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WBA0126_v2.0 SAÚDE DA FAMÍLIA APRENDIZAGEM EM FOCO 2 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Autoria: Mariana S. C. Vianna Leitura crítica: Marcia Cristina A. Thomaz Olá! Nessa disciplina você terá a oportunidade de refletir sobre a construção do Sistema Único de Saúde e da Atenção Básica no Brasil, compreendendo suas diretrizes e políticas de saúde e o papel da Estratégia de Saúde da Família nesse contexto. Para isso, você será convidado a refletir sobre as responsabilidades das equipes de saúde no território e no processo de territorialização, compreendendo as diferenças entre esses conceitos e entendendo como isso interfere no cuidado à saúde da população. Além disso, será discutido o papel das equipes de Saúde da Família no combate às Doenças Crônicas Não Transmissíveis e as principais políticas públicas de saúde voltadas a esse problema, incluindo o impacto dessas doenças no perfil epidemiológico e na morbimortalidade da população brasileira. Também será abordado o conceito de Vigilância em Saúde e suas relações e implicações com a Atenção Básica no país, e como essas relações podem afetar a saúde das pessoas. Com essa disciplina, espera-se que você amplie os seus conhecimentos sobre a complexidade do cuidado a ser ofertado nesse nível de atenção e compreenda o papel do profissional de saúde não apenas na Estratégia de Saúde da Família, mas em todo o Sistema Único de Saúde, permitindo momentos de reflexão e de discussão da prática profissional. Bons estudos! 3 INTRODUÇÃO Olá, aluno (a)! A Aprendizagem em Foco visa destacar, de maneira direta e assertiva, os principais conceitos inerentes à temática abordada na disciplina. Além disso, também pretende provocar reflexões que estimulem a aplicação da teoria na prática profissional. Vem conosco! TEMA 1 Política Nacional de Atenção Básica ______________________________________________________________ Autoria: Mariana S. C. Vianna Leitura crítica: Marcia Cristina A. Thomaz 5 DIRETO AO PONTO Para uma melhor compreensão sobre a Política Nacional de Atenção Básica, você deve lembrar-se dos seguintes pontos: • A Estratégia de Saúde da Família (ESF) foi proposta para efetivar um modelo de atenção à saúde baseado na integralidade, universalidade e equidade, princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS). • Iniciou em 1994, com a criação do Programa de Saúde da Família. • A ESF está inserida em um contexto maior, que é a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). • A PNAB está na sua terceira edição. Cada uma das edições apresenta suas particularidades, principalmente em relação à composição e cadastramento das equipes e o financiamento delas. • As equipes de Atenção Básica (eAB) ou equipes de Saúde da Família (eSF) são compostas por profissionais de várias categorias. Pela última edição da PNAB, a equipe mínima deve contar com um médico, um enfermeiro, um auxiliar ou um técnico de enfermagem e um agente comunitário. Nessa nova portaria não existe mais a necessidade de ter pelo menos quatro agentes comunitários por equipe. Para ter êxito no cumprimento dos objetivos da Atenção Básica, as equipes de saúde devem planejar o seu trabalho de acordo com algumas estratégias importantes e necessárias, que se complementam e fazem parte do processo de trabalho das equipes. Essas estratégias são: 6 • Territorialização: etapa constante das ações da equipe de saúde. Deve ser capaz de traduzir as diferentes realidades do território, indo além de um simples recorte geográfico. Faz parte da atribuição de todos os profissionais da equipe e é importante que seja capaz de destacar as informações mais relevantes sobre a população daquela área de abrangência, para que se priorizem as ações de saúde a serem desenvolvidas. • Cuidado integral: o trabalho das equipes na Atenção Básica busca garantir a integralidade de cada indivíduo e cada família, conforme as necessidades de saúde que forem identificadas. Esse olhar ampliado deve ocorrer inclusive quando o usuário do sistema de saúde utiliza outros pontos de atenção da rede. Busca-se garantir, também, o papel da Atenção Básica como coordenadora do cuidado e ordenadora da Rede de Atenção à Saúde. Uma das ferramentas mais emblemáticas do cuidado integral na Atenção Básica é a visita domiciliar, que pode ser realizada por todas as categorias profissionais da equipe e pode acontecer com objetivos diversos: ampliar o acesso ao serviço de saúde, conhecer melhor a realidade onde o paciente mora e entender melhor a sua dinâmica familiar. • Organização da agenda de trabalho: a equipe deve planejar a oferta de serviços para a população adscrita de forma a garantir um equilíbrio entre as ações programadas e a demanda espontânea. Ações programadas são aquelas rotineiras, que ocorrem de maneira planejada e antecipada, como uma consulta de pré-natal. Demanda espontânea é aquele atendimento necessário, mas que não foi previamente agendado, como uma adolescente com atraso menstrual ou uma gestante com queixa urinária. Uma agenda de serviços bem organizada e planejada é capaz de 7 garantir uma maior resolutividade para as necessidades de saúde da população. • Trabalho em saúde: para complementar as demais estratégias, você deve considerar que o trabalho em saúde traz muitas subjetividades, já que o cuidado acontece no encontro entre duas pessoas. Esse encontro pode acontecer entre o profissional e o usuário, o profissional e a família e também entre o profissional e outro profissional, pois discussões de caso e reuniões de equipe para planejamento das ações também é uma forma de ofertar cuidado para a população. A figura a seguir mostra como essas etapas se complementam: Figura 1 - Processo de trabalho na Atenção Básica Fonte: elaborada pela autora. 8 Para concluir, lembre-se que você, como profissional de saúde, é um agente transformador de práticas. Você é ator importante na consolidação do Sistema Único de Saúde! Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2436, de 21 de setembro de 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/ bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html. Acesso em: 13 out. 2020. MERHY, E. E. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em saúde. In: MERHY, E. E. ONOCKO, R. Agir em saúde: um desafio para o público. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 2007. p. 71-112. PARA SABER MAIS Você deve ter percebido que alguns autores usam o termo “Atenção Primária” e outros autores utilizam o termo “Atenção Básica”. Qual a diferença entre os dois termos? Os dois termos são traduções e interpretações do termo em inglês, “Primary Health Care”. Em uma tradução literal, seria “Cuidados Primários de Saúde”. O movimento da Reforma Sanitária Brasileira preferiu usar o termo “Atenção Básica”, pois interpretava que o termo “Atenção Primária” não englobava os ideais do movimento da Reforma sobre um sistema de saúde universal e democrático (GIOVANELLA, 2018). Mesmo em outros países, o termo “Primary Health Care” tem significados e interpretações distintas, podendo representar estratégias e sistemas de saúde diferentes. Mas o termo “Atenção 9 Básica” também tem suas críticas. Para muitos pesquisadores, a expressão “básica” pode reduzir a potência esperada para esse modelo assistencial, no qual o “básico” poderia ser interpretado como menos complexo, menos importante e menos necessário. Embora a Declaração de Alma-Ata de 1978 já fizesse referência ao “Primary Health Care” como um modelo de atenção à saúde baseado no acesso universal, nos determinantes sociais de saúde e na participação popular para a tomada de decisões, a implantação de sistemas de saúde pela América Latina acabou por ser muito variada e, por vezes, distante desses conceitos. Esses elementos estão enraizados na organização do Sistema Único de Saúde (SUS), por isso o termo “Atenção Básica” foi utilizado de maneira preferencial, por remeter a um sistema de saúde diferente deoutros países latino-americanos (mais fiel à Declaração de Alma-Ata) e de acordo com os princípios do SUS (GIOVANELLA, 2018). A última versão da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) de 2017 considera os dois termos como sendo equivalentes – como muitos pesquisadores também costumam referenciar. Para o Ministério da Saúde, os dois termos são condizentes com as diretrizes e princípios listados nessa política (BRASIL, 2017). Algumas mudanças ocorridas no Ministério da Saúde, posteriores à publicação da última edição da PNAB, alteraram o status do então Departamento de Atenção Básica para Secretaria de Atenção Primária, preferindo utilizar esse termo em suas publicações oficiais. Nesse material você verá o termo “Atenção Básica”, pois é esse o termo utilizado na PNAB vigente. Mas agora você já sabe que os dois termos estão corretos e podem ser utilizados como sinônimos, sem problema! 10 Lorem ipsum dolor sit amet Autoria: Nome do autor da disciplina Leitura crítica: Nome do autor da disciplina Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2436, de 21 de setembro de 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/ bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html. Acesso em: 13 out. 2020. GIOVANELLA, L. Atenção básica ou atenção primária à saúde? Cad. Saúde Pública, 2018; 34(8):e00029818. Disponível em: http://cadernos.ensp.fiocruz.br/static/arquivo/1678-4464-csp-34- 08-e00029818.pdf. Acesso em: 8 jul. 2020. TEORIA EM PRÁTICA Você faz parte de uma equipe de Saúde da Família (SF) em uma grande UBS. A população é de 8000 pessoas, com predomínio de pessoas na faixa etária entre 30 e 59 anos. Sua equipe é composta por um enfermeiro, dois técnicos de enfermagem, um médico generalista com carga horária de 20h/sem, um ginecologista e um pediatra, ambos com carga horária de 10h/sem. Dois ACS completam a equipe, sendo responsáveis pelo cadastramento dessa população. Uma moça de 19 anos procura a UBS para agendar consulta com o ginecologista. Após a recepcionista agendar a consulta para daqui a dois meses, a paciente questiona se não é possível antecipar o atendimento, pois o caso dela era urgente. Ao ser questionada pela recepcionista sobre qual seria o seu problema, a moça fica constrangida e diz que vai esperar a data da consulta. Reflita sobre essa situação: você faria alguma coisa diferente? Qual seria a sua proposta para o planejamento dessa equipe de saúde? 11 Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de aprendizagem. LEITURA FUNDAMENTAL Indicação 1 Esse relatório foi lançado em comemoração aos 30 anos de criação do SUS, que teve como objetivo apresentar as conquistas e desafios desse sistema de saúde, de forma a apoiar a tomada de decisão. O capítulo selecionado destaca as estratégias, ações e inovações dentro do SUS que fortalecem a Atenção Básica/ Atenção Primária à Saúde. Para acessar o documento, busque pela referência na internet. OPAS. Organização Pan-Americana de Saúde. Atenção Primária Forte: estratégia central para a sustentabilidade do Sistema Único de Saúde. In: Relatório 30 anos de SUS, que SUS para 2030? p. 117-138. Brasília: OPAS, 2018. Indicação 2 Nesse artigo os autores analisam as últimas políticas públicas relacionadas ao SUS e à Atenção Básica, apontando as fortalezas e fragilidades dessas políticas. Para acessar o documento, busque pela referência na internet. Indicações de leitura 12 GIOVANELLA, L.; FRANCO, C. M.; ALMEIDA, P. F. Política Nacional de Atenção Básica: para onde vamos? Ciência & Saúde Coletiva. 25(4):1475-1581, 2020. QUIZ Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste Aprendizagem em Foco. Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de questões de interpretação com embasamento no cabeçalho da questão. 1. Assinale a alternativa que contempla as principais estratégias utilizadas no processo de trabalho da Atenção Básica. a. Territorialização, cuidado integral e organização da agenda de serviços. b. Cadastro da população, agendamento de consultas e realização de visitas domiciliares. c. Cuidado centrado na pessoa, participação da comunidade e agendamentos. d. Reuniões de equipe, visitas domiciliares e integralidade. e. Universalidade, equidade e ordenação da rede. 13 2. Como podemos definir o conceito de Trabalho em Saúde, conforme apresentado? a. É todo trabalho que acontece em um serviço de saúde. b. É o trabalho executado em hospitais por médicos e enfermeiros. c. É a subjetividade presente no encontro entre profissional e usuário do serviço de saúde. d. É a relação entre o empregador e o profissional de saúde. e. É o elemento que define o agendamento de serviços oferecidos à população. GABARITO Questão 1 - Resposta A Resolução: Essa alternativa apresenta três estratégias que podem ser utilizadas por equipes de saúde para atender as diretrizes da Atenção Básica. Questão 2 - Resposta C Resolução: A expressão “Trabalho em Saúde”, dentro do contexto apresentado, refere-se à singularidade e subjetividade que existe no encontro entre sujeitos, no caso um profissional de saúde e um usuário. Esse encontro é também uma forma de cuidado. TEMA 2 Doenças Crônicas Não Transmissíveis ______________________________________________________________ Autoria: Mariana S. C. Vianna Leitura crítica: Marcia Cristina A. Thomaz 15 DIRETO AO PONTO As Doenças Crônicas Não Transmissíveis englobam as doenças cardiovasculares, as neoplasias, as doenças respiratórias crônicas e o diabetes mellitus. São um problema de saúde pública relevante, pois juntas contribuem para a maior parte da mortalidade da população brasileira. O aumento da incidência dessas doenças nas últimas décadas pode ser explicado pela mudança do perfil demográfico da população brasileira (aumento da expectativa de vida), e pelos hábitos pouco saudáveis da população, como consumo de cigarro e álcool, sedentarismo e obesidade, uma vez que as DCNT atingem pessoas mais velhas. O controle das DCNT requer ações de promoção da saúde, de forma a se alcançar hábitos de vida saudáveis. Já está bem comprovado que a maior parte dessas doenças é evitável eliminando os fatores de risco como obesidade, sedentarismo e tabagismo. Além de evitar que gerações futuras desenvolvam essas doenças, o sistema de saúde também deve se organizar de maneira a proteger a população que já é portadora de DCNT, bem como evitar as complicações que elas podem causar. O papel da Atenção Básica (AB) é fundamental para se alcançar os resultados esperados para cada extremo desse cuidado. São as equipes de Saúde da Família que estão mais próximas da vida cotidiana das pessoas, tendo mais ferramentas para atuar nesse processo saúde-doença. Nas últimas décadas, diversas políticas públicas de saúde foram implantadas com o objetivo de reduzir as DCNT e o seu impacto 16 sobre a qualidade da vida das pessoas e a mortalidade. Além do aumento da cobertura de AB no país, destacam-se também: • Política Nacional de Promoção da Saúde (2006). • Criação das Redes de Assistência à Saúde (2010). • Plano de Ações estratégicas para o enfrentamento das DCNT (2011). • Elaboração das Linhas de Cuidado para as redes prioritárias (2011). Além dessas políticas públicas, também foram ampliadas as discussões sobre as mudanças de processo de trabalho dos serviços de saúde necessárias para o cuidado em rede e integral. Na lógica das RAS, o papel da AB como coordenadora do cuidado e ordenadora da rede fica mais evidente e mais fortalecido, assumindo o seu protagonismo defendido nas Políticas Nacionais de Atenção Básica. As mudanças no processo de trabalho,ou seja, nas formas de ofertar cuidado, são essenciais para efetivar a mudança de modelo assistencial defendida na criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, a lógica de cuidado em RAS propõe migrar de um modelo de atenção à saúde fragmentado e fortemente centrado na consulta médica para um modelo de atenção poliárquico e multiprofissional, com uma integração efetiva dos diversos pontos de atenção à saúde e com a AB coordenando esse cuidado (MENDES, 2011). Essas mudanças ainda estão em consolidação, ou seja, essa transição de modelo não ocorreu de forma homogênea pelas diferentes realidades que equipes e municípios brasileiros apresentam pelo Brasil. Essa heterogeneidade também está 17 presente no portador de uma condição crônica, o que confere um desafio adicional quando se fala de DCNT: cada indivíduo é singular, e o seu cuidado também deve ser visto de maneira singular (MALTA, MERHY, 2010). Mais do que uma “receita de bolo”, o profissional de saúde de uma equipe de Saúde da Família deve estar preparado para as singularidades que cada encontro com o usuário do serviço, sua família e sua comunidade podem oferecer. Se cada indivíduo é único, o encontro entre sujeitos é único também. A figura a seguir representa o modelo de atenção à saúde em redes, proposto para o SUS: Figura 1 – Rede de Atenção à Saúde Fonte: elaborada pela autora. 18 Referências bibliográficas MALTA, D. C.; MERHY, E. E. O percurso da linha do cuidado sob a perspectiva das doenças crônicas não transmissíveis. Interface - Comunic., Saude, Educ., v. 14, n. 34, p. 593-605, jul./set. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414- 32832010000300010&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 9 jul. 2020. MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde, 2011. Disponível em: https://bvsms. saude.gov.br/bvs/publicacoes/redes_de_atencao_saude.pdf. Acesso em: 13 out. 2020. PARA SABER MAIS O Projeto Terapêutico Singular, ou PTS, é um conjunto de propostas terapêuticas para um sujeito ou um coletivo, de maneira articulada, resultado de acordos firmados entre uma equipe multiprofissional e o sujeito em questão (BRASIL, 2008). É uma proposta terapêutica que vem sendo discutida e elaborada junto com a construção do SUS e que vem sendo utilizada há mais tempo pelos serviços de saúde mental, no contexto do movimento antimanicomial (OLIVEIRA, 2008). Nos últimos anos o PTS vem sendo incluído nos processos de trabalho das equipes de Saúde da Família e nas equipes dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf), estimulado por políticas de saúde indutoras de novas práticas de cuidado, como a Política Nacional de Humanização e as Redes de Atenção à Saúde. Como característica principal, o PTS pode ser entendido como um processo de construção coletiva entre equipe e o usuário 19 portador de algum agravo de saúde, da proposta de cuidado para essa doença. Isso pressupõe uma singularização desse cuidado e uma coparticipação e corresponsabilização de todos os autores envolvidos (OLIVEIRA, 2008). Em outras palavras, no PTS o usuário se torna um membro ativo no seu plano de cuidados, e não um elemento passivo que não contribui com o seu ponto de vista, seus medos, suas dificuldades e angústias em relação à sua doença. Em se tratando de DCNT, centrar o cuidado no sujeito é essencial para se obter uma melhor adesão ao tratamento e a adoção de hábitos de vida saudáveis. O PTS pode ser dividido em quatro momentos (BRASIL, 2008): 1. Diagnóstico: avaliação singular do indivíduo, considerando seu contexto pessoal e familiar, incluindo seus anseios e angústias. 2. Definição de metas: que devem ser planejadas em curto, médio e longo prazos, negociadas e pactuadas com o sujeito. 3. Divisão de responsabilidades: qual o papel de cada ator envolvido. 4. Reavaliação: momento de se avaliar os resultados e repactuar novo plano de cuidado. Para se obter êxito na elaboração do PTS, a equipe de saúde deve promover o encontro entre a equipe e o usuário do serviço, garantindo o vínculo necessário para se manter a coprodução do cuidado junto com o usuário, e não pelo usuário (OLIVEIRA, 2008). Também favorece na construção do PTS territórios de abrangência e equipes de referência bem definidos, espaço para reuniões de equipe e discussão de caso e envolvimento de todos os 20 profissionais de saúde, de forma a ampliar os olhares, os saberes e, assim, o cuidado ao indivíduo e comunidade. Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Clínica ampliada, equipe de referência e projeto terapêutico singular. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. Disponível em: http://bvsms.saude.gov. br/bvs/publicacoes/clinica_ampliada_2ed.pdf. Acesso em: 13 out. 2020. OLIVEIRA, G. N. O projeto terapêutico singular. In: CAMPOS, G. W. S.; GUERRERO, A. V. P. orgs. Manual de práticas de atenção básica: saúde ampliada e compartilhada. São Paulo: Aderaldo & Rothschild, 2008. Disponível em: http://andromeda.ensp.fiocruz. br/teias/sites/default/files/biblioteca_home/manual_das_praticas_ de_atencao_basica%5B1%5D.pdf. Acesso em: 13 out. 2020. TEORIA EM PRÁTICA Dona Catarina procura a unidade de saúde angustiada e aflita. Está preocupada com seu marido, Seu João, que não acordou bem. Refere que o marido não conseguiu levantar da cama, estava falando enrolado e com o olhar perdido. Você procura informações sobre Seu João, já que faz pouco tempo que está nessa equipe e ainda não conhece todos os pacientes. Descobre que João é hipertenso, diabético e resistente ao tratamento e em mudar seus hábitos de vida; ele não gostava de aplicar a insulina e não abriu mão de comer massas. Seu último atendimento havia sido há mais de seis meses, já que nem a visita do agente comunitário Seu João gostava de receber. 21 Ao realizar a visita domiciliar, você identifica que Seu João apresenta pressão arterial de 200x120 mmHg, confusão mental e hemiplegia à esquerda. Você também descobre que Seu João não estava fazendo uso das medicações há mais de seis meses. Qual a proposta de cuidado você poderia sugerir para Seu João para evitar que essa situação acontecesse? Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de aprendizagem. LEITURA FUNDAMENTAL Indicação 1 Este artigo reflete sobre as dificuldades na construção das Regiões e Redes de Atenção à Saúde no SUS. Discute os elementos necessários para a sua consolidação e as mudanças necessárias nos serviços de saúde para o sucesso de sua implantação, para que se alcance os princípios básicos do SUS. O artigo está disponível na Scielo, para acessar o documento, busque pela referência na internet. VIANA, A. L. D’A. et al. Regionalização e Redes de Saúde. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, n. 6, p. 1791-1798. Indicação 2 Esse artigo avalia os resultados alcançados pelo plano de ações estratégicas para o enfrentamento das DCNT no Brasil, no período Indicações de leitura 22 entre 2011 e 2015. Você encontra esse artigo também na Scielo, para acessar o documento, busque pela referência na internet. MALTA, D. C. et al. Avanços do plano de ações estratégicas para o enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis no Brasil, 2011-2015. Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 25(2):373-390, abr.- jun. 2016. QUIZ Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste Aprendizagem em Foco. Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de questões de interpretação com embasamento no cabeçalho da questão. 1. As Doenças Crônicas Não Transmissíveis são a principal causa de mortalidade no Brasil. O motivo disso se deve à: a. Diminuiçãoda mortalidade infantil e aumento da expectativa de vida. b. Urbanização das cidades e estresse. c. Dificuldade em realizar o diagnóstico e definir o tratamento. d. Possuem um processo saúde-doença complexo e dependem da mudança de hábitos de vida para serem combatidas. e. Diminuição no acesso a planos de saúde privados. 23 2. São considerados fatores de risco para as Doenças Crônicas Não Transmissíveis: a. Sedentarismo, tabagismo e alimentação inadequada, b. Leite artificial na primeira infância, consumo de doces e de carne vermelha. c. Tabagismo, uso de medicações de uso contínuo e estresse. d. Alcoolismo, obesidade e uso de suplementos vitamínicos. e. Hipertensão arterial, sedentarismo e consumo de carne vermelha. GABARITO Questão 1 - Resposta D Resolução: As DCNT são a principal causa de morte no país em grande parte pela dificuldade em se modificar hábitos de vida que não são saudáveis, como o sedentarismo, tabagismo e obesidade. Só o tratamento medicamentoso não é suficiente para evitar suas complicações. Questão 2 - Resposta A Resolução: Os fatores de risco para as DCNT já são conhecidos e bem estabelecidos. Eliminar esses fatores diminui consideravelmente as DCNT. Entre os fatores de risco, destacam-se o sedentarismo, o tabagismo, a alimentação inadequada, a obesidade e o consumo abusivo de álcool. TEMA 3 Território na Atenção Básica ______________________________________________________________ Autoria: Mariana S. C. Vianna Leitura crítica: Marcia Cristina A. Thomaz 25 DIRETO AO PONTO Entende-se por território como o espaço, geográfico e social, onde acontece a vida das pessoas e a forma como se organizam e se relacionam (GODIN;, MONKEN, 2017). As diferentes formas de ocupação desse espaço, as suas características sociais, culturais e políticas se relacionam com as condições de saúde dessas pessoas, tanto de forma positiva como de forma negativa. Uma população que vive e convive com um território onde existem políticas públicas saudáveis, como saneamento básico, coleta de lixo, acesso à água potável, boas condições de moradia e de trabalho, tem mais condições de viver de maneira saudável. Por outro lado, uma população que não tem acesso a qualquer uma dessas políticas vai apresentar necessidades de saúde e necessidades de cuidado diferentes. Conhecer a forma como o território influencia na saúde das pessoas é importante para que políticas de saúde sejam (re) pensadas e para que os serviços de saúde consigam se organizar para ofertar o cuidado que aquela população precisa. A definição de prioridades e de estratégias para programar as ações de saúde dependem da análise dos dados e das informações que o território traz. Mas para isso, é necessário que as equipes de saúde estejam preparadas para analisar e avaliar o território. A Política Nacional de Atenção Básica PNAB (BRASIL, 2017) define como uma das suas diretrizes a territorialização. O processo de territorialização é uma estratégia para se reconhecer o território, compreendendo as suas relações sociais e políticas, e a forma como essas relações impactam na saúde da população (GODIN;, MONKEN, 2017). 26 As equipes de Saúde da Família ou de Atenção Básica dispõem de várias ferramentas para se apropriarem do território e realizarem um diagnóstico da situação de saúde de uma determinada população. Podem ser utilizados dados demográficos, epidemiológicos, do cadastro da população, dos relatos das lideranças comunitárias e dados sanitários, como acesso a saneamento básico ou à água potável. A principal forma de se organizar esses dados é realizando o mapeamento do território – uma das etapas da territorialização. O mapeamento pode ser realizado de diferentes maneiras dependendo, sobretudo, dos recursos materiais que cada equipe tiver à sua disposição. Mas mais importante do que a forma de registrar graficamente esse mapeamento é a capacidade de análise da situação de saúde que a equipe deve ter, com base nesse mapeamento. Um dos maiores desafios impostos para as equipes de saúde é conseguirem traduzir o território e, assim, produzir saúde. É na intersecção entre a Atenção Básica e o território que as equipes produzem o cuidado de saúde. 27 Figura 1 - Produção de cuidado pela Atenção Básica Fonte: elaborada pela autora. 28 Para que o processo de territorialização garanta acesso, equidade e integralidade do cuidado, as equipes devem considerar possíveis barreiras para isso. É importante que a territorialização considere as vulnerabilidades do território, meios de locomoção das pessoas para chegarem até a unidade de saúde e até aspectos culturais da população, que podem prejudicar a execução das ações de saúde. As equipes devem buscar que a territorialização inclua a população. O sucesso no cuidado à saúde no território pelo qual as equipes da Atenção Básica são responsáveis depende de um bom planejamento de saúde. As equipes devem ter autonomia para planejar as suas ações, existindo vários métodos para isso. Além disso, o planejamento deve ser realizado em conjunto com a população, por meio de lideranças comunitárias os conselhos locais e conselho municipal de saúde. Assim, também se estará garantindo a participação popular, outra diretriz do SUS e da AB. Apesar dos desafios que cada território apresenta, as equipes de saúde devem tentar levar em consideração todos esses aspectos para realizar o que é esperado para esse nível de atenção à saúde. Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2436, de 21 de setembro de 2017. Brasília, 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov. br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html. Acesso em: 13 out. 2020. GONDIM, G. M. de M.; MONKEN, M. Território e territorialização. In: GONDIM, G. M. de M.; CHRISTÓFARO, M. A. C.; MIYASHIRO, G. M. (Org.). Técnico de vigilância em saúde: contexto e identidade, v. 1. Rio de Janeiro: EPSJV, 2017. p. 21-44. Disponível em: http:// 29 www.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/livro1.pdf. Acesso em: 13 out. 2020. PARA SABER MAIS O conceito de necessidades de saúde possui diversas definições, a depender do momento histórico e social em que está situado. Na perspectiva do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente para que se garantam os seus princípios na prática, é importante que os profissionais de saúde consigam compreender esse conceito, mesmo que seja complexo (CECÍLIO, 2009). De uma maneira ampliada, as necessidades de saúde de uma população são social e historicamente determinadas, ou seja, a sua compreensão depende do que se considera saúde e do que se considera doença – e isso muda conforme o tempo. Desde o início da história da humanidade busca-se definir o que é ser saudável e a partir de quando (e do quê) nos tornamos doentes. O SUS considera saúde mais do que ausência de doença, seguindo o conceito da Organização Mundial da Saúde de que saúde é o completo bem-estar físico, social e psicológico. Entretanto, os serviços de saúde podem legitimar determinadas necessidades e não considerar outras, a depender do entendimento que as equipes de cada serviço podem ter sobre o tema (EGRY; OLIVEIRA, 2008). Todo ser humano tem necessidades. No contexto da saúde, essas necessidades podem ser classificadas em (CECÍLIO, 2009): ter boas condições de vida, ter acesso às tecnologias de saúde, ter um bom vínculo afetivo e efetivo com uma equipe e/ou profissional de saúde e necessidade de ter um grau crescente de autonomia. Cecílio (2009) defende que as equipes de saúde devem incorporar 30 essas necessidades na organização das ações de saúde das equipes na Atenção Básica, principalmente para que se garantam os princípios de equidade e integralidade. Orientar o cuidado para as necessidades de saúde de uma população, no contexto do seu território, é uma forma de se diminuir as desigualdades de saúde existentes, aplicando o princípio da equidade na prática. Ao se definir as prioridadesde atendimento e a organização da agenda de uma equipe, por exemplo, o cuidado ofertado poderá ser planejado conforme a necessidade daquela população. Esse planejamento é realizado por diferentes atores, por vezes com interesses distintos (CECÍLIO, 2009), o que impõe às equipes de saúde um papel ativo no reconhecimento das necessidades de saúde existentes no seu território e na tomada de decisões. Os serviços de saúde nem sempre estão orientados para as necessidades de saúde da população, por diferentes motivos, o que se configura em um dos desafios para se alcançar a equidade e a integralidade do cuidado. Referências bibliográficas EGRY, E. Y.; OLIVEIRA, M. A. de C. Marcos teóricos e conceituais de necessidades. In: EGRY, E. Y. (org.). As necessidades em saúde na perspectiva da Atenção Básica: guia para pesquisadores. São Paulo: Dedone, 2008, p. 25-29. Disponível em: https://edisciplinas. usp.br/pluginfile.php/308426/mod_resource/content/1/ LivroNecessidadesEmikoPORT_v2.pdf. Acesso em: 13 out. 2020. CECILIO, L. C. de O. As necessidades de saúde como conceito estruturante na luta pela integralidade e equidade na atenção em saúde. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. (orgs.). Os sentidos 31 da integralidade na atenção e no cuidado à saúde. 8. ed. Rio de Janeiro: UERJ, IMS: Abrasco, 2009, p. 117-130. Disponível em: https://www.cepesc.org.br/wp-content/uploads/2013/08/Livro- completo.pdf. Acesso em: 13 out. 2020. TEORIA EM PRÁTICA Parte da sua equipe de saúde está reunida para discutir o planejamento das ações da sua unidade de saúde. Estão presentes você, o médico de família e o coordenador da unidade. O mapa do território foi atualizado há um ano, e o cadastro atualizado das famílias, realizado pelos agentes comunitários, não está disponível para consulta na reunião. Pela sua vivência nessa unidade, você acredita que um dos principais problemas de saúde é a gravidez na adolescência. O coordenador da unidade sugere organizar a agenda para os próximos seis meses em consultas agendadas (70% da oferta), grupos para hipertensos e diabéticos (20% da oferta) e acolhimento à demanda espontânea (10% da oferta). O médico de família acredita que é necessário mais tempo para grupos e atendimento à demanda espontânea e assim o coordenador reduz a oferta de consultas agendadas. Rapidamente a reunião se encerra, com as atividades programadas para os próximos seis meses. O que você acha dessa forma de planejar? Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de aprendizagem. 32 LEITURA FUNDAMENTAL Indicação 1 Este artigo relaciona as desigualdades na saúde com o processo de regionalização, relacionando as políticas de saúde do SUS com o território e o cuidado em redes. Você pode encontrar esse artigo na Scielo, busque pela referência na internet. VIANA, A. L. D’A.; IOZZI, F. L. Enfrentando desigualdades na saúde: impasses e dilemas do processo de regionalização no Brasil. Cad. Saúde Pública 2019; 35 Sup 2:e00022519. Indicação 2 O planejamento na área da saúde requer alguns conceitos e métodos específicos. Esse capítulo aborda o tema em uma linguagem agradável, oferecendo uma introdução sobre o assunto. Para realizar a leitura, acesse a plataforma EBSCOhost na Biblioteca Virtual da Kroton e busque pelo título da obra. PAIM, J. S. Planejamento em Saúde para não especialistas. In: CAMPOS, G. W. S. de et al. Tratado de Saúde Coletiva. 2. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009, p. 767-782. Indicações de leitura 33 QUIZ Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste Aprendizagem em Foco. Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de questões de interpretação com embasamento no cabeçalho da questão. 1. O território pode ser definido como um espaço geográfico e social. A equipe de saúde deve: a. Cadastrar toda a população e usar somente esses dados para a territorialização. b. Analisar as informações do território a partir da territorialização e planejar as ações de saúde em conjunto com a população. c. Conhecer o território utilizando programas específicos para geoprocessamento. d. Planejar as ações de saúde com base nos dados do censo demográfico. e. Fazer o mapa do território a cada quatro anos, conforme o Plano Plurianual. 34 2. Sobre o conceito de necessidades de saúde, é correto afirmar que: a. São as doenças mais comuns na população, como hipertensão e diabetes. b. São as reivindicações populares, discutidas nas reuniões do Conselho Municipal de Saúde. c. Podem apresentar diferentes entendimentos e compreensões, por serem social e historicamente situadas. d. Podem ser definidas com base na Política Nacional de Atenção Básica. e. São o direito da população em ter uma equipe de referência. GABARITO Questão 1 - Resposta B Resolução: O território fornece dados e informações variadas, que permitem realizar o diagnóstico de saúde da população e, assim, planejar as ações de saúde. Atendendo a um princípio do SUS, esse planejamento deve ser realizado em conjunto com a população. Questão 2 - Resposta C Resolução: Assim como o conceito do processo saúde- doença, o conceito de necessidades de saúde pode mudar conforme o momento histórico e conforme os valores e princípios de uma sociedade. TEMA 4 Vigilância na Atenção Básica ______________________________________________________________ Autoria: Mariana S. C. Vianna Leitura crítica: Marcia Cristina A. Thomaz 36 DIRETO AO PONTO Se olharmos para a história da humanidade vamos encontrar a ocorrência de várias doenças e várias epidemias que influenciaram no percurso das civilizações. A prática de procurar combatê-las e diminuir o seu impacto na vida das pessoas também é antiga, mudando conforme a humanidade avançava no conhecimento da transmissão e controle das doenças. Assim como o entendimento das formas de transmissão de doenças foi mudando ao longo do tempo, o conceito de Vigilância em Saúde também foi construído com o tempo. No Brasil, as práticas sanitárias e de controle de saúde pública só foram implantadas no século XX, diferentemente dos países da Europa que começaram a ter essa vigilância das doenças no século XVIII. Mesmo que a saúde pública brasileira tenha sido influenciada pelas experiências europeias, o conceito de Vigilância em Saúde no Brasil é resultado do movimento da Reforma Sanitária Brasileira e da criação do Sistema Único de Saúde (SUS). A Resolução 588/2018 do Conselho Nacional de Saúde (Conass) define a Política Nacional de Vigilância em Saúde, englobando as ações de Vigilância Epidemiológica, Sanitária, do Trabalhador e Ambiental. Nessa política, Vigilância em Saúde consiste no processo de coleta e produção de dados e informações de saúde, com o objetivo de apoiar o planejamento e a organização das ações de saúde no âmbito do SUS, garantindo a prevenção e controle de riscos, agravos e doenças (BRASIL, 2018a). Articula- se com o trabalho das equipes da Atenção Básica (AB) por compartilharem os princípios do SUS e por utilizarem estratégias de atuação sobre o território semelhantes. 37 Para a prática da vigilância na AB, a equipe de saúde deve atuar de maneira proativa, assumindo o seu protagonismo de coordenadora do cuidado e ordenadora da rede, em busca de um cuidado integral. A Figura 1 traz as atitudes mais importantes para essa prática de vigilância. A Vigilância em Saúde engloba várias ações estratégicas e específicas para cada uma das vigilâncias que fazem parte dessa política. A Vigilância Epidemiológica consiste no processo contínuo de coleta, análise, interpretação e divulgação de informações sobre a ocorrência e distribuição de doenças e de agravosda população, atuando com base nas notificações de doenças e agravos compulsórios da investigação epidemiológica e da Rede de Frio de imunobiológicos. A Vigilância Sanitária é responsável por controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde das pessoas, como alimentos, medicamentos, imunobiológicos, hemoderivados e o cadastro e licenciamento de estabelecimentos sanitários (como serviços de saúde, supermercados, restaurantes, salões de beleza). A Vigilância em Saúde do Trabalhador atua na detecção e análise dos fatores determinantes e condicionantes dos agravos à saúde relacionados aos processos e ambientes de trabalho, por meio de notificações de acidentes de trabalho, exposição de trabalhadores a material biológico e a agrotóxicos, atenção à saúde do trabalhador pelos Cerests (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador) e a fiscalização de ambientes de trabalho. A Vigilância Ambiental atua nos fatores ambientais de risco à saúde da população, como análise da qualidade da água, contaminantes químicos e físicos, e saúde ambiental dos riscos associados a desastres. 38 Figura 1 - Atitudes da AB para garantir a Vigilância em Saúde Fonte: elaborada pela autora. Pela abrangência das suas ações, a relação da Vigilância em Saúde com o cotidiano das equipes da AB é constante. O trabalho das equipes de saúde deve se organizar com base em algumas atitudes fundamentais para atingir os objetivos propostos na PNVS e na Política Nacional de Atenção Básica: conhecer o território, extraindo e analisando dados e informações; identificar e intervir nos problemas de saúde, como em casos de surtos ou epidemias; avaliar a situação de saúde e os seus resultados; e integrar as ações – de cuidado à saúde e de maneira intersetoria. Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução MS/CNS nº 588, de 12 de julho de 2018. Disponível em http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2018/Reso588.pdf. Acesso em: 27 jul. 2020. 39 GONDIM, G. M. de M.; CHRISTÓFARO, M. A. C.; MIYASHIRO, G. M. (Org.). Técnico de vigilância em saúde: contexto e identidade. Rio de Janeiro: EPSJV, 2017. Disponível em: http://www.epsjv.fiocruz. br/sites/default/files/livro1.pdf. Acesso em: 13 out. 2020. PARA SABER MAIS Alguns conceitos utilizados nas ações de Vigilância em Saúde podem parecer sinônimos, mas possuem significados específicos, sendo comum causarem confusão. É importante saber diferenciá- los, para melhor compreensão e para sua correta utilização. • Agravo: “qualquer dano à integridade física ou metal da pessoa, provocado por circunstâncias nocivas (acidentes, intoxicações por substâncias químicas, abuso de drogas) ou lesões decorrentes de violências interpessoais (agressões e maus-tratos e lesão autoprovocada” (BRASIL, 2018, p. 10). • Doença: “enfermidade ou estado clínico, independente de origem ou de fonte, que representa – ou possa representar – um dano significativo para a pessoa” (BRASIL, 2018, p. 10). • Epidemia: situação na qual uma doença atinge um grande número de pessoas em uma larga área geográfica. • Endemia: presença contínua de uma doença (ou um agente infeccioso) em uma determinada região. • Surto: aumento acima do esperado na ocorrência de eventos ou doença, em uma área ou entre um grupo específico de pessoas, em determinado período (BRASIL, 2018). 40 • Incidência: número de casos novos de uma doença. Para se calcular o seu coeficiente (ou taxa), deve-se dividir o número de casos novos em determinado tempo e em determinada população pela população do mesmo local e no mesmo tempo. • Prevalência: número de casos existentes de uma determinada doença ou agravo. Um coeficiente de prevalência é a relação entre casos existentes em determinada população e a população total, no mesmo lugar e tempo. • Mortalidade: é a relação entre o número de óbitos por uma doença ou agravo e a população total, no mesmo lugar e período. • Letalidade: é a relação entre o número de óbitos por uma doença ou agravo e o número de casos confirmados da mesma doença ou agravo, no mesmo lugar e período. O cálculo das taxas (ou coeficientes) citado pode e deve ser realizado pelas equipes de saúde da AB, dentro das suas atividades de planejamento e análise do território. Referências bibliográficas BRASIL, Ministério da Saúde. Guia para investigações de surtos ou epidemias. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. BONITA, R. et al. Epidemiologia básica. Tradução e revisão científica Juraci A. Cesar. 2. ed. São Paulo: Santos. 2010. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4338958/ mod_resource/content/3/BONITA%20et%20al%20-%20 cap%C3%ADtulo%201.pdf. Acesso em: 13 out. 2020. 41 TEORIA EM PRÁTICA Um dos colegas da sua equipe de saúde traz um problema para discussão na reunião semanal. As ruas do bairro estão apresentando muito sujeira e descarte inadequado de materiais, que estão se transformando em criadouros para o mosquito Aedes aegypt. Ao ouvir isso, uma outra colega traz a sua impressão de que o atendimento de pacientes para atendimento em demanda espontânea aumentou, com muitos deles apresentando queixas de sintomas comuns à dengue. No entanto, não existe um registro adequado dos locais de residência dos pacientes com esses sintomas. Qual a sua proposta de intervenção para os problemas que os seus colegas apresentaram? Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de aprendizagem. LEITURA FUNDAMENTAL Indicação 1 Este artigo analisa as principais arboviroses emergentes no cenário epidemiológico brasileiro. Também avalia as suas características clínicas os seus impactos na morbidade e mortalidade nas doenças causadas por esses vírus. Para realizar a leitura, acesse a base da Scielo e busque por esta referência: Indicações de leitura 42 DONALISIO, M. R.; FREITAS, A. R. R.; VON ZUBEN, A. P. B. Arboviroses emergentes no Brasil: desafios para a clínica e implicações para a saúde pública. Rev. Saúde Pública. 2017; 51:30. Indicação 2 Essa nota traz algumas reflexões a respeito das fragilidades que o SUS e a Vigilância em Saúde encontram e as incertezas presentes na pandemia do Covid-19. Você encontra esse texto na base da Scielo: GONDIM, G. M. M. Decifra-me ou te devoro: enigmas da Vigilância em Saúde na pandemia Covid-19. Trabalho, Educação e Saúde, v. 18, n. 3, 2020. QUIZ Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste Aprendizagem em Foco. Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de questões de interpretação com embasamento no cabeçalho da questão. 43 1. Sobre o conceito de Vigilância em Saúde, é correto afirmar que: a. Consiste no cadastro da população para que se tenha informações de saúde. b. Consiste na coleta e produção de dados e informações de saúde, para apoiar o planejamento e as ações de saúde em todas as esferas do SUS. c. Consiste na elaboração de legislações específicas para consumo de produtos. d. Consiste na formulação do Plano Anual de Saúde. e. Consiste nas informações demográficas do território. 2. Doenças e agravos de notificação compulsória são: a. As doenças que não têm cura ou tratamento. b. As causas externas de morbidade e mortalidade. c. Doenças transmissíveis, agravos como acidentes e violência, eventos de saúde pública e eventos adversos pós-vacinação. d. As que existem em uma epidemia. e. Apenas as doenças altamente contagiosas. 44 GABARITO Questão 1 - Resposta B Resolução: A Vigilância em Saúde é o conjunto de ações que envolve a coleta e produção de dados e informações de saúde, utilizando dados demográficos, epidemiológicos e sanitáriospara um melhor planejamento das ações de saúde. Questão 2 - Resposta C Resolução: As doenças e agravos de notificação compulsória são as doenças transmissíveis, agravos como acidentes e violência, eventos de saúde pública e eventos adversos pós- vacinação, e são determinadas por vários fatores, como acordos internacionais, ao seu potencial de disseminação ou à sua vulnerabilidade. BONS ESTUDOS! Apresentação da disciplina Introdução TEMA 1 Direto ao ponto Para saber mais Teoria em prática Leitura fundamental Quiz Gabarito TEMA 2 Direto ao ponto TEMA 3 Direto ao ponto TEMA 4 Direto ao ponto Botão TEMA 5: TEMA 2: Botão 158: Botão TEMA4: Inicio 2: Botão TEMA 6: TEMA 3: Botão 159: Botão TEMA5: Inicio 3: Botão TEMA 7: TEMA 4: Botão 160: Botão TEMA6: Inicio 4: Botão TEMA 8: TEMA 5: Botão 161: Botão TEMA7: Inicio 5:
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