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Unidade 3 Arcadismo

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39
Letras Português - Literatura Brasileira: das Origens ao Arcadismo
UnidAde 3
Arcadismo
3.1 Introdução
Nesta unidade você aprenderá sobre a literatura árcade, iniciada no Brasil no século XVIII e 
cultuada pelos poetas mineiros, principalmente Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gon-
zaga. Esses poetas atingiram a excelência nesse estilo, apresentando-se como pastores, levando 
uma vida tranquila junto à natureza. Não nos esquecemos, porém, de poetas como Basílio da 
Gama, Santa Rita Durão, Silva Alvarenga e Alvarenga Peixoto, que também deixaram um legado 
fundamental para a história da Literatura Brasileira.
3.2 Literatura Árcade
 
O Arcadismo deu-se no Brasil do século XVIII e se desenvolveu, principalmente, no estado 
de Minas Gerais, onde havia sido descoberto ouro, o que levou a região a se tornar um centro 
econômico e, portanto, cultural da colônia portuguesa.
Ao mesmo tempo, os ideais do Iluminismo francês chegavam da Europa trazidos pelos pou-
cos letrados brasileiros.
Os grandes autores desse momento da literatura brasileira são Cláudio Manuel da Costa, To-
más Antônio Gonzaga, Basílio da Gama, José de Santa Rita Durão, Silva Alvarenga e Alvarenga 
Peixoto. Costuma-se situar o Arcadismo no Brasil entre os anos de 1768 (publicação das Obras 
poéticas, de Cláudio Manuel da Costa) e 1836 (início do Romantismo).
Os poetas árcades seguiam, em sua grande maioria, as convenções do neoclassicismo euro-
peu, tais como idealização da vida campestre (bucolismo); eu lírico caracterizado como um pas-
tor e a mulher amada como uma pastora (pastoralismo ou fingimento poético); ambiente tran-
quilo, idealização da natureza, cenário perfeito e aprazível (locus amoenus); visão da cidade como 
local de sofrimento e corrupção (fugere urbem, fuga da cidade em latim); elogio ao equilíbrio e 
◄ Figura 14: Paisagem 
bucólica que mostra 
cenas campestres, 
desejo de natureza 
estática
Fonte: Disponível em 
<http://www.google.com.
br/imgres?imgurl=http://
www.grupoescolar.com/
materia/arcadismo_no_
brasil.html>. Acesso em 14 
set. 2010.
40
UAB/Unimontes - 5º Período
desprezo às extremidades (aurea mediocritas - expressão de Horácio); utilização de personagens 
mitológicas; desprezo aos prazeres do luxo e da riqueza (estoicismo); supressão do inútil (inutilia 
truncat); aproveitamento do momento presente, aproveitar a vida, devido à incerteza do ama-
nhã, vivência plena do amor durante a juventude, porque a velhice é incerta (carpe diem).
Além das características trazidas da Europa, o Arcadismo no Brasil adquiriu algumas par-
ticularidades, como inserção de temas e motivos não existentes no modelo europeu, como a 
paisagem tropical, elementos da flora e da fauna do Brasil e alguns aspectos peculiares da colô-
nia, como a mineração, por exemplo; episódios da história do país, nas poesias heróicas; o índio 
como tema literário. Esses novos temas já prenunciam o que seria o Romantismo no Brasil: a re-
presentação do indígena e da cor local.
Os poetas árcades consideravam-se como estrangeiros em sua própria terra. No Brasil do sé-
culo XVIII, dificilmente esses sujeitos, formados ao gosto europeu, pois muitos deles foram à Eu-
ropa estudar, reconheceriam na paisagem bruta, principalmente a paisagem de Minas Gerais, a 
civilização tão decantada na Europa. Formados nas escolas mais importantes de Portugal, Itália e 
França voltam ao Brasil e têm que lidar com a dura falta de “cultura civilizada” da colônia. Os ideais 
árcades baseados na Arcádia Lusitana que pregava a volta ao classicismo renascentista, a uma 
poesia que se faria sem os arroubos e excessos do Barroco, a normatização da estética, da métrica 
e da ordem, refletem-se no gosto por uma natureza que se organize segundo as leis da mimese. 
Para Antonio Candido, ao analisar os manuais de escrita literária que dão forma ao Arcadismo: 
A poesia, tanto para ser útil quanto para ser agradável, deve basear-se na ver-
dade – que não é a verdade objetiva e unívoca da ciência, mas a verossimilhan-
ça. Na conceituação desta encontra-se geralmente a pedra de toque das teorias 
poéticas de inspiração aristotélica e horaciana: para o nosso tratadista, ela é (...) 
uma verdade possível, presa, por um lado, à analogia com as verdades objetiva-
mente constatáveis; por outro à imaginação criadora (...) (CANDIDO, 1981, p. 51).
Explicando melhor: a natureza tem um modo muito diferente de se organizar que não serve 
para a ordem da representação das coisas. Daí o gosto dos árcades em pintar cenas pastoris nas 
quais tudo aparece imóvel de tão perfeito, conforme a gravura apresentada logo na introdução 
desta unidade. Verdadeiras cenas teatrais, os poemas árcades são a celebração da poesia, o que 
leva um crítico como Antonio Candido a considerar, analisando um dos poemas de Tomás Anto-
nio Gonzaga, como uma aldeia falsa (CANDIDO, 1993, p. 20). Assim se expressa o crítico paulista 
em outro texto no qual fala sobre os poemas de Tomás Antônio Gonzaga: 
Mais de uma lira é votada à tarefa quase didática de mostrar à bem amada a na-
turalidade do amor, mostrando-lhe a ordenação das coisas naturais. E, por outro 
lado, valorizar a noção civil da vida social, salientando a nobreza das artes da paz, 
o falso heroísmo da violência, a ordem serena da razão (CANDIDO, 1981, p.122).
Desse modo, pode-se notar que o que os poetas árcades fazem é dotar a natureza de algo 
que ela não possui, devido ao fato de seguirem os moldes clássicos de representação da bele-
za. Há vários poetas árcades, mas nos ateremos nesteCaderno a apenas dois: Claudio Manuel da 
Costa e Tomás Antônio Gonzaga.
3.2.2 Cláudio Manuel da Costa
Considerado o introdutor do Arcadismo no Brasil, estudou Direito em Portugal e voltou ao 
Brasil para exercer a profissão. Foi um dos participantes da Inconfidência Mineira e, por isso, foi 
preso em maio de 1789, após um interrogatório; dois meses depois, foi encontrado enforcado 
em seu cárcere, levantando uma dúvida que paira até hoje: a de ter sido assassinado.
Era extremamente respeitado e admirado por outros poetas árcades, como Tomás Antônio 
Gonzaga e Alvarenga Peixoto, que o tinham como mestre. Sua obra lírica é constituída, princi-
palmente, de éclogas e sonetos. Obras poéticas, obra que introduziu o Arcadismo no Brasil, e Vila 
Rica, poema épico, são suas obras mais importantes.
“Vila Rica” é um poema épico, escrito em 1773, que narra a história de fundação de Minas 
Gerais, que se dá com a viagem de Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho às Minas Gerais, no 
início do século XVIII, resolvendo o conflito da Guerra dos Emboabas. O poema possui dez cantos 
e usa versos decassílabos com rimas emparelhadas. Vejamos o início do longo poema:
diCA
Os poetas árcades ti-
nham como eixo central 
de sua poética a oposi-
ção entre cidade e cam-
po. Estes eram vistos 
como oposições sendo 
o campo considerado 
como lugar ideal para se 
viver, o locus amoenus, 
e a cidade, vista como 
a perdição do homem, 
daí a necessidade do eu 
lírico em fugir da cida-
de, o fugere urbem. 
41
Letras Português - Literatura Brasileira: das Origens ao Arcadismo
BOX 14
Cantemos, Musa, a fundação primeira
Da Capital das Minas, onde inteira
Se guarda ainda, e vive inda a memória
Que enche de aplauso de Albuquerque a história.
Tu, pátrio Ribeirão, que em outra idade
Deste assunto a meu verso, na igualdade
De um épico transporte, hoje me inspira
Mais digno influxo, porque entoe a Lira,
Por que leve o meu Canto ao clima estranho
O claro Herói, que sigo e que acompanho:
Faze vizinho ao Tejo, enfim, que eu veja
Cheias as Ninfas de amorosa inveja.
E vós, honra da Pátria, glória bela
Da Casa e do Solar de Bobadela,
Conde feliz, em cujo ilustre peito
De alta virtude respeitando o efeito,
O Irmão defunto reviver admiro:
Afável permiti que eu tente o giro
Das minhas asas pela glória vossa,
E entre a série de Heróis louvar-vos possa.
Rotos os mares, e o comércio aberto,
Já de América o Gênio descoberto
Tinha ao Rei Lusitano as grandes terras,
Que o Sul rodeia de escabrosasserras.
O título contavam de Cidades
Pernambuco, Bahia; e as crueldades
Dos índios superadas, já se via
O Rio de janeiro, que fazia
Escala às Naus: buscando o continente
De Paulo, uma conquista está patente,
Que aos Portugueses com feliz agoiro
Prometia o diamante, a prata, o oiro 
Fonte: (COSTA, 1773, s/p).
Na obra de Cláudio Manuel da Costa, ficam evidentes as características e os conflitos apre-
sentados na introdução desta unidade. O livro desse poeta, que marca o início do Arcadismo no 
Brasil, demonstra claramente a dificuldade do eu lírico em se relacionar com as paisagens de sua 
terra natal e casar estas com os moldes clássicos aprendidos na Europa. Para Péricles Eugênio da 
Silva Ramos:
A poesia de Cláudio Manuel da Costa (...) coloca-se sob o signo de uma oposição, 
entre o estilo simples e a propensão para o sublime. (...) No período que medeia 
entre os estudos de Cláudio em Coimbra e a publicação de suas obras, em 1768, 
houve em Lisboa a implantação de um marco nas tendências neoclassicistas que 
em Portugal se observavam e já havia tempo se desenvolviam na Itália e na Fran-
ça (RAMOS, 1976, p. 16).
Exemplo disso é o soneto que se segue:
42
UAB/Unimontes - 5º Período
BOX 15
Soneto i
Para cantar de amor tenros cuidados,
Tomo entre vós, ó montes, o instrumento;
Ouvi pois o meu fúnebre lamento;
Se é, que de compaixão sois animados:
Já vós vistes, que aos ecos magoados
Do trácio Orfeu parava o mesmo vento;
Da lira de Anfião ao doce acento
Se viram os rochedos abalados.
Bem sei, que de outros gênios o Destino,
Para cingir de Apolo a verde rama,
Lhes influiu na lira estro divino:
O canto, pois, que a minha voz derrama,
Porque ao menos o entoa um peregrino,
Se faz digno entre vós também de fama.
Fonte: (COSTA, 1966).
O tema do soneto já é em si, distante do espaço que o eu lírico utiliza na sua enunciação, 
pois para cantar o amor nos montes é difícil a ele, devido à diferença entre o tema - o amor, algo 
delicado, leve - e a paisagem que lhe serve de fundo - os montes, a dureza das pedras, a aspereza 
do relevo. O poeta está cantando o mal de amor, algo que é da ordem da cultura e estabeleci-
do como algo que o faz sofrer. Devemos nos lembrar que nem todo amor é feito de sofrimento, 
mas, na convenção poética seguida pelo poeta, vinda da Europa, o amor deve ser cantado como 
aquilo que faz o sujeito sofrer, por isso ele lembra aos montes do seu “fúnebre lamento”, para que 
estes tenham dele compaixão. 
Você deve notar também que o modo da escrita, embora seja árcade, lembra a produção 
barroca, pois muitas vezes há a inversão na ordem frasal ou dos versos como ocorre no verso 1 
e no verso 2, que devem ser invertidos para se entender o que o poeta quer dizer. Isso ocorre 
também nos versos 5 e 6, 7 e 8, 9, 10 e 11 e nos versos do terceto final. A isso se chama hipérbato, 
conforme você já viu quando discutimos os textos barrocos. O que parece algo muito estranho, 
na verdade é uma forma muito comum no século XVIII para aqueles que sabiam escrever e pra-
ticavam a escrita. Esse modo é diferente da própria estrutura educacional que se encontrava na 
colônia, pois a maioria de sua população era de analfabetos. 
O eu lírico vai continuar seu poema com indicações de sua cultura europeia. A mitologia 
grega é chamada para o teatro do poema. Figuras como Anfião, Orfeu, Apolo e o Destino não es-
tão aí apenas como objetos decorativos. Fazem parte da demonstração do poeta de que ele sabe 
escrever conforme mandam as regras da “boa” poesia. É um método de bem escrever, além de 
colaborar com a ideia de que a natureza precisa ser educada, colocada em ordem. A poesia deve 
trabalhar com a civilização da natureza, conforme manda o figurino do movimento. Para Antonio 
Candido, o poeta neoclássico e, por consequência, o poeta árcade, deve seguir o modelo, pois 
ele deve desejar a aprovação da posteridade. Daí o crítico apontar como “um dos alvos do Arca-
dismo: criar pontos de referência para o homem medianamente culto, propiciando e reforçando 
a comunicabilidade” (CANDIDO, 1981, 54). 
Os instrumentos que o eu lírico utiliza para compor seu poema estão mais ligados à mú-
sica, mas são metáforas para a sua produção poética. Com base na mitologia grega, o eu lírico 
demonstra ser um grande compositor. Ao mesmo tempo em que canta seus amores, o eu lírico 
também pretende impor seu ambiente, mesmo que áspero e inóspito à tradição da qual ele faz 
parte, por isso ele deseja, ao final de seu soneto, produzir a fama para sua natureza cantada. Essa 
mesma natureza só será famosa com a ordem que ele consegue dar a ela em seus poemas. A 
mimese, a representação, vale mais do que o natural, embora a natureza é que deva ser cantada. 
É o que vemos também no seguinte soneto, que mostra um desafio que tem como armas 
instrumentos musicais e cânticos:
diCA
O eu lírico árcade adota 
a identidade de um 
pastor e por isso eles 
adotam pseudônimos 
de origem grega ou 
latina, assim Cláudio 
Manuel da Costa era 
Glauceste Satúrnio, To-
más Antônio Gonzaga 
se autodenominava 
Dirceu, Alvarenga Pei-
xoto era Alceu, e Basílio 
da Gama era Termindo 
Sepilho.
Para ampliar o conheci-
mento assista ao filme 
“Tiradentes” (1999), de 
Oswaldo Caldeira - O 
filme conta a trajetória 
de Joaquim José da 
Silva Xavier, o Tiraden-
tes (Humberto Martins), 
líder da Inconfidência 
Mineira, um movimento 
surgido em Vila Rica 
(Ouro Preto) em 1789. 
Tiradentes sonhou 
junto com amigos e 
intelectuais ver o Brasil 
independente do do-
mínio português, mas 
esbarrou na traição de 
Joaquim Silvério dos 
Reis (Rodolfo Bottino).
43
Letras Português - Literatura Brasileira: das Origens ao Arcadismo
BOX 16
X
Eu ponho esta sanfona, tu, Palemo,
Porás a ovelha branca, e o cajado;
E ambos ao som da flauta magoado
Podemos competir de extremo a extremo.
Principia, pastor; que eu te não temo;
Inda que sejas tão avantajado
No cântico amebeu: para louvado
Escolhamos embora o velho Alcemo.
Que esperas? Toma a flauta, principia;
Eu quero acompanhar te; os horizontes
Já se enchem de prazer, e de alegria:
Parece, que estes prados, e estas fontes
Já sabem, que é o assunto da porfia
Nise, a melhor pastora destes montes.
Fonte: Disponível em <http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=687>. Acesso em 13 set. 2010.
diCA
Confira também “Os 
Inconfidentes” (1972), 
de Joaquim Pedro de 
Andrade. Da Inconfidên-
cia Mineira (conspiração 
pela independência do 
Brasil do século dezoito, 
em Minas Gerais, centro 
das riquezas coloniais), 
faziam parte poetas 
e nobres, incluindo o 
padre e o coronel da 
guarnição. O dentista 
Tiradentes é torturado, 
para que divulgue a sua 
participação, na conjura 
contra a coroa portu-
guesa; os cúmplices 
tinham já confessado, 
negando responsabilida-
des próprias. Tiradentes 
é o único a assumir-se 
plenamente, sendo 
condenado à morte. 
Com base nos Autos 
da devassa, na poesia 
dos inconfidentes e de 
Cecília Meireles, Joa-
quim Pedro de Andrade 
constesta versões oficiais 
da história da Inconfi-
dência Mineira e trata da 
posição de intelectuais 
diante da prática de 
políticas revolucionárias. 
Realizado para a TV 
Italiana, RAI, como parte 
da série intitulada “A 
América Latina vista por 
seus idealizadores”, Os 
Inconfidentes foi sucesso 
internacional de crítica 
e público, tendo sido 
premiado no Festival de 
Veneza.
diCA
E por fim, veja ainda 
o filme “Aleijadinho – 
Paixão, Glória e Suplício” 
(2000), de Geraldo 
Santos Pereira. A história 
do escultor mineiro 
Antônio Francisco 
Lisboa, o Aleijadinho, 
acompanhando sua vida 
e sua formação artística 
e cultural. O filme mostra 
o relacionamento com a 
escrava Helena, os con-
flitos políticos com o pai, 
um arquiteto português, 
a sua amizade com o 
inconfidente Cláudio 
Manoel da Costa e a 
doença que o deixou 
deformado, mas não 
conseguiu impedi-lo de 
trabalhar.
◄ Figura 17: Cartaz do 
filme Aleijadinho – 
Paixão, Glória e Suplício 
(2000), de Geraldo 
Santos Pereira
Fonte: Disponível em 
<http://www.filmesepicos.com/2009/10/o-aleijadi-
nho-paixao-gloria-e-su-
plicio.html>. Acesso em 16 
out. 2010.
◄ Figura 16: Cartaz do 
filme Os Inconfidentes 
(1972), de Joaquim 
Pedro de Andrade
Fonte: Disponível em 
<http://www.filmesepicos.
com/2009/06/os-inconfi-
dentes-1972.html>. Acesso 
em 15 out. 2010.
Figura 15: Cartaz do 
filme Tiradentes (1999), 
de Oswaldo Caldeira
Fonte: Disponível em 
<http://filmow.com/
filme/6332/tiradentes/>.
Acesso em 13 out. 2010.
►
44
UAB/Unimontes - 5º Período
3.2.3 Tomás Antônio Gonzaga
O poeta Tomás Antônio Gonzaga nasceu no Porto em 1744 e chega ao Brasil em fins de 
1782. Conhece Cláudio Manuel da Costa por quem é inspirado e apaixona-se por Maria Dorotéia 
Joaquina de Seixas que irá imortalizar em seu livro Marília de dirceu, que, de acordo com José 
Aderaldo Castello, possui uma
[...] poesia lírica que historia uma experiência sentimental autêntica, pelo menos 
real e conhecida, além de apresentar-se associada a certas circunstâncias que 
envolveram o poeta na Inconfidência Mineira. Tudo isto favoreceu a criação do 
mito romântico do poeta enamorado que sacrifica seus ideais sentimentais pela 
liberdade da pátria, e de tal forma que a sua projeção na literatura brasileira é 
atestada preferência de poetas e prosadores que o tomaram como assunto lite-
rário (CASTELLO, 1969, p. 162).
Essas liras de Tomás Antônio Gonzaga são ge-
ralmente consideradas a obra poética de maior re-
levância do século XVIII do Brasil e do Arcadismo 
em língua portuguesa, sendo que duas tendências 
são facilmente perceptíveis: 1) o equilíbrio e o con-
tentamento do Arcadismo, além da utilização de 
paisagens neoclássicas, como o pastor, a pastora, 
o campo, a serenidade do local; 2) o pré-Romantis-
mo representado pela emoção, pela manifestação 
do drama amoroso, pelas confissões de sentimento 
pessoal, pela ênfase emotiva estranha aos padrões 
do neoclassicismo, pela descrição de paisagens bra-
sileiras, entre outros aspectos. No entanto, todo esse 
sentimentalismo convive com as ideias iluministas, 
expostas na preocupação em atenuar as tensões e 
racionalizar os conflitos.
Apresentamos a Lira I, retirada de Marília de 
dirceu: 
BOX 17
LiRA i
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta,azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
 Graças, Marília bela,
 Graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os Pastores, que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado:
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha.
 Graças, Marília bela,
 Graças à minha Estrela!
Figura 18: Retrato 
de Tomás Antônio 
Gonzaga
Fonte: Disponível em 
<http://www.google.com.
br/imgres?imgurl=http://
www.triplov.com/poesia/
Tomas_Antonio_Gonza-
ga/Tomas-Antonio-Gon-
zaga.jpg>. Acesso em 16 
out. 2010.
►
45
Letras Português - Literatura Brasileira: das Origens ao Arcadismo
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que o teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.
 Graças, Marília bela,
 Graças à minha Estrela!
Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! não, não fez o céu, gentil Pastora, 
Para glória de Amor igual tesouro.
 Graças, Marília bela,
 Graças à minha estrela!
Fonte: Disponível em <www.dominiopublico.br>. Acesso em 16 out. 2010.
De acordo com José Aderaldo Castello,
Todas as liras [contidas em Marília de dirceu] são escritas [...] em linguagem 
simples, às vezes graciosa e, apesar do estilo mitológico e de outras reminiscên-
cias clássicas, percebe-se que o poeta teve a preocupação de fazer-se claramente 
entendido por Marília. Daí talvez o tom familiar e, podemos dizer, matrimonial, 
de boa parte dessas composições. Admitimos a espontaneidade da linguagem 
do poeta, assim como a sinceridade de suas intenções. Mas achamos, por outro 
lado, que não há nas liras um transbordamento lírico de apaixonado autêntico, 
senão a frieza calculada e disfarçada de um cortesão portador de apreciável in-
tuição psicológica, suficiente para eliminar certos possíveis problemas em suas 
relações com a mulher escolhida para o matrimônio (CASTELLO, 1969, p. 162).
Nesse amor fingido, Tomás Antonio Gonzaga apresenta à sua amada seus bens e perten-
ces. Note que ele não é qualquer vaqueiro, mas alguém que tem posses, representadas por seu 
próprio rebanho, sobrevivendo de sua fazenda. Ele se protege das intempéries e consegue ser 
dono de seu próprio destino. Ele dá graças à Marília, mas também à sua boa estrela, sua sorte. 
Ele não está envelhecido, e os outros pastores 
o respeitam. Na segunda estrofe, o eu lírico faz 
referência ao poeta Cláudio Manuel da Costa 
que tinha por pseudônimo Glauceste Satúrnio, 
nomeado, nessa lira, como Alceste. 
Note também que assim como seus per-
tences o pastor afirma que não canta poesias 
que não são dele. Do mesmo modo, o eu lírico 
pastoril encontra sua felicidade toda em sua 
amada, o que não faz com que ele se sinta fe-
liz com seus pertences, mas que queira ver sua 
amada junto dele, maior bem que a vida lhe 
dá: o amor de Marília. Esse amor que a tudo 
supera servirá de mote aos amores dos ro-
mânticos no próximo século, o século XIX, que 
acreditará na indestrutibilidade do sentimento 
amoroso contra todas as forças sociais. Gonza-
ga, desse modo, é precursor do pré-romantis-
mo no Brasil. Os escritores românticos serão 
motivos para o próximo período.
◄ Figura 19: Imagem 
de Marília de Dirceu 
produzida por Guignard
Fonte: Disponível em 
<http://www.google.com.
br/imgres?imgurl=http://
www.integral.br/zoom/
imgs/277/image002.jpg>.
Acesso em 14 set. 2010.
46
UAB/Unimontes - 5º Período
Além de Marília de Dirceu, outra obra de destaque de Tomás Antônio Gonzaga são as Car-
tas Chilenas. As Cartas Chilenas tratam-se de poemas satíricos, em versos decassílabos, que cir-
cularam em Vila Rica poucos anos antes da Inconfidência Mineira, em 1789. Revelando seu lado 
satírico, num tom mordaz, agressivo, jocoso, pleno de alusões e máscaras, o poeta satiriza ferina-
mente a mediocridade administrativa, os desmandos dos componentes do governo, o governa-
dor de Minas e a Independência do Brasil.
As Cartas Chilenas são 13 cartas escritas por Critrilo (pseudônimo do autor que por muito 
tempo ficou obscuro), um habitante de Santiago do Chile (na verdade Vila Rica), relatando os 
desmandos, atos corruptos, nepotismo, abusos de poder, falta de conhecimento e tantos outros 
erros administrativos, jurídicos e morais do governador chileno Fanfarrão Minésio (na realidade, 
Luís da Cunha Meneses, governador de Minas até a Inconfidência Mineira). As cartas são sempre 
dirigidas a “Doroteu”, Cláudio Manuel da Costa.
Vejamos um trecho da Carta 2ª, em que Gonzaga detalha uma das artimanhas do Governador:
BOX 18
Carta 2ª
 
Em que se mostra a piedade que Fanfarrão fingiu no princípio do seu governo, para 
chamar a si todos os negócios.
As brilhantes estrelas já caíam
E a vez terceira os galos já cantavam,
Quando, prezado amigo, punha o selo 
Na volumosa carta, em que te conto
Do nosso imortal chefe a grande entrada; 
E refletindo, então, ser quase dia,
A despir-me começo, com tal ânsia, 
Que entendo que inda estava o lacre quente 
Quando eu já, sobre os membros fatigados,
Cuidadoso, estendia a grosa manta.
Não cuides, Doroteu, que brandas penas
Me formam o colchão macio e fofo;
Não cuides que é de paina a minha fronha
E que tenho lençóis de fina holanda,Com largas rendas sobre os crespos folhos.
Custosos pavilhões, dourados leitos
E colchas matizadas, não se encontram
Na casa mal provida de um poeta,
Aonde, há dias que o rapaz que serve
Nem na suja cozinha acende o fogo.
Mas, nesta mesma cama, tosca e dura,
Descanso mais contente, do que dorme
Aquele, que só põe o seu cuidado
Em deixar a seus filhos o tesouro
Que ajunta, Doroteu, com meio avara,
Furtando ao rico e não pagando ao pobre.
Aqui. . . mas onde vou, prezado amigo?
Deixemos episódios, que não servem
E vamos prosseguindo a nossa história.
Fui deitar-me ligeiro, como disse,
E mal estendo nos lençóis o corpo,
Dou um sopro na vela, os olhos fecho
E pelos dedos rezo a muitos santos,
Por ver se chega mais depressa o sono,
Conselho que me deram sábias velhas
já, meu bom Doroteu, o sono vinha:
Umas vezes dormindo, ressonava,
Outras vezes, rezando, inda bulia
Com os devotos beiços, quando sinto
47
Letras Português - Literatura Brasileira: das Origens ao Arcadismo
Passar um carro, que me abala o leito.
Assustado desperto, os olhos abro
E, conhecendo a causa que me acorda,
Um tanto impaciente o corpo viro,
Fecho os olhos de novo e cruzo os braços
Para ver se outra vez me torna o sono
Segunda vez o sono já tornava
Quando o estrondo percebo de outro carro;
Outra vez, Doroteu, o corpo volto,
Outra vez me agasalho, mas que importa?
Já soam dos soldados grossos berros,
Já tinem as cadeias dos forçados,
Já chiam os guindastes, já me atroam
Os golpes dos machados e martelos
E, ao pé de tanta bulha, já não posso
Mais esperança ter de algum sossego.
Salto fora da cama, acendo a vela,
À banca vou sentar-me exasperado,
E, por ver se entretenho as longas horas,
Aparo a minha pena, o papel dobro
E com mão, que ainda treme de cansada,
Não sei, prezado amigo, o que te escrevo.
Só sei que o que te escrevo são verdades
E que vêem muito bem ao nosso caso.::
Fonte: Disponível em <http://www.casadobruxo.com.br/poesia/t/tomaz02.htm>. Acesso em 16 out. 2010.
3.2.4 Basílio da Gama
A poesia épica do Arcadismo brasileiro 
trouxe inovações para essa escola, que a di-
ferenciou ainda mais do modelo europeu. Te-
mas da história colonial em meio à descrição 
da paisagem tropical do país e a inserção do 
índio como herói, mesmo que ainda coadju-
vante do homem branco. São as novas pers-
pectivas que começam a delinear uma lite-
ratura nacionalista, a ser fundada durante o 
Romantismo.
Entre os autores mais conhecidos estão 
Basílio da Gama, o Frei José de Santa Rita Du-
rão, o poema “Vila Rica”, de Cláudio Manuel da 
Costa, agora há pouco comentado.
Basílio da Gama era filho de pai portu-
guês e mãe brasileira. Ficou órfão e foi para o 
Rio de Janeiro. Entrou, em 1757, para a Com-
panhia de Jesus. Dois anos depois, a ordem foi 
expulsa do Brasil e o poeta foi para Portugal e 
depois para Roma, onde foi admitido na Arcá-
dia Romana. Foi Patrono da Academia Brasileira de Letras.
Sua grande obra é o poema épico O Uraguai, publicado em 1769, que trata da guerra mo-
vida por Portugal contra os índios das missões do Rio Grande do Sul (Sete Povos das Missões). 
Dedicado a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão de Pombal, percebe-se o intuito de 
agradar o homem mais poderoso de Portugal daquele tempo. No longo poema, os guerreiros 
portugueses e os Guaranis são tratados positivamente, cabendo aos jesuítas o papel de vilões, 
por serem contrários à política de Pombal, retratados como interessados em enganar os índios. 
Vejamos os primeiros versos de 
diCA
Confira ao filme “Os 
Inconfidentes” (1972). 
Tomás Antônio Gonza-
ga já foi retratado como 
personagem no cinema, 
interpretado por Luiz 
Linhares na obra de Joa-
quim Pedro de Andrade, 
e por Eduardo Galvão 
no filme Tiradentes 
(1999), de Oswaldo 
Caldeira. Na televisão, 
foi interpretado por 
Gianfrancesco Guarnieri 
na novela Dez vidas 
(1969). A novela Dez 
vidas foi uma produzida 
pela extinta TV Excelsior 
e exibida entre 1969 
e 1970. Foi escrita por 
Ivani Ribeiro e dirigi-
da por Gianfrancesco 
Guarnieri. Adaptação 
romanceada da Incon-
fidência Mineira, entre-
meada com os conflitos 
amorosos entre Tomás 
Antônio Gonzaga, Marí-
lia de Dirceu e a jovem 
Carlota.
◄ Figura 20: Retrato de 
Basílio da Gama
Fonte: Disponível em 
<http://pt.wikipedia.org/
wiki/BasiliodaGama>.
Acesso em 15 out. 2010.
48
UAB/Unimontes - 5º Período
BOX 19
O Uraguai:
Fumam ainda nas desertas praias
Lagos de sangue tépidos e impuros
Em que ondeiam cadáveres despidos,
Pasto de corvos. Dura inda nos vales
O rouco som da irada artilheria.
MUSA, honremos o Herói que o povo rude
Subjugou do Uraguai, e no seu sangue
Dos decretos reais lavou a afronta.
Ai tanto custas, ambição de império!
E Vós, por quem o Maranhão pendura
Rotas cadeias e grilhões pesados,
Herói e irmão de heróis, saudosa e triste
Se ao longe a vossa América vos lembra,
Protegei os meus versos. Possa entanto
Acostumar ao vôo as novas asas
Em que um dia vos leve. Desta sorte
Medrosa deixa o ninho a vez primeira
Águia, que depois foge à humilde terra
E vai ver de mais perto no ar vazio
O espaço azul, onde não chega o raio.
Já dos olhos o véu tinha rasgado
A enganada Madri, e ao Novo Mundo
Da vontade do Rei núncio severo
Aportava Catâneo: e ao grande Andrade
Avisa que tem prontos os socorros
E que em breve saía ao campo armado.
Não podia marchar por um deserto
O nosso General, sem que chegassem
As conduções, que há muito tempo espera.
Já por dilatadíssimos caminhos
Tinha mandado de remotas partes
Conduzir os petrechos para a guerra.
Mas entretanto cuidadoso e triste
Muitas cousas a um tempo revolvia
No inquieto agitado pensamento.
Quando pelos seus guardas conduzido
Um índio, com insígnias de correio,
Com cerimônia estranha lhe apresenta
Humilde as cartas, que primeiro toca
Levemente na boca e na cabeça.
Conhece a fiel mão e já descansa
O ilustre General, que viu, rasgando,
Que na cera encarnada impressa vinha
A águia real do generoso Almeida.
Diz-lhe que está vizinho e traz consigo,
Prontos para o caminho e para a guerra,
Os fogosos cavalos e os robustos
E tardos bois que hão de sofrer o jugo
No pesado exercício das carretas.
Não tem mais que esperar, e sem demora
Responde ao castelhano que partia,
E lhe determinou lugar e tempo
Para unir os socorros ao seu campo.
Juntos enfim, e um corpo do outro à vista,
Fez desfilar as tropas pelo plano,
Por que visse o espanhol em campo largo
A nobre gente e as armas que trazia.
Fonte: (BASÍLIO DA GAMA, 1769).
49
Letras Português - Literatura Brasileira: das Origens ao Arcadismo
3.2.5 Frei José de Santa Rita 
Durão
Frei José de Santa Rita durão (1722-
1784) foi um religioso agostiniano brasileiro 
do período colonial, orador e poeta. É também 
considerado um dos precursores do indianis-
mo no Brasil. Seu poema épico Caramuru trata 
do Descobrimento da Bahia e retrata vários fa-
tos históricos marcantes do País, além de ser a 
primeira obra a ter como tema o habitante na-
tivo do Brasil. O poema foi escrito em 1781 e é 
uma das obras que mais se destacam no Arca-
dismo brasileiro. Vejamos o Canto I do poema:
BOX 20
CAnTO i
I
De um varão em mil casos agitados, 
Que as praias discorrendo do ocidente 
Descobriu recôncavo afamado
Da capital brasílica potente; 
Do filho do trovão denominado, 
Que o peito domar soube à fera gente, 
O valor cantarei na adversa sorte, 
Pois só conheço herói quem nela é forte. 
II
Santo Esplendor, que do Grão Padre manas 
Ao seio intacto de uma Virgem bela, 
Se da enchente de luzes soberanas 
Tudo dispensas pela Mãe donzela 
Rompendo as sombras de ilusões humanas, 
Tudo do grão caso a pura luz revela; 
Faze que em ti comece e em ti conclua 
Esta grande obra, que por fim foi tua. 
III
E vós, príncipe excelso, do céu dado 
Para base imortal do luso trono; 
Vós, que do áureo Brasil no principado 
Da real sucessão sois alto abono: 
Enquanto o império tendes descansado 
Sobre o seio da paz com doce sono, 
Não queirais designar-vos no meu metro 
De pôr os olhos e admiti-lo ao cetro. 
IV
Nele vereis nasce es desconhecidas, 
Que em meio dos sertõesa fé não doma, 
E que puderam ser-vos convertidas
◄ Figura 21: Capa de O 
Uraguay, de Basílio da 
Gama
Fonte: Disponível em 
<http://pt.wikipedia.org/
wiki/O_Uraguai>. Acesso 
em 17 out. 2010.
50
UAB/Unimontes - 5º Período
Maior império que houve em Grécia ou Roma: 
Gentes vereis e terras escondidas, 
Onde, se um raio da verdade assoma, 
Amansando-as, tereis na turba imensa 
Outro reino maior que a Europa extensa. 
V
Devora-se a infeliz mísera gente; 
E, sempre reduzida a menos terra, 
Virá toda a extinguir-se infelizmente, 
Sendo em campo menor maior a guerra; 
Olhai, senhor, com reflexão clemente 
Para tantos mortais, que a brenha encerra, 
E que, livrando desse abismo fundo. 
Vireis a ser monarca de outro mundo
Fonte; (SANTA RITA DURÃO, 1781).
3.2.6 Manuel Inácio da Silva Alvarenga
Silva Alvarenga foi um dos melhores poetas do grupo mineiro. O perfeccionismo dos seus 
versos o distinguiu de seus pares árcades. Suas inúmeras obras foram publicadas em folhas 
avulsas, folhetos, coleções, florilégios diversos, jornais literários portugueses e brasileiros. O seu 
poema mais famoso é “Glaura”, publicado em 1799. Trata-se de um poema composto por ron-
dós (composição poética com estribilho constante) e madrigais (composição poética galante e 
musical), erm que o poeta (Alcindo Palmireno) louva a pastora Glaura, que, a princípio, parece 
se esquivar do seu canto. O sofrimento de Alcindo é recompensado pela retribuição do afeto da 
amada. No entanto, Glaura logo morre, deixando o pastor mergulhado em imensa tristeza.
Segundo a apresentação do livro pela editora Companhia das Letras, “em Glaura - Poemas 
eróticos (1799), Silva Alvarenga soube criar uma sonoridade leve e cantante, animada por um 
sentimentalismo difuso, entre dengoso e lamuriante, que iria derramar-se, em clave mais adoci-
cada, em muitas cantigas do nosso cancioneiro popular. Ao mesmo tempo, a imaginação plástica 
de Silva Alvarenga captou vivamente aspectos da natureza carioca, abrindo espaço para um sen-
timento da paisagem que os românticos depois iriam aprofundar. Por tudo isso, Glaura constitui 
um episódio fundamental do Arcadismo brasileiro”.
Vejamos o rondó do beija-flor:
BOX 21
O Beija-Flor - Rondó Vii
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.
Neste bosque alegre e rindo
Sou amante afortunado;
E desejo ser mudado
No mais lindo Beija-flor.
Todo o corpo num instante
Se atenua, exala e perde:
É já de oiro, prata e verde
A brilhante e nova cor.
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.
51
Letras Português - Literatura Brasileira: das Origens ao Arcadismo
Vejo as penas e a figura,
Provo as asas, dando giros;
Acompanham-me os suspiros,
E a ternura do Pastor.
E num vôo feliz ave
Chego intrépido até onde
Riso e pérolas esconde
O suave e puro Amor.
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.
Toco o néctar precioso,
Que a mortais não se permite;
É o insulto sem limite,
Mas ditoso o meu ardor;
Já me chamas atrevido,
Já me prendes no regaço:
Não me assusta o terno laço,
É fingido o meu temor.
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.
Se disfarças os meus erros,
E me soltas por piedade,
Não estimo a liberdade,
Busco os ferros por favor.
Não me julgues inocente,
Nem abrandes meu castigo;
Que sou bárbaro inimigo,
Insolente e roubador.
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor
Fonte: (SILVA ALVARENGA, 1799).
Segundo José Verissimo:
Pelo espírito, pelo temperamento literário, pelo estilo tanto como pela idade, é 
Silva Alvarenga o mais moderno dos poetas do grupo, o menos iscado dos vícios 
da época, o mais livre dos preconceitos da escola, cujas alusões e ridículo não 
desconhecia, como se vê na sua “Epístola a José Basílio”. Tem além disso bom 
humor, espírito e, em suma, revê melhor que os outros a emancipação produzi-
da em certos espíritos pela política antijesuítica de Pombal. Com ser mestre de 
retórica, evita mais que os outros os recursos do arsenal clássico e mitológico. E 
quando cede à corrente, o faz com muito mais personalidade senão originali-
dade, mesmo com desembaraço e liberdade rara no tempo. É disso prova a sua 
formosa heróide “Teseu e Ariana”, uma das melhores amostras da nossa poesia, 
naquela época (VERISSIMO, 1915, s/p).
52
UAB/Unimontes - 5º Período
3.2.7 Inácio José de Alvarenga Peixoto
Alvarenga Peixoto nasceu no Rio de Janeiro, em 
1743. Morreu em Angola (África), para onde foi exilado, 
em 1792. Com 14 anos, improvisava versos e competia 
com o colega Basílio da Gama. Após estudos secundá-
rios no Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro, matricu-
lou-se no curso de Direito da Universidade de Coimbra, 
formando-se e ingressando na magistradura (foi juiz da 
vila de Cintra (Portugal) durante três anos). Em 1776, 
está de volta à pátria. Foi nomeado ouvidor da comar-
ca do Rio das Mortes (Minas), com sede em São João 
del Rei, onde conheceu a poeta Bárbara Heliodora, bo-
nita e prendada, filha de uma família paulista. Casou-se 
com Bárbara Heliodora em 1781. Abandonou a magis-
tradura e dedicou-se à mineração. Ganhou dinheiro, 
comprou fazendas e escravos, levando uma vida feliz 
com a mulher e quatro filhos, entre os quais Maria Efi-
gênia, “a princesa do Brasil”, segundo o pai. Implicado na Inconfidência Mineira, foi preso e con-
duzido para a Ilha das Cobras (Rio de Janeiro), e de lá, em exílio perpétuo, para Angola (África), 
onde faleceu (1792).
A pequena produção poética conhecida de Alvarenga Peixoto é irregular e apresenta fortes 
traços de nativismo sentimental, mas que, muitas vezes, se mistura com o respeito ao governo, 
como na Ode dedicada ao Marquês de Pombal. Em outros, podemos testemunhar o suplício cau-
sado pela condenação ao exílio:
BOX 22
A SAUdAde
(Ouvindo ler na cadeia pública do Rio de Janeiro a sua sentença de morte)
Não me afflige do potro a viva quina;
Da ferrea maça o golpe não me offende;
Sobre as chammas a mão se não estende;
Não soffro do agulhete a ponta fina.
Grilhão pesado os passos não domina;
Curel arroxo a teste me não fende;
À força a perna ou braço se não rende;
Longa cadêa o collo não me inclina.
Água e pomo faminto não procuro;
Grossa pedra não cansa a humanidade;
O pássaro voraz eu não aturo.
Estes males não sinto; é bem verdade;
Porém sinto outro mal inda mais duro:
— Sinto da esposa e filhos a saudade!
Fonte: (PEIXOTO, 1922, s/p).
Muitos de seus poemas já prenunciam o Romantismo, como podemos perceber naquele 
dedicado a sua amada, Bárbara Heliodora:
Figura 22: Capa da 
edição da Companhia 
das Letras para Glaura
Fonte: Disponível em 
<http://www.companhia-
dasletras.com.br/detalhe.
php?codigo=10642>. 
Acesso em 12 out. 2010.
►
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Letras Português - Literatura Brasileira: das Origens ao Arcadismo
BOX 23
A BáRBARA HeLiOdORA
Bárbara bela,
Do norte estrela,
Que o meu destino
Sabes guiar,
De ti ausente,
Triste, somente
As horas passo
A suspirar.
Por entre as penhas
De incultas brenhas,
Cansa-me a vista
De te buscar;
Porém não vejo
Mais que o desejo
Sem esperança
De te encontrar.
Eu bem queria
A noite e o dia
Sempre contigo
Poder passar;
Mas orgulhosa
Sorte invejosa
Desta fortuna
Me quer privar.
Tu, entre os braços,
Ternos abraços
Da filha amada
Podes gozar;
Priva-me a estrela
De ti e dela,
Busca dois modos
De me matar!
Fonte: (PEIXOTO, 1922, s/p).
Referências 
ALVARENGA PEIXOTO, Inácio José de. A Saudade; A Bárbara Heliodora. In: LIMA, Mário de 
(org.). Collectanea de Auctores Mineiros, vol. I. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1922.
BASÍLIO DA GAMA. O Uraguai. Disponível em <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/De-
talheObraForm.do?select_action=&co_obra=2106>. Acesso em 25 jan. 2011.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura no Brasil.Belo Horizonte: Itatiaia, 1981.
CANDIDO, Antonio. Uma aldeia Falsa. In: _____________. na sala de aula. Rio de Janeiro: Ática, 
1993.
CASTELLO, José Aderaldo. Manifestações literárias da era colonial. São Paulo: Cultrix, 1969.
54
UAB/Unimontes - 5º Período
COSTA, Cláudio Manuel da. Poemas. São Paulo: Cultrix, 1966.
COSTA, Cláudio Manuel da. Vila Rica. Disponível em <http://www.dominiopublico.gov.br/pes-
quisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=16557>. Acesso em 20 jan. 2011.
GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de dirceu. Disponível em <http://www.dominiopublico.gov.
br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2048>. Acesso em 21 jan. 2011.
KOTHE, Flávio R. O cânone colonial. Brasília: UNB, 1997.
RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. (Org.). Cláudio Manuel da Costa. Poemas. São Paulo: Cultrix, 
1976.
SANTA RITA DURÃO. Caramuru. Disponível em <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=16642>. Acesso em 24 jan. 2011.
SILVA ALVARENGA, Manuel Inácio da. Glaura: poemas eróticos. Rio de Janeiro: Imprensa Nacio-
nal, 1943. (Col. Biblioteca Popular Brasileira, 16).
VERISSIMO, José. História da Literatura Brasileira. Disponível em <http://www.biblio.com.br/
defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/JoseVerissimo/histlitbras.htm>. Acesso em 
25 jan. 2011.

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