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Artigo publicado na edição 42 w w w . r e v i s t a m u n d o l o g i s t i c a . c o m . b r s e t e m b r o e o u t u b r o d e 2 0 1 4 Assine a revista através do nosso site 32 www.revistamundologistica.com.br :: artigo Yassuo Imai Segundo Administrador de empresas formado pela Faculdade Arthur de Sá Earp Neto (FASE), com especialização em Análise de Operações Logísticas e MBA em Logística Empresarial, ambas pelo Instituto Coppead/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Logistics Business Experience pela Sydney University/Australia. É sócio-diretor da Imai Empresas, consultoria especializada em soluções de Logística e Supply Chain, na qual é gestor da carteira de projetos de Warehouse Improving Processes, Stocks Management e Sales & Operations Planning. imai@imaiempresas.com Centros de Distribuição: como planejar sem errar Esse artigo resume alguns dos principais pontos a serem analisados durante o projeto de construção ou expansão de um centro de distribuição. O objetivo é fornecer informações que permitam formatar critérios para seu projeto e/ou direcioná-lo às fontes adequadas de fundamentação. O que você precisa saber antes de empreender na expansão ou na construção de um novo CD 33 Mesmo sendo operações de natureza complexa, o planejamento de um CD deve ser simplificado, para que sua execução não se torne inviável ou inflexível. Historicamente tratados como Centros de Custos, nas entrincheiradas planilhas de controladoria empresarial, os Centros de Distribuição (CDs) são considerados, atualmente, instrumentos de compe- titividade empresarial, cada vez mais evidentes e impor- tantes no xadrez dos negócios. Antes chamados de “depósito”, “estoque”, “barra- cão”, “galpão”, “batcaverna” e outros apelidos decaden- tes, eles foram, por muito tempo, verdadeiras “terras de ninguém” no cotidiano de muitas empresas, enquanto seus executivos se encantavam com as acaloradas pa- lestras motivacionais do Marketing, Recursos Humanos (RH), Estratégia, entre outras. Não podemos deixar de mencionar que os mais conceituados autores citaram a relevância da logística e das opera- ções de distribuição para que seus conceitos prosperassem. Mesmo as- sim, lá estavam os CDs acumulando poeira, empilhando estoques e, mui- tas vezes, administrados pelos menos qualificados funcionários para a fun- ção. Nesse tempo de estrada, já vimos um pouco de tudo. De empresários que estavam anos sem ir ao seu “de- pósito”, ao dito “depósito” ser utiliza- do como um exílio para funcionários indesejados no ar-condicionado da Administração. Ainda bem que esses tempos estão findando. A cada dia, profissionais e empresas percebem as oportunidades existentes nas operações de seus CDs. Devido aos anos que foram deixados em segundo plano, nas estratégias dos negócios, muitos centros de distribuição encontram-se saturados, operando além de sua capacidade efetiva e defasados estrutural e tec- nologicamente, para assegurar custos competitivos nas operações que nele são executadas. O resultado: • Elevados índices de erros nas operações de separa- ção e conferência; • Elevados ciclos de atividade (recebimento, armazena- gem, separação, conferência, expedição etc); • Elevados índices de retrabalho; • Elevados índices de devolução ou envio de comple- mento de pedidos; • Elevada incidência de mão de obra (custos que não agregam valor) nas atividades executadas no CD; • Elevados índices de retenção de veículos de entrega nas docas e nos pátios, aumentando, continuamente, a demanda pela compra/contratação de novos veí- culos; • Elevados índices de pagamento de horas extras e contratação de temporários (e consequente volume de passivos trabalhistas, turnover etc); • Baixos índices de acuracidade dos inventários, ou mesmo, a inviabilidade de executar inventários roti- neiros. O aprendizado obtido com erros do passado tem promovido uma recente onda de construção ou rees- truturação de centros de distribuição, baseada no plane- jamento detalhado de sua operação, na remodelagem de seus processos e na otimização do uso dos ativos lo- gísticos lá instalados. Os “puxadinhos” improvisados bem à brasileira pelos encarregados do depósito estão ce- dendo espaço a operações em que os gestores estão focados na econo- mia que podem gerar e no retorno sobre o investimento que será reali- zado. Nesse ínterim, abrem-se espaços para que estruturas e equipamen- tos adequados, além de tecnologias de ponta, ocupem seu lugar nessas operações e contribuam para o cres- cimento pautado em eficiência das empresas proprietárias. Mesmo sendo operações de natu- reza complexa, o planejamento de um CD deve ser simplificado, para que sua execução não se torne inviável ou inflexível. Ele precisa, no entanto, ser rico em informações, que permitam que o planeja- dor simule e projete cenários e condições para modelar, adequadamente, seus recursos e processos. É importan- te ter em mente que erros no planejamento de um CD, muitas vezes, são irreversíveis e, nem sempre, o que os mais populares cases de sucesso no mercado fazem é o melhor para a sua operação. Esse artigo fornecerá um roteiro prático de como planejar uma operação eficiente de centro de distribui- ção, minimizando a probabilidade de erros na instalação e start de suas novas operações. ONDE INSTALAR? Há respostas prontas, muito válidas, para essa per- gunta, na literatura acadêmica. O centro de distribuição deve estar instalado em um ponto central às suas praças de atendimento. Óbvio que a demanda de cada praça deve contar como ponderação, para que o CD esteja alguns quilômetros mais próximo ou distante dessa ou daquela. No entanto, também devem ser considerados os 34 www.revistamundologistica.com.br custos de abastecimento do CD, que podem encare- cer as compras e as estratégias de distribuição. Nestas, precisam constar uma detalhada análise sobre o acesso aos modais utilizados pela distribuição (rodovias, portos, aeroportos etc) e a contratação de serviços de trans- portadores. Porém, é característico de nosso país que, muitas ve- zes, generosos incentivos fiscais “joguem por terra” os dois parágrafos anteriores e sejam preponderantes na escolha de uma região geográfica para a instalação da planta. A FORÇA DO INTERIOR Em alguns casos, cidades do interior se mostram inte- ressantes opções na escolha da instalação de um novo CD, em especial no quesito qualidade da mão de obra. Como as opções de trabalho, muitas vezes, são limitadas no interior, as pessoas tendem a valorizar sua oportu- nidade de trabalho e mantêm-se por mais tempo em suas funções. Temos observado, em nossos projetos, um índice de turnover menor em centros de distribuição ins- talados em cidades do interior, quando comparados aos instalados em metrópoles e centros urbanos. Essa ponderação deve ser avaliada em conjunto com as demais (acesso, contratação de serviços de transpor- te, custo de abastecimento e de operação etc). O GALPÃO: QUEM VEM PRIMEIRO? O OVO OU A GALINHA? Primeiro o galpão e depois os processos, ou primeiro os processos e depois o galpão? Essa é uma das primei- ras dúvidas que surgem depois que se decide construir ou expandir uma operação. Há correntes que defendem os dois lados. Em termos práticos, isso depende da dis- ponibilidade de área. Se o terreno para a construção for restrito a ponto de não permitir um crescimento em módulos, a escolha é óbvia: faz-se o galpão e adequa-se o layout e os processos a ele. Se área física não for o problema, planeja-se a ope- ração final e a decompõe em módulos, que serão cons- truídos a partir de um determinado nível de ocupação do módulo anterior (ver Figura 1). Esse tipo de plane- jamento é muito útil, pois minimiza futuras adequações de layout, ou mesmo, retrabalho em construções, para- lização não planejada da operação e desperdício dos investimentos realizados. A ESCOLHA DE UM CD AUTOPORTANTE Se as possibilidades de crescimentona área onde o CD está instalado forem muito restritas (zonas indus- triais ou urbanas, completamente ocupadas ou com metro quadrado muito caro), uma estrutura autopor- tante pode ser uma alternativa viável, devido à sua alta capacidade de elevação no armazenamento e que pos- tergará a migração para um novo CD no futuro. Estrutu- ras autoportantes têm um alto investimento por metro cúbico. Exceto em operações muito específicas, são so- mente nessas condições de restrição de área que elas se viabilizam financeiramente. ARMAZENAMENTO: LAYOUT, EQUIPAMENTOS E ESTRUTURA DE ARMAZENAMENTO Esse é um ponto que merece considerável atenção em todo o planejamento. Um dos princípios de um pla- nejamento bem-sucedido de centro de distribuição é que o layout da instalação zele pela fluidez dos fluxos de pessoas, equipamentos e produtos. Ao mesmo tempo, a instalação deve otimizar a capacidade de armazena- mento por metro cúbico. Esses princípios têm propos- tas mutuamente conflitantes. Se aumenta a ocupação do Figura 1: Construção em módulos. MÓDULO 1: EM OPERAÇÃO MÓDULO 2: PLANEJADO. CONSTRUÇÃO DA PLANTA QUANDO A OCUPAÇÃO DO MÓDULO 1 ATINGIR 80% DA CAPACIDADE. 35 CD, reduz o fluxo e vice-versa. Conhecer ou buscar a assessoria técnica de quem conheça, sem vieses de vínculos comerciais, a gama de equipamentos de movimentação horizontal e vertical de produtos e os tipos de estruturas de armazenamento que podem ser adotados pela operação, é fundamental para que se possa explorar quase infinitas possibilidades de planejamento de layout e fluxos que não sejam “en- gessados” pelo modelo padrão de ocupação de galpões, sugerido pelos fabricantes de estruturas de armazena- mento. ESTUDO E PROJEÇÃO DA DEMANDA E DOS ESTOQUES O planejamento da área de armazenamento deve contemplar uma análise estatística do comportamento dos estoques e suas variabilidades, em especial nos pe- ríodos sazonais, segregada pela forma mais adequada às características da operação (tipo de embalagem, família de produtos, características, restrições de armazena- mento etc). Precisa-se observar que, em se falando de estoques, há sempre muitas oportunidades de sinergia no apro- veitamento de áreas de armazenamento. Um exemplo típico refere-se a produtos que possuem picos sazonais em períodos distintos. São itens que, em determinados períodos do ano, quando o estoque de um está elevado, o do outro está em baixa. Assim, instalados em áreas adjacentes no plano de ocupação do CD, estabelecem uma área de pulmão compartilhada, reduzindo o nú- mero de endereços necessários para o armazenamento dos estoques médios e pulmões sazonais para cada um dos itens. Veja Figuras 2 e 3. ESTOQUES SAZONAIS E DE SEGURANÇA O estabelecimento de regras de negócio para o Figura 2: Exemplo de estudo do comportamento dos estoques. Linha em amarelo indica a tendência dos níveis de estoque no longo prazo. Figura 3: Comparado ao exemplo anterior, observa-se, nessa família de produtos, a oportunidade de sinergia de utilização dos es- toques pulmão nos períodos de sazonalidade. 14000 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0 COMPORTAMENTO DOS ESTOQUES 01 /0 4/ 20 13 10 /0 4/ 20 13 18 /0 4/ 20 13 26 /0 4/ 20 13 06 /0 5/ 20 13 16 /0 5/ 20 13 25 /0 5/ 20 13 04 /0 6/ 20 13 12 /0 6/ 20 13 20 /0 6/ 20 13 01 /0 7/ 20 13 09 /0 7/ 20 13 17 /0 7/ 20 13 26 /0 7/ 20 13 03 /0 8/ 20 13 12 /0 8/ 20 13 20 /0 8/ 20 13 29 /0 8/ 20 13 06 /0 9/ 20 13 14 /0 9/ 20 13 23 /0 9/ 20 13 01 /1 0/ 20 13 09 /1 0/ 20 13 17 /1 0/ 20 13 26 /1 0/ 20 13 04 /1 1/ 20 13 13 /1 1/ 20 13 22 /1 1/ 20 13 30 /1 1/ 20 13 09 /1 2/ 20 13 17 /1 2/ 20 13 24 /1 2/ 20 13 04 /0 1/ 20 14 13 /0 1/ 20 14 21 /0 1/ 20 14 29 /0 1/ 20 14 06 /0 2/ 20 14 14 /0 2/ 20 14 22 /0 2/ 20 14 03 /0 3/ 20 14 13 /0 3/ 20 14 22 /0 3/ 20 14 01 /0 4/ 20 14 10 /0 4/ 20 14 18 /0 4/ 20 14 26 /0 4/ 20 14 25000 20000 15000 10000 5000 0 PERÍODO SAZONAL COMPORTAMENTO DOS ESTOQUES 01 /0 4/ 20 13 09 /0 4/ 20 13 17 /0 4/ 20 13 26 /0 4/ 20 13 06 /0 5/ 20 13 15 /0 5/ 20 13 23 /0 5/ 20 13 03 /0 6/ 20 13 15 /0 6/ 20 13 24 /0 6/ 20 13 02 /0 7/ 20 13 10 /0 7/ 20 13 18 /0 7/ 20 13 26 /0 7/ 20 13 03 /0 8/ 20 13 12 /0 8/ 20 13 21 /0 8/ 20 13 29 /0 8/ 20 13 06 /0 9/ 20 13 16 /0 9/ 20 13 26 /0 9/ 20 13 04 /1 0/ 20 13 12 /1 0/ 20 13 22 /1 0/ 20 13 30 /1 0/ 20 13 07 /1 1/ 20 13 15 /1 1/ 20 13 23 /1 1/ 20 13 04 /1 2/ 20 13 12 /1 2/ 20 13 20 /1 2/ 20 14 30 /1 2/ 20 14 08 /0 1/ 20 14 16 /0 1/ 20 14 24 /0 1/ 20 14 01 /0 2/ 20 14 11 /0 2/ 20 14 19 /0 2/ 20 14 27 /0 2/ 20 14 07 /0 3/ 20 14 15 /0 3/ 20 14 25 /0 3/ 20 14 03 /0 4/ 20 14 11 /0 4/ 20 14 28 /0 4/ 20 14 PERÍODO SAZONAL 36 www.revistamundologistica.com.br abastecimento de estoques tem de ser acordado mu- tuamente entre a gestão do armazém e o setor de com- pras. Reconhecemos que, nem sempre, isso é uma tarefa fácil entre as partes e segura, pois uma vez que não se respeitem as regras acordadas, acumulando mais esto- ques do que o necessário, joga-se fora todo o trabalho envolvido no planejamento. Portanto, é seguro estudar as variabilidades históricas dos estoques, por meio de medidas de posição e dispersão estatísticas, para formu- lar cenários e planos de armazenamento contingenciais. Figura 4: Corredores transversais em “V” – Redução no deslocamento dos ativos pode chegar a 12%. O estudo dos estoques deve dar ao planejador a visualização dos limites de atendimento e a capacidade de armazenagem, conforme o cenário/estratégia de nível de serviços adotado. COMPORTAMENTO DOS ESTOQUES LAYOUT O layout tem papel decisivo na fluidez que se deseja dar à operação do centro de distribuição. Sua escolha também tem impactos diretos no uso e, consequente- mente, na produtividade dos ativos de movimentação (empilhadeiras, paleteiras, pessoas etc). Alguns segun- dos a mais em uma operação que se repete centenas de vezes, ao longo de um dia, podem representar uma perda da capacidade produtiva do ativo considerável. É comum observarmos, por causa disso, um excedente de recursos (pessoas, equipamentos, materiais etc) com o subaproveitamento de sua capacidade produtiva, traba- lhando no CD. Apesar da disposição de estantes e corredores de separação ser o ponto que primeiro vem à mente do leitor, quando o assunto é layout, muitas vezes é a lo- calização da instalação das áreas de processamento de produtos e cargas que define a demanda pela movimen- tação no CD. O estudo de layouts alternativos ao convencional pode proporcionar significativos ganhos com a redução dos deslocamentos dos ativos pela instalação. Na prática, isso pode representar : • Operação com número de ativos reduzido; • Redução nos tempos de ciclo de armazenagem/se- paração; • Redução com os custos de manutenção dos ativos; • Redução nos tempos de retenção de veículos de re- cebimento/expedição nas docas. Nas figuras 4 e 5, dois exemplos ilustram o que cha- mamos de layouts não convencionais e as suas estimati- vas de aumento na performance. SISTEMAS DE ARMAZENAGEM A escolha de sistemas de armazenagem tem de ser feita após completo entendimento das vantagens e desvantagens de cada sistema. Há os sistemas blocan- tes (drive-in, drive-through, pushback etc) e individuais de porta-paletes, cujas características são determinantes para a fluidez de produtos e o aproveitamento da capa- cidade cúbica de armazenamento. 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 01 /0 4/ 20 13 06 /0 4/ 20 13 12 /0 4/ 20 13 18 /0 4/ 20 13 24 /0 4/ 20 13 30 /0 4/ 20 13 07 /0 5/ 20 13 13 /0 5/ 20 13 18 /0 5/ 20 13 24 /0 5/ 20 13 30 /0 5/ 20 13 05 /0 6/ 20 13 11 /0 6/ 20 13 17 /0 6/ 20 13 22 /0 6/ 20 13 28 /0 7/ 20 13 04 /0 7/ 20 13 10 /0 7/ 20 13 16 /0 7/ 20 13 22/0 7/ 20 13 27 /0 7/ 20 13 02 /0 8/ 20 13 08 /0 8/ 20 13 14 /0 8/ 20 13 20 /0 8/ 20 13 26 /0 8/ 20 13 31 /0 8/ 20 13 06 /0 9/ 20 13 12 /0 9/ 20 13 18 /0 9/ 20 13 24 /0 9/ 20 13 30 /0 9/ 20 13 05 /1 0/ 20 13 11 /1 0/ 20 13 17 /1 0/ 20 13 23 /1 0/ 20 13 29 /1 0/ 20 13 04 /1 1/ 20 13 09 /1 1/ 20 13 15 /1 1/ 20 13 21 /1 1/ 20 13 27 /1 1/ 20 13 03 /1 2/ 20 13 09 /1 2/ 20 13 14 /1 2/ 20 14 20 /1 2/ 20 14 26 /1 2/ 20 14 02 /0 1/ 20 14 08 /0 1/ 20 14 14 /0 1/ 20 14 20 /0 1/ 20 14 25 /0 1/ 20 14 31 /0 1/ 20 14 06 /0 2/ 20 14 12 /0 2/ 20 14 18 /0 2/ 20 14 24 /0 2/ 20 14 01 /0 3/ 20 14 07 /0 3/ 20 14 13 /0 3/ 20 14 19 /0 3/ 20 14 25 /0 3/ 20 14 01 /0 4/ 20 14 07 /0 4/ 20 14 12 /0 4/ 20 14 18 /0 4/ 20 14 24 /0 4/ 20 14 30 /0 4/ 20 14 CENÁRIO 2: NÍVEL DE SERVIÇO 91% CENÁRIO 1: NÍVEL DE SERVIÇO 85% 38 www.revistamundologistica.com.br ESPECIFICANDO OS SISTEMAS DE ARMAZENAGEM Após definidos os sistemas de armazenamento a serem implantados na operação, a especificação dos sistemas de armazenagem deve, basicamente, levar em consideração os seguintes fatores: DIMENSÕES DO PRODUTO Se o produto for paletizado, é importante considerar os tipos de paletes utilizados na operação. Por padrão, a maioria das empresas adota o palete PBR, nas medidas de 1.000 x 1.200 mm. Há, no entanto, medidas diversas, que podem exigir estantes em dimensões específicas para a acomodação desses paletes ou adaptações para que a estante de uma dimensão seja capaz de acomodar paletes de diferentes medidas e/ou formatos. Se o produto não for paletizado ou tiver medidas não convencionais, equipamentos acessórios, como guias-paletes ou fixadores, podem ser soluções alter- nativas ao melhor aproveitamento da capacidade de armazenagem, sem diversificar o formato das estantes instaladas no CD. Deve-se considerar que, quanto mais padronizado for o uso dos sistemas de armazenagem, maior fluidez e flexibilidade se obtém da operação logística na insta- lação. PESO DO PRODUTO A correta especificação de peso dos produtos é essencial para definir estruturas de armazenagem se- guras e confiáveis. Seu dimensionamento, no entanto, não pode ser superestimado, pois o preço atribuído a cada posição de armazenagem é, em geral, dimensiona- do pela cotação da tonelada do aço. Portanto, quanto maior a capacidade de armazenamento especificada, maior o investimento por posição-palete. O delibera- do superlativismo da capacidade de armazenagem pode encarecer ou, em caso extremo, inviabilizar o plano de verticalização dos estoques. As comuns “margens de segurança”, adicionadas à ca- pacidade demandada, também são desnecessárias, visto que os próprios fabricantes de sistemas de armazena- gem – quando empresas responsáveis – já o incluem em sua modelagem estrutural, por meio de precisos cálcu- los da engenharia. RESTRIÇÕES DE ELEVAÇÃO A escolha dos equipamentos de movimentação ver- tical é uma etapa importante, que precisa ser analisada em conjunto com a decisão de aquisição dos sistemas de armazenagem. A capacidade de elevação máxima dos garfos das empilhadeiras restringe o número de ní- veis de empilhamento que um sistema de armazenagem Figura 5: Corredores em “Y” – Redução no deslocamento dos ativos pode chegar a 20%. Figura 6: Guias-paletes possibilitam armazenar contenedores com base diferente de um palete convencional. Figura 7: Exemplo ilustrativo de capacidade residual das empilhadeiras. Valores simbólicos. 1 t 1,7 t 2,5 t 12 m 8m 5, 5m 40 www.revistamundologistica.com.br pode conter. No entanto, também há o fator Capacidade de Carga Residual das empilhadeiras que, muitas vezes, é ignorado na escolha de um equi- pamento. A Capacidade de Carga Residual ou apenas carga residual é a carga máxima que a empilhadeira consegue elevar em seu nível máxi- mo de elevação. Em todos os casos, ela é inferior à carga nominal da em- pilhadeira. Portanto, é importante conhecer o peso dos produtos a serem ar- mazenados e a que nível eles serão elevados, diagramando isso em um Plano de Ocupação do Centro de Distribuição. Dessa forma, elimina-se o risco de não ocupar posições-paletes adquiridas por incompatibilidade do peso do produto, com a capacida- de de elevação dos equipamentos. CAPACIDADE DE CARGA PONTUAL DO PISO Chama-se carga pontual o esforço aplicado em uma pequena área do piso, na qual, muitas vezes, a área de contato tem um diâmetro inferior à espessura do piso, gerando elevada tensão de contato. Assim, a especifica- ção do piso deve levar em conta o peso dos montantes dos sistemas de armazenagem que serão instalados so- bre ele com a carga de produtos que será armazenada sobre esses montantes. A especificação correta do piso e a boa execução de sua instalação são fundamentais para prevenir proble- mas futuros, em diversas áreas. Trincas, delaminações, es- borcinamentos e outros são patologias de pisos comuns em projetos mal executados e/ou planejados. Ao trafegar, constantemente, sobre pisos com pato- logias, como as exemplificadas, acelera-se a deterioração de equipamentos de movimentação, em especial os elé- tricos, como empilhadeiras e transpaleteiras elétricas. Os custos de recuperação de pisos ou de execução de um projeto de pisos de boa qualidade são sempre compen- sados no médio prazo pelos custos com manutenção de equipamentos minimizados. PICKING E PACKING Áreas de picking (separação) e packing (embalagem), por sua natureza, já renderiam um artigo inteiro. São “pequenas fábricas” dentro de um centro de distribui- ção, se assim podemos fazer a analogia, pois nada mais são do que centros produtivos, onde estão as maiores oportunidades de recuperação de capacidade produtiva não utilizada em um CD. Intensivo em mão de obra, em sua maioria, o plane- jamento das operações de separação e embalagem, muitas vezes, recebe um grau de atenção reduzido no plano do CD. Em especial, quando as restrições de área são predominantes. Daí enten- de-se que o separador pode fazer a se- paração em qualquer lugar. Para entender a importância do picking, em uma área de picking mal planejada, na qual o operador preci- sa percorrer corredores com estantes porta-paletes para buscar produtos fracionados diversos, pode ultrapas- sar os 60% a parcela de tempo que o operador passa andando para chegar aos produtos. Considere que a ativida- de “andar” em uma operação de separação não agrega qualquer valor ao produto. Se houver o agravante de a identificação e/ou o endereçamento de produtos ser inexistente, esse tempo de movimento do operador para localizar o produto pode chegar a 75%. Sendo as- sim, conforme esse exemplo simplificado ilustra, apenas 25% do tempo do operador do armazém são empre- gados em atividades que agregam valor à operação, o restante é perda. Em termos práticos, significa dizer que a cada quatro separadores que existam em uma opera- ção como essa, três existem apenas pela ineficiência do picking, que gera excessivos deslocamentos. O exemplo citado também serve para ilustrar os problemas de packing (embalagem). Estações de tra- balho não planejadas e/ou processos de identificação e organização do pré-carregamento ineficientes geram consequentes ineficiências (perdas) a todos os recursos Figura 8: No exemplo ilustrativo, elevar o índice de eficiência dos ativos no CD de 40% para 70% pode reduzir pela metade o número de recursos envolvidos para a execução de uma atividade de separação/embalagem/expedição. Índice de eficiência do ativo 70% Índice de eficiência do ativo 55% Índice de eficiência do ativo 40% Áreas de picking e packing são centros produtivos, onde estão as maiores oportunidades de recuperação de capacidade produtiva não utilizada em um CD. 41 envolvidos entre as atividades de embalagem e a expedição de produtos. Recuperar perdas existentes em áreas de picking e packing nem sempreé uma tarefa fácil, pois, em muitos casos, o layout de armazenagem foi implantado descon- siderando ou não alocando a essas áreas o espaço e a infraestrutura adequada ao seu eficiente planejamento. No entanto, em muitos casos, uma remodelagem de processos que agregue inteligência às operações de localização, separação e mane- jo de produtos já proporciona expressivos ganhos em produtividade. Temos percebido, em nossos projetos, que 50% das oportunidades de recu- peração de capacidade produtiva em uma operação de CD estão nas atividades de picking e packing. Portanto, toda otimização de processos, nessas atividades, é representativa para a competitividade do CD. EQUIPAMENTOS E TECNOLOGIAS Há algumas dezenas de sistemas de separação no mercado, para atender a necessidades distintas. Cada um tem pontos de aderência maior ou menor a cada tipo de operação. Ao gestor do projeto do CD, cabe buscar as soluções existentes para cada tipo de movimentação, que serão realizadas na operação, e estudar a aderência do uso do equipamento aos processos modelados. As imagens e ilus- trações a seguir são exemplos dos equipamentos e tecnologias empregados, com maior frequência, nas operações de picking: SISTEMA FLOW-RACK SISTEMA FLOW-RACK COM CARRINHOS COMPUTADORIZADOS SISTEMA FLOW-RACK COM PICKING BY LIGHT Compromisso de qualidade Experiência, inovação e compromisso Transportadores aéreos Sorter de caixa Transportador de piso Tow-Line Classificadores automáticos LINX Tel.: 11 2104-2455 www.linx.com.br www.moinsa.es integradas de intralogistica Logistica Vertical:Maquetación 1 26/2/13 16:27 Página 1 42 www.revistamundologistica.com.br PRÉ-CARREGAMENTO, CARREGAMENTO E EXPEDIÇÃO Antes de defi nir o pré-carregamento, deve-se, pri- meiro, entender como será realizado o carregamento de veículos. A velocidade com que se carrega uma carga para dentro do caminhão é quesito fundamental para se otimizar o fl uxo das plataformas de docas. Reduzindo-se o tempo de carregamento de um veículo, diminui-se a incidência de mão de obra (de carregadores, conferen- tes, operadores de empilhadeira, motorista, ajudantes etc) e de rateio de despesas dos recursos (CD, empi- lhadeiras, veículo estacionado na doca etc) no custo da carga, assegurando maior competitividade à operação logística, uma vez que, além de reduzir os custos de car- regamento, aumenta, expressivamente, a produtividade dos ativos envolvidos nessa operação. O pré-carregamento exerce um papel de extrema importância para a otimização do fl uxo das docas. É lá que se armazenam as cargas que serão expedidas no próximo ciclo de expedição. Sua centralidade entre a doca e a área de separação é importante para reduzir os fl uxos no CD, mas seu papel fundamental é assegu- rar que as cargas sejam despachadas rapidamente para dentro do veículo e que este não fi que no pátio ou na doca esperando o picking ocorrer. DIMENSIONAMENTO DE DOCAS O número de docas será defi nido de acordo com a demanda e o ciclo de expedição modelado, sendo este segundo o fator preponderante para um CD efi ciente. Quanto mais agilidade se agrega ao ciclo de expedição, com processos efi cientes e planejamento das atividades, menor o número de docas e, consequentemente, de recursos (pessoas, equipamentos, área etc) e perdas (tempos de retenção de veículos, pessoas, equipamen- SEPARAÇÃO POR COMANDOS DE VOZ INTEGRADA COM COLETORES DE DADOS SISTEMA DE SEPARAÇÃO POR COMANDOS DE VOZ SISTEMA DE MONTAGEM DE KITSSISTEMA DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL 43 SEPARAÇÃO POR COMANDOS DE VOZ INTEGRADA COM COLETORES DE DADOS Figura 9: Doca de 90 graus – Maior área de pátio destinada à manobra de entrada e saída de veículos. Figura 10: Docas de 60 graus – Redução no espaço para manobras, sem comprometer o número de docas. S=3,5M D=40m D=25m 3,1 m Espaço recomendado Financiamento FINAME Empilhadeira elétrica patolada · Capacidade de 1200 a 1660 Kg · Sistema de apoio em quatro pontos e várias opções de mastro. Empilhadeira elétrica retrátil · Capacidade de 1700 e 2000 Kg · Sistema de duplo pedal que possibilita maior produtividade, segurança e conforto. Transpaleteira elétrica com operador embarcado · Capacidade de 2750 Kg · A robustez e desempenho que se espera de uma transpaleteira. Linha L Linha R Linha EWR com operador embarcado · Capacidade de 2750 Kg · A robustez e desempenho que se espera de uma transpaleteira. Linha Linde Material Handling Brasil (11) 3604-4755 comercial@linde-mh.com.br www.linde-mh.com.br Linha Nacional Atende todas as suas necessidades, até na condição de financiamento. Linde Material Handling A linha nacional de empilhadeiras Linde é projetada para oferecer excelente performance com baixo custo de operação e manutenção. E você ainda conta com todos os benefícios do financiamento pelo BNDES Finame. Linde Material Handling Engineered for your performance. Anuncio Linde Linha Nacional - 21X14cm_FINAL.pdf 1 31/01/2014 09:33:42 α=90 44 www.revistamundologistica.com.br tos, áreas etc) existentes na operação. Apenas para constar como um aden- do, para que o leitor observe a im- portância de ter ciclos de separação eficientes, cada hora de um veículo retido na doca ou no pátio é uma hora a menos que tem para realizar entregas. Isso tem impacto potenciali- zado no custo da entrega, pois o veí- culo realiza menos entregas em um dia ou realiza horas extras na jornada de motoristas e ajudantes, para tentar realizar o número de entregas esperado. MODELAGEM DE DOCAS, PÁTIO E SERVIÇOS DE PORTARIA Área de pátio e serviços de portaria também são diretamente dependentes dos fatores demanda e ciclo de carregamento modelados para a operação. O pri- meiro é inerente ao negócio. Devemos apenas ter uma projeção confiável e alternativas a cada cenário de de- manda traçado. O segundo, como já dito anteriormente, é preponderante e a empresa tem todo o controle da realização das atividades a este relacionadas. Independentemente da demanda, se a empresa não modela seus processos de carregamento, eles tenderão a ser longos, devido à falta de estrutura e processos oti- mizados. Consequentemente, os caminhões permane- cerão por mais tempo na empresa e o CD demandará um número maior de docas e área de pátio, salas de espera e banheiro para motoristas etc. Se otimizar o fluxo de carregamento, todos os pontos mencionados anteriormente serão minimizados, reduzindo-se, tam- bém, os custos. A orientação da doca depende, diretamente, das de- finições de prioridade no projeto do CD. Se precisar de muitas docas, o melhor layout é o que privilegia o esta- cionamento de caminhões em ângulos de 90 graus. A área de manobra à frente das docas, nesse caso, deve ser maior, permitin- do que o veículo realize a manobra de entrada com segurança. Se preci- sar de mais espaço no CD, sacrifica-se o número de docas, criando-as com ângulos de 15, 30, 45 ou 60 graus, que reduzem a necessidade de área de pátio para manobra de estaciona- mento, deixando mais área do terre- no para o galpão. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse artigo, devido à amplitude do tema, aborda ape- nas os principais temas relativos ao planejamento de um Centro de Distribuição. Tampouco esgota os temas abordados ou tem o seu conteúdo aplicável a qualquer operação logística. Centros de distribuição, independen- temente de seu porte, são operações logísticas de ele- vada complexidade e de fundamental importância para assegurar a competitividade das empresas. Para explorar todo o potencial competitivo que um centro de distribuição eficiente pode trazer aos negó- cios de uma empresa, o planejamento da instalação deve estar milimetricamente alinhado com os processos que serão executados e vice-versa. Planejar um centro de distribuição, considerando apenas o porte do galpão e o volume de estoques que nele será armazenado, é um erro elementar que, historicamente, as empresas vêm cometendo.Tão importante quanto à capacidade de armazena- mento é a fluidez que se dá a equipamentos, pessoas e produtos, assegurando que as operações aconteçam em maior velocidade e, consequentemente, maior produti- vidade e menores custos. Qualquer ação que contrarie esses princípios estará condenando a competitividade do CD planejado. Figura 11: Docas com ângulos menores do que 15 graus – Otimização do espaço de manobra, mas redução expressiva no número de docas. Fonte: Falconer & Drury (8). CDs são operações logísticas de elevada complexidade e de fundamental importância. 3m 15m 12,5o 14m