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INTRODUÇÃO As coagulopatias adquiridas representam um grupo heterogêneo de doenças em que o sangramento é o achado que orienta a estratégia de diagnóstico e de tratamento. DEFICIÊNCIA DE VITAMINA K A vitamina K é um cofator fundamental para a gama- carboxilação hepática dos fatores II, VII, IX e X, além dos anticoagulantes endógenos proteína C e proteína S. Os estados deficitários de vitamina K principais da prática médica são os seguintes: (1) Recém-nato (“Desordem Hemorrágica do Recém-Nato”) (2) Paciente debilitado em uso de antibióticos; (3) Síndromes de má absorção intestinal (4) Colestase e hepatopatias. O recém-nato tem baixas reservas de vitamina K e fica propenso à sua carência, principalmente se for prematuro e alimentado exclusivamente com leite materno. pode ser prevenida ou tratada pela aplicação parenteral de vitamina K 1 mg. A vitamina K é lipossolúvel e, portanto, exige os sais biliares para a sua absorção intestinal. Por isso, nas síndromes disabsortivas com esteatorreia, na colestase extra-hepática (obstrução biliar) e intra-hepática (hepatopatia), cai a sua absorção e pode levar ao deficit. Como o fator VII é o fator de menor meia-vida, logo fica deficiente na carência de vitamina K. Assim, o TP (INR) alarga mais e muito antes do PTTa, devendo ser o parâmetro utilizado para a suspeita diagnóstica e controle terapêutico. Depois, a deficiência dos fatores II (hipoprotrombinemia), IX e X faz alargar também o PTTa. O tratamento é a reposição da vitamina 10 mg parenteral, restaurando a hemostasia em 10-12h. O plasma fresco congelado é utilizado nos casos de urgência hemorrágica. ALTERAÇÕES DA HEMOSTASIA NA DOENÇA HEPÁTICA O fígado é um local importante de síntese de fatores da coagulação, bem como de proteínas que regulam a coagulação e que participam da fibrinólise. Mecanismos: → Colestase: interfere na absorção da vitamina K pelo TGI levando ao prejuízo na síntese de fatores dependentes de vitamina K (II, VII, IX e X e proteína C e S). → Insuficiência hepatocelular grave: implica na deficiência da síntese dos fatores. → Hipertensão portal: pode levar à ativação da coagulação e consumo crônico de fatores no território da veia porta. → Diminuição da depuração de fatores da coagulação ativados e de toxinas provenientes do TGI, contribuindo para a ativação crônica da coagulação. A alteração laboratorial mais frequente é o prolongamento do TP, seguida pelo prolongamento do TTPA. O fator V é um ótimo marcador de síntese hepática, pois não depende da vitamina K para ser sintetizado. Nos defeitos de síntese com quadro de sangramento, ou na necessidade de procedimentos invasivos, preconiza-se a reposição com plasma fresco congelado. COAGULOPATIA ASSOCIADA À TRANSFUSÃO MACIÇA A transfusão maciça consiste na infusão de grande volume de sangue estocado em curto período. Ela está relacionada à hemorragia grave que pode ocorrer no trauma, cirurgia, hemorragia gastrointestinal, coagulação intravascular disseminada ou hemorragia pós-parto. A consequência é uma coagulopatia dilucional, com depleção de fatores de coagulação e, principalmente, redução da função hemostática das plaquetas por causa da estocagem do sangue a 4º. A gravidade da coagulopatia é proporcional ao volume de sangue reposto e o quadro clínico consiste na persistência de sangramento difuso e não apenas oriundo da lesão que causou a hemorragia inicial. O tratamento baseia-se no reconhecimento precoce e na prevenção do choque hipovolêmico com isquemia tecidual e a correlação da coagulopatia dilucional. COAGULOPATIA ASSOCIADA AO TRAUMA Sangramento maciço é uma importante causa de morte em pacientes com trauma grave. Nesses pacientes, o sangramento é agravado pela instalação de coagulopatia, que é Coagulopatias Adquiridas Por Laura Reis causada por vários mecanismos, como hemodiluição decorrente de transfusão maciça, hipotermia, coagulação intravascular disseminada e alterações metabólicas. A gravidade da coagulopatia do trauma é proporcional ao volume de sangue perdido. A isquemia de tecidos causa lesão endotelial que desencadeia CIVD. INIBIDORES ADQUIRIDOS DE FATORES DE COAGULAÇÃO Inibidores adquiridos de fatores de coagulação, fora do contexto das coagulopatia hereditárias (hemofilia) são mais frequentes dirigidos contra o fator VIII e afetam indivíduos mais idosos sem doença de base. O aparecimento dos autoanticorpos antifator VIII (IgG) pode ocorrer em: (1) hemofílico A que recebeu componentes do sangue; (2) na puérpera; (3) no LES e (4) em algumas imunodeficiências. O quadro clínico de aparecimento de hematomas espontâneos, muitas vezes extensos, costuma ser de instalação aguda. Os hematomas atingem tecidos moles, músculos, mucosas e mais raramente articulações. Este anticorpo inativa o fator VIII, provocando uma diátese hemorrágica que pode ser grave. No coagulograma podemos encontrar um PTTa bem alargado e um TP normal. O diagnóstico é suspeitado quando a adição de plasma não corrige o PTTa do paciente e descarta-se a possibilidade do anticoagulante lúpico. O paciente não responde à reposição de crioprecipitado, plasma fresco congelado ou fator VIII purificado, pois o anticorpo inibe o fator VIII exógeno também!! O tratamento se dá pela infusão do concentrado de complexo protrombínico por conter pequenas quantidades dos fatores II, IX e X ativados, “bypassando” o fator VIII na cascata da coagulação. Entre os hemoderivados, somente o Prothromplex controla a hemorragia destes pacientes. A plasmaferese e o uso de imunossupressores (ex.: ciclofosfamida) podem ser necessários nos casos crônicos e refratários. A terapia imunossupressora também pode ser eficaz, com administração de prednisona, que pode se associar a ciclofosfamida. TRATAMENTO DAS COAGULOPATIAS ADQUIRIDAS Inicia-se pelo tratamento da doença de base + medidas gerais. A reposição de fatores hemostáticos deve ser feita na presença de sangramento e é baseada na administração de hemocomponentes. Além disso, são usadas drogas que atuam na hemostasia, como os antifibrinolíticos e a desmopressina (DDAVP). O plasma fresco congelado contém todos os fatores da coagulação preservados, mas é necessária a infusão de grande volume para que se atinja a concentração adequada dos fatores, além de se tratar de produto não submetido ao tratamento para inativação viral, o que traz risco potencial de contaminação. O concentrado de complexo protrombínico contém os fatores vitamina K dependentes: II, VII, IX e X e tem a vantagem de possibilitar a administração de um volume menor ao paciente. → ELE NÃO CORRIGE A DEFICIÊNCIA DE FATOR V, FATOR XI OU FIBRINOGÊNIO. O fator VII ativado recombinante se liga ao fator tecidual expresso em células endoteliais, monócitos ou no local da lesão endotelial, gerando grande quantidade de trombina, capaz de levar à formação local de fibrina e cessar o sangramento. → Se mostrou eficaz no controle de sangramento em trombopatias congênitas, trombocitopenia grave, sangramento grave relacionado ao parto ou em pacientes críticos, outros sangramentos e no controle da extensão de um hematoma. Drogas antifibrinolíticas são usadas como tratamento coadjuvante para sangramento de mucosa. Eles retardam a geração de plasmina, reduzindo a fibrinólise. A desmopressina ou DDVAP é um análogo sintético da vasopressina, que estimula a liberação do fator de von Willanbrand armazenado nas células endoteliais, elevando seu nível plasmático e reduzindo o sangramento de pacientes portadores da dvW ou de trombopatias congênitas e adquiridas.
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