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FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO AULA 3 Profª Fernanda Letícia de Souza 2 CONVERSA INICIAL A prática de exercícios físicos é fundamental para a manutenção da saúde e elevação do nível de qualidade de vida. Não há idade para começar – ou para encerrar – e os benefícios proporcionados vão muito além da estética, apesar de este ser um grande motivador para a procura por uma atividade. Pesquisas mostram que o exercício físico é capaz de melhorar até o nosso humor, elevando os níveis de endorfina e baixando os níveis do hormônio do estresse. Ao movimentar o corpo, provocamos em nosso organismo diversas adaptações cardiorrespiratórias, musculares e metabólicas que, somadas, contribuem para o fortalecimento da saúde, da autonomia e da qualidade de vida. Há no mercado diversos tipos de treinamento, e o mundo fitness está sempre se atualizando e lançando novas opções para que não haja desculpa para não praticar exercício. A escolha depende do objetivo de cada um, pois cada tipo de treinamento provoca diferentes respostas e adaptações fisiológicas no organismo. A seguir, veremos as principais adaptações fisiológicas do organismo aos treinamentos aeróbio, intervalado de alta intensidade, de força, concorrente e ao período de polimento. TEMA 1 – ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS INDUZIDAS PELO TREINAMENTO AERÓBIO O treinamento aeróbio, como o próprio nome já diz, é aquele que ativa o metabolismo aeróbio de produção de energia. Como vimos nas aulas anteriores, o metabolismo aeróbio ocorre com a presença de oxigênio nas reações químicas de geração de energia, com os substratos energéticos sendo oxidados nas mitocôndrias durante o ciclo de Krebs. Assim, como o oxigênio demora um tempo para chegar até os músculos em atividade, o treinamento aeróbio se caracteriza por atividades de duração média a prolongada e com intensidade moderada a baixa, para que o metabolismo aeróbio seja ativado e o glicogênio e os lipídios sejam utilizados como substratos energéticos para ressíntese do ATP. Exemplos de treinamento aeróbio são: caminhadas, corridas, natação, esportes coletivos, como o futebol e o basquete, aulas de dança, como zumba, 3 entre outras atividades que mantenham um ritmo e o corpo em movimento por um tempo relativamente mais longo. 1.1 Adaptações cardiorrespiratórias Todo treinamento provoca no organismo adaptações agudas – imediatas – e adaptações crônicas – com efeito a longo prazo. O treinamento aeróbio é responsável por várias adaptações cardiorrespiratórias crônicas, uma vez que sua duração mais prolongada e a utilização do metabolismo aeróbio de produção de energia acabam por ativar com mais efetividade a frequência cardíaca e a captação de oxigênio pelas vias respiratórias. Um dos efeitos desse tipo de treinamento sobre a frequência cardíaca é a redução da frequência cardíaca (FC) de repouso. Uma FC de repouso mais baixa é sinônimo de boa saúde, enquanto uma FC de repouso elevada representa riscos de mortalidade mais elevados. O treinamento aeróbio reduz a FC cardíaca de repouso por meio da melhora do retorno venoso e do aumento do volume sistólico. Durante a prática de um exercício aeróbio, o coração precisa bombear sangue oxigenado para os músculos e sugar o sangue com gás carbônico de volta ao coração para as trocas gasosas no pulmão. Quanto mais treinado o coração estiver para isso, melhor será seu desempenho e menos esforço ele fará para executar suas funções. Assim, o treinamento aeróbio é capaz de provocar as adaptações crônicas de melhora do volume sistólico – bombeamento do sangue pelas artérias – e do retorno venoso – retorno do sangue ao coração pelas veias –, reduzindo a FC de repouso pelo aumento da eficiência do coração. O treinamento aeróbio também melhora a FC pós-exercício, outro fator importante para a diminuição dos riscos de doenças cardíacas. Quanto menor a variação da FC após o exercício, maior é o risco relativo, ou seja, quanto mais rápido a FC retornar ao seu estado pré-exercício, menores serão os riscos para a saúde cardiovascular. O treinamento aeróbio é capaz de melhorar este desempenho também, no entanto, essa adaptação é perdida em poucas semanas se o treinamento for abandonado. O débito cardíaco, que pode ser definido como o volume de sangue bombeado pelo coração em um minuto (FC x volume sistólico), também sofre adaptações positivos ao treinamento aeróbio. Durante o exercício físico, o 4 coração precisa bater mais rápido para levar sangue oxigenado aos músculos. Em pessoas normais, o débito cardíaco aumenta quatro vezes durante o exercício. Já em indivíduos treinados, esse aumento chega a seis vezes em relação ao débito cardíaco de repouso. Associada a essa adaptação, temos a hipertrofia do coração. Como já estudamos, o coração é um músculo e, portanto, pode ser aumentado de volume quando exposto a uma carga de trabalho. Com o trabalho realizado no treinamento aeróbio, o tamanho das câmaras e o volume da massa cardíacas são aumentados, melhorando a eficácia de bombeamento do sangue em até 40% em pessoas treinadas. Por último, mas muito importante, é a adaptação sofrida pelo VO2 máximo. O VO2máx é a capacidade máxima do corpo do organismo de transportar e metabolizar oxigênio durante um exercício físico, constituindo-se na variável fisiológica que melhor reflete o condicionamento aeróbio de um indivíduo. Normalmente, nos primeiros dois meses de treinamento aeróbio, é possível observar um incremento de 5% a 30% no VO2máx. Essa melhora continua ocorrendo no decorrer do treinamento, porém de forma mais lenta. 1.2 Adaptações musculares e metabólicas A principal adaptação muscular sofrida pelo praticante do treinamento aeróbio é o aumento do número de mitocôndrias na fibra muscular. Este aumento é maior nas fibras vermelhas, do tipo I, classificadas como fibras de contração lenta e mais resistentes à fadiga. Por suas características, tais fibras são mais recrutadas no exercício aeróbio e, portanto, sofrem as maiores adaptações, aumentando consideravelmente o número de mitocôndrias em seu interior e melhorando a eficiência da oxidação de carboidratos e lipídios. Como vimos anteriormente, o metabolismo aeróbio de oxidação de substratos energéticos acontece no interior da matriz mitocondrial. No entanto, essa adaptação não ocorre somente nas fibras vermelhas, atingindo também, apesar da menor intensidade, as fibras brancas de contração rápida, que participam no exercício aeróbio. O treinamento aeróbio provoca ainda o aumento da capilaridade muscular, ou seja, da quantidade de capilares (vasos sanguíneos bem finos) ao redor da fibra muscular. Esta adaptação proporciona o aumento da capacidade 5 de difusão do oxigênio durante o exercício, encurtando a distância necessária para que este elemento se difunda no músculo. Como vimos anteriormente, o organismo, durante o exercício físico, utiliza primeiramente o glicogênio (carboidrato) como fonte de energia para a ressíntese do ATP, para depois começar a utilizar os ácidos graxos (lipídios) no metabolismo aeróbio. Por isso, há a indicação de exercícios aeróbios de média a longa duração e intensidade moderada a leve quando o objetivo é o emagrecimento. No entanto, quanto mais treinado aerobicamente for o indivíduo, maior será sua capacidade de metabolizar ácidos graxos no ciclo de Krebs, fazendo com que a queima dos lipídios ocorra mais cedo durante o exercício e o glicogênio seja poupado. Assim, o treinamento aeróbio é capaz de eliminar o excesso de tecido adiposo do organismo, contribuindo para melhor distribuição da gordura corporal e favorecendo um padrão mais saudável. TEMA 2 – ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS ADVINDAS DO TREINAMENTO INTERVALADO DE ALTA INTENSIDADE O treinamento intervalado de alta intensidade, conhecido pela sigla HIIT (do inglês High IntensityInterval Training), é um método de treinamento que envolve sessões de exercícios aeróbios de alta intensidade com intervalos que podem ser ou não ativos. Quando falamos em alta intensidade, estamos falando em executar a atividade a 90% do seu VO2máx, ou seja, é preciso ficar totalmente sem fôlego durante os minutos de exercício aeróbio. Assim, são intercaladas sessões que podem variar de 20 segundos a 1 minuto de exercícios aeróbios (corrida, bicicleta etc.) intensos, com intervalos que podem ser ativos – como uma caminhada bem leve – ou simplesmente descanso parado. O HIIT promete ótimos resultados, mas é preciso que o praticante realmente esteja disposto a dar o seu máximo, caso contrário, o método perde um pouco da eficiência. 2.1 Adaptações cardiorrespiratórias Como o HIIT utiliza curtos períodos de exercícios aeróbios realizados em intensidade máxima, as adaptações cardiorrespiratórias são muito próximas às provocadas pelo treinamento aeróbio. 6 O aumento do débito cardíaco é uma adaptação bastante significativa desse tipo de treinamento, pois os períodos de alta intensidade exigem muito do coração e do sistema respiratório, e o sangue oxigenado precisa chegar muito rapidamente aos músculos em atividade. Já a melhora do VO2máx deve ser a adaptação cardiorrespiratória mais importante proporcionada pelo treinamento intervalado de alta intensidade, uma vez que os períodos de exercício aeróbio são realizados quase no limite da capacidade máxima de captação e de transporte de oxigênio do indivíduo. Como as adaptações do VO2máx são maiores nos primeiros dois meses de um treinamento, os ganhos com o HIIT são realmente impressionantes. Além disso, o fator mais importante do treinamento intervalado é que ele proporciona os ganhos cardiorrespiratórios num intervalo de tempo muito mais curto que o treinamento aeróbio. Os mesmos ganhos de um treinamento aeróbio de 60 minutos realizado 5 vezes na semana podem ser obtidos por um treinamento intervalado de alta intensidade de 27 minutos realizado 3 vezes na semana. 2.2 Adaptações musculares e metabólicas As características únicas do treinamento intervalado de alta intensidade podem proporcionar adaptações musculares específicas tanto no metabolismo não-oxidativo (anaeróbio) como do metabolismo oxidativo (aeróbio). Isso pode ser mais bem explicado se considerarmos uma sessão de treinamento em bicicleta, por exemplo, com a execução de 30 segundos de pedalada de alta intensidade (90% do VO2máx) com intervalos de 4 minutos de recuperação. No primeiro esforço intenso, 80% da energia para ressíntese do ATP será proveniente do metabolismo anaeróbio. No entanto, lá pela terceira sessão de pedalada, cerca de 90% da energia para o suprimento de ATP será proveniente do metabolismo aeróbio. De acordo com Santos e Guimarães, o aumento da contribuição do metabolismo oxidativo durante esforços repetidos de alta intensidade se deve tanto ao aumento da taxa de transporte de oxigênio e de sua utilização, como à redução da capacidade de estimular a produção de ATP por meio da quebra de fosfocreatina e de glicogênio. Assim, o HIIT proporciona adaptações musculares referentes ao metabolismo aeróbio, como o aumento do número de mitocôndrias nas fibras musculares e da efetividade das enzimas mitocondriais que atuam no ciclo de 7 Krebs, melhorando o desempenho do praticante em atividades que dependem exclusivamente do metabolismo oxidativo. Também é capaz de produzir adaptações musculares ligadas ao metabolismo anaeróbio, incrementando a atividade máxima das enzimas que atuam no provimento de energia não- oxidativa e melhorando o desempenho do praticante em sprints e atividades de explosão e potência muscular. Uma adaptação metabólica importante do HIIT é o resultado de expor o organismo, durante as sessões de treino, a um déficit de oxigênio maior do que o sofrido em um exercício moderado ou leve. Após qualquer exercício físico, o organismo passa por um período chamado EPOC – excesso de consumo de oxigênio pós-exercício – para restaurar os níveis de estoque de oxigênio no corpo ao que era antes do exercício. Após o HIIT, o EPOC é maior, o que aumenta o metabolismo e contribui para uma queima de calorias entre 6% e 15% maior que a obtida em um treinamento aeróbio. TEMA 3 – ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS ADVINDAS DO TREINAMENTO DE FORÇA O treinamento de força, também conhecido como treinamento resistido – popularmente, a musculação –, consiste em uma sequência de exercícios divididos por grupamentos musculares, sendo cada exercício repetido em duas ou três séries, geralmente de 8 a 15 repetições em cada série, dependendo do objetivo do treino. Como o tempo de execução de cada série é curto, o treinamento de força utiliza exclusivamente o metabolismo anaeróbio, ou seja, sem a presença do oxigênio na utilização dos substratos energéticos para ressíntese do ATP. Existem basicamente três tipos de treinamento de força: treinamento de resistência muscular localizada (RML), com séries de 15 repetições com carga mais baixa; treinamento de hipertrofia, com séries de 8 a 12 repetições com cargas mais elevadas e treinamento de força pura, com séries de 1 a 6 repetições com carga máxima. Como o treinamento de força utiliza somente o metabolismo anaeróbio, poucas são as adaptações do sistema cardiorrespiratório a esse tipo de treino e, por tal motivo, vamos tratar das adaptações musculares dos treinamentos de resistência muscular localizada (RML) e de hipertrofia. 8 3.1 Adaptações musculares ao treinamento de resistência muscular localizada (RML) O treinamento de resistência muscular localizada, como o próprio nome já diz, tem como objetivo treinar a resistência do músculo. A resistência muscular é a capacidade do músculo para suportar uma determinada carga por mais tempo. Portanto, os treinos de RML são compostos de séries de, pelo menos, 15 repetições com carga moderada. O treinamento de RML é sempre indicado para iniciantes, mesmo que o objetivo do praticante seja a hipertrofia, pois este é considerado um treino preparatório. A primeira adaptação muscular ao treinamento de RML é o ganho de força provocado, principalmente, pelas adaptações neurofisiológicas. As adaptações neurofisiológicas acontecem pelo aprimoramento da relação entre o estímulo do sistema nervoso central e o recrutamento das unidades motoras. Assim, o rápido aumento da força muscular após o início de um treinamento de RML ocorre pela maior frequência de estímulos neuromotores, pela melhora da coordenação intramuscular – diminuição do tempo entre a liberação do potencial de ação e o recrutamento das unidades motoras – e pelo aperfeiçoamento da coordenação intermuscular – com a capacidade de inibir a interferência negativa do músculo antagonista durante a execução de um movimento específico. Além disso, o fortalecimento de tendões e ligamentos, por meio da aplicação de uma sobrecarga nos treinamentos, é outra adaptação importante desse tipo de treino, e justifica sua indicação a principiantes antes do aumento da sobrecarga para um treino de hipertrofia, por exemplo. O treinamento de RML provoca ainda a melhora da definição e do tônus musculares. Esta adaptação ocorre, principalmente, pelo princípio da supercompensação. Chamamos o estado de equilíbrio do corpo humano de homeostase. Todo treinamento tende a gerar um estresse no organismo e este estresse leva à quebra da homeostase. Sempre que a homeostase é quebrada, ocorre um processo adaptativo e a supercompensação é a base de tal adaptação. No treinamento de RML, como em qualquer treinamento de força, há uma depleção dos estoques de glicogênio muscular, pois o metabolismo predominante é o anaeróbio. Assim, após o encerramento do treino, o 9 organismo busca se recuperar e se regenerar para voltar à homeostase o maisrápido possível. No entanto, como uma forma de “segurança”, o corpo não recupera as reservas energéticas ao nível em que estavam antes do estresse provocado pelo treino. Ele faz uma espécie de reserva, armazenando um pouco além dos níveis da homeostase inicial. Assim, após um treino de RML, pelo princípio da supercompensação, o corpo armazena, no interior do músculo exercitado, glicogênio, além do que aquele músculo apresentava antes do treino, melhorando sua definição e aumentando o seu tônus. Para que os benefícios sejam mantidos e melhorados, é importante que um novo estímulo seja aplicado no momento em que o indivíduo está no ponto mais elevado da curva de supercompensação. Caso isso não aconteça, ocorre uma involução e a musculatura volta ao estágio em que estava antes do treino. Veja abaixo um gráfico explicativo do princípio da supercompensação. Gráfico 1 – Supercompensação Fonte: Total Training. Disponível em: <https://www.totaltraining.com.br/post/voc%C3%AA-pula- os-treinos-de-sexta-feira> Acesso em: 25 mar. de 2020. 10 3.2 Adaptações musculares ao treinamento de hipertrofia O treinamento de hipertrofia tem como objetivo hipertrofiar a musculatura do corpo. Portanto, estes treinos são compostos de séries de 8 a 12 repetições com carga elevada. Hipertrofiar significa aumentar o volume das células e, no caso do treinamento de força, das fibras musculares. Assim, a maior adaptação do treino de hipertrofia é o aumento ou ganho de massa muscular. O tamanho médio dos músculos de uma pessoa é determinado, em grande parte, por características hereditárias somadas ao nível de testosterona do organismo, o que explica o volume muscular em homens ser consideravelmente maior do que em mulheres. No entanto, estudos apontam que, com o treinamento adequado, é possível hipertrofiar os músculos em 30% a 60% do volume original. A hipertrofia é resultado do aumento do diâmetro das fibras musculares, que pode acontecer por dois processos: hipertrofia sarcoplasmática e hipertrofia miofibrilar. Algumas pesquisas indicam a possibilidade de, em alguns casos, fibras musculares muito aumentadas pelo treinamento se dividirem ao longo de seu comprimento, formando novas fibras. Este processo é chamado de hiperplasia muscular, mas sua ocorrência ainda não é completamente comprovada cientificamente. A hipertrofia sarcoplasmática é a primeira a acontecer e ocorre pelo aumento das concentrações de nutrientes e enzimas do sarcoplasma da fibra muscular. Como vimos no princípio da supercompensação, durante o treinamento de força ocorre a depleção de glicogênio muscular, fosfocreatina, ATP e alguns íons e, durante a recuperação, o organismo tende a elevar o armazenamento de tais nutrientes e moléculas acima dos níveis em que estavam antes do exercício físico. Dessa forma, o músculo vai aumentando sua capacidade de armazenamento e, consequentemente, seu volume. A hipertrofia miofibrilar é a que de fato buscam os praticantes do treino de hipertrofia. A partir de certo ponto, é necessário o estímulo correto ao músculo e uma dieta proteica equilibrada para que ocorra o anabolismo do tecido muscular e os objetivos propostos sejam alcançados. O treinamento de hipertrofia, com aplicação de cargas elevadas, provoca microlesões nas miofibrilas, gerando um processo inflamatório. A fibra muscular tem, ligada à 11 sua membrana, uma série de células satélites – células que podem se multiplicar e se especializar em diversos tecidos. O processo inflamatório das microlesões provocadas pelo treinamento ativa as células satélites, que se multiplicam e se especializam em mioblastos – células precursoras das fibras musculares –, e se dirigem para as lesões cobrindo as partes lesionadas. Por isso, a dieta rica em proteínas é fundamental. É preciso fornecer aminoácidos essenciais para serem sintetizados nessas novas células musculares – a chamada síntese proteica – aumentando, assim, o volume do tecido muscular naquele local. Apesar do treinamento de força ou treinamento resistido não utilizar diretamente o metabolismo aeróbio e, por esse motivo, não queimar ácidos graxos durante sua execução, uma adaptação metabólica importante deste tipo de treinamento e que auxilia na perda de peso é o aumento da taxa do metabolismo basal. Com o progressivo aumento da massa muscular, o organismo “gastará” cada vez mais energia para manter a massa aumentada, quando em repouso. Durante o repouso, o metabolismo predominante é o aeróbio, com a utilização dos ácidos graxos como principal substrato energético para ressíntese do ATP. Assim, o treinamento de força não ativa a metabolização dos ácidos graxos durante sua execução, mas potencializa a metabolização no repouso para manutenção da massa muscular adquirida. TEMA 4 – ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO CONCORRENTE Treinamento concorrente nada mais é do que a junção, na mesma sessão de treino, de um treinamento de força ou treinamento resistido com um treinamento aeróbio, ou seja, cardiovascular. Já vimos que a especificidade das adaptações pós-treino depende da especificidade do treino praticado. Assim, as características do treinamento são definidas com base nos objetivos do praticante, uma vez que para cada tipo de adaptação apresentada pelo organismo há um tipo de estímulo (treinamento). A grande vantagem do treinamento concorrente parece ser a união de dois tipos de treinamento em uma mesma sessão, o que poderia potencializar os ganhos dos metabolismos anaeróbio e aeróbio em um tempo reduzido de prática. No entanto, alguns autores apontam para o fato de que o treinamento aeróbio poderia interferir nos ganhos de força do treinamento anaeróbio, assim 12 como o treinamento de força poderia interferir negativamente nos ganhos cardiorrespiratórios e adaptações musculares do treinamento aeróbio. 4.1 Adaptações cardiorrespiratórias e musculares Já vimos que o treinamento aeróbio provoca adaptações cardiorrespiratórias como diminuição da FC de repouso, aumento do débito cardíaco e aumento do VO2máx, assim como adaptações musculares relativas à ativação do metabolismo aeróbio, por exemplo, o aumento do número de mitocôndrias na fibra muscular e de sua capilarização. Já o treinamento de força, que utiliza exclusivamente o sistema anaeróbio, provoca uma série de adaptações musculares, como o incremento da atividade das enzimas não-oxidativas, mas, principalmente, o aumento do volume muscular. No treinamento concorrente, o praticante busca aliar todos estes ganhos em uma única sessão de treinamento, realizando um treino aeróbio e um treino de força. Muitos são os estudos que analisam a interferência de um treino sobre o outro, e os resultados apontam para o fato de o treinamento aeróbio interferir mais negativamente no ganho de força do que vice-versa. Muitos estudos apontam a fadiga aguda causada pelo treinamento aeróbio como um dos fatores mais limitantes ao treinamento de força durante uma sessão de treinamento concorrente. Segundo Rosa, “o efeito agudo do exercício aeróbio prejudicaria o grau de tensão desenvolvido durante a sessão de treinamento de força”. Consequentemente, o estímulo para o desenvolvimento de força seria menor quando comparado com a sessão de força não precedida por atividade de caráter aeróbio. Além disso, os estudos apontam que a intensidade do treinamento aeróbio teria ligação direta com a queda de desempenho do treinamento de força, de maneira que uma intensidade moderada – de 60% a 80% do VO2máx – provocaria adaptações mais centrais – cardiovasculares –, causando menos adaptações periféricas – musculares – e interferindo menos do treinamento de força. Quanto ao efeito contrário, interferência do treinamento de força do treinamento aeróbio, os estudos parecem unânimes em apontar que não há uma relação negativa. Muito pelo contrário,o treinamento de força aparentemente potencializa os efeitos e adaptações do treinamento aeróbio. 13 Apesar de tudo isso, muitos atletas e praticantes têm obtido bons resultados com o treinamento concorrente. Tudo depende do objetivo do praticante e das cargas e intensidades prescritas para cada sessão. A determinação da ordem dos treinamentos numa sessão de treinamento concorrente também deve estar ligada diretamente ao objetivo do praticante. Assim, para praticantes que buscam perda de peso, por exemplo, talvez a realização do treinamento de força antes, com depleção considerável dos estoques de glicogênio muscular, possa potencializar a oxidação dos ácidos graxos na sessão de treinamento aeróbio. TEMA 5 – ASPECTOS FISIOLÓGICOS DECORRENTES DO PERÍODO DE POLIMENTO Antes de falarmos das adaptações fisiológicas ocorridas neste período, precisamos entender no que consiste o período de polimento. Este período de treinamento é muito utilizado por equipes ou atletas de alto rendimento e pode ser definido como o treinamento executado no período que antecede uma importante competição. Assim, de acordo com Le Meur, Hausswirtch e Mujika, o período de polimento seria “uma redução progressiva e não-linear da carga de treinamento durante um período de tempo variável que visa reduzir estresses fisiológicos e psicológicos do treinamento diário e otimizar a performance esportiva”. Esse é um período que gera muitas incertezas nos técnicos e profissionais que trabalham com atletas. A maioria dos profissionais trabalha com uma perspectiva de tentativa e erro, procurando ajustar a carga de treino para que haja redução do estresse sem prejuízo das condições físicas e técnicas e sem perdas significativas das adaptações produzidas pelo treinamento. Somente mais recentemente, cientistas esportivos têm aprofundado seus conhecimentos e pesquisas sobre a relação da redução da carga de treinamento no período que antecede competições esportivas importantes com a mudança na performance dos atletas. 14 5.1 Características e adaptações fisiológicas A carga de um treinamento pode ser definida como a combinação de três varáveis principais: intensidade, volume e frequência. Assim, no período de polimento, os profissionais precisam adequar essas variáveis a fim de reduzir os níveis de fadiga física e emocional de seus atletas. Estudos demonstram que reduções de intensidade ou frequência de treinamento no período de polimento não trazem melhoras de performances nas competições. Quanto à intensidade, melhores resultados de performance são obtidos quando a variável é mantida ou até levemente aumentada no período de polimento. Já em relação à frequência, os atletas são beneficiados com a manutenção do número de sessões de treinamento semanais no período de polimento. Assim, o ajuste da carga de treinamento no período de polimento deve ser feito pela variável volume. A redução de 41% a 60% do volume de treino aplicado no pré-polimento traz resultados significativos na performance competitiva, e essa redução é mais eficiente quando feita por meio da diminuição do tempo de cada sessão de treinamento, em vez da redução do número de sessões. É possível identificar três tipos de treinamento no período de polimento: período de polimento linear – queda progressiva e linear da carga de treino –, período de polimento exponencial – queda da carga de treinamento mais acentuada nos primeiros dias –, e período de polimento de degrau – em que se reduz a carga de treino no primeiro dia do período e se mantém esta mesma carga até o final. Já quanto à duração do período de polimento, a maioria dos estudos traz entre 8 e 14 dias como um período capaz de promover resultados significativos na redução da fadiga sem que a performance sofra as consequências negativas de um possível destreinamento. Não há adaptações fisiológicas do organismo específicas ao período de polimento. As análises seguem mais em torno de como recuperar o atleta da fadiga física e psicológica para melhorar a performance na competição sem comprometer adaptações e ganhos conseguidos com o treinamento pré- polimento. Assim, algumas estratégias associadas ao treinamento no período de polimento podem potencializar a redução da fadiga, como a inclusão, nos 15 treinamentos, de rotinas de massagem para recuperação de dor muscular tardia e a utilização de roupas compressivas durante os treinamentos para reduzir o risco de lesões musculares no período que antecede as competições. Além disso, cuidados com a hidratação, que deve ser sempre mantida em nível elevado neste período, e com a alimentação, que deve ser balanceada e ter seu nível calórico reduzido de acordo com a redução do volume de treino, auxiliam na potencialização dos efeitos do período de polimento. Quanto à alimentação, além da redução da ingestão de calorias para evitar alterações indesejadas na composição corporal, é recomendado que, nos dias que antecedem a competição, a ingestão de carboidratos seja aumentada a fim de otimizar os estoques de glicogênio muscular. Por fim, é imprescindível que sejam analisadas as condições do local de competição a fim de utilizar o período de polimento para adaptação a temperaturas elevadas ou muito baixas ou aos efeitos da altitude no VO2máx dos atletas, por exemplo. NA PRÁTICA O conhecimento das adaptações fisiológicas – cardiorrespiratórias, musculares e metabólicas – do organismo aos diversos tipos de treinamento é fundamental para a prescrição do exercício físico mais adequado aos objetivos do praticante. Assim, o primeiro passo para definir uma rotina de treinamento é a anamnese, em que são coletados dados do praticante e traçados os objetivos que se pretendem alcançar com a prática do exercício físico. As adaptações provocadas por cada tipo de treinamento têm relação direta com a bioenergética do exercício físico, ou seja, com o tipo de metabolismo utilizado para o suprimento de energia para a ressíntese do ATP durante o esforço. Tenha sempre em mente que toda prescrição parte do objetivo do praticante, passando pela definição do tipo de treinamento que será aplicado para chegar às adaptações fisiológicas do organismo pretendidas. OBJETIVO TIPO DE TREINAMENTO ADAPTAÇÕES 16 FINALIZANDO Nesta aula, vimos que cada tipo de treinamento provoca diferentes adaptações fisiológicas no organismo. Estas adaptações podem ser musculares, cardiorrespiratórias ou metabólicas e têm relação direta com o tipo de metabolismo utilizado no exercício para a ressíntese do ATP: sistema ATP-CP, metabolismo anaeróbio ou metabolismo aeróbio. A importância da prática de exercício físico para melhora e manutenção da qualidade de vida é indiscutível e todo treinamento trará algum tipo de adaptação positiva ao organismo, seja ele um treinamento aeróbio, intervalado de alta intensidade, de força, concorrente ou de período de polimento, que foram mais profundamente analisados nesta aula. 17 REFERÊNCIAS ALDEMIDA, M. B.; ARAÚJO, C. G. Efeitos do treinamento aeróbico sobre a frequência cardíaca. Rev. Bras. Med. Esporte – v. 9, n. 2, mar./abr. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbme/v9n2/v9n2a06.pdfhttp://www.scielo.br/pdf/rbme/v 9n2/v9n2a06.pdf>. Acesso em: 08 abr. 2020. 21 de março de 2020. CADORE, E. L.; PINTO, R. S.; KRUEL, L. F. M. Adaptações neuromusculares ao treinamento de força e concorrente em homens idosos. Revista Brasileira e Cineantropometria e Desempenho Humano, v. 14m n. 4, Florianópolis, 2012. Disponível em: < <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1980- 00372012000400012&script=sci_arttext >. Acesso em: 08 abr. 2020.Acesso em 21 de março de 2020. LE MEUR, Y.; HAUSSWIRTH, C. MUJIKA, I. Tapering for competition: A review. Science & Sports, v. 27, n. 2, abr. 2012. Disponível em:< https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0765159711001213 >. Acesso em: 08 abr. 2020.Acesso em 21 de março de 2020. MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. 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Acesso em: 08 abr. 2020.Acesso em 21 de março de 2020. http://www.scielo.br/pdf/rbme/v9n2/v9n2a06.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1980-00372012000400012&script=sci_arttext http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1980-00372012000400012&script=sci_arttext https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0765159711001213 https://www.efdeportes.com/efd163/treinamento-concorrente-uma-revisao.htm https://www.efdeportes.com/efd180/treinamento-intervalado-de-alta-intensidade.htm https://www.efdeportes.com/efd180/treinamento-intervalado-de-alta-intensidade.htm
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