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A apropriação dos conflitos no âmbito da Lei Maria da Penha

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20/04/2019 Conflitos | A apropriação dos conflitos no âmbito da Lei Maria da Penha
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A apropriação dos con�itos no âmbito da Lei Maria da Penha
Por Carolina Assis Castilholi
(https://canalcienciascriminais.com.br/author/carolina-castilholi/) -
1 de setembro de 2018
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A apropriação dos conflitos no âmbito da Lei Maria da Penha
A Lei 11.340/2006 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm), conhecida popularmente como
“Lei Maria da Penha”, guiada pela finalidade de dar maior proteção às mulheres em situação de violência, trouxe um aspecto
controverso quanto à discussão a respeito da ação penal nos crimes de lesão corporal praticada mediante violência
doméstica e familiar contra a mulher.
Isso porque o artigo 41 da lei, ao prever que as disposições da Lei 9.099/1995
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9099.htm) não se aplicam aos casos de violência contra a mulher, fixou o delito
de lesões corporais decorrentes de violência doméstica (https://canalcienciascriminais.com.br/category/artigos/violencia-
domestica/) como de ação penal pública incondicionada – entendimento que foi pacificado com a edição da súmula 542 do
Superior Tribunal de Justiça, que acompanhou o entendimento do Supremo Tribunal Federal na Ação Direta de
Inconstitucionalidade n° 4424.
Assim, uma vez que o procedimento nesses casos passou a prescindir da representação da ofendida, subtraiu dela o poder
de escolha sobre a persecução ou não do acusado – e, portanto, a possibilidade de decidir ativamente acerca da melhor
forma de solucionar o conflito em que se envolveu.
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Contudo, em muitos casos a ofendida não deseja ver seu ex-companheiro punido, seja a fim de preservar filhos que tenham
em conjunto, ou até mesmo por se reconciliarem após episódios isolados de violência e decidirem reatar o relacionamento,
de modo que a punição criminal do agressor se torna uma nova vitimização para aquela mulher que já sofreu todos os
danos oriundos da violência. Em ambos os casos, a vontade da mulher ofendida é absolutamente irrelevante para o início
do procedimento ou mesmo para o seu desfecho.
Nils Christie (1977, p. 3-4) destaca a apropriação do conflito que acontece no sistema de justiça atual. O símbolo máximo
dessa apropriação é o fato de que na maioria dos tribunais superiores as partes envolvidas nem sequer comparecem ao
julgamento de seus próprios casos, e nos atos judiciais oficiais, em geral, as partes são representadas e têm poucas
oportunidades de se expressar.
Participação plena no próprio conflito pressupõe elementos do Direito Civil; o elemento-chave num procedimento criminal é
justamente que o procedimento é convertido de algo concreto entre as partes em algo entre uma dessas partes e o Estado.
A vítima é tão completamente representada que ela é retirada da arena para a maioria dos procedimentos, reduzida a um
desencadeador do processo. A vítima perde seu caso para o Estado e então tem negado seu direito de participar em um dos
mais importantes rituais de sua vida. (CHRISTIE, 1977, p. 3)
No entendimento de Chirstie (1977, p. 8-9) as decisões sobre a relevância e sobre o peso do que é considerado relevante
deveriam ser trazidas de volta para decisões livres nos tribunais, permitindo que as partes decidam o que consideram
relevante. E isso é exatamente o que deve acontecer se a vítima for reintroduzida no caso.
A atenção centrar-se-á sobre as perdas da vítima. Isso leva a uma atenção natural quanto à forma como tais perdas podem
ser suavizadas e a uma discussão sobre a restituição. O ofensor tem a possibilidade de mudar sua posição de ser um
ouvinte da discussão – muitas vezes altamente ininteligível – de quanta dor ele deve receber, para a de um participante em
uma discussão de como ele poderia melhorar a situação.
Baratta se coloca de forma semelhante a Christie quanto à posição da vítima no sistema de justiça penal, ao indicar “a quase
total expropriação do direito de articular seus próprios interesses”.
Privatização dos con�itos
O autor afirma que “resulta injustificada a pretensão do sistema penal de tutelar interesses gerais que vão além dos da
vítima” (BARATTA, 1987, p. 12-13), remetendo ao conceito de “privatização dos conflitos” e defendendo a ideia de sua
reapropriação, ao considerar as possibilidades de substituir a intervenção penal pelo direito restitutivo e por acordos entre
as partes em instâncias comunitárias de reconciliação (BARATTA, 1987, p. 17).
Con�itos e Lei Maria da Penha
Zaffaroni (2003, 384-385), por fim, afirma que
Ao desconsiderar a vontade da vítima, o sistema processual penal toma para si o controle do caso, sob a alegação de
protegê-la de ameaças ou dissuasões que dificultariam sua denúncia. Desse modo, em vez de priorizar a oferta de
condições para que a vítima manifeste espontaneamente seu posicionamento, o Estado faz uso de sua autoridade para
“No [modelo] punitivo a vítima �ca de lado, ou seja, não é considerada pessoa lesionada, mas sim um signo dapossibilidade de intervenção do poder das agências do sistema penal (que intervém quando quer, assim como atua sem
levar em conta a vontade do lesionado ou vítima). O pretexto de limitar a vingança da vítima ou de suprir sua debilidade
serve para descartar sua condição de pessoa, para tirar-lhe a humanidade. A invocação à dor da vítima não é senão uma
oportunidade para o exercício de um poderque a respectiva seletividade estrutural torna bitolado e arbitrário. (…) A
história da legislação penal é a história de avanços e retrocessos no con�sco dos con�itos (do direito lesionado da vítima)
e da utilização desse poder con�scatório, bem como do enorme poder de controle e vigilância que o pretexto da
necessidade de con�sco proporciona (…).
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excluir a ofendida de um procedimento no qual ela tem papel central.
Ante o exposto, resta evidente que para proteger efetivamente as vítimas de violência doméstica e familiar e resguardar as
mulheres de toda forma de opressão, como previsto no §1° do artigo 3º da lei, é necessário priorizar sua vontade, dando a
elas suporte – com medidas protetivas e de assistência – para uma tomada de decisão livre; e assim, permitir à vítima,
quando for o caso, encerrar uma situação que apenas lhe provoca mais sofrimento.
REFERÊNCIAS
BARATTA, A. Princípios do Direito Penal mínimo para uma teoria dos Direitos Humanos como objeto e limite da lei
penal. Buenos Aires, p. 623–650, 1987.
CHRISTIE, N. Conflicts as property. The British Journal of Criminology, v. 17, 1977.
ZAFFARONI, E. R.; BATISTA, N. Direito Penal Brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003. v. 1
A N T E R I O R
O princípio bagatelar nos crimes ambientais
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bagatelar-
crimes-
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P R Ó X I M O
Erro de tipo acidental e suas consequências
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acidental/)
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acidental/)
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