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BBPM4 - Tutoria 1 (23/10/2020) Paciente do gênero masculino, 34 anos, casado, enfermeiro, asiático, sedentário, 1 usuário constante de celulares, com queixas de insônia noturna e relatos de sonolência 2 vespertina, com cansaço e consequente depleção do rendimento no trabalho, há cerca 3 de 8 meses. Apresentou-se com queixa de déficit de concentração no exercício de suas 4 funções ocupacionais, nos afazeres domiciliares e na relação conjugal. Nega 5 comorbidades, declarando-se etilista social e consumidor frequente de café e 6 refrigerantes. 7 A polissonografia indicou a existência de alterações da indução, da continuidade 8 e da estrutura do sono. A latência para o começo da etapa 2 do sono não-REM foi 9 superior a 30 minutos. O tempo de vigília logo após o começo do sono foi superior aos 10 60-90 minutos e o número de vezes em que acordou durante a noite foi superior a 10. 11 A duração do tempo total do sono não superou 5 horas e a eficiência do sono (relação 12 entre o tempo que o paciente permanece deitado e o tempo durante o qual dorme) foi 13 inferior a 80%. Foi prescrito clonazepam (1 mg/dia, ao deitar, por quatro semanas), mas 14 o paciente foi acometido por fadiga, cefaleia e sonolência no período laboral, o que 15 resultou no abandono desse tratamento. 16 Com a persistência do quadro, o paciente buscou novo atendimento médico, 17 onde relatou que há alguns meses, além do agravo da insônia, sentimentos de 18 desesperança, profunda tristeza, culpa sem causa aparente e ansiedade crescente. 19 Embora tivesse um grupo de amigos, ele achava que estava se tornando cada vez mais 20 crítico e menos interessado na companhia deles, bem como por outras atividades que se 21 interessava anteriormente. A dificuldade em concentrar-se no seu trabalho havia 22 piorado muito e sentia medo de que pudesse ser prejudicado por isso. Foi diagnosticado 23 com transtorno depressivo recorrente, com episódio atual moderado (F33.1), segundo 24 o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5). 25 Diante da suspeita de que o quadro depressivo pudesse estar associado ao 26 distúrbio do sono, foi prescrita trazodona (150 mg/dia, ao deitar; Dose inicial de 75 27 mg/dia na primeira semana, aumentando para a dose total posteriormente), associada 28 ao uso ocasional, quando necessário, de zolpidem (5 mg, comprimido sublingual), 29 somente em casos de dificuldade com o sono. Inicialmente, o paciente relatou aumento 30 muito intenso no apetite, desconforto abdominal, ansiedade e piora da ansiedade. Após 31 quatro semanas, o paciente referiu recuperação da qualidade do sono, associado à 32 melhora dos sintomas depressivos, com ganho significativo de rendimento nas esferas 33 pessoal e laboral. Fez uso do zolpidem ocasionalmente, durante as 3 semanas iniciais de 34 tratamento, não sendo necessário recorrer a esse medicamento posteriormente. 35 BBPM4 - Tutoria 1 (23/10/2020) Questões para nortear: 1. É comum a piora dos sintomas no início do tratamento com antidepressivos? Por que? Sim, são os sintomas paradoxais. O paciente se encontra num estado de redução de neurotransmissores (serotonina, noradrenalina) e hiperssensibilidade de receptores. O aumento agudo de neurotransmissores induzido pelo antidepressivo leva a um agravamento de sintomas, que só é atenuado após dessensibilização de receptores (após uso crônico, semanas). 2. Pensando em otimizar o manejo do sono, qual outro(s) antidepressivos poderiam ser utilizados nesse caso? Agomelatina (agonista de melatonina), o agente mais inovador nesse caso, mas ainda é caro; Mirtazapina, que é sedativa por antagonismo histamínico H1, mas causa muita fome; Antidepressivos tricíclicos, margem de segurança pequena. 3. Qual a vantagem de usar zolpidem ao invés de clonazepam nesse caso? Os compostos Z são mais seletivos que os benzodiazepínicos (atuam apenas em canais GABAA que contém subunidades ɑ1) e com meia-vida bastante reduzida em comparação ao clonazepam, reduzindo o efeito de “ressaca” residual.
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