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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – CAMPUS KOBRASOL Disciplina: Hermenêutica Jurídica - 2º Período - Noturno Professora: MSc. Melissa Mendes de Novais Acadêmicos: André Luiz da Silva, Betina De Gasper, Cristiano Porto Alegre Zeilmann, Laryssa Oliveira, Nilvo Airton Rodrigues Júnior e Vanessa Rodrigues Guimarães. Data: 05/09/2018 ESTUDO DIRIGIDO – M1 1) Quais as características fundamentais que diferenciam as duas principais escolas clássicas de interpretação: escola da exegese e escola histórica? Qual a disputa de poder implícita nessas escolas? A escola exegese está contextualizada na era Napoleônica, no início do século XIX, na França. Surge então, em 1804, o Código de Napoleão, que com base no iluminismo e fruto de uma cultura racionalista, tinha o propósito de formar um direito codificado e sistematizado, para que este adquirisse consistência política, com leis universais e imutáveis, de modo a formar um código simples e unitário, desprezando outras fontes. A ideia de um código deveria facilitar a democratização do direito, assim, generalizando o seu conhecimento, sendo que este Código deveria ter como fundamento a lei como produto da vontade do povo, para que assim, a figura do Estado possa se mostrar transparente e democrática. Neste contexto político e social francês, surge a escola de exegese, cujos principais nomes são Duranton, Demolombe e Troplong, e cuja característica fundamental se dá pela exposição e interpretação puramente exegética do Código de Napoleão e aplicação das normas jurídicas codificadas irrefletidamente (lógico-gramatical), sem interpretações subjetivas de forma mecânica, pois o juiz deveria fundamentar-se somente na lei. Destaca-se que a Escola não negou o direito natural, pois admitiu que os códigos eram elaborados de modo racional e assim, uma expressão humana do direito natural e por essa razão a ciência do direito deveria firmar a mera exposição dos códigos colocando-os acima de tudo, o jusracionalismo baseado na razão legítima o positivismo. A escola da Exegese caracteriza-se pelo culto a lei escrita e também pelo monismo jurídico que é o uso de uma única fonte do Direito através do código sistematizado de Napoleão que representava a figura do Estado, no princípio da certeza e segurança e no culto ao texto da lei. A escola histórica, com suas raízes na Alemanha na primeira metade do século XIX, tem seu principal nome Carlos Frederico von Savigny e procura buscar fontes que não sejam estaduais e legislativas para o Direito. Savigny ressalta que a individualidade do homem deve ser um dos princípios do direito, pois não já um direito único para todos e que se aplique em todos os lugares; o direito deve ser construído a partir das individualidades e é um produto do meio, se desenvolvendo através da História, do contexto da época, no caso, a Alemanha, que era um estado fragmentado, não unificado. Esta escola se caracteriza por afirmar que o Direito é parte da cultura de uma sociedade e está submetida a uma evolução devendo moldar às necessidades que surjam. A lei nasce obedecendo certos princípios e determinadas aspirações sociais, mas não pode ficar inflexível e restrita às suas fontes originárias, devem se modificar conforme a sociedade. E o jurista deve descobrir a intenção do legislador aos anseios do povo que não tinham a capacidade de expressar sua vontade sozinhos (ciência do direito). Para Savigny, a irracionalidade da forças históricas é outro ponto a ser salientado, pois o direito deve ser parte de uma análise do justo e do injusto e não algo vindo de um cálculo racional. Neste contexto está o pessimismo antropológico, no qual se desconfia das inovações, pois não se acredita no progresso do homem, pois devem ser conservados os ordenamentos pré-existentes. Na escola histórica, também pode-se visualizar o amor pelo passado, pois se quer relembrar o direito antigo germânico, redescobrindo-o e reavaliando-o, pois os alemães não queriam que vigorasse no país um direito estrangeiro que não possuísse adequação com o seu povo. Com isto se dá a importância da tradição, com os costumes, pois estes retratam o verdadeiro direito do povo alemão, ecomo Savigny afirmava, era necessário resgatar este espírito do povo, interpretado pelo jurista que recorria a cultura e aos costumes. A criação de uma lei é algo artificial, Savigny e Thibaut discutem sobre este antilegalismo, Thibaut era a favor de se criar um código e Savigny ao contrário, dizia que ao criar uma lei para o povo, é o mesmo que matar o povo, pois isto é um processo artificial. O Direito se une com o historicismo para ser aplicado, os traços do passado, são condicionantes para o atual e o futuro. Os irmãos Grimm tiveram papel importante nesta função de resgate da cultura, através da literatura e do resgate das histórias folclóricas alemãs que se faziam perdidas até o momento, e o historicismo é Alemão é muito importante, pois através deste processo histórico que se revela o “espírito do povo” (Volksgeist), pois é através da cultura que se revela a alma de uma nação. 2) Quais as diferenças entre a hermenêutica tradicional ou hermenêutica técnica/tradicional e a hermenêutica filosófica/crítica? A hermenêutica Tradicional ou Técnica/Tradicional acreditava na aplicação lógica do direito, e que o direito era um sistema coerente, livre de contradições em seu interior; parte da premissa que o legislador é racional e o direito funciona como um sistema. A teoria tradicional não admite que haja vontades contraditórias dentro do ordenamento jurídico, pois, caso isto ocorra, há o rompimento da sistematicidade do direito. Há três critérios estabelecidos para a resolução destas contradições: O primeiro é o critério hierárquico, que trata de contradições entre uma norma superior e uma inferior, que no caso, a lei superior derroga a inferior. O segundo critério trata-se da especialidade, onde diz que disposições especiais prevalecem sobre disposições gerais, sendo que esta generalidade pode ser aplicada a um conjunto de fatos, e não a um fato específico. O terceiro critério é o cronológico, no qual se aplica somente a leis de mesma hierarquia ou grau de especialidade, onde a norma posterior derroga a norma anterior. A hermenêutica Filosófica/Crítica, surge na fronteira entre a modernidade e a pós-modernidade, tendo como mote, radicalizar o historicismo, rejeitando a fundamentação racional do poder (seja ele de qualquer ordem). A proposta da hermenêutica filosófica é feita por Heidegger e Gadamer, e procura relacionar a hermenêutica com a estética e com a filosofia do conhecimento histórico. A hermenêutica filosófica de Gadamer possui o preceito de que a compreensão vem precedida de uma autocrítica, e o interprete questiona-se a partir de ideias pré-concebidas, sendo que a hermenêutica filosófica traz a noção de questionar estas ideias que possuímos pré-concebidas de modo a confrontá-las. A hermenêutica filosófica é uma proposta de desconstrução da metafísica e do pensamento mitológico, para que rompa-se com esta visão tradicional. A hermenêutica filosófica diz respeito a existência de uma relação cooperativa entre interpretação e aplicação, sendo que estas duas atividades são complementares, uma depende da outra (a interpretação abstrata e a aplicação concreta) para o processo da compreensão. O círculo da compreensão é o processo cíclico entre interpretação e aplicação, pode ser exemplificado através de um jogo de tarô, onde as cartas possuem significados determinados por sua ordem de aparecimento no baralho, sendo que estes significados podem ser infinitos dependendo da ordem que as cartas são retiradas e podem gerar os mais diversificados significados; pois ao ser embaralhado, outra sequência de cartas se mostrará presente para ser interpretada. Para que hajaa compreensão, há a necessidade de uma fusão de horizontes, onde o passado e o presente se encontram. 3) Qual a distinção entre hermenêutica jurídica e interpretação e qual a importância de se estabelecer essa diferenciação? O objeto de estudo da hermenêutica jurídica consiste nas chamadas “técnicas de interpretação das leis”, o estudo e sistematização dos processos. Com objeto certo, a hermenêutica jurídica costuma ser apresentada como ciência, mais especificamente como parte da ciência do direito que tem por objeto as técnicas de interpretação. Esse viés cientificista pretendeu durante muito tempo estabelecer critérios de interpretação que conferissem objetividade à interpretação das leis, à tarefa jurisdicional. Na verdade, a utilização dessas técnicas não alcança seus objetivos. Num primeiro momento não existe hierarquia entre elas e, dessa forma o seu comando torna-se fluido. Por conseguinte, tal orientação ignora a dimensão criadora do intérprete, que volta sua atenção antes para a resolução de determinado problema do que para a lei em si, analisada como hipótese virtual, e com conteúdo próprio, previamente determinado. Com relação à interpretação, o que prevalece atualmente, segundo a doutrina tradicional, é a “vontade objetiva da lei”. A vontade subjetiva, de quem lhe deu origem, ainda que um corpo colegiado, cede lugar à vontade objetiva, que deve ser traduzida no momento de sua aplicação, quando ela é chamada a produzir efeitos. A interpretação é a atividade descobrir os sentidos, é descobrir para atribuir sentido através de técnicas. Uma analogia que se pode fazer é em relação à metáfora biológica da dissecação, onde o profissional possui a técnica, o bisturi é o instrumento e o corpo inerte é o objeto a ser descoberto através de técnicas e do processo, lançando a luz ao que era oculto até então; e esta descoberta gera a descrição do objeto analisado. Carlos Maximiliano estabelece as diferenças entre a interpretação e a aplicação, o autor diz que somente se consegue aplicar algo, se este for interpretado previamente, pois a aplicação é um processo predominantemente mecânico. Para atribuir sentido as coisas, precisa-se participar do processo, assim, descobrindo e descrevendo, de modo a fugir do objetivismo e limitações. A hermenêutica, como teoria da interpretação, não é simplesmente uma teoria. Desde tempos mais remotos, até hoje, a hermenêutica esboçou sempre a exigência de que sua reflexão acerca das possibilidades, regras e meios de interpretação sirva e promova, de modo imediato a práxis. À práxis pertence escolher, e decidir-se em favor de algo e contra algo; saber preferir um ao outro e escolher conscientemente entre as possibilidades. Portanto a hermenêutica designa uma capacidade natural do homem, ou seja, a capacidade de um contato compreensivo com os homens. 4) A discussão sobre a imanência do sentido envolve a discussão sobre se o sentido é descoberto ou construído. Quais a implicações desse tipo de discussão para o direito? A imanência do sentido faz parte de um dos paradigmas que norteiam a hermenêutica e faz parte da Filosofia da Consciência. O sentido manifesta-se quando lemos o texto partindo de determinadas expectativas relacionadas com algum sentido pré-determinado. O sentido das coisas é imanente ao objeto, indissociável. A compreensão do texto consiste precisamente na elaboração desse projeto prévio, que, por sua vez, deve sempre ser revisado na medida que se avança no sentido. Toda revisão apoia-se na possibilidade de antecipar um novo projeto de sentido. A antecipação do sentido que guia nossa compreensão de um texto não é um ato de subjetividade senão que se determina desde a comunidade que nos une à tradição. Em nossa relação com a tradição, essa comunidade está submetida a um processo de contínua formação. O problema da pré-compreensão assume especial importância no direito, devido ao seu aspecto dogmático. A formação de uma tradição jurídica, originária dos princípios traduzidos pela lei, pela doutrina e pela jurisprudência, oferece ao direito um forte poder de legitimidade, principalmente pela regra de justiça que estabelece a aplicação do precedente como meio de conceder tratamento igual a situações essencialmente semelhantes. Da mesma forma, a natureza normativa das regras e princípios jurídicos positivados e dos conceitos sedimentados pela tradição condiciona a ação do intérprete e impõe limites. Para o direito, além da tradição histórica, que situa o intérprete, contamos também com uma tradição especificamente jurídica, de regras e princípios, que se mantém no tempo e servem de base às de decisões, segundo a regra da justiça 5) O que é a pré-compreensão e o círculo hermenêutico? A pré-compreensão é o pré-julgamento de alguma coisa, ela condiciona a forma de se ver o mundo, está abstrata à visão dele mesmo e ao alcance que se chega ao compreendido intérprete, aquilo que é desvelado através da compreensão, o que irá dar em uma nova alternativa de interpretação. Assim, os pré-julgamentos vão sendo gradualmente afastados, concedendo lugar ao conceito mais apropriado. Há dois planos para a pré-compreensão, o individual e o coletivo que devem ser colocados juntos. Sendo que a pré-compreensão individual precisa-se expandir o que ocorre pelas experiências individuais. A pré-compreensão coletiva pode ser analisada pelo ponto de vista da cultura. O círculo hermenêutico retrata a compreensão como sendo o dinamismo entre o raciocínio e o movimento do intérprete, certificar o sentido à compreensão e à interpretação, o processo hermenêutico dá-se como um círculo virtuoso que viabiliza a existência da adequada compreensão. O processo de giro hermenêutico, que representa uma mudança no paradigma, pois se dá a partir do reconhecimento da necessidade do intérprete questionar-se sobre as ideias preconcebidas, da história efeitual presente em todo compreender. O círculo hermenêutico é dividido em duas fases: a primeira é a fase da Filosofia da Consciência e a segunda a da Filosofia da Linguagem. O estágio da Filosofia da Consciência trabalha com a verdade por correspondência, sendo que esta verdade é somente uma mera descrição da realidade; a partir desta, propõe-se a imanência do sentido, onde diz que o sentido das coisas é inerente ao objeto, ou seja, indissociável. Finalizando esta primeira parte, ocorre uma reviravolta que altera o sentido, denominada o giro linguístico. Na segunda fase, tem-se a Filosofia da Linguagem, que é um meio de representação e a partir dela, há verdade consensual, que é o limite semântico da interpretação. Finalizando esta ideia de verdade consensual, tem-se a linguagem, que é de dimensão coletiva. 6) Explique o uso da metáfora do Barão de Münchausen para se referir às pré-compreensões. A tal metáfora diz que ao passear a cavalo, o Barão de Münchhausen embrenha-se em um pântano e afundava cada vez mais; então sem ninguém que o pudesse socorrer, não teve dúvida, puxou a si mesmo pelos cabelos até conseguir sair do atoleiro com cavalo seu cavalo. Esta metáfora nos mostra que nos desvincularmos das nossas pré-compreensões é uma ilusão. Essa percepção, pré-definir uma imagem e/ou abstração é inconsciente. Na verdade a pré-compreensão é intrínseca ao indivíduo, independentemente de ser negativa e/ou positiva, é exagerado pensar que nossa visão de mundo é adequada. No entanto para compreensão de um texto deve-se deixar as opiniões prévias e buscar assimilar o que o texto diz sem pré-conceitos. Esta incrível invenção do Barão, é o risco de todos os juristas de imaginar que; atolados em seus pré-conceitos possam escapar destas mesmas ilusões, ideologias e preconceitos a partir de sua visão de mundo (auto visão). Em tal condição, o jurista permanecerá num autoengano, acreditando que é imparcial e neutro, quando na realidade estará reproduzindo a ideologia eos valores que sequer consegue perceber. Gadamer adverte que nem sempre é negativo o preconceito ou a pré-compreensão para agir ou para a tomada de uma decisão, no entanto, somente se dará conta da arbitrariedade ou precisão de suas pré-compreensões quem esteja disposto a colocá-las em questionamento, pois o mais profundo dos preconceitos é a presunção de afirmar a pureza da compreensão do mundo, das pessoas e das coisas. Além do mais, a compreensão é a obra em constante construção. 7) Apresente qual a contribuição dos seguintes autores para a reflexão hermenêutica: a) Platão - A contribuição de Platão para a Hermenêutica, se dá através das descobertas que Platão fez, principalmente em relação ao sentido do mundo, que não está nas coisas. Platão dividia o mundo em físico e metafísico, uma dualidade entre os dois, pelo qual ele responde a pergunta principal: “Onde está o sentido das coisas?” Para Platão, o sentido das coisas é independente da vontade, pois o empírico não se explica por si mesmo, é objetivo, sendo que a objetividade é independente da vontade humana. Através de “O mito da Caverna” é uma análise entre este mundo físico e metafísico, onde os que estavam dentro da caverna, encontravam-se amarrados pelos dogmas; e ao sair da caverna, com esta nova experiência, toma consciência de sua limitação e abre-se para outro mundo. b) Immanuel Kant - A contribuição de Kant para a Hermenêutica, conhecia que o sentido das coisas não poderia estar nas próprias coisas, se qualquer sentido existisse nas coisas esse sentido meramente poderia ser definido pelo próprio olhar do Homem. Kant rompe com a dicotomia entre o mundo físico e o metafísico no seu método de conhecimento transcendental é o que ultrapassa o físico, contudo não determina em direção ao mundo das ideias, pois a reflexividade de Kant não acompanha a subjetividade dos sentidos, visto que a objetividade é segura na medida em que se admite a existência idêntica para todos. c) Friedrich Nietzsche - Como forma de contribuição para a Hermenêutica, Nietzsche radicaliza a reflexividade de Kant, estabelecendo a ideia da subjetividade. Nietzsche também desconstrói a metafísica, diz que não há um mundo físico, não há fatos, há somente a interpretação. Ele diz que a interpretação do mundo é um fenômeno linguístico sempre, pois interpretar, significa atribuir sentido a algo, sendo que a linguagem é onde o sentido habita. Sendo assim, a hermenêutica dirige o olhar a si mesma, sendo a compreensão da compreensão. d) Martin Heidegger - Heidegger possui contribuição para a Hermenêutica através do desenvolvimento da Hermenêutica Filosófica. Heidegger traz para a Hermenêutica a importância da Historicidade, que se faz por uma nova forma de pensar a interpretação, onde o sentido historicamente situado e condicionado pelo tempo, diferentemente dos deterministas. Heidegger reconhece que os conceitos se modificam com o tempo e o momento histórico possui participação importante no modo de como entendemos as coisas, pois é o homem quem dá sentido ao mundo. Também traz a importância da linguagem para a interpretação. e) Hans-Georg Gadamer - Gadamer foi um discípulo de Heidegger, e também nos traz a visão da Hermenêutica Filosófica. Gadamer trabalha com a perspectiva de fusão de horizontes, pela qual se dialoga com o tempo quando se interpreta, assim como Heidegger, trazendo a importância da historicidade, desmistificando o passado, tirando a visão conservadora sobre este. Gadamer afirma que “tudo o que pode ser conhecido é linguagem”, isso se deve ao fato que o mundo até existe fora da linguagem, mas este mundo é só de fatos empíricos, sem sentido nas coisas, pois é através da linguística que se pode encontrar os significados. Outra contribuição importante se dá com o Método: para Gadamer, o método funciona como uma máquina de atribuição de sentido - com base em percepções de valores de cada indivíduo -, leva a atribuição dos sentidos às coisas, mas o método não dá o sentido às coisas e a hermenêutica não é um método, é um estilo que faz com que se compreendam as diferenças; e a compreensão se dá com a experimentação. f) Ludwig Wittgenstein - A contribuição de Wittgenstein para a Hermenêutica está na tradição da filosofia analítica, a linguagem filosófica e principalmente no fato de ele ser um dos fundadores da Linguística. Através dos Jogos de linguagem, mostra a linguagem análoga a um jogo, o qual possui regras que precisam ser conhecidas para ser jogado. Através dos estudos da linguística, Wittgenstein mostra a incapacidade da mesma e seus defeitos, pois a linguagem limita o significado das coisas, mas levando em conta que o sentido das coisas depende do contexto a qual estão inseridas e se deve pensar nestas condições. Wittgenstein traz o conceito de filosofia da linguagem ordinária, onde não se buscava estabelecer uma linguagem purificada, mas sim o importante era compreender o modo como as linguagens naturais funcionam. 8) Sobre a ADPF 54, responda: a) Qual o objeto da ADPF 54, isto é, o que foi decidido? O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou procedente o pedido contido na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 54, ajuizada no Tribunal pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), para declarar a inconstitucionalidade de interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta tipificada nos artigos 124 (Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento), 126 (Aborto provocado por terceiro) e 128 (Não se pune o aborto praticado por médico:), incisos I (se não a há outro meio de salvar a vida da gestante;) e II (aborto no caso de gravidez resultante de estupro), todos do Código Penal. b) No Voto da Ministra Rosa Weber, ela fala sobre a falácia naturalista. Explique o que ela chamou de falácia naturalista e qual a sua relação com a ciência e a verdade? Falácias Naturalistas são conceitos construídos ao longo do tempo para um determinado fim, que não satisfazem mais com as transformações na sociedade, sendo assim, torna-se necessário reajustar os conceitos. Entretanto, por uso contínuo os conceitos são empregados sem ter mais sua validade. A ministra Rosa Weber utiliza o termo falácia para indicar que a ciência não pode ser usada como uma verdade absoluta, mas sim como um recurso para ajudar na fundamentação dos critérios analisados no momento, pois os conceitos podem ser modificados ao longo do tempo e a verdade ser modificada. A ministra utiliza exemplos para a melhor compreensão, foi o caso de Plutão que durante muitos anos foi considerado um planeta já que suas características o confirmavam como tal, porém alguns cientistas não concordavam com esta classificação e de forma democrática (voto) foi decidido que Plutão perderia o status de planeta (rebaixado à categoria de Planeta Anão), ou seja, o conceito foi modificado ao longo do tempo e não pode ser uma verdade constante. Outro exemplo é o conceito de morte e vida, que por muito tempo era considerado que uma pessoa havia morrido quando os sinais cardiorrespiratórios ficassem ausentes, mas com o desenvolvimento dos transplantes foi considerado que a morte pode ser diagnosticada com a ausência das atividades cerebrais, em razão da necessidade dos órgãos estarem em funcionamento para se realizar transplantes. Em suma, o direito não pode ser embasado em conceitos que possam por algum motivo serem modificados, mas se alicerçado pelos códigos constitucionais, além de se valer de outras áreas do conhecimento que auxiliam na entendimento da ação. 9) Sobre a interpretação jurídica em Kelsen, responda: a) O que é interpretação jurídica para Hans Kelsen e, segundo ele, quais são as espécies de interpretação jurídica? Explique-as. Segundo Kelsen, a interpretação jurídica é uma operação de consolidação das normas jurídicas que acompanha o processoda aplicação do direito que avança de uma escala superior para uma escala inferior, estrutura hierárquica. De modo, que os indivíduos precisam observar o direito, sua concepção que o direito é indeterminado, com isso compreender o sentido das normas jurídicas. Outra interpretação é da ciência jurídica, quando descreve um Direito positivo e a necessidade que seja um direito escrito e com isso é indispensável a interpretação jurídica. Existem duas espécies de interpretação, a feita pelo órgão jurídico e a outra pela ciência jurídica, privado. O ato de aplicar a norma jurídica, Kelsen define algumas características ao órgão jurídico, tal como, relativa indeterminação do ato de aplicação do direito, consiste na relação do escalão superior com inferior, ou seja, a constituição e a lei e/ou sentença judicial que devido a pluralidade e circunstâncias externas e ser preenchida conforme a interpretação a ser aplicada, determinar aplicação do direito implica em limitar as decisões. Indeterminação intencional do ato de aplicação do direito nessa definição o ato jurídico pode ser visto intencional quando o direito é aplicado em parte com determinado direito, e outra parte observando o pressuposto que um espaço da indeterminação de certas interpretações possibilita. A indeterminação não-intencional do ato de aplicação do direito este visa a não intencionalidade do ato, ou seja, quando existe uma pluralidade na definição de palavras em seu sentido verbal, a norma será aplicada conforme cada caso, e órgão aplicador das normas tem que ser suscetível às várias definições que possam insurgir. A interpretação do direito há uma distinção muito rigorosa feita pela ciência jurídica como não autêntica, da realizada pelo órgão jurídico, ou seja, é pura determinação cognoscitiva (poder) do sentido das normas jurídicas. A ideia da interpretação mediante cognoscitiva para se obter direito novo, fundamenta a jurisprudência, que não preenche o espaço deixado pelo direito, de modo que é incapaz de corrigir essa lacuna. No entanto aplicação do direito é realizada pelo órgão jurídico e este mesmo não é sua função preencher o espaço, isso se faz pela interpretação do direito. b) Quais os aspectos da indeterminação do direito para Kelsen e qual a relação entre a moldura jurídica e os métodos de interpretação? Os aspectos de cada indeterminação intencional e não-intencional definidas acima disponibiliza várias possibilidades de aplicação jurídica, ou seja, o ato jurídico que efetiva ou executa a norma pode condizer por maneira a cumprir a uma ou várias significações verbais da norma, por maneira a corresponder o legislador e/ou sua escolha. No significado de corresponder uma das normas que se contradizem ou no significado de decidir como se as normas contraditórias se anulassem mutuamente. O direito que será aplicado formará uma moldura dentro da qual há diversas possibilidade de aplicação, de acordo o direito todo ato se mantenha dentro da moldura, preenchendo em qualquer significado possível. A fixação da interpretação é via cognoscitiva do objeto a interpretar, mas a fixação da moldura que representa o direito a interpretar, o conhecimento das possibilidades de dentro da moldura. A jurisprudência tradicional diz possível preencher a moldura, desenvolvendo um método de interpretação, a lei, caso concreto, fornecesse uma única para qualquer hipótese, que a solução correta é fundada na própria lei. Fica claro que a interpretação é um simples ato de compreensão, de modo que o aplicador do direito tivesse que pôr apenas seu entendimento (razão) e não sua vontade. Os métodos de interpretação não existe, pois não há métodos capaz para classificação no direito positivo, sendo que há várias significações verbais de uma norma. No entanto a tentativa da jurisprudência tradicional de decidir o conflito entre a vontade e expressão a favor de uma ou da outra, ou seja, não conseguiu objetivamente uma forma válida. Todo método de interpretação até então elaborado conduz ao resultado possível, não ao único correto, dessa maneira é inútil fundamentar juridicamente uma, com a exclusão da outra. A necessidade da interpretação resulta do fato da norma ou do sistema de normas deixarem possibilidades em aberto, de não conter a decisão da qual vale mais, e deixarem a decisão sobre a posição relativa dos interesses de um ato produção normativa, a sentença judicial. c) Explique a diferenciação kelseniana entre interpretação como ato de conhecimento e como ato de vontade. A interpretação como ato de conhecimento segundo Kelsen, se traduz em fixar a moldura que possibilita conhecer várias significações da aplicação do ato, que é apenas cognoscitiva do órgão aplicador do Direito, ou seja, quando todas as soluções estiverem dentro da moldura é correta juridicamente e o que ficar de fora é incorreta juridicamente. Sendo assim quando se diz que está fundamentado na lei, significa que está na moldura que norma interpretada representa. Mas interpretação autêntica não pode realizar só o ato de conhecimento, pois os órgãos que aplicam o direito realizam a interpretação da norma jurídica. A interpretação autêntica visa criação do direito, tal como uma lei ou uma sentença judicial, no caso é necessário escolher a melhor opção da moldura para aplicar no direito. A interpretação do ato de vontade está relacionada com a livre escolha da aplicação que a moldura possibilita, ou seja, envolve conhecimento de outras normas como da moral, justiça, juízos de valor social como o bem comum. E é justamente esse ato de vontade de escolher que se faz diferenciação da interpretação do órgão aplicador do direito e da não-autêntica, a ciência jurídica, portanto a não- autêntica não cria o direito, não sendo necessário realizar o ato de vontade. Conduto para caracterizar, de modo geral, a interpretação da lei realizada pelo aplicador do direito, deve-se dizer, a interpretação cognoscitiva (ato de conhecimento) do direito, corresponde-se com um ato de vontade em que o órgão aplicador escolhe uma entre as várias possibilidades reveladas por a interpretação cognoscitiva. 10) Sobre a interpretação do direito em Warat, responda: a) Explique o que é o Senso Comum Teórico dos Juristas apresentado por Luis Alberto Warat e em que sentido ele é um instrumento de poder? O Senso Comum Teórico dos Juristas que Warat apresenta, é o lugar do “secreto”, o consumo das verdades nas diferentes práticas de enunciação e estrutura do direito, e são direcionadas a questionar a literatura epistemológica, que são distintas no âmbito das ciências jurídicas e sociais. As ideias que integram nossa compreensão do fato de que a história das verdades jurídicas são indivisíveis, o direito não mostra os limites necessários entre o saber comum e a ciência. Contudo, a percepção é que os operadores são meros repetidores de fórmulas prontas e acabadas, condicionados por uma racionalidade positiva. O senso comum teórico pode ser caracterizado por uma atitude de crença, na qual os operadores do direito estariam inseridos, assim torna-se um imaginário limitado, de modo que um instrumento de poder da história, a ilusão epistêmica. b) Explique o que é o princípio de eficiência da utopia para Warat e como uma utopia pode perder esse princípio? Segundo Warat, o princípio de eficiência da utopia se faz para que não se atrapalhem nas expectativas em que fingem cumprir, é considerável estranhar em toda utopia que mantenham seu devido delírio. Warat dá o exemplo de como se manipula pela alienação, através do discurso da lei, criando-se uma miragem simbólica, fazendo com que se visualize uma condição transparente e perfeita, mas que na realidade está sendo mascarada. A ideia do Estado de Direito é vista como uma utopia perfeita. Já, algo que vise a autonomia necessita de uma utopia eficaz, que se faz onde os homens adquiremconsciência de si mesmos e de uma exploração a qual estão sendo submetidos, sendo que deste modo, o homem começa a entrar em conflito contra um sistema a qual está sendo submetido. Já a perda do princípio da utopia é quando se tranquiliza as frustrações que são impostas, as utopias provocam segmentos como fugir da prática em processo de delírios. A perda da eficiência da utopia, funciona como um calmante, pois assim se busca fugir da realidade, impedindo a reflexão e os pensamentos reflexivos.
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