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PROFESSORA: DENISE VLASIC BAJTALO LUCKESI, Cipriano Carlos Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. PEDAGOGA UNESP PSICOPEDAGOGA E ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO INFANTIL Luckesi – Doutor em Educação pela PUC – SP Procura dissertar no livro a “estória da avaliação” no processo educacional EXAMES Exame era todo tipo de procedimento avaliatório sistematizado no decorrer dos séculos XVI e XVII, junto com o advento do período moderno. A partir do século XVI passou a se ensinar uma quantidade grande de estudantes e a pergunta feita foi: como saber se essas pessoas aprenderam? Já a avaliação da aprendizagem surge em 1930, pelo Tecnicista Ralph Tyler que apresentou esta expressão para explicar todo o cuidado necessário que os educadores deveriam ter com os alunos. Tyler estava preocupado com o números de reprovações e insucessos educacionais de sua geração: somente 30% dos estudantes eram aprovados e anualmente 70% das crianças “supostamente” não aprendiam. Nosso senso comum está comprometido com os exames escolares e não com a avaliação. Examinar: classificação e seletividade Avaliar: diagnóstico e inclusão O educando não ingressa em uma escola para ser medido, mas sim para aprender. A classificação é baseada em dois conceitos mínimos: “aprovado ou reprovado” e em uma escala ampla de graus (geralmente de 0 à 10). No ato de examinar, não interessa se os estudantes aprenderam com qualidade, mas somente a demonstração e classificação dos que aprenderam e dos que não aprenderam. Deste modo, a avaliação está voltada para o passado, na medida em que desejar saber do educando somente o que ele já aprendeu; o que ele não aprendeu não traz nenhum interesse. o ato de avaliar tem como função investigar a qualidade do desempenho dos estudantes, tendo em vista uma intervenção para a melhoria dos resultados. Desta maneira, a avaliação é diagnóstica. Ela indica a necessidade de intervenção e de reorientação. Algo bastante interessante é o efeito de retroalimentação que os professores sofrem mediante ao exame: não se raciocina se o que aconteceu conosco quando éramos alunos foi bom ou ruim, simplesmente repetimos o ato de medir e classificar os estudantes Segundo Luckesi (2011), aprender a avaliar é aprender conceitos teóricos sobre avaliação, mas, concomitantemente a isso, aprender a praticar a avaliação, traduzindo-a em atos do cotidiano. Aprender conceitos é fácil, o difícil mesmo é passar da compreensão para a prática A pedagogia do exame nos traz um triste dilema: o estudante deverá se dedicar aos estudos não porque os conteúdos sejam importantes, significativos e prazerosos de serem aprendidos, mas sim porque estão ameaçados por uma prova. Pressão da prova – medo – receio Geralmente as provas são feitas para reprovar: os professores elaboram as provas para “provar” os alunos e não para o auxílio da aprendizagem, chegando até (em alguns casos) a criar estes testes com o intuito de reprovar os educandos. Outra tática para qual serve o exame é o disciplinamento dos alunos. Esta atitude não tem nada a ver com o significado dos conteúdos escolares, mas sim com o disciplinamento social dos educandos sob a égide do medo. Segundo Luckesi, Comênio dizia que o medo é um excelente fator para manter a atenção dos alunos. Assim, o professor pode e deve usar esse “excelente” meio para manter os alunos atentos à aula. Carta na manga do professor – o medo da nota ruim da prova (…) a sociedade burguesa aperfeiçoou seus mecanismos de controle. Entre outros, destacamos a seletividade escolar e seus processos de formação das personalidades dos educandos. O medo e o fetiche são mecanismos imprescindíveis numa sociedade que não opera na transparência, mas sim nos subterfúgios. (…) sociologicamente, a avaliação da aprendizagem, utilizada de forma fetichizada, é bastante útil para os processos de seletividade social. Se os procedimentos da avaliação estivessem articulados com o processo ensino- aprendizagem propriamente dito, não haveria a possibilidade de dispor-se deles como se bem entende. No caso, a sociedade é estruturada em classes e, portanto, de modo desigual; a avaliação da aprendizagem, então, pode ser posta, sem a menor dificuldade, a favor do processo de seletividade, desde que utilizada independentemente da construção da própria aprendizagem. No caso, a avaliação está muito mais articulada com a reprovação do que com a aprovação e daí vem a sua contribuição para a seletividade social, que já existe independentemente dela. A seletividade social já está posta: a avaliação colabora com a correnteza, acrescentando mais um “fio d’água”. Verificação ou avaliação: o que pratica a escola? A escola está mais vinculada à prática de verificação (tomada como base da classificação) do que à prática da avaliação da aprendizagem, que é diagnóstica, inclusiva e construtiva. Esta mesma prática aprisiona-se nas medidas, transformando-as em notas (classificação) sem saber usá- las para proceder uma avaliação da aprendizagem. A avaliação tanto no geral, quanto no específico da aprendizagem, não possui finalidade em si; ela subsidia um curso de ação que visa construir um resultado previamente definido. Esta mesma ação tem como objetivo garantir a qualidade do resultado do trabalho realizado anteriormente. A média mínima é enganosa do ponto de vista de ter ciências daquilo que o educando adquiriu. Ela opera no que diz respeito ao aproveitamento escolar, com pequena quantidade de elementos: dois, três ou quatro resultados; e a média, em número reduzido de casos, cria, como sabemos, uma forte distorção na expressão da realidade. A exclusão encontrada nos exames escolares remete ao tipo de sistema político em que vivemos. Assim, reforçamos as mazelas criadas pela acumulação de capitais. Em outro oposto, encontramos a avaliação da aprendizagem que é um mecanismo democrático, inclusivo (já que acolhe a todos) e se opõe ao modelo social hierarquizado e excludente da sociedade burguesa, daí ser difícil praticá-la. Agir inclusivamente numa sociedade excludente exige consciência crítica, clara, precisa e desejo político de se confrontar com esse modo de ser, que já não nos satisfaz mais. O ato de usar a avaliação da aprendizagem dentro da escola, hoje, configura como investigação e intervenção a serviço da obtenção de resultados bem- sucedidos, é um ato revolucionário em relação ao modelo social vigente. Significa agir de modo inclusivo dentro de uma sociedade excludente; para tanto há necessidade de comprometimento político… de muito comprometimento político. É mais fácil agir na direção para a qual leva a maré; para opor-se à ela, há que se colocar força no remo, muita força ! Avaliação educacional escola: para além do autoritarismo Atualmente, acredita-se que na educação o ato de planejar é neutro, sem comprometimento. Planejamento é apresentado e desenvolvido como se tivesse um fim em si mesmo; outras vezes, é assumido como se fosse um modo de definir a aplicação de técnicas efetivas para obter resultados, não importando a que preço. Alguns educadores acham que o ato de planejar é simplesmente técnico e acabam não se perguntando que resultados políticos podem conduzir suas ações. Avaliação do aluno: a favor ou contra a democratização do ensino? Todo cidadão, para usufruir medianamente dos bens simbólicos da sociedade, necessita de um mínimo de escolarização. Para o aproveitamento deste bens, necessita-se de algum tipo de entendimento elaborado. O acesso universal ao ensino é um elemento essencial da democratização e um mecanismo para a emancipação sobre os mecanismos de opressão. Um ensino e uma aprendizagem de má qualidade são antidemocráticos, uma vez que não possibilitarãoaos educandos nenhum processo de emancipação. A avaliação da aprendizagem serve para garantir a qualidade da aprendizagem do aluno. Já o modo tradicional (classificatório) é um instrumento contra a democratização do ensino Prática Escolar: do erro como fonte de castigo ao erro como fonte de virtude Em nossa tradição pedagógica, para qualquer erro – ou suposto erro – na aprendizagem, vem seguido de um castigo. Entretanto, o erro, nessas circunstâncias, deveria servir como um guia, um ponto de partida para o crescimento. Não se busca o erro, porém quando ele ocorre, demonstra onde o educando deve melhorar. Na medida em que se avançou no tempo, os castigos escolares perderam o caráter de agressão física e passaram a utilizar a violência simbólica. A ideia e prática do castigo surge da concepção na qual as condutas de um sujeito (em nosso exemplo o educando) que não correspondem a certo padrão preestabelecido, merecem ser castigadas, afim de que ele “pague” pelo erro cometido e “aprenda” o que seria o correto. (…) A liberdade e a igualdade foram definidas no limite da lei; evidentemente, no limite da lei burguesa. E a fraternidade permaneceu como palavra que o vento levou. Praticar a fraternidade seria negar as possibilidades da sociedade burguesa, que tem por base a exploração do outro pela apropriação do excedente do seu trabalho, ou seja, pela apropriação da parte não paga do trabalho alheio. Finalizando A sociedade burguesa procura por diversos mecanismos limitar o acesso e a permanência das crianças e jovens nos processos escolares. Em função disso, o ensino não poderá ser democratizado do ponto de vista da permanência no sistema escolar
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