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Fichamento H Arendt

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Capítulo VII – A Conferência de Wannsee, ou Pôncio Pilatos
Nesse capítulo, Hannah Arendt descreve a Conferência de Wannsee - reunião dos subsecretários de Estado da Alemanha Nazista para organizar a “Solução Final” -. A autora ressalta que a Conferencia era necessária para, alem de conquistar a aceitação dos subsecretários de Estado, obter o empenho de todos. 
Assim, o objetivo da Conferência era coordenar todos os esforços na implementação da “Solução Final”. Hannah fala que a discussão na Conferencia voltou-se primeiro para as “complicações legais” da Solução Final: qual seria o tratamento a ser dispensado aos que eram meio judeus? E aqueles que eram ¼ judeus? Eles deviam ser mortos ou apenas esterilizados?
Outro ponto discutido na Conferência foram os vários métodos de aplicar a Solução Final, isto é, quais seriam os vários métodos de matar. Ela comenta que a Solução final foi recebida com extraordinário entusiasmo pelos presentes na Conferência.
Ela relata que Eichmann se sentiu livre de toda culpa depois da Conferência, porque, ao ver todas aquelas pessoas importantes do governo (subsecretários de Estado) brigando por uma posição de liderança na Solução Final, ele sentiu que não precisaria repensar sobre aquilo, porque o alto escalão já tinha pensado e já tinha estabelecido a Solução Final como uma ideia honrosa.
Hannah explica que Eichmann se tornou perito em evacuação forçada dos judeus e que toda a operação, com o tempo, se tornou rotineira, vejamos:
· - Os judeus eram registrados, reunidos e depois deportados para os centros de Extermínio no Leste. Quando o trem chegava, os nazistas separavam os judeus mais fortes para trabalhar e matavam todos os outros. Inclusive, Arendt fala que eles as vezes até colocavam esses judeus mais fortes para operar a máquina de extermínio.
· - Em seguida, o Ministério das Relações Exteriores – que mantinha contato com os outros países - pediam que os demais países deportassem seus judeus.
o OBS.: Um ponto que achei muito importante foi quando ela explicou que havia peritos legais alemães para elaborar a legislação necessária para tornar as vítimas indivíduos apátridas - o que era importante sob dois aspectos: tornava impossível para qualquer país inquirir sobre o destino deles; e permitia que o Estado em que residiam confiscasse sua propriedade.
· - Depois, o Ministério das Finanças recebia as riquezas confiscadas, inclusive dentes de ouro.
· - E o Ministério do Transporte organizava os trens que transportavam os judeus.
Depois disso a autora ressalta que certos grupos de judeus foram responsáveis por cooperar com os alemães nazistas. Ela explica que, dentro das comunidades judaicas, existiam os Conselhos dos Anciãos Judeus, que listavam os judeus a serem deportados. Nessa passagem ela ressalta que no entender de Eichmann, ninguém protestou e ninguém se recusou a cooperar.
Hannah Arendt aborda bastante a questão da falta de consciência das pessoas à época, ressaltando que as poucas deserções que ocorreram se sucederam já no final da guerra, e não de uma consciência legítima, mas sim de uma tentativa de se resguardarem para os dias sombrios que estavam por vir com o fim da guerra e a derrota da Alemanha.
No caso de Eichmann, o que acalmou a sua consciência foi o fato de que ele não encontrou na época ninguém que fosse efetivamente contrário à Solução final.
Ela ainda fala sobre o fato de que a própria polícia judaica ajudava os nazistas. Ela explica que os nazistas davam certo poder para um grupo determinado de judeus, que compunham os Conselhos Judeus, e esses grupos eram responsáveis por organizar os judeus, listando suas propriedades, seus nomes e organizando seu transporte para os campos de extermínio. Até que chegava o momento deles próprios serem executados.
(...)
Sobre o julgamento em si, nessa parte do texto, Hannah Arendt fala sobre como muitas sessões do julgamento foram destinadas a montar o quadro geral da situação que assolou a Alemanha nazista. Tanto é que foram ouvidas várias testemunhas que não falavam nada de específico sobre o caso de Eichmann, trazendo apenas os pontos críticos da situação como um todo para comover a plateia.
O ponto mais importante, a meu ver, foi quando ela abordou o motivo pelo qual os judeus não se rebelaram. Por meio dos depoimentos de Eichmann, os juízes descobriram que os nazistas viram na cooperação dos grupos de judeus a pedra angular de sua política para os judeus:
“A verdade era que o povo judeu não era um todo organizado, que não possuía território, governo, nem exército em sua hora de maior precisão, não tinha um governo no exílio para representá-lo entre os Aliados.”, p. 141.
Ela acrescenta que apesar disso, existiam organizações comunitárias, com líderes judaicos reconhecidos. Contudo, essas lideranças, quase sem exceção, cooperaram com os nazistas. Diante disso, Hannah Arendt comenta que, se o povo judeu estivesse desorganizado e sem líderes, teria havido caos e muita miséria, mas o número de vítimas poderia ter sido muito menor.
Depois disso, Arendt aborda novamente a questão da consciência de Eichmann. A autora conta que ele alegou no julgamento que não precisava fechar os ouvidos para a voz da consciência, porque ela estava limpa. Ele reforça dizendo que nenhuma voz levantou no mundo exterior contra o que estava sendo feito na Alemanha. E que sua consciência ficou efetivamente tranquila quando ele viu o zelo e o empenho com que a “boa sociedade” de todas as partes reagia ao que ele fazia.
Com essa informação posta, Arendt aponta para uma contradição que surgiu no fim da guerra: a “emigração interna” da Alemanha. Essa “emigração interna” representou as pessoas que, embora ocupassem papeis importantes no Terceiro Reich durante toda a guerra, ao final, disseram a si mesmas e ao mundo em geral que tinham sido sempre “internamento opostas” ao regime.
Hannahh Arendt até ironiza que essa “oposição interna” dos nazistas teria sido um segredo muito bem guardado durante o regime.
Dentro desse tema, ela acrescenta que havia as pessoas que afirmavam ter ficado em seus postos por nenhuma outra razão senão mitigar as coisas e impedir que os “nazistas de verdade” se apoderassem de seus postos. Hannah ainda diz que “a história dos “mitigadores” nos escritórios de Hitler faz parte dos contos de fadas do pós-guerra, e podemos descartá-las também como vozes que pudessem ter chegado à consciência de Eichmann.” (pag. 146).
Ela aborda a questão das “exceções” no Extermínio. Quando os próprios judeus pediam uma exceção para o seu caso (para aqueles que eram meio judeus, ou judeus veteranos de guerra, etc. ...), eles estavam automaticamente reconhecendo a regra (que todos os outros já estavam condenados a morte), o que na visão dela era o mais desastroso. Inclusive, alguns nazistas também tinham as suas exceções, como parentes ou judeus famosos.
VIII - DEVERES DE UM CIDADÃO RESPEITADOR DAS LEIS
Hannah Arendt inicia o capitulo aduzindo que diversas foram as vezes em que Eichmann se sentiu como Pôncio Pilatos. Ou seja, apesar de não ver mal algum nos judeus, para não perder sua posição e agir com respeito as ordens, não teve coragem de enfrentar e assumir a sua postura e livra-los da morte.
“Era assim que as coisas eram, essa era a nova lei da terra, baseada nas ordens do Fuhrer; tanto quanto podia ver, seus atos eram os de um cidadão respeitador das leis. Ele cumpria o seu dever, como repetiu insistentemente a polícia e a corte, ele não só obedecia ordens, ele também obedecia à lei”.
“A primeira indicação de que Eichamann tinha uma vaga noção de que havia mais coisas nessa história toda do que a questão do soldado que cumpre ordens claramente criminosas em natureza e intenção apareceu no interrogatório da polícia, quando ele declarou, de repente, com grande ênfase, que tinha vivido toda a sua vida de acordo com os princípios morais de Kant, e particularmente sobre a definição de kantiniana do dever. Isso era aparentemente ultrajante, e também incompreensível, uma vez que a filosofia de Kant estáintimamente ligada à faculdade de juízo do homem, o que elimina a obediência cega.”
“E para surpresa de todos, Eichmann deu uma definição quase correta do imperativo categórico: “O que eu quis dizer com minha menção a Kant foi que o princípio de minha vontade deve ser sempre tal que possa se transformar no princípio de leis gerais”.
Ela relata que Eichmann durante seu depoimento explicou que, a partir do momento em que fora encarregado de efetiva a Solução Final, deixara de viver segundo os princípios kantinianos, que sabia disso e que se consolava com a ideia de eu não era mais “senhor dos seus próprios atos”, de que era incapaz de “mudar qualquer coisa”.
“Kant, sem dúvida, jamais pretendeu dizer nada desse tipo; ao contrário, para ele todo homem é um legislador no momento em que começa a agir: usando essa razão prática” o homem encontra os princípios que poderiam e deveriam ser os princípios da lei. Mas é verdade que a distorção inconsciente de Eichmann está de acordo com aquilo que ele próprio chamou de versão de Kant “para uso doméstico do homem comum”. No uso domestico, tudo o resta do espírito de Kant é a exigência de que o homem faça mais que obedecer à lei, que vá além do mero chamado da obediência e identifique sua própria vontade com o princípio que está por trás da lei – a fonte de onde brotou a lei. Na filosofia de Kant, essa fonte é a razão prática; no uso domestico que Eichmann faz dele, seria a vontade do Fuhrer”. 
Para Hannah Arendt, seja qual for o papel de Kant na formação da mentalidade do “homem comum” da Alemanha, não existe a menor dúvida de que Eichamann efetivamente seguia os preceitos de Kant: uma lei era uma lei, não havia exceções.
Arendt usa a expressão “banalidade do mal” para elaborar uma análise sobre Eichmann como um indivíduo que obedecia a ordens sem questionar, ou seja, o tipo ideal do burocrata que, em busca de ascensão, não mediu as consequências de suas atitudes. Com isso, embora não tenha sido entendida dessa forma, a autora não pretendia afirmar a inocência do réu, mas sim, questionar a forma como o Estado o transformou num monstro diante da pressão pública e a projeção midiática sobre o episódio. Julgamento espetáculo.
A autora relata que a defesa dele quis alegar que o que houve foi um monstro administrativo, uma vez que Eichmann sozinho não faria diferença nenhuma, qualquer pessoa poderia estar no lugar dele. 
Para ela a pessoa tem parcela de culpa, então ela deveria receber algum tipo de punição por isso.
Fato é que, Eichmann, muito menos inteligente e sem nenhuma formação, percebeu pelo menos vagamente que os seus atos e dos demais era não apenas uma ordem, mas a própria lei que os havia transformado a todos em criminosos.
Essa ordem, ao contrário da ordem comum foi tratada como uma lei. Todo o contexto em que as coisas aconteciam tinha a sua aparência de legalidade.
E assim como a lei de países civilizados pressupõe que consciência de todo mundo diga não matarás, mesmo que os desejos e os pendores do homem natural sejam assassinos, assim a lei da terra de Hitler ditava à consciência de todos: matarás. 
Capítulo XIII – OS CENTROS DE EXTERMÍNIO NO LESTE 
O Leste representava uma imensa área que abarcava a Polônia, os Estados Bálticos território russo ocupado.
O Leste era o cenário central do sofrimento judeu, terminal de horrores de todas as deportações, lugar de onde não havia escapatória e onde o número de sobreviventes raramente chegava a mais de 5%. O fato crítico é que o Leste foi o centro da população judaica na Europa antes da guerra.
Arendt explica que a acusação queria delimitar as dimensões do genocídio e depois disso verificar o quanto de responsabilidade Eichmann tinha. Mas, as provas ligando Eichamnn ao Leste eram escassas, a final, os alemães haviam destruído as provas documentais. Então, a estratégia da acusação foi chamar quantas testemunhas fosse possível para depor sobre os acontecimentos do Leste e, como eu disse antes, comover a plateia. Com isso, 23, das 121 sessões, foram dedicadas a essas testemunhas.
Hannah Arendt fala também sobre a sentença especificamente. Ela comenta que a sentença poderia destruir a argumentação da acusação se os juízes não tivessem encontrado razão para atribuir alguma responsabilidade a Eichmann pelos crimes do Leste, em acréscimo ao crime principal que ele confessou, isto é, o envio de pessoas para a morte plenamente consciente do que estava fazendo.
Ela explica que havia quatro pontos principais em disputa na sentença:
 A questão da participação de Eichmann no assassinato em massa levado a cabo no Leste. Quanto a isso, não houve nenhuma prova cabal, mas apenas a constatação de que Eichmann era bem informado sobre os acontecimentos do Leste. Por fim, a sentença achou que isso seria suficiente para incriminá-lo por participação efetiva.
 A questão da deportação dos judeus dos guetos poloneses para os centros de extermínio. Ela também ressalta a falta de provas aptas a demonstrarem a atuação direta de Eichmann nesse aspecto. Ela então comenta que esse teria sido um caso de in dúbio contra reum.
 
· O terceiro ponto a ser considerado era a culpa de Eichmann pelo que acontecia nos campos de extermínio, no quais, segundo a acusação, ele gozava de grande autoridade. Mas, ficou constatado que ele não tinha autoridade para dizer quem ia ou não morrer, o que enfraquecia a argumentação da acusação.
 O quarto ponto era referente a autoridade geral de Eichmann sobre os territórios orientais, isto é, sobre as condições de vida nos guetos, pela miséria, e pela liquidação final. Mais uma vez, Eichmann estava plenamente informado, mas nada daquilo tinha a ver com seu trabalho.
 Ela finaliza o texto constatando que independente disso, o resultado final de Eichmann não mudaria. É possível perceber uma critica nessa parte, justamente pela ausência de prova cabal. Mas, não havia outro destino para Eichmann que não a condenação:
“Em Israel, como na maioria dos países, uma pessoa que se apresenta na corte é considerada inocente ate prova em contrário. Mas, no caso de Eichmann isso era uma evidente ficção. Se ele não fosse considerado culpado antes de aparecer em Jerusalém, culpado alem de toda duvida, os israelenses jamais teriam ousado, nem desejado, raptá-lo.”(na Argentina) (pag. 231). 
CAPÍTULO XIV
Em alguns trechos do livro verificamos que “o Procurador afirmava que a defesa poderia usar quem quisesse com testemunhas, mas levando em conta que grande parte das testemunhas de defesa estavam presas e a Corte não fazia esforço para ouvi-las e que os outros não tinham coragem de se apresentar, a defesa ficou defasada.”. Em alguns trechos A. Harendt também demonstra a disparidade entre a quantidade de sessões que foram utilizadas para que a defesa apresentasse suas provas e a acusação. Outro ponto que merece destaque é que os documentos utilizados como prova foram escolhidos pela corte, de modo que documentos contrários à condenação de Eichamnn não foram admitidos.
A. Harendt aduz que “a história foi confirmada por testemunhos jurados e não jurados, dados geralmente por testemunhas e acusados de processos anteriores e frequentemente por pessoas que não estavam mais vivas”; “Boa dose de testemunhos foram baseados em boatos. Era possível desviar das regras de prova, desde que a corte registrasse as razões que levaram a esse desvio (Seção 15 da lei)”. “Dentre as testemunhas foram ouvidas oito testemunhas da Alemanha, que haviam sido funcionários judeus de alta escalão da Alemanha e eram agora importantes na vida pública de Israel, mas que saíram da Alemanha antes da guerra começar.” “A maioria das testemunhas vieram da Polônia e da Lituânia, onde a competência e autoridade de Eichmann eram quase nulas.” “Uma das testemunhas declarou que havia boatos no exército de Eichmann ajudava os guerrilheiros judeus, fornecendo-lhes documentos falsificados e caminhões militares, por intermédio de um soldado, chamado Anton Schimidt.”
Mesmo diante das falhas do Julgamento, A. Harend acredita que a corte de jerusalém esteveà altura das exigências da justiça. Os juízes julgaram com liberdade, não se apoiaram realmente nos padrões e precedentes legais com que mais ou menos convincentemente procuraram justificar suas decisões.
Para ela o que se exige nesses julgamento de “crimes legais” é que os seres humanos sejam capazes de diferencir o certo e o errado, mesmo quando tudo o que têm para guiá-los seja o seu próprio juízo e foi nisso que teria se baseado o julgamento.
Para Hannah, Eichmann nunca percebeu o que estava fazendo, não porque ele era burro, mas porque nunca refletiu sobre o que fazia. E essa distância da realidade e esse desapego pelo que se passava à sua volta geraram mais devastação do que todos os maus instintos juntos, e essa foi a grande lição do julgamento.
É bastante concebível que certas responsabilidade politicas entre nações possam algum dia ser julgadas em uma corte internacional, o que é inconcebível é que tal corte venha a ser um tribunal criminal que declare culpa ou inocência de indivíduos.
CAPITULO XV – JULGAMENTO, APELAÇÃO E EXECUÇÃO DE EICHAMANN
Todos os relatos posteriores à guerra foram desconsiderados para julgamento.
Eichamann foi capturado por soldados norte-americanos e levado para um campo para homens da ss, onde numerosos interrogatórios não conseguiram descobrir sua identidade, embora fosse sabida por alguns de seus colegas prisioneiros. Ele foi cauteloso e não escreveu para a família, deixando que acreditassem que tinha morrido; sua esposa havia sido deixada sem um tostão e a família de Eishmann em Linz sustentou ela e aos três filhos.
Ficou em Hamburgo trabalhando como lenhador durante quatro anos, se passando por Otto Heninger. Em maio de 1950, com a ajuda da ODESSA, uma organização clandestina de veteranos da SS, chegou até a Itália, onde um padre franciscano, perfeitamente informado sobre sua identidade, arrumou-lhe um passaporte de refugiado com o nome de Richard Klement e o mandou para Buenos Aires. Ele chegou em meados de julho, e sem nenhuma dificuldade obteve documentos de identificação e uma permissão de trabalho como Ricardo Klement, católico, solteiro, apátrida, 37 anos de idade – sete a menos do que sua idade real.
Escreveu a esposa dizendo que “o tio dos seus filhos” estava vivo. 	
Em 1952 levou a esposa e os filhos para viver com ele.
Em 1960 foi raptado na Argentina pelo Serviço Secreto Israelense, levado para Israel onde fora julgado.
Quanto ao julgamento: A defesa de Eichmann teve muitas dificuldades. As provas documentais eram escassas e as testemunhas de defesa não podiam vir a Israel, uma vez que seriam presas, não contavam com auxiliares de defesa como os de acusação. Eichmann foi o auxiliar de seu advogado.
 O advogado de defesa frisou o fato de que o acusado havia sido raptado e levado à Israel em conflito com a lei internacional, permitindo à defesa questionar o direito da corte de processá-lo. Embora nem a acusação, nem os juízes tenham admitido que o rapto foi um “ ato de Estado”, eles também não o negaram. Apesar das páginas e páginas de argumentos legais, baseados em tantos precedentes, acaba -se com a impressão de que o rapto estava entre os modos mais frequentes de prisão, e que foi o fato de Eichmann ser apátrida de fato e nada mais, que permitiu à corte de Jerusalém levá-lo a julgamento.
Hannah Arent destaca que o próprio Eichmann sabia, por sua carreira, que se podia fazer qualquer coisa que se quisesse com uma pessoa apátrida, afinal, os judeus tinham que perder sua nacionalidade antes de serem executados.
Segundo ela a defesa dele tentou argumentar que Eichmann tinha cometido atos de estado, o que aconteceu com ele poderia acontecer no futuro com qualquer um, todo mundo civilizado enfrenta esse problema. Segundo a defesa, só os verdadeiros líderes mereciam punição, coisa que Eichmann não era com sua “obediência cadavérica”.
Eichmann era um bode expiatório que o atual governo alemão havia abandonado à corte de Jerusalém, contrariando a lei internacional, a fim de se livrar de responsabilidade. Além disso, nenhuma pena de morte poderia ser aplicada, porque ela havia sido abolida incondicionalmente na Alemanha.
No dia 14 de agosto, depois de 114 sessões, os trabalhos principais chegaram ao fim. A corte foi suspensa durante 4 meses, e retomada em 11 de dezembro para pronunciar a sentença. Durante dois dias, divididos em cinco sessões, os três juízes leram o relatório de 244 sessões de julgamento. Desprezando a acusação de CONSPIRAÇÃO encaminhada pela promotoria, que o transformaria num grande criminosos de guerra, automaticamente responsável por tudo que tivesse a ver com a solução final.
Eichmann foi condenado em todas as 12 acusações, embora fosse absolvido em alguns particulares. Seus crimes foram divididos em 4 principais acusações:
1. 	Provocar o assassinato de milhões de judeus;
2. 	Levar milhões de judeus a condições que poderiam levar à destruição física;
3. 	Causar sérios danos físicos e mentais a eles
4. 	Determinar que fossem proibidos os nascimentos e interrompidas as gestações de mulheres judias em Theresienstadt
O absolveram das acusações posteriores ao período de 1942
Todos os crimes demonstravam claramente que sua maior culpa era a de ter sido obediente aos seus superiores, obediência esta louvada como virtude. Apesar disso, em 15 de dezembro de 1961, a Corte Distrital pronunciou sua sentença de morte. 
Em março de 1962, iniciam-se os trabalhos na Corte de Apelação, ainda mais visceral que a Corte Distrital, aceitando todas as alegações de que Eichmann nunca recebera ordens superiores. Todas as ordens tomadas provinham de seu julgamento pessoal quanto às questões judaicas. E, em 29 de maio, a Corte de Apelação também pronuncia sua sentença: a pena capital. No mesmo dia o presidente de Israel, Itzak Ben-Zvi, recebe seu pedido de clemência, que é negado. Então, pouco antes da meia-noite, do dia 31 de maio, foi enforcado, cremado e suas cinzas jogadas no Mediterrâneo, fora das águas israelenses.
Epílogo
Segundo Hannah Arendt, as irregularidades e anormalidades do julgamento foram muitas, que chegaram a obscurecer os problemas morais, políticos e legais que o julgamento propunha.
O Estado de Israel confundiu, ainda mais, as coisas, ao arrolar um grande número de objetivos que o julgamento deveria atingir, que eram todos secundários à lei.
Ficou esquecido que o objetivo de um julgamento é fazer justiça e qualquer outro objetivo só pode deturpar a finalidade principal da lei: pesar as acusações contra o réu, julgar e determinar o castigo.
A autora explica que, dessa forma, foram levantadas objeções contra o julgamento de Eichmann, que eram de 03 (três) tipos:
1) Objeções levantadas contra os julgamentos de Nuremberg, que se repetiam.
Eichmann era julgado por uma lei retroativa e era trazido à corte dos vitoriosos.
A resposta da corte foi simples: eles adotaram os julgamentos de Nuremberg como precedente válido.
Eles diziam que, se um crime antes desconhecido (genocídio) havia aparecido, a própria justiça exigia o julgamento segundo uma nova lei, no caso de Nuremberg, foi a Carta (Acordo de Londres de 1945); no caso de Israel, foi a Lei de 1950.
2) Objeções que se aplicavam à corte de Jerusalém: questionavam sua competência ou incapacidade de levar em conta o ato do rapto.
A resposta da corte foi a seguinte: uma vez que os judeus tinham território próprio, o Estado de Israel, eles, evidentemente, tinham o direito de julgar os crimes cometidos contra o seu povo, quanto os poloneses tinham de julgar os crimes cometidos na Polônia.
Entretanto, a autora ressalta que o julgamento de Eichmann era diferente dos julgamentos nacionais sob um aspecto — o acusado não havia sido devidamente preso e extraditado para Israel; ao contrário, uma clara violação da lei internacional havia sido cometida a fim de trazê-lo à justiça.
Só o fato de Eichmann ser apátrida de facto permitiu a Israel safar-se com o rapto dele.
Nesse caso, Israel havia efetivamente violado o princípio territorial,cuja grande significação está no fato de a Terra ser habitada por muitos povos e esses povos serem governados por muitas leis diferentes, de forma que cada expansão da lei de um território além dos limites e fronteiras de sua validade a coloca em imediato conflito com a lei de outro território.
Esse, infelizmente, era o único traço quase sem precedentes de todo o julgamento de Eichmann, e certamente era o menos digno de vir a se tomar um precedente válido.
O julgamento, é verdade, volta a ser um julgamento “espetáculo”, e mesmo um simples espetáculo, mas seu “herói”, aquele no centro da peça.
3) Objeções à própria acusação, que afirmava que Eichmann cometeu crimes “contra o povo judeu”, em vez de dizer “contra a humanidade”, e portanto objeção à lei sob a qual estava sendo julgado.
Essa última objeção levou à conclusão lógica de que a única corte adequada para julgar esses crimes seria um tribunal internacional.
O extermínio físico do povo judeu era um crime contra a humanidade, perpetrado no corpo do povo judeu.
Na medida em que as vítimas eram judeus, era certo e adequado que uma corte judaica pudesse conduzir o julgamento; mas na medida em que o crime era um crime contra a humanidade, era preciso um tribunal internacional para fazer justiça a ele.
Muitos amigos de Israel, tanto judeus como não-judeus, temeram que o julgamento pudesse ferir o prestígio de Israel e dar margem a uma reação contra os judeus por todo o mundo.
Também é verdade que os questionadores (“Por que ele não é julgado por uma corte internacional?”) não entendiam que para Israel o único aspecto sem precedentes nesse processo específico era que, pela primeira vez, desde a destruição de Jerusalém pelos romanos no ano 70, os judeus tinham a possibilidade de julgar crimes cometidos contra seu próprio povo.
Hannah Arendt conclui que o julgamento foi um fracasso, mas que deve-se admitir, além disso, que seus fracassos não foram nem em gênero, nem em grau, maiores do que os fracassos dos julgamentos de Nuremberg ou dos julgamentos nacionais em outros países europeus. Ao contrário, parte do fracasso da corte de Jerusalém deveu-se a seu empenho em apegar-se ao precedente de Nuremberg sempre que possível.
Hannah frisa que, em resumo, o fracasso da corte de Jerusalém consistiu em não ter tomado as rédeas de três itens fundamentais, todos suficientemente conhecidos e amplamente discutidos desde a instauração dos julgamentos de Nuremberg:
1) O problema da pré-definição da justiça na corte dos vitoriosos;
2) A falta de uma definição válida de “crime contra a humanidade”;
3) A falta de um reconhecimento claro do novo tipo de criminoso que comete esse crime.
1) Quanto ao primeiro item, a autora deixa claro que a justiça foi mais seriamente prejudicada em Jerusalém do que em Nuremberg, porque a corte não admitiu testemunhas de defesa. Em termos dos requisitos tradicionais para processos de lei justos e adequados, essa foi a falha mais séria nos procedimentos de Jerusalém.
2) Já quanto ao segundo item, Hannah afirma que as conclusões da corte de Jerusalém foram incomparavelmente melhores do que as de Nuremberg.
O julgamento se recusou a permitir que o caráter básico do crime fosse engolido pela enchente de atrocidades, e não caiu na armadilha de equacionar esse crime com os crimes de guerra comuns.
O que foi mencionado em Nuremberg apenas ocasionalmente e, por assim dizer, marginalmente - que “as provas demonstram que [...] os assassinatos em massa e as crueldades não foram cometidos unicamente com o propósito de eliminar a oposição”, mas foram “parte de um plano para se livrar de populações nativas inteiras” — estava no centro do processo de Jerusalém, pela razão óbvia de que Eichmann era acusado de um crime contra o povo judeu.
Em nenhum momento, porém, fosse no julgamento ou na sentença, o tribunal de Jerusalém chegou a mencionar a possibilidade de que o extermínio de grupos étnicos inteiros — judeus ou poloneses ou ciganos — pudesse ser mais do que um crime contra o povo judeu ou polonês ou cigano, que a ordem internacional e a humanidade como um todo pudessem ter sido seriamente feridas ou postas em risco.
3) Em relação ao terceiro item, a autora registrou que pode-se dizer que, ligado de perto ao fracasso do julgamento estava o conspícuo desamparo que os juízes experimentaram quando se viram confrontados com a tarefa de que menos podiam escapar, a tarefa de entender o criminoso que tinham vindo julgar.
Evidentemente não bastava que não acompanhassem a acusação em sua descrição obviamente errada do acusado como um “sádico pervertido”, nem teria bastado que fossem um passo à frente e demonstrassem a incoerência do argumento da acusação, segundo o qual o sr. Hausner queria julgar o monstro mais anormal que o mundo já vira e, ao mesmo tempo, julgar nele “muitos outros como ele”, até mesmo “todo o movimento nazista e o anti-semitismo em geral”.
Eles sabiam, é claro, que teria sido realmente muito reconfortante acreditar que Eichmann era um monstro.
O problema com Eichmann era exatamente que muitos eram como ele, e muitos não eram nem pervertidos, nem sádicos, mas eram e ainda são terrível e assustadoramente normais. Do ponto de vista de nossas instituições e de nossos padrões morais de julgamento, essa normalidade era muito mais apavorante do que todas as atrocidades juntas, pois implicava que — como foi dito insistentemente em Nuremberg pelos acusados e seus advogados — esse era um tipo novo de criminoso, que comete seus crimes em circunstâncias que tornam praticamente impossível para ele saber ou sentir que está agindo de modo errado.
Trecho final:
“Nós recusamos e consideramos bárbaras as proposições de que “um grande crime ofende a natureza, de forma que a própria Terra clama por vingança; que o mal viola uma harmonia natural que só a punição pode restaurar; que uma coletividade vitimada tem o dever moral de punir o criminoso” (Yosal Rogat). E no entanto parece-me inegável que foi precisamente com
base nessas proposições há muito esquecidas que Eichmann foi levado à justiça em primeiro lugar, e que elas foram, de fato, a justificativa suprema da pena de morte. Como ele esteve implicado e desempenhou um papel central no empreendimento cujo propósito declarado era eliminar certas “raças” da face da Terra para sempre, ele teve de ser eliminado.
E se é verdade que “a justiça não deve ser apenas feita, ela deve ser vista”, então a justiça do que foi feito em Jerusalém teria emergido para ser vista por todos se os juízes tivessem a ousadia de se dirigir ao acusado em algo como os seguintes termos:
“E, assim como você apoiou e executou uma política de não partilhar a Terra com o povo judeu e com o povo de diversas outras nações — como se você e seus superiores tivessem o direito de determinar quem devia e quem não devia habitar o mundo —, consideramos que ninguém, isto é, nenhum membro da raça humana, haverá de querer partilhar a Terra com você. Esta é a razão, e a única razão, pela qual você deve morrer na forca.”.
Pós Escrito
A fonte principal da reportagem escrita por Hannah Arendt foi a transcrição dos trabalhos da corte distribuída à imprensa.
Hannah Arednt deixa muito claro em seu pós escrito que o objetivo do livro não é tratar da história da Guerra, não é um relato sobre o totalitarismo, ou de como os judeus foram tratados. O foco do livro é tratar o julgamento de Eichmann, um homem de carne e osso com uma história individual, com um conjunto único de qualidades, peculiaridades.
O foco da sua reportagem é o julgamento e apenas nas circunstâncias fáticas/históricas que tinham relevância para o julgamento foram incluídas, porque ela acredita que Eichamann não deve ser julgado como um bode expiatório, para pagar pelo pecado do regime totalitarista. Ela acreditava que o julgamento deveria acontecer por justiça, porque ele deveria responder pelos crimes que ele tinha cometido.
Por falar em crime, H. Arendt critica também a qualificação do tipo de crime que aconteceu na segunda guerra. Para ela o genocídio sempre aconteceu, desde a idademédia, e é o massacre de povos inteiros. Assim, a expressão que mais corretamente tipifica o crime que aconteceu na Alemanha é “massacre administrativo”

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