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POLITICAS DE SAÚDE BUCAL Atualmente nós sabemos da existência de uma política nitidamente voltada para saúde bucal. O programa do governo “Brasil sorridente” contempla milhões de brasileiros, devolvendo saúde e sorrisos, porém, nem sempre foi assim. Na década de 1980, por exemplo, a odontologia era marcada por um traço iatrogênico e mutilador, com as atividades centradas quase que exclusivamente no cirurgião dentista com pouca participação do pessoal auxiliar e sua orientação era fortemente ligada à tradição privatista da profissão, além de ser um serviço ineficaz e ineficiente, de baixa cobertura e alta complexidade, . Esse quadro foi consequência do modelo de atenção que predominava: Sistema incremental. Esse modelo teve sua primeira experiência em Minas Gerais no ano de 1952, antes mesmo da criação do ministério da saúde (1953). Objetivava o atendimento odontológico completo de determinada população escolar, mantendo-a sobre controle seguindo critérios e prioridades das idades, esse foi um modelo adotado de outros países. O sistema incremental foi um modelo de saúde bucal que predominou por quase meio século (1952 a aproximadamente 1988), praticamente se tornou sinônimo de odontologia escolar pois somente participavam crianças entre as idades de 6-14 anos matriculadas na rede pública de ensino de primeiro grau. Seguiu paralelamente a vários etapas importantes da saúde como a reforma sanitária (1970), INAMPS(1974), 8ª CNS(1986), SUDS(1987) e até mesmo do próprio SUS. Na época de sua implantação o sistema incremental foi considerado um sucesso, pois os níveis de “doenças” muito altos decresceram e isso foi atribuído à fase preventiva do modelo. Com o passar dos anos (décadas aliáis) o aumento populacional levou a um aumento das unidades escolares e os recursos tornaram-se insuficientes. Além desses aspectos o desenvolvimento científico tecnológico (conhecimentos sobre o flúor e a dinâmica da cárie não apenas como lesão, mas como doença) e princípios do SUS levaram o abandono do sistema incremental e vários outros programas foram substituindo as ações de saúde bucal. Nós sabemos que 1986 houve um grande marco histórico, foi o ano da realização da 8ª conferencia nacional de saúde (8ª CNS). A carta Magna era o documento que reunia as principais deliberações desta conferência, em síntese: saúde como direitos de todos e dever do estado; criação no sistema único de saúde; participação social nas decisões relativas á saúde; integralidade das ações de saúde com prioridade à medidas preventivas e gestão descentralizada do SUS com comando único em cada esfera do governo. Nesta mesma ocasião houve a 1ª conferência nacional de saúde bucal (1ªCNSB) que propôs claramente a inserção da saúde bucal no sistema único de saúde. Apesar dos debates, os governos que sucederam não colocaram em prática as deliberações das 1ª CNSB e desconsideraram as proposta do 1º Encontro nacional de administradores e técnicos de serviço público odontológico (ENATESPO), que propôs o direito e a necessidade dos estados e municípios planejarem ações de saúde bucal de acordo com suas respectivas realidades sociais e epidemiológica. Com todas essas pressões a ação do ministério da previdência e assistência social foi criar o programa nacional de controle de cárie dental com uso de selantes e flúor (PNCCSF), planejado e executado de forma vertical e centralizada. Um ano depois em 1989, o ministério da saúde definiu uma política nacional de saúde bucal, lançando o programa nacional de prevenção à cárie dental (PRECAD). Ambos os programas foram em absoluta contradição com o que ficara definido na constituição federal para a área de saúde bucal: unificação e descentralização do sistema. No ano de 1990 o então presidente da república Fernando Collor pôs fim aos dois programas nacionais (PNCCSF e PRECAD), definindo sua política nacional de saúde bucal no documento “Plano quinquenal de saúde 1990-1995: A saúde do Brasil novo.” Apesar da tentativa não houve formulação de estratégias, instrumento e recursos, nem definição de objetivos e finalidades. No documento mencionado apresentavam-se metas para o câncer de orofaringe, cárie e doença periodontal. As metas mencionavam a redução na porcentagem de diagnósticos tardios de câncer de 80 para 40%; diminuição de 30% da taxa de mortalidade por câncer e redução do número de crianças em idade escolar atingidas por manifestações de doença periodontal entre outras inconsistências. Quanto à cárie dentária propunha-se a diminuição do número de dentes atacados aos doze anos de 6,7 a 4,3 em média. O modelo adotado valorizava a quantidade de procedimentos executados, assim existiam conflitos entre o sistema publico e privado, superposição de ações, desperdícios e mau atendimento a população. Somava-se a isso a forma de financiamento que obedecia a logica do INAMPS, que realizava transferências de recursos por produção de serviços. Nesse contexto foi aprovada a portaria 184 (1991), um grande avanço, pois inseriu procedimentos coletivos (PC) de saúde bucal, criando condições para atividades de caráter educativo e de proteção específica (bochechos com flúor e escovação supervisionada com creme dental). Ainda no governo de Collor foi também lançada a proposta de substituição da fluoretação das águas de abastecimento público pela fluoretação do sal de cozinha, essa proposta sofreu forte oposição pelo conselho nacional de saúde e de especialistas da área, que afirmavam que a estratégia de fluoretação das aguas é um dos pilares básicos para prevenção da cárie. Collor sofreu impeachment em 1992 e o governo seguiu sob o comando de Itamar Franco que manteve com baixa prioridade a política de saúde bucal, isso representou um notável declínio das ações de saúde bucal. Em 1994, foi implantado o PSF e nesse meio tempo ao SUS, que considerava a saúde como um todo agora mais organizado e descentralizado, ainda não se inseria a política de saúde bucal. Isso ocorreu somente em 28 de dezembro do ano 2000, seis anos após a implantação das equipes multidisciplinares nas unidades saúde da família. Provavelmente devido à divulgação de dados alarmantes sobre a saúde bucal brasileira: a pesquisa nacional por amostra em domicílios (PNAD) indicou que 29,6 milhões de brasileiros (18,7%da população) nunca tinham ido ao dentista, essa percentagem aumentava em 32% na área rural; entre os brasileiros cujo rendimento familiar mensal era superior a 20 salários mínimos apenas 4,1 % nunca tinha ido ao dentista, essa percentagem alcançava 36,5% entre aquelas cujo rendimento familiar não ultrapassava 1 salário mínimo. Além destes dados alarmantes somou-se o manifesto dos profissionais através da ENATESPO. No final de 2002, já no governo do Luiz Inácio Lula da Silva veio a proposta de redefinição da PNSB entre outras prioridades estabelecidas pelo governo. O primeiro programa lançado foi “fome zero e boca cheia de dentes”, foi baseado em um documento que reunia o diagnóstico da situação de saúde bucal e identificava ações imediatas para os primeiros 100 dias. Além disso, constava nesse documento 23 itens que deveriam balizar a atuação do governo, entre as mais importantes: saúde bucal articulada com outras políticas de saúde publica; convocação da 3ª conferência nacional de saúde bucal; conclusão de levantamento epidemiológico iniciado ate o ano 2003; implantação do sistema de vigilância epidemiológica em saúde bucal; continuação da fluoretação das águas; viabilizar acesso amplo ao creme e escova dental; ampliação da implantação das equipes de saúde bucal; alterações curriculares nos cursos e áreas odontológicas etc... O programa Brasil sorridente é uma consolidação das diretrizes da politica nacional de saúde bucal que foram baseadas no levantamento epidemiológico, dados da 3ª CNSB e linhas de atuação imediatas já anteriormente mencionadas.A 3ªCNSB expressa grandes eixos temáticos: 1.educação e construção de cidaddania 2. controle social e gestão participativa 3. formação e trabalho em saúde bucal 4. financiamento e organização da atenção em saúde bucal O Brasil Sorridente constitui-se de uma série de medidas que têm como objetivo garantir as ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal dos brasileiros, entendendo que esta é fundamental para a saúde geral e qualidade de vida da população. Sua principal meta é a reorganização da prática e a qualificação das ações e serviços oferecidos, reunindo uma série de ações em saúde bucal voltada para os cidadãos de todas as idades, com ampliação do acesso ao tratamento odontológico gratuito aos brasileiros, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Além das equipes de saúde bucal, o Brasil sorridente conta com os Centros de Especialidades Odontológicas; Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias; unidades de atendimento móvel; fluoretação das aguas e doação de escova dental e dentifrício (creme dental) fluoretado. As equipes de saúde bucal realizam somente procedimentos básicos, para complementar a atenção, os centros de especialidades odontológicas começaram a ser instalados no ano de 2004, com objetivo de referência para unidades de saúde encarregadas de atenção odontológica básica. Abrange especialidades odontológicas como periodontia, endodontia, diagnóstico bucal, cirurgia oral menor e atende pacientes especiais. Os CEO’s podem ser modalidade I(até 3 cadeiras odontológicas), II(mais de 4 cadeiras odontológicas) e III (com no mínimo 7 cadeiras odontológicas). O primeiro CEO foi inaugurado em sobral, Ceará. Em 2008 segundo a coordenação nacional de saúde bucal do ministério da saúde em 2008 havia 675 CEO’s em funcionamento no país. As décadas de falta de cuidado com a saúde bucal deixaram grandes sequelas na população, como o excessivo número de pessoas edêntulas (desdentados). Diante dessa grande demanda pelo serviço reabilitador protético e na perspectiva da assistência integral em saúde bucal, o Ministério da Saúde passou a financiar a implantação de Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias (LRPD) que têm objetivo de zerar a necessidade de próteses totais (dentaduras) da população em quatro anos. Para ampliar a cobertura de saúde bucal em municípios com localidades de difícil acesso geográfico e populações menos favorecidas, o Ministério da Saúde dispõe Unidades Odontológicas Móveis. Reconhecendo as ações preventivas podemos apontar a estratégia de fluoretação das aguas de abastecimento público que já abrange 106 municípios em 6 estados. Somado a isso o Ministério da Saúde passou a fornecer kits contendo escova de dentes e creme dental com flúor para que os municípios possam realizar atividades preventivas, feitas pelas auxiliares e técnicas em Saúde Bucal das ESB, nas unidades básicas de saúde ou até mesmo em visitas domiciliares. Entre 2008 e 2009, foram enviados 72 milhões de kits de Saúde Bucal. A prevenção passou a ser uma prioridade no programa Brasil Sorridente, para garantir o processo de educação em higiene bucal, tem-se dado ênfase às fatores de risco comuns associados ás doenças crônicas. Na área odontológica é mais usualmente abordado o abono do uso do tabaco, diminuição do consumo do açúcar, melhoria nos níveis de higiene bucal, acesso aos produtos fluoretados, todas essas medidas juntas podem reduzir a prevalência de cárie, doença periodontal e câncer bucal. Outras, menos usuais também tem muita importância como uso de cinto de segurança em veículos que diminuem os traumas buco-maxilo-faciais, o de preservativos também tem enorme impacto na redução da AIDS. Cobertura e impacto No período de 2002 a 2008 o número de equipes de saúde bucal aumentou de 4.261 para 17.349 representando uma cobertura potencial de mais de 91 milhões de habitantes, apesar disso, esse valor correspondia a pouco mais que a metade das equipes saúde da família. Contudo é preciso estar atento às distorções praticas: em um programa de monitoramento realizado entre 2001 e 2002 foi verificado que 7,2% das equipes de saúde bucal habilitadas atendiam exclusivamente estudantes. A cobertura da população brasileira por equipes de saúde bucal é cinco vezes maior desde 2002, passando de 7% para os atuais 37% e a capacidade de oferecer procedimentos especializados de aumentou quatro vezes no mesmo período: de seis milhões atendimentos por ano há 10 anos para 25 milhões hoje. De acordo com o Ministério da Saúde, esses resultados se devem ao programa Brasil Sorridente, que ampliou os recursos anuais para a área em 13 vezes: dos R$ 58 milhões em 2002 para R$ 782,3 milhões em 2011. Hoje existem 21.394 Equipes de Saúde Bucal (ESB) no Brasil, que acompanham a população desde a prevenção até o tratamento clínico em 4.879 municípios (88% do total do País). Essa quantidade de ESB é 389% maior do que em 2002, quando havia 2.302 municípios cobertos. De acordo com o Ministério, a rede de 878 CEOs em 735 municípios ajudou a fazer com que 165,5 milhões de brasileiros tenham acesso a atendimento odontológico. Há dez anos, eram 147,9 milhões. Os 708 Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias têm capacidade anual de produção de 500 mil próteses. No Brasil, a fluoretação da água é obrigatória, de acordo com a Lei Federal nº 6.050 de 1974. Sabe-se que a fluoretação das águas de abastecimento público pode diminuir o índice de cárie dentária da população em até 50%, sendo que este método é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Entre 2003 e 2010, foram implantados 603 novos sistemas de fluoretação, abrangendo 458 Municípios em 11 Estados, beneficiando 5,2 milhões de pessoas. Atualmente muito mais pessoas têm acesso à saúde bucal: os números recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD mostraram que entre 1998 e 2003, o acesso ao atendimento odontológico cresceu 4% (5 milhões de pessoas). Entre 2003 e 2008, com as ações do Brasil Sorridente, o acesso cresceu três vezes mais, subindo 12% (17,5 milhões de pessoas). A constatação é feita pela pesquisa realizada em 2010 que mostra que 1,6 milhão de dentes deixaram de ser afetados pela cárie em crianças de 12 anos e 1,4 milhão de crianças não possuem nenhum dente cariado – um aumento de 30% em relação a 2003. Além disso, o número de crianças livres de cárie aos 12 anos cresceu de 31% para 44%. A saúde bucal do país esta em processo de melhora, mas a continuação desse processo dependerá da gestão, políticas públicas, educação e fortalecimento da sociedade civil.
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