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Fique por dentro! cursomeds.com.br CÉLULAS CANCEROSAS Laís Amábile Andrade No organismo saudável, o ciclo de proliferação celular é rigorosamente controlado para que as células constituam comunidades organizadas. Nos organismos unicelulares, as células competem umas com as outras, predominando as mais eficientes. Nos seres multicelulares, ao contrário, as células não podem competir umas com as outras, mas devem funcionar em um processo de colaboração mútua, para manter a integridade dos tecidos O Termo tumor, a princípio, foi utilizado para designar qualquer edema, independentemente da causa. Porém, atualmente se chama tumor uma proliferação celular desordenada que deveria ser chamada de neoplasia. O tumor que permanece localizado é chamado de benigno, reservando-se a designação de tumor maligno (câncer) para os tumores invasivos, dos quais células se desgarram, são levadas pelo sangue ou pela linfa e vão estabelecer tumores à distância: as metástases. • O câncer se forma a partir de uma única célula cujo DNA foi danificado O câncer, basicamente, é uma doença do DNA. Ele se forma a partir de uma única célula que sofreu mutação, proliferou, e que suas descendentes tenham acumulado mais mutações, até que surjam células que não mais obedecem aos mecanismos de controle do ciclo celular e se multiplicam continuamente. Além de se multiplicarem intensamente, as células cancerosas perdem a capacidade de aderência a outras células e às macromoléculas da matriz extracelular. Como o acúmulo de mutações é, geralmente, um processo lento, o surgimento de células cancerosas é mais comum em pessoas idosas. A mutação inicial é transmitida para as células seguintes que vão acumulando outras mutações. O acúmulo de mutações por uma célula e suas descendentes é um processo lento, e isso, provavelmente, explica a maior incidência de câncer nas pessoas idosas. A célula cancerosa se caracteriza por proliferar continuamente, destacar-se do local inicial e espalhar-se pelo organismo, gerando as metástases, muitas vezes em órgãos distantes. A célula cancerosa prolifera muito, perde a capacidade de aderência, secreta enzimas que atacam a matriz extracelular, invade os tecidos vizinhos, penetra nos vasos sanguíneos e linfáticos e se espalha pelo organismo, estabelecendo-se e proliferando em locais distantes de sua origem, nos quais produz tumores secundários: as metástases. As células malignas secretam moléculas que estimulam o crescimento dos vasos sanguíneos capilares, promovendo uma angiogênese (neoformação vascular). No tumor benigno, as células permanecem localizadas, prejudicando apenas o órgão em que se originou o tumor e os tecidos adjacentes, que podem ser comprimidos. Assim, os tumores benignos geralmente são curados facilmente pela cirurgia. Já o tratamento cirúrgico dos tumores malignos só é eficaz se realizado antes de ocorrerem as metástases. Quanto mais o DNA se replica, maior a possibilidade de mutações, por falhas no processo de síntese da nova molécula de DNA e na reparação do DNA defeituoso. Muitos tumores são Fique por dentro! cursomeds.com.br originados dos tecidos epiteliais, cujas células geralmente se renovam com frequência. No adulto, cerca da 90% dos tumores derivam de epitélios. Além de sua renovação constante, as células epiteliais que revestem o corpo e as cavidades internas, como boca, vias respiratórias, esôfago e estômago, estão mais sujeitas à ação dos agentes cancerígenos presentes nos alimentos e no ambiente. Tumores malignos originados de células epiteliais de revestimento são geralmente chamados de carcinomas. Os tumores originados das células epiteliais secretoras recebem o nome de adenomas, quando são benignos, chamando-se adenocarcinomas, quando malignos. Os tumores originados de tecido conjuntivo são raros nos adultos, sendo mais comuns em crianças e adolescentes. Quase sempre, o nome dos tumores de tecido conjuntivo, quando são benignos, se forma pelo nome da célula originária adicionado pela terminação -orna, como o fibroma (originado de fibroblasto), o osteoma (originado de osteoblasto) e o condroma (originado de células da cartilagem). Os tumores malignos dos tecidos conjuntivos são chamados sarcomas; são exemplos o osteossarcoma (originado de osteoblasto) e o condrossarcoma (originado de células da cartilagem). A maioria das células normais apresenta um sistema molecular de superfície favorecendo, durante o desenvolvimento embrionário, que a célula reconheça seu microambiente e fixe suas moléculas de adesão às de outras células ou à matriz extracelular. Se a célula normal falha nesses tipos de adesão, ela automaticamente segue a via da morte celular programada (apoptose), sendo eliminada. Isso não acontece nas células cancerosas, nas quais o programa de autoeliminação, em caso de erro grave, geralmente está desativado. Fique por dentro! cursomeds.com.br • Todos os agentes que danificam o DNA são mutagênicos e podem levar ao surgimento de células cancerosas A transformação da célula normal em cancerosa ocorre por alteração de seu DNA, com a participação de vírus, substâncias químicas do ambiente ou da alimentação e agentes físicos como determinados tipos de radiação. A única propriedade comum a todos os cancerígenos é a capacidade de causar dano ao genoma celular. Mas a indução inicial, que danifica o DNA da célula, é complementada por outros agentes, geralmente estimuladores da multiplicação celular, o que aumenta a probabilidade de novos danos ao DNA durante as numerosas replicações. • Alguns vírus também podem participar da formação de células cancerosas Tanto vírus com genoma de DNA como vírus com genoma de RNA podem causar tumores benignos e malignos. Os vírus com genoma de DNA causadores de tumores contêm genes que codificam proteínas com a função de remover o bloqueio para que as células entrem no ciclo mitótico, e proteínas que paralisam o check-point principal do ciclo, em que a proliferação celular inapropriada seria bloqueada. Os vírus com genoma de RNA podem conter oncogenes que são cópias, geralmente defeituosas, de proto-oncogenes existentes nas células e adquiridos por esses vírus em infecções anteriores. Embora o estudo experimental dos vírus causadores de tumores tenha sido muito importante para a elucidação do papel dos genes na formação dos tumores e dos mecanismos moleculares envolvidos, o número de tumores humanos causados por vírus é muito pequeno. Os mais estudados são os seguintes: vírus da hepatite tipos B e C, SV 40 (simian vírus), vírus do polioma, vírus do papiloma e vírus Epstein-Barr. • A célula cancerosa geralmente é rica em ribossomos (citoplasma basófilo), tem o citoesqueleto desorganizado e apresenta irregularidade no tamanho e na coloração do núcleo celular Uma das características que chama a atenção é o polimorfismo das células tumorais. Em um mesmo tumor, as células diferem muito em forma e tamanho. Em geral, são mais volumosas do que as normais que lhe deram origem, e muitas são aneuploides, isto é, contêm uma quantidade anormal de cromossomos, que não é um múltiplo do número diploide. Em razão da poliploidia (poliploide é a célula com quantidade de DNA que é um múltiplo do valor diploide) e da aneuploidia, um mesmo tumor apresenta núcleos de diversos tamanhos, com alteração da relação núcleo-citoplasma. Nos cortes histológicos, as células cancerosas geralmente são mais volumosas, com núcleos também maiores e muito irregulares, ocorrendo muitas mitoses, algumas anormais. Algumas dessas células podem ser aneuploides, isto é, apresentam número de cromossomos que não é um múltiplo do número de cromossomos na célula diploide. Como acontece com todas as células que se multiplicam com frequência, geralmente o citoplasma das células cancerosas é rico em ribossomos e, portanto, basófilo. O microscópio eletrônico mostrou que as células cancerosas geralmente apresentam o citoesqueleto desorganizado, com umaconcentração perinuclear dos microtúbulos e filamentos intermediários, e concentração dos filamentos de actina na periferia do citoplasma, próximo à membrana plasmática • Os genes que participam do surgimento de células cancerosas estudados são os oncogenes e os genes supressores de tumores. Fique por dentro! cursomeds.com.br Os principais segmentos de DNA que participam do surgimento de tumores são os genes supreusores de tumores e os oncogenes. Os primeiros codificam proteínas que mantêm as células em G-zero e, portanto, fora do ciclo celular. Um exemplo é o gene RB, que, quando alterado, pode causar o retinoblastoma, um tumor da retina. Os oncogenes são derivados de genes normais denominados proto-oncogencs. A alteração do proto-oncogene faz surgir o oncogene, que leva a célula a perder o controle sobre seu ciclo mitótico, dividindo-se continuamente. Dentre os oncogenes, um dos mais estudados é o oncogene ras, com suas variantes H-ras, K ras e N-ras. Os oncogenes codificam proteínas que promovem a perda do controle sobre o ciclo mitótico e levam as células a se tornarem cancerosas. Esses genes resultam de mutações somáticas, são dominantes - ao contrário dos genes supressores, que são recessivos - e não são hereditários. Mutação somática é um defeito no DNA de célula somática durante a vida do indivíduo. Nas doenças hereditárias, o defeito está no DNA dos zigotos. Os oncogenes não causam predisposição para o câncer, mas sim o próprio câncer. Seus equivalentes normais, os proto-oncogenes, têm papel importante no desenvolvimento embrionário, ativando a proliferação das células do embrião e do feto, nos momentos corretos, para que se forme um organismo normal. Desempenham também importante papel na regeneração dos tecidos destruídos por acidente ou doença. Referências bibliográficas: 1. DE ROBERTS, E. M. F.; HIB, Jose. Bases da biologia celular e molecular. Tradução por Célia Guadalupe Tardeli de Jesus Andrade; Sérgio Ferreira de Oliveira; Telma Maria Tenório Zorn. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. 2. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular. 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014
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