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NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II ETAPA 1 A ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE DA LIBRAS CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito 89130-000 - INDAIAL/SC www.uniasselvi.com.br Nivelamento de Libras Intermediário II Centro Universitário Leonardo da Vinci Organização Prof.ª Ana Clarisse Alencar Barbosa Autora Fabiana Schmitt Corrêa Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitoria de Ensino de Graduação a Distância Prof.ª Francieli Stano Torres Pró-Reitor Operacional de Ensino de Graduação a Distância Prof. Hermínio Kloch Diagramação e Capa Renan Willian Pacheco Revisão Aline Fernanda Guse 4 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. 1. ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE Esse termo parece, à primeira vista, estranho, mas faz mais parte do nosso cotidiano do que podemos imaginar. Pois bem, seguindo a nossa fonte de referência cotidiana, o Dicionário Aurélio, temos: Relativo a ícone. 2 - Relativo a imagem ou imagens. 3 - Que é conforme ao modelo. 4 - Que representa com exatidão. Hum, começaram a imaginar o que provavelmente possa ser esse conceito?! Sim, a iconicidade faz parte do nosso cotidiano. Sem mesmo sabermos Libras, usamos alguns sinais, os que chamamos de icônicos, no dia a dia. Antes de iniciar o esclarecimento acerca do conceito, traremos algumas imagens que os farão perceber alguns sinais icônicos cotidianos. FIGURA 1 - SINAIS ICÔNICOS COTIDIANOS CARRO CASA COZINHAR ANDAR 5 Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II COMER VER TOMAR BANHO DIGITAR PASSAR ROUPA TELEFONE FONTE: Arquivo pessoal da autora. 6 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. De forma resumida, são sinais que imitam de maneira real as características visuais (QUADROS; KARNOPP, 2004). Mas vamos além, conhecer na Libras esse conceito. Em seu uso na Libras, Costa (2012, p. 33) comenta que “estudos científicos que tratam de língua natural trazem a iconicidade nas suas reflexões, com o termo iconicidade designando um vínculo ou relação de similaridade entre o representante e aquilo que ele representa conceitualmente”. Reforçando o apresentado pelas autoras anteriormente. Temos, ainda, outro comentário apresentado por McCleary e Viotti (2011, p. 291), relatando que “a iconicidade das línguas sinalizadas é uma questão bastante discutida na literatura especializada, em especial porque ela é uma característica que, à primeira vista, pode afastar as línguas sinalizadas das línguas orais, colocando em risco seu estatuto de língua natural”. Esclarecem ainda, em relação às línguas naturais e à iconicidade: A discussão da iconicidade nos estudos das línguas sinalizadas tem se con- centrado historicamente na presença marcante de iconicidade imagética dos sinais manuais. Mais recentemente, outros tipos de iconicidade começam a ser estudados, na medida em que o estudo da iconicidade vem ganhando espaço nos estudos linguísticos em geral (MCCLEARY; VIOTTI, 2011, p. 291). Os autores ainda acrescentam observações importantes: É interessante notar que a iconicidade dos sinais não é necessariamente uma reprodução fiel do formato dos objetos e dos movimentos envolvidos nas ações que estão sendo relatadas. No caso de BICICLETA, por exemplo, a posição dos braços simboliza, ao mesmo tempo, tanto as mãos segurando o guidão, quanto as pernas fazendo o movimento de pedalar (MCCLEARY; VIOTTI, 2011, p. 299). Incluindo, as línguas de sinais possuem suas próprias convenções, seus sinais arbitrários. Referindo-se ainda à iconicidade, Martelotta (2011, p. 167) esclarece que “o princípio da iconicidade é definido como a correlação natural e motivada entre forma e função, isto é, entre o código linguístico (expressão) e seu significado (conteúdo)”. O mesmo autor exemplifica a questão icônica com as onomatopeias, cuja estrutura sonora imita o som das coisas que designam, por exemplo, tic-tac (relógio) ou corococó (som do galo). Sob a ótica de Martelotta (2011), existe a similaridade entre o som e o sentido. Taub (2000) traz a compreensão de que iconicidade não é meramente uma questão de ‘imitação’ ou ‘mímica’ de sons ou movimentos, sendo, pelo contrário, “uma parte convencionalizada de recursos dos idiomas. Ela é, de fato, comum em ambas as línguas, de sinais e faladas, tanto na gramática como no léxico. Entendemos, aqui, que a iconicidade corresponde à forma de um item linguístico e ao seu significado. 7 Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Na conclusão do seu trabalho, Costa revela que: A iconicidade encontra-se presente nas línguas de sinais, mais do que nas línguas faladas, e isso deve-se à característica visual das línguas de sinais, que possibilitam explorar mais ricamente essa iconicidade. Estudos das línguas de sinais podem, portanto, disponibilizar uma base de dados crítica para pesquisas comparativas nesse campo do estudo linguístico. (COSTA, 2012, p. 93) Para facilitar algumas compreensões acerca desse tema, que inclui muito do senso comum, apresentamos aqui mitos relacionados à língua de sinais. Pois, falando em sinais icônicos, os que por vezes são reconhecidos por não sinalizantes e que criam a falsa ideia de que Libras não é língua, trazemos em Quadros e Karnopp (2004, p. 31- 37) alguns mitos e a sua desmistificação: MITOS DESMISTIFICAÇÃO 1 – A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos. Tal concepção está atrelada à ideia filosófica de que o mundo das ideias é abstrato e que o mundo dos gestos é concreto. O equívoco desta concepção é entender sinais como gestos. Na verdade, os sinais são palavras, apesar de não serem orais-auditivas. Os sinais são tão arbitrários quanto as palavras. A produção gestual na língua de sinais também acontece como observado nas línguas faladas. A diferença é que no caso dos sinais, os gestos também são visuais-espaciais, tornando as fronteiras mais difíceis de serem estabelecidas. Os sinais das línguas de sinais podem expressar quaisquer ideias abstratas. Podemos falar sobre as emoções, os sentimentos, os conceitos em língua de sinais, assim como nas línguas faladas. 2 – Haveria uma única e universal língua de sinais usada por todas as pessoas surdas. Esta ideia está relacionada com o mito anterior. Se as línguas de sinais são consideradas gestuais, então elas são universais. Isto é uma falácia, pois as várias línguas de sinais que já foram estudadas são diferentes umas das outras. Assim como as línguas faladas, temos línguas de sinais que pertencem a troncos diferentes. Temos pelo menos dois troncos identificados, as línguas de origem francesa e as línguas de origem inglesa. Provavelmente, nossa língua de sinais pertence ao tronco das línguas de sinais que se originaram na língua de sinais francesa. 3 – Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais que seria derivada das línguas de sinais, sendo um pidgin sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas orais. Como as línguas de sinais são consideradas gestuais, elas não poderiam apresentar a mesma complexidade das línguas faladas. Isso também não é verdadeiro, pois em primeiro lugar, as línguas de sinais são línguas de fato. Em segundo lugar, as línguas de sinais independem das línguas faladas. Um exemplo que evidencia isso claramente é que a língua de sinais portuguesa é de origem inglesa e a língua de sinais brasileira é de origem francesa, mesmo sendo o português a língua falada nos respectivos países, ou seja, Portugale Brasil. Como estas línguas de sinais pertencem a troncos diferentes, elas são muito diferentes uma da outra. É claro que não podemos negar o fato de ambas as línguas estarem em contato, principalmente entre os surdos letrados. O que se observa diante deste contato é que, assim como observado entre línguas faladas em contato, existem alguns empréstimos linguísticos. Para além disso, as línguas de sinais não têm relação com as línguas faladas do seu país. Elas são autônomas e apresentam o mesmo estatuto linguístico identificado nas línguas faladas, ou seja, dispõem dos mesmos níveis linguísticos de análise e são tão complexas quanto as línguas faladas. QUADRO 1 – MITOS DA LÍNGUA DE SINAIS 8 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. 4 – A língua de sinais seria um sistema de comunicação superficial, com conteúdo restrito, sendo estética, expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de comunicação oral. Como as línguas de sinais são tão complexas quanto as línguas faladas, esta afirmação não procede. Nós já vimos que as línguas de sinais podem ser utilizadas para as inúmeras funções identificadas na produção das línguas humanas. Você pode usar a língua de sinais para produzir um poema, uma estória, um conto, uma informação, um argumento. Você pode persuadir, criticar, aconselhar, entre tantas outras possibilidades que se apresentam ao se dispor de uma língua. Assim, a língua de sinais não é inferior a nenhuma outra língua, mas sim, tão linguisticamente reconhecida quanto qualquer outra língua. 5 – As línguas de sinais derivariam da comunicação gestual espontânea dos ouvintes. A ideia de que a língua de sinais seja gestual também reaparece neste mito. As pessoas pensam que as línguas de sinais são de fácil aquisição por estarem diretamente relacionadas com o sistema gestual utilizado por todas as pessoas que falam uma língua. Como isso não é verdade, as línguas de sinais são tão difíceis de serem adquiridas quanto quaisquer outras línguas. Precisamos de anos de dedicação para aprendermos uma língua de sinais, mas com base neste mito, as pessoas pensam que sabem a língua de sinais por usarem alguns gestos e alguns sinais que aprendem nas aulas de língua de sinais. A comunicação gestual usada exclusivamente é extremamente limitada, pois torna inviável a comunicação relacionada com questões mais abstratas. Assim, você vai precisar da língua de sinais para poder comunicar estas ideias. É verdade que você pode comunicar algumas coisas utilizando apenas gestos, assim como você faz quando chega a um país em que é falada uma língua desconhecida por você. Mas, também é verdade que você estará limitado à identificação direta entre o gesto e sua intenção, sem poder entrar em níveis de detalhamento necessário para transcorrer sobre um determinado assunto. Para transcorrer sobre um determinado assunto qualquer, você vai precisar de uma língua. No caso da comunicação com surdos, você vai precisar da língua de sinais. 6 – As línguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo processamento de informação espacial, enquanto que o esquerdo, pela linguagem. As pesquisas com surdos apresentando lesões em um dos hemisférios mostram evidências de que as línguas de sinais são processadas linguisticamente no hemisfério esquerdo da mesma forma que as línguas faladas. Existe, sim, uma diferença que está relacionada com informações espaciais, pois estas, além de serem processadas no hemisfério esquerdo com suas informações linguísticas, são também processadas no hemisfério direito quanto às suas informações de ordem puramente espacial. Assim, parece haver um processamento até mais complexo do que o observado em pessoas que usam línguas faladas. As investigações concluem que a língua de sinais é um sistema, que faz parte da linguagem humana, processado no hemisfério esquerdo e no hemisfério direito. FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004, p. 31-37). Envolvendo a questão dos mitos, as autoras concluem que: 9 Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II [...] esta análise dos mitos, ‘tais concepções equivocadas em relação às línguas de sinais compartilham traços comuns, assinalando um estatuto linguístico inferior em relação ao plano da superfície. Todavia, as investigações mostram que as línguas de sinais, sob o ponto de vista linguístico, são completas, com- plexas e possuem uma abstrata estruturação em todos os níveis de análise’. (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 36-37) Em oposto aos sinais icônicos, que podem, alguns, serem reconhecidos por não usuários da Libras, temos os sinais arbitrários. Arbitrários? Sim, os sinais que são a maioria convencionados na Libras, não são identificados por similaridade com o objeto ou ação real. A arbitrariedade é vista por Saussure (2006) como um dos princípios do signo linguístico. Esse autor considera que o laço que une o significante ao significado seja arbitrário. Em outras palavras, visto que entende “por signo o total resultante da associação entre um significante com um significado”, afirma, de forma mais simples, que “o signo linguístico é arbitrário”. (SAUSSURE, 2006, p. 81, grifo do autor). Exemplificando para início de conversa, percebendo a diferença com o conceito de iconicidade, nos sinais abaixo: CONVERSAR AVISAR AMAR FIGURA 2 - DIFERENÇA ENTRE ICONICIDADE 10 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. INTELIGENTE CONHECER TRABALHO AMIGO BRINCAR COMPRAR FONTE: Arquivo pessoal da autora. 11 Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Complementando as informações e acrescentando conhecimento, estudaremos agora a arbitrariedade, segundo Saussure: O laço que une o significante ao significado é arbitrário ou então, visto que en- tendemos por signo o total resultante da associação de um significante com um significado, podemos dizer mais simplesmente: o signo linguístico é arbitrário. [...] O significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade. (SAUSSURE, 2006, p. 81-83) O pesquisador Costa comenta sobre a proposta desse conceito segundo Saussure, considerando que: O mesmo conceito de arbitrariedade proposto por Saussure que estabelece um laço natural que une significante e significado pode ser compreendido quando observamos a língua de sinais e a motivação que parece integrar todos os sinais, quer sejam considerados arbitrários e/ou icônicos em relação similar à descrita por Saussure ao nomear as imagens acústicas como significantes que por sua vez designam significado (conceito) na formação do signo linguístico. Queremos lembrar que não foi Saussure quem inventou o princípio da arbitrariedade, que ele próprio afirma não ser contestado por ninguém. Todos os signos, que sejam considerados arbitrários e/ou icônicos 25 permitem que uma nova observação proponha um novo olhar principalmente na análise das línguas de sinais que podem propiciar novas descobertas. (COSTA, 2012, p. 24) Nesse sentido, Saussure (2006) argumenta que a ideia de “mar” e a sequência dos sons m-a-r não estão ligadas por relação interior, bem como que a ideia de “mar” poderia ser representada por outra sequência. Outro argumento do autor em defesa da arbitrariedade do signo consiste na existência de diferenças entre as línguas e na existência de línguas diferentes. Podemos exemplificar o exposto por Saussure (2006) com “mesa” e “table”, dois significantes diferentes que representam,em duas línguas, um signo com o mesmo significado. Saussure (2006, p. 83, grifo do autor) alerta, porém, que a palavra arbitrário não “deve dar a ideia de que o significado dependa da livre escolha” daquele que fala, pois “o significante é imotivado, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade”. Portanto, entendemos que, para esse autor, o signo linguístico é convencional, resultando de um acordo implícito entre os indivíduos de determinado grupo, que passam a usá-lo em ambiente onde ocorre comunicação. (CORRÊA, 2014) A respeito da arbitrariedade, Costa (2012, p. 35) expõe que “[...] 46 Klima e Bellugi provaram que as línguas de sinais não são uma língua universal por causa da arbitrariedade e que cada língua de sinais diferente possui uma convenção”. Costa (2012, p. 35) também aponta que os estudos desses autores “[...] favorecem o entendimento de que arbitrariedade e iconicidade não são conceitos opostos, mas devem ser entendidos como se fossem um contínuo: alguns sinais são mais icônicos e menos arbitrários, outros mais arbitrários e menos icônicos” e que, “nas línguas de sinais, temos sinais mais icônicos ou mais arbitrários, os mais icônicos podendo perfeitamente representar conceitos abstratos quando são usados metaforicamente”. Considerando os conceitos 12 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. abordados pelos autores mencionados anteriormente à compreensão trazida de iconicidade e arbitrariedade, podemos aprofundar os estudos da pesquisa: entender com mais clareza os processos produtivos. Costa (2012) referencia Martelotta (2011, p. 37) quando [...] mostra como o conceito de dupla articulação se apresenta desde o século XIX e como os linguistas aceitam como verdade que a linguagem humana é articulada. Pode ficar mais clara a noção de articulação, como “constituído de membros ou partes”, então, afirmamos que a linguagem é articulada e pode ser desmembrada em partes menores. Tem dois tipos diferentes de articulações: a primeira articulação (morfologia), que é o estudo da combinação entre as unidades mínimas que formam as palavras significativas, e a segunda articu- lação (fonologia), que é o estudo da separação entre as unidades mínimas que mostram os fonemas e que não tem significado. Geralmente, apresentam-se as configurações de mão da língua de sinais como análogas aos fonemas das línguas orais, por constituírem unidades mínimas. Assim como os fonemas, cada configuração de mão não teria, portanto, significado, estando assim em relação de arbitrariedade. A partir de sua realização juntamente com os demais parâmetros de formação da língua de sinais é que ela constituiria os três prin- cipais parâmetros, passando a adquirir significado. A hipótese deste trabalho, porém, é de que pelo menos algumas configurações de mão têm origem em gestos instrumentais, de ação no mundo, e mantêm relação icônica de certa semelhança com o conceito por causa das experiências humanas. O autor indica ainda, em sua pesquisa, que Saussure e seus seguidores desenvolveram a crença dos signos linguísticos serem tão somente arbitrários, ‘ignorando’ a iconicidade. Bem, então podemos pensar que arbitrariedade não tem nada a ver com a iconicidade antes apresentada. Vejamos o que nos traz Costa (2012) apontando os pesquisadores Klima e Bellugi (1979): [...] investigando a questão da iconicidade nas línguas de sinais, desenvolveram um experimento que consistia em apresentar alguns sinais para participantes que desconheciam a língua de sinais em questão e questionar sobre qual sinal acreditavam ser aquele com base na iconicidade do mesmo. Os resultados apresentados os levaram a concluir que os sinais, embora sejam icônicos, são também arbitrários. Iconicidade e arbitrariedade, portanto, não são conceitos opostos como tradicionalmente se apresenta. (COSTA, 2012, p. 26) Acerca dessas pesquisas realizadas por Klima e Bellugi (1979), Costa apresenta que [...] os resultados quando alguns sinais icônicos foram retirados de um dicioná- rio da língua de sinais americana (ASL) para serem apresentados a 50 ouvintes que não conheciam a ASL. Constataram que a grande maioria dos participantes não compreendeu os sinais, o que mostra que esses sinais icônicos não são transparentes e podem também ser considerados arbitrários. Os autores tam- bém compararam os sinais em diferentes línguas de sinais, e demonstraram que, assim como as onomatopeias, eles variam de país para país e, portanto, 13 Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II são convencionais e qual convenção será adotada é algo arbitrário. Comparar os sinais e onomatopeias em línguas diferentes fornece um bom argumento a favor da arbitrariedade. (COSTA, 2012, p. 35) Ele ressalta ainda sobre as várias abordagens linguísticas e seus outros olhares a respeito da arbitrariedade e iconicidade: [...] tais como aqueles apresentados pela linguística funcionalista, linguística cognitiva, estudos da gestualidade e iconicidade, e muitos estão revendo os conceitos básicos citados anteriormente aplicados nas línguas de sinais. Essas abordagens mostram que a iconicidade tem um papel importante em todas as línguas naturais e que a gramática das línguas é essencialmente motivada (COSTA, 2012, p. 26). Importante ressaltar que em sua pesquisa Costa indica a importância de apresentar a iconicidade e a arbitrariedade presentes nas línguas naturais. Outro fator relevante destacado por Costa em sua pesquisa, abordando achados de Klima e Bellugi, é que eles: [...] provaram que as línguas de sinais não são uma língua universal por causa da arbitrariedade e que cada língua de sinais diferente possui uma convenção. Esses estudos favorecem o entendimento de que arbitrariedade e iconicidade não são conceitos opostos, mas devem ser entendidos como se fossem um contínuo: alguns sinais são mais icônicos e menos arbitrários, outros mais ar- bitrários e menos icônicos. Em alguns sinais, pode ser muito difícil encontrar qualquer motivação; em outros a motivação pode ser bastante visível mesmo para quem não fala a língua, dependendo da experiência compartilhada. Estu- dando as línguas de sinais podemos manter então a hipótese de que os sinais são essencialmente motivados, mas essa motivação pode se perder ao longo do tempo com o uso da língua e a mudança na experiência social dos usuários (FRISHBERG, 1975; DINIZ, 2010 apud COSTA, 2012, p. 35). O autor traz ainda à memória o fato de que por anos, se pensava que a língua de sinais não era língua, justificando a questão icônica, afirmação nada verdadeira, como já explicitado no decorrer do texto. “Nas línguas de sinais temos sinais mais icônicos ou mais arbitrários, os mais icônicos podendo perfeitamente representar conceitos abstratos quando são usados metaforicamente” (COSTA, 2012, p. 35). Se observarmos esse fato, ainda hoje percebemos algumas pessoas com essa compreensão errônea. 1.1 CONFIGURAÇÃO DE MÃO E ICONICIDADE Costa, em seu trabalho, faz a escolha de uma configuração de mão para apresentar, descrevendo a iconicidade do sinal. A seguir, a configuração escolhida, os sinais possíveis e o detalhamento. 14 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. Para iniciar a descrição, fez uso do site Acessibilidade Brasil, que contém um dicionário de Libras, ali escolheu a configuração de mão (gesto de pinçar) e os sinais que continham essa configuração. FIGURA 3 - SITE ACESSIBILIDADE BRASIL FONTE: Disponível em: <http://www.acessobrasil.org.br/libras/>. Acesso em: 29 jun. 2017 FIGURA 4 - CONFIGURAÇÃO DE MÃO ESCOLHIDA FONTE: Disponível em: <http://www.acessobrasil.org.br/libras/>. Acessoem: 29 jun. 2017 A seguir, relacionamos alguns dos sinais escolhidos por ele para descrição, sendo possível observar a iconicidade entre alguns: Observação: a análise da iconicidade foi retirada das observações feitas por Costa (2012, p. 73- 84), as fotos são de minha autoria. 15 Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II ASSOBIAR - Gesto de pinçar motivado pelo aspecto operacional do gesto metafórico relacionando a um determinado som agudo. CATAPORA - Gesto de pinçar motivado pela forma arredondada da união entre o dedo indicador e o polegar, que iconicamente representa marcas de catapora. CEREJA - Gesto de pinçar motivado pela forma arredondada da união entre o dedo indicador e o polegar, que iconicamente representa uma cereja pequena. COMPRIMIDO - Gesto de pinçar motivado pela ação de tomar um comprimido, formado pela união entre o dedo indicador e o polegar, que iconicamente representa um comprimido. 16 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. PERFEITO - Gesto de pinçar motivado pelo aspecto operacional do gesto metafórico relacionado à precisão e perfeição. CABELO - Gesto de pinçar motivado pelo gesto instrumental de segurar os fios de cabelo. LUXO - Gesto de pinçar motivado pelo aspecto operacional do gesto metafórico que demonstra sentido de superioridade e perfeição. CANO - Gesto de pinçar motivado pela forma arredondada, formado da união entre o dedo indicador com o polegar, que iconicamente representa a forma visual e concreta. 17 Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II FICHA - Gesto de pinçar pelo gesto instrumental de pegar e soltar uma ficha. COMUNGAR - Gesto de pinçar motivado pela forma arredondada da união entre o dedo indicador e o polegar, que iconicamente representa uma hóstia. IOGA - Gesto de pinçar motivado pelo gesto típico associado à atividade de meditação e ioga. BOTÃO - Gesto de pinçar motivado pela forma arredondada da união entre o dedo indicador e o polegar, que iconicamente representa um botão pequeno. 18 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. CERTO - Gesto de pinçar motivado pelo aspecto operacional do gesto metafórico que relaciona com aspectos de precisão. ESTENDER (um pano) - Gesto de pinçar motivado pelo gesto instrumental de segurar o lençol ou uma roupa. FONTE: Adaptado de Costa (2012, p. 73- 84) Segundo Costa (2012, p. 71), quanto aos sinais identificados, [...] há uma motivação na configuração de mão do gesto de pinçar, com base na experiência humana de operar objetos pequenos e de forma precisa, podendo ser um primitivo semântico que, associado a outros elementos, compõe diferentes sentidos. Para concluir, o autor apresenta: [...] que o princípio da arbitrariedade do signo, que caracteriza as línguas hu- manas, não é incompatível com o princípio da iconicidade. Na língua de sinais, a forte iconicidade não deixa de ser marcada por uma convencionalidade, e os sinais não são transparentes, ao contrário do que tradicionalmente se pensa. Nas línguas orais, vários estudos apontam que a motivação e a iconicidade estão presentes não apenas no léxico, mas também na gramática. (COSTA, 2012, p. 37) Indicando assim a importância da continuidade dos estudos dos conceitos de iconicidade e arbitrariedade, para sua melhor compreensão. Agora assista ao vídeo da música “Aquarela” em Libras e perceba alguns sinais icônicos, por exemplo: gaivota, barco, luva, entre outros. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WhZU2y6CE6k>. 19 Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Assista ao vídeo em Libras com sinais de animais e identifique os sinais mais icônicos para você. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rhMzosoOtnA>. AUTOATIVIDADE 1. Vamos treinar um pouco a iconicidade e arbitrariedade da língua de sinais. Assista ao vídeo e veja os sinais que foram sinalizados (é importante praticar!). Em seguida, assinale a categoria da palavra sinalizada no vídeo. Boa sorte! Disponível em: <https://youtu.be/APpYDKlnc1o>. 1. ANDAR ( ) Icônico ( ) Arbitrário 2. AMIGO ( ) Icônico ( ) Arbitrário 3. AMAR ( ) Icônico ( ) Arbitrário 4. DIGITAR ( ) Icônico ( ) Arbitrário 5. VER ( ) Icônico ( ) Arbitrário 6. CARRO ( ) Icônico ( ) Arbitrário 7. CONHECER ( ) Icônico ( ) Arbitrário 8. TRABALHAR ( ) Icônico ( ) Arbitrário 9. INTELIGENTE ( ) Icônico ( ) Arbitrário 10. COMER ( ) Icônico ( ) Arbitrário 2. Use (A) para representar sinais icônicos e use (B) para sinais arbitrários: ( ) São sinais que não têm relação com o objeto ou ação real. ( ) São sinais que condizem com o objeto ou ação/característica real. 20 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. DICIONÁRIO DE LIBRAS ANIMAIS 21 Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II 22 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. 23 Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II 24 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. REFERÊNCIAS CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. São Paulo: Edusp, 2001. CORRÊA, Fabiana Schmitt. Língua Brasileira de Sinais: Expressões inovadoras. 2014. 141 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014. COSTA, Victor Hugo Sepúlveda da. Iconicidade e produtividade na língua brasileira de sinais: a dupla articulação da linguagem em perspectiva. 2012. 96 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012. AURÉLIO, Dicionário Aurélio. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/ iconico>. Acesso em 22.03.2017 FERREIRA BRITO, Lucinda. Integração social & educação de surdos. 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Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/metafora-figura- de-palavra-variacoes-e-exemplos.htm>. Acesso em: 23 jan. 2017. TAUB, SARAH F. Iconicity in American sign language: concrete and metaphorical applications. Springer Link. [s.l.] Spatial Cognition and Computation 2, p. 31– 50, 2000. WILSON, Victoria; MARTELOTTA, M. E. Arbitrariedade e iconicidade. In:MARTELOTTA, M. E. (Org.). Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2009. p. 71-85. GABARITO DAS AUTOATIVIDADES 1. ANDAR (x) Icônico ( ) Arbitrário 2. AMIGO ( ) Icônico (x) Arbitrário 3. AMAR ( ) Icônico (x) Arbitrário 4. DIGITAR (x) Icônico ( ) Arbitrário 5. VER (x) Icônico ( ) Arbitrário 6. CARRO (x) Icônico ( ) Arbitrário 7. CONHECER ( ) Icônico (x) Arbitrário 8. TRABALHAR ( ) Icônico (x) Arbitrário 9. INTELIGENTE ( ) Icônico (x) Arbitrário 10. COMER (x) Icônico ( ) Arbitrário 2. (B) (A) Centro Universitário Leonardo da Vinci Rodovia BR 470, km 71, n° 1.040, Bairro Benedito Caixa postal n° 191 - CEP: 89.130-000 - lndaial-SC Home-page: www.uniasselvi.com.br
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