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45 Seções de estudo Habilidades Capítulo 2 Canais de distribuição, novas relações entre fabricantes, varejistas e consumidores Este capítulo introduzirá conceitos da gestão da distribuição nas empresas, fornecendo um embasamento teórico para uma discussão aprofundada das relações das organizações com os canais de marketing e para o desenvolvimento de habilidades para aplicação prática desses conceitos no mercado. Seção 1: Canais de marketing: conceitos e perspectivas Seção 2: Resolução eficiente de conflito em canais de marketing e distribuição Seção 3: Interfaces potenciais entre a gerência de produto e a gestão de canal Seção 4: Detectando oportunidades de negócio nos canais de distribuição SANCHEZ, Kristiane Rico. Estratégias de Trade Marketing : livro didático. Palhoça :UnisulVirtual, 2014. 46 Capítulo 2 Seção 1 Canais de marketing: conceitos e perspectivas Alvarez (2008, p.74) enfatiza que o principal ambiente de atuação do Trade Marketing“é a área de vendas do varejista diante de shoppers e buyers, integrando ações de suprimento e motivação de demanda aos consumidores finais e interagindo com o varejista e outros diversos setores da própria empresa”. Partindo desse pressuposto, neste capítulo vamos estudar os canais de distribuição, também conhecidos como canais de marketing ou comerciais, que constituem redes de organizações interdependentes alinhadas para disponibilizar produtos e serviços no percurso que envolve desde o produtor até o consumidor final. Coughland e outros (2012)analisam que os canais de marketing constituem rotas para vender produtos e serviços que consumidores e compradores de empresas adquirem no mundo inteiro. Evidenciam as seguintes razões para entendê-los e administrá-los de forma estratégica: • Canal constitui um elo entre o fabricante e o usuário final; dessa forma, a falta de compreensão e gerenciamento proativo dos parceiros podem repercutir em redução de alcance e atratividade dos produtos ou serviços de um fornecedor. • Canal é um ativo importante no marketing e na estratégia de posicionamento globais de uma empresa diferenciando-a em relação à concorrência. O foco direcionado ao desenvolvimento de produto diferencia uma empresa, mas e no caso de produtos maduros (líderes de tecnologia no passado), como se diferenciariam? Entende-se que o produto contempla uma parte do pacote de compra do usuário final, sendo que os serviços prestados pelos membros do canal compõem este pacote e impactam a decisão de compra – é a chamada diferenciação por meio de canais inovadores, não se restringindo, portanto, apenas à inovação ao produto. • A experiência no canal afeta de forma significativa a percepção que o usuário final tem da imagem de uma marca, bem como de sua satisfação. • A percepção do canal como um ativo de marketing estratégico é, muitas vezes, pouco relevante para muitas empresas e setores. Assim, o processo de distribuição é estruturado (erroneamente) a partir da perspectiva operacional, um mal necessário para movimentar os produtos de uma empresa às mãos dos clientes Estratégias de Trade Marketing 47 que estariam ávidos para recebê-los. Nesse ponto, a diferenciação por meio do canal pode posicionar os produtos de forma eficaz e eficiente considerando custos. • Mesmo conscientes, há dificuldades dos gestores em criar e manter uma estrutura de canal que funcione adequadamente. É útil, portanto, estruturar fluxos no sentido de auxiliar as empresas a operar em todos os níveis do canal de forma mais rentável e prover os recursos necessários para atender melhor as demandas e preferências dos consumidores finais. Para exemplificar o contexto e a importância dos canais de distribuição, Rosenbloom(2002, p.23) cita a Coca-Cola, marca mais conhecida e famosa do mundo: “[...] a Coca-Cola Company reconhece que ter um grande produto, mesmo um mundialmente famoso, é apenas uma parte da história”.É fato que o reconhecido nome da Coca-Cola “não valeria muito se seus produtos não estivessem prontamente disponíveis a centenas de milhões de consumidores em todo o mundo”. A competitividade no mercado faz com que as empresas busquem diferenciação contínua no sentido de manter seu share(fatia)de mercado e volumes de vendas. Esse movimento gera certa igualdade na oferta de produtos, tendo em vista que uma novidade bem-sucedida é imediatamente copiada pelos concorrentes, caracterizando o chamado benchmarking. A questão central, portanto, não é se os concorrentes irão copiar as novidades, mas em quanto tempo promoverão lançamentos similares. Dessa forma, “o grande desafio das empresas é desenvolver recursos que gerem diferenciais sustentáveis e difíceis de serem copiados”.(ALVAREZ, 2008, p.24). Rosenbloom (2002, p.23) analisa que a crescente relevância dos canais de marketing está associada a fatores, tais como: • maior dificuldade em conquistar uma vantagem competitiva sustentável; • poder crescente dos distribuidores, especialmente os varejistas, nos canais de marketing; • necessidade de reduzir custos de distribuição; • revalorização do crescimento; • crescente papel da tecnologia. Cabe refletirmos sobre a vantagem competitiva sustentável como sendo algo que não pode ser facilmente reproduzido pela concorrência. Se constitui, portanto, em diferencial, sendo difícil de se obter somente com as estratégias de produto, preço e promoção. 48 Capítulo 2 A estratégia de produto é importante, mas se for o único alvo da empresa torna-se frágil à medida que a rápida transferência de tecnologias e os níveis de competição, inclusive em âmbito global, permitem que os concorrentes acompanhem e sobreponham lançamentos. Em relação à estratégia de preços,como vantagem competitiva ela está sujeita ao impacto da descentralização produtiva, ou seja, uma empresa pode se operar em qualquer local que possibilite maior eficiência, impactando em redução de preços. Se considerarmos a estratégia de promoção teremos, também, um espaço bastante árido na perspectiva de garantir uma vantagem sustentável, uma vez que o cliente é submetido a um grande volume de campanhas de publicidade, promoções em diferentes mídias, o que o confunde e tende a reduzir o impacto esperado em relação ao conteúdo. Finalmente, em relação ao composto de marketing, temos a estratégia de pontos de distribuição, na qual se alinham os pressupostos da estratégia de canais de marketing. ParaRosenbloom(2002, p.24), essa é a que “oferece maior potencial para obter vantagem competitiva que as demais, porque é mais difícil de ser copiada pelos concorrentes no curto prazo”, sendo que as razões que justificam tal fato são: • a estratégia de canal é de longo prazo – exige planejamento em longo prazo, o que é difícil de ser reproduzido imediatamente, assim, exige esforço similar por parte da concorrência; • a estratégia de canal geralmente exige uma estrutura– investimentos destinados a instalações, capacitação e outros recursos necessários para dar sustentação às operações; • a estratégia de canal é baseada em pessoas e relacionamentos– estes envolvem permanente articulação, sendo que o sucesso se apoia em coordenação e desempenhos mútuos. Vamos entender,por meio da contextualização prática da marca Alpargatas em relação à Havaianas, como é desenvolvida a estratégia de canal a partir das operações de expansão de mercado para a China. Estratégias de Trade Marketing 49 Para o presidente da Alpargatas, Marcio Utsch, diretor-presidente da Alpargatas, a China pode ser um engano. Empresa, que é dona da Havaianas, estuda em qual país da Ásia pode ter operação própria. Com uma nova fábrica em fase de testes em Montes Carlos (MG), que irá produzir em escala industrial dentro de três meses, e a expectativa de aumentar a geração de receita em moedas internacionais, hoje em torno de 30%, a Alpargatas, dona da Havaianas, estuda criar uma operação própria para a marca na Ásia, conta o diretor-presidenteda companhia, Márcio Utsch. “Já exportamos para quase todos os países do Oriente. Alguns deles têm muita relevância, como Filipinas. Agora, desenvolvemos um trabalho para entender estes mercados e decidir qual deles será nosso principal no continente”, explicou aoiG . O estudo deve ser concluído no ano que vem, e a tarefa não será fácil. Isso porque, conta o executivo, há um mercado ‹aparente› e outro ‹endereçado›, e não necessariamente ele se encontra nos grandes países da região. “Na China eliminamos mais da metade da população apenas pelo nível de renda. No país existem chinelos bem mais baratos do que o nosso. Se aqui já é barato, lá é mais ainda, e nosso negócio é marca, não volume”, explica. Outro ponto determinante, conta Utsch, é o clima. “A China registra clima quente quatro meses por ano. São 26 grandes cidades que podem ser um mercado endereçado para a Alpargatas. Mas algumas, ao Norte, são muito frias, e até neva. Isso exigiria, por exemplo, reduzir o tempo de venda. Já Hong Kong é mais quente”. O levantamento irá diagnosticar onde a companhia deve entrar, com que tipo de produto e abordagem de marca, se irá optar por loja própria, franquias ou multimarcas. “É preciso considerar também barreiras tarifárias. A lista de considerações é gigantesca, e o estudo vai dizer se faz sentido ou não. E, se faz, qual deve ser o tamanho da operação”. Hoje, a companhia tem operação própria para Havaianas nos Estados Unidos e na Europa, em países como Espanha, Portugal, Inglaterra, Itália e França, que, assim como os EUA, tem uma central de produtos, além de escritório. No hemisfério Sul, a Alpargatas tem operação na Argentina.São 5 mil empregados no exterior. A companhia exporta produtos para cerca de 80 países. Fonte: Almeida (2013). 50 Capítulo 2 A partir das informações disponibilizadas, pode-se concluir que o planejamento da Alpargatas envolve longo prazo, investimento em estrutura e articulações de parcerias. Notem que o foco principal contempla entender, de forma profunda, o cenário que a empresa está prospectando para futura atuação, nas palavras de Marcio Utsch: “agora, desenvolvemos um trabalho para entender estes mercados e decidir qual deles será nosso principal no continente”. (ALMEIDA, 2013). Podemos considerar o processo de distribuição física como sinônimo de canal de distribuição? Telles (2002, p.55) distingue os canais de marketing do processo de distribuição física, enfatizando que os canais de marketing constituem a “estrutura administrativa, lógica e operacional de conexão entre produtor e consumidor final ou cliente, que mantém o fluxo do produto de sua origem ao seu destino”. O processo de distribuição responde pelos movimentos físicos do produto no interior dos canais envolvendo o transporte, armazenagem, gestão de estoques e processamento de pedidos. Dessa forma, podemos inferir que as estratégias de canal e gestão de logística estão intimamente relacionadas, mas a “estratégia de canal é muito mais ampla e mais essencial do que a gestão de logística”. (ROSENBLOOM, 2002, p.31). Na estratégia de canal se desenvolve a configuração e operacionalização de contatos em relação à responsabilidade pelo alcance de metas de distribuição da empresa (conforme evidenciado no caseda Alpargatas). Já a logística trata dos fluxos de disponibilização do produto no canal de marketing na hora, lugar, quantidade e condições estabelecidas. O resultado é uma complexa e interligada cadeia que alinha ações para a movimentação de materiais e produtos desde fornecedores até a entrega efetiva aos clientes, por onde fluem matérias primas, produtos intermediários, produtos acabados, informações e dinheiro. Caxito (2011) e Alvarez (2008)analisam que os canais de distribuição envolvem diferentes atores: • Fabricantes–são responsáveis pela produção dos produtos acabados. • Atacadistas– vendem para varejistas ou outros atadadistas: atuam como intermediários para que os fabricantes possam alcançar mercados em que há menor acesso de distribuição. Um atacadista vende para outros intermediários do canal – como varejistas – ou para usuários finais corporativos, mas não para consumidores Estratégias de Trade Marketing 51 finais individuais. São independentes, especializados por linhas de produtos, possuem grande abrangência geográfica, grande quantidade de clientes, tendem a trabalhar com poucos itens de cada linha. • Distribuidores– vendem para varejistas ou outros atacadistas: representam os fabricantes nos diversos mercados para a distribuição dos produtos. • Varejistas– revendem os produtos da cadeia de distribuição (lojistas – lojas de departamento, hipermercados, lojas especializadas, lojas de conveniência, franquias, vendas por catálogo). • Assistência técnica–prestam serviços de pós-venda. Conforme Novaes (2007, p.36) “o fabricante produz o produto e pode entregar o mesmo para o cliente final através do atacadista, distribuidor, varejista e eventualmente outros intermediários”. Esse conjunto de intermediários que possibilitam a entrega aos clientes compõe o canal de distribuição. Coughlan e outros (2012) enfatizam que existem intermediários especializados que são alocados a um canal no sentido de executar um fluxo específico. Em geral, não há forte envolvimento em relação ao negócio principal:são empresas de seguros, financeiras, operadores logísticos, empresas especializadas em tecnologia da informação, institutos de pesquisa de marketing(responsáveis por gerar inteligência de mercado), entre outros. Nessa mesma linha de argumentação, Telles (2002, p.54) afirma que a estrutura opera orientada para a “ampliação da base de clientes, devendo possuir competência e eficácia no desenvolvimento de conexões e contatos com seus respectivos clientes e fornecedores”. Assim, deve-se assegurar a disponibilização de produtos aos clientes e demanda e escoamento de produtos aos fornecedores. Cônsoli e D’Andrea (2010, p.69) enfatizam que um dos elementos-chave na gestão da cadeia de suprimentos envolve “conhecer explicitamente como a estrutura da rede de agentes está configurada e entendê-la” a partir da avaliação dos seguintes aspectos: • Número de membros na cadeia de suprimentos: caracterizar quais membros são críticos (uma vez que o mapeamento de todos pode ser complexo) para o sucesso da empresa e da cadeia de suprimentos, o que resulta na definição do nível de atenção gerencial e recursos a serem alocados a esses membros. 52 Capítulo 2 • Dimensões estruturais da rede: envolvem a estrutura horizontal, vertical e a posição horizontal da empresa focal entre os pontos extremos da rede. A estrutura horizontal se refere ao número de elos através da rede (tratado como extensão na teoria de canais) e a estrutura vertical envolve o número de clientes e fornecedores em cada elo da rede (tratado como intensidade na teoria de canais). A terceira dimensão, posição horizontal da empresa foco, diz respeito a quão próxima a empresa foco está da fonte inicial de fornecimento, do cliente final ou algum elo intermediário na cadeia de suprimentos. • Diferentes tipos de processos integrados através da cadeia: deve- se ter consciência de que não é apropriado integrar todos os processos de negócios em uma cadeia de suprimentos, mas sim aqueles que mais agregam valor. Especificamente nas atividades de Trade Marketing, quando se trata de ações para distribuidores e/ou varejistas, a integração deve ser considerada, mas não se pode negligenciar a integração também com outros processos de negócios ou áreas funcionais. A cadeia é responsável pela viabilidade do abastecimento de mercados consumidores. Coughlan e outros (2012, p.2) focam na perspectiva da interdependência, enfatizando que o canal de marketing não significa uma única empresa “fazendo seu melhor no mercado – seja ela um fabricante, atacadista ou varejista. Na realidade, há muitas entidades envolvidas no negócio do marketing de canais.Cada membro do canal dependedos outros para fazer seu trabalho”. 1.1 Canais de distribuição Os canais de distribuição, conforme a perspectiva de Caxito(2011, p.124), constituem “os meios utilizados pelas empresas para levarem seus produtos aos seus clientes”. Nessa mesma linha de argumentação, Cônsoli e D’Andrea (2010, p.75) analisam que os canais de distribuição abrangem um “conjunto de organizações envolvidas em disponibilizar produtos e serviços entre produtores e usuários, considerando-se um mesmo produto, sem transformações ou processamento do canal”. Ao longo desta leitura já podemos concluir que o canal de distribuição possibilita a ligação entre o produtor e o consumidor. Assim, cabe o questionamento: qual a função do canal? Estratégias de Trade Marketing 53 Alvarez (2008) analisa que o canal de distribuição como fator de diferenciação estratégica e de sucesso de vendas varia de empresa para empresa, tendo em vista: o tipo de produto comercializado, a importância para o consumidor e a forma de compra que é estabelecida. As situações podem ser observadas no Quadro 2.1, que registra a influência do canal de distribuição conforme a situação de compra e dos tipos de produtos. Quadro 2.1- Influência do canal por tipo de compra e produto Influência do canal Situação de compra Produtos Alta Produtos de compra contínua Produtos de conveniência Compra por impulso Baixo valor unitário de aquisição Setor de alimentos Higiene e limpeza Cosméticos Bebidas e cigarros Produtos farmacêuticos Pequenos produtos domésticos Serviços em geral Média Produtos de compra intermitente Produtos de compra comparada Bens duráveis e semiduráveis Médio/alto valor unitário de aquisição Aparelhos eletrônicos domésticos Vestuário Automóveis Móveis Objetos de decoração Materiais de construção Baixa Produtos de compra especial Produtos não procurados Produtos únicos/absolutamente diferenciados Alto valor unitário de aquisição Obras de arte Alta costura Serviços especializados Aviões, barcos e carros de luxo Fonte: Alvarez (2008, p.34). A partir da exposição no Quadro 2.1 e conforme evidenciado por Coughlan e outros (2012), é possível entender que a estratégia das organizações é dialética, conforme o contexto apresentado nas situações: 54 Capítulo 2 • Compra por conveniência: associada a produtos de consumo contínuo que devem estar disponíveis, em geral para as compras por impulso, uma vez que o cliente é atraído pela exposição no ponto de venda. Na perspectiva do canal de marketing as vendas são incentivadas pelos varejistas e pela abrangência da distribuição. • Bens duráveis ou semiduráveis: há uma influência média do canal, tendo em vista que a compra é decorrente de pesquisa e reflexão sobre a melhor opção, o que pode, inclusive, fazer com que o cliente se desloque para localidades mais distantes visando a melhor negociação. • Produtos de especialidade: o canal exerce baixa influência em relação à presença geográfica, tendo em vista que o próprio cliente se desloca em busca do local no qual os produtos estão disponíveis. Caxito (2011) analisa que a distribuição, se bem realizada, pode gerar vantagem competitiva. Mas o oposto também pode acontecer, ou seja, a distribuição condenar um produto ou até mesmo a organização em decorrência de consequências indesejáveis. Vamos entender, de forma prática, a partir da apresentação do case “Netshoes e a meta das 48 horas” (ANSELMO, 2012), a contextualização de vantagem competitiva a partir da concepção de um cenário focado em eficácia e eficiência na gestão dos canais de distribuição. Nesse caso, a ênfase é o comércio eletrônico e as evidências das parcerias na logística de movimentação e entrega. Netshoes e a meta das 48 horas 03/05/2012 Um dos grandes nomes do e-commerce no Brasil, a Netshoes, já se consagrou no mercado como a maior loja esportiva do mundo eletrônico. Como todo case bem- sucedido, não existe segredo para o seu bom desempenho nesses dez anos de atuação. O sucesso da loja é resultado de muito investimento, estudo de mercado, atenção e respeito com o seu público. A promessa de entrega em 48 horas após a efetuação da compra, independentemente do produto adquirido, é um dos quesitos que atraem os clientes, e também a motivação para o estudo desse caso. A empresa garante 90% das entregas dentro desse prazo. Quando é preciso ampliar essas 48 horas, nos 10% restantes das vendas, Graciela Tanaka, COO da Netshoes, explica que o cliente é informado no momento da compra. “Em certas regiões do País, não é possível fazer a entrega nesse prazo, como uma mesa de bilhar que precisa ir para uma cidade da região Norte. Nesses poucos casos, que requerem um prazo diferente, o consumidor é informado sobre o novo prazo na hora da compra”. Estratégias de Trade Marketing 55 E é exatamente o rigor em cumprir a promessa feita na venda que surpreende clientes e intriga a concorrência. A explicação para tal feito é a integração entre um sistema de back-office robusto e eficiente, a agilidade entre as transações e uma logística de ponta. Graciela reforça essa ideia ao afirmar que “os processos da Netshoes, desde a conclusão do pedido até a entrega, são integrados e constantemente monitorados. Assim, a empresa identifica anomalias e as corrige rapidamente para não interferir na experiência de compra”. Após o cliente efetuar a compra e o pagamento ser confirmado, o Centro de Distribuição tem até duas horas para embalar o produto e despachá-lo. Essa velocidade entre a compra e o empacotamento é muito importante, já que resulta em ganho de tempo para as parceiras logísticas que realizam as entregas. “Outro ponto é o cuidado com os horários de corte. Não deixamos os produtos ‘dormirem’ em nosso centro de distribuição se existe a mínima possibilidade de eles serem despachados no mesmo dia”, ressalta a executiva. Com um Centro de Distribuição próprio de 16 mil m², localizado na Grande São Paulo, a Netshoes inovou ao ser a primeira empresa a implantar um posto avançado dos Correios em seu CD, em novembro de 2010. Dessa forma, foi possível agilizar grande parte das entregas – com um ganho de até 24 horas – já que são realizadas diversas coletas por parte dos Correios durante o dia. Além disso, a Netshoes trabalha com outros parceiros logísticos, tendo à sua disposição um leque de opções para poder escolher a que tem maior condição de cumprir o prazo de entrega de um determinado produto, em determinado lugar. Com uma estrutura logística flexível, a empresa pode colocar o prazo como uma de suas prioridades. “Estamos atentos aos nossos parceiros logísticos e, caso uma transportadora não consiga entregar um pedido dentro do prazo, realocamos para outra empresa parceira que nos dê essa garantia”, afirmou Graciela. Com processos automatizados e bem controlados, em pouco tempo a informação está disponível para a Central de Relacionamento ao Consumidor, que busca esclarecer de forma eficiente e rápida as dúvidas dos clientes. Dessa maneira, é possível oferecer uma melhor experiência no serviço de vendas online. “Conseguimos mensurar os resultados de nosso serviço justamente por controlar todos os processos, abrir um canal direto entre o consumidor e a Netshoes e, com isso, garantir que ele se sinta confortável e seguro”, explicou a COO da empresa. Entendendo o sistema de back-office da Netshoes Um dos fatores que fazem a diferença no sucesso da Netshoes é o seu sistema de back-office bem projetado e construído. Para falar um pouco mais a respeito, convidamos Fabiano Silva, fundador da KPL Soluções, para explicar como o sistema Ábacos faz o trabalho de back-office da Netshoes. 56 Capítulo 2 O sistema de back-office desenvolvido pela KPL interage com um sistema de WMS, ou Sistema de Gerenciamento de Armazém, desenvolvido pela própria Netshoes. Essa interação acontece durante os processos de “picking” e “packing”, para torná-los mais ágeis. Mas antesde isso acontecer há etapas totalmente gerenciadas pelo Ábacos. Fabiano explica que, primeiro, a automatização do fluxo completo de pedidos precisa ser tão dinâmica quanto o comércio eletrônico. Só assim será possível atender o prazo estipulado pela empresa. Nesse fluxo, existe uma série de integrações para que a cadeia completa funcione com agilidade. “Podemos destacar a integração com o site de vendas, com ferramentas de análise de risco para vendas com cartões de crédito, ou mesmo o sistema para subsidiar informações ágeis e confiáveis para que se possa tomar a decisão de aprovação, ou não, do pedido baseado no histórico de compras e no relacionamento com o cliente”, exemplifica. Após aprovação da compra, é preciso ter agilidade no processo de pagamento com as administradoras de cartões de crédito, passando para logística e integração com o software de gestão do Centro de Distribuição, chamado de WMS. Outro ponto importante é a emissão da nota fiscal eletrônica, o que exige uma comunicação eficiente com a Secretaria da Fazenda, incorporando o faturamento no processo logístico. Quando perguntado sobre qual a parte mais crítica com que o sistema tem que lidar, ele alega ser a do distribuidor logístico. “Não há como ter autonomia sobre este processo, mas é importante ter uma ferramenta de monitoramento desse serviço e avaliar a performance desses fornecedores com gestão sobre o rastreamento da mercadoria”, enfatiza Fabiano. A KPL sabe da importância de uma boa comunicação entre a logística e o atendimento, e, por isso, seu sistema Ábacos trabalha de maneira ágil e eficiente para facilitar essa ponte. Como o setor de atendimento é o que está mais próximo do cliente, é ele que capta as suas necessidades, como informações sobre produtos, cancelamentos, trocas, devoluções, reclamações, ou troca de forma de pagamento. Para cada um desses processos, existe uma solução sistêmica que envolve os vários departamentos da Netshoes envolvidos, como atendimento, logística, back-office e financeiro. Nesse quesito, uma ferramenta de work-flow, que é a sequência de passos necessários para que se possa atingir a automação de processos, é indispensável. “Só assim se pode obter um bom atendimento ao cliente com um nível de serviço (SLA) adequado”, afirmou Fabiano. Fonte: Anselmo (2012). Estratégias de Trade Marketing 57 O case da Netshoes reforça a perspectiva de ganho com a integração, conforme evidencia a COO Graciela Tanaka quando se refere aos diferenciais da empresa: “A explicação para tal feito é a integração entre um sistema de back-office robusto e eficiente, a agilidade entre as transações e uma logística de ponta”. Os avanços da Netshoes no sentido de formar uma cadeia de distribuição ficam registrados com a constituição de um“centro de Distribuição próprio de 16 mil m², localizado na Grande São Paulo, a Netshoes inovou ao ser a primeira empresa a implantar um posto avançado dos Correios em seu CD, em novembro de 2010”. Dessa forma, os ganhos internos, decorrentes de uma logística focada na eficiência, associados ao principal parceiro na entrega dos produtos, resultou em diferencial competitivo, alicerçando a estratégia desenvolvida pela empresa em termos de satisfação dos clientes. Megido e Szulcsewski (2002) analisam que a gestão do canal de distribuição representa vantagem competitiva à estratégia empresarial, pois reduz a distância em relação ao consumidor final e permite coletar, ininterruptamente, informações referentes à satisfaçãode necessidades, desejos, gastos, aceitação de determinado produto, marca, empresa, merchandising, embalagem, preço. 1.2 Gestão da distribuição De forma bem simplificada,pode-se definir distribuição como o fluxo de bens e/ ou serviços encaminhados de um produtor a um consumidor ou usuário final. Assim, se refletirmos sobre esse fluxo, logo percebemos que é necessário que se agregue valor em três condições essenciais (DIAS, 2003; PRIDE; FERRELL, 2001): • Utilidade de tempo: em termos práticos significa a disponibilidade dos produtos quando os clientes os querem. Contempla situações como previsões de venda, ciclo de venda, logística (estoques, transportes, armazenagem), ciclo de vida do produto, sazonalidade, comunicações (principalmente quanto à determinação dos prazos de propaganda e/ou promoções de venda). • Utilidade de lugar: gerada quando os produtos se encontram disponíveis onde os clientes desejam comprá-los. A viabilidade está associada ao mapeamento (quantificar os pontos de venda nos diferentes segmentos geográficos) da distribuição, com a respectiva decisão sobre os níveis desejáveis de penetração e ocupação (intensidade de presença e participação de mercado) do mercado, incluído a decisão sobre o tipo de varejo. • Utilidade de posse: diz respeito ao acesso para uso, sendo facultada a entrega imediata ao cliente ou se disponibilizam os mecanismos necessários de guarda para o uso futuro. Envolve 58 Capítulo 2 precificação, pois não é suficiente a intenção de compra por parte do cliente: ele precisa encontrar e ter condições de adquirir o produto, portanto, a política de preços, descontos e financiamentos deve atender ao poder de compra do cliente. A partir dessas evidências podemos entender que o canal de distribuição faz a ligação entre o fabricante e o consumidor;dessa forma, os membros do canal desempenham muitas funções-chave que envolvem: informação, promoção contato, adaptação, negociação, distribuição física e financiamento. (KOTLER; ARMSTRONG, 1998). O fluxo de informações se alinha àsações que envolvem a pesquisa e inteligência de marketing sobre atores e forças do ambiente necessários para planejar e facilitar a troca. Cabe destacar que, com o aumento de incertezas que compradores e vendedores encontram em seus mercados, aumenta-se a necessidade de informações. Produtos e serviços são movidos dos produtores aos consumidores por meio de um conjunto de arranjos transacionais no qual compradores e vendedores estabelecem acordos. (CÔNSOLI; D’ANDREA, 2010). A promoção contempla o desenvolvimento e distribuição de comunicações persuasivas sobre uma oferta. Nos canais de marketing, os fluxos de promoção podem assumir muitas formas, inclusive vendas pessoais por um funcionário ou por uma força externa de vendas (como corretores, consultores ou representantes), propaganda na mídia, promoções de vendas, publicidade e outras ações. Cônsoli e D’Andrea(2010) enfatizam que as atividades promocionais são projetadas para: aumentar a conscientização do produto, informar os compradores potenciais sobre as características e benefícios dos produtos, persuadir os compradores em potencial a realizarem compras. O contato se alinha à perspectiva de se encontrar e comunicar com compradores potenciais. A adaptação permeia as atividades de modelar e adaptar a oferta àsnecessidades do comprador, inclusive no contexto da manufatura. A negociação envolve acordo sobre preço e condições da oferta para que a propriedade ou posse seja transferida. Nessa ação se deve buscar a obtenção de um relacionamento que possa ser duradouro, que leve a novas negociações e que mantenha, ou melhore, o contato entre os envolvidos. A negociação envolve, além da definição de preços, condições de vendas e datas de entrega, bem como a definição das funções que serão desempenhadas pelos intermediários, fornecedores. Em relação à distribuição física, notem que é necessário transportar e armazenar produtos ao longo da cadeia produtiva.Todas essas operações são alinhadas para entrega do material certo, no local certo de operação, no momento e na condição corretos a um custo mínimo. (BALLOU, 1993). Estratégias de Trade Marketing 59 Você sabe o que são modais de transporte? O transporte é uma atividade fundamental na logística, que implica em grande impacto nos custos logísticos, sendo que as principais funções são as de agregar valor de tempo e lugar, uma vez que é possívela utilização de modais diferentes para a realização do transporte. Existem cinco modais: ferroviário, rodoviário (mais utilizado no Brasil), aquaviário, dutoviário (por exemplo, para o transporte de gás) e aéreo. Sobre a importância dos transportes, o COPPEAD (2014) afirma: Sem transportes, produtos essenciais não chegariam às mãos de seus consumidores, indústrias não produziriam, não haveria comércio externo. Qualquer nação fica literalmente paralisada se houver interrupção de seu sistema de transportes, além disso, transporte não é um bem importável. No caso de um país de dimensões continentais como o Brasil, este risco se torna mais crítico. O estudo COPPEAD (2014) aponta que o transporte se configura como uma tendência de ameaça ao crescimento da demanda, decorrente da falta de planejamento e controle, sendo que, portanto, há um possível colapso do sistema em eminência. Ressaltam-se os fatores mais críticos: • Frota rodoviária com idade média de cerca de 17,5 anos; • Locomotivas com idade média de 25 anos; • Estradas em condições péssimas, ruins ou deficientes em 78% dos casos; • Baixa disponibilidade de infraestrutura ferroviária; • Baixíssima disponibilidade de terminais multimodais; • Hidrovias sendo ainda pouco utilizadas para o escoamento de safra agrícola. O Gráfico 2.1 apresenta a composição da matriz de transporte de carga no Brasil. Notem que não há uma distribuição homogênea, sendo que o modal rodoviário demonstra uma total supremacia em relação aos meios utilizados para movimentação de carga. 60 Capítulo 2 Gráfico 2.1 - Composição da matriz de transporte de carga no Brasil em 2008 Fonte: Lambda (2014). O transporte rodoviário se disseminou na década de 50, com a proposição de crescimento e tornou-se a principal forma de movimentação de cargas no país, conforme observamos no Gráfico 2.1. Cabe destacar que apresenta um alcance muito significativo, tendo em vista a rede disponibilizada, com 1.603.031 milhões de Km, porém com apenas 12,4 desse total pavimentado, torna-se caro (se comparado aos outros modais) devido às más condições de conservação das estradas, consumo de combustível, roubo de cargas, entre outras dificuldades. (LAMBDA, 2014). Finalmente, quanto ao fluxofinanceiro necessário, o processo de negociação está sujeito à captação e alocação de fundos, principalmente, destinados para compor estoques em diferentes níveis do canal. Como construir uma vantagem competitiva em canais de marketing? Adicionar valor ao produto por meio da logística de distribuição pressupõe atender às expectativas dos clientes ao menor custo possível. Notem que os fluxos ultrapassam as fronteiras da organização, sendo que esses esforços se estendem às relações interorganizacionais, ao longo de toda a cadeia de suprimentos, até chegar ao consumidor final. (FLEURY; WANKE; FIGUEIREDO, 2009). A partir de exigências diferenciadas, de serviços e características de produtos, é possível determinar níveis distintos e estratégias múltiplas de distribuição para as linhas de produtos. 4,20% 0,40% Rodoviário Ferroviário Aquaviário Dutoviário Aeroviário 13,60% 20,70% 61,10% Estratégias de Trade Marketing 61 Nesse contexto,Ballou (2006, p. 59) defende o conceito de distribuição diferenciada que está alicerçado na perspectiva de que “nem todos os produtos devem ter o mesmo nível em matéria de serviços ao cliente”. Cobra (2007, p.252) enfatiza que o canal pode ser visto como “um sistema comportamental, um sistema econômico, um sistema ecológico e mesmo como um sistema de administração estratégica”. Na perspectiva de um sistema comportamental cabe ponderar que o canal de marketing se constitui, em geral, por um grupo de organizações independentes que operam em conjunto, sendo que esta composição pode se formalizar a partir da celebração de contratos. Notem que o ambiente de dialógico, que envolve poder e comunicação entre pessoas – clientes e membros do negócio – forma relacionamentos. O canal como um sistema social é decorrente das interações, tais como: influências de poder, comunicação, papel, cooperação e conflito. Assim, o sistema social aborda “as relações de interdependência econômica entre empresa”. (COBRA, 2007, p.253). O ambiente de relações é essencialmente condicionado ao contexto da negociação;assim, o canal como um sistema econômico considera a influência do preço, que pode significar maximinar ou minimizar resultados econômicos de compradores e vendedores ao longo da via de distribuição. A análise do ambiente remete à caracterização do canal como um sistema ecológico que considera a interação entre a empresa e seu meio ambiente, sendo que o desempenho do canal de distribuição contempla: capacidade de sobrevivência e de crescimento, de lucratividade e do grau de satisfação do cliente. Assim, Cobra (2007) enfatiza que o sistema ecológico age sobre o canal enfatizando múltiplos objetivos como uma função vital de sobrevivência e de adaptação às forças decorrentes do meio ambiente. E, por fim, o canal analisado sob o enfoque de um sistema de administração estratégica se associa ao elo que interliga a empresa aos seus clientes. Nesse contexto, a tomada de decisões é influenciada pelo desenvolvimento de um planejamento estratégico sistemático que determina objetivos claros a serem alcançados em longo prazo. A escolha de um canal de distribuição, conforme Dornier e outros (2010, p. 303),deve considerar os seguintes parâmetros de análise: • o tipo de canal escolhido afeta todas as outras variáveis no mix de marketing, um dos quais é a distribuição física; • a escolha de canais de distribuição compromete a empresa por um longo período. 62 Capítulo 2 Já a estrutura do canal deve levar em conta, conforme Cônsoli e D’Andrea(2010, p.107), os seguintes aspectos: • Características dos produtos: força das marcas, necessidade de refrigeração, necessidade de trabalho no ponto de venda. • Necessidade de pulverização: algumas empresas precisam colocar seus produtos em praticamente todo o universo de pontos de venda do setor mercearil. Já outras empresas possuem linhas de produtos que entram em um número limitado de pontos de venda, como,por exemplo, linhas de perfumaria voltadas para as classes AB. Dependendo da necessidade de pulverização, determinada estrutura de canal será adequada ou não. • “Custo de servir” clientes diretamente: esse custo varia muito em função do tamanho do negócio de cada produtor. Existem empresas dos mais variados tamanhos no mercado brasileiro, que podem faturar desde algumas dezenas de milhões de reais até ultrapassar bilhões de reais. Quanto maior o tamanho do negócio do produtor, maior a probabilidade de a mesma assumir maior parcela de atendimento direto a seus clientes. A análise desses fatores permite que seja selecionado o tipo de atendimento e estrutura do canal. Dessa forma, podemos concluir que a distribuição física contempla um elemento-chave do marketing: produto, preço, promoção e distribuição dos produtos, sejam bens tangíveis ou intangíveis. 1.3 Classificação dos tipos de distribuição Conforme Dias (2003), a distribuição pode ser direta quando o processo de comercialização ocorre sem a participação de outra pessoal jurídica. Dessa forma, pode ser realizada por meio da venda pessoal ou utilizando o marketing direto (telefonemas/telemarketing, reembolso postal, catálogos ou da internet). Cônsoli e D’Andrea(2010) enfatizam que, no Brasil, a maior parte das empresas realiza suas vendas por meio de atendimento direto e indireto. Isso significa dizer que o produtor (indústria) realiza atendimento direto para um certo número de varejistas (em geral, para as grandes cadeias varejistas como Carrefour, Walmart e Casino, e para redes regionais de varejo consideradas clientes-chave, variando de acordo com as características de cada indústria) e atendimento indireto para um grande número de médios e pequenos varejos por meio de atacadistase/ou distribuidores. Estratégias de Trade Marketing 63 A Figura 2.1 a seguir evidencia a classificação das estruturas de canal de produtores de bens de consumo. Figura 2.1 - Classificação das estruturas de canal Fonte: Cônsoli e D’Andrea (2010, p.108). A figura retrata em três níveis a classificação dos tipos de estrutura de canal. Dessa forma, no primeiro nível temos os fluxos de marketing que um produtor pode transferir para os canais de distribuição (como atacadistas e distribuidores) para o atendimento de determinado grupo de clientes: • Tipo 1 – “nenhum” envolve o atendimento direto, em relação ao qual o produtor não transfere nenhum fluxo de marketing para outros canais de distribuição na transferência de seus produtos para o varejo. • Tipo 2– “alguns” caracteriza o atendimento misto, ou seja, o produtor transfere algum(s) fluxo(s) de marketing para outros canais de distribuição na movimentação de seus produtos para o varejo. • Tipo 3–“todos”alinha o atendimento indireto, no qual todos os fluxos de marketing para o atendimento de um determinado grupo de clientes é encaminhado do produtor para outros canais de distribuição. Fluxos de marketing transferidos pelos produtores para canais de distribuição (atacadistas e distribuidores) para se chegar ao varejo. Nenhum Alguns Todos Canais de distribuição exclusivos Canais de distribuição não exclusivos Empresas que utilizam apenas distribuidores Empresas que utilizam atacados e distribuidores Empresas que utilizam apenas atacados 3.2.1 3.2 3.1 3.2.2 3.2.3 Atendimento direto Atendimento misto Atendimento indireto Deram vida aos distribuidores Nasceram com distribuidores Converteram para distribuidores 64 Capítulo 2 No segundo nível são registrados os tipos de classificação em relação à exclusividade dos canais de distribuição em relação aos quais se atribui a efetivação de contrato único ou múltiplos canais. Nos canais de distribuição exclusiva, os produtores moldam os canais de distribuição para realizar os fluxos de marketing como se fosse a própria empresa atuando. Assim, o canal trabalha com exclusividade para a linha de produtos do produtor, não comercializando nenhum outro produto. Em contrapartida, as empresas concedem áreas geográficas exclusivas, nas quais nenhum outro canal de distribuição pode vender os produtos desse produtor, por isso se considera que os produtores deram vida aos distribuidores, uma vez que nascem com o produto. Nos canais de distribuição não exclusiva,os produtores se utilizam de canais de distribuição que não trabalham exclusivamente para a empresa, sendo essa estrutura utilizada pela maior parte das empresas de bens de consumo. Em geral, nesse modelo, as empresas produtoras requerem do distribuidor exclusividade na sua categoria de produtos, sendo que este pode vender outros produtos que não sejam concorrentes. A contrapartida dos distribuidores é algum tipo de exclusividade, que pode ser de território ou de condição comercial e território. No terceiro nível é registrada a seleção do tipo de canal de distribuição, sendo a seleção alicerçada em atacadistas e/ou distribuidores. O desenho do canal de distribuição é definido em seis fases, conforme evidenciado no Quadro 2.2, apresentado a seguir: Quadro 2.2 - Fases para a construção do canal de distribuição Fase Descrição 1 Envolve reconhecer a necessidade de uma decisão de desenho de canal. Embora haja muitas situações nas quais é óbvia a necessidade tomar decisões de desenho de canal (tais como a introdução de um novo produto), muitas vezes esta necessidade não é tão óbvia. É preciso estar atento às mudanças nas condições internas e externas. 2 Definir e coordenar os objetivos de distribuição que são enunciados explícitos que descrevem o que se espera da distribuição, com foco nos objetivos gerais de marketing. Os objetivos de distribuição devem ser consistentes e coerentes com os objetivos e estratégias gerais de marketing e da empresa. É preciso verificar se há coerência. 3 Especificação das tarefas de distribuição que terão que ser executadas no intuito de atingir os objetivos de distribuição. 4 Desenvolvimento de alternativas de estrutura de canal, a partir de 3 dimensões: número de níveis, intensidade (intensiva, seletiva, exclusiva) nos vários níveis e tipos de intermediários usados em cada nível. Estratégias de Trade Marketing 65 5 Avaliação das muitas variáveis que afetam a estrutura do canal a partir das categorias: mercado, produto, empresa, intermediários, ambientais e comportamentais. 6 Escolha da melhor estrutura de canal para alcançar os objetivos de distribuição. Fonte: Adaptação de Rosenbloom (2002). Dessa forma, a escolha dos canais depende da intensidade de distribuição necessária, ou seja, quanto à amplitude (NOVAES, 2007; COBRA, 1997; ARBACHE et al., 2004; CZINKOTA, 2001): • Intensiva (ou de massa): se aplica a produtos de baixo valor e alto giro que caracterizam o consumo frequente. Assim, o volume comercializado está relacionado à disponibilidade do produto nos pontos de venda. Atinge o maior número possível de pontos de venda e localidades para que a empresa possa capilarizar, ao máximo, a penetração de seus produtos. Esse tipo de canal é ideal para commodities agrícolas ou produtos de baixo custo. Significa que são utilizados todos os intermediários possíveis no nível do canal. • Seletiva: a cobertura de mercado é mais controlada e menos dispendiosa que a cobertura intensiva. Busca eliminar os intermediários com baixo poder de venda. Em termos práticos, nota-se a existência de mais de uma empresa atuando no mesmo nível e em uma mesma região, mas de forma controlada pelo fabricante ou distribuidor. O objetivo é aumentar a capilaridade de venda de um determinado produto. Esse tipo de ação existe para empresas com produtos que necessitem de algum grau de treinamento para a venda. É o caso dos telefones celulares, que podem ser encontrados me diversos tipos de lojas de varejo, porém com prévia habilitação e treinamento por parte da empresa. • Exclusiva: se aplica ao serviço/produto especializado quando apenas uma empresa atua em cada região demarcada pelo fabricante do produto, pois preconiza maior controle dos intermediários. Utilizada quando se destina unicamente à colocação de um produto no mercado ou de um produto e uma empresa no mercado com exclusividade da venda. Ocorre, também, quando uma empresa pretende preservar sua marca com um atendimento personalizado. Esse tipo de ocorrência é muito comum no mundo da moda, no qual existem lojas exclusivas de uma determinada grife e os vendedores passam por um processo de treinamento rigoroso antes de atender ao público. 66 Capítulo 2 Dessa forma,pode-se afirmar que a decisão da amplitude do canal está associada ao tipo de produto comercializado pela empresa que pode ser caracterizado como de consumo frequente, especial, ou que necessita de pesquisa antes da realização da compra (ARBACHE et al., 2004). Coughlan e outros (2012) enfatizam que a distribuição seletiva é uma escolha estratégica que não deve ser confundida com a incapacidade de atrair membros do canal para adotar a marca. Assim, a seletividade faz sentido para: • sustentar um posicionamento premium; • atender a um mercado-alvo restrito; • perseguir uma estratégia de nicho (posicionamento premiumem um mercado-alvo restrito). Czinkota (2001, p. 297) afirma que existem exceções: “em geral a distribuição intensiva está associada à distribuição de bens de conveniência, distribuição seletiva associada a bens de escolha (ou compra comparada) e distribuição exclusiva associada a bens especiais”. Diante dessa perspectiva, pode-se citar como exemplo as canetas BIC e lâminas Gillete, produtos que se constituem em bens de conveniência, portanto negociados por um grande número de intermediários – nível de varejo. Já produtos como eletrodomésticose itens de vestuário, como o jeans Levi’s, contemplam bens de escolha são comercializados por um número menor de varejistas. E, por fim, as especialidades, como carros Rolls-Royce, são vendidas por somente um revendedor em uma área geográfica específica. (CZINKOTA, 2001). Além disso, cabe ressaltar que a formulação de estratégia de distribuição deve considerar as decisões relativas à intensidade, ao uso de canais diretos ou indiretos, aos serviços de intermediários em cada área geográfica e aos planos de implementação. Seção 2 Resolução eficiente de conflito em canais de marketing e distribuição O foco de todos os componentes do canal é o mesmo;porém, embora a meta seja distribuir com eficiência e lucro, os membros podem às vezes discordar em relação aos métodos a serem utilizados para o alcance da meta. Dessa forma, o interesse próprio pode, em algumas situações, gerar atritos e mal entendidos Estratégias de Trade Marketing 67 sobre as expectativas de papéis, sendo que o resultado pode implicar em conflitos que podem atingir todo o canal. Pride e Ferrell (2001) analisam que, para que as organizações individuais funcionem em conjunto, é necessário que cada membro do canal se comunique e entenda claramente as expectativas que são delineadas em relação ao papel a ser desempenhado e os resultados esperados. Nessa perspectiva, podemos entender que a comunicação é o elemento fundamental, sendo que dificuldades e ruídos constituem potenciais conflitos ao longo do canal. Assim, a comunicação ineficaz tende a gerar frustração, mal entendidos e, principalmente, estratégias sem coordenação, podendo resultar em atendimento precário aos clientes. Cobra (2009) enfatiza que as principais causas de conflito entre atacadistas e fabricantes são: • Incompatibilidade de objetivos: o atacadista objetiva o lucro, baseado no volume de vendas, ao passo que o fabricante muitas vezes pretende estabelecer controle sobre o preço de venda ao consumidor, o que nem sempre é possível. O fabricante pode pretender uma venda seletiva para apenas alguns varejistas atendidos pelo atacadista, ao passo que esse objetiva venda a uma ampla e irrestrita gama de clientes. • Papel, posição e domínio: o atacadista exerce papel de grande distribuidor, e por isso ele tende a exercer uma posição de mando e, por conseguinte, domina o mercado em sua região. E isso incomoda o fabricante que perde o comando de suas operações de vendas e, sobretudo, as informações de onde os seus produtos são vendidos. Ao colocar o produto nas mãos do atacadista, o fabricante transfere a responsabilidade da venda e perde o domínio do mercado. • Quebra de comunicação: o atacadista nem sempre mantém o sigilo no lançamento de novos produtos, bem como acerca das condições de comercialização. • Diferença da percepção da realidade: o mercado para o atacadista é bastante fragmentado, por essa razão a sua visão da realidade é micro, ao passo que o fabricante tem uma visão macro. Com visões diferentes da realidade de mercado, podem surgir conflitos de interesse entre o atacadista e o fabricante. • Diferenças ideológicas: fabricantes e atacadistas têm ideologias distintas, o que muitas vezes causa conflito. A visão do atacadista está concentrada no pequeno varejo, e a sua janela é mais estreita 68 Capítulo 2 que a do fabricante. Assim, enquanto o atacadista compra em grandes volumes e vende muito em pequenos volumes, a sua preocupação é não perder venda para não sacrificar o ganho. Já para o fabricante, a visão é da curva ABC de clientes, portanto ele prefere concentrar as vendas em poucos clientes para diminuir o custo de distribuição. Sob óticas distintas, cada qual tem uma ideologia diferente. Neste momento, podemos refletir sobre a possível existência de conflitos entre os canais de marketing e distribuição. Que vantagens podem ser atribuídas na composição do canal de distribuição? Telles (2002, p.56) analisa que, na perspectiva dos clientes, “o valor atribuído pelos compradores, sejam eles clientes empresariais ou consumidores finais, está diretamente associado à facilidade, rapidez e custo envolvidos na aquisição ou reposição de produtos, demandas baseadas em suas necessidades”. Em relação aos fabricantes, conforme Kotler e Keller (2006), as vantagens com a utilização de intermediários se associam aos seguintes aspectos: • muitos fabricantes não dispõem de recursos financeiros para comercializar seus produtos diretamente; • a comercialização direta simples não é viável em alguns casos; • os fabricantes que estabelecem seus próprios canais podem obter um retorno maior se os recursos financeiros forem investidos em seu negócio principal. A Figura 2.2 possibilita o entendimento prático das relações entre fabricante (F) – distribuidor (D) – cliente (C) e do esforço que pode representar a verticalização de atendimento. Curva ABC é uma ferramenta utilizada para determinar os clientes que demandam maior volume financeiro. Assim, reconhecendo claramente quais são os clientes que geram maior repercussão financeira, há uma tendência de se concentrar a atividade no sentido de reduzir os custos de distribuição. Estratégias de Trade Marketing 69 Figura 2.2 - Como um distribuidor reduz o esforço do fabricante Fonte: Kotler; Keller (2006, p. 4). A Figura 2.2 retrata que o esforço exercido por parte do fabricante na situação 1 é muito mais intenso, uma vez que realiza, de forma direta, as entregas. Notem que a complexidade é muito maior que na situação 2, na qual há o intermediário, que estabelece fluxos mais ajustados de entregas aos clientes. Assim, fica evidente que as indústrias sintam-se estimuladas a dividir o trabalho da distribuição de seus produtos com outras empresas, as quais acabam sendo mais especialistas nessa operação do que a própria fabricante. Os motivos que impulsionam esta postura se caracterizam pela: dificuldade de competição, crescente poder que os distribuidores têm, busca incessante das organizações por umaredução de custos em suas operações, corrida alucinada pelo crescimento, que gera conflitos e stress, e busca pelo domínio da tecnologia. (MEGIDO; SZULCSEWSKI, 2002). Ocorre, então, a busca pela concentração no core competence, ou seja, nas competências essenciais. Slack, Chambers e Johnston (2009, p.77) defendem que o estabelecimento de foco significa: Dedicar a cada operação um conjunto limitado, conciso e administrável de objetivos, produtos, tecnologias ou mercados e estruturar políticas e apoiar serviços de modo que focalizem em uma tarefa explícita em vez de em uma variedade de tarefas conflitantes e inconsistentes. Concentrar em um ou dois objetivos específicos e focalizar no equipamento, sistemas e procedimentos das operações para realizar uma gama mais limitada de tarefas resulta em um desempenho substancialmente superior desses objetivos. Diante desta exposição, pode-se concluir que delegar parte do trabalho de venda a intermediários remete à renúncia do controle sobre os fluxos que envolvem a seleção “do como” e “para quem” são negociados. 6 5 4 1 3 2 9 8 2 1 7 6 3 4 5 F F F C C C C C C F F F D 70 Capítulo 2 Nesse contexto, é importante considerarmos que, em relação à distribuição de competências nos canais de distribuição: os recursos são escassos, em geral essas competências podem ser mais bem executadas por especialistas e podem ser trocadas entre os membros dos canais. Quando o fabricante as executa, seus custos sobem e seus preços tendem a subir. Ao mesmo tempo, quando funções são transferidas para intermediários, os custos e os preços tendem a ter uma redução;assim, ao se dividir o trabalho do canal, as várias funções podem ser executadas de forma mais eficiente e eficaz. (KOTLER; ARMSTRONG, 1998). Cônsoli e D’Andrea (2010) enfatizam que as causas de conflitos de canais de distribuição envolvem incongruências de papel, escassezde recursos, incompatibilidade de objetivos, diferenças perceptuais, diferenças de expectativas, dificuldade de comunicação e desacordos de domínio, conforme pode ser observado no Quadro 2.3, apresentado a seguir. Quadro 2.3 - Causas de conflitos de canais Causa de conflito Definição/explicação da causa Incongruências de papel O papel define o conjunto prescrito de comportamentos que um membro de canal deve ter. Representa uma série de atividades e funções que se espera que o membro de canal desempenhe. Assim, um membro de canal deve saber as expectativas sobre seu comportamento, quais são suas responsabilidades específicas e como seu desempenho será avaliado. Escassez de recursos Envolve desacordos entre membros de canal sobre a alocação de recursos valiosos para o alcance de seus objetivos. Incompatibilidade de objetivos Cada membro do canal de marketing possui seus próprios objetivos. Quando esses objetivos são incompatíveis, surgem os conflitos. Pode ser explicado com a teoria do agenciamento (agency theory). Diferenças perceptuais A percepção refere-se ao modo como um indivíduo seleciona e interpreta estímulos do ambiente. O modo como esse estímulo é percebido;no entanto, é geralmente diferente da realidade objetiva. Esses equívocos são muito comuns dadas as diferenças de foco das empresas e o pouco entendimento dos negócios dos outros participantes do canal. Estratégias de Trade Marketing 71 Diferenças de expectativa Em geral, os membros de canal criam expectativas sobre o comportamento dos outros membros. Na prática, essas expectativas são predições ou previsões a respeito do comportamento futuro de outro membro de canal. Entretanto, essas previsões podem ser inadequadas, mas o membro de canal que as projetou baseará suas ações com base nos resultados projetados, ocasionando, assim, novos conflitos. Dificuldade de comunicação A comunicação é o veículo para todas as interações entre membros de canal, sejaminteraçõesde cooperação ou de conflito. A falta de compartilhamento de informações, o fluxo lento e a falta de acurácia dificultam a manutenção do relacionamento e conduzem a conflitos. Desacordos de domínio – domínios de mercado Esses conflitos ocorrem quando um membro de canal percebe que outro não está tomando o devido cuidado com suas responsabilidades no domínio adequado. Ex.: desacordos sobre a decisão de fixar preços de venda entre produtores e varejistas; direito ou não de varejistas transferirem produtos do fabricante; ou se o produtor tem direito de especificar exigências de estoques para um distribuidor. Uma das piores fontes de conflito acontece quando os membros de canal são potencialmente concorrentes entre si pelo mesmo negócio, seja uma competição intracanal ouentre canais múltiplos. Fonte: Cônsoli e D’Andrea (2010, p.91). Telles (2002, p.54) analisa que os resultados da formação dos canais de distribuição podem ser avaliados em termos de “aumento de cobertura, expansão de mercado, eficiência da distribuição física, favorecimento do acesso aos produtos por clientes e, simultaneamente, reduções de custo e de preço unitário do produto”. Quanto ao relacionamento, Caxito (2011) enfatiza o marketing de relacionamento no canal de distribuição, o qual reconhece que a limitação de visão em relação ao canal como apenas um meio de transferir o produto. No atual ambiente e de negócios, o canal é visto como parte integrante de uma cadeia que, além de distribuir o produto, agrega-lhe valor. Diante dessa perspectiva, é fundamental reconhecer que o canal não é unilateral, sendo que o foco do relacionamento entre os canais está mudando e tende a deixar o sistema de integração vertical para assumir uma integração horizontal. Essas formas afetam a maneira como o canal é controlado, sendo os relacionamentos determinados, conforme evidência Caxito (2011, p.125),pelos: • controle autoritário: baseia-se na relação unilateral, em que o fabricante impõe suas condições do canal, associada a uma integração vertical; 72 Capítulo 2 • controle contratual: meio bilateral em que as partes fazem um acordo em relação às responsabilidades sobre as atividades; • controle normativo: envolve um compartilhamento das responsabilidades com as partes agindo em igualdade de condições, buscando soluções para atender aos interesses de ambos. Nesse ambiente se fortalece a lógica do processo ganha-ganha, que se alicerça em uma boa articulação entre as partes, considerando o foco de propiciar satisfação aos clientes. Cobra (2007) enfatiza que a cooperação ou o conflito surgem do relacionamento entre os membros de um canal de distribuição a partir de interesses prevalecentes: “[...]se comuns, há cooperação, se discrepantes, conflito. É importante identificar no relacionamento entre eles onde está a fonte de poder; se no fabricante ou nos seus canais de distribuição”. (COBRA, 2007, p. 272). E como minimizar ou eliminar os conflitos no canal de distribuição? Coughlan e outros (2012) analisam que o conhecimento detalhado do desempenho de um fluxo de canal melhora o nível de serviço prestado, auxilia na concepção ou redesenho de canal, ajuda a definir as recompensas aos membros e pode contribuir para gerenciar conflitos de canal. 2.1 Alianças estratégicas em distribuição Ao considerarmos as relações de convergência de objetivos e, por vezes, a existência de conflitos entre os membros que compõem o canal de distribuição, é possível notar a formação de alianças estratégicas, que constitui modelo para se agregar mais valor ao cliente. Coughlan e outros (2012, p.218) definem que, em uma aliança estratégica: Duas ou mais organizações têm conexões (jurídicas, econômicas e/ou interpessoais) que as fazem funcionar de acordo com a percepção de um único interesse compartilhado por todas as partes. Uma aliança é estratégica quando as conexões que vinculam as organizações são duradoras e substanciais, permeando vários aspectos de cada negócio. A participação em uma aliança faz com que cada parte altere seu comportamento para atender os objetivos da aliança. São classificadas de muitas maneiras, como relacionamentos estreitos, parcerias, governança relacional, governança híbrida, semi-integração vertical e relacionamentos comprometidos. Estratégias de Trade Marketing 73 No modelo tradicional de canal de distribuição, as decisões são tomadas individualmente por cada elo da cadeia. Sob esse enfoque, Ballou (2006) analisa que em um ambiente de parceria há constante troca de informações entre os componentes da cadeia de suprimentos em relação a decisões sobre previsões, quantidades dos pedidos, tamanho de embarques, métodos de entrega, tempos de reação para produção. Cabe destacar que “a informação a respeito dessas questões será compartilhada e os resultados, negociados”. (BALLOU, 2006. p. 564). A relação de fidelização entre os elos que compõem a cadeia de abastecimento constitui um processo no qual há uma evolução da interação entre negócios, evolução essa que se alicerça e se aprofunda na continuidade das transações comerciais. Sendo assim,o estreitamento nas relações pode ser maior ou menor dependendo da natureza e da intensidade das negociações. (ZACARELLI et al., 2008). Quanto ao nível de integração, Ballou (2006) aponta diferentes estágios, conforme a Figura 2.3 evidencia a seguir. Figura 2.3 - Níveis de integração na cadeia de suprimentos Fonte:Adaptação de Ballou (2006, p. 560). A Figura 2.3 mostra três níveis de integração entre elos que compõem a cadeia de suprimentos. A estrutura mais rudimentar de interação é desencadeada a partir de situações eventuais, caracterizadas pelas transações logísticas. No segundo nível, a continuidade das relações está estabelecida por meio de contrato de fornecimento. Finalmente, alcançando um patamar mais avançado, há a formação das alianças estratégicas que promovem um estreitamento da relação de negociação, enfatizando um compromisso em relaçãoà busca de objetivos comuns e ao alcance de benefícios mútuos. Aliança Estratégica: relação planejada entre os envolvidos, sendo compartilhados valores, metas e estratégias corporativas, gerando benefícios mútuos. Contratos logísticos: relação especificamente definida, orientada por contrato e dependente do cumprimento, pelo fornecedor, das metas de desempenho definidas pelo contratante. Transações logísticas: relacionamento decorrente de um evento isolado, ou de uma série de eventos isolados. 74 Capítulo 2 Apesar do contexto evolutivo e do alinhamento de objetivos e metas, as alianças podem fracassar. Assim Bowersox e Closs (2008) levantam alguns motivos que levam a esta situação: metas imprecisas, nível inadequado de confiança, promessas infundadas de nível de serviço, incompatibilidade no relacionamento, estrutura operacional fraca e mensuração inadequada. Dias (2003) enfatiza que existe o sistema individualista, no qual cada entidade jurídica (fabricante e/ou atacadista e/ou varejista) se preocupa apenas em planejar sua produção, suas vendas e seus lucros, de forma que vende o produto acreditando que sua obrigação está concluída. Observa-se que nesse sistema não se considera se todos os componentes estão tendo lucro ou prejuízo comercializando o mesmo produto. Sob esse enfoque, a ênfase deve ser na maximização de lucros, bem como do melhor aproveitamento da sinergia administrativa e mercadológica. Na prática, a mudança de paradigma está associada ao investimento na troca de informações de mercado, em previsões de vendas discutidas e planejadas, assessoria administrativa (custos, estoques, treinamento, entre outros aspectos), atividades promocionais cooperadas, etc. A proposta individualista evolui para o sistema vertical integrado, que se caracteriza pela forte integração administrativa e mercadológica entre os componentes do sistema. Essas ligações estão alicerçadas no crescimento do nível de confiança mútua e lealdade entre os parceiros. A partir do conteúdo apresentado, merece destaque o impacto que a Tecnologia de Informações (TI) promove em relação aos canais de distribuição e da moderna logística de suprimentos. Há uma verdadeira revolução dos conceitos e das práticas, que buscam incessantemente tornar a decisão do gestor mais ágil, consistente e com visão em longo prazo. Corroborando esta perspectiva, Fleury, Wanke e Figueiredo (2009, p.185) afirmam que “a disponibilização de TI das vendas coletadas em tempo real no varejo pode permitir um planejamento mais enxuto de diversas operações do fabricante”. Estratégias de Trade Marketing 75 Seção 3 Interfaces potenciais entre a gerência de produto e a gestão de canal Conforme Alvarez (2008), na maior parte das empresas o Trade Marketing está focado na estratégia de posicionamento de produtos e das linhas definidas pelo marketing. Nos pontos de venda, além disso, são considerados clientes e canais no desenvolvimento do portfólio de produtos. Em geral, as consultas envolvem a orientação quanto a produtos que possam ser agregados ao portfólio, sendo que em apenas em algumas empresas o Trade Marketing define linhas de produtos exclusivas para canais e clientes. Cobra (2007) enfatiza que a organização da distribuição com maior eficiência,alicerçada em reduzir custos e aumentar os lucros, é fruto da integração das funções de marketing (compra, venda, estocagem, transporte, padronização e nivelamento de serviços, financiamento, tomada de risco e de informação de mercado) ao sistema de distribuição. Dessa forma, as redes de distribuição devem estar estruturadas a partir das transações de mercado. Assim, “a interação dos elementos do composto de marketing, como desenvolvimento de produto, distribuição, preço e estratégia promocional, deve ser considerada já no estágio de planejamento do sistema de distribuição a ser adotado”. (COBRA, 2007, p. 256). Motta, Santos e Serralvo (2008) analisam que o atual ambiente de negócios leva em consideração o cliente no desenvolvimento de produtos, realidade que vem sendo alterada a partir de mudanças ocorridas no varejo, fazendo com que a indústria desenvolva produtos e embalagens específicas para a necessidade de cada canal. Antes dessa mudança era possível ter o mesmo produto vendido em todos os canais de distribuição. As embalagens são desenvolvidas de forma a satisfazer as necessidades logísticas, de armazenagem e de exposição dos varejistas, assim como o desenvolvimento de produtos específicos para determinados canais, como marcas próprias. O gerente de produto considera, no dia a dia, apenas aspectos voltados ao consumidor, e não ao shopper ou ao varejista. Assim, por exemplo, na definição da embalagem, dizeres e design são muito importantes, mas deixam de ser relevantes se não estiverem visíveis. 76 Capítulo 2 Na gestão de produto, o papel de Trade Marketing é fazer com que as variáveis comerciais sejam consideradas nas decisões de dia a dia. Além disso, outro ponto importante está na elaboração do calendário promocional, que deve seguir a ambição de crescimento da empresa e refletir a estratégia de canal/região. Esse calendário deve ser mantido sempre atualizado e comunicado em todos os níveis da organização. (CÔNSOLI; D’ANDREA, 2010). Alvarez (2008) analisa que a implantação do Trade Marketing envolve a utilização de uma série de ações: • investir recursos para ter um perfeito domínio do conhecimento dos canais e dos clientes; • ter um controle interno sobre as atividades e os resultados obtidos individualmente com os clientes; • desenvolver um sistema de informações integrado com marketing e vendas, de tal forma que possam ser acompanhadas todas as atividades realizadas; • desenvolver uma sistemática de elaboração de planos para os principais clientes e, principalmente, estabelecer um modelo de definição de políticas; • definir objetivos e metas por clientes e canais, os quais sejam resultado de uma interação entre marketing, vendas e Trade Marketing. Diante dessas constatações,é possível concluirmos que a principal ferramenta do Trade Marketingé a informação. Assim, a área de Trade Marketing está sujeita a uma gama significativa de interações, tanto internas quanto externas, o que indica a existência de múltiplos relacionamentos. Vamos entender, por meio do caso apresentado a seguir, a estratégia da empresa Tigre Tubos e Conexões, que busca inovar tanto na comunicação como no portfólio de produtos. Fundada em 1941, em Joinville, no Estado de Santa Catarina, a partir da aquisição de uma fábrica de pentes à base de chifre de boi pelo empresário João Hansen Júnior, hoje a empresa possui 22 fábricas no mundo, sendo 12 localizadas na América Latina. Estratégias de Trade Marketing 77 Tigre quer se aproximar de arquitetos e encanadores – Empresa busca criar relevância entre esses profissionais investindo para se diferenciar e conquistar a confiança dos consumidores Como obter sucesso e se tornar sinônimo de sua categoria com produtos que ficam dentro de paredes, longe da visão dos consumidores? Esse é o desafio que a Tigre tem encarado desde 1960, buscando inovar tanto na comunicação como no portfólio de produtos. A empresa se destaca por ser a primeira a introduzir tubulações de PVC no Brasil e também por ser uma das poucas companhias do setor de construção que soube distanciar o seu produto da comoditização. Um dos pontos mais importantes na estratégia da Tigre é valorizar os revendedores e arquitetos, encanadores e pedreiros, considerados elementos-chave de seu planejamento. Desde 1967, a companhia investe na capacitação desses profissionais, e em 2001 foi lançado o projeto Universidade Tigre, que já atendeu mais de 60 mil pessoas. Apesar do foco nos profissionais, que na maioria das vezes indicam a marca e os produtos a serem utilizados para o cliente, os demais consumidores também não ficam de fora das ações realizadas pela empresa. Em 2011, buscandose aproximar do público feminino, a Tigre lançou um curso de hidráulica para as mulheres. O conteúdo foi formatado para oferecer às consumidoras informações sobre reparos para serem feitos no dia a dia, como torneiras e chuveiros que pingam constantemente ou pias entupidas. Outra forma de se relacionar com os outros públicos foi o curso para síndicos e zeladores de prédios, com o propósito de informar os profissionais sobre como lidar com vazamentos de registros e caixas d’água e outros problemas que possam afetar a estrutura dos edifícios. Ações para gerar relevância nos pontos de venda O crescimento econômico do setor de construção civil nos últimos três anos também beneficiou os negócios da Tigre. Em 2010, a empresa teve o seu melhor desempenho ao faturar R$ 2,6 bilhões. Atualmente, a empresa compreende o setor brasileiro de construção civil em dois campos distintos: o da autoconstrução, formado pelos consumidores comuns, que corresponde de 70% a 75% do mercado total brasileiro, e o formal, composto por construtoras, que constitui em torno de 30% a 25% da demanda nacional. O trabalho desenvolvido nas revendes é muito importante porque muitas vezes os consumidores pretendem adquirir algum produto para construir sua casa ou fazer um reparo, mas não têm conhecimento suficiente para saber qual o material adequado para o trabalho”, explica Guilhermo Bressane, gerente corporativo de marketing da Tigre. 78 Capítulo 2 Presente em tipos diferentes de lojas, como revendas e home centers, a Tigre desenvolve materiais específicos para atender os perfis diversos dos consumidores. Para os que têm menos conhecimento sobre o assunto, a empresa criou materiais de ponto de venda com linguagem mais didática, tornando a informação mais fácil de ser compreendida. Já para lidar com o público profissional, a companhia utiliza uma comunicação mais técnica, como forma de se aproximar. “Ao gerar relevância entre os profissionais que detêm o conhecimento sobre o assunto, a Tigre reforça sua imagem perante os consumidores comuns e esse resultado com certeza será refletido nas vendas da companhia. A marca foi pioneira, não somente em relação ao produto que vende, mas também no modo como dá significado a ele”, ressalta Berenice Ring. Fonte: Adaptação de Martins (2012). A leitura do caso permite inferir que a Tigre delineia públicos-alvo distintos – consumidor/cliente de varejo e a indústria da construção civil – para os quais caracteriza estratégias de marketing específicas. Assim, ao definir claramente as fatias de mercado, é possível determinar ações de marketing, portfólio de produtos, localização de fábricas, pontos de distribuição, entre outros aspectos que se relacionam diretamente à logística. Diante do exposto, avalia-se que a estratégia adotada pela Tigre proporciona um comportamento proativo, bem como integra esforços de vários especialistas, alocados a áreas distintas nas organizações. Deve-se considerar, também, que permite o alinhamento de ações apropriadas ao ambiente de negócio no qual a empresa atua, proporcionando uma conduta sistêmica essencial no momento atual. Seção 4 Detectando oportunidades de negócio nos canais de distribuição Os canais de distribuição, tendo em vista a sua relação dialógica tanto interna quanto externamente, são agentes ativos, estimuladores de demanda, com a competência de prover produtos e serviços em lugar, qualidade, quantidade e preço. Dias (2003) reflete sobre a estruturação do canal de distribuição e conclui que o sistema visa ao longo prazo, tendo em vista que nenhuma empresa muda periodicamente a maneira de distribuir seus produtos e/ou serviços. Dessa Estratégias de Trade Marketing 79 forma,recomenda que sejam analisadas as seguintes questões no sentido de nortear o processo decisório: • Quais são os objetivos de penetração e ocupação de mercado pretendidos? Já foram priorizados e selecionados os segmentos de mercado desejados? • Qual o nível de risco que se tem em mente? Será preferível ter poucos clientes que representem parcela importante do nosso faturamento ou, ao contrário, será dada preferência à atomização dos riscos, trabalhando com o maior número de clientes possível, não permitindo que nenhum deles venha a significar mais do que uma percentagem definida do faturamento previsto (em um mês, por exemplo)? • Qual o posicionamento desejado para nossa marca/produtos? • Como compatibilizar posicionamento com os canais de distribuição? • Qual o nosso objetivo de prestação de serviços aos nossos clientes? E de relacionamento com nossos fornecedores? Como e quanto queremos praticar de cooperação, reciprocidade e trade marketing? • Quais os critérios que utilizaremos para selecionar nossos clientes (intermediários), no caso de optarmos por uma distribuição indireta? Optaremos por distribuição direta ou indireta? O ingresso no mercado internacional, a partir da detecção de oportunidades, deve ser precedido por uma extensa avaliação de estratégia de penetração. Conforme Granato (2003), uma vez identificado o mercado-alvo, a possibilidade de comercializar com o exterior obrigará as empresas a encontrar respostas mais concretas em relação a: • objetivos da empresa nesse mercado (rentabilidade, volume de vendas pretendido); • tipos de produtos destinados a esse mercado(adaptações); • grau de controle que a empresa pretende exercer sobre a sua engenharia de vendas (posicionamento em relação aos níveis de intermediação); • investimentos e orçamento para o desenvolvimento do mercado escolhido; • cultura e hábitos de compra dos consumidores locais; 80 Capítulo 2 • tradição e natureza do mercado alvo; • legislação, aspectos jurídicos e tributários do mercado em análise; • disponibilidade e custos estimados dos serviços de distribuição; • perspectivas da ampliação do market share e crescimento desse mercado; • barreiras tarifárias e técnicas a serem enfrentadas no alcance do mercado indicado. A partir dessas constatações, é necessário definir o formato de comercialização e como serão administrados os canais de distribuição dos seus produtos. Rosenbloom (2002) analisa que, para alcançar seus objetivos de distribuição, qualquer fabricante terá que se concentrar em seis decisões básicas de distribuição: 1. Qual o papel que a distribuição deveria ter nos objetivos e estratégias gerais da empresa? 2. Qual o papel que a distribuição deveria ter no marketing mix? 3. Como os canais de marketing da empresa deveriam ser desenhados para que seus objetivos de marketing fossem atingidos? 4. Quais os tipos de membros de canal deveriam ser selecionados para que seus objetivos de distribuição fossem atingidos? 5. Como gerenciar a organização externa de contatos (canal de marketing) para implementar o desenho de canal da empresa de forma eficaz e eficiente numa base contínua? 6. Como a performance do membro do canal pode ser avaliada? Nota-se que essa concepção que enfatiza uma abordagem estratégica projeta as decisões de distribuição ao início do desenvolvimento da estratégia de marketing e proporciona um conjunto de orientações para sua resolução de uma forma mais proativa ao invés de reativa. A seguir, vamos entender por meio do case da Chilli Beans a formulação da estratégia e o contexto de ampliação de mercado e suas implicações. Estratégias de Trade Marketing 81 O sucesso da Chilli Beans atraiu rivais poderosos 23/04/2014 Caito Maia, dono da Chilli Beans, foi o primeiro a ganhar dinheiro de verdade com óculos de sol no país. Mas seu sucesso atraiu a concorrência estrangeira — que hoje tenta esmagá-lo Caito Maia, da Chilli Beans: é duro competir com Ray-Bans em dez vezes de 29 reais. São Paulo - Em 1997, quando o roqueiro fracassado Caito Maia fundou a Chilli Beans, vender óculos de sol para a classe média brasileira era coisa de camelô. Como sua banda, a Las Chicas Tienen Fuego, teimava em não emplacar, Maia decidiu ganhar
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