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O Brasil antes do Brasil

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Clique para ver o infográfico Os sítios
arqueológicos. 
Infografia: Alessandro Meiguins, Sattu e
Luiz Iria. 
Foto: Marcelo Zocchio.
Endereço da página:
https://novaescola.org.br/conteudo/2399/o-brasil-
antes-do-brasil
Publicado em NOVA ESCOLA Edição 212, 01 de Maio | 2008
Planejamento
O Brasil antes do Brasil
Quando os europeus nem pensavam em aportar por aqui,
nosso território já era ocupado por diversas sociedades
organizadas que pouco a pouco se tornam mais
conhecidas
Débora Didonê
A velha história dos índios
não civilizados que
habitavam nosso território
quando os portugueses aqui
chegaram está dando lugar a
outra sobre importantes
civilizações. Pesquisas
recentes mostram que o país
tem um passado bem mais
rico do que se pensava. Em
vários sítios arqueológicos
são estudados vestígios de
antigos povos que remontam
um cenário incrível. De norte
a sul, nossas terras
abrigavam grupos
organizados em classes e
que ocupavam espaços planejados. 
Pesquisas arqueológicas feitas na Amazônia descrevem o auge de sociedades
formadas por indígenas de diversas etnias que se tornaram auto-suficientes e
criaram pólos de agricultura e cerâmica entre 1000 e 2000 A.P. antes do
presente, datação usada por arqueólogos para se referir à pré-história que,
nas Américas, segue divisão diferente do restante do mundo.
O homem se adaptava de modo sofisticado ao ambiente: usava a terra sem
destruí-la e aumentava a biodiversidade, afirma o estudioso do alto Xingu
Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida. Segundo ele, essas
https://novaescola.org.br/conteudo/2399/o-brasil-antes-do-brasil
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/QaMyr88tM6XABevtnNSNrnfmnhvw3yzC85Gq8jECAxrNea3knyr4egnC3A4U/mcapa1.pdf
civilizações eram diferentes das de outras partes do mundo, mas nem por
isso mais simples.
Hoje também se sabe mais sobre os sambaquis, comuns no litoral. Muito
além de amontoados de conchas e restos mortais como são descritos , esses
monumentos eram edificados para servir de moradia. Cai por terra, assim, a
idéia de que nossos ancestrais faziam parte de tribos distribuídas a esmo
pela f loresta. Entender como eram as sociedades antigas dá ao aluno a
noção de identidade e cultura e faz com que ele reconheça que nossa história
é bem anterior à ocupação européia, diz Ana Bergamin, professora e autora
de livros didáticos, de São Paulo. Nesse mesmo sentido, estudos na área de
Paleontologia revelam que há 10 mil anos habitavam áreas de todo o país
animais de grande porte, como a preguiça-gigante. Com eles conviviam
antepassados humanos, como Luzia. A mulher, cuja face com traços africanos
foi reconstituída há dez anos, por meio do crânio, passou a ocupar as páginas
dos livros de História, mostrando que não somos descendentes apenas de
asiáticos. A humanidade evoluiu e sobreviveu a mudanças geológicas, criou
seu espaço e gerou riquezas culturais e ecológicas, como a biodiversidade de
hoje. 
Assim como a pluralidade de plantas e a fértil terra preta da Amazônia não
são obras divinas, o modo de vida dos ribeirinhos amazonenses não é uma
invenção atual. Ambos são herança de uma ocupação humana milenar.
Acreditase que diferentes partes da região, de Rondônia ao Pará, incluindo o
baixo rio Negro, próximo a Manaus, já eram ocupadas 9 mil anos atrás. Esses
povos sobreviviam da pesca, da coleta e da caça, provavelmente num
contexto climático semelhante ao atual uma vez que um reaquecimento
global fez aumentar as chuvas e o nível dos rios, causando cheias há 18 mil
anos.
É possível que o processo de domesticação de inúmeras plantas hoje
consumidas, como mandioca e pupunha, tenha sido iniciado pelos primeiros
índios da região. Para chegar a essa conclusão sobre as formas antigas de
cultivo, os estudiosos se baseiam também nas práticas atuais. As hortas
presentes nos quintais das casas, por exemplo, já existiam ao redor das
aldeias há cerca de mil anos. Para formá-las, os homens derrubavam
somente matas secundárias, com árvores menores, já que dispunham
apenas de machados de pedra, e não de metal, para abrir clareiras. Outra
importante contribuição do homem pré-histórico é a terra preta, que não
existia originalmente na Amazônia. Ela surgiu graças ao acúmulo contínuo de
restos orgânicos há 4 mil anos. 
Organização social
Os rastros de aldeias sedentárias, formadas por centenas de pessoas, datam
de 3 mil anos atrás. O tamanho e a duração dos sítios arqueológicos ref letem
mudanças nos padrões de ocupação do território, principalmente no que se
refere à organização social. É preciso desmitificar a idéia de que a Amazônia
era uma coisa só, diz o arqueólogo Eduardo Góes Neves, do Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP). Entre os
anos 400 e 1300, 40 mil habitantes ocuparam quase toda a ilha de Marajó,
morando em casas de chão batido construídas sobre palafitas de terra, que
costumavam ser maiores nas famílias mais abastadas. A constatação de que a
figura da mulher era freqüentemente representada em divindades e peças
como urnas funerárias leva os pesquisadores a crer que a sociedade tenha
sido matrilinear, ou seja, de descendência materna. Isso não impede que
homens tenham sido chefes, diz Denise Pahl Schaan, presidente da Sociedade
de Arqueologia Brasileira.Enquanto o homem pescava, a mulher cuidava da
aldeia, da roça e da produção de cerâmica (veja o infográfico abaixo). Estudos
demonstram que as peças mais adornadas, como tangas destinadas a
adolescentes, foram produzidas por pessoas com maior poder econômico.
Elas foram encontradas somente em locais de cerimônias e moradias da elite,
conta Denise, referência em pesquisa sobre Marajó. Nos séculos 16 e 17,
europeus navegaram pelo rio Amazonas e descreveram aldeias com milhares
de pessoas. Em várias delas, na Amazônia central, construíam-se montículos
(espécie de palafita feita de terra preta e cacos de cerâmica). 
As depressões de relevo ali encontradas são indícios de que eles serviam
tanto para proteger casas contra alagamentos como para demonstrar poder,
já que tinham tamanhos variados. Acredita-se que havia mão-de-obra
específica, com divisão de tarefas, a serviço de alguém, diz o arqueólogo
Eduardo Neves, que pesquisa a região. Embora os sepultamentos não sejam
comuns nos montículos, restos funerários de um deles remetem à existência
de uma elite. Havia chefes supremos, mas não reis nem Estados. 
A terra preta hoje se mistura a centenas de cacos de cerâmica cujas variadas
técnicas de produção revelam a presença simultânea de diferentes culturas.
Isso pode comprovar também a ocorrência de conf litos entre aldeias,
causados pela chegada de outros povos, diz Neves. 
Esta informação se relaciona à anterior: áreas ocupadas no século 9 guardam
sinais de valas artificiais com estacas, aparentemente usadas para defesa.
Embora instabilidades políticas tenham gerado episódios de ocupação e o
abandono de assentamentos, foram os europeus que exterminaram os índios
em ataques e por meio da escravidão e da transmissão de doenças. Com isso,
os sobreviventes foram para o interior. Em áreas próximas a rios densamente
ocupadas na época hoje vivem caboclos que cultivam a terra dos sítios
arqueológicos e pisam, diariamente, sobre as cerâmicas feitas pelos
antepassados. 
Sábias ocupações
No alto Xingu, arqueólogos e antropólogos contam com a ajuda dos índios
Clique para ver os infográficos A força
feminina e Moradia 
nas alturas. Infografia: Alessandro
Meiguins, Sattu e Luiz Iria. 
Foto: Marcelo Zocchio.
kuikurus para mapear o
espaço ocupado por seus
ancestrais. Aldeias circulares,
cercadas por valas artificiais
e conectadas por estradas,
formam uma estrutura que
remete a uma civilização de
1,1 mil anos atrás.
A aldeia atual, em forma de
anel, foi um dia um conjunto
de oito a 12 aldeias cerca de
dez vezes maior, como
mostra o infográfico acima.
"Esse povo, formado por
grupos independentes
integrados em uma nação,
como os do atual Xingu, tinhanoções sofisticadas de Matemática e
Engenharia", explica o arqueólogo americano Michael Heckenberger.Essa antiga sociedade xinguana se caracterizava pelo vasto conhecimento de
cartografia e astronomia. Assim como os europeus desenvolveram
tecnologias inovadoras utilizando o ferro e o bronze, os nativos americanos
incorporaram a cosmologia, o estudo da origem e evolução do universo.
Exatamente como no império inca de Cuzco, o maior das Américas, afirma o
pesquisador. Os índios do Xingu, porém, constituíram uma paisagem lateral
contrária aos monumentos verticais típicos das civilizações clássicas cercada
de muito verde. "Eles não desmatavam grandes áreas contíguas porque
acreditavam ter parentesco com a floresta", conta Heckenberger. "Até hoje os
kuikurus se dizem descendentes de árvores." As áreas abertas, enfim, eram
exclusivas para os assentamentos e o cultivo de roças de mandioca e árvores
frutíferas. 
Bem longe dali, entre 10 mil e mil anos atrás, os sambaquis (do tupi-guarani
tampa, marisco, e ki, amontoado) eram erguidos por comunidades litorâneas
também para demarcar território. Mas havia outras funções para essas
pirâmides de areia e conchas. "Construídos em tempos diferentes por
comunidades diversas, elas podiam servir de base para moradias ou
cemitério", conta Flávio Calippo, arqueólogo subaquático do MAE-USP. No
sambaqui Jabuticabeira 2, de Jaguaruna, a 157 quilômetros de Florianópolis,
há 40 mil corpos. 
"Pela localização e pela altura, os espaços também eram construídos para
facilitar o controle do território e a obtenção de alimentos por meio da
observação a distância", explica Judith Steinbach, do Museu Arqueológico de
Sambaqui de Joinville, também em Santa Catarina. Já foram encontrados
aproximadamente mil no país, incluindo os f luviais, constituídos por
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/Z9YzXNCTRqFYUGs5XYHeKwQQVNqFtW6EzPccd3MZVQSjEE2bPjbxSu9aRaNu/mcapa2.pdf
Clique para ver os infográficos Noções
cartográficas 
e Engenharia praieira. Infografia:
Alessandro Meiguins, 
Sattu e Luiz Iria. Foto: Marcelo Zocchio.
acúmulos de moluscos terrestres, como no Vale do Ribeira, em São Paulo.
"Outros podem estar encobertos por restingas ou submersos por causa de
variações climáticas", afirma Calippo. 
Segundo o estudioso, oito sambaquis nessas condições estão sendo
pesquisados na ilha do Cardoso, no litoral paulista. Espalhados sobre os
monumentos, restos de animais marinhos indicam que os sambaquieiros
dispunham de embarcações e variados artefatos de pesca. E ossos de tórax
avantajados comprovam a existênciade ótimos nadadores nesse povo. Com
aescassez de comida, erguiam-se novos sambaquis em outras áreas (ou
ocupava-seum abandonado). Provavelmente a cultura dos tampakis foi
suplantada pelospróprios tupis-guaranis, que introduzirama horticultura na
região. 
Terra de gigantes
Há 11 mil anos, em áreas
formadas por vastos
cerrados e sob um clima frio
e seco, os primeiros grupos
de homens do país tiveram o
privilégio (ou não) de
conviver com animais de
grande porte hoje extintos,
como a preguiça-gigante.
Surgido na América do Sul há
30 milhões de anos e
pertencente à família dos
tatus e dos tamanduás, o
animal evoluiu em mais de
500 tipos e ocupou todo o
continente americano. Em
1996, depois de 160 anos de
estudos, pôde-se enfim montar um esqueleto completo da preguiça-gigante
graças à ossada encontrada na Chapada Diamantina, na Bahia. No local havia
também ossos de tigres-dentes-de-sabre e mastodontes.
O achado possibilitou conhecer a anatomia do maior exemplar de nossa
megafauna, reconstituir seus músculos e, assim, obter informações sobre sua
forma de locomoção. Diferentemente das preguiças atuais, comuns na
Amazônia, as gigantes dificilmente subiam em árvores, já que tinham de 3 a 6
metros de comprimento e chegavam a pesar 5 toneladas.
O aquecimento geológico ocorrido há 10 mil anos foi fatal para o mamífero (e
todos os gigantes) e fez com que apenas as preguiças arborícolas se
salvassem, refugiando-se nas f lorestas tropicais. Por isso, está descartada a
hipótese de que a megafauna tenha sido extinta por grupos humanos, que
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/w2F8mfZd8hDfwWux3YxXpeamjuGfhyNXMfFBr8qgAz82a2uKfg8CzVY7cj5h/mcapa3.pdf
Clique para ver o infográfico Quando os
bichos 
dominavam. Infografia: Alessandro
Meiguins, Sattu 
e Luiz Iria. Foto: Marcelo Zocchio.
não dispunham de tecnologia
para isso. Eles foram os
únicos a testemunhar a
realidade do que hoje se
apresenta em ossos
dispersos, diz o palentólogo
Cástor Cartelle no filme O
Brasil da Pré-história O
Mistério do Poço Azul, já
exibido na Europa. Isso não
quer dizer, porém, que eles
não caçassem animais
grandes farta fonte de
alimento.
Essas mudanças no cenário e
nas formas de ocupação das
terras do país evidenciam uma pré-história diferente do que apontam os
europeus para quem as civilizações surgiram apenas depois da escrita.
Resultado de anos de estudo, elas merecem ser levadas à sala de aula e
compartilhadas com seus alunos.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA 
Arqueologia da Amazônia, Eduardo Góes Neves, 88 págs., Ed. Jorge Zahar, tel. (21) 2108-0808, 22 reais 
Arte Rupestre na Amazônia, Edithe Pereira, 245 págs., Ed. Unesp, tel.(11) 3242-7171, 170 reais 
Brasil Rupestre, Marcos Jorge, André Prous e Loredana Ribeiro, 272 págs., Ed. Zencrane Filmes,tel. (41) 3023-3289,
150 reais 
O Povo de Luzia, Walter Alves Neves e Luís Beethoven Pilo, 336 págs., Ed. Globo, tel. (11) 6725-8867,32 reais 
INTERNET 
Conheça a cultura marajoara 
No site Arqueologia Brasileira há informações sobre alguns dos principais sítios do país.
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/sjcZb7bngbQS3pBS6qMyNRvTh9gCed3BbHfS7McPg9ghsbnYts24GYZb9ZwF/mcapa4.pdf
http://www.marajoara.com
http://www.itaucultural.org.br/arqueologia/

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