Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
As 4 serpentes com maior importância clínica são: → Jararaca: acidente botrópico; → Cascavél: acidente crotálico; → Surucucu: acidente laquético; → Cobra coral verdadeira: acidente elapídico. Como reconhecer a cobra responsável pelo acidente? O primeiro passo é diferenciar a cobra peçonhenta da não peçonhenta. → FOSSETA LOREAL – é um órgão termorreceptor que se apresenta como um orifício entre os olhos e as narinas. → DENTES INOCULADORES – bem desenvolvidos e móveis, situados na porção anterior do maxilar destes animais. Exceção: gênero Micrurus, que não apresenta fosseta loreal e tem dentes inoculadores fixos e pouco desenvolvidos, porém sua coloração em anéis é característica. Uma característica importante dos acidentes ofídicos é a sazonalidade, isto é, eles ocorrem mais na época de calor e de chuvas. Por aí, já podemos deduzir que os acidentes são mais frequentes em adultos jovens do sexo masculino durante o trabalho na zona rural. Curiosamente, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, essa variação não é tão evidente, ainda que os primeiros meses do ano também tenham uma maior incidência de casos. Definido que se trata de um animal peçonhento, o próximo passo é estabelecer qual foi o animal envolvido, pois cada um possui um veneno específico com sinais e sintomas diferentes. Cauda lisa Distribuição em todo o território nacional. Cauda com escamas arrepiadas Habita em áreas florestais. Cauda com chocalho Habitat em campos abertos, áreas secas, longe do litoral e ausente em florestas. Corpo com anéis coloridos (preto, branco e vermelho). A cobra coral falsa tem barriga branca e anéis diferentes. Encontradas em todo o território nacional. Além das diferenças físicas e epidemiológicas, existe a diferença clínica, fator de maior importância na hora de diferenciar cada acidente e na hora de tratar. O veneno possui 3 ações: PROTEOLÍTICA + COAGULANTE + HEMORRÁGICA. Proteolítica: lesões de destruição local, como dor, edema endurecido, equimoses e sangramentos, bolhas, necrose, abcesso, síndrome compartimental e até amputação. Coagulante e hemorrágica: distúrbios da coagulação, como Gengivorragia, epistaxe, hematêmese, hematúria, hipotensão, hipovolemia, IRA. Exames laboratoriais: Tempo de coagulação alargado, leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda, plaquetopenia. → QUANTO MAIS VENENO, MAIOR A ALTERAÇÃO DOS TESTES DE COAGULAÇÃO. Acidente por Animais Peçonhentos NÃO ESQUECER Mais comum: Botrópico; Mais letal: Crotálico; Com mais sequelas: Botrópico; Único que não causa sintomas neurológicos: Botrópico; Gêneros que causam manifestações importantes no local da picada = Bothrops e Lachesis Único ofídio cujo veneno provoca rabdomiólise = Crotalus Gêneros que causam fácies miastênica = Crotalus + Micrurus Único ofídio que causa estimulação vagal = Lachesis Tratamento: → Medidas de suporte: repouso e elevação do membro afetado. → Soro Antibotrópico (SAB) ou Soro Antibotrópico-laquético (SABL). → Durante a infusão e nas primeiras horas após a administração do soro, o paciente deve ser monitorado quanto ao desenvolvimento de reações do tipo urticária, náuseas/vômitos, rouquidão e estridor laríngeo, broncoespasmo, hipotensão e choque. → Se presentes, a soroterapia deve ser interrompida e posteriormente retomada após tratamento da anafilaxia. → Reações tardias como a doença do soro, cursando com urticária, febre baixa e adenomegalia, também podem ocorrer 1-4 semanas após a soroterapia. Nomes: surucucu e pico de jaca. O veneno possui 4 ações: PROTEOLÍTICA + COAGULOPATIA + HEMORRÁGICA + NEUROTÓXICA. Proteolítica: lesões de destruição local, como dor, edema endurecido, equimoses e sangramentos, bolhas, necrose, abcesso, síndrome compartimental e até amputação. A neurotoxina é responsável por um quadro de estimulação vagal, apresentando-se com hipotensão arterial, tonturas, escurecimento da visão, bradicardia, cólicas abdominais, vômitos e diarreia, sendo essa a principal diferença entre o acidente brotópico do laquético. O tratamento se dá com: medidas de suporte + Soro Antibotrópico-Laquético (SABL). Nomes: cascavel, cascavel quatro ventas, boicininga, maracamboia, maracá e outras. Denunciam sua presença pelo ruído característico do guizo ou chocalho. O veneno possui 3 ações: NEUROTÓXICA + MIOTÓXICA + COAGULANTE. A neurotoxina age na região pré-sináptica, impedindo a liberação de acetilcolina, levando ao bloqueio neuromuscular. Os efeitos locais são discretos, diferenciando do acidente botrópico e laquético. A sintomatologia neurológica se apresenta nas primeiras horas após o acidente com fáscies miastênicas (ptose palpebral, flacidez dos músculos da face e oftalmoplegia), turvação visual, diplopia e miose ou midríase, podendo ocorrer insuficiência respiratória por paralisia dos músculos da parede torácica. A ação miotóxica é responsável pela mialgia generalizada e pelo aparecimento de urina escura, podendo cursar com insuficiência renal aguda por necrose tubular aguda. Os exames laboratoriais mostram aumento de enzimas musculares (CK, aldolase, TGO e LDH), com aumento das escórias nitrogenadas (dependendo da lesão renal). O hemograma pode revelar leucocitose com desvio a esquerda. No sedimento urinário pode haver mioglobina, que será interpretada como hemoglobina. Tratamento: soro anticrotálico (SAC). IRA induzida pela rabdomiólise → Hidratação vigorosa com salina isotônica → aumentar o débito urinário em torno de 300 ml/h. → Manitol → manter o fluxo urinário alto. → Bicarbonato → alcalinizar a urina, reduzindo a toxicidade do pigmento mioglobínico. Nomes: cobra coral verdadeira ou boicorá. O veneno possui ação de NEUROTÓXICA e as neurotoxinas são divididas em pós-sináptica e pré-sináptica, sendo que a segunda está presente em apenas algumas espécies. Ambas as neurotoxinas impedem a ação da acetilcolina nos receptores da junção neuromuscular. Contudo, o tipo de neurotoxina ajuda nas ações terapêuticas. A sintomatologia consiste em dor leve e parestesias no local da picada, associadas a manifestações sistêmicas que se iniciam com vômitos, com posterior surgimento de fraqueza muscular progressiva com ptose palpebral, oftalmoplegia e presença de fáscies miastênicas, além de dificuldade para deglutição. A complicação mais temida é a paralisia flácida da musculatura respiratória com apneia e insuficiência respiratória aguda. Diferentes dos outros acidentes, no local da picada não se observa alteração importante. O tratamento é feito com soro Antielapídico (SAE). Neste tipo de acidente, existe eficácia comprovada da administração de anticolinesterásicos (neostigmina), prolongando a vida média da acetilcolina, com resultante reversão rápida do quadro respiratório. Vale a pena ressaltar que no caso das neurotoxinas de ação pré-sináptica não há antagonismo de sua ação com a neostigmina, visto que o bloqueio ocorre na liberação da acetilcolina, ao contrário da pós-sináptica, na qual existe um bloqueio competitivo. NÃO ESQUECER Recomendado: lavar o local da picada apenas com água ou com água ou sabão; manter o paciente deitado, hidratado, procurar o serviço mais próximo e, se possível, levar o animal para identificação. Não recomendado: fazer torniquete ou garrote, cortar o local da picada, perfurar ao redor, colocar folha, pó de café ou outros contaminantes. O acidente escorpiônico é o de maior número de notificações no Brasil, mais do que o ofídico. Esses acidentes costumam ocorrer com maior frequência nos meses mais quentes e chuvosos, entre outubro e março, mais a variação anual é pequena. Os escorpiões de importância médica no Brasil pertencem ao gênero Tityus, dentre os quais sedestacam pela sua prevalência as espécies T.serrulatus (escorpião-amarelo – principal), T. bahiensis (escorpião-marrom), T.stigmurus, T. metuendus e T. paraensis (escorpião-preto). A maioria das lesões tem curso benigno, com letalidade baixa e risco mais elevado em crianças menores de 14 anos, causado pelo T. serrulatus. Apesar de a intensidade das manifestações clínicas depender da quantidade de veneno inoculada, em geral os adultos apresentam quadro local benigno, enquanto crianças constituem o grupo mais suscetível ao envenenamento sistêmico grave. Mecanismo de ação: ativação dos canais de sódio, produzindo a despolarização de terminações nervosas pós-ganglionares, com liberação de acetilcolina e catecolaminas. Elas atuam no nervo periférico sensitivo, motor e autônomo. Quase metade dos acidentes ocorre nos dedos das mãos ou dos pés. Inicialmente: manifestações locais com dor de instalação imediata que dura até 24h + parestesia + eritema + sudorese localizada. Minutos até 2-3 horas depois: manifestações sistêmicas. Os adultos apresentam quadro clínico benigno, enquanto as crianças podem apresentar confusão mental, hipertensão ou hipotensão arterial, sialorreia, arritmias, EAP e choque. O ECG pode mostrar: bradicardia sinusal até supradesnivelamento de ST com presença de onda Q de necrose, as quais costumam desaparece em 3 dias. O raio x de tórax pode revelar aumento da área cardíaca e congestão pulmonar. Nos exames laboratoriais das formas graves: leucocitose com neutrofilia, elevação da amilase, da CK e da CK-MB, hiperglicemia, hipocalemia e hiponatremia. Dor, parestesias, eritema e sudorese local. Alterações locais + qualquer manifestação sistêmica: Agitação, sudorese, náuseas, vômitos, hipertensão arterial, taquicardia e taquipneia. Alterações locais + qualquer um dos seguintes: vômitos profusos, sialorreia, sudorese profusa, tremores, espasmos musculares, prostração, convulsão, coma, bradicardia, bradipneia, alterações de ECG, insuficiência cardíaca, edema agudo de pulmão e choque. O principal diagnóstico diferencial se dá com acidentes por aranha do gênero Phoneutria, que cursa com quadro local e sistêmico semelhante ao Escorpionismo. Na maioria dos casos autolimitados: lidocaína 2% ou analgésico sistêmico O tratamento específico: Soro Antiescorpiônio (SAEsc) ou Antiaracnídico (SAA) via IV, aos pacientes com formas moderadas 2-3 ampolas e graves 4-6 ampolas. O SAA é indicado quando há impossibilidade de diferenciação entre os acidentes com aranhas do gênero Phoneutria e escorpiões do gênero Tytys, ou em situação de falta do SAEsc. A bradicardia sinusal + baixo débito cardíaco + BAVT devem ser tratados com atropina 0,01 – 0,02 mg/kg. A hipertensão arterial persistente +/- edema pulmonar aguda devem ser tratados com nifedipina 0,5 mg/Kg sublingual. O gênero Loxosceles é encontrado em todo o país, principalmente na região Sul e, mais especificamente no Paraná, onde configura um importante problema de saúde pública. A ação do veneno deste aracnídeo ocorre pela ação da enzima ESFINGOMIELINASE sobre as membranas das células, principalmente, endotélio e hemácias, proporcionando um processo inflamatório intenso, com ativação do sistema complemento, da coagulação e das plaquetas. Sua evolução clínica pode ocorrer de forma cutânea (99%) OU de forma cutânea-visceral ou hemolítica (1%). Forma cutânea → A sintomatologia local se instala de forma lenta e progressiva com dor, edema endurado e eritema, acentuando-se nas primeiras 24-72h do evento. → Podem acompanhar o quadro local alterações do estado geral, como astenia, cefaleia, mialgia, rash, febre nas primeiras 24h, diarreia, visão turva, até obnubilação e coma. → Loxoscelismo evidente: apresenta lesão marcada por base eritematosa, com ou sem enduração, no centro área de isquemia, mesclada com áreas violáceas, com ou sem bolhas hemorrágicas (PLACA MORMÓREA), dor em queimação, evoluindo para necrose em alguns dias e levando à formação de uma escara que, detacada, deixa uma úlcera de difícil cicatrização. → Loxoscelismo provável: lesão sugestiva + rash. → Loxoscelismo possível: pode ser lesão incaracterística ou necrótica seguida de infecção, fazendo diagnóstico diferencial com outras doenças ulcerosas. → Loxoscelismo edematoso: nas picadas em face e genitália, em que temos um tecido frouxo, o edema se torna mais exuberante. Forma cutânea-visceral ou hemolítica: → Presença de hemólise intravascular, cursando com anemia, icterícia e hemoglobinúria (geralmente nas primeiras 36h após a picada), podendo até evoluir com CIVD. → A principal causa de morte é a insuficiência renal aguda, geralmente multifatorial. → Os exames complementares evidenciam: anemia, plaquetopenia, reticulocitose, hiperbilirrubinemia indireta, diminuição da haptoglobina, elevação de escórias nitrogenadas e coagulograma alterado. Como confirmar o quadro de Loxoscelismo? → Paciente sentiu a picada e viu a aranha no momento da picada, levou a ranha até o serviço de saúde, onde foi identificada, e apresenta sinais locais e/ou sistêmicos. → O paciente não viu a aranha e não sentiu a picada, mas apresenta, conforme já vimos: (1) lesão característica, (2) lesão sugestiva com exantema morbiliforme disseminado (rash) ou (3) lesão incarcaterística (quando deve ser acompanhado por 72h). → Acompanhando o quadro local o paciente tem um ou mais dos seguintes sintomas: cefaleia, náusea, vômito, tontura, exantema e febre nas primeiras 24h. SALox- Soro Antioxoscélico: sua eficácia diminui 24-36h do acidente, logo deve ser administrado o mais rápido possível em quadros moderados-graves. Soro Antiaracnídeo (SAA): pode ser outra opção de soro. Prednisona pode ser utilizada na dose de 40-60 mg/d para adultos ou 1mg/Kg/d para crianças, durante 5-10 dias, nas formas cutânea moderada e grave, apesar de não existirem estudos comprovando a eficácia. → Maior eficácia se aplica dentro de 48h. A dapsona 50-100 mg/d, VO, 10-14 dias, pode ser útil na tentativa de modular a resposta inflamatória, devendo-se ter cuidado com a possibilidade de surtos de metemoglobinemia, e o tratamento de suporte adequado é essencial para o controle do quadro. As manifestações locais são predominantes no quadro, sendo a dor de início imediato e intensidade variável, podendo estar acompanhada de edema, eritema, parestesias e sudorese local. Em aproximadamente 8% dos casos cursa com sintomas sistêmicos diversos. Os exames complementares podem mostrar leucocitose com neutrofilia, hiperglicemia, acidose metabólica e taquicardia sinusal. O tratamento é feito com Soroterapia Antiaracnídea (SAA), que está indicada em casos moderados e graves. A dor pode ser tratada com infiltração anestésica local ou troncular. Analgésicos sistêmicos como dipirona e meperidina também são usados. A imersão do local da picada em água morna ou o uso de compressas quentes parecem ser úteis no controle da dor. Somente as fêmeas são causadoras de acidentes, quando são comprimidas contra o corpo. O componente do veneno responsável pela sintomatologia é a alpha-latrotoxina, que atua tanto nas terminações nervosas sensitivas, gerando dor, quanto no sistema nervoso autônomo, promovendo descargas adrenérgicas e colinérgicas. A dor é de leve intensidade, com posterior sensação de queimação. As manifestações sistêmicas mais frequentes são motoras, com dor irradiada e contrações espasmódicas dos membros inferiores, contraturas musculares intermitentes, tremores, dor com rigidez abdominal (lembra o abdome agudo!) e fácies latrodectísmica. Outras manifestações, menos frequentes, incluem: opressão precordial, taquicardia e hipertensão arterial, náuseas, vômitos, sialorreia e priapismo. As alterações dos exames complementares são inespecíficas (leucocitose,linfopenia, hiperglicemia, hiperfosfatemia). O ECG podemostrar FA, BAV, alterações do segmento ST, aumento do intervalo QT. Tratamento: a. Benzodiazepínicos do tipo Diazepam 5-10 mg (crianças 1,- 2 mg) IV a cada 4 horas, se necessário. b. Gluconato de cálcio 10%: 10-20 ml (crianças 1mg/kg) IV, a cada 4 horas, se necessário. c. Clorpromazina: 25-50 mg (crianças 0,55 mg/Kg/dose) IM a cada 8 horas, se necessário.
Compartilhar