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ZOOTECNIA GERAL Animal Science Gabrimar Araujo Martins. Professor da disciplina “Introdução a Zootecnia” (AF0733) – Universidade Federal do Ceara - UFC. Doutor em Ciência Animal – UFMG-MG FORTALEZA-CE 13 de maio de 2020 2 APRESENTAÇÃO Este trabalho foi elaborado com o objetivo de facilitar o acesso dos estudantes ao material didático para o acompanhamento e condução do curso de Introdução à Zootecnia (AF0733) do Curso de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará (45h). Além destas “Notas de Aula” a disciplina esta ancorada nos livros: O Ensino Superior Agrícola de CAPDEVILLE, G. O, (1991); História da Sociedade Brasileira de Zootecnia de autoria de PEIXOTO, A.M., (2001), que discorre sobre a fundação da Sociedade Brasileira de Zootecnia e o surgimento do Curso de Zootecnia no Brasil; COSTA, R. S. com o livro: Tópicos de zootecnia geral, 2000 e Elementos de Zootecnia Tropical de 1986 e Introdução à Zootecnia publicada em 1968, ambos de autoria de Octávio Domingues, que resumem os conhecimentos da origem e domesticação das espécies e descreve as diversas raças criadas no Brasil. Alem dos trabalhos de MADALENA, F.E. La utilizacion sostenible de hembras F1 em La produccion Del ganado lechero tropical. (1993) e MARTINS, G.A. e XIMENES, L.J.F. com o capítulo de Melhoramento genético de novilhas leiteiras no livro de Novilhas leiteiras, publicado por PEREIRA em 2010, que adicionam conhecimentos do Melhoramento Genético Animal. Essa versão deve ser ampliada e revisada, sempre que houver necessidade. 3 SUMÁRIO 1. CONCEITO 1.1. Conceitos de Oleson et. al. (2000); Gibson, et. al. (1999); Priorr, (2003). 1.2. Conceito de Domingues (1929). 1.3. Compilação do autor. 1.4. Compilação do autor. 2. ZOOTECNIA COMO ARTE E COMO CIÊNCIA 2.1. Zootecnia como arte 2.2. Zootecnia como ciência 3. DIVISÃO DA ZOOTECNIA 3.1. Zootecnia geral 3.2. Zootecnia especial 4. OBJETIVO 5. OBJETO 6. BREVE HISTÓRICO 7. A ESPÉCIE EM ZOOTECNIA 7.1. Evolução da espécie 7.1.1. Homologia 7.1.2. Analogia 7.2. Estudo dos fosseis 7.2.1. Importância do estudo dos fosseis para a evolução 7.3. Teorias evolutivas 7.3.1. Teoria de Lamark 7.3.2. Teoria de Darwin 7.4. Aspectos fundamentais das principais teorias evolutivas 7.5. Teoria sintética da evolução 7.5.1. Pontos básicos da teoria moderna 7.6. Sistemas de classificação zoológica das espécies domésticas 7.7. Classificação dos mamíferos 7.7.1. Ordem perissodátila 4 7.7.2. Ordem arthiodactila 7.7.3. Ordem digitígrada 7.8. Classificação dos não mamíferos 7.8.1. Classe dos peixes 7.8.2. Classe dos insetos 7.8.3. Classe das aves 7.8.4. Classe dos batráquios 8. DOMESTICAÇÃO DAS ESPÉCIES 8.1. Simbiose durável com o homem para fins econômicos 8.2. Quando surgiram os animais domésticos 8.3. Importância do animal doméstico 8.4. Domesticidade e domesticação 8.5. Fases da domesticação 8.5.1. Primária 8.5.2. Secundária 8.6. Variação no grau de domesticidade 8.7. Como se processou a domesticação 8.8. Atributos necessários à domesticação 8.9. Fatores que influenciaram a domesticação 8.10. Efeitos da domesticação e como se manifestam 8.11. Causas das transformações 9. A DOMESTICAÇÃO E ORIGEM DAS ESPÉCIES 9.1. O cão doméstico 9.2. Caprinos e ovinos 9.3. Bovinos 9.4. Suínos 9.5. Equinos 9.6. Aves 5 10. UTILIZAÇÃO DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS 10.1. Atributos associados à função e aptidão 10.2. Classificação das utilidades 11. SISTEMA DE PRODUÇÃO 11.1. Conceito 11.2. Fatores que afetam o sistema de produção 11.3. Classificação dos sistemas de produção 12. ASPECTOS PRODUTIVOS ENDÓCRINOS E FISIOLÓGICOS DA ADAPTAÇÃO DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS AO CLIMA TROPICAL 12.1. Zona de conforto térmico 12.2. Adaptabilidade 12.3. Sistema de termorregulação 12.4. Síndrome da adaptação geral 12.5. Atributos anatômofisiológicos de bovinos 13. ZOOTECNIA DE EXTERIOR OU EXOGNÓSIA 13.1. Divisão do estudo do exterior dos animais 13.2. Conhecimentos básicos da exognósia 13.3. Regiões do corpo ou bases anatômicas 14. AVALIAÇÃO DA IDADE PELA DENTIÇÃO 14.1. Classificação da dentição dos eqüinos 14.2. Fórmula dentária 14.3. Avaliação da idade pela observação das trocas e desgaste dos incisivos 15. RAÇAS DE IMPORTÂNCIA ECONÔMICA PARA A ZOOTECNIA 15.1. Conceito 15.2. Raças de equinos 15.3. Raças de bovinos 15.4. Raças de ovinos 15.5. Raças de caprinos 15.6. Raças de bubalinos 6 15.7. Raças de suínos 15.8. Raças de aves 16. MELHORAMENTO GENÉTICO ANIMAL 16.1. Conceitos 16.2. Modo de ação dos genes 16.3. Parâmetros genéticos 16.4. Recursos genéticos para produção de leite 16.5. Alternativas para a utilização dos recursos genéticos 17. REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 7 CONCEITO DE ZOOTECNIA 1.1. Modernamente podemos definir ou conceituar a Zootecnia como a ciência responsável pela produção animal de forma lucrativa e sustentável, em que a sustentabilidade corresponde a um conceito baseado em uma filosofia holística, com uma serie de princípios, valores e praticas especificas, que envolvem impactos econômicos, ecológicos e sociais em longo prazo (OLESON et al. 2000, GIBSON et al. 1999, PRIORR, 2003) 1.2. Zootecnia é a ciência aplicada, que estuda e aperfeiçoa os meios de promover a adaptação econômica do animal ao ambiente criatório e deste à aquele. (DOMINGUES, O., 1929); 1.3. Do ponto de vista bioeconômico, a ênfase é para as características biológicas de importância econômica com o objetivo de maximizar o lucro através da utilização racional dos recursos disponíveis como genótipo, terra, capital e trabalho, obedecendo ao princípio da sustentabilidade. 1.4. É a ciência que estuda os animais domésticos e silvestres de importância zootécnica, com objetivos econômicos e sociais, sendo uma ciência aplicada que trata da criação lucrativa e sustentável dos animais adaptando ao ambiente criatório e destes à aquele, como descrito por Octávio Domingues. Administrador Realce 8 2. Zootecnia como arte e como ciência 2.1. Zootecnia como Arte A arte de criar animais constitui uma das primeiras realizações do homem primitivo quando deixou de ser nômade (predominantemente extrativista, caçador e pescador) para criar animais domésticos (pastor) e cultivar vegetais (agricultor). Inicialmente os animais foram criados para satisfazer o desejo de totemismo (Zoolatria), seguido da produção de alimentos, força de trabalho e proteção. A arte de criar para satisfazer as primeiras necessidades da humanidade, não tinha a função de produzir renda, mas para suprir a necessidade de alimentação, trabalho e transporte. 2.2. Zootecnia como Ciência Criar animais domésticos data da idade da pedra lascada, mas a distinção formal entre produzir vegetais e animais foi feita por Adrien Etienne Pierre intitulado “Conde de Gasparin” que publicou o livro “Cours d´Agriculture” (1844), no qual fazia a distinção formal entre a agricultura relacionada ao cultivo das plantas e a Zootecnia que tinha por objetivo a criação dos animais domésticos. O vocábulo Zootecnia vem do grego, sendo que o termo ZOON (ζωον), significa animal e TECHNÊ (τέχνη), a arte ou técnica de criar os animais. O termo generalizou-se em povos de língua neo-latina e na Alemanha, porém na Inglaterra e EUA ficou ignorada. Em 1907 a Associação das Escolas de Agricultura dos Estados Unidos em sua “Cyclopedia of American Agriculture” que estabelecia a exploração Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce 9 do gado no Curso de Agricultura, adotou o termo “Zootechny”, relacionado a criação dos animais domésticos, atualmente “Animal Science”. 3. DIVISÃO DA ZOOTECNIA 3.1. Zootecnia Geral Considera os animaisdomésticos como seres vivos que evoluíram e apresentam características de natureza étnica e zootécnica, influenciando-se por fatores ambientais de ordem natural ou artificial e que se reproduzem sujeitos às leis da hereditariedade, capazes de sofrer melhoramento genético. 3.2. Zootecnia Especial Estuda os processos e sistemas de criação variáveis com a finalidade da produção e destino dos produtos, diferenciando as qualidades dos animais que se deseja multiplicar e primando pelas possibilidades do meio criatório ser adaptado aos animais e estes ao meio, para a otimização de sistemas bio-econômicos de criação, que possibilitem a obtenção de lucro. A Zootecnia e uma ciência aplicada que precisa da contribuição de ciências puras e seus ramos, como a Biologia, Botânica, Genética, Física, Matemática, Química, Bioquímica, Zoologia, Estatística e Informática. E das ciências aplicadas como a Bioclimatologia, Etologia, Nutrição de ruminantes, Nutrição de monogástricos, Forragicultura, Higiene e Profilaxia animal, Economia e Administração Rural, Engenharia de Alimentos, Bioclimatologia, Bovinocultura (bovinos), Equideocultura (equinos e asininos), Ovinocultura (ovinos), Caprinocultura (caprinos), Suinocultura (suínos), Avicultura (aves de postura e corte), Bubalinocultura (búfalos), Apicultura (abelhas com Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce 10 ferrão), Meliponicultura (abelhas sem ferrão), Strutiocultura (avestruz), Carcinocultura (camarão), Cunicultura (coelhos), Psicultura (peixes), Ranicultura (rãs), Sericicultura (bicho da seda), Helicicultura (Scargot). 4. OBJETIVO Estudar o animal doméstico visando o perfeito conhecimento deste e dos demais fatores envolvidos no seu processo produtivo, sempre visando alto grau de especialização com animais adaptados. 5. OBJETO DA ZOOTECNIA O animal doméstico e animais silvestres de importância econômica para a Zootecnia. 6. BREVE HISITORICO A arte da produção agrícola é atribuída aos povos que habitavam o oriente médio, particularmente as regiões montanhosas e semiáridas próximas aos vales férteis da mesopotâmia e centros importantes da primitiva civilização. O homem começou a colher grãos a aproximadamente 8.000 anos a.C. sendo que a pouco mais de 7.000 anos a.C., cultivava esses grãos e possuía animais domésticos (HEISER JR., 1977). Criar animais domésticos data da idade da pedra lascada, mas a distinção formal entre produzir vegetais e animais foi feita por Adrien Etienne Pierre intitulado “Conde de Gasparin” que publicou o livro “Cours d´Agriculture” (1844), no qual fazia a distinção formal entre a agricultura relacionada ao cultivo das plantas e a Zootecnia que tinha por objetivo a criação dos animais domésticos. Em 1848 foi instalado em Paris na França o Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce 11 “Instituto Agronômico de Versailles” (IAV) em que foi Adotada a distinção proposta pelo “Conde Gasparin”, para o ensino teórico da exploração dos animais domésticos, sendo que foi estabelecida a Cátedra de Zootecnia e assim, a Zootecnia como ciência surgiu em 1849 com a tese apresentada pelo naturalista Émile Baudement, em concurso para a Cátedra de Zootecnia do IAV. Emile Baudement em sua tese estabeleceu o princípio teórico que consiste em considerar o animal doméstico como uma “Máquina viva transformadora e valorizadora dos alimentos”, fundamento de todos os conhecimentos zootécnicos. No Brasil em 1907, Nicolau Athanassof graduado em Gembloux na Belgica chegou ao Brasil, para integrar o grupo de professores da Escola Agrícola Luiz de Queiroz em Piracicaba-SP e em 1929, o Profº Octavio Domingues conceituou a Zootecnia, como a “Ciência aplicada que estuda e aperfeiçoa os meios de promover a adaptação econômica do animal ao ambiente criatório e deste ambiente ao animal”, sendo a Zootecnia ensinada como disciplina especial nos cursos de agronomia até 1966. Em 1966 foi criado na PUC de Uruguaiana-RS, o primeiro curso de graduação em Zootecnia, sendo a primeira aula ministrada em 13 de maio de 1966, razão pela qual se comemora o dia do Zootecnista. A profissão foi regulamentada em 04 de dezembro de 1968 pela lei federal nº. 5.550. Quem se forma no curso de zootecnia recebe o título acadêmico-profissional de Zootecnista. Segundo esta lei pode exercer a Zootecnia, também, o graduado em Medicina Veterinária e o graduado em Agronomia, conforme transcrito a seguir: Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce 12 Art. 2º Só é permitido o exercício da profissão de Zootecnista: a) ao portador de diploma expedido por escola de zootecnia oficial ou reconhecido e registrado na Diretoria do Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura; b) ao profissional diplomado no estrangeiro, que haja revalidado e registrado seu diploma no Brasil, na forma da legislação em vigor; c) ao agrônomo e ao veterinário diplomados na forma da lei. O segundo Curso de Zootecnia autorizado no Brasil foi o da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em 1969, seguido do Curso de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria – RS em 1970 e da Universidade Federal Rural de Pernambuco, também em 1970. No estado do Ceara o primeiro Curso de Zootecnia autorizado foi o da Universidade Estadual Vale do Acaraú em 1995, seguido do Curso de Zootecnia da Universidade Federal do Ceara em 2000. O ensino de graduação em Zootecnia no Brasil contava ate 1988, dois anos antes da criação do Curso de Zootecnia da UFC, com 31 cursos, sendo cinco na região sul, quinze na sudeste, quatro na centro-oeste e sete na região Nordeste. A Estimativa projeta para o final de 1988, a graduação de 8.456 profissionais. 13 7. A ESPÉCIE EM ZOOTECNIA “São considerados da mesma espécie os indivíduos que apresentam grandes semelhanças morfológicas e fisiológicas e são capazes de acasalar-se ou cruzar-se naturalmente entre si, gerando descendentes férteis”. Ex.: Felis catus (gato doméstico). O primeiro termo (Felis) trata-se do gênero e o segundo (catus) do nome da espécie na classificação de Lineu. Outros exemplos do mesmo gênero, mas de espécies diferentes são: Felis silvestris (gato selvagem), Felis pardalis (jaguatirica). Nos exemplos citados o gênero é o mesmo, mas de espécies diferentes. Logo, por definição os acasalamentos diferenciariam as espécies, ou por não acontecerem ou por não produzirem descendentes férteis. 7.1. Evolução das espécies Evolução é o processo através do qual ocorrem as mudanças ou transformações nos seres vivos ao longo do tempo, dando origem as espécies novas. Este processo faz com que as populações de organismos mudem ao longo do tempo a partir das características hereditárias decorrentes da expressão dos genes que são passados aos descendentes durante a reprodução. O estudo da evolução é baseado em evidências cuja base é o estudo comparativo dos organismos a partir de estruturas preservadas do tecido ósseo ou molecular. Chamamos o objeto de estudo às evidências evolutivas em que se aplicam os estudos de anatomia comparada, embriologia comparada, bioquímica e paleontologia. Sendo a embriologia comparada a responsável pela classificação das espécies em homologa e análogas. Administrador Realce Administrador Realce 14 7.1.1. Homologia Podemos dizer que uma espécie é homologaquando as estruturas de organismos diferentes possuem a mesma origem embriológica, sendo que essas estruturas podem ou não ter a mesma função. As estruturas homólogas sugerem ancestralidade comum. O apêndice vermiforme (apêndice cecal) no homem é considerado apenas um órgão vestigial e sem função ficando localizado no ponto onde o intestino delgado se liga ao intestino grosso. Já nos mamíferos roedores, o ceco é uma estrutura bem desenvolvida, na qual a parede celular dos alimentos é parcialmente digerida, sendo a celulose degradada por bactérias, protozoários e fungos especializados. Em alguns animais o ceco é uma bolsa contínua e em outros, como o coelho, apresenta extremidade final mais estreita, denominada apêndice a exemplo do apêndice vermiforme humano. Mas essa estrutura nos diferentes animais citados possui a mesma origem embrionária. Podemos acrescentar como exemplo a asa do morcego e a asa da ave que possuem a mesma origem embriológica e mesma função (similaridade funcional). E o braço do homem, a pata do cavalo e a nadadeira da baleia são estruturas de mesma origem embrionária, mas não possuem a mesma função. 7.1.2. Analogia Nesse caso existe similaridade funcional, mas as estruturas dos diferentes organismos são de origem embrionária diferente, sendo considerado resultado da evolução convergente. Como exemplo pode citar, as asas dos insetos e das aves que são estruturas diferentes quanto à origem embriológica, mas apresentam a mesma função (voar). Administrador Realce Administrador Realce 15 7.2. Estudo dos fosseis Qualquer indício da presença de organismos que viveram em tempos remotos da Terra, incluindo as partes duras do corpo (mais conservadas) e em alguns casos a parte mole do corpo também pode estar preservada, no todo ou em parte e pode ser considerado fóssil. Ex.: Fósseis congelados do mamute (Sibéria do norte) e os fósseis de insetos encontrados em âmbar (resina dos pinheiros). Também são consideradas fósseis impressões deixadas por organismos que viveram em eras passadas como as pegadas de animais extintos e impressões de folhas, de penas de aves extintas e da superfície da pele dos dinossauros. 7.2.1. Importância do estudo dos fósseis para a evolução Conhecer organismos que viveram na Terra em tempos remotos sob condições ambientais distintas das atuais é fundamental para fornecer indícios de parentesco com as espécies atuais. 7.3. Teorias evolutivas 7.3.1. Teoria de Lamarck (1744-1829) – naturalista Francês Jean Baptiste Lamarck foi o primeiro cientista a propor uma teoria sistemática da evolução, publicada em 1809 (Filosofia zoológica). Explicou o principio evolutivo baseado em duas Leis fundamentais Primeiro apresentou a Lei do Uso ou Desuso (1ª Lei) e segundo a Lei da Transmissão dos Caracteres Adquiridos (2ª Lei). Para explicar suas teorias utilizou como exemplo, as aves aquáticas pernaltas, justificando a característica pelo esforço para esticar as pernas evitando Administrador Realce Administrador Realce 16 que seu corpo e suas penas fossem molhados durante locomoção na água e que as gerações futuras herdariam essa característica adquirida. Essa teoria foi rejeitada e atualmente graças aos resultados dos experimentos de Gregor Mendel publicados em 1865, sabemos que a transmissão de características depende de unidades hereditárias posteriormente batizadas de genes. Mas o código genético e o DNA só foram descobertos em 1953 por Watson e Crick. Logo as características adquiridas não são hereditárias, embora a epigenética explique a influencia do meio na herança através de dois processos, que são a metilação do DNA e acetonização dos estomas. 7.3.2. Teoria de Darwin (1809-1882) – naturalista Inglês Propôs a teoria da seleção natural, mais aceita que, a base da evolução esta na vantagem seletiva, em que, os organismos mais adaptados possuem maior chance de sobrevivência e, portanto podem deixar mais descendentes. Na mesma espécie os indivíduos possuem variações nos caracteres e mesmo que todo organismo tenham vantagem reprodutiva (muitos descendentes), apenas alguns chegam à idade adulta. Portanto a “grande luta" pela sobrevivência mantém o número de indivíduos de uma espécie, mais ou menos constante, ao longo das gerações. Desta forma, organismos com variações favoráveis as condições do ambiente tem maiores chances de sobreviver e deixar descendentes (transmissão de caracteres). Sabe-se também que a seleção natural, ao longo das gerações, mantém ou melhora a adaptação dos indivíduos ao meio, mantendo a vantagem seletiva, segundo as informações de Charles Darvin publicadas em 1859 no livro, “A Origem das Espécies” e posteriormente, na publicação; “A Descendência do Homem”. Após debates e controversias, seus conceitos foram considerados Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce 17 fundamentalmente corretos e sua obra foi complementada e corrigida pelos evolucionistas do século XX (teoria moderna da evolução). Wallace e Weismann corroboraram com as ideias de Darwin, sendo que Weismann, Weldon, Pearson e outros contribuíram para o Neodarwinismo. 7.4. Aspectos fundamentais das principais teorias evolutivas de Lamark e Darwin e Wallace. Na tabela 1, foram destacadas algumas características inerentes à teoria da evolução de Lamark e Darwin-Wallace. Tabela 1. Características diferenciais entre as teorias evolutivas do século XIX. AUTOR TEORIA LAMARK Lei do uso e desuso Lei do uso e desuso, facilmente refutada pelo biólogo alemão, August Weismann (Século XIX); Geração espontânea em que os organismos mais simples surgiam de matérias não vivas DARWIN-WALLACE Seleção natural em que o meio ambiente tem papel fundamental na frequencia dos genes herdados Seleção natural e adaptação competitiva Herança influenciada pelas mutações Interação genótipo-ambiente como fator da seleção adaptativa 7.5. Teoria sintética da evolução (neodarwinismo) Administrador Realce 18 Vários pesquisadores usaram a base da teoria de Darwin (seleção natural), mais os conceitos de hereditariedade de Mendel (1865), para explicar e corroborar com os escritos de Charles Darvin. O conceito de população foi baseado no fato de um grupo de indivíduos de uma mesma espécie, ocorrer em uma mesma área geográfica e em um mesmo intervalo de tempo deixando descendentes férteis e semelhantes na forma. Já para definir a espécie partiu-se de populações naturais, real ou potencialmente intercruzantes e reprodutivamente isolados de outros grupos de organismos, mantendo a capacidade de reprodução dentro e isolamento reprodutivo entre espécies. Sendo baseada em quatro processos básicos da evolução, como a mutação, recombinação gênica, seleção natural e isolamento reprodutivo. Podemos atribuir à mutação, recombinação gênica e a seleção natural, a variabilidade genética, responsável diferenças entre espécies, mantidas por isolamento reprodutivo e características adaptativas diferenciais. 7.5.1. Pontos básicos da teoria moderna a) As variações de uma espécie dependem de mutações; b) As mutações ocorrem ao acaso; c) A luta pela vida dá-se entre os indivíduos e o meio ambiente; d) Da luta pela vida, resulta a seleção natural dos mais aptos ou adaptados às condições do meio; e) O isolamento geográfico ou sexual impede que as características do tipo novo misturem-se com as características do tipo primitivo; f) A diversidade de fenótipos na população conduz a variabilidade genética; g) A evolução decorre da transformação estatística das populações ao longo do tempo. 19 Como exposto, a seleção natural segundo o neodarvinismo teria sido responsável pela evolução das espécies, com base em mutações genéticas. Mas a partir do estudo do genoma humano em que a suposição era de encontrar mais de 100 mil genes responsáveis pelatransmissão da característica e que na verdade foram encontrados bem menos, ou seja, aproximadamente 30 mil genes foram elucidados diferentes cominhos associados à herança nuclear, mitocondrial e modificações na cromatina, hoje conhecido como epigenética e que podem contribuir para a elucidação de alguns pontos da teoria da evolução, inclusive adicionar mutações epigenéticas, às mutações genéticas, como causas da evolução. A epigenética é definida como as modificações no genoma durante a divisão celular, independente da sequência do DNA herdado (silenciar genes ativos e ativar genes inativos) podendo ser entendidos como mutações epigenéticas e podem ser herdadas, sendo o termo epigenética cunhado pelo biólogo C. H. Waddington em 1942. Modificações no DNA ocorrem a partir da acessibilidade da cromatina pela regulação transcricional devido ao rearranjo de nucleossomos. Os princípios básicos dos mecanismos epigenéticos são alterações nos histonas e metilação do DNA. Ambos produzem modificações na cromatina, associadas ao rearranjo nos nucleossomos. Os nucleossomos e as histonas são estruturas associadas ao DNA, com a função de organização da cromatina, intimamente associado à expressão dos genes. A cromatina aberta permite a expressão dos genes e condensada a inativação dos mesmos. Eventos epigenéticos, como a desacetilação das histonas e metilação do DNA são responsáveis pela condensação da cromatina. O DNA nuclear encontra-se associado às histonas que formam os nucleossomos ou estrutura básica de condensação do DNA. O nucleossomo é a unidade básica da cromatina composto por duas unidades básicas com quatro proteínas histonas cada, formando um octâmero. A acetilação de histonas e 20 demetilação do DNA (DNA hipometilado) mantém a cromatina aberta e a desacetilização de histonas e metilação do DNA (DNA hipermetilado) mantém a cromatina condensada (MULLER et. al., 2008, FRANCIS, 2011). Alem desses eventos, os RNAs não codificadores podem interferir na transcrição dos genes. 7.6. Sistemas de classificação zoológica das espécies domésticas Foi estabelecido desde 1758 o sistema de classificação binomial do Sueco Carollus Linnaeus (1707 a 1778), em que o gênero deve ser grafado em letra latina maiúscula e a espécie em letra latina minúscula, sendo esta sempre escrita completa (gênero e espécie) e o gênero abreviado quando se refere a espécies diferentes dentro deste (Canis familiares e C. lúpus). Darwin em 1859 propôs a classificação com base em relacionamento evolutivo, alem dos sistemas de Henning (1966), conhecido como Sistema filogenético ou Cladista. WILL Hennig em 1966, introduziu um método objetivo e conectado com a teoria evolutiva de Charles Darwin. A filogenética hennigiana visa a apresentação de uma sistema classificatório em que apenas grupos monofiléticos eram naturais, pelo fato de seguir em direção a um ancestral comum. Um grupo monofilético é definido como a reunião de todos os descendentes do ancestral comum com este incluso. Hennig acreditava seguir a mesma filosofia do ramo da “Teoria Sintética da Evolução”, conhecido como Taxonomia Clássica Evolutiva de Mayr e Simpson. A teoria sistemática de Hennig foi entendida posteriormente como Cladista e era baseada em relações de parentesco entre espécies, avaliada pela similaridade de caracteres especiais. Esses caracteres considerados homólogos entre grupos taxonimicos, mas morfologicamente divergentes ou não, de geração para geração. São exemplos de estruturas homologas, os membros anteriores dos cavalos, o braço do homem e a asa das aves (SANTOS, 2004). 21 O Sistema Filogenético (Cladista), cuja identificação das espécies e baseada na identificação do estado primitivo ou ancestral (Plesiomorficos) e derivado (Apomorficos), tendo como objetivo reconstruir a genealogia dos membros de um determinado grupo taxonômico. Serão listados a seguir os conceitos mais frequentes em Cladista. 1. Unidade Evolutiva (EU) – unidade base em Cladista. 2. Cladista – identificação dos estados Plesimorficos (primitivos) e Apomorfos (derivados). 3. Plesimorfia – estado primitivo de um dado Clado ou Taxa. 4. Apomorfia – estado derivado de um dado caractere. 5. Sinapomorfia – Apomorfia compartilhada por dois ou mais Taxa de um mesmo ancestral. 6. Simplesiomorfia – Plesimorfia compartilhado por dois ou mais Taxa. 7. Autapomorfia – caracteres únicos a um Taxa. 8. Clado ou grupo monofiletico – ramo da arvore filigenetica correspondente a uma Taxa que compartilham Sinapomorfias derivadas de um ancestral comum. 9. Grupo parafiletico – todos os Taxa do grupo apresentam o mesmo ancestral comum, mas o ramo não inclui somente os descendentes desse ancestral. 10. Grupo polifilético – Taxa de diversos locais da arvore. 11. Grupo irmão – dois Taxa com o mesmo ancestral comum. 12. “Outgroup” ou grupo externo – incluso na analise filogenética para estabelecer o estado primitivo. 7.7. Classificação dos mamíferos Todos os mamíferos estão inclusos na Classe Mamalia e surgiram há 225 milhões de anos (antes das aves) a partir de repteis primitivos endotérmicos. A classificação de Linnaeu organizou as espécies em Reino, Filo, Grupo, Classe, ordem, família, gênero e espécie. A seguir está apresentado um exemplo de classificação dos mamíferos de importância econômica: Reino Animal; Filo Chordata; Grupo Craniata; CLASSE 22 MAMMALIA; Sub-classe Theria (Infraclasse: 1. Ornithodelphia (monotremados); 2. Methatheria (marsupiais); 3. Eutheria (mamíferos placentários). A infraclasse Eutheria se divide em 19 ordens sendo constituída pelos mamíferos placentários (95% dos mamíferos) que possuem sistema digestivo semelhante, mas com algumas diferenças produzidas pelo habito alimentar. Boca – Faringe – Esôfago – Estômago – Intestino delgado – Intestino grosso – Anus. Como exemplo de diferenciação do estômago pode ser citado os ruminantes com estômago dividido em quatro câmaras: Rumem (pança), Reticulo (barrete), Omaso (folhoso) e o Abomaso (coagulador ou estômago verdadeiro). No Rumem esta presente bactérias, protozoários e fungos que produzem a enzima celulase responsável pela digestão da massa alimentar, que na sequencia passa para o reticulo no qual os micro-organismos continuam a digestão. A partir daí o bolo é regurgitado para uma segunda mastigação e digestão passando em seguida para o omaso, onde ocorre a absorção do excesso de água da massa alimentar, seguindo para o abomaso para a digestão enzimática do bolo e dos micro-organismos. Entre os animais Ungulados (animais que possuem casco) podemos citar algumas ordens de maior importância para a Zootecnia. 7.7.1. Ordem Parisseodactila – dedos impares. 7.7.1.1. Familia Equidae: Genero Equus. 1. Espécie Equus caballus (Cavalos); 2. Especie E. asinus (Jumentos); 3. E. Zebra. 7.7.1.2. Familia Rhinocerotidae: Rhinoceros (Rinocerante de Java); Dicerorhinos (Rinocerante de Sumatra); Cerototherium (Rinoceronte branco); Diceros (Rinocerante negro). 23 7.7.1.3. Familia Tapiridae: Tapirus terrestres (Anta); Tapirus pinchaque (Tapir da montanha); Tapirus indicus (Tapir amarelo); Tapirus bairdi (Centro americano). 7.7.2. Ordem Arthiodactila – dedos pares. 7.7.2.1. Subordem Suína. 7.7.2.1.1. Família Suidae; Sus scrofa domesticus (porco); Sus scrofa (javali); 7.7. 2.1.2. Tayassuidae; 7.7.2.1.3. Hippopotamidae (Hipopótamo). 7.7.2.2. Subordem Ruminantia (são os ruminantes verdadeiros e possui seis famílias). 7.7.2.2.1. Família Tragulidae, composta por três gêneros e quatro espécies, conhecida como servo rato ou pequeno cervo asiático e africano; 7.7.2.2.2. Família Moshidae (Cervo Almiscarado (Moshus cupreus), nativo do Afeganistão, Índia e Paquistão, em risco de extinção devido à glândula produtora de odor forte, utilizado na indústria de perfume (Almíscar)); 7.7.2.2.3. Família Giraffidae (girafas); 7.7.2.2.4. FamíliaCervídea; (Rangifer tarandus (Rena). 2.2.5. Família Antilocapridae (Subfamília Ovídio (Ovis Áries – Ovinos; Capra hircus – cabra)); 7.7.2.2.6. Família Bovidae (Subfamília Bovideos - Bubalus bubalis (búfalo); Bos taurus taurus (boi europeu); Bos taurus indicus (boi indiano ou Zebu); Bison bonasus (bisão europeu); Bison americanus (bisão americano). A subordem Ruminantia se caracteriza por seus animais apresentarem estomago com quatro câmaras, como descrito anteriormente, uma composta por rumem funcional e outra pelo reticulo responsáveis pela digestão microbiana e duas outras como o omaso onde é absorvida a maior parte da água da massa alimentar e o abomaso responsável pela digestão enzimática. Os ruminantes verdadeiros regurgitam o alimento para uma segunda mastigação e ação microbiana e enzimática facilitando o fracionamento dos alimentos por 24 não possuírem incisivos e caninos superiores, sendo estes semelhantes na forma aos incisivos, compondo uma linha dentaria uniforme. 7.7.2.3. Subordem Tylopoda (falsos ruminantes ou camelideos. 7.7.2.3.1. família Camelidae; 7.7.2.3.1.1 Subfamília camelideos - Três gêneros e seis espécies: Camellus bactrianos (duas corcovas - Camelo); Camellus dromedarius (uma corcova – Dromedário); Lama glama (Lhama); Lama guanicoe (Huanaco); Lama pacos (Alpaca); Vicugna vicugna (Vicunha). A Subordem Tylopoda se diferencia da Ruminantia por serem falsos ruminantes em que o estomago se divide em três câmaras: 1. Câmara de fermentação com epitélio estratificado escamoso (Ph 6,4 a 7,0 e capacidade de 83% do volume total); 2. Câmara de fermentação com epitélio glandular (Ph 6,4 a 7,0 e tem capacidade de 6% do volume total); 3. Câmara de digestão química com epitélio glandular e secreção enzimática (HCL), com Ph 3,0 e tem capacidade de 11% do volume total. Estudos paleontológicos documentam que os Tylopodas se originaram e evoluíram na America do Norte e desapareceram há 10.000 anos, no final da era Eoceno ate o final do Pleistoceno. Do médio Plioceno ate Pleistoceno, na Europa; No fim do Plioceno a era recente, no norte da Africa; do médio Plioceno ate época recente, na Asia; do final do Pleistoceno ate recentemente na America do Sul (PACHALY, 2001). 7.7.3. Ordem Digitígrada. 7.7.3.1. Família roedores: Subfamília leporídeos (Oryctolagus cuniculus – coelho); Sub- familia cavlideos (Cavea cobaya – cabaia) 7.7.3.2. Família carnívora: Subfamília canídeos (Canis familiares – cão domestico; Vulpes orgentatus (raposa prateada); Sub-familia felídeos (Felis domesticus – gato). 25 7.8. Classificação dos animais não mamíferos de importância econômica. 7.8.1. Classe dos Peixes - Ordem Teleóstea: Família caprinideos (Cyprinus carpio – carpa); Família ciclideos (Tilapia melanopleura – tilápia); Família salmonelideos (Salmo lancustris – truta). 7.8.2. Casse dos Insetos – Ordem lepidóptera: Família bombicideos; Ordem himenóptera; Ordem Apídeos: Apis melífera (abelha comum); Apis melífera linguística (abelha italiana); Apis melífera adonsoni (abelha africana). 7.8.3. Classe das Aves - Ordem anseriforme: Família Anatideos (Ciprinus ciprinus – cisne; Cairina moschata – pato; Anas boscha – marreco; Anas anser domesticus – ganso); Ordem galiforme: Família faslanideos (Gallus gallus domesticus – galinha; Phasianus colchios – faisão; Pavo chistratus – pavão; Numideo galeata – galinha D’angola (capote); Cotunix cotunix – codorna); Família penelopideos (Meleagris galopavo – peru); Ordem Columbiforme: Família columbídeos (Columbia domesticus – pombo); Ordem reiformes: Família strutionideos (Strutio camelus – avestruz); Familia reideos (Rhea americana – Ema). 7.8.4. Classe dos Batráquios - Ordem anura: De importância econômica para a Zootecnia podemos citar a espécie, Rana cotesbiana genericamente conhecida como rã touro gigante e a Rana exculenta ou rã domestica. 26 8. A DOMESTICAÇÃO DAS ESPÉCIES A domesticação consiste no ato de tornar doméstico animais selvagens. Price (1984) definiu domesticação como um processo de adaptação ao cativeiro combinado com mudanças genéticas ao longo de gerações. A origem do termo doméstico é o vocábulo latim, “domus” que significa “casa” e corresponde ao ato de uma espécie animal sair do estado selvagem para passar a viver com o homem e depender dele em estado de domesticidade (instinto de mansidão, reprodução em cativeiro e sociabilidade hereditária). Podemos justificar a domesticação através do desejo do homem primitivo, de mudar de nômade (7.000 a.c) para gregário e com isso satisfazer novas necessidades básicas. Desta forma podemos observar o meio e o fim do processo de domesticação, por que o início da domesticação começou com o cão bem antes da domesticação das plantas e do homem deixar de ser nômade, sendo todo o processo de domesticação da grande maioria dos animais que conhecemos finalizado há aproximadamente 6.000 anos antes de cristo (a.c.). 8.1. Simbiose durável com o homem para fins econômicos Domínio do homem (geração), e mansidão hereditária fez os candidatos a domésticos mudar do extrato de animal aprisionado para animal domestico. A diferença entre animal doméstico e não doméstico e que este não apresenta descendência domestica. O animal doméstico produz filhos domésticos e o amansado produz descedência selvagem, Administrador Realce 27 como o papagaio, macaco, cotia, focas, elefantes e outros, enquanto que bois, cabras, carneiros e galinhas são domésticos e sua descendência também se mantém assim. Os índios possuíam animais amansados para companhia, denominados xerimbabos ou nimbos 8.2. Quando surgiram os animais domésticos Em eras geológicas distintas, pois enquanto que o cão foi o primeiro animal a ser domesticado no período haloceno, os animais como a cabra e o carneiro foram domesticados no período oligoceno. O processo de domesticação foi conduzido pelo homem primitivo por instinto seguido de experiência, sendo que na era da pedra polida foram encontrados evidência do convívio do homem com o cão, cabra, carneiro, porco e o boi. Na idade do bronze o cavalo foi domesticado segundo estudos de fosseis. Tabela 2. Centro de domesticação de plantas e animais Região Plantas Animais Mediterrâneo Ervilha, azeitona, trigo duro, menta Próximo oriente Trigo, lentilha, aveia, cevada, mostarda, luzerna, couve, uva Cabra, ovelha, vaca, porco, dromedário, gato, búfalo Médio oriente Amêndoa, pêssego, linho, couve, alho, cenoura, uva, ervilha, algodão, maça Cavalo, camelo, ovelha e cabra Extremo oriente Cebola, soja, maça, alface, nabo, Porco, galinha, cabra, búfalo Índia Arroz, laranja cana de açúcar, pimenta preta, pepino, manga, banan coco Vaca, galinha Nordeste africano Café, ocre, sorgo Jumento, vaca México Milho, papaia, batata doce, algodão, amaranto Perú 28 Andes Algodão, batata, abobora, mandioca, amendoim, ananás Porco da guiné, lhama, alpaca 8.3. Importância do animal doméstico O animal doméstico foi extremamente importante na vida dos povos primitivos em que os beneficio marcaram os pilares fundamentais do progresso da civilização humana. Essa evolução em que inicialmente os animais domésticos faziam parte das tribos humanas e de seus hábitos tribais, também fazia parte da divisão de trabalho. Fez parte desta evolução a descoberta fogo, a invenção da roda e a eletricidade que permitiu um grande salto para era nuclear atual. Desta forma ainda nos dias atuais os animais domésticos alem de fomentar a economia da produção de alimentos, atendem as necessidades por transporte, lavra da terra, agasalho, afetividade e diversão. 8.4. Domesticação e domesticidade A domesticação corresponde ao ato de tornar doméstico o animal selvagem, enquanto que a domesticidade é o estado de doméstico. Podemos dividir as fazes de domíniodo homem sobre os animais em três: estado de cativeiro; estado de mansidão e estado de domesticidade. O estado de cativeiro trata o animal como material de estudo ou embelezamento, sendo o estado de mansidão caracterizado pela convivência pacífica com finalidade especifica de ades6tramento para o trabalho e montaria a exemplo do Elefante treinado em algumas regiões do mundo. No estado de domesticidade fica estabelecida a relação do homem com o animal de uma simbiose harmônica em que os dois se beneficiam. 8.5. Fases da domesticação: primária e secundária Administrador Realce 29 8.5.1. Primária Corresponde a fase da pré-história, em que os grandes animais assumiram importância na vida do ser humano. 8.5.2. Secundária Na fase secundária tudo foi mais recente, sendo representada pelos pequenos animais como pato, galinha d’angola, avestruz, faisão, coelho e médios como a rena e grande como o búfalo, considerados semidomésticos ou de domesticação duvidosa a exemplo de determinados animais com os peixes, ostras, abelhas e bicho da seda. 8.6. Variações no grau de domesticidade Podemos classificar quanto ao grau de domesticação, desde os grupos de animais domesticos que quando soltos na natureza jamais voltam ao estado selvagem, ate aqueles semi-domesticos, caracterizados pela volta ao estado selvagem toda vez que são soltos na natureza. 1º grupo: cão, carneiro, cabra, boi, porco, gato, galinha, cavalo, jumento, camelo, dromedário. 2º grupo: zebu, marreco, ganso, peru, pombo, cisne, pavão, cobaia, lhama. 3º grupo: búfalo, rena, galinha d’angola, avestruz, pato, faisão, alpaca, coelho e bicho da seda. 4º grupo: abelha e carpa. 8.7. Como se processou a domesticação A ausência de documentação das conquistas do homem pré-histórico torna difícil determinar com precisão como precisamente se processou a domesticação. Sabe-se que os 30 primeiros animais foram domesticados no oriente médio e que o homem europeu primitivo, não possuía animais domésticos (caçava). Os povos asiáticos eram mais evoluídos e foram as primeiras civilizações a dominarem a arte de produzir os metais e a pólvora, sendo responsáveis por inúmeras invasões na Europa. Desta forma pontos diferentes em épocas distintas podem ser apontados como a disseminação da domesticação das espécies. As hipóteses mais prováveis foram o processo pacífico e o emprego da força em alguns casos. Provavelmente os animais mais curiosos podem ter se aproximado das civilizações humanas a exemplo dos cães que obtinham alimento nas proximidades das habitações humanas, possibilitando a aproximação do homem com estes animais, os quais a cada geração eram selecionavam pela docilidade e outras características de comportamento. A despeito de inicialmente alguns animais serem criados como animais de companhia ou por razões religiosas associadas ao sacrifício, sendo que o emprego utilitário veio logo a seguir com a domesticação dos cães (caça) e herbívoros (transporte e alimentação). Outros, a supertição considera como animais relacionados com a sorte como: os papagaios, periquitos, macaquinhos-de-cheiro (saguis). Os Druidas adoravam os cavalos brancos, os Egípcios o Boi ápis, carneiro, gato, ganso e crocodilos. Na Índia o gado Zebu e considerado sagrado e os Gregos adoravam a cabra, os Judeus o pombo branco e os Romanos o galo. Os mamíferos e aves foram pouco molestados pelo homem, mas relevos em Esparta sugerem o emprego da força a 1.500 anos a.C. Provavelmente a domesticação se deu pelo emprego da força e de forma pacifica dependendo da espécie. Podemos destacas que o cavalo foi domesticado quando instrumentos de contenção (metal) foram desenvolvidos a despeito de ainda hoje seja necessário doma-los e adestra-los para determinado fim. 31 8.8. Atributos necessários à domesticação São imprescindíveis três faculdades ou atributos para tornar um animal selvagem em domestico: 1. Sociabilidade; 2. Tendência hereditária à mansidão; 3. Conservação da fecundidade em cativeiro. Alem da função de especialização e facilidade de adaptação ao ambiente. A Sociabilidade pode ser caracterizada pela predileção da vida em companhia a partir da organização dos rebanhos em grupo ou bandos com a presença da figura de um líder. Sendo a mansidão associada a ausência de instinto selvagem nas progênies (hereditariedade). Sabe-se que para cada 1.000 animais selvagens existem um domestico. E que os atributos acima mais a fecundidade foram responsáveis pela perpetuação da espécie no estado doméstico. Sabemos também que alguns animais possuem algum grau de domesticidade, a exemplo da rena, búfalo e abelha. 8.9. Fatores que influenciaram a domesticação Segundo Fox (1968), os fatores inatos do processo de domesticação foram: 1. Trocar o ambiente natural por outro artificial ou natural similar; 2. Seleção genética 2.1. A favor da docilidade, temperamento, comportamento e redução da interação genótipo x ambiente. 2.2. Seleção para características adaptativas; 2.3. Seleção para o aumento do crescimento, fertilidade, conversão alimentar e produção de leite; 2.4. Seleção para prolongar o estado infantil; Administrador Realce Administrador Realce Administrador Realce 32 2.5. Cruzamento entre raças produtivas e adaptadas. Para Prince (1999), os mecanismos seletivos foram: a. A seleção artificial; b. Diminuição da pressão de seleção do ambiente natural (reprodução); c. Endogamia que favorece a redução da variabilidade genética e a homozigose, levando a prepotência com a desvantagem de aumentar as taxas de descartes devido aos efeitos deletérios decorrentes do aumento da frequência de genes recessivos indesejáveis. 8.10. Efeitos da domesticação e como se manifestaram Os efeitos da domesticação puderam ser avaliados através de estudos de comparação transversais e longitudinais entre espécies selvagens e domesticas em condições padrões. As diferenças encontradas podem ser de caráter morfológico, comportamental e fisiológico. Quanto mais o animal se afastou do ambiente de origem e quanto mais aperfeiçoados os métodos zootécnicos de exploração, maior foi a diferenciação dos caracteres morfológicos, comportamentais e fisiológicos. Desta forma as espécies domésticas diferem das selvagens quanto a morfologia para a redução do tamanho da cabeça, dos órgãos dos sentidos e do corpo, com padrão de crescimento do tamanho mantendo a forma, alem da redução do aparelho digestivo (HABER e DAYAN, 2004). A modificação da estrutura dos animais produziu consequências na função. A pelagem dos animais domésticos é mais fina, sedosa, colorida descartando-se animais despigmentados. Nos selvagens os pelos são grosseiros, de cor uniforme predominantemente pardo podendo mudar com a estação (tamanho maior no inverno) e apresentarem o fenômeno de mimetismo. As orelhas dos animais domésticos possuem posições variadas enquanto que os dos animais selvagens são moveis e eretas, 33 com função auditiva aguçada. A ossatura dos animais domésticos e mais leve e curta, sendo nos animais selvagem mais grosseira. Para o comportamento houve redução do medo pela redução dos órgãos dos sentidos, de defesa (a abelha e a exceção) e aumento da sociabilidade, sendo as diferenças quantitativas mais importantes que as qualitativas, sendo a ênfase para as características de limiares (PRINCE, 1999). As características fisiológicas foram afetadas pela redução da idade a puberdade, da velocidade (o cavalo e exceção) e endocrinologia do ciclo reprodutivo (estacionalidade) de ovinos, suínos e bovinos (SETCHELI, 1992; JENSEM, 2006). Lembrar que para ovelhas domesticas a influencia da estação do ano sobre a reprodução e menor do que nas selvagens. E que vacas e porcas não estão sujeitas ao efeito da estacionalidade hormonal, enquanto que as búfalas não alteram o equilíbrio hormonal devido a ofertade alimento, mas devido ao fotoperiodo. Geralmente os animais domésticos são poligâmicos e os selvagens monogâmicos, existindo copetição pelo macho ou pela fêmea. Em ovelhas domesticas algumas características foram reduzidas pela domesticação com: a. Isolamento dos animais durante o parto; b. Lambidas imediatas no recém-nascido; c. Defesa do cordeiro contra predadores; d. Ovelhas de linhagem ou raças pouco selecionadas vocalizam mais em ralação ao afastamento dos cordeiros; e. Os cordeiros de linhagens mais selecionadas vocalizam mais ao afastamento de suas mães; f. Os cordeiros de linhagens mais selecionadas demoram mais a ficar de pe, reconhecer as mães e mamar; g. No entanto o colostro de mães selecionadas possui maior teor de lipídios que os das selvagens. No entanto o aumento da produção de leite e carne foi incorporado no animal domestico. De uma maneira geral genes de efeito maior (Herança monofatorial) foram identificados em algumas espécies domesticas e estão apresentados na tabela a seguir. 34 Tabela 3. Genes de efeito maior detectado em algumas espécies de animais domésticos Animal Característica Animal Característica Galinhas Crista de ervilha, crista rosa, crista dupla, crista grande, pele amarela, penas barradas Ovinos Aumento da taxa de ovulação e concepção, gene booroola. Cães Pele enrugada, comprimento da perna, tamanho corporal, textura e comprimento dos pelos. Cavalo Andamento marchado Gado Crescimento muscular, odor do leite, produção de leite, composição do leite. Porco Glicogênio muscular, tamanho da orelha, hipertermia maligna, espessura do toucinho e maciez da carne. 8.11. Causas das transformações Pode ser indireta, decorrente do clima, ambiente artificial e seleção artificial e direta devido às variações espontâneas, mistura de espécies e raças. Lembrando que a persistência da domesticidade depende da relação com o homem. 35 9. A DOMESTICAÇÃO E A ORIGEM DAS ESPÉCIES 9.1. O Cão doméstico Segundo Vila et al. (1997), Tsuda (1997) e Leonard (2002), pesquisas relacionadas a morfologia, comportamento, vocalização e biologia molecular em 1950 apontam o lôbo cinzento Holártico (Canis lúpus) como o ancestral do cão domestico (teoria monofilética). Vila et al (1997) também disseram que o cão ficou geneticamente diferente do lôbo a cerca de 135.000 anos, na mesma época em que apareceram os primeiros registros fosseis do Homo sapiens. No entanto Saudainen et al (2002) consideram mais recente a separação datada de 15.000 anos, pela dificuldade de estabelecer a veracidade dos estudos comparativos dos fosseis. Robert Wayne (2010) da Universidade da Califórnia descobriu a partir de estudos do DNA mitocondrial de 900 cães e 85 raças de lobos de três continentes, que o gene IGF1 é responsável pelo desenvolvimento do esqueleto do cão doméstico,. Eles conseguiram definir o local onde os primeiros lôbos foram domesticados e atribuíram ao Oriente Médio e não do Extremo Oriente os primeiros sítios de origem da domesticação. Para Greg Lasson (2011) os cães e a maioria dos animais domésticos ajudaram na sua própria domesticação aproximando-se dos seres humanos antes que estes tivessem ação proativa sobre eles. Coppinger e Smith (1983) sugerem a possibilidade dos primeiros animais domésticos serem neotênicos, que segundo Goodwin (1997) corresponde à retenção de características juvenis no estado adulto em relação ao ancestral. Explicaram que a neotênia Administrador Realce 36 pode ser por redução dos estádios de crescimento quando comparado aos estádios de crescimento de ancestrais adultos, nos quais ocorre inicio tardio de desenvolvimento e antecipação do final do desenvolvimento, conhecido por progênese. Segundo Lark (2011) os animais domésticos possuem um conjunto de características neotônicas em comum e tendem a possuir orelhas caídas, cauda encurvada e pelagem colorida. Segundo Denis (2007) na classificação de Magnin (1989), os cães que apresentassem características morfológicas do tipo lobo seriam denominados lupóides e possuíam particularidades como o crânio piramidal, olhos pequenos, orelhas eretas e tiveram sua origem no Nordeste da Eurásia. Outro grupo de classificação são os cães bracóides que representam um grupo mais heterogênio de corpo atlético e crânio oval, olhos pronunciados, sendo originados da Europa Meridional. Os classificados como molussóides, tiveram sua origem na cadeia de montanhas da Eurásia e possuía estrutura óssea e muscular forte, cabeça grande, crânio redondo, peito largo e profundo. Os cães classificados como graóides representam o grupo mais heterogênio e são os cães do tipo Galgo originários das vastas regiões de estepes e desérticas com linha corporal longa, cabeça em forma de cone, orelhas pequenas e musculatura larga. Rodero e Herrera (2000) disseram que para as raças serem formadas havia a necessidade de variabilidade genética e que três processos como a domesticação, seleção artificial e fixação de características desejáveis descritas em um padrão racial seriam necessários. Segundo a teoria polifilética, hoje superada, o cão doméstico tem origem em diversas espécies de lobos. Além do Canis lúpus ou lobo cinzento europeu, teoria atualmente aceita podemos citar o Lobo pallipes (pequeno lobo indiano); Canis aureus (chacal); Canis simensis (Absínia - galgos); Canis lupus occidentalis ( lobo americano); 37 Canis latrans (íncolas americanos); Canis ingae (Incas); Canis cancrivorus (Guianas) e Canis mesomelas (África meridional). 9.2. Caprinos e ovinos A cabra foi o segundo animal a ser domesticado e o primeiro para produção de leite, sendo a sua domesticação datada de aproximadamente 12.000 anos a.c. a partir da forma selvagem Capra aegagrus, no próximo oriente. Evidências recentes apontam a origem do gênero Ovis para a região Central da Ásia (Rezaei et al., 2010), sendo a domesticação dessa espécie (Ovis Aries) atribuída à região do Crescente Fértil, no Oriente Médio cerca de 10.800 anos, a partir do Ovis orientalis (Ovis Musimom) (BEIJA- PEREIRA, 2006). E para autores como Ryder, (1984) e Meadows et al.(2010), a domesticação dos ovinos data de 9.000-8.000 anos a.c. 9.3. Bovinos Os bovinos são hoje representados por cerca de 800 raças, estando algumas em perigo de extinção. Destas 480 são taurinos e no Brasil encontram-se 60 raças entre taurinos e zebuínos (7,5%). É universalmente aceito que o gado moderno descende de um ancestral comum, o extinto Auroque ou Bos primigenius (9.000 ano a.c.). Os dois eventos de domesticação separados para as duas subespécies de Auroques ocorreram no final do pleistoceno e começo do haloceno. Um dos eventos aconteceu no Oriente Próximo ou Sudoeste da Ásia, correspondente hoje á Turquia (Anatólia), Síria, Líbano, Jordânia, Chipre, Israel e Palestina, entre o Mar Mediterrâneo e o Irã. O outro evento ocorreu no Beluquistão (Paquistão), dando origem ao zebuíno. Baseado em DNAmt, Troy et al. (2001) 38 sugerem que toda as raças européias e africanas pertencem a uma linhagem e as zebuínas a outra. Provavelmente duas subespécies de Bos primigenius deram origem a dois eventos de domesticação dos taurinos europeus e africanos (BRADLEY et al, 1998). Luftus et al. (1999), demonstraram que taurinos e zebuínos tiveram origem separada e que o Oriente Próximo foi o centro de domesticação do gado taurino, enquanto que o zebuíno teve seu centro de domesticação ligado ao Vale do Rio Indo. A divergência entre taurinos e zebuíno provavelmente ocorreu a 1,7 a 2,0 milhões de anos atrás e que as sequências de DNAmt separam as duas espécies em 237 posições (16.339 e 16.339), segundo Hiendleder et al (2008). 9.4. Suínos O suíno doméstico tem provavelmente dois sítios de domesticação distintos, o próximo oriente e o extremo oriente. A data de domesticaçãoé próxima e posterior à dos ovinos (10.800 anos a.c.) e da vaca (9.000 ano a.c.) e se deu a partir da espécie selvagem Sus scrofa ou javali euro-asiático. 9.5. Equinos Nos eqüinos prevalece a teoria monofilética de ancestralidade, em que todos os eqüídeos (cavalo, jumentos e zebras) possuem um ancestral comum. O eqüídeo pré-histórico correspondente ao Eohipus ou Hiracoterium, o qual era um animal de pequeno porte (35- 50cm) e possuía quatro dedos ou artelos nas mãos e três nos posteriores (pés). Evoluíram para o gênero Equus originando três espécies descritas com o Equus cabalus, Equus Asinos e Equus Zebra. A zona de domesticação dos eqüinos foi a mesma do camelo e jumento, provavelmente o crescente fértil, especificamente o oriente próximo. 39 9.6. Galinha A galinha doméstica Gallus domesticus tem origem mais provável na forma selvagem Gallus gallus, galinha de Bankiva ou galinha vermelha selvagem . A sua domesticação data de 3.000 anos a.c., sendo encontrada a pelo menos 2.000 anos a.c. na suméria. Segundo Smith e Daniel (2000) citado por Guelber Sales (2005) atualmente quatro espécies selvagens contribuíram para o desenvolvimento da galinha (Gallus domesticus), sendo primeiramente a espécie Gallus gallus ou galinha de Bankiva; em segundo Gallus varius ou galinha de Java; em terceiro a Gallus sonneratii ou galinha sonnerat da índia ocidental e meridional; e em quarto a Gallus lafayetti ou galinha do Ceilão. As raças provavelmente tiveram origem no cruzamento da galinhas asiáticas e européias e didaticamente foram divididas em quatro troncos: 1. Americano; 2. Asiático; 3. Inglês; 4. Mediterrâneo. 40 10. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA UTILIZAÇÃO DOS ANIMAIS DOMESTICOS 10.1. Atributos associados à função e aptidão 10.1.1. Função e Aptidão A aptidão e de origem genética e a função, consequência da aptidão do animal no sentido da especialização. 10.1.2. Crescimento O crescimento dos animais pode ser descrito por uma curva sigmoide em determinada fase de sua vida, em que existe um crescimento acelerado após o nascimento e uma desaceleração com a idade, passando pela puberdade ate a idade adulta quan o anomal para de crescer. 10.1.3. Período de gestação Entre os mamíferos de importância econômica para a zootecnia podemos citar vacas, caprinos, ovinos, eqüinos, asininos, muares, e bubalinos. No quadro a seguir estão resumidos os períodos de gestação e de incubação de algumas espécies de importância econômica (domésticas e silvestres). Quadro 1. Périodo de gestação e incubação em dias para animais domésticos e silvestres de importância econômica Período de gestação Animais doméstico Dias Animais silvestre Dias Bovinos – Bos taurus carne 285±3,8 Macaco (Mico) 180 Bovinos – Bos taurus leite 283±5,2 Bisão 270 Administrador Realce 41 Brahman 292 Alce 245 Ovelhas 150 Servo 245 Cabras 150 Rena 230 Éguas pesado 335 Elefante 630 Éguas leve 341 Hipopotamo 233 Asinino 365 Rinocerante 540 Quadro 1. Continuação. Período de gestação Animal doméstico Dias Animal silvestre Dias Camelo 410 Anta 395 Lhama 330 Girafa 430 Suíno 114 Canguru vermelho 38 Cão 64 Porco espinho 112 Gato 61 Guaxinim 63 Coelho 33 Gambá 14 Chinchila 115 Lebre 38 Esquilo 35 Leopardo 94 Leão 108 Pantera 92 Tigre 109 Foca 330 Morsa 350 Cachalote 490 Sagui 145 Período de incubação Aves domésticas Dias Aves silvatres Dias Galinha 21 Pato silvestre 35 Pato 28 Periquito australiano 18 Ganso 28 Tentilhão 14 Galina D”Angola 28 Papagaio 28 Peru 28 Faisão 24 Cisne 35 Codorniz 22 Pombo 18 10.1.4. Lactação 42 Entre os mamíferos de importância econômica podemos citar os bovinos em que o período de lactação varia de raça para raça e entre animais dentro da mesma raça. Por essa razão quando se quer comparar a produção de leite por lactação deve-se ajustar a produção para a lactação padrão de 305 dias. Para isso se faz necessário dividir a quantidade de leite produzida pelo número de dias da lactação correspondente. Dessa forma se obtém a produção de leite diária e depois se multiplica por 305 dias para obtenção da produção de leitete por lactação de 305 dias para todas as vacas em comparação. Além disso, é necessário corrigir a produção de leite pelo teor de gordura. Nesse caso existe a fórmula de Gaines-Davidson para correção do teor de gordura do leite para 4% de gordura. Com isso teremos a produção diária de leite corrigida para 4% de gordura. Fórmula de Gaines e Davidson para correção do leite para 4% de gordura (PLC): PLC= (0,4 X PL) + (0,15 X PL X G%). PLC=Produção de leite corrigida; PL=produção diária de leite; G%= teor de gordura do leite. . Ou a fórmula de SKALAN et. al. (1992) para correção da produção diária de leite para 3,5% de gordura (PLC3,5%): PLC3,5%= 0,432 + 0,1625 X G%) X PL. Em que a PLC3,5%=Produção de leite corrigida para 3,5% de gordura; PL=Produção de leite (kg/dia) e G%=Teor de gordura do leite. 10.2. Classificação das utilidades 10.2.1. Contexto produtivo 1- Produção de alimentos: carne, leite, ovos, gordura, pele... 2 – Subprodutos: pelos, chifres, pele, penas, adubo.... 3 – Subprodutos para alimentação: farinha de carne, sangue, viceras e ossos... 4 – Trabalho esporte e lazer... 43 5 – Animais de companhia: pet’s: cães, gatos, aves.... 10.2.2. Contexto econômico Os dados do CEPEA de julho de 2017 apontam o preço do quilograma de peso vivo do cordeiro, negociado a R$ 7,50 (Bahia), 5,38 (Ceara), 6,50 (Mato Grosso do Sul), 6,63 (Mato Grosso), 8,10 (Paraná), 6,29 (Rio Grande do Sul) e 8,86 (São Paulo). A produção pecuária no Brasil e diversificada, competitiva e expressiva colocando o pais em primeiro lugar na produção de frangos de corte, quarto na produção de ovos (Produção Animal, 3º Trimestre de 2008). 10.2.2.1. Bovinos Foram abatidos 7,142 milhões de cabeça no terceiro trimestre de 2007 com variação negativa de 6,3% (2º trimestre de 2008), provavelmente por causa da entressafra, abate de vacas (613 mil, queda de 22,7%), de novilhos e vitelos. Particularmente houve aumento no abate 5,4% nos bois e em setembro de 2008, Goiás voltou a exportar carne bovina para a Rússia suspensão essa datada de 27 de junho de 2008 devido aos eventos de focos de estomatite vesicular no município de Cavalcante, anteriormente. O abate total acumulado em 2008 foi de 22 milhões de cabeças e para a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), 293,1 mil toneladas foram exportadas (aumento de 8,7% em relação ao trimestre anterior) e houve queda de 4,4% (3º trimestre de 2007). 44 Em agosto de 2017 a arroba do boi gordo foi negociada a R$ 128,07. O bezerro foi negociado a R$ 1.077,05 ou US$ 344,77 para um peso médio de 212,86 kg. Leite: 4,672 milhões de litros – queda de 0,5% (2º trimestre) e aumento 5,2% (3º trimestre 2007) Com relação ao 3º trimestre 2007 – maior aumento na região Sul (14,9%) Paraná: aumento de 21,9% Santa Catarina: aumento de 17,9% Rio Grande do Sul: aumento de 9,8% Região Nordeste – queda de 2,7% Pernambuco: queda de 29,6% (passou de 2º a 3º maior na aquisição de leite) Ceará: 2º Bahia: líder com aumento de 10,5% Comércio exterior – leite in natura - aumento 100% (2º trimestre 2008) e aumento de faturamento (107,6%) – leite em pó: aumento de 2,5% e aumento de faturamento de 12,0%. Para a aquisição de Couro 8,649 milhões de unidades – queda de 13,4%(2º trimestre 2008) e de 17,0% (3º trimestre 2007). Baixa oferta de animais para abate – menor oferta de couro. Curtumes deixaram de funcionar – falta de matéria prima ou dificuldade financeira. Estoques de couro usados para atender empresas 10.2.2.2. Frangos Nos dados do Cepea (2017) o consumo de carne de frango no Brasil e de 41,10 kg / habitante ano com um preço pago aoprodutor de R$3,45/kg de frango congelado. A caixa 45 com 30 dúzias de ovos nas regiões de São Paulo, Rio de Janeiro e grande Belo Horizonte foi vendida respectivamente a R$ 95,78; 97,60 e 96,74. Foram abatidos no terceiro trimestre de 2007, 1,247 bilhão de unidades de frango (aumento de 13,9%). O abate acumulado no ano de 2008 foi de 3,629 bilhões de cabeças, 12,6% superior ao mesmo período do ano anterior. Desde o terceiro trimestre de 2006 houve variação positiva no abate, sendo os líderes os estados Paraná e Santa Catarina, com crescimento positivo de 16,2% e 9,6%, respectivamente. No mercado externo houve uma queda na comercialização (< 3,5%) e aumento no faturamento maior do que 16%, com as exportações principalmente para Ásia e União Europeia. 10.2.2.3. Poedeiras Produção de 577,250 milhões de dúzias de ovos - aumento de 5,9% (3º trimestre de 2007) e 1,6% (2º trimestre 2008) Produção acumulado em 2008 – 1,706 bilhões de dúzias 10.2.2.4. Suínos Abate de 7,337 milhões de cabeças – aumento de 4,8% (3º trimestre de 2007) e de 1,2% (2º trimestre de 2008) Comércio exterior – redução de 7,15% (2º trimestre 2008) e de 7,0% (3º trimestre 2007) – maior faturamento – aumento de 4,4% (2º trimestre 2008) e 50% (3º trimestre 2007) Embargo União Européia – falta de condições sanitárias 46 10.2.3. Produtos industriais utilizados pela Pecuária Aumento de 2,0%: Rações (maior peso) – aumento de 3,0%; Produtos veterinários – queda de 2,9%. 11. SISTEMA DE PRODUÇÃO 11.1. Conceito Conjunto de técnicas e procedimentos para criação de animais, divergentes na forma, objetivos, recursos financeiros e mão de obra. As diferenças entre produtores, suas habilidades, recursos, preferências, ambiente e objetivo determinam o sistema de produção mais apropriado para cada caso em particular. Spedding (1979) sugere nove características que devem ser observadas na definição de um sistema de produção 1 – Propósito: define as características principais para o funcionamento do sistema (produção de bezerros, rentabilidade, raças, recursos, comercialização); 2 – Limite: define a extensão e as partes relevantes (perímetro da fazenda, solo, invernadas...); 3 – Contorno: Ambiente externo (físico e econômico) e fatores limitantes externos (pantanal, paioaguas, ambiente, precipitações, mercado, insumos...); 4 – Componentes: Partes principais (podem ser inclusive subsistemas mais rebanho de vacas, novilhas, touros...); 5 – Interações consequências e efeitos entre componentes (fertilidade, taxa de lotação, mão de obra...); 47 6 – Recursos: componente de dentro do sistema (naturais e adquiridos (tratores, poços, instalações...); 7 – Insumos: input (entradas do sistema); 8 – Produtos: output (saídas do sistema ou produção); 9 – Subprodutos: produtos de atividade biológica que permanecem dentro do sistema e/ou convertido em outro processo (alternativa de manejo, novilhas de reposição...) 11.2. Fatores que afetam o sistema de produção 1 – Política de credito, ambiente, clima, produz diferenças em curto prazo; 2 – Estratégia de manejo e o mais fácil de modificar; 11.3. Classificação dos sistemas de produção 11.3.1. Sistemas extensivos contínuos Pasto nativo ou cultivado mais suplementação mineral a pasto com baixa taxa de lotação (0,5 a 1,0 UA/há), baixa produção de leite, acabamento de carcaça tardio, baixa rentabilidade e baixa remuneração da mão de obra. Esse sistema permite modificações quanto à sustentabilidade do meio ambiente especialmente do uso do solo. 11.3.1.1. Sistema lavoura pecuária (LP) Esse sistema é baseado no consócio do pasto com a lavoura temporária (milho, feijão...) em que a cultura de grãos pode reduzir o custo de implantação da pastagem. 11.3.1.2. Sistema Silvipastoril 48 Consócio de pasto e floresta, em que ganhos imediatos provêm do pasto e em longo prazo da implantação da floresta para exploração de madeira ou simplesmente permitir o sombreamento do pasto. 11.3.1.3. Sistema Agosilvipastoril Ou sistema lavoura, floresta e pecuária com aproveitamento dos recursos disponíveis com ganhos a curto, médio e longo prazo. 11.3.2. Sistemas semi-intensivos Pasto mais suplementação alimentar e mineral no cocho ou semi-estabulação com suplementação volumosa e alimento concentrado no cocho na hora da ordenha; 11.3.2.1. Sistema de semi-confinamento a pasto – Uso de piquetes com uma gramínea de boa qualidade e com estrutura de cochos de água e ração para suplementação concentrada. Vale salientar que os cochos de água e ração devem ficar separados de pelo menos 200 metros para evitar deposição de ração no cocho de água. Outro fator importante é que os cochos de ração devem ter pelo menos 33 a 40 cm de espaço em linha por animal.. 11.3.2.2. Terminação tradicional – Uso do pasto com suplementação de concentrado correspondente a 1% do peso vivo (PV). Na terminação em semi-confinamento, o consumo estimado é de 2% do peso vivo em matéria seca (MS) por animal/dia, sendo 50% das necessidades nutricionais diárias por animal atendidas pelo volumoso (1% do PV em MS de pasto) e 50% atendidas pela suplementação concentrada (1% do PV de ração concentrada). Se a terminação ocorrer no período seco, quando o pasto é mais pobre em nutrientes, a ração concentrada deve possuir pelo menos 18% de proteína bruta (PB). Caso a terminação ocorra no período chuvoso, a quantidade de PB na mistura do concentrado pode ser inferior a 20% de PB, mas de acordo com a demanda diárias exigida em proteína e 49 a oferta do mesmo nutriente no pasto. Quando os níveis de proteína no pasto são muito baixos e a ração concentrada (com mais de 20% de PB) é requerida em quantidades inviáveis economicamente é necessário usar sal mineral proteínado com adição de uréia (baixo custo), ou suplementar com silagem de milho no cocho além do concentrado para redução de custos com alimentação. 11.3.2.3. Terminação com intensificação no fornecimento de concentrado – Nesse sistema a quantidade de concentrado na participação da dieta diária dobra para 2% da quantidade de matéria seca ofertada diariamente. A taxa de lotação do pasto também dobra. Isso equivale ao aumento da utilização do pasto e do concentrado, sendo mais apropriado quando se trabalha com animais cruzados que comem mais, mas ganham mais carcaça para compensar o aumento no consumo. Vale salientar que os dois sistemas de semi- confinamento descritos, também podem ser utilizados para a recria de novilhas e novilhos e no gado de leite para as vacas adaptadas ao ambiente de criação. 11.3.3. Sistema intensivo Uso intensivo do pasto, em que são utilizadas altas taxas de lotação, elevada carga de nutriente no solo e alta produtividade do pasto com ou sem irrigação. 11.3.3.1. Piquetes rotacionados irrigados. Alta taxa de lotação, período de ocupação e de descanso fixo, com três dias de ocupação e 27 dias de descanso com aproximadamente 50 a 60 ovinos ou 05 a 10 (UA) vacas de leite por hectare. 11.3.3.2. Piquetes rotacionados com grande número de piquetes. 50 Alta taxa de lotação e período de descanso e de ocupação de acordo com a planta, o solo, estação do ano e animais. Como exemplo desse sistema tem o “Pastoreio Rotacionado Voisin”, no qual a mudança de pastoreio nos piquetes depende da estação do ano com utilização múltipla no período chuvoso com cada piquete utilizado varia vezes ao ano (alta taxa de lotação) e poça vezes no período seco, mas sempre com grande numero de divisões de pasto ou piquetes. Esse sistema esta regulamentado por quatro leis. A primeira lei ou lei do repouso consiste em um período de descanso suficiente para que o pasto possa armazenar energia suficiente para permitir maior vigor necessário ao rebrote e grande produção diária de massa verde (Labareda de crescimento”). Na segunda lei ou lei daocupação tem como fundamentação os danos que os animais possam causar nos tecidos de crescimento das plantas. Nesse caso um dia de ocupação por piquete é fundamental para reduzir os danos nas zonas de crescimento das planta. A lei da ajuda ou terceira lei, orienta a utilização dos animais de acordo com as categorias de exigência nutricional. Nesse caso os animais com maiores necessidades diárias de nutrientes entram primeiro (um dia ou meio dia) e comem o melhor do pasto ou seja as pontas das folhas. A lei dos rendimentos regulares ou quarta lei, preconiza que os animais não passem mais do que três dias no mesmo piquete, sendo que o máximo rendimento é alcançado, com um dia ou menos de pastoreio. (SÓRIO JUNIOR, H., 2015). 11.3.3.3. Pastoreio diferido: podem ser utilizados poucos ou muitos piquetes e sempre terão alguns piquetes vedados em determinada época do ano para lotes de animais estratégicos na fazenda. 11.3.4. Confinamento convencional: Utilização de ração total com alimentação volumosa mais suplementação concentrada no cocho, constituindo em confinamento propriamente dito. Esse sistema geralmente é destinado a animais de alta produção, como vacas com 51 produção acima de 20 kg de leite/dia ou terminação (acabamento) de novilhos precoces. Nesse caso o confinamento pode ser em área de céu aberto ou sombreada, mas com restrição de tamanho ou estabulação propriamente dita; 11.3.4.1. Free stall (estabulação livre): utilizados para vacas de media a alta produção (mais de 20 kg de leite por dia) livre acesso ao cocho, área de repouso individual, alto custo da instalação, oferta de 100% de ração total no cocho; 11.3.4.2. Tie stall (estabulação presa): confinamento total, vacas presas por correntes (cordas) e livres durante apenas uma hora diária após a ordenha para fazer exercício, alta produtividade (> 25 kg de leite/dia), regiões de clima frio, ração total (volumoso com mais de 18% de fibra bruta; concentrado com mais de 60% de NDT); 11.3.4.3. Loose housing: área de descanso coletivo sombreada, com ou sem uso de piquetes anexos. Esse sistema também exige alimentação total no cocho (volumoso mais concentrado). 52 ASPECTOS PRODUTIVOS, ENDÓCRINOS E FISIOLÓGICOS DA ADAPTAÇÃO (BIOCLIMATOLOGIA) DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS AO CLIMA TROPICAL. O ambiente tropical constitui 1/3 da superfície terrestre localizada entre os trópicos de câncer e capricórnio (30ºN e 30ºS) e abriga aproximadamente 30% da população humana, 65% de bovinos, 36% dos ovinos, 67% dos caprinos, 53% dos equinos e 80% dos bubalinos. O efeito do ambiente tropical sobre os animais pode ser dividido em efeito direto, relacionado com a temperatura radiação e umidade e efeito indireto relacionado com a qualidade das forrageiras, sistemas de criação e grupos genéticos. 11.4. Zona de conforto térmico A zona de conforto de animais europeus de corte possui temperatura entre 0,5 e 16 ºC e para os animais leiteiros (Bos taurus taurus) de 10 a 20ºC. Os bovinos indianos de 15 a 26ºC e o ser humano de 18 A 27ºC, sendo a ordem decrescente de tolerância ao calor igual a: Equinos, bovinos, bubalinos, caprinos, ovinos, suínos, aves e coelhos. 11.5. Adaptabilidade A adaptabilidade dos animais corresponde à capacidade dos animais se adaptarem aos ambientes médios assim como aos extremos. Sendo um fator determinado pela herança de características anatomofisiologicas que afetam a termogênese e a termolise. A 53 adaptabilidade pode ser dividida em duas classes sendo uma relacionada com a adaptabilidade fisiológica que corresponde à tolerância dos animais aos ambientes quentes mediante modificações no seu equilíbrio térmico e outra a adaptabilidade de rendimento quando descreve as modificações do rendimento do animal em ambientes quentes. 11.6. Sistema de termorregulação Nos animais o sistema de termorregulação pode ser homeotermo ligado à capacidade de regulação da temperatura corporal (temperatura corporal constante) e os poiquilotérmicos em que a temperatura corporal varia com a temperatura ambiental. O mecanismo termorregulador da temperatura em animais homeotérmicos consiste em respostas ao estimulo de calor ou frio a partir de termorreceptores específicos localizados no hipotálamo anterior e posterior que identificam a sensação de calor e frio respectivamente. Quando o neuro receptor de calor for estimulado a ordem é para “perder calor”, logo o mecanismo de termorregulação ordena que o organismo aumente sua frequência respiratória, seus vasos sanguíneos ficam mais calibrosos para facilitar a perda de calor por convecção e ocorre aumento da capacidade de suar. Quando a sensação é de frio o organismo é induzido a conservar e produzir o calor, reduzir o calibre dos vasos sanguíneos distanciando-os da superfície da pele e ocorre uma redução da frequência respiratória. 11.7. Síndrome da Adaptação Geral Esse conjunto de resposta é denominado de “Reações intraespecíficas do mecanismo termorregulador” ou “Sindrome da Adaptação Geral”, que consiste de um conjunto de reações não especificas desencadeadas quando o organismo e exposto a um estímulo 54 ameaçador a manutenção da homeostase. Selye (1936) definiu estresse como sendo o estado do organismo que, após a atuação de agentes de quaisquer naturezas, responde com uma série de reações não específicas de adaptação e nessa ocasião foi citada pela primeira vez a palavra inglesa “stress”, decorrente de qualquer agente estressor interno (doença, dor, medo...) ou esterno (calor, frio, umidade, radiação solar, fotoperiodo...), que produzam reações sistêmicas conhecidas por “Sindrome da Adaptação Geral”. Em Selye (1959) esta descrito que essas manifestações se expressão em três fases: 1. Fase de alarme que corresponde ao estresse agudo caracterizado pela secreção de hormônios na corrente sanguínea pela glândula suprarrenal (adrenalina e noradrenalina) em consequência do eixo hipotálamo-hipofise-suprrenal, liberando ACTH que quando muito intensa estimula a secreção dos glicocorticoides pelo córtex da suprarrenal. No entanto anterior a liberação, pode haver tendência ao equilíbrio pela ação “feed-back” negativo do ACTH no hipotálamo. Parte dessa fase é devido a descarga de cotecolaminas e glicocorticoides conhecida como “Reação de Emergência de Cannon”, descrito por Rodrigues (1989) e Pontes (1987), existindo o estimulo do sistema nervoso simpático que pode exaurir as cotecolaminas e levar a fadiga em caso crônico. 2. A segunda fase ou fase de resistência e adaptação, sendo caracterizada pelo estresse crônico sendo o principal gerador de respostas a glândula adrenal com secreção permanente de glicocorticoides. Existe um aumento da atividade do córtex da suprarrenal com tendência de atrofia do baço, estruturas linfáticas, leucocitose, diminuição de eosinofilos e ulcerações. Nessa fase as reações são localizadas dependendo da agressão, a exemplo da perda de encapsulamento e inflamações. Caso o estressor permaneça a fase também permanece embora modificada e o mecanismo de defesa possa falhar e o individuo entra na terceira fase. 3. Corresponde a fase de exaustão em que praticamente há um retorno a primeira fase ou de alarme e as reações se 55 desenvolvem novamente como catater protetor podendo causar doenças e ate a morte. A reação psicossomática ao estresse pode ser considerada uma falha na defesa e um alerta aos sistemas somáticos produzindo alterações no corpo. Na figura 1, esta apresentada a capacidade de reações intraespecíficas decorrente do mecanismo desencadeado e conhecido como “Sindrome da Adaptação Geral”, em que na parte central da figura é representada pela zona de conforto, correspondente a uma faixa de respostas neutra representada por um mecanismo termorregulatório eficaz. À esquerda e à direita dessa zona, estão representadas
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