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2.ª edição 2009 ENSINO FUNDAMENTAL Fundamentos teóricos e metodológicos do Bertha de Borja Reis do Valle Domingos Barros Nobre Eliane Ribeiro Andrade Eloiza da Silva Gomes de Oliveira Maria Inês do Rêgo Monteiro Bonfim Miguel Farah Neto Rosana Glat Suely Pereira da Silva Rosa Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. © 2003-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza- ção por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. V242 Valle, Bertha de Borja Reis do. (Org.); Nobre, Domingos Barros; Andrade, Eliane Ribeiro. / Fundamentos Teóricos e Meto- dológicos do Ensino Fundamental. / Bertha de Borja Reis do Valle (Org.); Domingos Barros Nobre; Eliane Ribeiro Andrade. 2. ed. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. 308 p. ISBN: 978-85-387-0156-9 1. Educação. 2. Ensino Fundamental. 3. Gestão Democrática. 4. Trabalho Coletivo. 5. Ensino-Aprendizagem. I. Título. II. Do- mingos Barros Nobre. III. Eliane Ribeiro Andrade. IV. Eloiza da Silva Gomes de Oliveira. V. Maria Inês do Rêgo Monteiro Bonfim. VI. Miguel Farah Neto. VII. Rosana Glat. VIII. Suely Pereira da Silva Rosa. CDD 375.21 Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Jupiter Images / DPI Images Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Ja- neiro (UERJ). Professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professora titular da Faculdade de Filosofia Santa Doroteia. Experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente em Formação de Professores, Políticas Públicas, Planejamento e Gestão da Educação. Bertha de Borja Reis do Valle Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense (2005), Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense (1997), especialista em Al- fabetização pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Graduado em Pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais (1987). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação de Jovens e Adultos e Educação Indígena, atuando principalmente nos seguintes temas: educação escolar indíge- na, educação de jovens e adultos, formação de educadores indígenas, formação contínua e currículo. Desenvolve trabalhos de assessoria pedagógica, pesquisa e extensão há 13 anos entre os Guarani Mbya da Aldeia Sapukai, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, nas áreas de Educação, Saúde, Autossustentabilidade e Cultura. Domingos Barros Nobre Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Maria Inês do Rêgo Monteiro Bonfim Eloiza da Silva Gomes de Oliveira Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora adjunta, coordenadora do Laboratório de Estudos da Aprendizagem Humana (LEAH) e do Curso de Pedagogia a distância da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atua na área de Psicologia, com ênfase em Aprendizagem e Desempenho Acadêmicos. Doutoranda em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002), Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1976). Atual- mente, é pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino Médio e em Educação Profissional, atuando principalmente nos seguintes temas: Formação Docente, Ensino Médio e Políti- cas Públicas. Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF-2004), Mestre em Educação pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação - IESAE - da Fundação Getúlio Vargas (FGV-1993), Pós-graduada em Avaliação de Pro- gramas Sociais e Educativos pelo International Development Research Center (1985) e Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura, Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-1978) e em Comunicação Social pela Universidade Estácio de Sá (UNESA-1980). Atualmente é professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ, professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro-UNIRIO e Técnica em Assuntos Educacionais. Tem experiência na área da educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação de jovens e adultos, juventude e políticas públicas. Eliane Ribeiro Andrade Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Miguel Farah Neto Rosana Glat Doutora em Psicologia Social pela Fundação Getúlio Vargas (RJ-1988), Mestre em Psicologia com ênfase em Deficiência Mental pela Northeastern Uni- versity de Boston (1978) e Graduada em Psicolgia pela University of the Pacific da California (1976). Principais temas de investigação incluem Educação Especial / Educação Inclusiva, políticas públicas educacionais para alunos com necessida- des especiais, práticas educativas, formação de professores, deficiência mental, e questões psicossociais relacionadas às deficiências. Suely Pereira da Silva Rosa Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2002). Especialista em Geografia pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1976), licenciatura em Geografia pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1974) e bacharelado em Geografia pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Ja- neiro (1973). Atualmente é técnico em assuntos educacionais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e pesquisador qualificado da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação de Jovens e Adultos e Educação a Distân- cia, atuando principalmente nos seguintes temas: educação de jovens e adultos, políticas educacionais, formação, supervisão e avaliação. Especialista em Supervisão Educacional e Educação, Graduada em Pe- dagogia com habilitação em Supervisão Educacional e Administração Escolar. Professora de Língua Portuguesa e Literatura Portuguesa e Brasileira, autora de textos e livros sobre Educação. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Sumário O Ensino Fundamental e a construção da consciência crítica: a visão de Paulo Freire ............... 17 Histórico do analfabetismo no Brasil ................................ 29 Educação de Jovens e Adultos no Brasil .......................... 45 As políticas públicas para a EJA ........................................................................................... 46 Os debates mais recentes ....................................................................................................... 50 Conclusão ..................................................................................................................................... 53 Os desafios da universalização do Ensino Fundamental ......................................................... 59 A educação dos povos indígenas e o Ensino Fundamental ........................................................ 71 A Educação Inclusiva: Ensino Fundamental para os portadores de necessidades especiais ........................83 Educação Inclusiva: história e legislação .......................................................................... 83 Educação Inclusiva: afinal, do que estamos falando? .................................................. 84 Adaptações curriculares: do que estamos falando? ..................................................... 85 A controvertida avaliação da aprendizagem diante da “diversidade” .................... 88 Concluindo .................................................................................................................................. 90 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br O trabalho coletivo na escola democrática I .................. 99 Revendo a história .................................................................................................................... 99 Em busca de um novo mundo ...........................................................................................101 Construindo um trabalho coletivo ....................................................................................103 Conclusão ...................................................................................................................................105 O trabalho coletivo na escola democrática II ...................111 Organizando a nossa escola: aspectos filosóficos .......................................................112 A questão da gestão ...............................................................................................................114 Criando condições ..................................................................................................................115 Finalizando nosso pensamento .........................................................................................117 O cotidiano escolar no Ensino Fundamental I .............123 Iniciando o nosso cotidiano ................................................................................................124 Finalizando nossa conversa .................................................................................................129 O cotidiano escolar no Ensino Fundamental II ............135 O cotidiano da escola ............................................................................................................135 Opções metodológicas para os anos iniciais do Ensino Fundamental I ......................................147 Introdução .................................................................................................................................147 Alternativas possíveis ............................................................................................................147 Trabalho individualizado ......................................................................................................148 Trabalho coletivo .....................................................................................................................150 Começando a “fechar” nosso pensamento ....................................................................152 Opções metodológicas para os anos iniciais do Ensino Fundamental II ....................................................159 Diferentes linguagens............................................................................................................159 Espaços escolares e comunitários .....................................................................................161 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br O material escolar ...................................................................................................................162 O dever de casa e o dever da sala de aula ......................................................................164 Concluindo ................................................................................................................................165 Avaliação da aprendizagem escolar ................................171 Avaliar: sempre um dilema ..................................................................................................171 Avaliando a aprendizagem ..................................................................................................172 Os erros mais comuns na avaliação da aprendizagem ..............................................178 A avaliação institucional da escola ..................................187 Avaliação institucional: modismo ou prioridade? .......................................................187 As principais iniciativas do Estado avaliador .................................................................190 Princípios da avaliação institucional ................................................................................193 O que avaliar na escola ..........................................................................................................193 Avaliação interna e externa .................................................................................................194 Concluindo ................................................................................................................................196 O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) ..................................................205 Saeb 2001: O que foi avaliado? Que instrumentos foram utilizados? ..................208 Saeb 2001: Como vai o Ensino Fundamental? ..............................................................212 Como está a avaliação do Ensino Fundamental atualmente? ................................214 Desafios do ensino-aprendizagem na escola fundamental I .......................................................221 As discussões em torno da função social da escola ....................................................221 O problema substantivo: os excluídos ...........................................................................223 Desafios do ensino-aprendizagem na escola fundamental II ......................................................235 O sistema educacional ..........................................................................................................235 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Desafios do ensino-aprendizagem na escola fundamental III ....................................................247 Fatores determinantes da exclusão oriundos da escola ...........................................247 Fatores determinantes de exclusão oriundos das famílias ......................................251 Financiamento do Ensino Fundamental ........................259 Formação de professores para o Ensino Fundamental ................................................271 Os cenários de formação de professores ........................................................................272 As bases legais para a formação de professores ..........................................................276 Gabarito Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Apresentação Prezado (a) aluno (a) Você está recebendo os textos relativos à disciplina Fundamentos Teóri- co e Metodológicos do Ensino Fundamental, nos quais iremos dialogar sobre as bases teóricas e as metodologias que apoiam o Ensino Fundamental para crian- ças, jovens e adultos. Este material é o resultado de estudos, pesquisas e discussões de um grupo de professores universitários da cidade do Rio de Janeiro, com larga experiência em escolas de Ensino Fundamental que, sob aminha coordenação, organizaram os textos que você lerá e as atividades que você realizará, complementados pelos vídeos que planejamos. São eles: Domingos Barros Nobre Eliane Ribeiro Andrade Eloiza da Silva Gomes de Oliveira Maria Inês do Rêgo Monteiro Bonfim Miguel Farah Neto Rosana Glat Suely Pereira da Silva Rosa Você verá que, desde a primeira aula, que nos traz um pouco de reflexão sobre as ideias do educador Paulo Freire, tão admirado por educadores do mundo inteiro, até à última aula que remete as leituras para a questão da formação dos professores de nosso país, tivemos a intenção de contribuir para sua formação como professor-educador. Você se informará e, provavelmente, fará muitas reflexões, sobre o histó- rico do analfabetismo em nosso país, a problemática da Educação de Jovens e Adultos e os desafios para a universalização do Ensino Fundamental para todos os cidadãos, em qualquer idade. A educação dos povos indígenas, a educação inclusiva, o cotidiano das salas de aula do Brasil, utilizando diferentes alternativas metodológicas, enfati- zando a gestão democrática das escolas e a importância do Projeto Político Peda- gógico foram temas abordados em diferentes momentos dos vários textos. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br É claro que não poderíamos deixar de abordar as discussões sobre a ava- liação da aprendizagem e a avaliação institucional das escolas, bem como as avaliações nacionais realizadas pelo Ministério da Educação. A escola brasileira apresenta muitos desafios para que realmente promova a difusão do conhecimento e a construção de uma sociedade mais justa e demo- crática, onde todos aprendam, possam ter acesso ao mundo do trabalho e con- tribuam para o crescimento social de nosso país. Esses desafios foram analisados em várias aulas. No bojo dessas discussões, o financiamento da educação básica, especifi- camente do Ensino Fundamental, que é o foco de nossas aulas, não poderia deixar de ter alguns esclarecimentos para vocês, que estão começando uma carreira de tanta importância social como é a do magistério. Espero que este estudo possa contribuir de forma interessante e organiza- da para a sua formação como professor do Ensino Fundamental, seja para crian- ças, para jovens e adultos ou para escolas indígenas, ou ainda para pessoas com necessidades educativas especiais. Seja sempre um educador consciente de seu papel social, comprometido com as gerações futuras. Bertha de Borja Reis do Valle Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Eliane Ribeiro Andrade Miguel Farah Neto A educação de adultos torna-se mais que um direito: é a chave para o século XXI; é tanto consequência do exercício da cidadania como condição para uma plena partici- pação na sociedade. Além do mais, é um poderoso argumento em favor do desenvolvi- mento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça. V, Confintea, 1997 A Educação de Jovens e Adultos (EJA), na atual Lei de Diretrizes e Bases (9.394/96), é compreendida como uma modalidade dos ensinos Funda- mental e Médio, destinada àqueles que não tiveram garantidos na idade adequada o acesso e a permanência nessas etapas da Educação Básica. Dessa forma, a lei expressa um entendimento da educação destinada aos jovens e aos adultos que vai além da garantia da alfabetização e das séries iniciais do Ensino Fundamental. Embora assegurada em lei, a história vem mostrar que, apesar de uma produção de discursos veementes e esfuziantes, voltados principalmente para a educação fundamental de toda a população, o lugar ocupado pela Educação de Jovens e Adultos no Brasil é reduzido, marginal e tratado em segundo plano no cenário das políticas públicas para a educação. Essa tra- jetória da EJA pode ser identificada pela escassez dos recursos financeiros e materiais disponíveis para a área, como também por práticas profunda- mente compensatórias, assistencialistas, aligeiradas, mecanicistas, com re- sultados não tão satisfatórios, considerando-se inclusive o fato de não se dispor ainda de um acúmulo significativo no campo da avaliação, capaz de legitimar os resultados de muitas das experiências até hoje desenvolvidas. Nos estudos disponíveis são recorrentes as denúncias de inadequação de currículos, conteúdos, métodos e materiais didáticos, que geralmente Os desafios da universalização do Ensino Fundamental Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br 60 Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental reproduzem de forma empobrecida os modelos voltados à educação infanto- -juvenil. Essa história também nos faz observar uma tendência em tratar sujeitos “analfabetos” ou de baixa escolaridade como um grupo homogêneo, sem con- siderar as inúmeras diferenças – de gênero, faixa etária, cor, ocupação, religião, cultura, trajetórias educacionais, situação familiar etc. Sem dúvida, tal trajetória, marcada por diferentes formas de discriminação, pode explicar o difícil processo de legitimação do direito à educação para as populações pobres no Brasil, contribuindo significativamente para a manutenção das desi- gualdades e, consequentemente, para uma recorrente produção de excluídos. De início, cabe esclarecer que a expressão Educação de Jovens e Adultos é bas- tante ampla, incluindo a Educação Básica e a Educação Continuada, e que abran- ge ofertas por meio de canais formais, não-formais e informais. Caracteriza-se também a sua oferta a partir de uma variedade de atores, incluindo o estado, as organizações da sociedade civil e o setor privado, e em sua essência tem a pers- pectiva de permitir às pessoas jovens e adultas satisfazer e ampliar suas necessi- dades básicas de aprendizagem, garantindo o direito à educação àqueles que não tiveram oportunidade de frequentar a escola em idade própria. Entretanto, como tal não pode se equiparar a uma educação compensatória, ou de segunda chance, já que ela tem o seu valor em si. Como ressalta Rosa Maria Torres (2002, p.63): A alfabetização é uma necessidade básica de aprendizagem fundamental e habilitadora para satisfazer outras necessidades básicas de aprendizagem e está localizada no coração da educação básica (de fato, não cabe falar de “alfabetização e educação básica”, como se faz geralmente, pois a primeira está contida na segunda). Mas as necessidades básicas de aprendizagem vão muito mais além da alfabetização. Incluem conhecimentos, informação, habilidades, valores e atitudes necessários para a tomada de consciência e o desenvolvimento pessoal, familiar, comunitário e cidadão no sentido amplo. O conteúdo, o alcance e os meios específicos para resolver tais necessidades básicas de aprendizagem devem definir-se em cada situação específica. Assim, para produzir uma ação educativa com qualidade, é necessário reco- nhecer a alfabetização como parte do Ensino Fundamental, não podendo ser tratada de forma estagnada, sob o risco de provocar a ilusão de que, por meio de ações aligeiradas, fragmentadas e sem continuidade, programas e projetos podem ter contundente sucesso. Deve-se salientar também a necessidade de se tratar a EJA como própria, e não como uma educação que vá suprir, depositar aquilo que ficou faltando ou pela ausência de uma escola na idade própria ou pela evasão da mesma, que dirigiu os dela excluídos a um retornonem sempre tardio, em busca do direito ao conhecimento. Mas deve-se, principalmente, con- siderar as singularidades e propriedades dessa modalidade educacional, levan- do em conta “as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho” (BRASIL, 1996). Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Os desafios da universalização do Ensino Fundamental 61 Outro fator importante, que vem chamando a atenção no cotidiano da EJA, diz respeito à inclusão dos jovens na modalidade de educação de adultos, tratada por muitos anos apenas como educação de adultos e, em alguns momentos da história do Brasil, como educação de adultos e adolescentes. Pode-se reconhecer a impor- tância que esse segmento vem ganhando no debate educacional, com consequên- cias diretas nas práticas educa cionais. Em outras palavras, os jovens aparecem como uma categoria específica para fins educativos, criando novas demandas pedagó- gicas em torno de currículos, didáticas, materiais etc. A inclusão do termo jovens na EJA é, portanto, bastante nova no Brasil, ganhando legitimidade na última LDB 9.394/96. Essa inclusão acompanha uma tendência internacional, principalmente a que se processa na América Latina, como podemos observar a seguir: A preocupação com a juventude e com sua educação (dentro e fora do sistema escolar) passou a ser tema crítico no mundo inteiro. Dentro do sistema escolar formal, a reforma da educação secundária (inferior) passou ou está passando a ocupar um lugar importante na agenda de muitos países no Sul. Fora do dito sistema, proliferam diversos tipos de educação não-formal (educação básica e capacitação técnica e vocacional) dirigidos, sobretudo, aos chamados “jovens desfavorecidos” e, especificamente, a lidar com o problema crescente de evasão escolar e falta de oportunidades de emprego e de trabalho para os jovens. (TORRES, 2002, p. 18) O tema da juventude vem sendo incorporado à discussão da Educação de Jovens e Adultos, particularmente na última década, a partir da constatação da existência de um número cada vez maior de jovens nas classes, fato reconhecido por muitos autores como juvenilização da EJA. Ou seja, hoje, qualquer estudioso do tema vem abordando o fato de que a juventude é um dos grandes protago- nistas das salas de aula, particularmente nos grandes centros urbanos. A grande maioria desses jovens é produto de uma escolarização sem quali- dade, a que muitas crianças e jovens do nosso país estão submetidos. Chama a atenção um novo tipo de exclusão social: antes, as crianças não tinham vagas na escola; hoje, elas entram e não aprendem, repetem ou são empurradas para as séries seguintes, até evadirem. Tornam-se jovens e adultos que receberam apenas um “verniz” de escolarização e um acúmulo de histórias educacionais de fracasso. Cabe destacar que os alunos da EJA não devem ser tratados como um grupo em abstrato, mas devem ser consideradas todas as suas singularidades. Pode-se afirmar que, de uma forma geral, são pobres, excluídos, das periferias, favelas e vilas das grandes cidades, majoritariamente negros, que circulam no espaço escolar inúmeras vezes, após o período reconhecidamente e legalmente reser- vado para a vida escolar, de 6 a 14 anos de idade. Uma das questões centrais que afligem os responsáveis pela Educação de Jovens e Adultos hoje é a composição das turmas, que expressa modificações da estrutura política, econômica, social e cultural do mundo e da sociedade brasileira. A heterogeneidade etária e o caráter cada Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br 62 Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental vez mais urbano dos alunos transformam o perfil de um trabalho que, durante um bom tempo, caracterizou-se pela presença quase exclusiva de adultos e idosos com fortes referências aos espaços rurais. A acentuada mistura entre jovens e adultos e a rurbanização (FREYRE, 1982) de determinadas turmas da educação de jovens e adultos representam desafios que podem transformar-se tanto em dificuldades insolúveis como em potencialidades orientadas para o seu sucesso educativo e social. (CARRANO, 2000, p. 10) Nesse quadro, para entender o grave problema que enfrenta a Educação de Jovens e Adultos no Brasil, é importante remontar ao processo que produz per- manentemente pessoas com baixa escolaridade. Os dados estatísticos nos dão um importante retrato dessa situação. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa em Educação (Inep) mos- tram que 41% dos estudantes não terminam o Ensino Fundamental. De cada grupo de 100 alunos que ingressam na 1.ª série do Ensino Fundamental, 59 con- seguem terminar a 8.ª série desse nível de escolarização e os outros 41 param de estudar no meio do caminho. Para aqueles que entraram no Ensino Médio, a expectativa de conclusão é maior: apenas 74% conseguem terminá-lo. Se concluir o Ensino Fundamental e Médio, separadamente, mostra-se difícil, o caminho da 1.ª série do Fundamental à 3.ª série do Médio é ainda mais árduo. Do total de alunos que entram no nível educacional obrigatório, apenas 40% concluem o Ensino Médio, precisando, para isso, de 13,9 anos, em média. Os dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao ano 2000, indicam que no Brasil havia 16 294 889 analfabe- tos com mais de 15 anos de idade. Tabela 1 – Evolução das taxas de analfabetismo no Brasil IB G E. C en so d em og rá fic o e co nt ag em po pu la ci on al . R io d e Ja ne iro , 2 00 0.Ano/censo % 1920 64,90 1940 56,00 1950 50,50 1960 39,60 1970 33,60 1980 25,50 1991 20,07 1996 14,10 2000 13,06 Na época, o estado com maior número de analfabetos era a Bahia (2 057 907), seguido de São Paulo (1 810 618). A região Norte estava com mais da metade dos analfabetos do país: 8 383 342, seguida pela região Sudeste, 4 316 576. Isso em Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Os desafios da universalização do Ensino Fundamental 63 números absolutos, pois em proporção à população, a maior taxa de analfabetis- mo se encontrava em Alagoas (33,4%), seguida da existente no Piauí (30,5%). A menor taxa de analfabetismo apresentou-se no Distrito Federal (5,7%), seguida de Santa Catarina (6,3%). Tabela 2 – Taxa de analfabetismo na faixa etária de 15 anos ou mais Brasil Taxa de analfabetismo por faixa etária (%) 15 anos ou mais 15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 anos ou mais 13,6 5,0 6,7 8,0 10,2 13,9 29,4 IB G E. C en so d e- m og rá fic o. R io d e Ja ne iro , 2 00 0. O número de mulheres analfabetas no Brasil era um pouco menor do que o de homens. Eram 13,5% da população feminina acima de 15 anos de idade, enquanto a taxa de analfabetismo entre os homens equivalia a 13,8%. Em Ala- goas, 35% dos homens acima de 15 anos de idade e 31,9% das mulheres eram analfabetos. Tabela 3 – Taxa de analfabetismo por sexo (%) Brasil Taxa de analfabetos por sexo (%) Total Masculino Feminino 13,6 13,8 13,5 IB G E. C en so de m og rá fic o. Ri o de Ja ne iro , 20 00 . Na tabela a seguir, observa-se que, em 2000, existia uma grande diferença entre o número de alunos matriculados nas séries iniciais e nas séries mais avan- çadas. Isso decorre de um quadro de exclusão do sistema educacional que se agrava à medida que as faixas etárias avançam. Tabela 4 – Crianças e jovens matriculados na escola Nível de ensino Matrículas Faixa etária (%) Ensino Fundamental 35 717 948 95,5 Médio 8 192 948 32,6 Superior 2 694 245 7,6 B RA SI L. M EC /In ep . Ce ns o es co la r e ce ns o do e ns in o su pe rio r. Br as íli a, 20 00 . Os jovens apresentavam uma taxa de exclusão maior do que as crianças.Enquanto praticamente 95,5% de todas as crianças de 6 a 14 anos estavam no Ensino Fundamental, apenas uma pequena parcela de jovens em idade de fre- quentar uma universidade estava estudando. Em 2000, a faixa de 20 a 24 anos era composta por 16,1 milhões de pessoas e havia 2,6 milhões de alunos matri- culados no nível superior. O ideal seria que uma parcela maior do contingente que ingressa nas séries iniciais permanecesse por mais tempo na escola. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br 64 Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental Tabela 5 – Taxas de transição e distorção idade/série, segundo o nível de ensino (%) Nível Repetência Evasão Distorção idade/série Ensino Fundamental 21,6 4,8 41,4 Ensino Médio 18,6 6,9 51,9 BR A SI L. M EC / In ep . C en so e s- co la r e c en so d o en si no s up er io r. Br as íli a, 2 00 0. A dimensão da exclusão também assume contornos raciais. Enquanto a es- colaridade média de um jovem negro com 25 anos girava em torno de 6,1 anos de estudo, um jovem branco da mesma idade tinha cerca de 8,4 anos de estudo. “A intensidade dessa discriminação racial, expressa em termos de escolaridade formal dos jovens adultos brasileiros, é extremamente alta, sobretudo se lem- brarmos que se trata de 2,3 anos de diferença em uma sociedade cuja escolari- dade média dos adultos é em torno de seis anos” (HENRIQUES, 2002, p.18). Considerando o direcionamento da política educacional da década de 1990, voltada para um investimento maciço na universalização do Ensino Fundamen- tal, a taxa de atendimento escolar chegava à marca de 96,4%, percebendo que o problema ainda está longe de ser resolvido, na medida em que tais índices não estão repercutindo diretamente na educação de jovens e adultos. A premissa da focalização da política educacional voltada para a faixa de 6 a 14 anos (Ensino Fundamental) funda-se na ideia de que colocar todas as crianças na escola estancaria a produção de novos analfabetos ou de pessoas com baixa escolaridade, garantindo assim a universalização tão esperada do Ensino Funda- mental para toda a população. Na verdade, a EJA tem estado restrita à questão do analfabetismo, sem re- lacioná-la com o Ensino Básico como um todo, reproduzindo, mais uma vez, a história da educação de adultos no Brasil. Entender que Alfabetização e Educa- ção Básica são partes indissociáveis de um mesmo processo tem sido o grande desafio na construção de políticas públicas para a EJA no Brasil. Segundo Souza (1999, p. 17), analisando o analfabetismo sob o enfoque de- mográfico, no Brasil, [...] as altas taxas observadas atualmente não estão relacionadas apenas à presença de analfabetos de gerações antigas na população. Além dos aspectos essencialmente relacionados à dinâmica demográfica, há também os relacionados à ineficiência do sistema educacional na determinação das taxas atuais. Em outras palavras, o analfabetismo atual é resultado tanto da insuficiência quanto da demora da melhoria da alfabetização ao longo da segunda metade desse século. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Os desafios da universalização do Ensino Fundamental 65 Nessa perspectiva nós, educadores brasileiros, enfrentamos imensos desafios para ajudar o país a universalizar o Ensino Fundamental para toda a população. Ter acesso ao Ensino Fundamental de qualidade é direito de todos. Texto complementar Educação: os desafios da alfabetização Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a alfabetização é um direito humano fundamental. Mesmo assim, este direito é negado a 14 milhões de adultos no Brasil. Nada menos que 11,1% dos brasileiros com mais de 15 anos não são alfabetizados, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), di- vulgados em setembro de 2007. Em toda a América do Sul, apenas a Bolívia tem um percentual de analfabetos maior que o Brasil. “Os prejuízos sociais decorrentes do analfabetismo são enormes. Existem milhões de pessoas que estão sendo excluídas socialmente, o que é inaceitável no século XXI”, diz Zoraide Faustinoni da Silva, que já foi professora alfabetizadora e hoje é pes- quisadora do Cenpec. O alto índice de analfabetismo verificado no país compromete o cum- primento dos objetivos educacionais definidos pela Unesco para 2015. Um deles é ampliar em 50% a taxa de alfabetização de adultos. Houve avanços, é verdade – entre 1996 e 2006 a taxa de analfabetismo caiu 29,1% –, mas eles têm ocorrido num ritmo considerado insuficiente para que seja possível atingir a meta fixada pela Unesco. “Não adianta fazer planos e estipular obje- tivos para erradicar o analfabetismo se não houver investimento e acompa- nhamento das ações”, enfatiza Zoraide. Um dos principais desafios dessa complexa tarefa de reduzir as taxas de analfabetismo é que o combate precisa ser realizado em duas frentes. “Ao mesmo tempo em que temos uma dívida social com os adultos que não conseguiram se alfabetizar, devemos investir nas novas gerações e melhorar a qualidade do Ensino Fundamental para que a alfabetização se consolide”, Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br 66 Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental explica Zoraide. O problema é que as políticas educacionais têm derrapado nessas duas missões. Criado em 2003 pelo governo federal com o objetivo de erradicar o analfabetismo de jovens e adultos, o programa Brasil Alfabeti- zado vem passando por uma reformulação para combater a evasão e a baixa frequência. Segundo dados do IBGE, em 2005, apenas 3,2% dos analfabetos estavam matriculados em algum curso de alfabetização. Na outra ponta, a alfabetização no ensino regular também enfrenta pro- blemas. Se por um lado a universalização do Ensino Fundamental trouxe grande parte das crianças para as salas de aula, a baixa qualidade do ensino e as condições precárias em que vive essa população vêm impedindo muitos alunos de se escolarizar e se alfabetizar adequadamente. Todos os anos 18% dos alunos que chegam à 4ª série não estão alfabetizados. Outro indicador de que o Ensino Fundamental vai mal é que, de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 40,9% da população anal- fabeta frequentou as salas de aula. Analfabetismo funcional Sem conseguir oferecer a formação necessária para que as crianças apren- dam a ler e escrever com propriedade, as escolas começam a se deparar com um outro problema tão grave quanto o próprio analfabetismo: o analfabe- tismo funcional. Por definição, o analfabeto funcional é aquele que, mesmo sabendo ler e escrever, não tem as habilidades de leitura, escrita e cálculo necessárias para viabilizar seu desenvolvimento pessoal e profissional. No Brasil, o Instituto Paulo Montenegro, em parceria com a ONG Ação Educativa, apura anualmente o Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf ). Os dados de 2007 mostram que 32% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são considera- dos analfabetos funcionais. Apesar da evolução em relação aos números do período entre 2004 e 2005, que atingiam 37%, o número ainda é bastante elevado. Para se chegar aos valores que definem o analfabetismo funcional foram considerados os 7% de analfabetos absolutos e os 25% de pessoas com nível rudimentar de alfabetização, de acordo com o Inaf. O alfabetismo nível rudi- mentar corresponde à capacidade de localizar uma informação explícita em textos curtos e familiares (como um anúncio ou uma pequena carta), ler e es- crever números usuais e realizar operações simples. Contudo as pessoas nessas condições não conseguem ler e compreender textos de média extensão. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaçõeswww.videoaulasonline.com.br Os desafios da universalização do Ensino Fundamental 67 Para a coordenadora de projetos da Ação Educativa, Vera Masagão, mesmo com a diminuição do número de analfabetos funcionais, os dados da pesquisa precisam ser vistos como um alerta para a sociedade. “Os nú- meros contidos no estudo mostram uma pequena melhora, mas é preciso investir de melhor forma em políticas públicas voltadas para a educação e a exclusão. Um dos caminhos para a diminuição do analfabetismo funcional é o aumento de verbas para programas de educação de jovens e adultos. Mas é preciso uma política pró-ativa e de qualidade para isso”, afirma. (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária - CENPEC. Disponível em: <www.cenpec.org.br>. Acesso em: 14 jul. 2008.) Atividades 1. Nesta aula, você teve oportunidade de refletir sobre os cenários da educação de jovens e adultos no Brasil. Agora, responda: como é no seu município o perfil dos alunos das classes de EJA? Que características são mais significati- vas do ponto de vista de gênero, faixa etária, cor, ocupação, religião, cultura, trajetórias educacionais, situação familiar etc.? É possível perceber, nas suas classes, um processo de juvenilização, como aborda o texto? Em caso positi- vo, a que você atribui esse fato? Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br 68 Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental 2. A partir da análise das características sociais e econômicas do seu município, você considera que hoje está havendo uma maior demanda de alfabetização por jovens e adultos do que anteriormente? Caso contrário, a que você atri- bui a não-ampliação da procura por classes de EJA? 3. Em sua formação como educador foram discutidas questões referentes às especificidades dos alunos da EJA, do ponto de vista de suas característi- cas sociais, culturais e econômicas? Que pontos você destacaria como mais importantes para que um educador possa realizar um bom trabalho com jovens e adultos? Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Os desafios da universalização do Ensino Fundamental 69 Dicas de estudo As discussões sobre os desafios da universalização do Ensino Fundamental para todos os brasileiros têm sido o maior objetivo dos Fóruns de Educação de Jovens e Adultos existentes em todo o Brasil. O portal traz todas as notícias sobre essas discussões em cada estado e no Brasil. Basta clicar na bandeira do estado que você deseja pesquisar e as informações serão dadas imediatamente. FÓRUNS DE EJA. Portal dos Fóruns de Educação de Jovens e Adultos. Disponível em: <www.forumeja.org.br/>. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Gabarito Os desafios da universalização do Ensino Funda- mental 1. Essa questão é de cunho investigativo, demandando dos alunos uma busca de informações sobre as políticas municipais e estaduais volta- das para a Educação de Jovens e Adultos. Provavelmente, comprova- rão o que as pesquisas estatísticas do próprio MEC têm apontado. A faixa etária é extensa, incluindo desde adolescentes até pessoas ido- sas, oriundos de escolas públicas. Existem muitos casos de repetência e evasão escolar, a maioria é do sexo masculino e há uma crescente juvenilização dessa população escolar. 2. O aluno deverá responder afirmativamente e a razão principal a ser apontada deverá ser a procura por emprego. 3. O professor de EJA deve partir do vocabulário e das experiências dos seus alunos, utilizando metodologias próprias para o público adulto. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br 2.ª edição 2009 ENSINO FUNDAMENTAL Fundamentos teóricos e metodológicos do Bertha de Borja Reis do Valle Domingos Barros Nobre Eliane Ribeiro Andrade Eloiza da Silva Gomes de Oliveira Maria Inês do Rêgo Monteiro Bonfim Miguel Farah Neto Rosana Glat Suely Pereira da Silva Rosa Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. © 2003-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza- ção por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. V242 Valle, Bertha de Borja Reis do. (Org.); Nobre, Domingos Barros; Andrade, Eliane Ribeiro. / Fundamentos Teóricos e Meto- dológicos do Ensino Fundamental. / Bertha de Borja Reis do Valle (Org.); Domingos Barros Nobre; Eliane Ribeiro Andrade. 2. ed. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. 308 p. ISBN: 978-85-387-0156-9 1. Educação. 2. Ensino Fundamental. 3. Gestão Democrática. 4. Trabalho Coletivo. 5. Ensino-Aprendizagem. I. Título. II. Do- mingos Barros Nobre. III. Eliane Ribeiro Andrade. IV. Eloiza da Silva Gomes de Oliveira. V. Maria Inês do Rêgo Monteiro Bonfim. VI. Miguel Farah Neto. VII. Rosana Glat. VIII. Suely Pereira da Silva Rosa. CDD 375.21 Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Jupiter Images / DPI Images Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Ja- neiro (UERJ). Professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professora titular da Faculdade de Filosofia Santa Doroteia. Experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente em Formação de Professores, Políticas Públicas, Planejamento e Gestão da Educação. Bertha de Borja Reis do Valle Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense (2005), Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense (1997), especialista em Al- fabetização pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Graduado em Pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais (1987). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação de Jovens e Adultos e Educação Indígena, atuando principalmente nos seguintes temas: educação escolar indíge- na, educação de jovens e adultos, formação de educadores indígenas, formação contínua e currículo. Desenvolve trabalhos de assessoria pedagógica, pesquisa e extensão há 13 anos entre os Guarani Mbya da Aldeia Sapukai, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, nas áreas de Educação, Saúde, Autossustentabilidade e Cultura. Domingos Barros Nobre Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Maria Inês do Rêgo Monteiro Bonfim Eloiza da Silva Gomes de Oliveira Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora adjunta, coordenadora do Laboratório de Estudos da Aprendizagem Humana (LEAH) e do Curso de Pedagogia a distância da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atua na área de Psicologia, com ênfase em Aprendizagem e Desempenho Acadêmicos. Doutoranda em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002), Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1976). Atual- mente, é pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino Médio e em Educação Profissional, atuando principalmente nos seguintes temas: Formação Docente,Ensino Médio e Políti- cas Públicas. Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF-2004), Mestre em Educação pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação - IESAE - da Fundação Getúlio Vargas (FGV-1993), Pós-graduada em Avaliação de Pro- gramas Sociais e Educativos pelo International Development Research Center (1985) e Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura, Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-1978) e em Comunicação Social pela Universidade Estácio de Sá (UNESA-1980). Atualmente é professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ, professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro-UNIRIO e Técnica em Assuntos Educacionais. Tem experiência na área da educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação de jovens e adultos, juventude e políticas públicas. Eliane Ribeiro Andrade Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Miguel Farah Neto Rosana Glat Doutora em Psicologia Social pela Fundação Getúlio Vargas (RJ-1988), Mestre em Psicologia com ênfase em Deficiência Mental pela Northeastern Uni- versity de Boston (1978) e Graduada em Psicolgia pela University of the Pacific da California (1976). Principais temas de investigação incluem Educação Especial / Educação Inclusiva, políticas públicas educacionais para alunos com necessida- des especiais, práticas educativas, formação de professores, deficiência mental, e questões psicossociais relacionadas às deficiências. Suely Pereira da Silva Rosa Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2002). Especialista em Geografia pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1976), licenciatura em Geografia pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1974) e bacharelado em Geografia pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Ja- neiro (1973). Atualmente é técnico em assuntos educacionais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e pesquisador qualificado da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação de Jovens e Adultos e Educação a Distân- cia, atuando principalmente nos seguintes temas: educação de jovens e adultos, políticas educacionais, formação, supervisão e avaliação. Especialista em Supervisão Educacional e Educação, Graduada em Pe- dagogia com habilitação em Supervisão Educacional e Administração Escolar. Professora de Língua Portuguesa e Literatura Portuguesa e Brasileira, autora de textos e livros sobre Educação. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Sumário O Ensino Fundamental e a construção da consciência crítica: a visão de Paulo Freire ............... 17 Histórico do analfabetismo no Brasil ................................ 29 Educação de Jovens e Adultos no Brasil .......................... 45 As políticas públicas para a EJA ........................................................................................... 46 Os debates mais recentes ....................................................................................................... 50 Conclusão ..................................................................................................................................... 53 Os desafios da universalização do Ensino Fundamental ......................................................... 59 A educação dos povos indígenas e o Ensino Fundamental ........................................................ 71 A Educação Inclusiva: Ensino Fundamental para os portadores de necessidades especiais ........................ 83 Educação Inclusiva: história e legislação .......................................................................... 83 Educação Inclusiva: afinal, do que estamos falando? .................................................. 84 Adaptações curriculares: do que estamos falando? ..................................................... 85 A controvertida avaliação da aprendizagem diante da “diversidade” .................... 88 Concluindo .................................................................................................................................. 90 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br O trabalho coletivo na escola democrática I .................. 99 Revendo a história .................................................................................................................... 99 Em busca de um novo mundo ...........................................................................................101 Construindo um trabalho coletivo ....................................................................................103 Conclusão ...................................................................................................................................105 O trabalho coletivo na escola democrática II ...................111 Organizando a nossa escola: aspectos filosóficos .......................................................112 A questão da gestão ...............................................................................................................114 Criando condições ..................................................................................................................115 Finalizando nosso pensamento .........................................................................................117 O cotidiano escolar no Ensino Fundamental I .............123 Iniciando o nosso cotidiano ................................................................................................124 Finalizando nossa conversa .................................................................................................129 O cotidiano escolar no Ensino Fundamental II ............135 O cotidiano da escola ............................................................................................................135 Opções metodológicas para os anos iniciais do Ensino Fundamental I ......................................147 Introdução .................................................................................................................................147 Alternativas possíveis ............................................................................................................147 Trabalho individualizado ......................................................................................................148 Trabalho coletivo .....................................................................................................................150 Começando a “fechar” nosso pensamento ....................................................................152 Opções metodológicas para os anos iniciais do Ensino Fundamental II ....................................................159 Diferentes linguagens............................................................................................................159 Espaços escolares e comunitários .....................................................................................161 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br O material escolar ...................................................................................................................162 O dever de casa e o dever da sala de aula ......................................................................164 Concluindo ................................................................................................................................165Avaliação da aprendizagem escolar ................................171 Avaliar: sempre um dilema ..................................................................................................171 Avaliando a aprendizagem ..................................................................................................172 Os erros mais comuns na avaliação da aprendizagem ..............................................178 A avaliação institucional da escola ..................................187 Avaliação institucional: modismo ou prioridade? .......................................................187 As principais iniciativas do Estado avaliador .................................................................190 Princípios da avaliação institucional ................................................................................193 O que avaliar na escola ..........................................................................................................193 Avaliação interna e externa .................................................................................................194 Concluindo ................................................................................................................................196 O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) ..................................................205 Saeb 2001: O que foi avaliado? Que instrumentos foram utilizados? ..................208 Saeb 2001: Como vai o Ensino Fundamental? ..............................................................212 Como está a avaliação do Ensino Fundamental atualmente? ................................214 Desafios do ensino-aprendizagem na escola fundamental I .......................................................221 As discussões em torno da função social da escola ....................................................221 O problema substantivo: os excluídos ...........................................................................223 Desafios do ensino-aprendizagem na escola fundamental II ......................................................235 O sistema educacional ..........................................................................................................235 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Desafios do ensino-aprendizagem na escola fundamental III ....................................................247 Fatores determinantes da exclusão oriundos da escola ...........................................247 Fatores determinantes de exclusão oriundos das famílias ......................................251 Financiamento do Ensino Fundamental ........................259 Formação de professores para o Ensino Fundamental ................................................271 Os cenários de formação de professores ........................................................................272 As bases legais para a formação de professores ..........................................................276 Gabarito Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Apresentação Prezado (a) aluno (a) Você está recebendo os textos relativos à disciplina Fundamentos Teóri- co e Metodológicos do Ensino Fundamental, nos quais iremos dialogar sobre as bases teóricas e as metodologias que apoiam o Ensino Fundamental para crian- ças, jovens e adultos. Este material é o resultado de estudos, pesquisas e discussões de um grupo de professores universitários da cidade do Rio de Janeiro, com larga experiência em escolas de Ensino Fundamental que, sob a minha coordenação, organizaram os textos que você lerá e as atividades que você realizará, complementados pelos vídeos que planejamos. São eles: Domingos Barros Nobre Eliane Ribeiro Andrade Eloiza da Silva Gomes de Oliveira Maria Inês do Rêgo Monteiro Bonfim Miguel Farah Neto Rosana Glat Suely Pereira da Silva Rosa Você verá que, desde a primeira aula, que nos traz um pouco de reflexão sobre as ideias do educador Paulo Freire, tão admirado por educadores do mundo inteiro, até à última aula que remete as leituras para a questão da formação dos professores de nosso país, tivemos a intenção de contribuir para sua formação como professor-educador. Você se informará e, provavelmente, fará muitas reflexões, sobre o histó- rico do analfabetismo em nosso país, a problemática da Educação de Jovens e Adultos e os desafios para a universalização do Ensino Fundamental para todos os cidadãos, em qualquer idade. A educação dos povos indígenas, a educação inclusiva, o cotidiano das salas de aula do Brasil, utilizando diferentes alternativas metodológicas, enfati- zando a gestão democrática das escolas e a importância do Projeto Político Peda- gógico foram temas abordados em diferentes momentos dos vários textos. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br É claro que não poderíamos deixar de abordar as discussões sobre a ava- liação da aprendizagem e a avaliação institucional das escolas, bem como as avaliações nacionais realizadas pelo Ministério da Educação. A escola brasileira apresenta muitos desafios para que realmente promova a difusão do conhecimento e a construção de uma sociedade mais justa e demo- crática, onde todos aprendam, possam ter acesso ao mundo do trabalho e con- tribuam para o crescimento social de nosso país. Esses desafios foram analisados em várias aulas. No bojo dessas discussões, o financiamento da educação básica, especifi- camente do Ensino Fundamental, que é o foco de nossas aulas, não poderia deixar de ter alguns esclarecimentos para vocês, que estão começando uma carreira de tanta importância social como é a do magistério. Espero que este estudo possa contribuir de forma interessante e organiza- da para a sua formação como professor do Ensino Fundamental, seja para crian- ças, para jovens e adultos ou para escolas indígenas, ou ainda para pessoas com necessidades educativas especiais. Seja sempre um educador consciente de seu papel social, comprometido com as gerações futuras. Bertha de Borja Reis do Valle Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Domingos Barros Nobre Enquanto a sociedade nacional vê a alfabetização como a condição essencial para dar educação ao índio – supostamente sem cultura, porque é ágrafo (sem escrita) – a sociedade indígena, se não está demasiadamente deturpada, quere- ria usar a alfabetização como simples técnica suplementar, tirada do branco, mas para resolver os problemas trazidos pelo contato. A alfabetização quer assimi- lar o índio; o índio quer assimilar a alfabetização, mas para não ser assimilado. Muitas das ambiguidades do processo de alfabetização, as condições nas quais se desenvolve, a língua que é usada, provêm desse jogo de tensões. Bartolomeu Meliá Para estudarmos o processo de escolarização das comunidades indígenas, deparamo-nos inicialmente com as questões das culturas em processo de interação. A escola é uma criação da cultura europeia ocidental e, nesse sentido, precisa ser pensada no contexto intercultural em que as socieda- des indígenas vivem. No processo histórico de transformações pelas quais têm passado as sociedades indígenas latino-americanas, podemos, junto com Granero (1996),apontar três grandes “ondas de mudanças”1. A primeira onda, � o encontro colonial, teve como características e consequências o impacto demográfico de etnocídio; a ocupação territorial das aldeias; a redução da população indígena em as- sentamentos nucleados; a perda da autonomia econômica com a população indígena se constituindo em mão-de-obra explorada/ escravizada, assim como a perda da autonomia política; a hege- monia católica no esforço de evangelização e a redefinição das antigas identidades pré-coloniais e surgimento das chamadas identidades coloniais. 1 O conceito de ondas de mudança, em Granero (1996) refere-se ao conjunto de transformações sociais, políticas, econômicas e cultu- rais pelas quais têm passado as populações da Amazônia Indígena. Estão caracterizadas em três grandes períodos históricos e referem- se a seis dimensões nas quais as transformações ocorridas têm maior significado: demografia, territorialidade, economia, política, cul- tura e identidade. Numa análise macro são aplicáveis ao conjunto das populações indígenas brasileiras como um todo. A periodização aqui apropriada e expandida não cobre, entretanto, a complexidade da temática. Algumas experiências de contato permanecem com características de períodos históricos anteriores, por exemplo; e em geral elas se interpenetram. A utilização é apenas para fins didáticos e instrumentais. A educação dos povos indígenas e o Ensino Fundamental Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br 72 Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental A segunda onda, � a expansão capitalista, teve como características e con- sequências a progressiva fragmentação e deslocamento das populações indígenas para zonas mais pobres em termos de qualidade de solos e dis- ponibilidade de recursos; o surgimento de organizações étnicas, supraét- nicas, nacionais; o surgimento de uma diversidade de igrejas protestantes difundindo junto às populações indígenas novas teologias, ideologias e valores morais; a aceleração nos processos de escolarização organizados por evangelizadores católicos e protestantes, em especial do SIL (Summer Institute of Linguistics); o colapso em grande parte das religiões indíge- nas; a generalização do bilinguismo e a perda de maior parte da cultura material neotradicional. A terceira onda, � o processo de globalização, tem como características e consequências o incremento e a intensificação de intercâmbios nas comu- nicações, entre os povos e de produtos; o surgimento de novas configu- rações sociais; os efeitos deslocadores e transnacionalizadores de caráter sociocultural; o surgimento de novos agentes – antropólogos, soció logos, historiadores comprometidos e organizações não-governamentais (ONGs) –; maiores níveis de integração com as sociedades nacionais; a diminuição nos índices de mortalidade infantil e aumento no índice de expectativa de vida; a interrupção do processo de despojo territorial; o envolvimento direto com a economia de mercado, causando impactos nas modalidades de propriedade da terra, no uso dos recursos, nas atividades de subsistên- cia, na organização do trabalho e na vida social e cerimonial; a criação de novas redes de intercâmbio de objetos materiais, conhecimentos e capital simbólico; o surgimento de novos mecanismos e relações de poder social, com transformações no papel das lideranças indígenas; a mercantilização da cultura e identidade indígenas. O processo de globalização atual tem estimulado duas tendências entre as culturas indígenas: uma para a “modernização” e “ocidentalização” e outra para o “fortalecimento da cultura própria” ou a “recuperação das raízes”. É esse índio, envolvido nesse processo, que estamos conhecendo melhor agora e, nesse quadro latino-americano mais amplo, percebemos um processo de se construir o índio, no qual as noções externas sobre a identidade e a cultura indígenas estão influindo nas atuais autorrepresentações dos indígenas. A pre- sença recente de uma educação escolarizada é um produto/processo que traz fortes implicações para a construção da identidade indígena. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br A educação dos povos indígenas e o Ensino Fundamental 73 Conforme Ferreira (1992), a educação escolar indígena no Brasil atravessou historicamente quatro fases distintas, caracterizadas por diferentes encaminha- mentos e diretrizes político-ideológicas. A primeira fase, que coincide com o processo colonizador, esteve basicamente sob a responsabilidade de missionários, com destaque para jesuí tas portugueses. A escolarização era apenas um instrumento de catequese, de cristianização do índio, que frequentemente era “pacificado” e sua mão-de-obra escravizada para ajudar a construir o projeto colonial da coroa portuguesa, apesar de, no Brasil Império, ter-se feito catequese com missionários de origens diversas, como italianos, por exemplo. A segunda fase é marcada pela criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), com o estado brasileiro implementando uma política indigenista de “integração” à sociedade nacional, pois o índio era visto numa condição étnica inferior. “A edu- cação, que a ‘sociedade nacional’ pensa para o índio, não difere estruturalmente, nem no funcionamento, nem nos seus pressupostos ideológicos, da educação missionária. E ela recolhe fracassos do mesmo tipo” (MELIÁ, 1979, p. 48). A terceira fase inaugura-se com a extinção do SPI (fins da década de 1960) e cria- ção da Funai – Fundação Nacional de Assistência ao Índio (Funai – 1967), além da criação de diversas entidades não-governamentais de apoio às causas indígenas, como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi – 1972). No bojo da ditadura mili- tar, a Funai assume uma posição integracionista e de apoio ao capital estrangeiro no país. Com o Estatuto do Índio de 19732, torna-se obrigatória, por lei, a alfabeti- zação em língua nativa nas escolas indígenas. Mas o grande parceiro dos projetos educacionais da Funai nesse período foi o Summer Institute of Linguistics (SIL), que transformou o bilinguismo oficial em “estratégia de dominação e descaracterização cultural” (BORGES, 1997, p. 35), mantendo “os mesmos objetivos civilizatórios dos primeiros catequistas: salvação das almas pagãs” (BRASIL, 1998, p. 108). A quarta fase, que estamos atravessando, iniciou na década de 1980 com o chamado movimento indígena, fruto do surgimento e consolidação de diversas organizações de educadores indígenas3. Faz-se, nessa etapa histórica, a distinção já apontada por Meliá (1979) entre educação indígena e educação para o índio. Educação indígena é aquela educação tradicional, transmitida de geração a geração, que todos os povos elaboram e que fazem parte da sua cultura. Já a 2 Lei 6.001/73, art. 49. 3 Articulação Nacional de Educação (ANE), Comissão dos Professores Indígenas do Amazonas, Roraima e Acre (Copiar), Organização dos Professores Indígenas de Roraima (Opir), Organização dos Professores Kaingang do Brasil, Organização dos Professores Ticuna do Brasil, entre outras. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br 74 Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental educação para o índio é aquele modelo de educação, geralmente escolar, elabo- rado pelos povos não-índios, no nosso caso europeus e agora urbanos, apresen- tado aos grupos indígenas como proposta de educação para seus povos. Temos ainda que diferenciar o conceito de educação do conceito de educação escolar, pois educação é toda ação formativa que os seres humanos produzem quando estão em interação social. Acontece, portanto, em todos os espaços de convívio público: na igreja, no sindicato, em casa, no trabalho, nas relações pes- soais, nas brincadeiras. Nós nos educamos na relação com o outro. Já educação escolaré uma ação intencional, planejada e que ocorre num espaço institucional chamado escola. O que estudamos aqui é, portanto, educação escolar indígena, certo? E não educação indígena, pois a educação indígena é específica de cada povo (no Brasil são cerca de 200 povos indígenas diferentes – chamados etnias). E cada povo elaborou ao longo dos anos sua própria educação. Inicia-se nessa fase, também, um movimento de criação de diferentes experi- ências escolares indígenas e de formação de educadores, apoiados por diversas instituições de assessoria4. A década de 1990, em especial, foi marcada pela aceleração das discussões e propostas legais de regulamentação de educação escolar nas comunidades indígenas a partir da promulgação da Constituição Federal em 1988. Ela asse- gura aos índios o direito à sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, dedicando-lhes um capítulo no título Da Ordem Social 5. No campo da educação, a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – instituiu como dever do estado a oferta de uma educação escolar bilingue e intercultural e uma legislação regu- lamentar – a Resolução do Conselho Nacional de Educação CNE/CEB 3, de 1999, veio estabelecer diretrizes curriculares nacionais e fixar normas para o reconhe- cimento e funcionamento das escolas indígenas. O Plano Nacional de Educação dedica um capítulo à educação escolar indíge- na, prevendo objetivos e metas para os governos: federal, estadual ou municipal, no cumprimento da obrigação do estado. Dentre as metas, estão aquelas rela- cionadas à formação dos educadores indígenas, que têm direito à formação em serviço e em conjunto com a sua escolaridade; estão aquelas relativas à criação da categoria educação escolar indígena e escola indígena nos sistemas estaduais e municipais de ensino. 4 Associação Nacional de Apoio ao Índio (Anaí), Conselho Indígena de Roraima (CIR), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasi- leira (Coiab), Comissão Pró-Índio do Acre e de São Paulo (CPI/AC e CPI/SP), Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), Instituto Socioambiental (ISA), Operação Amazônia Nativa (Opan), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), entre outras. 5 Há diversas legislações complementares tratando do tema: Decreto 1.775, de 8 de janeiro de 1996, sobre processos administrativos de demar- cação de terras indígenas; Decreto 1.141, de 10 de maio de 1994, sobre ações de proteção ambiental, saúde e apoio às atividades produtivas para as comunidades indígenas; Decreto 26, de 4 de fevereiro de 1991, sobre educação indígena; Lei 6.001, de 19 de dezembro de 1973, Estatuto do Índio; Decreto 564, de 8 de junho de 1992, Estatuto da Funai. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br A educação dos povos indígenas e o Ensino Fundamental 75 Soma-se a isso a publicação, pelo Ministério da Educação (MEC), dos Refe- renciais Curriculares Nacionais para as Escolas Indígenas, a atuação do Comitê de Educação Escolar Indígena do MEC, como órgão consultivo das ações do Ministério, além das inúmeras publicações de livros didáticos financiadas pelo MEC. Todo esse quadro trouxe, inevitavelmente, um grande estímulo à discussão sobre escolarização das aldeias, com inúmeros projetos de capacitação de pro- fessores indígenas, sendo realizados no país nos últimos anos, com financiamen- to público e com a participação de secretarias, universidades e ONGs. Aposta-se, no momento, em uma proposta de educação indígena autônoma, diferenciada, bilíngue e intercultural, na qual o diálogo entre as diferentes cultu- ras possa contribuir para o desenvolvimento autossustentável das comunidades indígenas. Mas qual o significado dos conceitos autônoma, diferenciada, bilíngue e inter- cultural nos discursos dos professores indígenas, nos discursos das assessorias e nos discursos oficiais das diferentes Secretarias de Educação e do MEC? Está se falando das mesmas coisas? Em muitos casos, esses conceitos esva- ziam-se de seu conteúdo político, desqualificando a luta dos povos indígenas que se insere num contexto mais amplo de lutas por políticas públicas mais abrangentes. Autônoma pode significar, na prática, apenas um nome indígena à escola es- tadual ou municipal rural. Isso porque a autonomia das escolas indígenas resulta também numa estrutura político-institucional independente dos limites buro- cráticos não-indígenas. Implica rupturas com o modelo hierarquizado e com- partimentado da escola brasileira não-indígena. Será, então, que o processo de escolarização indígena, dentro da lógica burocrática do estado, não conduzirá as comunidades à situação de cidadania regulada, no dizer de Wanderley dos Santos? O que significa repensar a questão: é autonomia ou recolonização? 6 Diferenciada, muitas vezes aplica-se a experiências de adaptação empobreci- das do currículo de Ensino Fundamental não índio, com componentes folclóri- cos e superficiais. Cabe aqui uma questão apontada por D’Angelis: “A escola diferenciada que fa- lamos não é ainda um movimento defensivo? Não precisamos de um movimento ofensivo, afirmativo e lutarmos sim, por uma escola indígena?”7 Porque quando fa- lamos em escola diferenciada ainda estamos utilizando como referência o nosso modelo não-indígena de escola. É diferenciada desta que conhecemos. Estamos 6 Prof.ª Adir Nascimento, da UFMS/Dourados, na Comunicação: Língua Indígena na Escola: Recolonização ou Autonomia?, apresentada no IV Encon- tro Sobre Leitura e Escrita em Sociedades Indígenas, no 13.º Cole, na Unicamp, em julho de 2001. 7 Prof. Wilmar D’Angelis, do IEL/Unicamp em debate após a palestra: Identidade Étnica e Educação Escolar, de Bartolomeu Meliá, no IV Encontro Sobre Leitura e Escrita em Sociedades Indígenas, no 13.º Cole, na Unicamp, em julho de 2001. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br 76 Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino Fundamental com dificuldades de pensar, junto como os professores indígenas, uma escola indígena? Bilíngue, como alertam alguns linguistas, não pode ser simplesmente a alfa- betização em português por um professor não índio, numa comunidade mono- língue de língua indígena; como não pode ser alfabetização em língua indígena numa comunidade falante de português. Há que se considerar a hegemonia da língua portuguesa, em alguns casos, e as situações sociolinguísticas reais de uso social das línguas. Intercultural não é apenas o processo de contato entre as culturas, mas a ne- cessária análise das relações de poder que esse processo produz, em seus com- ponentes econômicos, políticos e sociais. Entretanto, as experiências de escolarização empreendidas no Brasil são bas- tante diversificadas, assumindo contornos próprios de etnia para etnia, e mesmo dentro de uma etnia, apresentam características diferenciadas de uma aldeia para a outra. Não podemos, portanto, falar em uma educação indígena única no país, dada a variedade sociocultural de cada grupo, nem sequer de uma educa- ção indígena guarani. Quanto à formação dos professores, há questões importantes ainda em debate: Quem elabora os currículos para o magistério indígena? Quem forma os formado- res do magistério indígena? Qual a concepção de currículo presente nos cursos de formação? Qual a concepção de escola indígena presente nos currículos? Estas são questões que precisam ser respondidas criticamente, no sentido de se entender os programas de formação como espaços de construção diferencia- dos, e não necessariamente colaborando sempre com a construção da autono- mia da escola indígena. Há um enorme abismo entre currículo de formação e prática pedagógica efe- tiva nas escolas, já que são ações de naturezas distintas, pois entre as atividades formativas e a prática de sala de aula há um grande espaço de mediação e um pro- cesso de
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