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Fonte: Protocolo FEBRASGO, TeleCondutas UFRGS, Ministério da Saúde (COVID-19) Introdução No Brasil, justifica-se o rastreamento universal da toxoplasmose durante o pré-natal pela alta prevalência da doença na população e, principalmente, pela possibilidade de adoção de medidas profiláticas e terapêuticas, assim, reduzindo a taxa de transmissão vertical e o acometimento fetal. A toxoplasmose é uma infecção causada pelo toxoplasma gondii, um protozoário que tem o gato como hospedeiro definitivo e os outros animais, incluindo o homem, como hospedeiros intermediários. No Brasil, a incidência de toxoplasmose congênita varia entre 4 a 10 casos para cada 10 mil nascidos vivos. A taxa de transmissão ao feto é 14% no primeiro trimestre e 60% no terceiro trimestre. Já a gravidade, tende a ser maior nas infecções adquiridas no começo da gestação. Quadro clínico A infecção é assintomática na maioria dos casos. Os sintomas, quando presentes, são inespecíficos, como febre (com curta duração – 2 dias a 3 dias), calafrio, sudorese, cefaleia, mialgia, faringite, hepatoesplenomegalia, linfonodomegalia e/ou rash maculopapular difuso e não pruriginoso. A manifestação mais comum e específica da infecção aguda seria a linfonodomegalia de localização cervical, bilateral e simétrica que pode durar por semanas. Os linfonodos geralmente são pequenos (menores do que 3 cm) e sem tecido de flutuação. Já no recém-nascido a apresentação clínica é variável, tipicamente com acometimento neurológico (encefalite, convulsões, micro ou macrocefalia, hipotonia, paralisia de nervos cranianos, alterações psicomotoras e déficit intelectual) e ocular (coriorretinite). Outras manifestações sistêmicas, como hepatoesplenomegalia, ascite, pericardite, icterícia, deficiências hormonais (hipopituitarismo) e perda auditiva, podem estar presentes. Os achados ultrassonográficos mais comuns que sugerem infecção fetal são intracranianos: calcificação e dilatação ventricular, geralmente bilateral e simétrica. Também pode-se observar hidrocefalia, ascite e alterações da ecotextura hepática e esplênica fetal. Diagnóstico O diagnóstico é laboratorial, a partir dos anticorpos IgG e IgM para toxoplasmose, visto que os sintomas da doença costumam ser inespecíficos. Deve-se sempre considerar sorologias realizadas previamente a gestação na interpretação dos exames atuais. O momento ideal para realizar o exame é no período pré-concepcional. Contudo, quando não possível, os anticorpos IgG e IgM devem ser solicitados no primeiro trimestre (ou na primeira consulta do pré- natal) e repetidos no terceiro trimestre (se o primeiro exame for IgG e IgM negativos). Na gestação, a interpretação dos resultados é difícil, pois a presença de IgM não é diagnóstico definitivo de doença aguda. A determinação do momento do evento agudo é um grande desafio e isso é fundamental na condução do caso, visto que os maiores riscos são a ocorrência da infecção durante o primeiro trimestre, porém há casos descritos de infecção fetal com doença materna até 3 meses antes da concepção. O diagnóstico da soroconversão pela confirmação em duas amostras de soro colhidas com intervalo de duas semanas, em que a paciente que era IgG e IgM não reagentes se torna IgG e IgM reagentes é a situação mais fácil, porém não é a mais frequente. A situação mais observada é a gestante com resultado de uma sorologia com IgG e IgM reagente associada ou não com resultado de avidez e IgG, no primeiro ou segundo trimestre de gestação. Os anticorpos da classe IgG surgem após duas semanas do início da infecção, atingem o pico com seis a oito semanas e persistem por período indefinido. Por sua vez, os anticorpos da classe IgM podem ser detectados precocemente, com uma semana de infecção, geralmente, desaparecendo em torno de 12 semanas. A detecção de IgM no soro materno pode corresponder à doença aguda, reação cruzada com outros anticorpos IgM circulantes ou persistência após uma infecção pregressa. A avidez de IgG auxilia na diferenciação de uma infecção recente de outra adquirida há algum tempo, uma vez que a afinidade do anticorpo pelo antígeno tende a aumentar com o intervalo de tempo. Dessa forma, a presença de alta avidez permite de- finir que a infecção ocorreu há mais de 14 semanas, já a baixa avidez, que a infecção pode ter ocorrido nos três meses anteriores, porém a mudança de baixa para alta avidez pode variar de um indivíduo para outro; e mesmo infecção há mais tempo, pode ser associada com avidez de IgG baixa. A interpretação das sorologias durante o pré-natal é fundamental para adoção de medidas de prevenção primária, secundária e tratamento da infecção fetal o mais rápido possível e, assim, reduzir as repercussões para o feto e o recém- nascido. Gestantes imunes: IgG reagente e IgM não reagente São as gestantes que já tiveram contato com o toxoplasma e apresentam anticorpos e, se possuem imunidade preservada, não há risco de reativação e transmissão vertical. Estas devem seguir o pré-natal de rotina. Gestantes susceptíveis: IgG e IgM não reagentes As gestantes suscetíveis devem receber as orientações da equipe de saúde de como evitar a doença e repetir a sorologia bimensalmente ou em cada trimestre até o final da gravidez. Orientações: 1. Não ingerir carnes cruas ou malcozidas. 2. Toda carne deve ser cozida até atingir temperatura superior a 67°. 3. A água deve ser tratada ou fervida. 4. Lavar frutas e verduras adequadamente. 5. Usar luvas para manipular carnes cruas. 6. Não utilizar a mesma faca para cortar carnes e outros vegetais ou frutas. 7. Evitar contato com qualquer material que possa estar contaminado com fezes de gatos; como solo, gramados e caixas de areia. 8. Alimentar os gatos domésticos com carnes bem- cozidas ou rações comerciais e lavar o local onde ocorre o depósito de suas fezes diariamente; com esta medida, o oocisto não se torna infectante, visto que necessita de no mínimo 24 horas, em temperatura ambiente, para atingir a fase infectante. Gestantes com IgG não reagente e IgM reagente Possibilidade 1: falso positivo de IgM. Possibilidade 2: infecção aguda bem inicial, visto que ainda não houve tempo necessário para o surgimento da IgG. Essas gestantes devem receber espiramicina na dose de 3,0 gramas ao dia e repetir a sorologia em 2 a 3 semanas. Se o resultado da nova sorologia for IgG não reagente e IgM reagente (não aparecer o IgG, mesmo mantendo a IgM reagente), deve suspender a espiramicina e voltar ao pré-natal normal, é a situação de falso -positivo de IgM. Se aparecer a IgG no novo resultado, este quadro é de infecção aguda e mantém-se a espiramicina e deve realizar a pesquisa da infecção fetal após 18 semanas de gestação. Espiramicina Não cruza a barreira placentária. Tem objetivo de reduzir o risco de infecção fetal. Se não houver confirmação de infecção fetal por alterações ultrassonográficas características ou PCR em líquido amniótico positivo, deve-se manter este esquema até o final da gestação. Gestantes com IgG reagente e IgM reagente Esta é a situação mais encontrada no pré-natal e corresponde a quadro de possível infecção aguda. Há necessidade de testes confirmatórios como avidez de IgG, avaliação seriada dos títulos de IgG ou outros ensaios de pesquisa de IgM como ELISA de captura ou imunofluorescência indireta. Recomenda-se o início imediato da profilaxia da transmissão vertical com espiramicina, na dose de três gramas, até descartar o caso e, se isso não for possível, deve-se mantê-la até o final da gravidez. O resultado de alta avidez de IgG em amostra colhida no 1º trimestre da gravidez, praticamente descarta o quadroagudo durante a gestação. Já após o 1º trimestre, ele não auxilia, pois a alta avidez não descartaria quadro agudo durante a gestação. Na situação de baixa avidez ou indeterminada no primeiro trimestre ou presença de IgG e IgM com ou sem resultado de avidez, no segundo trimestre, é necessária a realização de outras técnicas como imunofluorescência de IgM ou avaliação seriada da IgG com titulação e comparação dos títulos. Se os títulos de IgG ficarem estáveis ou decrescentes, há baixa probabilidade de infecção aguda e recomenda-se manter a espiramicina; nos casos com elevação dos títulos, é mais provável infecção aguda e, nesses casos, deve-se manter a espiramicina e realizar a pesquisa de infecção fetal. Situação Resultados Interpretação e conduta IgG IgM Interpretação Conduta Primeira sorologia no 1º trimestre gestacional (< 16 semanas de gestação) + - Imunidade remota: gestante com infecção passada. Não solicitar nova sorologia. - - Suscetibilidade Orientar prevenção primária (quadro 1). Repetir sorologia no 3º trimestre. + + Suspeita de Infecção na gestação Teste de avidez na mesma amostra (Iniciar Espiramicina enquanto aguarda resultado). Se avidez forte: infecção adquirida antes da gestação. Não solicitar nova sorologia. Se avidez fraca: possibilidade de infecção adquirida na gestação. Iniciar tratamento com Espiramicina** e encaminhar ao Pré-Natal de Alto Risco. - + Suspeita de infecção muito recente ou IgM falso positivo. Iniciar Espiramicina** e repetir sorologia em 3 semanas. Se IgG positiva: confirma infecção. Manter o tratamento com Espiramicina** e encaminhar ao Pré-Natal de Alto Risco. Se IgG permanecer negativo: suspender tratamento e manter seguimento. Primeira sorologia após 1º trimestre gestacional (≥ 16 semanas de gestação) + - Imunidade remota: gestante com infecção passada. Não solicitar nova sorologia. - - Suscetibilidade Orientar prevenção primária (quadro 1). Repetir sorologia no 3º trimestre. + + Suspeita de Infecção na gestação. Teste de avidez na mesma amostra. Avidez não permite excluir infecção atual, auxilia no prognóstico. Iniciar tratamento com Espiramicina** e encaminhar ao Pré-Natal de Alto Risco. Se suspeita de infecção fetal e idade gestacional superior a 18 semanas, iniciar esquema tríplice intercalado com Espiramicina***. - + Suspeita de infecção muito recente ou IgM falso positivo. Iniciar Espiramicina** e repetir sorologia em 3 semanas. Se IgG positiva: confirma infecção. Manter o tratamento com Espiramicina** e encaminhar ao Pré-Natal de Alto Risco. Se suspeita de infecção fetal e idade gestacional acima de 18 semanas ou idade gestacional no diagnóstico da infecção ≥ 30 semanas, iniciar esquema tríplice*** Se IgG permanecer negativo: suspender tratamento e manter seguimento Amostras subsequentes na Gestante suscetível (IgG e IgM iniciais negativos) + - Imunidade remota: gestante com infecção passada. Não solicitar nova sorologia. - - Suscetibilidade Orientar prevenção primária. + + Infecção durante a gestação. < 30 semanas de gestação: iniciar tratamento com Espiramicina** e encaminhar ao Pré- Natal de Alto Risco. ≥ 30 semanas de gestação: iniciar tratamento com esquema tríplice*** e encaminhar ao Pré-Natal de Alto Risco. - + Suspeita de Infecção na gestação ou IgM falso positivo. Iniciar espiramicina e repetir sorologia em 3 semanas. Se IgG positiva: confirma infecção. < 30 semanas de gestação: manter tratamento com Espiramicina** e encaminhar ao Pré-Natal de Alto Risco. ≥ 30 semanas de gestação: iniciar tratamento com esquema tríplice*** e encaminhar ao Pré-Natal de Alto Risco. * Caso haja exames prévios e/ou não for a primeira gestação, considerar resultados anteriores na decisão. **Espiramicina 500 mg (1500000 UI), 2 comprimidos de 8 em 8 horas (nome comercial: Rovamicina®). Deve ser feito ecografia mensal. Se não houver alteração, manter espiramicina até o final da gestação. Se houver alteração ecográfica sugestiva de infecção fetal, trocar para esquema tríplice*** a partir de 18 semanas (intercalar com espiramicina a cada 3 semanas). *** Esquema tríplice: Pirimetamina 25 mg, de 12 em 12h; Sulfadiazina 1500 mg, 12 em 12 h; Ácido Folínico 10 mg ao dia; por 3 semanas, intercalando com 3 semanas de Espiramicina 500 mg (1500000 UI), 2 comprimidos de 8 em 8 horas, até o parto. Atenção: ácido fólico não deve ser usado para substituir ácido folínico. Pesquisa da infecção fetal A importância da coleta do líquido amniótico está na possibilidade da detecção do parasita no líquido amniótico e na modificação do tratamento com a utilização de drogas que atravessam a barreira placentária e que sejam parasiticidas. A amniocentese está indicada nos casos de soroconversão diagnosticada na repetição da sorologia, na presença de quadro clínico materno com confirmação pela sorologia, casos com alterações ultrassonográficas sugestivas de toxoplasmose congênita e nos casos com provável infecção aguda na gravidez. Já na presença de doença aguda após 32 semanas de gestação não é recomendado o procedimento invasivo pela elevada taxa de transmissão vertical neste período e pelo curto intervalo de tempo para o tratamento, deve-se iniciar imediatamente o tratamento com as três drogas. O procedimento é realizado após 18 semanas de gestação, guiado por ultrassonografia, e a coleta de amostra de líquido amniótico fica em torno de 20ml para pesquisa do parasita pela técnica do PCR. Se a pesquisa resultar negativa, recomenda-se a manutenção da espiramicina até o final da gestação e exame ultrassonográfico mensal. Com o resultado positivo no líquido amniótico, considera-se o feto infectado e inicia-se o tratamento com as três drogas descritas abaixo. Tratamento da infecção fetal Pirimetamina, sulfadiazina e do ácido folínico, até o final da gestação. Sulfadiazina 3,0 g/dia (2 comprimidos de 500mg de 8/8horas). Pirimetamina 50mg/dia (1 comprimido de 25 mg de 12/12horas). Ácido folínico 15mg/dia (1 comprimido de 15mg ao dia). A pirimetamina e a sulfadiazina são antagonistas do ácido fólico e atuam sinergicamente no ataque aos taquizoítas e podem causar supressão da medula óssea. Entre os efeitos adversos estão anemia, leucopenia, plaquetopenia e insuficiência renal reversível No controle do tratamento, o hemograma quinzenal tem de ser realizado e, na presença de alterações, as drogas devem ser suspensas e prescrita espiramicina. Essas drogas são contraindicadas durante o primeiro trimestre da gestação, devendo ter início a partir da 16a semana e, no primeiro trimestre, utiliza-se apenas a espiramicina. Nas situações de soroconversão, quadro clínico com confirmação com sorologia e alteração no exame de ultrassonografia associada com toxoplasmose, em locais sem condições de realizar o procedimento invasivo, é importante iniciar o tratamento com as três drogas mesmo sem a confirmação da infecção fetal. Hepatite A A incidência de hepatite A, no Brasil, é maior em crianças menores de 10 anos de idade, independentemente do sexo, e decresce à medida que aumenta a idade. O VHA pode ser encontrado nas fezes, sendo inicialmente disseminado por via fecal-oral. A hepatite A também pode ser contraída pela água contaminada com material fecal, horizontalmente, pelo contato pessoal (até mesmo pelo aperto de mãos de pessoas contaminadas com o vírus) ou ainda por meio de crianças que frequentam creches. Entre outras formas de contágio, tem-se, também, a via do contato sexual (especialmente entre homens que fazem sexo com homens) e usuários de drogas ilícitas. Não existe evolução para cronicidade da doença, bem como casos de progressão para estádios finais de doença crônica do fígado (cirrose). Período de incubação:aproximadamente 28 dias (15 a 50 dias). Sinais e sintomas: desde assintomáticos a inespecíficos e podem incluir náuseas, vômitos, diarreia, colúria, icterícia, febre, dor de cabeça, perda de peso e dor abdominal. A infecção pelo VHA durante a gravidez não causa grandes complicações, mas ao menos um estudo mostrou que está associada a contração uterina precoce, ruptura de membranas e parto prematuro, principalmente se acomete a grávida no segundo ou terceiro semestre da gravidez. A transmissão da mãe para o feto da infecção aguda A foi descrita em raros relatos de caso. Em caso de grávida infectada pelo VHA no momento do parto, o recém-nascido deve receber imunoglobulina (0,02 mL/kg) e/ou vacina inativada. Imunização: a segurança da vacina da hepatite A na gravidez não está bem-determinada, mas deve ser considerada em situações de risco alto para a gestante. O uso de imunoglobulina pós-exposição é considerado seguro. Amamentação: não é contraindicada. Não existe tratamento antiviral específico para a hepatite aguda A. Hepatite B O Brasil é considerado, hoje, um país de baixa prevalência de infecção pelo VHB, porém com bolsões de alta prevalência, como a região da Amazônia ocidental e oeste do Paraná e Santa Catarina. A vacina do vírus B já está disponível há mais de três décadas em nosso país, mas, infelizmente, a cobertura vacinal ainda se encontra aquém do desejado. Dessa forma, a sorologia para detecção de infecção pelo vírus da hepatite B, em mulheres em idade reprodutiva, deve ser mandatória e, naquelas com sorologia negativa para o VHB, deve-se iniciar o esquema de vacinação em três doses o mais rápido possível. O ginecologista/ obstetra pode deparar-se com algumas situações diferentes nas mulheres que são portadoras de infecção crônica pelo VHB: 1) As mulheres que estão almejando engravidar em um futuro próximo e ainda não iniciaram tratamento antiviral; 2) As mulheres diagnosticadas durante a gravidez; 3) As mulheres que estão grávidas, têm carga viral alta do VHB e não estão atualmente em tratamento; 4) As mulheres que ficam grávidas durante a terapia antiviral. Período de incubação: aproximadamente 75 dias (30 a 180 dias). Sinais e sintomas: desde assintomáticos a inespecíficos e podem incluir náuseas, vômitos, diarreia, colúria, icterícia, febre, dor de cabeça, perda de peso e dor abdominal, e raramente podem evoluir para a forma fulminante. O primeiro passo no manejo de uma paciente grávida é determinar o grau de lesão hepática que essa infecção causou até aquele momento. Em mulheres com fibrose avançada ou cirrose, ou alanina aminotransferase (ALT) persistentemente elevada, o tratamento deve ser iniciado imediatamente. Para as mulheres com nenhuma ou fibrose leve ou ALT normal ou minimamente elevada, o tratamento para o VHB pode, potencialmente, ser adiado. Porém, a determinação da carga viral (HBV DNA quantitativo) é mandatória para determinar a necessidade de tratamento da grávida no terceiro trimestre da gestação como profilaxia da transmissão materno-fetal (grau de evidência A). Mulheres que apresentam perfil sorológico HBsAg e HBeAg reagentes não necessitam exame de CV- HBV para determinar a profilaxia antiviral. Entende-se que, em razão desse perfil, essas gestantes já apresentam níveis elevados de CV-HBV, com incremento de risco de transmissão perinatal. A terapia profilática com TDF no último trimestre da gestação está indicada. No caso de gestantes que apresentarem o perfil sorológico HBsAg reagente e HBeAg não reagente, mesmo com valores de ALT dentro do LSN, a determinação dos níveis de CV-HBV deverá ser realizada imediatamente (avaliação inicial) e repetida ao final do segundo trimestre da gestação. Todas as gestantes com hepatite B que apresentem níveis de CV-HBV superiores a 200.000 UI/mL devem receber terapia profilática com TDF 300mg uma vez ao dia VO, a partir de 28- 32 semanas de gestação (terceiro trimestre). A imunização é indicada em três doses para toda gestante, após realização da sorologia e comprovação da sua negatividade. Para gestantes que tenham comprovadamente HBsAg reagente e que iniciem tardiamente o pré- natal, ou que não tenham acesso ao resultado da CV-HBV em tempo hábil, será necessário considerar iniciar profilaxia com TDF enquanto se aguarda CV- HBV ou até o momento do parto. A medida mais importante para prevenir a transmissão perinatal é a administração de imunoglobulina da hepatite B (HBIg), bem como a vacina da hepatite B para recém-nascidos de mães infectadas com HBV. A primeira dose da vacina contra a hepatite B e HBIg deve ser administrada no prazo de 12 horas após o nascimento, em diferentes locais de administração. A amamentação não contraindicada, visto que a transmissão se dá pelo leite materno. Em caso de fissura mamilar com presença de sangue, a amamentação deve ser interrompida naquela mama até a cicatrização completa e o uso de protetor de silicone deve ser orientado quando necessário. A amamentação, em geral, não é recomendada em mulheres que recebem antivirais, porque análogos nucleos(t)ídeos podem estar presentes no leite materno. O tenofovir, no entanto, pode ser utilizado durante a amamentação, pois é um pró-fármaco que resulta em concentrações muito baixas do medicamento no leite materno Entre os fármacos para a hepatite B disponíveis atualmente no Brasil, o tenofovir é considerado classe B, ou seja, não existem dados de estudos em animais ou estudos in vitro que sugerem teratogenicidade. Outros, incluindo interferon, entecavir e lamivudina, são considerados classe C, ou seja, os dados disponíveis sugerem possíveis riscos para o feto. Existem bem poucos dados sobre antivirais que são usados apenas para a hepatite B, como entecavir (grau de evidência B). Hepatite C No Brasil, 1,38% da população tem anti-HCV positivo, e aproximadamente 70% desses têm infecção ativa (HCV RNA detectado). Período de incubação: 14 a 180 dias. Sinais e sintomas: desde assintomáticos a inespecí- ficos e podem raramente incluir náuseas, vômitos, diarreia, colúria, icterícia, febre, dor de cabeça, perda de peso e dor abdominal. Não evolui para a forma fulminante, mas quase sempre evolui para a cronicidade (55% a 85%). Guidelines internacionais sugerem que algumas gestantes com fatores de risco sejam testadas para o VHC durante o parto, sejam elas: → Gestantes com história transfusional de sangue ou derivados; → Usuárias de drogas intravenosas; → Envolvidas em programas de hemodiálise; → Coinfectadas com VHB ou HIV; → Portadores de piercing ou tatuagens; → Contactantes sexuais de portadores de VHC, VHB ou HIV; → Receptoras de transplante de órgãos; → Portadoras de enzimas hepáticas elevadas; → Participantes de programas de fertilização com doadores anônimos. É recomendável que todas as gestantes devem ser testadas com o anticorpo contra o VHC (anti-HCV). Infelizmente não foi desenvolvida ainda uma vacina contra o vírus C, como também não existe uma profilaxia pós-exposição disponível. Além disso, também não existe profilaxia específica para transmissão materno-fetal. O diagnóstico de transmissão materno-infantil deve ser realizado com a pesquisa do anti-HCV após 15 a 18 meses de idade e com o HCV RNA positivo em pelo menos duas ocasiões com intervalo de 3 meses. Microtransfusões de mãe para feto durante as contrações ou infecção, após ruptura de membranas, são algumas das possibilidades para o risco de transmissão intrauterina. A amamentação não está contraindicada e os cuidados com o aleitamento na mulher monoinfectada pelo VHC são os mesmos descritos para o VHB em caso de fissurasou sangramento de mamilo. O tratamento da infecção crônica pelo vírus C evoluiu muito nos últimos 5 anos e, hoje, conta-se com antivirais de ação direta com índices de cura superiores a 90%. O tratamento antiviral está contraindicado na gravidez pela ausência de estudos com os novos antivirais, além da teratogenicidade da ribavirina, e a gravidez deve ser desaconselhada até 6 meses após o término do tratamento antiviral para o VHC (PCDT). Hepatite E A infecção pelo vírus da hepatite E (VHE) é uma doença de distribuição mundial, embora ainda continue sendo subdiagnosticada especialmente devido à baixa suspeição clínica pelos profissionais de saúde e pela baixa sensibilidade da maioria dos testes utilizados. Período de incubação: 14 a 45 dias. Sinais e sintomas: a infecção pelo vírus da hepatite E resulta em hepatite aguda e autolimitada, que dura algumas semanas. Nesse período, o paciente desenvolve sintomas de hepatite, com febre e náuseas seguidas por dor abdominal, vômitos, anorexia, mal-estar e hepatomegalia. Icterícia ocorre em cerca de 40% dos pacientes. Em áreas endêmicas, o VHE é a mais comum causa de hepatite na gravidez. Comumente, a infecção pelo VHE é transmitida da mãe para a criança pela via intrauterina e rotas perinatais, trazendo maior mortalidade para o feto ou neonato. O curso do VHE durante a gravidez pode variar de casos autolimitados até casos fulminantes, resultando em insuficiência hepática aguda grave, com mortalidade acima de 30%, ruptura das membranas, abortos espontâneos e fetos natimortos. Ainda não está claro se o aumento desse número de nascidos mortos é atribuído à transmissão vertical da infecção ou se ao resultado de complicações maternas causadas pelo VHE. Provavelmente, parte dessa explicação deve estar relacionada à interação de complexos fatores hormonais e imunológicos relacionados tanto ao hospedeiro quanto ao vírus. Não há dados confiáveis até o momento sobre se o VHE pode ser transmitido através da amamentação, como também não há dados sobre a influência da infecção assintomática sobre a gestação. Quanto ao tratamento, relatos de casos isolados têm demonstrado que o tratamento com ribavirina ou interferon-α pode resultar na erradicação viral do HEV. Dessa forma, o tratamento estaria contraindicado na gravidez. Introdução A sífilis é uma doença infectocontagiosa crônica é causada pelo Treponema pallidum. Ela apresenta-se com evolução sistêmica desde sua fase inicial, após um período de incubação que varia de 10 a 90 dias, em sequência a contato infectante, dependendo do número e virulência do treponema e da resposta imunológica do hospedeiro. Pode evoluir cronicamente com manifestações clínicas exuberantes ou discretas, entremeadas com períodos de silêncio clínico denominados de latências. As principais e mais importantes vias de transmissão são a sexual (genital, oral e anal) e a vertical (da gestante para o feto –intraútero, ou neonato –periparto). Classificação Classifica-se a sífilis em adquirida e congênita, e ambas em recente e tardia. Sífilis adquirida Recente Apresenta-se no primeiro ano após o contágio e tem lesões ricas em treponemas. Latente Ausência de manifestações clínicas, mantendo-se as sorologias reatoras; precoce se até um ano de evolução e tardia após um ano do contágio. Tardia Lesões destrutivas com poucos ou sem treponemas após o primeiro ano de infecção. Sífilis congênita Recente Quando se manifesta até o 2º ano de vida. Tardia Quando se manifesta após o 2º ano de vida. Sífilis adquirida Enfatiza-se que a sífilis só é infectante na fase recente, compreendendo as fases primárias e secundárias da classificação anteriormente descrita, enquanto a tardia consiste na fase terciária. Primária Lesão circunscrita infectante (cancro duro). Secundária Lesões generalizadas infectantes (lesões exantemáticas e papulosas, por exemplo). Terciária Lesões circunscritas não infectantes (ex.: gomas). Observa-se que a transição dessas fases clínicas dá- se em um imaginário temporal e que suas apresentações variam de acordo com a imunidade celular individual, podendo haver a cura espontânea em até 60% dos casos. Sífilis primária → Inicia-se com o cancro duro ou protossiloma de 21 a 30 dias após o contato infectante, representada por lesão geralmente única, indolor, como uma erosão ou ulceração com bordas endurecidas em rampa, fundo limpo, eritematoso com pequena serosidade. → De mais fácil visualização no homem, localiza-se frequentemente no sulco balanoprepucial e glande, enquanto, na mulher, é diagnosticado apenas esporadicamente por acometer principalmente o colo uterino e raramente a vulva. → O cancro duro, se não tratado, persiste por 30 a 90 dias, regredindo espontaneamente sem deixar cicatriz. → Em cerca de 10 dias após o surgimento do protossifiloma, observa-se uma adenopatia satélite bilateral, indolor, múltipla, sem sinais inflamatórios e não fistulizante. → Esta ocorre normalmente na região inguinal, especialmente no homem, por força da drenagem linfática local. → A adenite pode generalizar-se de 30 a 40 dias. → Cita-se que em aproximadamente 5% dos pacientes há o cancro misto de Rollet, que consiste na coinfecção do cancro mole ao cancro duro surgindo características, inicialmente, do cancro mole e, em seguida, do protossifiloma. Sífilis secundária → Em 50 dias a 180 dias do contágio, o Treponema entra na circulação e multiplica-se, surgindo lesões exantemáticas generalizadas, simétricas e não pruriginosas consistindo na roséola si- filítica, podendo involuir em 45 dias ou surgir novas lesões maculares, papulosas, papuloescamosas ou raramente pustulosas na pele, denominadas de sifílides. → Essas lesões, quando em áreas úmidas e de atrito, como as pregas labiais e as regiões axilares, inguinais e interglúteas, formam pápulas ou placas erosadas extremamente contagiosas chamadas de condilomas planos, que podem ser confundidos e tratados erroneamente como condilomas acuminados induzidos pelo papilomavírus humano (HPV). → No acometimento dos pelos, percebe-se: madarose, áreas de alopecia difusa no couro cabeludo ou com pelos tonsurados chamada de alopecia em clareira. As unhas apresentam paroníquia ou anoníquia. Todas essas lesões involuem com ou sem tratamento, não deixando sequelas. → Concomitante ao quadro dermatológico, numerosas manifestações sistêmicas são encontradas: astenia, anorexia, febre baixa, micropoliadenopatia generalizada, mialgia, artralgia, cefaleia, meningite, iridociclite, hepatite, esplenomegalia, periostite, glomerulone te e outras Sífilis latente: nessa fase, não há manifestações clínicas visíveis, assim, sendo conhecida como “silêncio clínico”. Classificada em latente precoce quando diagnosticada até dois anos após o contágio, ou latente tardia se for determinada em um prazo maior de infecção. O diagnóstico está condicionado ao encontro de sorologias reagentes. Sífilis tardia: inicia-se no final da fase latente tardia e estende-se por vários anos. Suas manifestações, geralmente, ocorrem após o terceiro ano de infecção e dividem-se em tegumentares (cutaneomucosas), viscerais (oculares, ósseas e cardiovasculares) e do sistema nervoso. Sífilis congênita O Treponema pallidum acomete o concepto em qualquer período da gestação e as manifestações clínicas estão relacionadas ao tempo da infecção materna, se anterior ou durante a gravidez, consequentemente, ao grau de imunidade adquirida pela gestante, assim como a quantidade e virulência dos treponemas ao momento da transmissão da infecção ao feto. Assim, as manifestações clínicas podem estar ausentes ao nascimento ou surgirem dias, meses ou anosapós o parto. O T. pallidum lesa primariamente a placenta, acarretando uma placentomegalia. No feto, agride inicialmente o fígado, disseminando-se em seguida, em especial, para a pele, as mucosas, os ossos, os pulmões e o sistema nervoso central. A sífilis congênita é doença de notificação compulsória desde 1986, daí seu reconhecimento se fazer necessário neste capítulo de sífilis e gravidez, por se tratar do produto de uma gestação, resultante, geralmente, de inadequado acompanhamento pré- natal. Diagnóstico em gestantes pelo MS Teste treponêmico reagente (teste rápido, FTA-Abs) + teste não treponêmico reagente (VDRL) = diagnóstico confirmado. Mulher assintomática para sífilis, que, durante o pré-natal, parto e/ou puerpério, apresente pelo menos um teste reagente – treponêmico E/OU não treponêmico com qualquer titulação–e sem registro de tratamento prévio. OU Mulher sintomática para sífilis, que, durante o pré- natal, parto e/ou puerpério, apresente pelo menos um teste reagente–treponêmico E/OU não treponêmico com qualquer titulação. OU Mulher que durante o pré-natal, parto e/ou puerpério apresente teste não treponêmico reagente com qualquer titulação E teste treponêmico reagente, independente de sintomatologia da sífilis e de tratamento prévio. Casos conformados de cicatriz sorológica não devem ser notificados. Diagnóstico de sífilis congênita Todo recém-nascido, natimorto ou aborto de mulher com sífilis não tratada ou tratada de forma não adequada. OU Tratamento adequado: tratamento completo para estágio clínico da com penicilina benzatina, e INICIADO até 30 dias antes do parto. Gestantes que não se enquadrarem nesses critérios serão consideradas como tratadas de forma não adequada. Toda criança com menos de 13 anos de idade com pelo menos uma das seguintes situações: → Manifestação clínica, alteração liquórica ou radiológica de testes não treponêmicos reagentes. → Títulos de teste não treponêmico do lactente maiores do que os da mãe em pelo menos duas diluições de amostras de sangue periférico, coletadas simultaneamente no momento do parto. → Títulos de testes não treponêmicos ascendentes em pelo menos duas diluições no seguimento da criança exposta. → Títulos de testes não treponêmicos ainda reagentes após 6 meses de idade, em crianças adequadamente tratadas no período neonatal. → Testes treponêmicos reagentes após 18 meses de idade sem diagnóstico prévio de sífilis congênita. Nesta situação, deve ser sempre afastada a possibilidade de adquirida em situação de violência sexual. Evidência microbiológica de infecção pelo Treponema pallidum em amostra de secreção nasal ou lesão cutânea, biópsia ou necropsia de criança, aborto ou natimorto. Detecção do Treponema pallidum por meio de exames diretos por microscopia (de campo escuro ou com material corado). Diagnóstico diferencial O polimorfismo das manifestações clínicas da sífilis, a possibilidade do comprometimento de praticamente todos os órgãos do corpo e as variações temporais desses envolvimentos acarretam um grande número de diagnósticos diferenciais, assim, permitindo que seja mantida a máxima de “pensar sifiliticamente”. Na sífilis recente, o cancro duro deverá ser diferenciado de todas as outras doenças causadoras de erosão e/ou ulceração na genitália, em especial o cancro mole. Na prática clínica é, por vezes, difícil a separação entre as duas entidades, podendo ainda ocorrer o cancro misto de Rollet, que mostra sinais clínicos do cancro mole, seguido do endurecimento característico do cancro duro. Diagnóstico diferencial frequente é com o herpes simples, em que, classicamente, observam-se vesículas agrupadas sobre uma base eritematosa, normalmente, precedidas de sensações parestésicas locais como o prurido. Outras diferenciações devem ser realizadas com: escabiose, carcinoma espinocelular, fissuras e ulcerações traumáticas, assim como as lesões inespecíficas iniciais da donovanose e do linfogranuloma venéreo. A roséola sifilítica e as sifílides devem ser diferenciadas entre as numerosas doenças provocadoras de exantemas, por exemplo: pitiríase rósea, farmacodermias, viroses, hanseníase virchowiana, colagenose, urticária etc. Já o principal diagnóstico diferencial do condiloma plano é com lesões verrucosas exofíticas causadas pelo HPV (Human papillomavirus) e denominadas condiloma acuminado. As manifestações da sífilis tardia também permitem inúmeros diagnósticos diferenciais, por exemplo, das lesões gomosas devemse afastar tuberculose, leishmaniose, esporotricose, entre outras doenças granulomatosas. Diagnóstico laboratorial e exames complementares O método a ser utilizado para o diagnóstico laboratorial da sífilis depende da fase evolutiva a que o paciente se encontrar, ou seja, suas manifestações clínicas decidirão qual o melhor exame a ser escolhido. Considera-se como padrão-ouro para o diagnóstico da sífilis a pesquisa direta do T. pallidum; porém, na prática clínica, a sorologia é mais utilizada. Pesquisa de treponema → Está indicada na suspeita de cancro duro e nas lesões mucocutâneas presentes na sífilis recente. → Microscopia em campo escuro: deve ser realizada no momento da consulta, pois se observam as bactérias vivas e móveis; não aplicável para as lesões orais e/ou retais pela presença de bactérias espiroquetas não patogênicas. → Impregnação pela prata (técnica de Fontana- Tribondeau - FT). → Imunofluorescência direta (IF). Reações sorológicas → São de dois tipos, treponêmicas e não treponênicas, e revelarão a presença e a quantidade de anticorpos antitreponêmicos circulantes. → Treponêmicas: positivam-se a partir da terceira semana de infecção concomitante ao aparecimento do cancro duro. Atualmente, os mais utilizados são: ▪ FTA-Abs (Fluorescent Treponemal Antibody Absorption) IgG e IgM - a fração IgM demonstra infecção recente em atividade e negativa num tempo variável, enquanto a fração IgG mantém-se positiva permanentemente, não sendo utilizada para o controle terapêutico; ▪ MHA-Tp/TPHA (Treponema pallidum Micro Hemaglutination); ▪ Elisa (Enzyme-Lynked Immunosorbent Assay) ▪ Teste imunocromatográfico ou por aglutinação de partículas de látex (Teste Rápido). → Não treponêmicas: o antígeno reator sérico é a cardiolipina, evidenciando a formação de anticorpos antilipídicos. Tornam-se positivos a partir da 4ª ou 5ª semana após o contágio e são indicados tanto para o diagnóstico como para o seguimento terapêutico, pois seus resultados, além de qualitativos, são expressos quantitativamente. Podem ser de macro ou micro oculação: VDRL (Venereal Disease Research Laboratory) e RPR (Rapid Plasma Reagin). Para o diagnóstico laboratorial da sífilis são necessários exames treponêmicos e não treponêmicos. A ordem de realização fica a critério do serviço de saúde. O diagnóstico sorológico da sífilis congênita obedece aos mesmos parâmetros utilizados para a sífilis adquirida, porém com algumas peculiaridades na interpretação dos testes sorológicos. → Recém-nascidos não infectados podem apresentar anticorpos não treponêmicos maternos transferidos através da placenta, e estes se mantêm reagentes até o sexto mês de vida ou mais. → A sorologia treponêmica é de uso limitado em recém-nascidos, pois os anticorpos IgG maternos ultrapassam a barreira placentária. Tratamento – sífilis adquirida A penicilina benzatina é altamente eficaz na prevenção da sífilis congênita e é a única opção terapêutica que trata o feto, quando ministrada antes de 30 dias do término da gestação. Sífilis recente- sífilis primária, secundária e latente recente: penicilina benzatina 2,4 milhões UI, IM, dose única (1,2 milhão UI em cada glúteo).Sífilis tardia- sífilis latente tardia, latente com duração ignorada e sífilis terciária: penicilina benzatina 2,4 milhões UI, IM, 1x semana (1,2 milhão em cada glúteo) por 3 semanas. Dose total: 7,2 milhões UI, IM. Nas gestantes, devem ser empregados os mesmos esquemas com penicilina G benzatina, ressaltando que está contraindicado o uso da droga alternativa – doxiciclina. Todos os pacientes com manifestações neurológicas e ou cardiovasculares devem ser hospitalizados e tratados com os esquemas específicos de penicilina. Reação de Jarish Herxheimer o Consiste em uma endotoxemia causada pela destruição maciça dos treponemas com liberação de lipopolissacárides bacterianos. o Ocorre mais na fase exantemática da sífilis recente, após a primeira dose do antibiótico. o Geralmente, exige apenas medicações sintomáticas como analgésicos e antitérmicos comuns, involuindo espontaneamente em 12 a 48 horas, não justificando a interrupção do esquema terapêutico. o Expressa-se como exacerbação das lesões, febre, calafrios, cefaleia, náuseas e artralgias. o Mesmo não se tratando de uma reação de hipersensibilidade (alérgica) à penicilina, é extremamente importante diferenciá-la de outras farmacodermias. o Observa-se que todo paciente com sífilis deve ser alertado quanto a essa possível reação quando instituída a terapêutica, em especial se for com penicilina. o Em gestantes, alertar para possibilidade de desencadeamento de trabalho de parto pré-termo pela liberação de prostraglandinas. Controle do tratamento Além da remissão rápida e completa das lesões, o VDRL ainda é o melhor parâmetro de controle de cura da sífilis, e espera-se a baixa da sua titulagem sérica depois de instituída a terapêutica. Isso, porém, não ocorre imediatamente, ao contrário, pode haver uma elevação desses valores imediatamente após o tratamento oriundo da liberação de antígenos quando da destruição dos treponemas. Para o seguimento do paciente, os testes não treponêmicos (ex.: VDRL) devem ser realizados mensalmente nas gestantes a cada 3 meses no primeiro ano de acompanhamento do paciente e a cada seis meses no segundo ano (3, 6, 9, 12, 18, 24 meses). A resposta ao tratamento pode ser: → Resposta imunológica adequada: teste não treponêmico não reagente ou queda na titulação em duas diluições em até 6 meses para sífilis recente e queda na titulação em duas diluições em até 12 meses para sífilis tardia. A persistência de resultados reagentes em testes não treponêmicos após o tratamento adequado e com queda prévia da titulação em pelo menos duas diluições, quando descartada nova exposição de risco durante o período analisado, é chamada de “cicatriz sorológica” (Serofast) e não caracteriza falha terapêutica. → Critérios de retratamento (reativação e/ou reinfecção) *: ▪ Ausência de redução da titulação em duas diluições no intervalo de seis meses (sífilis recente, primária e secundária) ou 12 meses (sífilis tardia) após o tratamento adequado. OU ▪ Aumento da titulação em duas diluições. OU ▪ Persistência ou recorrência de sinais e sintomas clínicos. *Recomenda-se investigação de neurosífilis por meio de punção lombar e retratamento com três doses de penicilina benzatina 2,4 milhões de UI, IM (uma vez por semana, por três semanas). O(s) parceiro(s) sexual(is) do paciente com sífilis nunca deve(m) ser esquecido(s), solicitando sua presença ou o encaminhando para consulta em outro serviço. Deve-se ressaltar que tão importante quanto diagnosticar e tratar é efetuar uma excelente atuação em educação em saúde (aconselhamento), como forma de diagnosticar outros casos inter- relacionados e, principalmente, prevenir outras doenças. Considera-se que o retorno à atividade sexual só deva ocorrer após a regressão das lesões cutaneomucosas, o que, por experiência, dá-se, na maioria dos casos, de duas a três semanas depois de completado o tratamento. Todavia deve-se enfatizar e orientar o uso do preservativo masculino ou feminino, em todas as relações sexuais, mesmo após a regressão dos sinais clínicos. Tratamento da sífilis congênita neonatal Nos recém-nascidos de mães com sífilis não tratada ou inadequadamente tratada, independentemente do resultado do VDRL do recém-nascido, realizar: hemograma, radiografia de ossos longos, punção lombar (na impossibilidade de realizar esse exame, tratar o caso como neurossí- filis) e outros exames, quando clinicamente indicados. Se houver alterações clínicas e/ou sorológicas e/ou radiológicas Penicilina G cristalina, na dose de 50.000 UI/Kg/dose, por via endovenosa, a cada 12 horas (nos primeiros 7 dias de vida) e a cada 8 horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias; ou penicilina G procaína e/ou hematológicas 50.000 UI/Kg, dose única diária, IM, durante 10 dias. Se houver alteração liquórica Penicilina G cristalina, na dose de 50.000 UI/Kg/dose, por via endovenosa, a cada 12 horas (nos primeiros 7 dias de vida) e a cada 8 horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias. Se não houver alterações clínicas, radiológicas, hematológicas e/ou liquóricas, e a sorologia for negativa Penicilina G benzatina, na dose única de 50.000 UI/Kg, por via intramuscular. O acompanhamento é obrigatório, incluindo o seguimento com VDRL sérico após conclusão do tratamento. Sendo impossível garantir o acompanhamento, o recém- nascido deverá ser tratado com o esquema A1. Nos recém-nascidos de mães adequadamente tratadas: realizar o VDRL em amostra de sangue periférico do recém-nascido; se este for reagente com titulação maior do que a materna, e/ou na presença de alterações clínicas, realizar hemograma, radiografia de ossos longos e análise do LCR. Se houver alterações clínicas e/ou radiológicas, e/ou hematológica sem alterações liquóricas Penicilina G cristalina, na dose de 50.000 UI/Kg/dose, por via endovenosa, a cada 12 horas (nos primeiros 7 dias de vida) e a cada 8 horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias; ou penicilina G procaína 50.000 UI/Kg, dose única diária, IM, durante 10 dias. Se houver alteração liquórica Penicilina G cristalina, na dose de 50.000 UI/Kg/dose, por via endovenosa, a cada 12 horas (nos primeiros 7 dias de vida) e a cada 8 horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias. Nos recém-nascidos de mães adequadamente tratadas: realizar o VDRL em amostra de sangue periférico do recém-nascido. Se for assintomático e o VDRL não for reagente Proceder apenas ao seguimento clínico-laboratorial. Na impossibilidade de garantir o seguimento, deve-se proceder ao tratamento com penicilina G benzatina, IM, na dose única de 50.000 UI/Kg. Se for assintomático Acompanhar clinicamente. e tiver o VDRL reagente, com título igual ou menor que o materno Sífilis congênita tardia → Penicilina G cristalina na dose de 200.000- 300.000 UI/Kg/dia, por via endovenosa ou IM, administrada 50.000 UI/Kg/dose, a cada 4-6 horas por 10-14 dias; ou → Eritromicina, 7.5-12.5 mg/kg VO, 6/6 horas por 30 dias. O seguimento da criança deve ser com consultas ambulatoriais mensais até o 6º mês de vida e bimensais do 6º ao 12º mês. Além disso, deve-se realizar o VDRL com 1 mês, 3, 6, 12 e 18 meses de idade, interrompendo o seguimento com 2 exames consecutivos de VDRL negativos. Também é necessário realizar TPHA ou FTA-Abs para sífilis após os 18 meses de idade para a confirmação do caso. Diante de elevação do título sorológico ou da sua não negativação até os 18 meses de idade, reinvestigar o paciente e proceder ao tratamento. Introdução O HIV é uma partícula esférica, que mede 100 a 120 nm de diâmetro, pertencente ao gênero Lentivirus e à família Retroviridae. A maioria das infecções pelo HIV-1 ocorre através dasmucosas do trato genital ou retal durante a relação sexual. As gestantes com HIV devem ser encaminhadas automaticamente para pré natal de alto risco. Caso esteja com imunossupressão grave e/ou outras coinfecções, deve ser encaminhada para serviço especializado. Diagnóstico Os testes utilizados mais comumente no diagnóstico da infecção pelo HIV são os imunoenzimáticos do tipo ELISA (do inglês Enzyme- Linked Immunosorbent Assay) de quatro gerações, que podem levar até quatro horas para serem realizados, e os testes rápidos (TR), que são imunoensaios (IE) simples, que podem ser realizados em até 30 minutos e, por essa razão, são ideais para fornecer resultados no mesmo dia em uma variedade de situações e locais. Os TR são primariamente recomendados para testagens presenciais. Diagnóstico: 1 teste rápido positivo + 1 teste rápido de outro laboratório OU 1 elisa. Testes complementares utilizam diferentes formatos e princípios. Estão inclusos nessa categoria: western blot (WB), imunoblot (IB) ou imunoensaios em linha (LIA, do inglês line immunoassay), incluindo imunoblot rápido (IBR) e imunofluorescência indireta (IFI). A infecção pelo HIV pode também ser diagnosticada por meio da detecção direta de componentes do vírus, como o antígeno p24 ou com testes moleculares (TM) que detectam RNA ou DNA pró- viral. Os TR são métodos preferenciais para diagnóstico, pois possibilitam início adequado da terapia antirretroviral (TARV) e resposta virológica mais precoce. A testagem laboratorial pode ser utilizada, desde que a entrega do resultado ocorra em tempo oportuno (até 14 dias). A realização imediata do teste de carga viral do HIV (CV-HIV) está indicada após a confirmação da infecção pelo HIV e o teste de genotipagem pré- tratamento está indicado para todas as gestantes. Contudo, não é necessário aguardar o resultado da genotipagem para o início da TARV. Recomenda-se também a oferta de testagem combinada de HIV, sífilis e hepatite B à gestante, na 1ª consulta e no 3º trimestre. Manejo na gestação Exame físico detalhado em busca atenta de sinais clínicos sugestivos de manifestações da doença, infecções oportunistas (IO) e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). Dentre os exames laboratoriais, o nível da CV-HIV deve ser realizado pelo menos três vezes durante a gestação: na 1ª consulta, para estabelecer a magnitude da viremia; duas a quatro semanas após a introdução da TARV, para avaliar a resposta ao tratamento; a partir da 34ª semana, para indicação da via de parto. A contagem de LT-CD4+ deverá ser realizada na 1ª consulta e pelo menos a cada três meses em gestantes em início de tratamento. TARV está indicada para toda gestante infectada pelo HIV, independentemente de critérios clínicos e imunológicos, e não deverá ser suspensa após o parto, independentemente do nível de LT-CD4+. A supressão da CV-HIV é um fator determinante na redução da transmissão vertical (TV). O uso de TARV durante a gravidez reduz a taxa de TV-HIV de aproximadamente 30% para menos de 1%, quando se alcança a supressão da CV-HIV materna (CV-HIV plasmática < 50 cópias/mL) próxima ao parto. Tratamento A terapia inicial deve sempre incluir combinações de três ARV, sendo dois inibidores da transcriptase reversa nucleosídico/nucleotídico (ITRN)/ITRNt associados a um inibidor da integrasse (INI). O raltegravir (RAL) é o ARV da classe dos INI mais estudados na população de mulheres grávidas, sendo o de 1ª escolha para gestantes em início de TARV pela sua eficácia na redução rápida da CV-HIV, ausência de teratogenicidade, boa tolerância e baixa interação medicamentosa. O esquema preferencial para gestantes em início de tratamento no 1º trimestre deve ser: TDF + 3Tc (dose fixa combinada, 300/300mg, 1x/dia) + RAL (400mg, 2x/dia). Se a pacientes estiver no 2º ou 3º trimestre, a terapia de escolha é TDF + 3TC + DTG. Esse esquema, mesmo durante o 1º trimestre de gestação, não aumenta defeitos congênitos em comparação com a população geral e vem sendo bem-tolerado durante a gestação. Na impossibilidade do uso de TDF/3TC, a associação AZT/3TC é a 2ª opção. Caso essa associação não possa ser usada, recomenda-se o uso do abacavir (ABC) associado a 3TC como 3ª opção, mas só nas que tenham teste para o HLA-B*5701 NEGATIVO, pelo risco de hipersensibilidade. Para as gestantes que já estão em uso de Dolutegravir (DTG), como ainda não há dados de segurança para seu uso durante a gestação, é permitido realizar a troca para o RAL, mas, ao término da gestação, aquelas que iniciarem TARV com o esquema de TDF + 3TC + RAL deverão realizar troca do RAL para DTG, em um prazo de até 3 meses. Intercorrências clínicas e obstétricas A pré-eclâmpsia, a síndrome HELLP, a colestase hepática e a insuficiência hepática aguda são distúrbios associados à gestação e podem ser confundidos com os efeitos adversos dos ARV. Portanto é necessário realizar o diagnóstico diferencial de possíveis efeitos adversos associados ao uso de ARV. A utilização de IP também está relacionada ao desenvolvimento de hiperglicemia, DM e agravamento de distúrbios metabólicos da glicose e dos lipídios. Para gestantes que tenham necessidade de invasão âmnica, ponderar o risco e o benefício do procedimento, levando em consideração a CV-HIV da gestante, especialmente nas que estejam com a CV-HIV detectável. A utilização EV de AZT 2mg/kg peso materno, três horas antes da amniocentese, pode reduzir o risco de TV do HIV As principais intercorrências obstétricas em gestantes vivendo com HIV que merecem destaque são: → Hemorragia pós parto: não se deve administrar derivado do ergot, nas que fizerem uso de medicamentos inibidores da enzima citocrômica P, cYp450 e cYp3a4 (IP, além de antibióticos macrolídeos), pelo risco de respostas vasoconstritoras exageradas e isquemias periféricas e centrais graves. Preferir ocitocina ou misoprostol. → Rotura prematura de membranas (RPM) e/ou trabalho de parto pré-termo (TPP): a conduta expectante, quando inferior a 34 semanas, não se difere daquela adotada para gestantes não infectadas pelo HIV. Mas, no caso da inibição do TPP, as condutas expectantes padronizadas incluem a introdução do AZT intravenoso materno concomitantemente à inibição medicamentosa do parto. Via de parto e AZT no parto Em mulheres com CV desconhecida ou maior que 1.000 cópias/ mL após 34 semanas de gestação, a cesárea eletiva a partir da 38ª semana de gestação diminui o risco de TV do HIV. Para gestantes em uso de ARV e com supressão da CV-HIV sustentada, caso não haja indicação de cesárea por outro motivo, a via de parto vaginal é indicada. Em mulheres com CV-HIV < 1000 cópias/mL, mas detectável, pode ser realizado parto vaginal, se não houver contraindicação obstétrica. No entanto essa mulher tem indicação de receber AZT intravenoso. O AZT deve ser administrado durante o início do trabalho de parto, ou até 3 (três) horas antes da cesariana eletiva, até o clampeamento do cordão umbilical. A dose de ataque na primeira hora é de 2mg/kg, seguida de manutenção com infusão contínua de 1mg/kg, diluído em 100mL de soro glicosado a 5%. A concentração não deve exceder a 4 mg/ml. Para as mulheres já em TARV, os ARV devem ser mantidos nos horários habituais, VO, com um pouco de água, mesmo durante o trabalho de parto ou no dia da cesárea programada. Não é necessário o uso de AZT profilático EV naquelas gestantes que apresentem CV-HIV indetectável após 34 semanas de gestação e que estejam em TARV com boa adesão. São cuidados que se deve tomar durante o parto vaginal: → Não realizar procedimentos invasivos (amniocentese, cordocentese, amniotomia, escalpo cefálico); → Partoinstrumentalizado deve ser evitado, porém, quando indicado, preferir o fórceps em vez do vácuo-extrator; → Manter a infusão do AZT, se CV-HIV desconhecida ou >1000 cópias/mL, até a ligadura do cordão umbilical; → Monitorizar cuidadosamente o TP, evitando toques desnecessários e repetidos (usar o partograma), amniotomia e episiotomia, salvo se extremamente necessárias; esta sendo realizada, deverá ser protegida por compressas umedecidas com o mesmo degermante utilizado para a vagina e períneo durante o parto; → Evitar que as parturientes permaneçam com bolsa rota (espontânea) por tempo prolongado, visto que a taxa de TV aumenta progressivamente após 4 (quatro) horas de bolsa rota; → O uso de medicamentos que aumentam a atividade uterina não está contraindicado, devendo seguir os padrões de segurança já conhecidos. A cesárea eletiva deve ser realizada a partir da 38ª semana de gestação a fim de evitar a prematuridade, o trabalho de parto e a RPM. Caso a gestante que tenha indicação para a cesárea eletiva inicie o trabalho de parto antes da data prevista para a cirurgia e chegue à maternidade com dilatação cervical mínima (menor que 4cm), o obstetra deve iniciar a infusão intravenosa do AZT e realizar a cesárea, se possível, após três horas de infusão. Sempre que possível, proceder ao parto empelicado, realizar a completa hemostasia da parede abdominal e a troca das compressas ou campos secundários antes de se realizar a histerotomia, minimizando o contato posterior do RN com sangue materno; utilizar antibiótico profilático – dose única EV de 2g de cefazolina. Cuidados no puerpério Inibir a lactação com o uso de cabergolina 0,5mg, 2 comprimidos, dose única logo após o parto, evitando-se o desconfortável enfaixamento das mamas por 10 dias e de efetividade questionável. Reforçar, na alta, que não amamente o RN nem permita aleitamento cruzado, a alimentação mista (leite humano e fórmula infantil) e o uso de leite humano com pasteurização domiciliar. Orientar o uso adequado e informá-la sobre o direito a receber fórmula láctea infantil, pelo menos, até completar seis meses de idade. Incentivar a adesão à TARV, trocar o RAL pelo DTG até o 3º mês pós-parto. Imunizações recomendadas em gestantes com HIV Pneumococo Recomendada. Duas doses, com intervalo de 5 anos, independentemente da idade. Meningocócica conjugada (MncC) Recomendada. Haemophilus influenzae tipo b (Hib) Nas mulheres menores de 19 anos, não previamente vacinadas. Tétano e difteria (dT) Recomendada. Indicado o reforço durante a gestação caso a última dose tenha sido administrada há mais de 5 anos. Difteria, tétano e coqueluche (dTpa) Se a gestante não for vacinada ou o estado vacinal for desconhecido, indicar 3 doses (esquema padrão) e considerar uma dose de dTpa. Caso a gestante precise do reforço de difteria e tétano, poderá realizá-lo contendo as 3 vacinas (dTpa) entre a 27ª semana e a 36ª semana (pelo menos 20 dias antes do parto), conforme orientações sobre imunização contra a coqueluche em gestantes. Hepatite B Recomendada para as gestantes caso não haja histórico de vacinação completa e se HBsAg não reagente A dose deve ser o dobro daquela recomendada pelo fabricante e seguindo o esquema de 4 doses (0, 1, 2 e 6 ou 12 meses). Imunoglobulina humana anti- hepatite B (IGHAHB) Recomendada para as gestantes suscetíveis, em situação de risco de exposição (ex.: usuárias de drogas que compartilham seringas e agulhas, contato sexual desprotegido com pessoas HBsAg positivas ou em caso de vítimas de violência sexual). Dose única, iniciada ainda nos primeiros 14 dias de exposição. Hepatite A Recomendada para as gestantes suscetíveis (anti-HAV IgG negativas). Realizar duas doses com intervalo de 6 a 12 meses Influenza/H1N1 (INF) Recomendada anualmente para PVHIV, antes do período da influenza. Vacina inativada trivalente, uma dose anual. Imunoglobulina para vírus da varicelazoster (VZV) Recomendada para as gestantes suscetíveis (anti-VZV negativas), após exposição a pessoas com infecção ativa por varicela. Febre amarela A vacinação está contraindicada em gestantes, independentemente do estado vacinal. Na impossibilidade de adiar a vacinação, como em situações de emergência epidemiológica, vigência de surtos, epidemias ou viagem para área endêmica, o médico deverá avaliar o benefício e o risco da vacinação. Introdução O comportamento da Covid-19 é marcadamente distinto nos diversos países do mundo, e o motivo dessa diversidade é certamente multifatorial, passando por influências socioeconômicas e geográficas. A incidência e a mortalidade dessa infecção também são distintas nas diversas regiões do Brasil. A transmissão do SARS-CoV-2 pode ocorrer pelo contato direto, indireto ou próximo com pessoas infectadas por meio da saliva e secreções respiratórias expelidas com tosse, espirros, fala ou canto. A transmissão vertical pode ocorrer por via transplacentária, durante o parto e durante a amamentação. A capacidade de transmissão do SARS-CoV-2 pelo sangue ainda é incerta. Foi descrita viremia transitória e com baixa carga viral em 1% dos pacientes sintomáticos, sugerindo que a via placentária de transmissão viral seja provável, mas não frequente. O aleitamento materno tem sido muito discutido, pois fragmentos de RNA viral foram encontrados por RT-qPCR em algumas amostras de leite de mulheres infectadas pelo SARS-CoV-2, mas na etapa de isolamento do vírus no leite, não foram encontrados vírus viáveis competentes para replicação e capazes de causar infecção. A OMS entende que os benefícios do aleitamento materno superam largamente o baixo risco da transmissão vertical. Até este momento, a prevenção da Covid-19 se baseia em isolamento de casos e contatos, distanciamento social, uso de máscaras e práticas de higiene, incluindo etiqueta respiratória e lavagem correta das mãos com água e sabão. Essa orientação deve ser mantida e reforçada para gestantes e puérperas. Quadro clínico e critérios de gravidade O espectro de manifestações clínicas observado em grávidas infectadas pelo SARS-CoV-2 é amplamente variável, indo do estado assintomático a quadros graves e potencialmente fatais. Quando presentes, os sintomas refletem predominantemente o acometimento do trato respiratório ou a resposta sistêmica à infecção, mas também são observados sintomas gastrointestinais. A Covid-19 pode ser dividida em três estágios de acordo com a evolução e gravidade da doença. O período de incubação varia de 2 a 14 dias (média de 5 dias). O início dos sintomas ocorre no estágio I, que corresponde à fase de replicação viral e se estende por sete dias. Nesse estágio são comuns sintomas como febre, tosse, dor de garganta, perda de olfato (anosmia) e diarreia, além de coriza, perda do paladar (ageusia), dor muscular (mialgia), dor nas articulações (artralgia), dor de cabeça (cefaleia), dor abdominal e vômitos. A minoria dos infectados evolui para a fase II, que se caracteriza pelo comprometimento pulmonar, causando dispneia. Essa progressão é observada entre o 7º e 10º dia da evolução, sendo importante o monitoramento da gestante nesse período. As pacientes que desenvolvem a resposta hiperinflamatória, fase III, necessitarão de cuidados de unidade intensiva e apresentam elevada taxa de mortalidade. A identificação precoce da gravidade da doença em gestantes ou puérperas possibilita o início oportuno de medidas adequadas, como tratamento de suporte, encaminhamento e admissão rápidos em leito de enfermaria hospitalar ou unidade de terapia intensiva de acordo com os protocolos institucionais ou nacionais. Para isso, usamos a classificação da Covid-19 segundo ograu de gravidade, recomendada pelo Ministério da Saúde: Classificação dos sinais e sintomas por grupo de gestantes e puérperas LEVE Síndrome gripal (SG): - Tosse; - Dor de garganta ou coriza Seguido ou não de: – Perda de olfato (anosmia) – Alteração do paladar (ageusia) – Coriza – Diarreia – Dor abdominal – Febre – Calafrios – Mialgia – Fadiga – Cefaleia MODERADO - Tosse persistente + febre persistente diária OU - Tosse persistente + piora progressiva de outro sintoma relacionado à Covid-19 (adinamia (falta de força física), prostração, Hipotermia (baixa temperatura do corpo), diarreia) OU - Pelo menos um dos sintomas acima + presença de fator de risco GRAVE Síndrome respiratória aguda grave (SRAG): Síndrome gripal que apresente: dispneia/desconforto respiratório OU pressão persistente no tórax OU saturação de O menor que 95% em ar ambiente OU coloração azulada de lábios ou rosto *Importante: em gestantes, observar hipotensão e oligúria. Uma vez que a determinação da gravidade do estado da gestante pode ser desafiadora, recomendamos que os profissionais de saúde utilizem o Escore de Alerta Precoce como ferramenta de apoio à decisão. Parâmetro Normal Alerta amarelo Alerta vermelho Freq Resp (rpm) 11-19 20-24 < 10 ou ≥25 Sat O2 (%)* 96-100 - ≤95 Temp (0C) 36-37,4 35,1-35,9 37,5-37,9 < 35 ou ≥38 Freq Card (bpm) 60-99 50-59 100-119 ≤49 ou ≥120 PA Sist (mmHg) 100-139 90-99 140-159 ≤89 ou ≥160 PA Diast (mmHg) 50-89 40-49 90-99 ≤39 ou ≥100 Sensório Alerta - Qualquer alteração do nível de consciência Mulheres com dois ou mais sinais de alerta amarelo ou um ou mais sinais de alerta vermelho, assim como aquelas com síndrome respiratória aguda grave (SRAG), têm risco aumentado de evolução desfavorável e, portanto, merecem cuidado diferenciado. Diagnóstico Para o diagnóstico laboratorial da Covid-19 deve-se considerar a fase clínica da infecção em que a paciente se encontra para definir os exames que apresentam os melhores perfis de desempenho para suporte diagnóstico. Teste de biologia molecular O teste de biologia molecular utilizado para o diagnóstico da Covid-19 é a reação em cadeia da polimerase mediada pela transcriptase reversa (RTqPCR), exame que detecta fragmentos de RNA do SARS-CoV-2. Esse exame é realizado em amostras clínicas obtidas pela coleta de swab de nasofaringe isolado ou combinado com swab orofaríngeo. As coletas devem ser realizadas, de preferência, entre o 3º e 7º dia após o início dos sintomas, período de melhor desempenho do teste. A sensibilidade varia de 60% a 95%, e a especificidade atinge 100%. O RNA do SARS-CoV-2 pode ser detectado na nasofaringe até cinco dias antes dos sintomas e até o 28º dia após esse período, mas em taxas baixas e variáveis de positividade, aumentando sobremaneira o número de resultados falso- negativos. Testes sorológicos Os exames sorológicos aferem a resposta imune do organismo ao SARS-CoV-2. Eles detectam a presença de anticorpos específicos ou de pool de anticorpos em amostra sanguínea. Na prática, essa aferição detecta a IgM (marcador de fase aguda da infecção) e a IgG (marcador de exposição mais tardia). A IgM é detectada após o 7o dia do início dos sintomas, negativando, posteriormente, em torno do 21o dia. Portanto, esse exame está indicado somente nesse período de tempo. Em média, a partir do 14o dia após o início dos sintomas, as provas que aferem a presença da IgG ficam positivas. Segundo as informações da literatura, a sensibilidade dos testes sorológicos para o diagnóstico da Covid-19 varia de 77 a 87%, e a especificidade varia de 85 a 87%. Testes para a identificação de antígenos Os testes para identificação de antígenos proteicos do SARS-CoV-2 têm a vantagem de fornecerem o diagnóstico com maior rapidez. Nos primeiros dias após o início dos sintomas (aproximadamente 1 a 5 dias), proteínas virais (antígenos) são produzidas e podem ser detectadas por diferentes testes, a exemplo do ELISA, imunofluorescência, imunocromatografia e até por testes rápidos. No entanto, a dinâmica de produção e secreção dessas proteínas ainda não foi totalmente estabelecida, refletindo no fraco desempenho desses testes até o momento. Testes rápidos Na realidade os testes rápidos representam mais uma estratégia de diagnóstico utilizando os princípios das dosagens de antígenos ou os princípios dos exames sorológicos em uma plataforma específica de aferição. Os testes rápidos que se baseiam na resposta imune do organismo seguem os mesmos princípios das dosagens desses anticorpos no soro ou no plasma. Também dosam anticorpos específicos ou pool de anticorpos, dependendo da plataforma utilizada. Como os testes sorológicos, seus resultados são mais fidedignos para o diagnóstico se realizados entre o 7º e o 21º dia da infecção. Os testes rápidos para o diagnóstico imunológico da infecção pelo SARS-CoV-2 passam rapidamente por processos de melhora de desempenho e eficiência na tentativa de reduzir suas taxas de resultados falso-negativos e falso-positivos. São úteis para aferir imunidade prévia ao vírus e para o diagnóstico de infecções a partir do 8º dia do início dos sintomas. Interpretação dos exames de COVID PCR IgM IgG Situação + - - Janela imunológica + + - Fase inicial da infecção + + + Fase ativa + - + Fase tardia - + - Fase inicial/PCR falso negativo - - + Infecção passada - + + Recuperação/ PCR falso negativo Exames de imagem A tomografia computadorizada (TC) é considerada como padrão de referência para diagnosticar as alterações pulmonares decorrentes da Covid -19, cujos achados radiológicos típicos são representados por opacificações bilaterais e periféricas com a característica predominante de vidro fosco. De acordo com o consenso da Fleischner Society, a TC é formalmente indicada em certos cenários, incluindo pacientes que correm risco ou que já desenvolveram piora clínica do processo respiratório. O exame radiológico simples também pode ajudar no diagnóstico do quadro pulmonar e muitas vezes é o exame disponível no local do atendimento. Manejo Gestante assintomática, mas com história de contato com pessoa com Covid -19 ou com suspeita clínica de infecção pelo SARS-CoV-2: a. Avaliar queixas que motivaram a procura pelo atendimento: seguimento pré-natal ou queixa específica b. Determinar data de início dos sintomas ou contato com paciente suspeito: a data de início dos sintomas é de extrema importância, pois se relaciona ao momento ideal para a coleta do RT- qPCR do SARS-CoV-2 (do 3º ao 7º dia após início dos sintomas), e também é importante para acompanhamento dos sintomas e de seu agravamento. c. Avaliar presença e gravidade dos sintomas gripais para definição do seguimento. Conduta Sintomas leves: • Orientação de isolamento domiciliar. • Início dos sintomas há menos de 48 horas: dispensação/ prescrição de oseltamivir 75mg 12/12h por 5 dias. • Orientar sobre contato telefônico a cada 24 horas para acompanhamento da evolução da doença e informar o resultado do exame RT-qPCR colhido. • Enfatizar atenção no período entre o 7º e o 10º dia do início dos sintomas (mais frequente a piora do quadro clínico). • Se pesquisa positiva para o SARS-CoV-2: informar a gestante e seus familiares sobre a necessidade de isolamento por até 10 dias do início do quadro clínico. • Orientar, quando houver piora clínica, que a gestante deverá procurar a unidade hospitalar para avaliação e possível internação. Sintomas moderados ou graves: • Necessidade de internação em quarto individual, de acordo com a realidade local, até que se obtenha o resultado do RT-qPCR. Gestantes com diagnóstico confirmado de infecção pelo SARS-CoV-2: a. No caso de síndrome gripal com confirmação para Covid-19, após 10 dias do início dos sintomas, desde que passe 24h de resolução de febre sem uso de medicamentos antitérmicos e remissão dos sintomas respiratórios, a mulher poderá retornar ao atendimento de pré-natal ou puerpério em rotina habitual. b. No caso de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) com confirmação para Covid -19, 20 dias após o início dos sintomas, assegurando 24h de resolução de febre sem uso de antitérmicos e remissão dos sintomas respiratórios, mediante avaliação médica, a mulher poderá retornar ao atendimento de pré-natal ou puerpério em rotina habitual. Tratamento O tratamento da Covid-19 durante a gravidez foi pouco estudado. Embora diversas intervenções farmacológicas tenham sido utilizadas para o controle dessa infecção, muitas delas, apesar de apresentarem atividade in vitro contra o coronavírus, ainda não foram adequadamente avaliadas em ensaios clínicos multicêntricos, controlados, cegos e randomizados. 1. Gestante/puérpera assintomática RT-qPCR positivo para SARS-CoV-2 Quadro clínico: Ausência de sinais ou sintomas. Exames laboratoriais e de imagem: Não solicitar exames laboratoriais. Manejo: orientações, isolamento, teleatendimento e atenção aos sinais de agravamento do quadro após o 7º dia de evolução. 2. Gestante/puérpera classificada como doença LEVE Quadro clínico: anosmia, ageusia, coriza, febre, mialgia, tosse, fadiga, cefaleia, diarreia, dor abdominal, dispneia AUSENTE. Exames laboratoriais e de imagem: Colher RT-qPCR Sars CoV-2 em nasofaringe e não solicitar outros exames. Manejo: → Gestante de baixo risco obstétrico neonatal: ▪ Isolamento; ▪ Oseltamivir: síndrome gripal com início há menos 48 horas; ▪ Medidas de suporte (repouso, hidratação, analgésicos, antitérmicos); ▪ Orientações escritas sobre sinais de gravidade, quando e onde procurar o serviço de saúde; ▪ Monitorização da evolução dos sintomas pela equipe de saúde (de 2 a 3 vezes por semana e diariamente do 7º ao 10º dia de evolução). → Gestante de alto risco obstétrico-neonatal: ▪ Avaliar a possibilidade de acompanhamento da evolução clínica da Covid -19 e o acesso rápido ao sistema de saúde em caso de piora. Caso não seja possível recomenda-se internação hospitalar. 3. Gestante/puérpera classificada como doença MODERADA Quadro clínico: tosse + febre persistente diária OU tosse persistente + piora progressiva de outro sintoma relacionado à Covid-19 (adinamia, prostração, hipotermia, diarreia) OU pelo menos um dos sintomas acima + presença de fator de risco (Saturação O2 < 95% ou FR > 24 irpm). Exames laboratoriais e de imagem: colher RT-qPCR Sars CoV-2 em nasofaringe, Hemograma, Creatinina e Ureia, Sódio e potássio, TGO e TGP, LDH, Proteína C Reativa, TP e TTPa, D Dímeros, Ferritina e fazer RX toráx ou Tomografia Computadorizada de tórax. Manejo: internação com antibiótico (se sinal de infecção bacteriana), oseltamivir (se síndrome gripal com início há menos de 48 horas), heparina e corticoterapia. 4. Gestante/puérpera classificada como doença GRAVE (estado de “hiperinflamação”) Quadro clínico: Síndrome respiratória aguda grave (SRAG): Dispneia/desconforto respiratório OU Pressão persistente no tórax OU Saturação O2 < 95% em ar ambiente Frequência respiratória >30 irpm PaO2/FiO2 < 300. Exames laboratoriais e de imagem: Colher RT- qPCR Sars CoV2 em nasofaringe, Hemograma, Creatinina e Ureia, Sódio e potássio, TGO e TGP, LDH, Proteína C Reativa, TP e TTPa, D Dímeros, Ferritina e Tomografia Computadorizada de tórax ou RX de torax (acometimento pulmonar > 50%). Manejo: internação em UTI com antibióticos, oseltamivir, heparina e corticoterapia. Gestantes internadas em UTI: • Gasometria arterial: diariamente • Ureia, creatinina, sódio e potássio, TGO e TGP: a cada 48 horas • Hemograma, Proteína C reativa, TP e TTPa, LDH: a cada 72 horas • D-Dímeros: apenas na admissão e na alta hospitalar. Repetir se piora clínica. • Ferritina: apenas na admissão e se houver piora clínica. Observações Antibióticos: devem ser administrados na presença de critérios clínicos e radiológicos de pneumonia bacteriana. Recomenda-se, como possível esquema, uma das associações: Ceftriaxona (2 gramas EV, 1 vez ao dia) + Azitromicina Posologia da azitromicina: • Endovenosa: 500 mg EV, 1 vez ao dia, por 5 dias • Oral: 500 mg VO 1 vez ao dia por 5 dias. *O esquema com amoxicilina + clavulanato de 8/8h + azitromicina pode ser utilizado, porém aumenta exposição da equipe de saúde pelo número de aplicações. Oseltamivir: deve ser administrado na presença de síndrome gripal ou na presença de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), desde que, em ambos os casos, o quadro clínico tenha se iniciado há menos de 48 horas. Deve ser iniciado mesmo se a gestante/puérpera tiver recebido a vacina para influenza. Posologia: 75 mg VO de 12/12 horas por 5 dias. Heparina profilática: administrada apenas se contagem plaquetária ≥ 50.000/mm3, na ausência de sangramentos e de outras contraindicações ao uso dessa medicação. Podem ser administradas heparina não fracionada ou heparina de baixo peso molecular, com posologia de acordo com o peso corporal. Peso Até 60 kg 60 kg a 90 kg > 90 kg Heparina não fracionada 5.000 UI 12/12 horas 5.000 UI 8/8 horas 7.500 UI 8/8 horas Peso Até 80 kg 80-120 kg > 120 kg Heparina de baixo peso molecular (enoxaparina) 40 mg SC 1 x ao dia 60 mg SC 1x ao dia 40 mg SC 12/12 h Heparinização plena: será recomendada se houver documentação de evento tromboembólico (trombose venosa profunda ou embolia pulmonar) e pode ser considerada se houver hipoxemia refratária ou isquemia de membros. A preferência será para prescrição de heparina não fracionada, pois, em caso de necessidade de interrupção da gravidez, poderá ser usado o sulfato de protamina. Corticoterapia: a administração de corticóide deve ser considerada após 7 dias do início dos sintomas se a paciente mantiver quadro de comprometimento pulmonar importante. Metilprednisolona 0,7 a 1,0 mg/Kg EV de 12/12h por 3 dias, podendo prorrogar por 7 dias se houver resposta satisfatória ao tratamento (melhora clínica e radiológica). OU Dexametasona 6mg/dia (0,75mg/Kg/dia) por 7 a 10 dias. Pronação: o decúbito ventral pode ser uma manobra importante no manejo de paciente com quadro de doença crítica por Covid-19. Embora não existam estudos avaliando o impacto dessa manobra durante a gestação de mulheres com Covid -19, a posição prona se mostrou segura para gestantes e seus fetos em pacientes sem doenças maternas. A posição prona deve ser indicada em situações em que há dificuldade de manter a oxigenação de gestantes > 95% ou de puérperas > 92%. A pronação pode ser feita com gestantes e puérperas acordadas que necessitem de suplementação de oxigênio (máscara de Venturi, máscara não reinalante ou cateter de alto fluxo) ou gestantes e puérperas sedadas em IOT com relação PaO2/FiO2 < 150. Ventilação invasiva e não invasiva e admissão na UTI É necessário que a gestante apresente aos menos um dos critérios abaixo para internação em UTI: → Sem melhora da saturação de oxigênio apesar da oferta de O2 (SatO2 < 95% com oferta de 6 L/min); → Esforço ventilatório (uso de musculatura acessória, tiragem intercostal, batimento de asa nasal) apesar da oferta de O2; → Relação pO2/FiO2 < 300; → Hipotensão arterial (PAS) < 100mmHg ou pressão arterial média (PAM) < 65mmHg; → Alteração da perfusão periférica (tempo de enchimento capilar); → Alteração do nível de consciência; → Oligúria. Ventilação não invasiva (VNI): CPAPe BIPAP
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