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1 Impactos ambientais da lixeira municipal sobre o igarapé do Santo Antônio em Manacapuru - AM Francisca Maria Rodrigues Pereira 2 3 Impactos ambientais da lixeira municipal sobre o igarapé do Santo Antônio em Manacapuru - AM 4 Este trabalho foi apresentado como conclusão de curso à Universidade do Estado do Amazonas-UEA, para a obtenção do título de licenciado em Geografia por Francisca Maria Rodrigues Pereira, sob orientação do MSc. Valdir Soares de Andrade Filho e avaliado e aprovado pela Banca Examinadora presidida pelo Prof. MSc. Valdir Soares de Andrade Filho e composta pela Prof. Dra. Neliane de Sousa Alves e pelo Prof. MSc. Rogério Ribeiro Marinho em novembro de 2014. Copyright © da editora, 2016. Capa e Editoração Mares Editores Dados Internacionais de Catalogação (CIP) Impactos ambientais da lixeira municipal sobre o igarapé do Santo Antônio em Manacapuru – AM / Francisca Maria Rodrigues Pereira. – Rio de Janeiro: Dictio Brasil, 2016. 77 p. ISBN 978-85-92921-06-4 1. Ameaças ao meio ambiente. 2. Poluição de rios I. Título. CDD 577.5 CDU 577.4 2016 Todos os direitos desta edição reservados à Mares Editores e seus selos editoriais Contato: dictiobrasil@gmail.com mailto:dictiobrasil@gmail.com 5 Impactos ambientais da lixeira municipal sobre o igarapé do Santo Antônio em Manacapuru - AM 1ª Edição Francisca Maria Rodrigues Pereira Rio de Janeiro Dictio Brasil 2016 6 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço a Deus, fonte da vida e da graça. Agradeço por me iluminar durante toda essa trajetória. Ao meu orientador, Prof. MSc. Valdir Soares de Andrade Filho, que jamais deixou de me incentivar com toda a sua simplicidade e conhecimento. Sem a sua orientação, dedicação e auxílio, o estudo aqui apresentado seria praticamente impossível. Ao meu esposo Everaldo Costa, meu filho Paulo Rodrigo e minhas filhas Evellyn Rebeka, Emily Izabel e Maria Elizabel que, apesar das dificuldades enfrentadas, sempre me incentivaram e apoiaram os meus estudos. Ao meu irmão Fabiano Mota que esteve disposto pela dedicação, presteza e, principalmente, pela vontade de ajudar em prestar a logística nos trabalhos em campo. E a todos que, de maneira direta ou indireta, contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho. “Na natureza os resultados práticos são não só o meio de melhorar o bem-estar, mas a garantia da verdade” Francis Bacon 7 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Fig. 1-Aumento de lixo na área urbana ............................................... 36 Fig. 2- Gráfico da população do município de Manacapuru ................ 50 Fig. 3-Localização e limites territoriais do município de Manacapuru ...51 Fig. 4-Localização da lixeira em relação ao igarapé e a AM 352 ......... 52 Fig. 5-Tipos de solos de Manacapuru.................................................. 54 Fig. 6-Resíduos depositados a céu aberto........................................... 61 Fig. 7 A)-Deformação de relevo pelos agentes externos ..................... 62 Fig. 7 B)-Deformação de relevo pelos agentes externos ..................... 63 Fig. 8-Processos erosivos e poluição do solo ....................................... 64 Fig. 9-A)Chorume e os resíduos que atingem o lençol freático- ......... 66 Fig. 9-B)Resíduos hospitalares queimados ......................................... 66 Fig. 10 A Resíduos poluentes do leito do igarapé do Santo Antonio ............................................................................................................ 68 Fig. 10 B-Resíduos poluentes do leito do igarapé do Santo Antonio ............................................................................................................ 68 Fig. 11-Frequência de oleosidade na água do igarapé do Santo Antonio ............................................................................................................ 71 file:///C:/Users/FRAN%202014/Desktop/Monografia%20Francisca_FINAL.docx%23_Toc406535265 file:///C:/Users/FRAN%202014/Desktop/Monografia%20Francisca_FINAL.docx%23_Toc406535266 file:///C:/Users/FRAN%202014/Desktop/Monografia%20Francisca_FINAL.docx%23_Toc406535266 8 LISTA DE TABELAS Tabela 1-Classificação dos resíduos segundo sua origem .................. 43 Tabela 2- Classificação dos resíduos quanto a riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública de acordo com a NBR 10004. ................ 46 Tabela 3-Componentes avaliados na área do lixão ........................... 59 Tabela 4-Parâmetros de impacto no igarapé do Santo Antonio.......... 67 Tabela 5-Observações auxiliares do Igarapé ....................................... 70 9 Sumário 1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 11 2 – FUNDAMENTAÇÃO ....................................................................... 14 2.1 Impactos ambientais ................................................................. 14 2.2 Impactos ambientais em bacias hidrográficas .......................... 28 2.3 Lixeiras municipais e impactos urbanos .................................... 32 2.3.1 Lixo, resíduos e rejeitos ......................................................... 35 2.3.2 Classificação dos resíduos ...................................................... 38 3 METODOLOGIA ............................................................................... 47 3.1 Delineamento do estudo .......................................................... 47 3.2 Caracterização da área de estudo ............................................. 47 3.2.1 Aspectos históricos ................................................................ 47 3.2.2 Localização geográfica ........................................................... 48 3.2.3 Aspectos físicos naturais ........................................................ 51 3.3 Procedimentos Metodológicos ................................................. 53 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................ 56 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 70 10 11 =11= 1 INTRODUÇÃO O impacto ambiental está associado ao crescimento do mundo urbanizado. A concentração da população nas áreas urbanas tem aumentado o consumo de bens e serviços contribuindo para a formação de um cenário com grandes impactos sociais e ambientais que estão direta e indiretamente ligados à geração e destinação inadequada dos resíduos. Na atualidade o impacto ambiental vem crescendo não só em uma escala local, mas também mundial, causando vários problemas ao ambiente inclusive à saúde pública (RIGHETTI, 2012). Hoje são dispostos vários métodos para a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), que são conhecidos como os métodos de matrizes de interação, são uma criação de controle bidimensional que identificam os impactos diretos. Nesse método não há uma identificação objetiva da magnitude dos impactos, mas se pode contar com a visão ampliada da relação entre a ação e o impacto que se associa ao mundo urbano e nas bacias hidrográficas. A bacia hidrográfica interage com outros recursos naturais como: a topografia, a vegetação e o clima. Dessa forma, um curso d’água, não depende de seu tamanho, é sempre o resultado da contribuição de determinada área topográfica, que sendo o elemento essencial para a análise do ciclo hidrológico, principalmente 12 =12= na sua fase terrestre, que engloba a infiltração e o escoamento superficial (BRIGANTE; ESPÍNDOLA, 2003). A rede hidrográfica amazônica é uma região de grandes divergências na gestão de seus recursos naturais. Em várias dimensões do espaço geográfico amazônico a água está presente. Na escala regional tem-sea problemática atrelada ao regime dos grandes rios com a interferência relacionada a expansão da ação antrópica, uma dessas ações que está se expandindo rápido é o desmatamento para a monocultura de grãos, para o crescimento das cidades, dentre outras. As cidades têm uma definição dentro do contexto urbanístico, mas podem ser definidas como ecossistemas formados por necessidades biológicas e culturais. As necessidades biológicas necessárias aos seres vivos são ar, água, espaço, energia (alimento e calor), abrigo e disposição de resíduos, e as necessidades culturais e são organização política, sistema econômico (trabalho, capital, materiais e poder), tecnologia, transporte e comunicação, educação e informação, atividades social e intelectual (recreação, religião, senso de comunidades) e segurança (RIGHETTI, 2012). A cidade de Manacapuru não é diferente das outras cidades é definida por seus ecossistemas biológicos e culturais, mas o poder público não está fazendo cumprir o seu papel perante a Lei em se tratando dos impactos ambientais. 13 =13= Este trabalho é relevante para a sociedade manacapuruense e também para o estudo da Geografia, com relações do homem com o meio ambiente. Contudo, o homem precisa ter consciência que suas ações são importantes para o bem-estar da sociedade e devem estar sob as Leis Ambientais. O estudo tem como objetivo geral avaliar os impactos ambientais da lixeira municipal sobre o igarapé do Santo Antônio em Manacapuru-AM, e os objetivos específicos são: Identificar os principais fatores de degradação ambiental na lixeira do município de Manacapuru; avaliar os impactos ambientais causados pela lixeira sobre a área de estudo; discutir as consequências ambientais causadas pela ação do homem na lixeira. 14 =14= 2 FUNDAMENTAÇÃO 2.1 Impactos ambientais O impacto ambiental é, na maioria das vezes, associado a algum dano à natureza. Segundo Sánchez (2011), o impacto ambiental é um desequilíbrio provocado pelo choque da relação do homem com o meio ambiente. Embora essa noção esteja incluída na noção de impacto ambiental, ela dá conta de apenas uma parte do conceito. Na literatura técnica, há várias definições de impacto ambiental, quase todas elas largamente concordantes quanto a seus elementos básicos, embora formuladas de diferentes maneiras. Alguns exemplos são: qualquer alteração no meio ambiente em um ou mais de seus componentes provocada por uma ação humana (MOREIRA, 1992); O efeito sobre o ecossistema de uma ação induzida pelo homem (WESTMAN, 1985); a mudança em um parâmetro ambiental, em um determinado período e numa determinada área que resulta de uma dada atividade, comparada com a situação que ocorreria se essa atividade não tivesse sido iniciada (WATHERN, 1998). A definição adotada por Wathern (1998) tem a interessante característica de introduzir a dimensão dinâmica dos processos do meio ambiente como base de entendimento das alterações ambientais denominadas impactos. Ele afirma que se um empreendimento vier a derrubar a vegetação atual, seu impacto 15 =15= deveria ser avaliado não comparando a possível situação futura (área sem vegetação) com a atual, mas comparando a situação sem a presença do empreendimento proposto com a situação decorrente de sua implantação. Outra definição de impacto ambiental é dada pela versão atualizada da primeira Norma ISO 14.001, de 1996; diz que qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização (BRASIL, 2006) (item 3.4 da Norma). É interessante conhecer o conceito de impacto ambiental adotado por essa norma porque muitas empresas e outras organizações têm adotado sistemas de gestão ambiental nela baseados. No Brasil, a definição legal de impacto ambiental é aquela da Resolução Conama n. 01/86, art. 1º: considera que qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente afetem: I- A saúde, a segurança e o bem-estar da população; II- As atividades sociais e econômicas; III- As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; IV- A qualidade dos recursos naturais. Essa definição trata-se, na verdade, de uma definição de poluição como se observa pela menção a “qualquer forma de matéria 16 =16= ou energia” como fator responsável pela “alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas” do ambiente. Ao contrário, a definição de poluição dada pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente reflete melhor o conceito de impacto ambiental, embora somente no que se refere a impacto negativo. Como se sabe impacto ambiental também pode ser positivo. Behrend (2012) conceitua que é oportuno apontar algumas características do conceito de impacto ambiental quando comparado ao de poluição: a) Impacto ambiental é um conceito mais amplo e substancialmente distinto de poluição; b) Enquanto poluição tem somente uma conotação negativa, impacto ambiental pode ser benéfico ou adverso (positivo ou negativo); c) Poluição refere-se à matéria ou energia, ou seja, grandezas físicas que podem ser medidas e para as quais se podem estabelecer padrões (níveis admissíveis de emissão ou de concentração ou intensidade); d) Várias ações humanas causam significativo impacto ambiental sem que estejam fundamentalmente associadas à emissão de poluentes (por exemplo, a construção de barragens ou a instalação de um parque de geradores eólicos); e) A poluição é uma das causas de impacto ambiental, mas os impactos podem ser ocasionados por outras ações além do ato de poluir; f) Toda poluição (ou seja, emissão de matéria ou energia além da capacidade assimilativa do meio) causa impacto ambiental, mas nem todo impacto ambiental tem a poluição como causa. 17 =17= A possibilidade de ocorrerem impactos ambientais positivos é uma noção que deve ser bem assimilada. Um exemplo corriqueiro de impacto positivo, encontrado em muitos estudos de impacto ambiental, é descrito como “criação de empregos”. Trata-se, como é evidente, de um impacto social e econômico, campo em que é relativamente fácil compreender que possa haver impactos benéficos. Mas também há impactos positivos sobre componentes físicos e bióticos do meio. Um projeto que envolva a coleta e o tratamento de esgotos resultará em melhoria da qualidade das águas, em recuperação do habitat aquático e em efeitos benéficos sobre a saúde pública. Uma indústria que substitua uma caldeira a óleo pesado por uma caldeira a gás emitirá menos poluentes, como material particulado e óxidos de enxofre, ao mesmo tempo em que, caso venha a ser abastecida por um duto de gás, serão eliminadas as emissões dos caminhões de transporte de óleo e os incômodos causados pelo tráfego pesado (BEHREND, 2012). Behrend (2012) postula que o impacto ambiental pode ser causado por uma ação humana que implique em: 1- Supressão de certos elementos do ambiente, a exemplo de: supressão de componentes do ecossistema, como a vegetação; destruição completa de habitats (por exemplo, aterramento de mangue); destruição de componentes físicos da paisagem (por exemplo, escavações); supressão de elementos significativos do ambiente construído; supressão de referências físicas à memória (locais sagrados, como 18 =18= cemitérios, pontos de encontro de membros de uma comunidade); supressão de elementos ou componentes valorizados do ambiente (cavernas, paisagens notáveis). 2- Inserção de certos elementos no ambiente, a exemplo de: introdução de uma espécie exótica; introdução de componentes construídos (barragens, rodovias, edifícios, áreas urbanizadas); sobrecarga (introdução de fatores deestresse além da capacidade de suporte do meio, gerando desequilíbrio), a exemplo de: qualquer poluente; redução do habitat ou da disponibilidade de recursos para uma dada espécie; aumento da demanda por bens e serviços públicos (educação e saúde). O conceito de “ambiente” no campo do planejamento e gestão ambiental, é amplo, multifacetado e maleável. Amplo porque pode incluir tanto a natureza como a sociedade. Multifacetado porque pode ser apreendido sob diferentes perspectivas. Maleável porque, ao ser amplo e multifacetado, pode ser reduzido ou ampliado de acordo com as necessidades do analista ou os interesses dos envolvidos (SÁNCHEZ, 2011). O entendimento amplo ou restrito do conceito determina o alcance de políticas públicas, de ações empresariais e de iniciativas da sociedade civil. No campo da avaliação de impacto ambiental, define a abrangência dos estudos ambientais, das medidas mitigadoras ou compensatórias, dos planos e programas de gestão ambiental. Dessa forma, a interpretação do conceito de “ambiente” é importante na definição do alcance dos instrumentos de 19 =19= planejamento das políticas voltadas ao meio ambiente. Em muitas jurisdições, os estudos de impacto ambiental não são, no discurso, restritos às repercussões físicas e ecológicas dos projetos de desenvolvimento, mas incluem também seus efeitos nos planos econômico, social e cultural. Behrend (2012) salienta que tal entendimento faz bastante sentido quando se pensa que as repercussões de um projeto podem ir além de suas consequências ecológicas. Como por exemplo, no caso de uma barragem que afete os movimentos migratórios dos peixes, poderá causar uma redução no estoque de espécies consumidas por populações humanas locais ou capturadas para fins comerciais. Isso certamente terá implicações para as comunidades humanas, seu modo de vida ou sua capacidade de obter renda. O licenciamento ambiental foi colocado em prática a partir de 1975, inicialmente nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Foi estabelecido nacionalmente por meio da Lei Federal n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, que estabeleceu a Política Nacional de Meio Ambiente e definiu os princípios e os objetivos que norteiam a gestão ambiental. Posteriormente, a Política Nacional de Meio Ambiente instituiu o Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA e elaborou um conjunto de instrumentos os quais vêm sendo desenvolvidos e atualizados por meio de resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, órgão também criado pela Lei Federal n° 6.938/81 com poder para estabelecer normas e regulamentos. A 20 =20= consagração desta lei e de seus respectivos instrumentos deu–se com a Constituição de 1988, por meio do artigo 225, no capítulo referente à Proteção ao Meio Ambiente (BEHREND 2012). Esses instrumentos são: O Relatório de Controle Ambiental (RCA) é composto de estudos relativos aos aspectos ambientais concernentes à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou um empreendimento que não gera impactos ambientais significativos e que contém informações relativas: à caracterização do ambiente em que se pretende instalar; a sua localização frente ao Plano Diretor Municipal; a alvarás, documentos similares e plano de controle ambiental que identifique as fontes de poluição ou degradação, e às medidas de controle pertinentes. Seu conteúdo será estabelecido caso a caso. O Plano de Controle Ambiental (PCA) deve conter os projetos executivos de minimização dos impactos ambientais avaliados por meio do Estudo de Impacto Ambiental (EIA)/Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) e entregues para a obtenção da Licença Prévia. Plano de Controle Ambiental acompanhado do Relatório de Controle Ambiental (PCA/RCA) é exigido para empreendimentos e/ou atividades que não têm grande capacidade de gerar impactos ambientais. Porém, a estruturação dos documentos possui escopo semelhante ao do EIA/RIMA. Neste caso, não são necessários grandes níveis de detalhamento. 21 =21= Relatório de Detalhamento dos Programas Ambientais (RDPA) é o documento que apresenta, detalhadamente, todas as medidas de controle e os programas ambientais propostos no Relatório Ambiental Simplificado – RAS devendo ser apresentado junto com a comprovação do atendimento das condicionantes da Licença Prévia, ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), no requerimento da Licença de Instalação. Assim como o RAS, esse relatório é utilizado somente para empreendimentos com impacto ambiental de pequeno porte, assim definido pelo IBAMA. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é o exame necessário para o licenciamento de empreendimentos com significativo impacto ambiental. Apesar de a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) 01/86, em seu art. 2º, listar, a título exemplificativo, os casos de empreendimentos ou atividades sujeitas ao EIA e ao Rima, caberá ao órgão ambiental competente identificar as atividades e os empreendimentos causadores de “impactos significativos”. O que é significativo, importante e relevante em um grande centro poderá não ter a mesma significação na zona rural. O EIA deve ser elaborado por profissionais legalmente habilitados. De acordo com o art. 6º da Resolução Conama 237/97, o EIA deve ser composto obrigatoriamente por quatro seções: 1diagnóstico ambiental da área de influência do empreendimento: deve descrever e analisar as potencialidades dos meios físico, biológico e 22 =22= socioeconômico da área de influência do empreendimento, inferindo sobre a situação desses elementos antes e depois da implantação do projeto; 2. Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas: contempla a previsão da magnitude e a interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes do empreendimento, discriminando os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; o grau de reversibilidade desses impactos; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais; 3. Medidas mitigadoras dos impactos negativos: devem ter sua eficiência avaliada a partir da implementação dos programas ambientais previstos para serem implementados durante a vigência da LI; e programa de acompanhamento e monitoramento: deve abranger os impactos positivos e negativos, indicando os padrões de qualidade a serem adotados como parâmetros. Considerando a extensão, o nível de detalhamento do EIA e o fato de ele ser redigido em linguagem técnica, o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) é elaborado, em linguagem mais acessível, com o objetivo de atender à demanda da sociedade por informações a respeito do empreendimento e de seus impactos. Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) é exigido nos mesmos casos em que se exige o EIA. Diferentemente do que vem ocorrendo em muitos casos, o RIMA não é, e nem deve ser, um resumo do EIA. 23 =23= O EIA e o RIMA são dois documentos distintos com focos diferenciados. Embora tais expressões sejam vistas, vulgarmente, como sinônimas, na verdade são termos distintos. O EIA é o todo: complexo, detalhado, muitas vezes com linguagem, dados e apresentação incompreensíveis para o leigo. O RIMA é a parte mais visível (ou compreensível) do procedimento, verdadeiro instrumento de comunicação do EIA ao administrador e ao público (AMOY, 2006). O RIMA é destinado especialmente ao esclarecimento da opinião pública, devendo ser apresentado e discutido em audiências públicas como forma de permitir a influência da sociedade sobre decisões ambientais que possam vir a afetá-la direta ou indiretamente, tanto do ponto de vista da transformação ambiental como sobre outros impactos, positivos e negativos, do ponto de vista socioeconômico (AMOY,2006,). Em termos gerais, pode-se dizer que o EIA é um documento técnico e que o RIMA é um relatório gerencial. O termo Avaliação de Impacto Ambiental entrou na literatura ambiental brasileira a partir da legislação pioneira que, criou esse instrumento de planejamento ambiental através da Lei de política nacional do meio ambiente dos Estados Unidos da América (EUA). Os fundamentos do processo de Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) foram estabelecidos nos Estados Unidos em 1969, quando o Congresso aprovou a National Environmental Policy of Act, mais conhecida pela sigla NEPA (DIAS, 2001). A NEPA é considerada o 24 =24= principal marco da conscientização ambiental (MAGRINI, 1989), sendo uma resposta às pressões crescentes da sociedade organizada para que os aspectos ambientais passassem a ser considerados na tomada de decisão sobre a implantação de projetos capazes de causar significativa degradação ambiental (DIAS, 2001). O significado e o objetivo da avaliação de impacto ambiental prestam-se a inúmeras interpretações. Sem dúvida, seu sentido depende da perspectiva, do ponto de vista e do propósito de avaliar impactos. Há várias definições e algumas delas serão transcritas a seguir: 1- Instrumento de política ambiental, formado por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar, desde o início do processo, que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação proposta (projeto, programa, plano ou política) e de suas alternativas, e que os resultados sejam apresentados de forma adequada ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão e por eles sejam considerados (MOREIRA, 1992). 2- A apreciação oficial dos prováveis efeitos ambientais de uma política, programa, ou projeto; alternativas à proposta e medidas a serem adotadas para proteger o ambiente (GILPIN, 1995). 3- Um processo sistemático que examina antecipadamente as consequências ambientais de ações humanas (GLASSON et al, 1999). 25 =25= De acordo com Sánchez (2011), AIA é um exercício prospectivo, antecipatório, prévio e preventivo. O outro significado será entendido como a avaliação de dano ambiental. A primeira preocupa-se com o futuro, enquanto a última com o passado e o presente. Ambas têm um procedimento comum, que é a comparação entre duas situações: na avaliação do dano ambiental, busca-se fazer a comparação entre a situação atual do ambiente e aquela que se supõe ter existido em algum momento do passado. Na avaliação de impacto ambiental, parte- se da descrição dessa situação atual do ambiente para fazer uma projeção de sua situação futura com e sem o projeto em análise. É claro que, em ambos os casos, é necessário o conhecimento da situação atual do ambiente. Denomina-se diagnóstico ambiental a descrição das condições ambientais existentes em determinada área no momento presente. A abrangência e a profundidade do diagnóstico ambiental dependerão dos objetivos e do escopo dos estudos. Nessa ordem de preocupações com o passado (ou seja, quando se tratar de avaliação de dano ambiental), outro termo bastante utilizado é passivo ambiental, aqui entendido como o “valor monetário necessário para reparar os danos ambientais” (SÁNCHEZ, 2001 p.18), mas também usado para designar a própria manifestação (física) do dano ambiental, o “acúmulo de danos ambientais que devem ser reparados a fim de que seja mantida a qualidade ambiental de um determinado local” (SÁNCHEZ, 2001, p.18). 26 =26= Braga (2005) considera que os métodos hoje corretamente disponíveis para avaliação de impactos ambientais, em sua maioria, resultam da evolução de outros já existentes. Alguns são adaptações e técnicas do planejamento de estudos econômicos ou de ecologia. Outros foram concebidos no sentido de considerar os requisitos legais envolvidos, como é o caso dos métodos das Matrizes e das Redes de interação. Esses métodos têm em comum a característica de disciplinarem os raciocínios e os procedimentos destinados a identificar os agentes causadores e as modificações decorrente de uma determinada ação ou conjunto de ações. Atualmente estão disponíveis métodos bastante detalhados visando apoiar a avaliação de impactos das mais diferentes naturezas (BRAGA, et al. 2005). No caso brasileiro, por exemplo, um método de avaliação de impacto ambiental é tão adequado quanto a sua utilidade para dar suporte ao conjunto mínimo de atividades e produtos legalmente exigidos na execução dos EIA/RIMA (artigos 6º ao 9º da resolução nº 001/86 do CONAMA) e para torná-los adequados ao processo de sua apreciação pelos técnicos e pelo público interessado (CONAMA art. 11) (BRASIL, 2006). Os métodos são de suma importância avaliar os impactos, Munn (1975) resume como atributo desejável de um método sua capacidade de atender as seguintes funções na avaliação de impactos: identificação; predição; interpretação; comunicação e monitoramento. Considera-se ainda desejável que o método 27 =27= caracterize os impactos quanto a sua relevância (ou importância) e sua magnitude. Os métodos de avaliação de impactos ambientais são ferramentas dispostas para identificar e avaliar os impactos causados ao ambiente. São instrumentos usados para coletar, comparar e organizar informações qualitativas e quantitativas sobre os impactos ambientais, cuja origem esteja em uma atividade modificadora do meio. Atualmente são dispostos de vários métodos de AIA conhecidos, porém os métodos das Matrizes de Interação são uma evolução das listagens de controle, são considerados do grupo das listagens de controle bidimensional. São métodos de identificação de impactos diretos. É representado por um gráfico que relaciona os impactos de cada ação com o fator ambiental a partir de quadrículas definidas pelo cruzamento de linhas e colunas. Como listagens de controle bidimensionais, que as linhas podem representar as ações impactantes e as colunas, os fatores ambientais impactados. Neste método não há uma identificação objetiva da magnitude dos impactos, mas se pode contar com a visão ampliada da relação entre a ação e o impacto. Temos o método de Leopold. É um dos mais utilizados foi concebido pelo US Geological Survey e conhecida como Matriz de Leopold. Na Matriz de Leopold há um cruzamento de 88 componentes (ou fatores) ambientais e 100 ações potencialmente alteradoras do 28 =28= ambiente resultam 8.800 quadrículas, em cada quadrícula são indicados algarismos que variam entre 1 e 10, correspondendo a magnitude e a importância do impacto. Ao número 1 corresponde a condição de menor magnitude (mínimo da alteração ambiental potencial) e de menor importância (mínima significância da ação sobre o componente ambiental considerado). Ao número 10 correspondem os valores máximos desses atributos. O sinal de + ou – na frente dos números indica se o impacto é benéfico ou adverso. 2.2 Impactos ambientais em bacias hidrográficas A bacia hidrográfica é o elemento fundamental de análise no ciclo hidrológico, principalmente na sua fase terrestre, que engloba a infiltração e o escoamento superficial. Ela pode ser definida como uma área limitada por um divisor de águas, que a separa das bacias adjacentes e que serve de captação natural da água de precipitação através de superfícies vertentes (Figura 1). “Por meio de uma rede de drenagem, formada por cursos d’água, ela faz convergir os escoamentos para a seção de exutório, seu único ponto de saída” (LINSLEY; FRANZINI, 1978; TUCCI, 1997). Silva A. M. (1995) enfatiza que a bacia hidrográfica é também denominada de bacia de captação quando atua como coletora das águas pluviais, ou bacia de drenagem quando atua como uma área que está sendo drenada pelos cursos d’água. Por constituírem 29 =29= ecossistemas com o predomínio de uma única saída, as baciashidrográficas possibilitam a realização de uma série de experimentos (VALENTE; 2011). Segundo Genz e Tucci (1995) os principais impactos que decorrem do desenvolvimento de uma área urbana sobre os processos hidrológicos, estão ligados à forma de ocupação da terra, e também ao aumento das superfícies impermeáveis em grande parte das bacias que se localizam próximas a zonas de expansão urbana ou inseridas no perímetro urbano. Desta forma, de acordo com Campana e Tucci (1994) as bacias urbanas necessitam ser planejadas com seu desenvolvimento futuro levado em consideração. Contudo, a falta de planejamento adequado e as irregularidades na ocupação descontrolada tornam esta tarefa bastante difícil. Forman (1995), diz que um dos maiores desafios do planejamento do uso da terra é o que se refere ao uso sustentável do ambiente que se baseia em uma dinâmica de transformação com igual ênfase, nas dimensões ambientais e humanas da paisagem e na consideração de intervalo temporal que abranja diferentes gerações humanas. Estudos, no Brasil, mostram as relações entre atividades humanas e seus efeitos na água causam grande impacto de contaminação. Porém, sabe-se de experiências realizadas, tanto no País, quanto no exterior, que as principais atividades contaminantes são as relacionadas com práticas agrícolas, industriais, de mineração, 30 =30= instalações de postos de gasolina e também da instalação de cemitérios. Na Amazônia, em especial, não há dados a esse respeito que permitam avaliar a dimensão do impacto dessas atividades nos recursos hídricos (ANA, 2005). Para o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2006) a Região Hidrográfica Amazônica representa cerca de 40% do território brasileiro e possui mais de 60% de toda a disponibilidade hídrica do País. Os recursos hídricos desta região, abundantes e até hoje pouco explorados, constituem um patrimônio nacional para o qual a nação brasileira não pode voltar às costas. Região de grandes diferenças naturais e humanos, a Região Hidrográfica Amazônica tem na gestão de seus recursos naturais, na qual se inclui a água e o processo de implementação de sua gestão, um grande desafio. Em várias escalas do espaço geográfico Amazônico, percebem-se questões vinculadas à água. Na escala regional, têm-se problemas vinculados aos regimes dos grandes rios, sua tipologia e disponibilidade hídrica, afetadas por questões relacionadas com a expansão das ações antrópicas como: o desmatamento, a mineração, e a monocultura de grãos, dentre outras. Na escala de detalhe e/ou local, os problemas principais envolvem o saneamento, em especial nas áreas urbanas, a questão fundiária, os conflitos em relação aos usos preponderantes da água (irrigação, consumo humano, etc.) e o uso indiscriminado da água subterrânea. Essa pressão antrópica, que a região vem sofrendo, ainda 31 =31= não compromete a grande abundância de água existente na Amazônia. Porém, as pressões estão acontecendo em uma velocidade cada vez maior em um ecossistema sensível e vulnerável, repleto de desafios e esperanças que preenchem o imaginário nacional quanto às suas perspectivas de desenvolvimento e sustentabilidade. No contexto da sustentabilidade, algumas alternativas de desenvolvimento podem ser vistas como vocações regionais, dentre as quais se destacam: a indústria do eco-turismo, a aquicultura, o uso da biodiversidade para produção de fármacos e a indústria de transformação de baixo impacto (eletro-eletrônica, por exemplo). Sendo que hoje, muitas dessas atividades, já ocorrem na Região Hidrográfica, de maneira independente do estabelecimento de políticas públicas específicas. O que preocupa, a médio e longo prazo, a questão da gestão dos seus recursos naturais. Assim, a Região Hidrográfica Amazônica tem passado por grandes transformações, fruto de um desenvolvimento que se dá de forma aleatória apresentando dificuldades para a efetiva implementação de políticas públicas (BRASIL, 2006). Considerando as bacias hidrográficas como elemento fundamental para o desenvolvimento da vida na terra, as causas dos principais impactos que decorrem do desenvolvimento de uma área urbana sobre os processos hidrológicos estão ligados à forma de ocupação da terra. Nesse contexto vale salientar que as práticas de 32 =32= manejo está presente em várias escalas do espaço contribuindo para o avanço de impactos nas bacias hidrográficas. 2.3 Lixeiras municipais e impactos urbanos Mota (2003) define o ambiente urbano como sendo formado por dois sistemas intimamente inter-relacionados: o “sistema natural”, composto do meio físico e biológico (solo, vegetação, animais, água), e o “sistema antrópico”, consistindo do homem e de suas atividades, de forma que o ambiente urbano interage com o ambiente natural, e os reflexos das atividades humanas podem ser vistos em ambos. As cidades também podem ser definidas como ecossistemas formados por necessidades biológicas e culturais. As necessidades biológicas são ar, água, espaço, energia (alimento e calor), abrigo e disposição de resíduos, e as necessidades culturais são organização política, sistema econômico (trabalho, capital, materiais e poder), tecnologia, transporte e comunicação, educação e informação, atividades social e intelectual (recreação, religião, senso de comunidades) e segurança. Sobral (1996) acrescenta ainda que o sistema urbano é incompleto, visto que o fluxo de energia e matéria, característico de todo ecossistema e que mantém a sua autonomia, é no sistema urbano parcial e unidirecional, uma vez que a cidade é apenas um local 33 =33= de consumo, estando os centros produtores situados fora de seu território. Além disso, os elementos que vêm das áreas produtoras para as de consumo não têm retorno, acumulando-se nestas na forma de poluentes, excesso de energia, geração de entropia. Do ponto de vista termodinâmico, a cidade é um sistema em permanente desequilíbrio. Vivemos num momento em que se chegou ao limite o pensamento de que “o homem está acima da natureza”. Ele é parte integrante de um todo indissociável e interdependente, e mais do que parte integrante, o homem também é responsável por sua proteção. Falta um compromisso ético na relação do homem com a natureza, os bens naturais (coletivos) são apropriados na forma de propriedade particular, em que parecem se impuser somente privilégios, nunca obrigações. Como descreve Ribas (2003, p.22). Existe uma noção de certa forma generalizada de que há sempre um conflito, ou uma oposição, uma contradição mesmo entre os conceitos de “urbano” e de “ambiental”. Esta oposição está presente nas formulações teóricas sobre sociedade e natureza, nas políticas públicas urbanas e ambientais e nas práticas dos movimentos sociais (incluindo ambiental), muitas vezes até nas tentativas de abordagem interdisciplinar da “questão ambiental-urbana”. 34 =34= Parte-se do entendimento de que o surgimento das preocupações quanto às questões urbanas e ambientais se deram em momentos diferentes. Enquanto a primeira, pode-se dizer simplificadamente, adveio juntamente com a consolidação do capitalismo ocidental e da industrialização, a segunda surge de reações ao caráter predatório da expansão econômica capitalista, em questionamento a este modelo de desenvolvimento (RIBAS, 2003). Com o aumento da população, devido à migração das pessoas que saem da zona rural e concentraram-se nas cidades, o crescimento geométrico da população e a forte industrialização aumentou a quantidade de lixo na zona urbana conforme Fig. 1. Figura 1-Aumento de lixo na área urbana Fonte: Daniel Guedes (2013) 35 =35= A figura acima apresenta os resíduos sólidos, tais constituem problemas sanitário, ambiental, econômico e estético.Com o crescimento acelerado das cidades, do consumo de produtos industrializados e, mais recentemente, com o surgimento de produtos descartáveis, o aumento excessivo do lixo tornou-se um dos maiores problemas ambientais da sociedade moderna. Isso é agravado pela escassez de áreas para o destino final do lixo. O resíduo depositado no ambiente aumenta cada vez mais a poluição do solo, das águas e do ar, agravando as condições de saúde da população mundial. O volume de lixo tem crescido assustadoramente. Alves (1998) afirma que, dentre os vários tipos de lixo, os domiciliares representam um sério problema, tanto pela sua quantidade gerada diariamente quanto pelo crescimento urbano desordenado e acelerado. 2.3.1 Lixo, resíduos e rejeitos Lixo é todo e qualquer resíduo sólido resultante das atividades diárias do homem em sociedade. Pode encontrar-se nos estados sólido, líquido e gasoso. Como exemplos de lixo, temos as sobras de alimentos, embalagens, papéis, plásticos e outros. Segundo o dicionário Aurélio, lixo é definido como tudo o que não presta e se joga fora; coisas inúteis, velhas, sem valor; resíduos que resultam de atividades domésticas, industriais e comerciais. 36 =36= Porém, define resíduo como remanescentes ou restos, ou seja, aquilo tudo que sobra de algum processo ou sistema (FERREIRA, 2004). Para tais definições, dois pontos merecem atenção: o primeiro é que resíduo e lixo nem sempre são sinônimos, já que o resto de alguma atividade ou processo pode ser reaproveitado em outro momento, deixando de ser algo sem valor, tornando-se matéria- prima. O segundo ponto é que, frente à escassez de espaço para disposição dos resíduos, temos que superar a ideia da existência do “jogar fora”, pois na prática não existe o “fora”. A Organização Mundial da Saúde (OMS apud BRASIL, 2004) define o lixo como qualquer coisa que seu proprietário não queira mais e que não possui valor comercial. Seguindo essa lógica, se assumirmos que parte dos resíduos gerados nas diversas atividades humanas ainda possui valor comercial se for manejado adequadamente, temos que adotar uma nova postura e assumir o resíduo como uma matéria-prima potencial. Resíduos sólidos são materiais, substâncias, objetos ou bem descartados resultantes de atividades humanas em sociedade (RIGHETTI, 2012, p 17). Considerando a complexidade das atividades humanas, podemos imaginar que o resíduo de uma atividade pode ser utilizado para outra, e assim sucessivamente de forma sistêmica e integrada. Contudo, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2004), em sua norma 10004, define resíduos como restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, 37 =37= indesejáveis ou descartáveis. Geralmente em estado sólido, semissólido ou semilíquido (com conteúdo líquido insuficiente para que este líquido possa fluir livremente). Resíduo pode ser considerado qualquer material que sobra após uma ação ou processo produtivo. Diversos tipos de resíduos (sólidos, líquidos e gasosos) são gerados nos processos de extração de recursos naturais, transformação, fabricação ou consumo de produtos e serviços. Esses resíduos passam a ser descartados e acumulados no meio ambiente, causando não somente problemas de poluição, como caracterizando um desperdício da matéria originalmente utilizada (RIGHETTI, 2012, p 17) Para Righetti (2012), a Política Nacional de Resíduos Sólidos apresenta dois conceitos importantes, distinguindo resíduos e rejeitos. Definindo rejeitos como resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada. De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, resíduos sólidos são aqueles que se encontram também nos estados líquido e gasoso, constituídos, principalmente, pelos efluentes de diversas atividades humanas. Há, no entanto, outros tipos de resíduos em estado líquido, tais como o chorume, potencial contaminante de 38 =38= lençóis freáticos. Cabe ressaltar, por fim, que há alguns resíduos líquidos especiais, tais como o mercúrio, que são altamente tóxicos. 2.3.2 Classificação dos resíduos A classificação de resíduos sólidos envolve a identificação do processo ou atividade que lhes deu origem, de seus constituintes e características, e a comparação destes constituintes com listagens de resíduos e substâncias cujo impacto à saúde e ao meio ambiente é conhecido. Os resíduos podem ser classificados de acordo com a sua natureza física (seco e molhado), sua composição química (matéria orgânica e matéria inorgânica), como também pelos riscos potenciais ao meio ambiente (perigoso, não inerte e inerte). Ainda de acordo com a norma NBR 10.004 – ABNT (1987, p. 01), os resíduos sólidos são classificados em três categorias: Resíduos nos estados sólidos e semi-sólidos, que resultam de atividades da comunidade de origem: urbana, agrícola, radioativa e outros (perigosos e/ou tóxicos). Incluem-se, nesta definição, os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgoto ou corpos de água, ou exijam para isso soluções 39 =39= técnicas e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível. Para a norma os resíduos são classificados conforme o tipo e de onde vem, a proveniência de cada classe de lixo e as características determina o seu destino. Desta maneira Righetti (2012) cita que as características físicas dos resíduos, pode-se classificar como secos, metais, vidros, papéis, plásticos, madeiras, pontas de cigarro, isopor, lâmpadas dentre outros; e como molhados os restos de comida, alimentos estragados, verduras, cascas e bagaços de frutas dentre outros. Quanto à composição química, podem ser orgânicos, quando compostos por materiais que possuem carbono em sua composição, ou seja, aqueles provenientes da terra, como restos de alimentos, cascas e bagaços de frutas, ossos e podas de árvores, e inorgânicos, quando compostos por produtos manufaturados como metais (latinhas de alumínio), plásticos, vidros, pneus, lâmpadas dentre outros. A origem é o principal elemento para a caracterização dos resíduos sólidos. Quanto a sua origem, os diferentes tipos de resíduos podem ser agrupados em cinco classes: Lixo comercial – Oriundo dos estabelecimentos comerciais, tais como supermercados, estabelecimentos bancários, lojas, bares, restaurantes dentre outros. Segundo Silva B. A. W. (2006), o lixo desses estabelecimentos tem um forte componente de papel, 40 =40= plásticos, embalagens diversas e resíduos de asseio dos funcionários, tais como papéis toalha e higiênicos. Lixo público – Oriundo dos serviços de limpeza pública, incluindo-se todos os resíduos de varrição de vias públicas, praias, podas das árvores e limpeza de jardins, de galerias e terrenos, além de animais mortos. Lixo domiciliar - Oriundo de residências, das atividades diárias como comer, beber, limpar a casa e fazer a higiene pessoal. Constituído por restos de alimentos, alimentos estragados, revistas e jornais, papel higiênico, fraldas descartáveis e embalagens em geral, além de uma grande diversidade de outros itens. Pode ainda conter alguns resíduos que podem ser tóxicos, sendo classificados como especiais (pilhas). Lixo domiciliar especial - Compreende os entulhos de obras, pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes e pneus. Lixo de Fontes especiais - São resíduos que, em função de suas características peculiares, passam a merecer cuidados especiais em seu manuseio, acondicionamento,estocagem, transporte ou disposição, entre estes, encontramos o lixo industrial, lixo de portos, aeroportos e terminais rodoferroviários, lixo agrícola, lixo radioativo e o lixo de serviços da saúde. Os entulhos de obra, também conhecidos como resíduos da construção civil são enquadrados nesta categoria por causa da grande quantidade gerada e pela importância que sua recuperação 41 =41= e reciclagem vêm assumindo no cenário nacional. Esses resíduos são compostos por materiais de demolições, restos de obras e solos de escavações, geralmente material inerte, passível de reaproveitamento, o qual, contudo, muitas vezes contém materiais que podem ser tóxicos, com destaque para peças de amianto, solventes e restos de tintas, além de metais diversos, cujos componentes podem ser remobilizados caso o material não tenha tratamento adequado. Desse modo, segundo Alves (1998), o lixo domiciliar especial é aquele que contém qualquer material, de natureza química ou biológica, descartado, que possa pôr em risco a saúde da população, bem como o meio ambiente. É preciso compreender a classificação dos resíduos quanto ao risco potencial no meio ambiente conforme a tabela 1. Tabela 1-Classificação dos resíduos segundo sua origem CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS DEFINIÇÃO SUBCATEGORIAS Lixo Comercial São resíduos gerados em estabelecimentos comercias, cujas características dependem da atividade ali desenvolvida. Lixo Público São os resíduos presentes nos logradouros públicos, em geral resultantes da natureza, tais como folhas, 42 =42= galhadas, poeira, terra e areia, e também aqueles descartados irregular e indevidamente pela população, como entulho, bens considerados inservíveis, papéis, restos de embalagens e alimentos. Lixo Domiciliar São resíduos gerados nas atividades diárias em casas, apartamentos, condomínios e demais edificações residenciais. Lixo Domiciliar Especial Compreende os entulhos de obras, pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes e pneus. Os entulhos de obras estão enquadrados nesta categoria por causa da grande quantidade gerada e pela importância que sua recuperação e reciclagem vêm assumindo no cenário nacional. Entulho de obras Pilhas e baterias Lâmpadas fluorescentes Pneus. Lixo de Fontes Especiais São resíduos que, em função de suas características peculiares, passam a merecer cuidados especiais em seu manuseio, acondicionamento, estocagem, transporte ou disposição. Lixo Industrial Lixo de Portos, Aeroportos e Terminais Rodo- Ferroviários Lixo Agrícola Lixo radioativo Lixo de serviços da saúde FONTE: Righetti (2012) 43 =43= A periculosidade de um resíduo é a característica apresentada que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou biológicas, pode infectar ou contagiar as pessoas, podendo apresentar risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus índices e riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada (ABNT, 2004). De acordo com a NBR 10004, a toxicidade de um resíduo é a propriedade potencial que o agente tóxico possui de provocar, em maior ou menor grau, um efeito adverso em consequência de sua interação com o organismo. Sendo o agente tóxico qualquer substância ou mistura cuja inalação, ingestão ou absorção cutânea tenha sido cientificamente comprovada como tendo efeito adverso (tóxico, carcinogênico, mutagênico, teratogênico ou ecotoxicológico). De acordo com a NBR 10004, os resíduos sólidos são classificados quanto aos riscos potenciais de causar dano ao meio ambiente e à saúde pública como: a) Resíduos Classe I – Perigosos; b) Resíduos Classe II – Não perigosos; Resíduos Classe II A – Não inertes. Resíduos Classe II B – Inertes (Tabela 2). 44 =44= Tabela 2- Classificação dos resíduos quanto a riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública de acordo com a NBR 10004. CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS DEFINIÇÃO RESÍDUOS Resíduos classe I Perigosos São aqueles que em função de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxidade e patogenicidade podem apresentar risco à saúde pública, provocando ou contribuindo para o aumento de mortalidade ou incidência de doenças e/ou apresentar efeitos adversos ao meio ambiente, quando manuseados ou dispostos de forma inadequada. Óleo lubrificante usado ou contaminado. Óleo de corte e usinagem usado. Equipamentos descartados contaminados com óleo. Lodos de galvanoplastia. Lodos gerados no tratamento de efluentes líquidos de pintura industrial. Efluentes líquidos ou resíduos originados do processo de preservação da madeira. Acumuladores elétricos à base de chumbo (baterias). Lâmpada com vapor de mercúrio após o uso (fluorescentes). Resíduos classe II não inertes Os considerados não inertes são aqueles que não se enquadram nas classificações de resíduos classe I e nem de classe II b, podendo ter propriedades como combustividade biodegradabilidade ou solubilidade em água. O lixo comum gerado em qualquer unidade industrial (proveniente de restaurantes, escritórios, banheiros). Resíduos classe II inertes Quaisquer resíduos que quando amostrados de forma representativa e submetidos a um contato estático ou dinâmico com água destilada ou deionizada, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores Rochas. Tijolos. Vidros. Certos plásticos e borrachas que não são decompostos de imediato. 45 =45= aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se os padrões de aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor. FONTE: Righetti (2012) A classificação dos resíduos radioativos apresentada na tabela acima deve ser feita de acordo com o radionuclídeo e/ou natureza da radiação, estado físico, concentração e taxa de exposição. Os resíduos líquidos e gasosos contendo emissores alfa, beta e/ou gama são classificados de acordo com os níveis de concentração, e os resíduos sólidos contendo emissores alfa são classificados de acordo com sua concentração. Até a década de 80, os resíduos de saúde considerados perigosos incluíam aqueles provenientes de hospitais. A denominação “lixo hospitalar” tornou-se comumente utilizada mesmo quando os resíduos não eram gerados em unidade hospitalares. Os resíduos sólidos hospitalares, ou como é mais comumente denominado “lixo hospitalar ou resíduo séptico”, sempre constituíram um problema bastante sério para os administradores hospitalares, devido principalmente à falta de informações a seu respeito, gerando mitos e fantasias entre funcionários, pacientes, familiares e principalmente entre as comunidades vizinhas às edificações hospitalares e aos aterros sanitários. 46 =46= Considerando o resíduo como qualquer material que sobra após uma ação ou processo produtivo. Esses resíduos passam a ser descartados e acumulados no meio ambiente, causando não somente problemas de poluição, mas a degradação do ambiente e do próprio homem. 47 =47= 3 METODOLOGIA 3.1 Delineamento do estudo Este é um estudo baseado na abordagem empírico-analítica, pautada nas observações de campo e a relação com a literatura científica sobre a temática. O estudo envolveu a coleta de dados de forma quantitativa, com a utilização de formulários de observação rápida e codificada, em acordo com os objetivos da pesquisa. Segundo Chizzotti (2005), a pesquisa quantitativa envolve a mensuração de variáveis preestabelecidas, procurando verificar e explicar sua influência sobre outras variáveis. 3.2 Caracterização da área de estudo 3.2.1 Aspectos históricos A Lei de n.º 83, de 27 de setembro de 1894, criou o Município de Manacapuru com território desmembradode Manaus, ocorrendo sua instalação no dia 16 de junho de 1895. A Comarca de Manacapuru foi criada pela Lei n.º 354 de 10 de setembro de 1901. Por força da Lei n.º 1.126, de 5 de novembro de 1921, foi extinta a comarca de Manacapuru e restabelecida no ano seguinte, conforme Lei n.º 1 48 =48= 133, de 7 de fevereiro. O Ato estadual n.º 1.639, de 16 de julho de 1932 concedeu à Manacapuru o foro de cidade. A população do município de Manacapuru foi recenseada em 85.141 habitantes, no ano de 2010, sendo que aproximadamente 71% residem na área urbana (Fig. 2). Em 2014, a população total do município foi estimada em 92.996 habitantes (IBGE, 2014). 3.2.2 Localização geográfica O município de Manacapuru está situado na região do Rio Negro/Solimões, na mesorregião do entorno de Manaus (Fig. 3). 49 =49= Dista 84 km em linha reta da capital do Estado e 102 km por via fluvial. Está localizado nas coordenadas 3º18’33’’ de latitude sul e 60º33’2’’ de longitude oeste. Localiza-se ao sul de Manaus e limita-se com os municípios de Manaquiri, Iranduba, Beruri, Anamã, Novo Airão e Caapiranga (Fig. 3). Figura 3-Localização e limites territoriais do município de Manacapuru A lixeira municipal de Manacapuru está situada no km 01 da Rodovia AM 352, conhecida localmente como estrada de Novo Airão 50 =50= (Fig. 4). Sua localização foi registrada em 03º15.500’ de latitude Sul e 60º 39.457’ de longitude Oeste. A elevação do nível topográfico foi observada em 58 metros acima do nível do mar. O Igarapé do Santo Antonio está situado a cerca de 100 metros da lixeira, ao sul. As observações de campo no igarapé foram registradas na localização 3º 15.415’ Sul e 60º 39.618’ Oeste, com nível de elevação em 23 metros. Figura 4-Localização da lixeira em relação ao igarapé e a AM 352 51 =51= 3.2.3 Aspectos físicos naturais O clima atual da região amazônica é uma combinação de vários fatores, sendo que o mais importante é a disponibilidade de energia solar, através do balanço de energia. A energia que atinge a superfície terrestre é devolvida para a atmosfera na forma de fluxo de calor sensível (aquecimento) e latente (evapotranspiração). Desta forma, o balanço de energia e umidade interagem sendo que o saldo de radiação é particionado em termos de calor sensível e /ou latente, dependendo das condições ambientais e da água no solo (FISH et al, 1998). Nesse contexto o ambiente de estudo lixão do município de Manacapuru, também segue a mesma linha climática por estar situado na região Amazônica. Segundo Bartoli (2011), o relevo do Amazonas está dentro da classificação mais atual elaborada pelo geógrafo Jurandir L.S. Ross. A classificação de J. L. S. Ross de 1995, se diferencia das anteriores de Aroldo de Azevedo e de Aziz Ab’ Saber, por empregar tecnologias mais avançadas, levando em conta a estrutura geológica em que as formas são geradas. Dentro desta ótica, Bartoli, (2011) frisa que, no Amazonas as depressões abrangem áreas extensas em todo o estado, sendo interrompido somente ao norte, onde afloramentos cristalinos e formas residuais mais desgastadas aparecem. 52 =52= No Amazonas a variedade de solos está associada aos fatores de formação como o relevo, a geologia, o clima, bióticos e a feição da paisagem, além das propriedades físicas e químicas. Valente Júnior (et al 2011) afirma que a porção mais central (estado do Amazonas) é caracterizada por uma região sedimentar, ou seja, sedimentos terciários a holocênicos, associados aos latossolo amarelo distrófico e distrocoeso, argissolo amarelo distrófico e plintossolos (Fig. 5). Figura 5-Tipos de solos de Manacapuru 53 =53= O solo predominante na área de estudo (fig. 5) é o latossolo, é um solo altamente evoluído, laterizado, rico em argilominerais e oxi- hidróxidos de ferro e alumínio. A vegetação da área de estudo (na parte de cima do lixão) é diversificada caracteriza-se por localizar-se em áreas mais elevadas que não estão sujeitas a inundação nos períodos de cheia dos rios. Na parte baixa no leito de igarapé a vegetação é característica de mata de várzea. Como caracteriza Maestu (2011), mata de várzea localiza-se em áreas que são alagadas apenas nos períodos de cheia dos rios. A mata de várzea situa-se entre a terra firme a mata de igapó. 3.3 Procedimentos Metodológicos A pesquisa foi desenvolvida em três etapas, descritas a seguir: A primeira etapa foi o levantamento de dados teóricos que deram subsídios para a realização da pesquisa, mediante uma bibliografia especializada. A pesquisa foi elaborada pelo acesso direto a livros, jornais, revistas locais e periódicos científicos. Na busca por informações detalhadas sobre a lixeira municipal, realizaram-se visitas à Secretaria Municipal de e Meio Ambiente (SEMA) e 54 =54= entrevistas em conversação livre com alguns funcionários responsáveis pela pasta de resíduos sólidos do município. A segunda etapa consistiu nas atividades de campo na área de estudo: na lixeira municipal e no igarapé do Santo Antônio. Os dados coletados em campo foram baseados nas observações da paisagem, que envolveu o registro fotográfico, a utilização de GPS e a aplicação de uma matriz de avaliação rápida de impactos ambientais, adaptada e elaborada para a pesquisa. A atividade de campo foi desenvolvida em dois dias. O primeiro ocorreu em 22/03/2014 para o reconhecimento da área e visualização das atividades a serem desenvolvidas. O segundo, no dia 20/09/2014, para a aplicação das atividades e registro dos dados. O método de matrizes de avaliação rápida de impactos ambientais mostrou-se adequado para o estudo, devido a sua relativa facilidade de elaboração e aplicação direta aos objetivos da pesquisa. As matrizes foram adaptadas de outros estudos similares como Mota; Aquino (2002) e Callisto et al. (2002). A técnica é pautada essencialmente na observação da paisagem, em consonância ao roteiro de variáveis ambientais previamente estabelecidas. Segundo Minayo (1994), a técnica de observação [...] é realizada pelo contato direto do pesquisador com o fenômeno observado, com o propósito de obter informações 55 =55= concretas sobre a realidade do contexto da pesquisa. Minayo (1994, p. 53) descreve, também, que a pesquisa de campo é “o recorte que o pesquisador faz em termos de espaço, representando uma realidade empírica a ser estudada a partir das concepções teóricas que fundamentam o objeto da investigação. Em cada variável das matrizes foi estabelecida um grau de impacto qualitativamente delimitado: Frequência (o tempo com que o evento ocorre: temporário, permanente ou cíclico); Extensão (dimensão espacial de influência do evento: regional ou local); Duração (dimensão temporal de influência do evento: curto, médio ou longo prazo); Origem (associação do evento e sua influência: direta ou indireta); Natureza (dimensão avaliativa do evento: positiva ou negativa); e Grau de impacto (dimensão de magnitude dos impactos: baixo, médio ou alto). As matrizes foram aplicadas em dois pontos: na área da lixeira municipal e no igarapé do Santo Antônio. Os parâmetros observados na lixeira foram: alteração do relevo, o aumento dos processos erosivos, a compactação do solo, a qualidade da água, a poluição do solo, poluição do ar, poluição visual, vegetação nativa comprometida e a redução da capacidade de sustentação da fauna. Na área do Igarapé do Santo Antonio foram observados: a erosão próxima às margens do rio; o assoreamento do leito; o acúmulo do lixo no 56 =56= entorno; a remoção da mata ciliar; o odor da água; e a oleosidade da água. Utilizaram-se, também, observações auxiliares como o grau de cobertura vegetal do leito, o tipo de ocupação das margens do rio, a alteraçãoantrópica direta, a coloração da água do rio e a presença de espuma. Na terceira etapa do estudo consistiu na sistematização e análise dos dados coletados em campo e a comparação e avaliação da literatura específica ao tema trabalhado 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados da pesquisa foram avaliados em duas áreas distintas: na lixeira municipal e no igarapé do Santo Antônio. Os impactos da lixeira sobre o meio foram observados conforme a tabela 3, que correspondem aos componentes avaliados na área do lixão. A poluição do solo, a poluição visual, a vegetação nativa comprometida e a redução da capacidade de sustentação da fauna, são parâmetros que apresentaram uma frequência de extensão regional, duração de longo prazo origem direta com a natureza negativa e o grau de impacto permanente alto. A poluição do 57 =57= ar foi avaliada em uma frequência de impacto permanente, porém a duração do impacto é de médio prazo (Tabela 3). Tabela 3-Componentes avaliados na área do lixão Adaptado de: Mota e Aquino (2002) e Callisto et al. (2002) T - Temporário; Pr - Permanente; Cic - Cíclico; Loc - Local; Reg - Regional; Cp - Curto Prazo; Mp - Médio Prazo; Lp - Longo Prazo; Di - Direta; In - Indireta; Pos - Positiva; Neg - Negativa; B - Baixa; M - Médio; A - Alto. 58 =58= A tabela acima retrata as variedades de alteração que ocorreu no meio ambiente. O relevo foi alterado em decorrência da ação antrópica, conforme Guerra (2012) A intervenção humana sobre o relevo terrestre, quer seja em áreas urbanas ou rurais, demanda a ocupação da superfície do terreno, dependendo do tamanho dessa intervenção, das práticas convencionais utilizadas e dos riscos geomorfológicos envolvidos, os impactos ambientais associados poderão causar grandes prejuízos ao meio físico e aos seres humanos (GUERRA, 2011, p.191). A alteração do relevo causa prejuízos ao meio ambiente, à fauna, à flora e aos seres que dependem da natureza para exercer o seu papel no ambiente. Na área do lixão, foi observado o aumento dos processos erosivos em uma frequência permanente. Guerra et al (2005) enfatizam que para compreender os processos erosivos devem ser levados em consideração os processos controladores que determinam as variações nas taxas de erosão. Foi avaliada a compactação do solo como uma frequência permanente com a extensão regional, a qualidade da água subterrânea com frequência permanente, tem uma extensão regional de origem direta e natureza negativa. 59 =59= Foi observado que os problemas mais significativos de impacto ambiental que assolam a lixeira de Manacapuru estão atrelados a fortes danos ambientais. Os resíduos são depositados a céu aberto, sem nenhum controle e nem tratamento (Fig. 6). A imagem demonstra a falta de cuidado com os resíduos que são coletados da área urbana e depositados na parte superior do lixão. O lixo é jogado sem nenhum tratamento ou separação adequada, acumulado de forma aleatória. Figura 6-Resíduos depositados a céu aberto Fonte: Francisca Pereira (2014) 60 =60= A feição do solo na área em estudo em cada parte do relevo sofre intervenções e alterações dos agentes modeladores em decorrência das ações efetivadas pelo homem, ou seja, o homem é quem deposita os resíduos para a formação do lixão. São caracterizados como lixo público que estão presentes nos logradouros públicos em geral, descartado irregular e indevidamente pela população, considerados inservíveis. A deformação do relevo - interferência no processo natural - é decorrente das práticas ligadas à dinâmica dos agentes externos, principalmente da ação antrópica (Fig. 7). Figura 7-Deformação de relevo pelos agentes externos Fonte: Francisca Pereira (2014). Figura A 61 =61= Fonte: Francisca Pereira (2014). As figuras 7 (A e B) apresentam deformações no relevo, em consequência da ação do homem e os diversos impactos ambientais encontrados no ambiente do lixão. Podem ser citadas a degradação dos solos (por meio da intensificação da erosão) e dos recursos hídricos, poluição por chorume, assoreamento dos canais fluviais na região, dentre outros. Conforme enfatiza Guerra (2011, p. 74), “os recursos hídricos têm sido alvo das intervenções antrópicas há longo tempo, desde o surgimento das primeiras comunidades humanas”, a partir daí o homem não se preocupou em cuidar e preservar, apenas pensou restrito para si. Figura B 62 =62= O aumento dos processos erosivos foi facilmente identificado na área em estudo e está bastante acentuado em consequência da área desmatada. Guerra (2011, p 31) descreve que “o processo tende a acelerar à medida que mais terras são desmatadas[...] uma vez que os solos ficam desprotegidos da cobertura vegetal e, consequentemente, as chuvas incidem direto sobre a superfície do terreno” (Fig. 8). Figura 8-Processos erosivos e poluição do solo Fonte: Francisca Pereira (2014) 63 =63= A imagem acima (Fig. 8) demonstra a degradação e a poluição do solo. Nota-se que há pouca cobertura vegetal e o solo está exposto às ações do intemperismo e aos processos de erosão mais acelerados. Quanto à poluição, Guerra (2011, p.62) enfatiza que “o solo e os sedimentos são os meios em que os metais aparecem em maiores concentrações, indicando uma tendência à retenção desses contaminantes no local”. Os resíduos que são deixados expostos no solo retêm produtos químicos que contaminam e se espalham por toda a área em questão. Sabe-se que a água é um dos principais agentes que modela e modifica a paisagem e percorre diferentes caminhos. Na área do lixão de Manacapuru não é diferente. A água também modela e modifica a paisagem terrestre, por meio do escoamento superficial, percolação e infiltração, atingindo o lençol freático. Baseando-se nas observações, levantou-se a hipótese da perda da qualidade da água subterrânea devido à geração significativa de chorume na área de estudo. A ausência de cobertura vegetal e o grau de compactação do solo observado são fatores que contribuem diretamente com as alterações da água como a intensificação dos processos erosivos. O chorume foi identificado como o principal fator de contaminação do lençol freático do lixão (Fig. 9). 64 =64= Figura 9-A) Chorume e os resíduos que atingem o lençol freático-B) Resíduos hospitalares queimados Além do chorume (fig. 9-A) que contamina o lençol freático, está presente na imagem também a poluição visual, causando o desequilíbrio do ecossistema. A poluição atmosférica pôde ser visualizada com a queima de lixo hospitalar (fig.9- B), realizada a céu aberto e sem nenhuma atividade alternativa adequada de despejo destes resíduos. O mau cheiro exalado pelos resíduos em decomposição é uma característica praticamente permanente. Estes tipos de resíduos são classificados como de fontes especiais (Fig.10- B), que em função de suas características peculiares passam a merecer cuidados especiais em seu manuseio, acondicionamento estocagem, transporte ou disposição. Figura A Figura B Fonte: Francisca Pereira (2014) 65 =65= Na parte baixa do lixão, onde está localizada o Igarapé do Santo Antonio, a erosão das margens do rio é um processo contínuo e evidente, fruto das consequências dos resíduos depositados diretamente à montante do canal. Esses processos erosivos são cíclicos com uma extensão local e sua duração foi observada de longo prazo. A degradação próxima às margens foi identificada através do assoreamento do canal, que tem ocorrido através do acúmulo do lixo que são arrastados para o entorno das margens do igarapé, causando impacto (Tabela 4). Tabela 4-Parâmetros de impacto no igarapé do Santo AntonioÁrea do Igarapé do Santo Antônio Parâmetros Componentes Avaliados Frequência Extensão Duração Origem Natureza Grau de impacto T Pr Cic Loc Reg Cp Mp Lp Di In Pos Neg B M A Erosão próxima e/ou nas margens do rio X X X X X X Assoreamento do leito X X X X X X Acúmulo de lixo no entorno X X X X X X Remoção da mata ciliar X X X X X X Odor na água X X X X X X Oleosidade na água X X X X X X X Fonte: Adaptado de: Mota & Aquino (2002) e Callisto et al. (2002) 66 =66= T - Temporário; Pr - Permanente; Cic - Cíclico; Loc - Local; Reg - Regional; Cp - Curto Prazo; Mp - Médio Prazo; Lp - Longo Prazo; Di - Direta; In - Indireta; Pos - Positiva; Neg - Negativa; B - Baixa; M - Médio; A - Alto. A tabela retrata os parâmetros da degradação da mata ciliar, que altera a temperatura da água interferindo direta e indiretamente nas espécies, conforme Santos et. al. (2008). A presença da mata ciliar está intimamente relacionada à redução dos níveis de erosão e sedimentação, pois a sua remoção em excesso contribui para o incremento dos processos erosivos, de transporte e deposição dos sedimentos expostos ao longo do leito (Fig. 10 A e 10 B). Deste modo, as matas ciliares são importantes na manutenção dos processos naturais de sedimentação ao longo de um canal fluvial. Figura 10 A e B - Resíduos poluentes do leito do igarapé do Santo Antonio Figura B Figura A Fonte: Francisca Pereira (2014) 67 =67= As imagens acima mostram o grau de poluição que os resíduos causam ao leito do igarapé. A Figura 10A e 10 B ilustram os impactos do igarapé na época da cheia. Foi observada a existência de diversos resíduos sólidos depositados ao longo do leito do igarapé do Santo Antônio, principalmente sacos e garrafas plásticas, restos de matéria orgânica, entre outros objetos transportados do lixão municipal. São materiais alheios ao ambiente natural, que interagem diretamente com a fauna aquática e terrestre. Os impactos da decomposição variam conforme o tipo de material depositado. Os resíduos encontrados nas margens do igarapé podem ser classificados como resíduos de classe II não inertes. São resíduos comuns gerados em qualquer unidade industrial, provenientes de restaurantes, escritórios e banheiros. Foram elaboradas observações auxiliares sobre a região do igarapé e estão relacionadas a outros fatores importantes, que influenciam diretamente no meio ambiente, conforme a tabela 5. 68 =68= Tabela 5-Observações auxiliares do Igarapé Observações auxiliares do Igarapé do Santo Antônio Cobertura vegetal no leito () Ausente / (x) Parcial / () Total Tipo de ocupação das margens do rio (x) Vegetação natural / () Campo de pastagem / () Agricultura / () Residencial /() Comercial/Industrial Alterações antrópicas diretas (x) Ausente / () Doméstica (esgoto) / () Urbana (canalização, retificação) / () Indústria (fábrica, siderurgia) Coloração da água do rio (x) Escura / () Clara, transparente / () Turva, barrenta Presença de espuma (x) Ausente / () Parcial / () Abundante Adaptado de: Mota e Aquino (2002) e Callisto et al. (2002) A área do igarapé do Santo Antônio apresenta, atualmente, uma cobertura vegetal natural predominantemente distribuída ao longo de suas margens, ou seja, uma floresta primária ainda bem preservada. Nos trechos em estudo, situados mais próximos à nascente do canal fluvial, não foram observadas ocupações e atividades humanas diretas, como casas residenciais, campos de pastagem ou agricultura. A coloração da água é escura, devido à própria decomposição de matéria orgânica, típica dos pequenos rios de águas pretas da região amazônica. Entretanto, foi observado, em diversos trechos do canal, a existência de manchas de oleosidade, provavelmente 69 =69= transportadas diretamente do lixão e relacionadas, também, à decomposição dos resíduos sólidos à montante no igarapé (Fig. 11). Figura 11-Frequência de oleosidade na água do igarapé do Santo Antonio A ilustração acima mostra que além da oleosidade da água, o odor é bastante notável, o que torna a água imprópria as o consumo. Mancha de oleosidade. Fonte: Francisca Pereira (2014) 70 =70= 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho considerou a lixeira e o igarapé do Santo Antonio como objeto de análise e buscou referências na literatura científica para que os impactos que afetam o meio ambiente possam ser discutidos e analisados. Em função disso, realizou-se o levantamento dos principais impactos por eles apontados com base em matrizes de avaliação rápida de impactos ambientais, observando os principais agentes causadores, a origem, os efeitos, a abrangência, com a intenção de que este trabalho possa contribuir perante os órgãos competentes na busca para a conscientização dos problemas assinalados nesta pesquisa. Este estudo constatou que a maneira como a relação entre o homem e a natureza tem se transformado em caos para o ambiente, sendo o principal fator desencadeador de problemas ambientais que o ser humano tem causado, degradando a natureza sem se preocupar com as consequências de tal ato. Sem um planejamento urbano adequado para a disposição dos resíduos sólidos em Manacapuru, o problema ambiental tende a se agravar. A legislação ambiental existe, mas não há fiscalização por parte dos órgãos competentes para que a lei possa ser cumprida. O crescimento dos problemas ambientais, associados aos resíduos sólidos, podem trazer problemas irreversíveis, não 71 =71= somente para o local de despejo do lixo, mas para um contexto regional, como a dimensão de uma bacia hidrográfica. Deste modo, é necessário que haja um planejamento de conscientização social e de políticas públicas que possam ser aplicadas diretamente às realidades das áreas afetadas. 72 =72= REFERÊNCIAS ABNT - NBR 10.004/04 – Classifica os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à sua saúde. NBR 7.500/87 – Símbolos de risco e manuseio para o transporte e armazenamento de resíduos sólidos. NBR 10.703/89 - Esta Norma define os termos empregados nos estudos, projetos, pesquisas e trabalhos em geral, relacionados à análise, ao controle e à prevenção da degradação do solo. NBR 11.175/90 – Fixa as condições exigíveis de desempenho do equipamento para incineração de resíduos sólidos perigosos. NBR 12.235/92 – Armazenamento de resíduos sólidos perigosos definidos na NBR 10004 – procedimentos. NBR 12807/93 – Resíduos de serviços de saúde – terminologia. NBR 12808/93 – Resíduos de serviços de saúde – classificação. NBR 12809/93 – Manuseio de resíduos de serviços de saúde – procedimentos. NBR 12810/93 – Coleta de resíduos de serviços de saúde – procedimentos. NBR 12980/93 – Coleta, varrição e acondicionamento de resíduos sólidos urbanos terminologia. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Disponibilidade e demandas de recursos hídricos no Brasil. Cadernos de Recursos Hídricos. Brasília: Ed. ANA, 2005. ALVES, W. L. . Compostagem e Vermicompostagem de lixo urbano. Jabuticabal: Fenup, 1998. 73 =73= AMOY, R. A. Princípio da precaução e estudo de impacto ambiental no direito brasileiro. Revista da Faculdade de Direito de Campos, Ano VII, Nº 8, pp. 607-668, jun. 2006. BARTOLI, Estevan. Geografia do Amazonas. Rio de Janeiro: MenVavMen, 2011. BEHREND, Rômulo Diego de Lima. Avaliação de impactos ambientais e licenciamento ambiental. Centro Universitário de Maringá. Maringá - PR, 2012. BRAGA, Benedito (org.). Introdução à engenharia ambiental. 2 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Recursos Hídricos. Caderno da Região Hidrográfica
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