anticorpos IgG e IgM devem ser solicitados no 
primeiro trimestre (ou na primeira consulta do pré-
natal) e repetidos no terceiro trimestre (se o primeiro 
exame for IgG e IgM negativos). 
 Na gestação, a interpretação dos resultados é difícil, 
pois a presença de IgM não é diagnóstico definitivo 
de doença aguda. 
 A determinação do momento do evento agudo é um 
grande desafio e isso é fundamental na condução 
do caso, visto que os maiores riscos são a ocorrência 
da infecção durante o primeiro trimestre, porém há 
casos descritos de infecção fetal com doença 
materna até 3 meses antes da concepção. 
 O diagnóstico da soroconversão pela confirmação 
em duas amostras de soro colhidas com intervalo 
de duas semanas, em que a paciente que era IgG e 
IgM não reagentes se torna IgG e IgM reagentes é a 
situação mais fácil, porém não é a mais frequente. 
A situação mais observada é a gestante com resultado 
de uma sorologia com IgG e IgM reagente associada 
ou não com resultado de avidez e IgG, no primeiro ou 
segundo trimestre de gestação. 
 Os anticorpos da classe IgG surgem após duas 
semanas do início da infecção, atingem o pico com 
seis a oito semanas e persistem por período 
indefinido. 
 Por sua vez, os anticorpos da classe IgM podem ser 
detectados precocemente, com uma semana de 
infecção, geralmente, desaparecendo em torno de 
12 semanas. 
 A detecção de IgM no soro materno pode 
corresponder à doença aguda, reação cruzada com 
outros anticorpos IgM circulantes ou persistência 
após uma infecção pregressa. 
 A avidez de IgG auxilia na diferenciação de uma 
infecção recente de outra adquirida há algum 
tempo, uma vez que a afinidade do anticorpo pelo 
antígeno tende a aumentar com o intervalo de 
tempo. 
Dessa forma, a presença de alta avidez permite de-
finir que a infecção ocorreu há mais de 14 semanas, já 
a baixa avidez, que a infecção pode ter ocorrido nos 
três meses anteriores, porém a mudança de baixa 
para alta avidez pode variar de um indivíduo para 
outro; e mesmo infecção há mais tempo, pode ser 
associada com avidez de IgG baixa. 
 A interpretação das sorologias durante o pré-natal 
é fundamental para adoção de medidas de 
prevenção primária, secundária e tratamento da 
infecção fetal o mais rápido possível e, assim, 
reduzir as repercussões para o feto e o recém-
nascido. 
 
Gestantes imunes: IgG reagente e IgM não 
reagente 
 São as gestantes que já tiveram contato com o 
toxoplasma e apresentam anticorpos e, se 
possuem imunidade preservada, não há risco de 
reativação e transmissão vertical. 
 Estas devem seguir o pré-natal de rotina. 
Gestantes susceptíveis: IgG e IgM não 
reagentes 
 As gestantes suscetíveis devem receber as 
orientações da equipe de saúde de como evitar a 
doença e repetir a sorologia bimensalmente ou em 
cada trimestre até o final da gravidez. 
 Orientações: 
1. Não ingerir carnes cruas ou malcozidas. 
2. Toda carne deve ser cozida até atingir 
temperatura superior a 67°. 
3. A água deve ser tratada ou fervida. 
4. Lavar frutas e verduras adequadamente. 
5. Usar luvas para manipular carnes cruas. 
6. Não utilizar a mesma faca para cortar carnes e 
outros vegetais ou frutas. 
7. Evitar contato com qualquer material que possa 
estar contaminado com fezes de gatos; como solo, 
gramados e caixas de areia. 
8. Alimentar os gatos domésticos com carnes bem-
cozidas ou rações comerciais e lavar o local onde 
ocorre o depósito de suas fezes diariamente; com 
esta medida, o oocisto não se torna infectante, visto 
que necessita de no mínimo 24 horas, em 
temperatura ambiente, para atingir a fase 
infectante. 
Gestantes com IgG não reagente e IgM 
reagente 
 Possibilidade 1: falso positivo de IgM. 
 Possibilidade 2: infecção aguda bem inicial, visto 
que ainda não houve tempo necessário para o 
surgimento da IgG. 
 Essas gestantes devem receber espiramicina na 
dose de 3,0 gramas ao dia e repetir a sorologia em 
2 a 3 semanas. 
 Se o resultado da nova sorologia for IgG não 
reagente e IgM reagente (não aparecer o IgG, 
mesmo mantendo a IgM reagente), deve suspender 
a espiramicina e voltar ao pré-natal normal, é a 
situação de falso -positivo de IgM. 
 Se aparecer a IgG no novo resultado, este quadro é 
de infecção aguda e mantém-se a espiramicina e 
deve realizar a pesquisa da infecção fetal após 18 
semanas de gestação. 
Espiramicina 
Não cruza a barreira placentária. Tem objetivo de 
reduzir o risco de infecção fetal. Se não houver 
confirmação de infecção fetal por alterações 
ultrassonográficas características ou PCR em líquido 
amniótico positivo, deve-se manter este esquema até o 
final da gestação. 
Gestantes com IgG reagente e IgM reagente 
 Esta é a situação mais encontrada no pré-natal e 
corresponde a quadro de possível infecção aguda. 
 Há necessidade de testes confirmatórios como 
avidez de IgG, avaliação seriada dos títulos de IgG 
ou outros ensaios de pesquisa de IgM como ELISA 
de captura ou imunofluorescência indireta. 
 Recomenda-se o início imediato da profilaxia da 
transmissão vertical com espiramicina, na dose de 
três gramas, até descartar o caso e, se isso não for 
possível, deve-se mantê-la até o final da gravidez. 
 O resultado de alta avidez de IgG em amostra 
colhida no 1º trimestre da gravidez, praticamente 
descarta o quadroagudo durante a gestação. 
 Já após o 1º trimestre, ele não auxilia, pois a alta 
avidez não descartaria quadro agudo durante a 
gestação. 
 Na situação de baixa avidez ou indeterminada no 
primeiro trimestre ou presença de IgG e IgM com ou 
sem resultado de avidez, no segundo trimestre, é 
necessária a realização de outras técnicas como 
imunofluorescência de IgM ou avaliação seriada da 
IgG com titulação e comparação dos títulos. 
 Se os títulos de IgG ficarem estáveis ou 
decrescentes, há baixa probabilidade de infecção 
aguda e recomenda-se manter a espiramicina; nos 
casos com elevação dos títulos, é mais provável 
infecção aguda e, nesses casos, deve-se manter a 
espiramicina e realizar a pesquisa de infecção fetal. 
Situação Resultados Interpretação e conduta 
IgG IgM Interpretação Conduta 
Primeira sorologia 
no 1º trimestre 
gestacional (< 16 
semanas de 
gestação) 
+ - Imunidade remota: 
gestante com infecção 
passada. 
Não solicitar nova sorologia. 
- - Suscetibilidade Orientar prevenção primária (quadro 1). 
Repetir sorologia no 3º trimestre. 
+ + Suspeita de Infecção na 
gestação 
Teste de avidez na mesma amostra (Iniciar 
Espiramicina enquanto aguarda resultado). 
Se avidez forte: infecção adquirida antes da 
gestação. Não solicitar nova sorologia. 
Se avidez fraca: possibilidade de infecção 
adquirida na gestação. Iniciar tratamento com 
Espiramicina** e encaminhar ao Pré-Natal de 
Alto Risco. 
- + Suspeita de infecção muito 
recente ou IgM falso 
positivo. 
Iniciar Espiramicina** e repetir sorologia em 
3 semanas. 
Se IgG positiva: confirma infecção. Manter o 
tratamento com Espiramicina** e 
encaminhar ao Pré-Natal de Alto Risco. 
Se IgG permanecer negativo: suspender 
tratamento e manter seguimento. 
Primeira sorologia 
após 1º trimestre 
gestacional (≥ 16 
semanas de 
gestação) 
+ - Imunidade remota: 
gestante com infecção 
passada. 
Não solicitar nova sorologia. 
- - Suscetibilidade Orientar prevenção primária (quadro 1). 
Repetir sorologia no 3º trimestre. 
+ + Suspeita de Infecção na 
gestação. 
Teste de avidez na mesma amostra. 
Avidez não permite excluir infecção atual, 
auxilia no prognóstico. 
Iniciar tratamento com Espiramicina** e 
encaminhar ao Pré-Natal de Alto Risco. 
Se suspeita de infecção fetal e idade 
gestacional superior a 18 semanas, iniciar 
esquema tríplice intercalado com 
Espiramicina***. 
- + Suspeita de infecção muito 
recente ou IgM falso 
positivo. 
Iniciar Espiramicina** e repetir sorologia em 
3 semanas. 
Se IgG positiva: confirma infecção. Manter o 
tratamento com Espiramicina** e 
encaminhar ao Pré-Natal de Alto Risco. Se 
suspeita de infecção fetal e idade gestacional 
acima de 18 semanas ou idade gestacional no 
diagnóstico da infecção ≥ 30 semanas, iniciar 
esquema tríplice*** 
Se IgG permanecer negativo: suspender 
tratamento e manter seguimento 
Amostras 
subsequentes na 
Gestante 
suscetível (IgG e 
IgM iniciais 
negativos) 
+ - Imunidade remota: 
gestante com infecção 
passada. 
Não solicitar nova sorologia. 
- - Suscetibilidade Orientar prevenção primária. 
+ + Infecção durante a 
gestação. 
< 30 semanas de gestação: iniciar tratamento 
com Espiramicina** e encaminhar ao Pré-
Natal de Alto Risco. 
≥ 30 semanas de gestação: iniciar tratamento 
com esquema tríplice*** e encaminhar ao 
Pré-Natal de Alto Risco. 
- + Suspeita de Infecção na 
gestação ou IgM falso 
positivo. 
Iniciar espiramicina e repetir sorologia em 3 
semanas. 
Se IgG positiva: confirma infecção. 
< 30 semanas de gestação: manter 
tratamento com Espiramicina** e 
encaminhar ao Pré-Natal de Alto Risco. 
≥ 30 semanas de gestação: iniciar tratamento 
com esquema tríplice*** e encaminhar ao 
Pré-Natal de Alto Risco. 
* Caso haja exames prévios e/ou não for a primeira gestação, considerar resultados anteriores na decisão. 
**Espiramicina 500 mg (1500000 UI), 2 comprimidos de 8 em 8 horas (nome comercial: Rovamicina®). Deve ser feito 
ecografia mensal. Se não houver alteração, manter espiramicina até o final da gestação. Se houver alteração 
ecográfica sugestiva de infecção fetal, trocar para esquema tríplice*** a partir de 18 semanas (intercalar com 
espiramicina a cada 3 semanas). 
*** Esquema tríplice: Pirimetamina 25 mg, de 12 em 12h; Sulfadiazina 1500 mg, 12 em 12 h; Ácido Folínico 10 mg ao 
dia; por 3 semanas, intercalando com 3 semanas de Espiramicina 500 mg (1500000 UI), 2 comprimidos de 8 em 8 
horas, até o parto. Atenção: ácido fólico não deve ser usado para substituir ácido folínico. 
Pesquisa da infecção fetal 
 A importância da coleta do líquido amniótico está 
na possibilidade da detecção do parasita no líquido 
amniótico e na modificação do tratamento com a 
utilização de drogas que atravessam a barreira 
placentária e que sejam parasiticidas. 
A amniocentese está indicada nos casos de 
soroconversão diagnosticada na repetição da 
sorologia, na presença de quadro clínico materno com 
confirmação pela sorologia, casos com alterações 
ultrassonográficas sugestivas de toxoplasmose 
congênita e nos casos com provável infecção aguda na 
gravidez. 
 Já na presença de doença aguda após 32 semanas 
de gestação não é recomendado o procedimento 
invasivo pela elevada taxa de transmissão vertical 
neste período e pelo curto intervalo de tempo para 
o tratamento, deve-se iniciar imediatamente o 
tratamento com as três drogas. 
 O procedimento é realizado após 18 semanas de 
gestação, guiado por ultrassonografia, e a coleta 
de amostra de líquido amniótico fica em torno de 
20ml para pesquisa do parasita pela técnica do PCR. 
 Se a pesquisa resultar negativa, recomenda-se a 
manutenção da espiramicina até o final da 
gestação e exame ultrassonográfico mensal. 
 Com o resultado positivo no líquido amniótico, 
considera-se o feto infectado e inicia-se o 
tratamento com as três drogas descritas abaixo. 
Tratamento da infecção fetal 
Pirimetamina, sulfadiazina e do ácido folínico, até o 
final da gestação. 
 Sulfadiazina 3,0 g/dia (2 comprimidos de 500mg de 
8/8horas). 
 Pirimetamina 50mg/dia (1 comprimido de 25 mg de 
12/12horas). 
 Ácido folínico 15mg/dia (1 comprimido de 15mg ao 
dia). 
 A pirimetamina e a sulfadiazina são antagonistas do 
ácido fólico e atuam sinergicamente no ataque aos 
taquizoítas e podem causar supressão da medula 
óssea. 
 Entre os efeitos adversos estão anemia, leucopenia, 
plaquetopenia e insuficiência renal reversível 
 No controle do tratamento, o hemograma 
quinzenal tem de ser realizado e, na presença de 
alterações, as drogas devem ser suspensas e 
prescrita espiramicina. 
Essas drogas são contraindicadas durante o primeiro 
trimestre da gestação, devendo ter início a partir da 
16a semana e, no primeiro trimestre, utiliza-se 
apenas a espiramicina. 
 Nas situações de soroconversão, quadro clínico com 
confirmação com sorologia e alteração no exame de 
ultrassonografia associada com toxoplasmose, em 
locais sem condições de realizar o procedimento 
invasivo, é importante iniciar o tratamento com as 
três drogas mesmo sem a confirmação da infecção 
fetal. 
 
 
Hepatite A 
 A incidência de hepatite A, no Brasil, é maior em 
crianças menores de 10 anos de idade, 
independentemente do sexo, e decresce à medida 
que aumenta a idade. 
 O VHA pode ser encontrado nas fezes, sendo 
inicialmente disseminado por via fecal-oral. A 
hepatite A também pode ser contraída pela água 
contaminada com material fecal, horizontalmente, 
pelo contato pessoal (até mesmo pelo aperto de 
mãos de pessoas contaminadas com o vírus) ou 
ainda por meio de crianças que frequentam 
creches. 
 Entre outras formas de contágio, tem-se, também, 
a via do contato sexual (especialmente entre 
homens que fazem sexo com homens) e usuários de 
drogas ilícitas. 
 Não existe evolução para cronicidade da doença, 
bem como casos de progressão para estádios finais 
de doença crônica do fígado (cirrose). 
 Período de incubação:aproximadamente 28 dias 
(15 a 50 dias). 
 Sinais e sintomas: desde assintomáticos a 
inespecíficos e podem incluir náuseas, vômitos, 
diarreia, colúria, icterícia, febre, dor de cabeça, 
perda de peso e dor abdominal. 
 A infecção pelo VHA durante a gravidez não causa 
grandes complicações, mas ao menos um estudo 
mostrou que está associada a contração uterina 
precoce, ruptura de membranas e parto prematuro, 
principalmente se acomete a grávida no segundo ou 
terceiro semestre da gravidez. 
 A transmissão da mãe para o feto da infecção aguda 
A foi descrita em raros relatos de caso. 
 Em caso de grávida infectada pelo VHA no 
momento do parto, o recém-nascido deve receber 
imunoglobulina (0,02 mL/kg) e/ou vacina 
inativada. 
 Imunização: a segurança da vacina da hepatite A na 
gravidez não está bem-determinada, mas deve ser 
considerada em situações de risco alto para a 
gestante. O uso de imunoglobulina pós-exposição é 
considerado seguro. 
 Amamentação: não é contraindicada. 
 Não existe tratamento antiviral específico para a 
hepatite aguda A. 
Hepatite B 
 O Brasil é considerado, hoje, um país de baixa 
prevalência de infecção pelo VHB, porém com 
bolsões de alta prevalência, como a região da 
Amazônia ocidental e oeste do Paraná e Santa 
Catarina. 
 A vacina do vírus B já está disponível há mais de três 
décadas em nosso país, mas, infelizmente, a 
cobertura vacinal ainda se encontra aquém do 
desejado. 
 Dessa forma, a sorologia para detecção de infecção 
pelo vírus da hepatite B, em mulheres em idade 
reprodutiva, deve ser mandatória e, naquelas com 
sorologia negativa para o VHB, deve-se iniciar o 
esquema de vacinação em três doses o mais rápido 
possível. 
 O ginecologista/ obstetra pode deparar-se com 
algumas situações diferentes nas mulheres que são 
portadoras de infecção crônica pelo VHB: 
1) As mulheres que estão almejando engravidar em 
um futuro próximo e ainda não iniciaram 
tratamento antiviral; 
2) As mulheres diagnosticadas durante a gravidez; 
3) As mulheres que estão grávidas, têm carga viral 
alta do VHB e não estão atualmente em tratamento; 
4) As mulheres que ficam grávidas durante a terapia 
antiviral. 
 Período de incubação: aproximadamente 75 dias 
(30 a 180 dias). 
 Sinais e sintomas: desde assintomáticos a 
inespecíficos e podem incluir náuseas, vômitos, 
diarreia, colúria, icterícia, febre, dor de cabeça, 
perda de peso e dor abdominal, e raramente podem 
evoluir para a forma fulminante. 
 O primeiro passo no manejo de uma paciente 
grávida é determinar o grau de lesão hepática que 
essa infecção causou até aquele momento. 
 Em mulheres com fibrose avançada ou cirrose, ou 
alanina aminotransferase (ALT) persistentemente 
elevada, o tratamento deve ser iniciado 
imediatamente. 
 Para as mulheres com nenhuma ou fibrose leve ou 
ALT normal ou minimamente elevada, o 
tratamento para o VHB pode, potencialmente, ser 
adiado. 
Porém, a determinação da carga viral (HBV DNA 
quantitativo) é mandatória para determinar a 
necessidade de tratamento da grávida no terceiro 
trimestre da gestação como profilaxia da transmissão 
materno-fetal (grau de evidência A). 
 Mulheres que apresentam perfil sorológico HBsAg 
e HBeAg reagentes não necessitam exame de CV-
HBV para determinar a profilaxia antiviral. 
Entende-se que, em razão desse perfil, essas 
gestantes já apresentam níveis elevados de CV-HBV, 
com incremento de risco de transmissão perinatal. 
A terapia profilática com TDF no último trimestre da 
gestação está indicada. 
 No caso de gestantes que apresentarem o perfil 
sorológico HBsAg reagente e HBeAg não reagente, 
mesmo com valores de ALT dentro do LSN, a 
determinação dos níveis de CV-HBV deverá ser 
realizada imediatamente (avaliação inicial) e 
repetida ao final do segundo trimestre da gestação. 
Todas as gestantes com hepatite B que apresentem 
níveis de CV-HBV superiores a 200.000 UI/mL devem 
receber terapia profilática com TDF 300mg uma vez 
ao dia VO, a partir de 28- 32 semanas de gestação 
(terceiro trimestre). 
 A imunização é indicada em três doses para toda 
gestante, após realização da sorologia e 
comprovação da sua negatividade. 
 Para gestantes que tenham comprovadamente 
HBsAg reagente e que iniciem tardiamente o pré-
natal, ou que não tenham acesso ao resultado da 
CV-HBV em tempo hábil, será necessário considerar 
iniciar profilaxia com TDF enquanto se aguarda CV-
HBV ou até o momento do parto. 
 A medida mais importante para prevenir a 
transmissão perinatal é a administração de 
imunoglobulina da hepatite B (HBIg), bem como a 
vacina da hepatite B para recém-nascidos de mães 
infectadas com HBV. 
 A primeira dose da vacina contra a hepatite B e HBIg 
deve ser administrada no prazo de 12 horas após o 
nascimento, em diferentes locais de administração. 
 
 
 A amamentação não contraindicada, visto que a 
transmissão se dá pelo leite materno. Em caso de 
fissura mamilar com presença de sangue, a 
amamentação deve ser interrompida naquela 
mama até a cicatrização completa e o uso de 
protetor de silicone deve ser orientado quando 
necessário. 
 A amamentação, em geral, não é recomendada em 
mulheres que recebem antivirais, porque análogos 
nucleos(t)ídeos podem estar presentes no leite 
materno. 
 O tenofovir, no entanto, pode ser utilizado durante 
a amamentação, pois é um pró-fármaco que 
resulta em concentrações muito baixas do 
medicamento no leite materno 
 Entre os fármacos para a hepatite B disponíveis 
atualmente no Brasil, o tenofovir é considerado 
classe B, ou seja, não existem dados de estudos em 
animais ou estudos in vitro que sugerem 
teratogenicidade. Outros, incluindo interferon, 
entecavir e lamivudina, são considerados classe C, 
ou seja, os dados disponíveis sugerem possíveis 
riscos para o feto. 
 Existem bem poucos dados sobre antivirais que são 
usados apenas para a hepatite B, como entecavir 
(grau de evidência B). 
 
 
 
Hepatite C 
 No Brasil, 1,38% da população tem anti-HCV 
positivo, e aproximadamente 70% desses têm 
infecção ativa (HCV RNA detectado). 
 Período de incubação: 14 a 180 dias. 
 Sinais e sintomas: desde assintomáticos a inespecí-
ficos e podem raramente incluir náuseas, vômitos, 
diarreia, colúria, icterícia, febre, dor de cabeça, 
perda de peso e dor abdominal. Não evolui para a 
forma fulminante, mas quase sempre evolui para a 
cronicidade (55% a 85%). 
 Guidelines internacionais sugerem que algumas 
gestantes com fatores de risco sejam testadas para 
o VHC durante o parto, sejam elas: 
→ Gestantes com história transfusional de sangue 
ou derivados; 
→ Usuárias de drogas intravenosas; 
→ Envolvidas em programas de hemodiálise; 
→ Coinfectadas com VHB ou HIV; 
→ Portadores de piercing ou tatuagens; 
→ Contactantes sexuais de portadores de VHC, VHB 
ou HIV; 
→ Receptoras de transplante de órgãos; 
→ Portadoras de enzimas hepáticas elevadas; 
→ Participantes de programas de fertilização com 
doadores anônimos. 
 É recomendável que todas as gestantes devem ser 
testadas com o anticorpo contra o VHC (anti-HCV). 
 Infelizmente não foi desenvolvida ainda uma 
vacina contra o vírus C, como também não existe 
uma profilaxia pós-exposição disponível. 
 Além disso, também não existe profilaxia específica 
para transmissão materno-fetal. 
 O diagnóstico de transmissão materno-infantil deve 
ser realizado com a pesquisa do anti-HCV após 15 a 
18 meses de idade e com o HCV RNA positivo em 
pelo menos duas ocasiões com intervalo de 3 
meses. 
 Microtransfusões de mãe para feto durante as 
contrações ou infecção, após ruptura de 
membranas, são algumas das possibilidades para o 
risco de transmissão intrauterina. 
 A amamentação não está contraindicada e os 
cuidados com o aleitamento na mulher 
monoinfectada pelo VHC são os mesmos descritos 
para o VHB em caso de fissurasou sangramento de 
mamilo. 
 O tratamento da infecção crônica pelo vírus C 
evoluiu muito nos últimos 5 anos e, hoje, conta-se 
com antivirais de ação direta com índices de cura 
superiores a 90%. 
 O tratamento antiviral está contraindicado na 
gravidez pela ausência de estudos com os novos 
antivirais, além da teratogenicidade da ribavirina, e 
a gravidez deve ser desaconselhada até 6 meses 
após o término do tratamento antiviral para o VHC 
(PCDT). 
Hepatite E 
 A infecção pelo vírus da hepatite E (VHE) é uma 
doença de distribuição mundial, embora ainda 
continue sendo subdiagnosticada especialmente 
devido à baixa suspeição clínica pelos profissionais 
de saúde e pela baixa sensibilidade da maioria dos 
testes utilizados. 
 Período de incubação: 14 a 45 dias. 
 Sinais e sintomas: a infecção pelo vírus da hepatite 
E resulta em hepatite aguda e autolimitada, que 
dura algumas semanas. Nesse período, o paciente 
desenvolve sintomas de hepatite, com febre e 
náuseas seguidas por dor abdominal, vômitos, 
anorexia, mal-estar e hepatomegalia. Icterícia 
ocorre em cerca de 40% dos pacientes. 
 Em áreas endêmicas, o VHE é a mais comum causa 
de hepatite na gravidez. Comumente, a infecção 
pelo VHE é transmitida da mãe para a criança pela 
via intrauterina e rotas perinatais, trazendo maior 
mortalidade para o feto ou neonato. 
 O curso do VHE durante a gravidez pode variar de 
casos autolimitados até casos fulminantes, 
resultando em insuficiência hepática aguda grave, 
com mortalidade acima de 30%, ruptura das 
membranas, abortos espontâneos e fetos 
natimortos. 
 Ainda não está claro se o aumento desse número de 
nascidos mortos é atribuído à transmissão vertical 
da infecção ou se ao resultado de complicações 
maternas causadas pelo VHE. 
 Provavelmente, parte dessa explicação deve estar 
relacionada à interação de complexos fatores 
hormonais e imunológicos relacionados tanto ao 
hospedeiro quanto ao vírus. 
 Não há dados confiáveis até o momento sobre se o 
VHE pode ser transmitido através da amamentação, 
como também não há dados sobre a influência da 
infecção assintomática sobre a gestação. 
 Quanto ao tratamento, relatos de casos isolados 
têm demonstrado que o tratamento com ribavirina 
ou interferon-α pode resultar na erradicação viral 
do HEV. Dessa forma, o tratamento estaria 
contraindicado na gravidez. 
 
Introdução 
 A sífilis é uma doença infectocontagiosa crônica é 
causada pelo Treponema pallidum. 
 Ela apresenta-se com evolução sistêmica desde sua 
fase inicial, após um período de incubação que 
varia de 10 a 90 dias, em sequência a contato 
infectante, dependendo do número e virulência do 
treponema e da resposta imunológica do 
hospedeiro. 
 Pode evoluir cronicamente com manifestações 
clínicas exuberantes ou discretas, entremeadas 
com períodos de silêncio clínico denominados de 
latências. 
 As principais e mais importantes vias de 
transmissão são a sexual (genital, oral e anal) e a 
vertical (da gestante para o feto –intraútero, ou 
neonato –periparto). 
Classificação 
 Classifica-se a sífilis em adquirida e congênita, e 
ambas em recente e tardia. 
 
 
Sífilis adquirida 
Recente Apresenta-se no primeiro ano após o 
contágio e tem lesões ricas em 
treponemas. 
Latente Ausência de manifestações clínicas, 
mantendo-se as sorologias reatoras; 
precoce se até um ano de evolução e 
tardia após um ano do contágio. 
Tardia Lesões destrutivas com poucos ou sem 
treponemas após o primeiro ano de 
infecção. 
Sífilis congênita 
Recente Quando se manifesta até o 2º ano de 
vida. 
Tardia Quando se manifesta após o 2º ano de 
vida. 
 
Sífilis adquirida 
 Enfatiza-se que a sífilis só é infectante na fase 
recente, compreendendo as fases primárias e 
secundárias da classificação anteriormente 
descrita, enquanto a tardia consiste na fase 
terciária. 
Primária Lesão circunscrita infectante (cancro 
duro). 
Secundária Lesões generalizadas infectantes 
(lesões exantemáticas e papulosas, 
por exemplo). 
Terciária Lesões circunscritas não infectantes 
(ex.: gomas). 
 
 Observa-se que a transição dessas fases clínicas dá-
se em um imaginário temporal e que suas 
apresentações variam de acordo com a imunidade 
celular individual, podendo haver a cura 
espontânea em até 60% dos casos. 
 Sífilis primária 
→ Inicia-se com o cancro duro ou protossiloma de 
21 a 30 dias após o contato infectante, 
representada por lesão geralmente única, 
indolor, como uma erosão ou ulceração com 
bordas endurecidas em rampa, fundo limpo, 
eritematoso com pequena serosidade. 
→ De mais fácil visualização no homem, localiza-se 
frequentemente no sulco balanoprepucial e 
glande, enquanto, na mulher, é diagnosticado 
apenas esporadicamente por acometer 
principalmente o colo uterino e raramente a 
vulva. 
→ O cancro duro, se não tratado, persiste por 30 a 
90 dias, regredindo espontaneamente sem 
deixar cicatriz. 
→ Em cerca de 10 dias após o surgimento do 
protossifiloma, observa-se uma adenopatia 
satélite bilateral, indolor, múltipla, sem sinais 
inflamatórios e não fistulizante. 
→ Esta ocorre normalmente na região inguinal, 
especialmente no homem, por força da 
drenagem linfática local. 
→ A adenite pode generalizar-se de 30 a 40 dias. 
→ Cita-se que em aproximadamente 5% dos 
pacientes há o cancro misto de Rollet, que 
consiste na coinfecção do cancro mole ao cancro 
duro surgindo características, inicialmente, do 
cancro mole e, em seguida, do protossifiloma. 
 Sífilis secundária 
→ Em 50 dias a 180 dias do contágio, o Treponema 
entra na circulação e multiplica-se, surgindo 
lesões exantemáticas generalizadas, simétricas 
e não pruriginosas consistindo na roséola si-
filítica, podendo involuir em 45 dias ou surgir 
novas lesões maculares, papulosas, 
papuloescamosas ou raramente pustulosas na 
pele, denominadas de sifílides. 
→ Essas lesões, quando em áreas úmidas e de 
atrito, como as pregas labiais e as regiões 
axilares, inguinais e interglúteas, formam 
pápulas ou placas erosadas extremamente 
contagiosas chamadas de condilomas planos, 
que podem ser confundidos e tratados 
erroneamente como condilomas acuminados 
induzidos pelo papilomavírus humano (HPV). 
→ No acometimento dos pelos, percebe-se: 
madarose, áreas de alopecia difusa no couro 
cabeludo ou com pelos tonsurados chamada de 
alopecia em clareira. As unhas apresentam 
paroníquia ou anoníquia. Todas essas lesões 
involuem com ou sem tratamento, não deixando 
sequelas. 
→ Concomitante ao quadro dermatológico, 
numerosas manifestações sistêmicas são 
encontradas: astenia, anorexia, febre baixa, 
micropoliadenopatia generalizada, mialgia, 
artralgia, cefaleia, meningite, iridociclite, 
hepatite, esplenomegalia, periostite, 
glomerulone te e outras 
 Sífilis latente: nessa fase, não há manifestações 
clínicas visíveis, assim, sendo conhecida como 
“silêncio clínico”. Classificada em latente precoce 
quando diagnosticada até dois anos após o 
contágio, ou latente tardia se for determinada em 
um prazo maior de infecção. O diagnóstico está 
condicionado ao encontro de sorologias reagentes. 
 Sífilis tardia: inicia-se no final da fase latente tardia 
e estende-se por vários anos. Suas manifestações, 
geralmente, ocorrem após o terceiro ano de 
infecção e dividem-se em tegumentares 
(cutaneomucosas), viscerais (oculares, ósseas e 
cardiovasculares) e do sistema nervoso. 
Sífilis congênita 
 O Treponema pallidum acomete o concepto em 
qualquer período da gestação e as manifestações 
clínicas estão relacionadas ao tempo da infecção 
materna, se anterior ou durante a gravidez, 
consequentemente, ao grau de imunidade 
adquirida pela gestante, assim como a quantidade 
e virulência dos treponemas ao momento da 
transmissão da infecção ao feto. 
 Assim, as manifestações clínicas podem estar 
ausentes ao nascimento ou surgirem dias, meses ou 
anosapós o parto. 
 O T. pallidum lesa primariamente a placenta, 
acarretando uma placentomegalia. 
 No feto, agride inicialmente o fígado, 
disseminando-se em seguida, em especial, para a 
pele, as mucosas, os ossos, os pulmões e o sistema 
nervoso central. 
A sífilis congênita é doença de notificação 
compulsória desde 1986, daí seu reconhecimento se 
fazer necessário neste capítulo de sífilis e gravidez, 
por se tratar do produto de uma gestação, resultante, 
geralmente, de inadequado acompanhamento pré-
natal. 
Diagnóstico em gestantes pelo MS 
Teste treponêmico reagente (teste rápido, FTA-Abs) + 
teste não treponêmico reagente (VDRL) = diagnóstico 
confirmado. 
 Mulher assintomática para sífilis, que, durante o 
pré-natal, parto e/ou puerpério, apresente pelo 
menos um teste reagente – treponêmico E/OU não 
treponêmico com qualquer titulação–e sem 
registro de tratamento prévio. OU 
 Mulher sintomática para sífilis, que, durante o pré-
natal, parto e/ou puerpério, apresente pelo menos 
um teste reagente–treponêmico E/OU não 
treponêmico com qualquer titulação. OU 
 Mulher que durante o pré-natal, parto e/ou 
puerpério apresente teste não treponêmico 
reagente com qualquer titulação E teste 
treponêmico reagente, independente de 
sintomatologia da sífilis e de tratamento prévio. 
Casos conformados de cicatriz sorológica não devem 
ser notificados. 
Diagnóstico de sífilis congênita 
 Todo recém-nascido, natimorto ou aborto de 
mulher com sífilis não tratada ou tratada de forma 
não adequada. OU 
Tratamento adequado: tratamento completo para 
estágio clínico da com penicilina benzatina, e 
INICIADO até 30 dias antes do parto. Gestantes que 
não se enquadrarem nesses critérios serão 
consideradas como tratadas de forma não adequada. 
 Toda criança com menos de 13 anos de idade com 
pelo menos uma das seguintes situações: 
→ Manifestação clínica, alteração liquórica ou 
radiológica de testes não treponêmicos 
reagentes. 
→ Títulos de teste não treponêmico do lactente 
maiores do que os da mãe em pelo menos duas 
diluições de amostras de sangue periférico, 
coletadas simultaneamente no momento do 
parto. 
→ Títulos de testes não treponêmicos ascendentes 
em pelo menos duas diluições no seguimento da 
criança exposta. 
→ Títulos de testes não treponêmicos ainda 
reagentes após 6 meses de idade, em crianças 
adequadamente tratadas no período neonatal. 
→ Testes treponêmicos reagentes após 18 meses 
de idade sem diagnóstico prévio de sífilis 
congênita. 
Nesta situação, deve ser sempre afastada a 
possibilidade de adquirida em situação de violência 
sexual. 
 Evidência microbiológica de infecção pelo 
Treponema pallidum em amostra de secreção 
nasal ou lesão cutânea, biópsia ou necropsia de 
criança, aborto ou natimorto. Detecção do 
Treponema pallidum por meio de exames diretos 
por microscopia (de campo escuro ou com material 
corado). 
Diagnóstico diferencial 
 O polimorfismo das manifestações clínicas da sífilis, 
a possibilidade do comprometimento de 
praticamente todos os órgãos do corpo e as 
variações temporais desses envolvimentos 
acarretam um grande número de diagnósticos 
diferenciais, assim, permitindo que seja mantida a 
máxima de “pensar sifiliticamente”. 
 Na sífilis recente, o cancro duro deverá ser 
diferenciado de todas as outras doenças causadoras 
de erosão e/ou ulceração na genitália, em especial 
o cancro mole. 
Na prática clínica é, por vezes, difícil a separação 
entre as duas entidades, podendo ainda ocorrer o 
cancro misto de Rollet, que mostra sinais clínicos do 
cancro mole, seguido do endurecimento característico 
do cancro duro. 
 Diagnóstico diferencial frequente é com o herpes 
simples, em que, classicamente, observam-se 
vesículas agrupadas sobre uma base eritematosa, 
normalmente, precedidas de sensações 
parestésicas locais como o prurido. 
 Outras diferenciações devem ser realizadas com: 
escabiose, carcinoma espinocelular, fissuras e 
ulcerações traumáticas, assim como as lesões 
inespecíficas iniciais da donovanose e do 
linfogranuloma venéreo. 
 A roséola sifilítica e as sifílides devem ser 
diferenciadas entre as numerosas doenças 
provocadoras de exantemas, por exemplo: pitiríase 
rósea, farmacodermias, viroses, hanseníase 
virchowiana, colagenose, urticária etc. Já o principal 
diagnóstico diferencial do condiloma plano é com 
lesões verrucosas exofíticas causadas pelo HPV 
(Human papillomavirus) e denominadas condiloma 
acuminado. 
 As manifestações da sífilis tardia também 
permitem inúmeros diagnósticos diferenciais, por 
exemplo, das lesões gomosas devemse afastar 
tuberculose, leishmaniose, esporotricose, entre 
outras doenças granulomatosas. 
Diagnóstico laboratorial e exames 
complementares 
 O método a ser utilizado para o diagnóstico 
laboratorial da sífilis depende da fase evolutiva a 
que o paciente se encontrar, ou seja, suas 
manifestações clínicas decidirão qual o melhor 
exame a ser escolhido. 
Considera-se como padrão-ouro para o diagnóstico da 
sífilis a pesquisa direta do T. pallidum; porém, na 
prática clínica, a sorologia é mais utilizada. 
 Pesquisa de treponema 
→ Está indicada na suspeita de cancro duro e nas 
lesões mucocutâneas presentes na sífilis 
recente. 
→ Microscopia em campo escuro: deve ser 
realizada no momento da consulta, pois se 
observam as bactérias vivas e móveis; não 
aplicável para as lesões orais e/ou retais pela 
presença de bactérias espiroquetas não 
patogênicas. 
→ Impregnação pela prata (técnica de Fontana-
Tribondeau - FT). 
→ Imunofluorescência direta (IF). 
 Reações sorológicas 
→ São de dois tipos, treponêmicas e não 
treponênicas, e revelarão a presença e a 
quantidade de anticorpos antitreponêmicos 
circulantes. 
→ Treponêmicas: positivam-se a partir da terceira 
semana de infecção concomitante ao 
aparecimento do cancro duro. Atualmente, os 
mais utilizados são: 
▪ FTA-Abs (Fluorescent Treponemal Antibody 
Absorption) IgG e IgM - a fração IgM 
demonstra infecção recente em atividade e 
negativa num tempo variável, enquanto a 
fração IgG mantém-se positiva 
permanentemente, não sendo utilizada para 
o controle terapêutico; 
▪ MHA-Tp/TPHA (Treponema pallidum Micro 
Hemaglutination); 
▪ Elisa (Enzyme-Lynked Immunosorbent 
Assay) 
▪ Teste imunocromatográfico ou por 
aglutinação de partículas de látex (Teste 
Rápido). 
→ Não treponêmicas: o antígeno reator sérico é a 
cardiolipina, evidenciando a formação de 
anticorpos antilipídicos. Tornam-se positivos a 
partir da 4ª ou 5ª semana após o contágio e são 
indicados tanto para o diagnóstico como para o 
seguimento terapêutico, pois seus resultados, 
além de qualitativos, são expressos 
quantitativamente. Podem ser de macro ou 
micro oculação: VDRL (Venereal Disease 
Research Laboratory) e RPR (Rapid Plasma 
Reagin). 
 Para o diagnóstico laboratorial da sífilis são 
necessários exames treponêmicos e não 
treponêmicos. A ordem de realização fica a critério 
do serviço de saúde. 
 O diagnóstico sorológico da sífilis congênita 
obedece aos mesmos parâmetros utilizados para a 
sífilis adquirida, porém com algumas peculiaridades 
na interpretação dos testes sorológicos. 
→ Recém-nascidos não infectados podem 
apresentar anticorpos não treponêmicos 
maternos transferidos através da placenta, e 
estes se mantêm reagentes até o sexto mês de 
vida ou mais. 
→ A sorologia treponêmica é de uso limitado em 
recém-nascidos, pois os anticorpos IgG maternos 
ultrapassam a barreira placentária. 
Tratamento – sífilis adquirida 
 A penicilina benzatina é altamente eficaz na 
prevenção da sífilis congênita e é a única opção 
terapêutica que trata o feto, quando ministrada 
antes de 30 dias do término da gestação. 
Sífilis recente- sífilis primária, secundária e latente 
recente: penicilina benzatina 2,4 milhões UI, IM, dose 
única (1,2 milhão UI em cada glúteo).Sífilis tardia- sífilis latente tardia, latente com duração 
ignorada e sífilis terciária: penicilina benzatina 2,4 
milhões UI, IM, 1x semana (1,2 milhão em cada glúteo) 
por 3 semanas. Dose total: 7,2 milhões UI, IM. 
 Nas gestantes, devem ser empregados os mesmos 
esquemas com penicilina G benzatina, ressaltando 
que está contraindicado o uso da droga alternativa 
– doxiciclina. 
 Todos os pacientes com manifestações 
neurológicas e ou cardiovasculares devem ser 
hospitalizados e tratados com os esquemas 
específicos de penicilina. 
Reação de Jarish Herxheimer 
o Consiste em uma endotoxemia causada pela 
destruição maciça dos treponemas com liberação 
de lipopolissacárides bacterianos. 
o Ocorre mais na fase exantemática da sífilis recente, 
após a primeira dose do antibiótico. 
o Geralmente, exige apenas medicações sintomáticas 
como analgésicos e antitérmicos comuns, 
involuindo espontaneamente em 12 a 48 horas, não 
justificando a interrupção do esquema terapêutico. 
o Expressa-se como exacerbação das lesões, febre, 
calafrios, cefaleia, náuseas e artralgias. 
o Mesmo não se tratando de uma reação de 
hipersensibilidade (alérgica) à penicilina, é 
extremamente importante diferenciá-la de outras 
farmacodermias. 
o Observa-se que todo paciente com sífilis deve ser 
alertado quanto a essa possível reação quando 
instituída a terapêutica, em especial se for com 
penicilina. 
o Em gestantes, alertar para possibilidade de 
desencadeamento de trabalho de parto pré-termo 
pela liberação de prostraglandinas. 
Controle do tratamento 
 Além da remissão rápida e completa das lesões, o 
VDRL ainda é o melhor parâmetro de controle de 
cura da sífilis, e espera-se a baixa da sua titulagem 
sérica depois de instituída a terapêutica. 
 Isso, porém, não ocorre imediatamente, ao 
contrário, pode haver uma elevação desses valores 
imediatamente após o tratamento oriundo da 
liberação de antígenos quando da destruição dos 
treponemas. 
 Para o seguimento do paciente, os testes não 
treponêmicos (ex.: VDRL) devem ser realizados 
mensalmente nas gestantes a cada 3 meses no 
primeiro ano de acompanhamento do paciente e a 
cada seis meses no segundo ano (3, 6, 9, 12, 18, 24 
meses). 
 A resposta ao tratamento pode ser: 
→ Resposta imunológica adequada: teste não 
treponêmico não reagente ou queda na titulação 
em duas diluições em até 6 meses para sífilis 
recente e queda na titulação em duas diluições 
em até 12 meses para sífilis tardia. 
A persistência de resultados reagentes em testes não 
treponêmicos após o tratamento adequado e com 
queda prévia da titulação em pelo menos duas 
diluições, quando descartada nova exposição de risco 
durante o período analisado, é chamada de “cicatriz 
sorológica” (Serofast) e não caracteriza falha 
terapêutica. 
→ Critérios de retratamento (reativação e/ou 
reinfecção) *: 
▪ Ausência de redução da titulação em duas 
diluições no intervalo de seis meses (sífilis 
recente, primária e secundária) ou 12 meses 
(sífilis tardia) após o tratamento adequado. 
OU 
▪ Aumento da titulação em duas diluições. OU 
▪ Persistência ou recorrência de sinais e 
sintomas clínicos. 
*Recomenda-se investigação de neurosífilis por meio 
de punção lombar e retratamento com três doses de 
penicilina benzatina 2,4 milhões de UI, IM (uma vez por 
semana, por três semanas). 
 O(s) parceiro(s) sexual(is) do paciente com sífilis 
nunca deve(m) ser esquecido(s), solicitando sua 
presença ou o encaminhando para consulta em 
outro serviço. 
 Deve-se ressaltar que tão importante quanto 
diagnosticar e tratar é efetuar uma excelente 
atuação em educação em saúde (aconselhamento), 
como forma de diagnosticar outros casos inter-
relacionados e, principalmente, prevenir outras 
doenças. 
 Considera-se que o retorno à atividade sexual só 
deva ocorrer após a regressão das lesões 
cutaneomucosas, o que, por experiência, dá-se, na 
maioria dos casos, de duas a três semanas depois 
de completado o tratamento. 
 Todavia deve-se enfatizar e orientar o uso do 
preservativo masculino ou feminino, em todas as 
relações sexuais, mesmo após a regressão dos sinais 
clínicos. 
Tratamento da sífilis congênita neonatal 
 Nos recém-nascidos de mães com sífilis não 
tratada ou inadequadamente tratada, 
independentemente do resultado do VDRL do 
recém-nascido, realizar: hemograma, radiografia 
de ossos longos, punção lombar (na impossibilidade 
de realizar esse exame, tratar o caso como neurossí-
filis) e outros exames, quando clinicamente 
indicados. 
Se houver 
alterações 
clínicas e/ou 
sorológicas 
e/ou 
radiológicas 
Penicilina G cristalina, na dose de 
50.000 UI/Kg/dose, por via 
endovenosa, a cada 12 horas (nos 
primeiros 7 dias de vida) e a cada 8 
horas (após 7 dias de vida), durante 
10 dias; ou penicilina G procaína 
e/ou 
hematológicas 
50.000 UI/Kg, dose única diária, IM, 
durante 10 dias. 
Se houver 
alteração 
liquórica 
Penicilina G cristalina, na dose de 
50.000 UI/Kg/dose, por via 
endovenosa, a cada 12 horas (nos 
primeiros 7 dias de vida) e a cada 8 
horas (após 7 dias de vida), durante 
10 dias. 
Se não houver 
alterações 
clínicas, 
radiológicas, 
hematológicas 
e/ou 
liquóricas, e a 
sorologia for 
negativa 
Penicilina G benzatina, na dose 
única de 50.000 UI/Kg, por via 
intramuscular. O acompanhamento 
é obrigatório, incluindo o 
seguimento com VDRL sérico após 
conclusão do tratamento. Sendo 
impossível garantir o 
acompanhamento, o recém-
nascido deverá ser tratado com o 
esquema A1. 
 
 Nos recém-nascidos de mães adequadamente 
tratadas: realizar o VDRL em amostra de sangue 
periférico do recém-nascido; se este for reagente 
com titulação maior do que a materna, e/ou na 
presença de alterações clínicas, realizar 
hemograma, radiografia de ossos longos e análise 
do LCR. 
Se houver 
alterações 
clínicas e/ou 
radiológicas, 
e/ou 
hematológica 
sem 
alterações 
liquóricas 
Penicilina G cristalina, na dose de 
50.000 UI/Kg/dose, por via 
endovenosa, a cada 12 horas (nos 
primeiros 7 dias de vida) e a cada 8 
horas (após 7 dias de vida), durante 
10 dias; ou penicilina G procaína 
50.000 UI/Kg, dose única diária, IM, 
durante 10 dias. 
 
Se houver 
alteração 
liquórica 
Penicilina G cristalina, na dose de 
50.000 UI/Kg/dose, por via 
endovenosa, a cada 12 horas (nos 
primeiros 7 dias de vida) e a cada 8 
horas (após 7 dias de vida), durante 
10 dias. 
 
 Nos recém-nascidos de mães adequadamente 
tratadas: realizar o VDRL em amostra de sangue 
periférico do recém-nascido. 
Se for 
assintomático 
e o VDRL não 
for reagente 
Proceder apenas ao seguimento 
clínico-laboratorial. Na 
impossibilidade de garantir o 
seguimento, deve-se proceder ao 
tratamento com penicilina G 
benzatina, IM, na dose única de 
50.000 UI/Kg. 
Se for 
assintomático 
Acompanhar clinicamente. 
e tiver o 
VDRL 
reagente, 
com título 
igual ou 
menor que o 
materno 
 
 Sífilis congênita tardia 
→ Penicilina G cristalina na dose de 200.000- 
300.000 UI/Kg/dia, por via endovenosa ou IM, 
administrada 50.000 UI/Kg/dose, a cada 4-6 
horas por 10-14 dias; ou 
→ Eritromicina, 7.5-12.5 mg/kg VO, 6/6 horas por 
30 dias. 
 O seguimento da criança deve ser com consultas 
ambulatoriais mensais até o 6º mês de vida e 
bimensais do 6º ao 12º mês. Além disso, deve-se 
realizar o VDRL com 1 mês, 3, 6, 12 e 18 meses de 
idade, interrompendo o seguimento com 2 exames 
consecutivos de VDRL negativos. 
 Também é necessário realizar TPHA ou FTA-Abs 
para sífilis após os 18 meses de idade para a 
confirmação do caso. 
 Diante de elevação do título sorológico ou da sua 
não negativação até os 18 meses de idade, 
reinvestigar o paciente e proceder ao tratamento. 
Introdução 
 O HIV é uma partícula esférica, que mede 100 a 120 
nm de diâmetro, pertencente ao gênero Lentivirus 
e à família Retroviridae. 
 A maioria das infecções pelo HIV-1 ocorre através 
dasmucosas do trato genital ou retal durante a 
relação sexual. 
 As gestantes com HIV devem ser encaminhadas 
automaticamente para pré natal de alto risco. Caso 
esteja com imunossupressão grave e/ou outras 
coinfecções, deve ser encaminhada para serviço 
especializado. 
Diagnóstico 
 Os testes utilizados mais comumente no 
diagnóstico da infecção pelo HIV são os 
imunoenzimáticos do tipo ELISA (do inglês Enzyme-
Linked Immunosorbent Assay) de quatro gerações, 
que podem levar até quatro horas para serem 
realizados, e os testes rápidos (TR), que são 
imunoensaios (IE) simples, que podem ser 
realizados em até 30 minutos e, por essa razão, são 
ideais para fornecer resultados no mesmo dia em 
uma variedade de situações e locais. 
 Os TR são primariamente recomendados para 
testagens presenciais. 
Diagnóstico: 1 teste rápido positivo + 1 teste rápido 
de outro laboratório OU 1 elisa. 
 Testes complementares utilizam diferentes 
formatos e princípios. Estão inclusos nessa 
categoria: western blot (WB), imunoblot (IB) ou 
imunoensaios em linha (LIA, do inglês line 
immunoassay), incluindo imunoblot rápido (IBR) e 
imunofluorescência indireta (IFI). 
 A infecção pelo HIV pode também ser diagnosticada 
por meio da detecção direta de componentes do 
vírus, como o antígeno p24 ou com testes 
moleculares (TM) que detectam RNA ou DNA pró-
viral. 
Os TR são métodos preferenciais para diagnóstico, 
pois possibilitam início adequado da terapia 
antirretroviral (TARV) e resposta virológica mais 
precoce. 
 A testagem laboratorial pode ser utilizada, desde 
que a entrega do resultado ocorra em tempo 
oportuno (até 14 dias). 
 A realização imediata do teste de carga viral do HIV 
(CV-HIV) está indicada após a confirmação da 
infecção pelo HIV e o teste de genotipagem pré-
tratamento está indicado para todas as gestantes. 
Contudo, não é necessário aguardar o resultado da 
genotipagem para o início da TARV. 
 Recomenda-se também a oferta de testagem 
combinada de HIV, sífilis e hepatite B à gestante, 
na 1ª consulta e no 3º trimestre. 
Manejo na gestação 
 Exame físico detalhado em busca atenta de sinais 
clínicos sugestivos de manifestações da doença, 
infecções oportunistas (IO) e outras infecções 
sexualmente transmissíveis (IST). 
 Dentre os exames laboratoriais, o nível da CV-HIV 
deve ser realizado pelo menos três vezes durante a 
gestação: na 1ª consulta, para estabelecer a 
magnitude da viremia; duas a quatro semanas após 
a introdução da TARV, para avaliar a resposta ao 
tratamento; a partir da 34ª semana, para indicação 
da via de parto. A contagem de LT-CD4+ deverá ser 
realizada na 1ª consulta e pelo menos a cada três 
meses em gestantes em início de tratamento. 
 TARV está indicada para toda gestante infectada 
pelo HIV, independentemente de critérios clínicos e 
imunológicos, e não deverá ser suspensa após o 
parto, independentemente do nível de LT-CD4+. 
 A supressão da CV-HIV é um fator determinante na 
redução da transmissão vertical (TV). 
 O uso de TARV durante a gravidez reduz a taxa de 
TV-HIV de aproximadamente 30% para menos de 
1%, quando se alcança a supressão da CV-HIV 
materna (CV-HIV plasmática < 50 cópias/mL) 
próxima ao parto. 
Tratamento 
 A terapia inicial deve sempre incluir combinações 
de três ARV, sendo dois inibidores da transcriptase 
reversa nucleosídico/nucleotídico (ITRN)/ITRNt 
associados a um inibidor da integrasse (INI). 
 O raltegravir (RAL) é o ARV da classe dos INI mais 
estudados na população de mulheres grávidas, 
sendo o de 1ª escolha para gestantes em início de 
TARV pela sua eficácia na redução rápida da CV-HIV, 
ausência de teratogenicidade, boa tolerância e 
baixa interação medicamentosa. 
O esquema preferencial para gestantes em início de 
tratamento no 1º trimestre deve ser: TDF + 3Tc (dose 
fixa combinada, 300/300mg, 1x/dia) + RAL (400mg, 
2x/dia). 
Se a pacientes estiver no 2º ou 3º trimestre, a terapia 
de escolha é TDF + 3TC + DTG. 
 Esse esquema, mesmo durante o 1º trimestre de 
gestação, não aumenta defeitos congênitos em 
comparação com a população geral e vem sendo 
bem-tolerado durante a gestação. 
 Na impossibilidade do uso de TDF/3TC, a associação 
AZT/3TC é a 2ª opção. 
 Caso essa associação não possa ser usada, 
recomenda-se o uso do abacavir (ABC) associado a 
3TC como 3ª opção, mas só nas que tenham teste 
para o HLA-B*5701 NEGATIVO, pelo risco de 
hipersensibilidade. 
 Para as gestantes que já estão em uso de 
Dolutegravir (DTG), como ainda não há dados de 
segurança para seu uso durante a gestação, é 
permitido realizar a troca para o RAL, mas, ao 
término da gestação, aquelas que iniciarem TARV 
com o esquema de TDF + 3TC + RAL deverão realizar 
troca do RAL para DTG, em um prazo de até 3 
meses. 
Intercorrências clínicas e obstétricas 
 A pré-eclâmpsia, a síndrome HELLP, a colestase 
hepática e a insuficiência hepática aguda são 
distúrbios associados à gestação e podem ser 
confundidos com os efeitos adversos dos ARV. 
Portanto é necessário realizar o diagnóstico 
diferencial de possíveis efeitos adversos associados 
ao uso de ARV. 
 A utilização de IP também está relacionada ao 
desenvolvimento de hiperglicemia, DM e 
agravamento de distúrbios metabólicos da glicose e 
dos lipídios. 
 Para gestantes que tenham necessidade de invasão 
âmnica, ponderar o risco e o benefício do 
procedimento, levando em consideração a CV-HIV 
da gestante, especialmente nas que estejam com a 
CV-HIV detectável. 
A utilização EV de AZT 2mg/kg peso materno, três 
horas antes da amniocentese, pode reduzir o risco de 
TV do HIV 
 As principais intercorrências obstétricas em 
gestantes vivendo com HIV que merecem destaque 
são: 
→ Hemorragia pós parto: não se deve administrar 
derivado do ergot, nas que fizerem uso de 
medicamentos inibidores da enzima citocrômica 
P, cYp450 e cYp3a4 (IP, além de antibióticos 
macrolídeos), pelo risco de respostas 
vasoconstritoras exageradas e isquemias 
periféricas e centrais graves. Preferir ocitocina 
ou misoprostol. 
→ Rotura prematura de membranas (RPM) e/ou 
trabalho de parto pré-termo (TPP): a conduta 
expectante, quando inferior a 34 semanas, não 
se difere daquela adotada para gestantes não 
infectadas pelo HIV. Mas, no caso da inibição do 
TPP, as condutas expectantes padronizadas 
incluem a introdução do AZT intravenoso 
materno concomitantemente à inibição 
medicamentosa do parto. 
Via de parto e AZT no parto 
 Em mulheres com CV desconhecida ou maior que 
1.000 cópias/ mL após 34 semanas de gestação, a 
cesárea eletiva a partir da 38ª semana de gestação 
diminui o risco de TV do HIV. 
 Para gestantes em uso de ARV e com supressão da 
CV-HIV sustentada, caso não haja indicação de 
cesárea por outro motivo, a via de parto vaginal é 
indicada. 
 Em mulheres com CV-HIV < 1000 cópias/mL, mas 
detectável, pode ser realizado parto vaginal, se 
não houver contraindicação obstétrica. No entanto 
essa mulher tem indicação de receber AZT 
intravenoso. 
 O AZT deve ser administrado durante o início do 
trabalho de parto, ou até 3 (três) horas antes da 
cesariana eletiva, até o clampeamento do cordão 
umbilical. 
A dose de ataque na primeira hora é de 2mg/kg, 
seguida de manutenção com infusão contínua de 
1mg/kg, diluído em 100mL de soro glicosado a 5%. A 
concentração não deve exceder a 4 mg/ml. 
 Para as mulheres já em TARV, os ARV devem ser 
mantidos nos horários habituais, VO, com um 
pouco de água, mesmo durante o trabalho de parto 
ou no dia da cesárea programada. 
 Não é necessário o uso de AZT profilático EV 
naquelas gestantes que apresentem CV-HIV 
indetectável após 34 semanas de gestação e que 
estejam em TARV com boa adesão. 
 São cuidados que se deve tomar durante o parto 
vaginal: 
→ Não realizar procedimentos invasivos 
(amniocentese, cordocentese, amniotomia, 
escalpo cefálico); 
→ Partoinstrumentalizado deve ser evitado, 
porém, quando indicado, preferir o fórceps em 
vez do vácuo-extrator; 
→ Manter a infusão do AZT, se CV-HIV 
desconhecida ou >1000 cópias/mL, até a 
ligadura do cordão umbilical; 
→ Monitorizar cuidadosamente o TP, evitando 
toques desnecessários e repetidos (usar o 
partograma), amniotomia e episiotomia, salvo se 
extremamente necessárias; esta sendo 
realizada, deverá ser protegida por compressas 
umedecidas com o mesmo degermante utilizado 
para a vagina e períneo durante o parto; 
→ Evitar que as parturientes permaneçam com 
bolsa rota (espontânea) por tempo prolongado, 
visto que a taxa de TV aumenta 
progressivamente após 4 (quatro) horas de bolsa 
rota; 
→ O uso de medicamentos que aumentam a 
atividade uterina não está contraindicado, 
devendo seguir os padrões de segurança já 
conhecidos. 
 A cesárea eletiva deve ser realizada a partir da 38ª 
semana de gestação a fim de evitar a 
prematuridade, o trabalho de parto e a RPM. 
 Caso a gestante que tenha indicação para a cesárea 
eletiva inicie o trabalho de parto antes da data 
prevista para a cirurgia e chegue à maternidade 
com dilatação cervical mínima (menor que 4cm), o 
obstetra deve iniciar a infusão intravenosa do AZT 
e realizar a cesárea, se possível, após três horas de 
infusão. 
 Sempre que possível, proceder ao parto 
empelicado, realizar a completa hemostasia da 
parede abdominal e a troca das compressas ou 
campos secundários antes de se realizar a 
histerotomia, minimizando o contato posterior do 
RN com sangue materno; utilizar antibiótico 
profilático – dose única EV de 2g de cefazolina. 
 
Cuidados no puerpério 
 Inibir a lactação com o uso de cabergolina 0,5mg, 2 
comprimidos, dose única logo após o parto, 
evitando-se o desconfortável enfaixamento das 
mamas por 10 dias e de efetividade questionável. 
 Reforçar, na alta, que não amamente o RN nem 
permita aleitamento cruzado, a alimentação mista 
(leite humano e fórmula infantil) e o uso de leite 
humano com pasteurização domiciliar. 
 Orientar o uso adequado e informá-la sobre o 
direito a receber fórmula láctea infantil, pelo 
menos, até completar seis meses de idade. 
 Incentivar a adesão à TARV, trocar o RAL pelo DTG 
até o 3º mês pós-parto. 
Imunizações recomendadas em gestantes 
com HIV 
Pneumococo Recomendada. Duas doses, com 
intervalo de 5 anos, 
independentemente da idade. 
Meningocócica 
conjugada 
(MncC) 
Recomendada. 
Haemophilus 
influenzae tipo 
b (Hib) 
Nas mulheres menores de 19 anos, 
não previamente vacinadas. 
Tétano e 
difteria (dT) 
Recomendada. Indicado o reforço 
durante a gestação caso a última dose 
tenha sido administrada há mais de 5 
anos. 
Difteria, tétano 
e coqueluche 
(dTpa) 
Se a gestante não for vacinada ou o 
estado vacinal for desconhecido, 
indicar 3 doses (esquema padrão) e 
considerar uma dose de dTpa. Caso a 
gestante precise do reforço de difteria 
e tétano, poderá realizá-lo contendo 
as 3 vacinas (dTpa) entre a 27ª 
semana e a 36ª semana (pelo menos 
20 dias antes do parto), conforme 
orientações sobre imunização contra 
a coqueluche em gestantes. 
Hepatite B Recomendada para as gestantes caso 
não haja histórico de vacinação 
completa e se HBsAg não reagente A 
dose deve ser o dobro daquela 
recomendada pelo fabricante e 
seguindo o esquema de 4 doses (0, 1, 
2 e 6 ou 12 meses). 
Imunoglobulina 
humana anti-
hepatite B 
(IGHAHB) 
Recomendada para as gestantes 
suscetíveis, em situação de risco de 
exposição (ex.: usuárias de drogas 
que compartilham seringas e agulhas, 
contato sexual desprotegido com 
pessoas HBsAg positivas ou em caso 
de vítimas de violência sexual). Dose 
única, iniciada ainda nos primeiros 14 
dias de exposição. 
Hepatite A Recomendada para as gestantes 
suscetíveis (anti-HAV IgG negativas). 
Realizar duas doses com intervalo de 
6 a 12 meses 
Influenza/H1N1 
(INF) 
Recomendada anualmente para 
PVHIV, antes do período da influenza. 
Vacina inativada trivalente, uma dose 
anual. 
Imunoglobulina 
para vírus da 
varicelazoster 
(VZV) 
Recomendada para as gestantes 
suscetíveis (anti-VZV negativas), após 
exposição a pessoas com infecção 
ativa por varicela. 
Febre amarela A vacinação está contraindicada em 
gestantes, independentemente do 
estado vacinal. Na impossibilidade de 
adiar a vacinação, como em situações 
de emergência epidemiológica, 
vigência de surtos, epidemias ou 
viagem para área endêmica, o médico 
deverá avaliar o benefício e o risco da 
vacinação. 
 
 
 
Introdução 
 O comportamento da Covid-19 é marcadamente 
distinto nos diversos países do mundo, e o motivo 
dessa diversidade é certamente multifatorial, 
passando por influências socioeconômicas e 
geográficas. A incidência e a mortalidade dessa 
infecção também são distintas nas diversas regiões 
do Brasil. 
 A transmissão do SARS-CoV-2 pode ocorrer pelo 
contato direto, indireto ou próximo com pessoas 
infectadas por meio da saliva e secreções 
respiratórias expelidas com tosse, espirros, fala ou 
canto. 
 A transmissão vertical pode ocorrer por via 
transplacentária, durante o parto e durante a 
amamentação. 
 A capacidade de transmissão do SARS-CoV-2 pelo 
sangue ainda é incerta. Foi descrita viremia 
transitória e com baixa carga viral em 1% dos 
pacientes sintomáticos, sugerindo que a via 
placentária de transmissão viral seja provável, mas 
não frequente. 
 O aleitamento materno tem sido muito discutido, 
pois fragmentos de RNA viral foram encontrados 
por RT-qPCR em algumas amostras de leite de 
mulheres infectadas pelo SARS-CoV-2, mas na etapa 
de isolamento do vírus no leite, não foram 
encontrados vírus viáveis competentes para 
replicação e capazes de causar infecção. 
A OMS entende que os benefícios do aleitamento 
materno superam largamente o baixo risco da 
transmissão vertical. 
 Até este momento, a prevenção da Covid-19 se 
baseia em isolamento de casos e contatos, 
distanciamento social, uso de máscaras e práticas 
de higiene, incluindo etiqueta respiratória e 
lavagem correta das mãos com água e sabão. Essa 
orientação deve ser mantida e reforçada para 
gestantes e puérperas. 
Quadro clínico e critérios de gravidade 
 O espectro de manifestações clínicas observado em 
grávidas infectadas pelo SARS-CoV-2 é amplamente 
variável, indo do estado assintomático a quadros 
graves e potencialmente fatais. 
 Quando presentes, os sintomas refletem 
predominantemente o acometimento do trato 
respiratório ou a resposta sistêmica à infecção, mas 
também são observados sintomas gastrointestinais. 
 A Covid-19 pode ser dividida em três estágios de 
acordo com a evolução e gravidade da doença. 
 
 O período de incubação varia de 2 a 14 dias (média 
de 5 dias). 
 O início dos sintomas ocorre no estágio I, que 
corresponde à fase de replicação viral e se estende 
por sete dias. 
 Nesse estágio são comuns sintomas como febre, 
tosse, dor de garganta, perda de olfato (anosmia) e 
diarreia, além de coriza, perda do paladar (ageusia), 
dor muscular (mialgia), dor nas articulações 
(artralgia), dor de cabeça (cefaleia), dor abdominal 
e vômitos. 
 A minoria dos infectados evolui para a fase II, que 
se caracteriza pelo comprometimento pulmonar, 
causando dispneia. Essa progressão é observada 
entre o 7º e 10º dia da evolução, sendo importante 
o monitoramento da gestante nesse período. 
 As pacientes que desenvolvem a resposta 
hiperinflamatória, fase III, necessitarão de 
cuidados de unidade intensiva e apresentam 
elevada taxa de mortalidade. 
 A identificação precoce da gravidade da doença em 
gestantes ou puérperas possibilita o início oportuno 
de medidas adequadas, como tratamento de 
suporte, encaminhamento e admissão rápidos em 
leito de enfermaria hospitalar ou unidade de terapia 
intensiva de acordo com os protocolos 
institucionais ou nacionais. 
 Para isso, usamos a classificação da Covid-19 
segundo ograu de gravidade, recomendada pelo 
Ministério da Saúde: 
 
Classificação dos sinais e sintomas por grupo de 
gestantes e puérperas 
LEVE 
Síndrome gripal (SG): 
- Tosse; 
- Dor de garganta ou coriza 
Seguido ou não de: 
– Perda de olfato (anosmia) 
– Alteração do paladar (ageusia) 
– Coriza 
– Diarreia 
– Dor abdominal 
– Febre 
– Calafrios 
– Mialgia 
– Fadiga 
– Cefaleia 
MODERADO 
- Tosse persistente + febre persistente diária 
OU 
- Tosse persistente + piora progressiva de outro 
sintoma relacionado à Covid-19 (adinamia (falta de 
força física), prostração, Hipotermia (baixa 
temperatura do corpo), diarreia) 
OU 
- Pelo menos um dos sintomas acima + presença de 
fator de risco 
GRAVE 
Síndrome respiratória aguda grave (SRAG): 
Síndrome gripal que apresente: dispneia/desconforto 
respiratório 
OU 
pressão persistente no tórax 
OU 
saturação de O menor que 95% em ar ambiente 
OU 
coloração azulada de lábios ou rosto 
*Importante: em gestantes, observar hipotensão e 
oligúria. 
 
 Uma vez que a determinação da gravidade do 
estado da gestante pode ser desafiadora, 
recomendamos que os profissionais de saúde 
utilizem o Escore de Alerta Precoce como 
ferramenta de apoio à decisão. 
Parâmetro Normal Alerta 
amarelo 
Alerta 
vermelho 
Freq Resp 
(rpm) 
11-19 20-24 < 10 ou 
≥25 
Sat O2 
(%)* 
96-100 - ≤95 
Temp (0C) 36-37,4 35,1-35,9 
37,5-37,9 
< 35 ou 
≥38 
Freq Card 
(bpm) 
60-99 50-59 
100-119 
≤49 ou 
≥120 
PA Sist 
(mmHg) 
100-139 90-99 
140-159 
≤89 ou 
≥160 
PA Diast 
(mmHg) 
50-89 40-49 
90-99 
≤39 ou 
≥100 
Sensório Alerta - Qualquer 
alteração 
do nível de 
consciência 
 
 Mulheres com dois ou mais sinais de alerta 
amarelo ou um ou mais sinais de alerta vermelho, 
assim como aquelas com síndrome respiratória 
aguda grave (SRAG), têm risco aumentado de 
evolução desfavorável e, portanto, merecem 
cuidado diferenciado. 
Diagnóstico 
 Para o diagnóstico laboratorial da Covid-19 deve-se 
considerar a fase clínica da infecção em que a 
paciente se encontra para definir os exames que 
apresentam os melhores perfis de desempenho 
para suporte diagnóstico. 
Teste de biologia molecular 
 O teste de biologia molecular utilizado para o 
diagnóstico da Covid-19 é a reação em cadeia da 
polimerase mediada pela transcriptase reversa 
(RTqPCR), exame que detecta fragmentos de RNA 
do SARS-CoV-2. 
 Esse exame é realizado em amostras clínicas obtidas 
pela coleta de swab de nasofaringe isolado ou 
combinado com swab orofaríngeo. 
 As coletas devem ser realizadas, de preferência, 
entre o 3º e 7º dia após o início dos sintomas, 
período de melhor desempenho do teste. 
 A sensibilidade varia de 60% a 95%, e a 
especificidade atinge 100%. 
 O RNA do SARS-CoV-2 pode ser detectado na 
nasofaringe até cinco dias antes dos sintomas e até 
o 28º dia após esse período, mas em taxas baixas e 
variáveis de positividade, aumentando 
sobremaneira o número de resultados falso-
negativos. 
Testes sorológicos 
 Os exames sorológicos aferem a resposta imune do 
organismo ao SARS-CoV-2. Eles detectam a 
presença de anticorpos específicos ou de pool de 
anticorpos em amostra sanguínea. 
 Na prática, essa aferição detecta a IgM (marcador 
de fase aguda da infecção) e a IgG (marcador de 
exposição mais tardia). 
 A IgM é detectada após o 7o dia do início dos 
sintomas, negativando, posteriormente, em torno 
do 21o dia. Portanto, esse exame está indicado 
somente nesse período de tempo. 
 Em média, a partir do 14o dia após o início dos 
sintomas, as provas que aferem a presença da IgG 
ficam positivas. 
 Segundo as informações da literatura, a 
sensibilidade dos testes sorológicos para o 
diagnóstico da Covid-19 varia de 77 a 87%, e a 
especificidade varia de 85 a 87%. 
Testes para a identificação de antígenos 
 Os testes para identificação de antígenos proteicos 
do SARS-CoV-2 têm a vantagem de fornecerem o 
diagnóstico com maior rapidez. 
 Nos primeiros dias após o início dos sintomas 
(aproximadamente 1 a 5 dias), proteínas virais 
(antígenos) são produzidas e podem ser detectadas 
por diferentes testes, a exemplo do ELISA, 
imunofluorescência, imunocromatografia e até por 
testes rápidos. 
 No entanto, a dinâmica de produção e secreção 
dessas proteínas ainda não foi totalmente 
estabelecida, refletindo no fraco desempenho 
desses testes até o momento. 
Testes rápidos 
 Na realidade os testes rápidos representam mais 
uma estratégia de diagnóstico utilizando os 
princípios das dosagens de antígenos ou os 
princípios dos exames sorológicos em uma 
plataforma específica de aferição. 
 Os testes rápidos que se baseiam na resposta imune 
do organismo seguem os mesmos princípios das 
dosagens desses anticorpos no soro ou no plasma. 
Também dosam anticorpos específicos ou pool de 
anticorpos, dependendo da plataforma utilizada. 
Como os testes sorológicos, seus resultados são 
mais fidedignos para o diagnóstico se realizados 
entre o 7º e o 21º dia da infecção. 
 Os testes rápidos para o diagnóstico imunológico da 
infecção pelo SARS-CoV-2 passam rapidamente por 
processos de melhora de desempenho e eficiência 
na tentativa de reduzir suas taxas de resultados 
falso-negativos e falso-positivos. 
 São úteis para aferir imunidade prévia ao vírus e 
para o diagnóstico de infecções a partir do 8º dia 
do início dos sintomas. 
 
 
 
 
Interpretação dos exames de COVID 
PCR IgM IgG Situação 
+ - - Janela imunológica 
+ + - Fase inicial da infecção 
+ + + Fase ativa 
+ - + Fase tardia 
- + - Fase inicial/PCR falso 
negativo 
- - + Infecção passada 
- + + Recuperação/ PCR falso 
negativo 
 
Exames de imagem 
 A tomografia computadorizada (TC) é considerada 
como padrão de referência para diagnosticar as 
alterações pulmonares decorrentes da Covid -19, 
cujos achados radiológicos típicos são 
representados por opacificações bilaterais e 
periféricas com a característica predominante de 
vidro fosco. 
 De acordo com o consenso da Fleischner Society, a 
TC é formalmente indicada em certos cenários, 
incluindo pacientes que correm risco ou que já 
desenvolveram piora clínica do processo 
respiratório. 
 O exame radiológico simples também pode ajudar 
no diagnóstico do quadro pulmonar e muitas vezes 
é o exame disponível no local do atendimento. 
 
Manejo 
 Gestante assintomática, mas com história de 
contato com pessoa com Covid -19 ou com 
suspeita clínica de infecção pelo SARS-CoV-2: 
a. Avaliar queixas que motivaram a procura pelo 
atendimento: seguimento pré-natal ou queixa 
específica 
b. Determinar data de início dos sintomas ou 
contato com paciente suspeito: a data de início 
dos sintomas é de extrema importância, pois se 
relaciona ao momento ideal para a coleta do RT-
qPCR do SARS-CoV-2 (do 3º ao 7º dia após início 
dos sintomas), e também é importante para 
acompanhamento dos sintomas e de seu 
agravamento. 
c. Avaliar presença e gravidade dos sintomas 
gripais para definição do seguimento. 
Conduta 
Sintomas leves: 
• Orientação de isolamento domiciliar. 
• Início dos sintomas há menos de 48 horas: 
dispensação/ prescrição de oseltamivir 75mg 12/12h 
por 5 dias. 
• Orientar sobre contato telefônico a cada 24 horas para 
acompanhamento da evolução da doença e informar o 
resultado do exame RT-qPCR colhido. 
• Enfatizar atenção no período entre o 7º e o 10º dia do 
início dos sintomas (mais frequente a piora do quadro 
clínico). 
• Se pesquisa positiva para o SARS-CoV-2: informar a 
gestante e seus familiares sobre a necessidade de 
isolamento por até 10 dias do início do quadro clínico. 
• Orientar, quando houver piora clínica, que a gestante 
deverá procurar a unidade hospitalar para avaliação e 
possível internação. 
Sintomas moderados ou graves: 
• Necessidade de internação em quarto individual, de 
acordo com a realidade local, até que se obtenha o 
resultado do RT-qPCR. Gestantes com diagnóstico confirmado de infecção 
pelo SARS-CoV-2: 
a. No caso de síndrome gripal com confirmação 
para Covid-19, após 10 dias do início dos 
sintomas, desde que passe 24h de resolução de 
febre sem uso de medicamentos antitérmicos e 
remissão dos sintomas respiratórios, a mulher 
poderá retornar ao atendimento de pré-natal 
ou puerpério em rotina habitual. 
b. No caso de síndrome respiratória aguda grave 
(SRAG) com confirmação para Covid -19, 20 dias 
após o início dos sintomas, assegurando 24h de 
resolução de febre sem uso de antitérmicos e 
remissão dos sintomas respiratórios, mediante 
avaliação médica, a mulher poderá retornar ao 
atendimento de pré-natal ou puerpério em 
rotina habitual. 
Tratamento 
 O tratamento da Covid-19 durante a gravidez foi 
pouco estudado. Embora diversas intervenções 
farmacológicas tenham sido utilizadas para o 
controle dessa infecção, muitas delas, apesar de 
apresentarem atividade in vitro contra o 
coronavírus, ainda não foram adequadamente 
avaliadas em ensaios clínicos multicêntricos, 
controlados, cegos e randomizados. 
1. Gestante/puérpera assintomática RT-qPCR positivo 
para SARS-CoV-2 
 Quadro clínico: Ausência de sinais ou sintomas. 
 Exames laboratoriais e de imagem: Não solicitar 
exames laboratoriais. 
 Manejo: orientações, isolamento, teleatendimento 
e atenção aos sinais de agravamento do quadro 
após o 7º dia de evolução. 
2. Gestante/puérpera classificada como doença LEVE 
 Quadro clínico: anosmia, ageusia, coriza, febre, 
mialgia, tosse, fadiga, cefaleia, diarreia, dor 
abdominal, dispneia AUSENTE. 
 Exames laboratoriais e de imagem: Colher RT-qPCR 
Sars CoV-2 em nasofaringe e não solicitar outros 
exames. 
 Manejo: 
→ Gestante de baixo risco obstétrico neonatal: 
▪ Isolamento; 
▪ Oseltamivir: síndrome gripal com início há 
menos 48 horas; 
▪ Medidas de suporte (repouso, hidratação, 
analgésicos, antitérmicos); 
▪ Orientações escritas sobre sinais de 
gravidade, quando e onde procurar o serviço 
de saúde; 
▪ Monitorização da evolução dos sintomas pela 
equipe de saúde (de 2 a 3 vezes por semana 
e diariamente do 7º ao 10º dia de evolução). 
→ Gestante de alto risco obstétrico-neonatal: 
▪ Avaliar a possibilidade de acompanhamento 
da evolução clínica da Covid -19 e o acesso 
rápido ao sistema de saúde em caso de piora. 
Caso não seja possível recomenda-se 
internação hospitalar. 
3. Gestante/puérpera classificada como doença 
MODERADA 
 Quadro clínico: tosse + febre persistente diária OU 
tosse persistente + piora progressiva de outro 
sintoma relacionado à Covid-19 (adinamia, 
prostração, hipotermia, diarreia) OU pelo menos 
um dos sintomas acima + presença de fator de risco 
(Saturação O2 < 95% ou FR > 24 irpm). 
 Exames laboratoriais e de imagem: colher RT-qPCR 
Sars CoV-2 em nasofaringe, Hemograma, Creatinina 
e Ureia, Sódio e potássio, TGO e TGP, LDH, Proteína 
C Reativa, TP e TTPa, D Dímeros, Ferritina e fazer RX 
toráx ou Tomografia Computadorizada de tórax. 
 Manejo: internação com antibiótico (se sinal de 
infecção bacteriana), oseltamivir (se síndrome 
gripal com início há menos de 48 horas), heparina e 
corticoterapia. 
4. Gestante/puérpera classificada como doença 
GRAVE (estado de “hiperinflamação”) 
 Quadro clínico: Síndrome respiratória aguda grave 
(SRAG): Dispneia/desconforto respiratório OU 
Pressão persistente no tórax OU Saturação O2 < 
95% em ar ambiente Frequência respiratória >30 
irpm PaO2/FiO2 < 300. 
 Exames laboratoriais e de imagem: Colher RT- qPCR 
Sars CoV2 em nasofaringe, Hemograma, Creatinina 
e Ureia, Sódio e potássio, TGO e TGP, LDH, Proteína 
C Reativa, TP e TTPa, D Dímeros, Ferritina e 
Tomografia Computadorizada de tórax ou RX de 
torax (acometimento pulmonar > 50%). 
 Manejo: internação em UTI com antibióticos, 
oseltamivir, heparina e corticoterapia. 
 Gestantes internadas em UTI: 
• Gasometria arterial: diariamente 
• Ureia, creatinina, sódio e potássio, TGO e TGP: a 
cada 48 horas 
• Hemograma, Proteína C reativa, TP e TTPa, LDH: 
a cada 72 horas 
• D-Dímeros: apenas na admissão e na alta 
hospitalar. Repetir se piora clínica. 
• Ferritina: apenas na admissão e se houver piora 
clínica. 
Observações 
 Antibióticos: devem ser administrados na presença 
de critérios clínicos e radiológicos de pneumonia 
bacteriana. Recomenda-se, como possível 
esquema, uma das associações: 
Ceftriaxona (2 gramas EV, 1 vez ao dia) + Azitromicina 
Posologia da azitromicina: 
• Endovenosa: 500 mg EV, 1 vez ao dia, por 5 dias 
• Oral: 500 mg VO 1 vez ao dia por 5 dias. 
*O esquema com amoxicilina + clavulanato de 8/8h + 
azitromicina pode ser utilizado, porém aumenta 
exposição da equipe de saúde pelo número de 
aplicações. 
 Oseltamivir: deve ser administrado na presença de 
síndrome gripal ou na presença de síndrome 
respiratória aguda grave (SRAG), desde que, em 
ambos os casos, o quadro clínico tenha se iniciado 
há menos de 48 horas. Deve ser iniciado mesmo se 
a gestante/puérpera tiver recebido a vacina para 
influenza. 
Posologia: 75 mg VO de 12/12 horas por 5 dias. 
 Heparina profilática: administrada apenas se 
contagem plaquetária ≥ 50.000/mm3, na ausência 
de sangramentos e de outras contraindicações ao 
uso dessa medicação. Podem ser administradas 
heparina não fracionada ou heparina de baixo peso 
molecular, com posologia de acordo com o peso 
corporal. 
Peso Até 60 kg 60 kg a 90 
kg 
> 90 kg 
Heparina não 
fracionada 
5.000 UI 
12/12 
horas 
5.000 UI 
8/8 horas 
7.500 UI 
8/8 horas 
Peso Até 80 kg 80-120 kg > 120 kg 
Heparina de 
baixo peso 
molecular 
(enoxaparina) 
40 mg SC 
1 x ao dia 
60 mg SC 
1x ao dia 
40 mg SC 
12/12 h 
 
 Heparinização plena: será recomendada se houver 
documentação de evento tromboembólico 
(trombose venosa profunda ou embolia pulmonar) 
e pode ser considerada se houver hipoxemia 
refratária ou isquemia de membros. A preferência 
será para prescrição de heparina não fracionada, 
pois, em caso de necessidade de interrupção da 
gravidez, poderá ser usado o sulfato de protamina. 
 Corticoterapia: a administração de corticóide deve 
ser considerada após 7 dias do início dos sintomas 
se a paciente mantiver quadro de 
comprometimento pulmonar importante. 
Metilprednisolona 0,7 a 1,0 mg/Kg EV de 12/12h por 3 
dias, podendo prorrogar por 7 dias se houver resposta 
satisfatória ao tratamento (melhora clínica e 
radiológica). 
OU 
Dexametasona 6mg/dia (0,75mg/Kg/dia) por 7 a 10 
dias. 
 Pronação: o decúbito ventral pode ser uma 
manobra importante no manejo de paciente com 
quadro de doença crítica por Covid-19. Embora não 
existam estudos avaliando o impacto dessa 
manobra durante a gestação de mulheres com 
Covid -19, a posição prona se mostrou segura para 
gestantes e seus fetos em pacientes sem doenças 
maternas. 
A posição prona deve ser indicada em situações em 
que há dificuldade de manter a oxigenação de 
gestantes > 95% ou de puérperas > 92%. 
A pronação pode ser feita com gestantes e puérperas 
acordadas que necessitem de suplementação de 
oxigênio (máscara de Venturi, máscara não reinalante 
ou cateter de alto fluxo) ou gestantes e puérperas 
sedadas em IOT com relação PaO2/FiO2 < 150. 
 
Ventilação invasiva e não invasiva e 
admissão na UTI 
 É necessário que a gestante apresente aos menos 
um dos critérios abaixo para internação em UTI: 
→ Sem melhora da saturação de oxigênio apesar da 
oferta de O2 (SatO2 < 95% com oferta de 6 
L/min); 
→ Esforço ventilatório (uso de musculatura 
acessória, tiragem intercostal, batimento de asa 
nasal) apesar da oferta de O2; 
→ Relação pO2/FiO2 < 300; 
→ Hipotensão arterial (PAS) < 100mmHg ou 
pressão arterial média (PAM) < 65mmHg; 
→ Alteração da perfusão periférica (tempo de 
enchimento capilar); 
→ Alteração do nível de consciência; 
→ Oligúria. 
 Ventilação não invasiva (VNI): CPAPe BIPAP

Continue navegando