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www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 1 QUESTÕES PARA BRINCAR – XVII EXAME DE ORDEM (GEOVANE MORAES) 01. Rômulo, gerente de uma agência do Banco do Brasil no Estado da Paraíba, ao chegar em casa no final da noite na última sexta-feira se deparou com seis homens de preto, encapuzados e fortemente armados e toda sua família - esposa e quatro filhos - feitos de reféns, aguardando a sua chegada. Um dos homens de preto se aproximou de Rômulo e falou: "O bem-estar da sua família está em suas mãos. Você tem duas opções, ou você vai até a agência bancária que trabalha e subtrai 5 milhões de reais para nos entregar ou toda sua família será torturada e morta". Rômulo escolhe a primeira opção. Imediatamente, pega seu automóvel e dirige até a agência bancária. Três homens de preto vão com ele, ficando no carro aguardando seu retorno. Após 40 minutos, Rômulo volta até o carro e entrega todo o dinheiro aos capangas. Os homens de preto se evadem do local com o veículo. Minutos depois, Rômulo consegue chegar a casa e percebe que sua família não está mais em perigo acionando a polícia. Diante das informações apresentadas responda: a) Qual(is) a(s) possível(eis) tipificação(ões) da conduta praticada por Rômulo? (Valor: 0,6) b) Qual(is) crime(s) praticado(s) pelos Homens de Preto? (Valor: 0,65) Justifique todas as suas respostas. PADRÃO DE RESPOSTA a) Não é possível a caracterização de crime em desfavor de Rômulo, visto que o mesmo agiu em coação moral irresistível, nos temos do art. 22 do Código Penal. Embora a conduta de Rômulo possa ser adequada no crime de furto qualificado pelo abuso de confiança, nos moldes do art. 155, §4º, II do mesmo diploma legal, não é possível atribuir a prática delituosa, visto que a coação moral irresistível elimina a imputabilidade penal, por excluir a culpabilidade e, consequentemente, não existir crime. Destaca-se que, de acordo com o entendimento doutrinário e jurisprudencial majoritário, crime é fato típico, ilícito e culpável, sendo a culpabilidade um substrato da caracterização analítica do crime. Portanto, a ausência da culpabilidade não personifica a conduta delituosa de Rômulo. b) Os Homens de Preto incorreram nos crimes de associação criminosa majorada pelo emprego de arma, nos termos do art. 288, parágrafo único do Código Penal; extorsão majorada pelo concurso de duas pessoas e pelo emprego de arma, com fundamento no art. 158, §1º do Código Penal, em relação a Rômulo; e, extorsão mediante sequestro qualificado por ter sido cometido por associação criminosa, nos termos do art. 159, §1º, do Código Penal, em relação aos familiares de Rômulo. O crime de associação criminosa consiste na junção de, pelo menos três pessoas, com o fim específico de cometer crimes, devendo a pena ser aumentada até a metade se for armada. O delito de extorsão consiste no constrangimento de Rômulo mediante grave ameaça, com o intuito de obter para si vantagem econômica indevida www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 2 e, como o crime foi cometido por mais de duas pessoas, incide o aumento de pena de um terço até a metade. Por fim, o crime de extorsão mediante sequestro, restou caracterizado em relação aos familiares de Rômulo, tendo em vista que foram privados de sua liberdade com o fim de obter vantagem indevida, como condição de resgate. Ressalte-se que os crimes praticados pelos Homens de Preto configuram concurso material de crimes, devendo as penas serem somadas, conforme estabelece o art. 69 do Código Penal. 02. Durante uma investigação policial iniciada, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa voltada à pratica do tráfico de armas de fogo, a Autoridade Policial, de acordo com informações obtidas por meio de interceptações telefônicas autorizadas pelo juiz, identificou que naquela semana chegaria um grande carregamento de armas, tomando ciência do dia, hora e local da empreitada. Além disso, tomaram conhecimento de que a organização passou a ter o apoio de Lima e Moura, policial militar e policial civil, respectivamente. Foi descoberto ainda, que o modus operandi da organização se aprimorou em razão da entrada desses policiais, pois Lima passou a ter a atribuição de negociar o preço das armas e Moura de receber o dinheiro do pagamento dos referidos armamentos. No local, dia e hora marcados para o recebimento das armas, foi constatado que Robinho, quatorze anos de idade, tem a tarefa de receber e distribuir grande quantidade de cigarros estrangeiros contrabandeados, fomentando o comércio ilegal, a fim de diversificar os ramos de atividade do grupo criminoso. A autoridade competente decidiu retardar a intervenção policial, não tendo abordado uma caminhonete, onde os integrantes do grupo transportavam as armas e os cigarros. Em seguida, os policiais seguiram a caminhonete o que resultou na prisão em flagrante dos criminosos, incluindo Lima e Moura, assim como a condução do fornecedor das armas. Após a prisão, Lima, participante da organização criminosa, negociou e decidiu colaborar com a Autoridade Policial, confessando nos autos do inquérito policial, sua participação no delito imputado, inclusive apontando outros coautores e partícipes, o que contribuiu para o esclarecimento de outros crimes. Com base nas informações descritas acima, pergunta-se: a) Qual(is) crime(s) praticados por Lima e Moura? (Valor: 0,6) b) Lima faz jus a algum benefício por ter negociado e colaborado com a Autoridade Policial? (Valor: 0,65) Justifique todas as suas respostas. PADRÃO DE RESPOSTA a) Lima e Moura incorreram no crime de integrar organização criminosa majorada pela participação de adolescente, bem como por existir concurso de funcionário público e por evidenciarem a transnacionalidade da organização, nos termos do artigo 2º, §4º, incisos I, II e V da Lei 12.850/13, respectivamente. Destaca-se ainda que Lima e Moura incorrem também no crime de corrupção de menores, nos moldes do artigo 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente – www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 3 Lei 8.069/90, tendo em vista que estão praticando infração penal com menor de 18 anos. Sabe-se que a corrupção de menores é crime formal, consumando com a simples participação em crime de pessoa menor de 18 anos. Além disso, conforme confessado, os agentes incorreram em comércio ilegal de arma de fogo, conforme estabelece o artigo 17 da Lei 10.826/03 – Estatuto do Desarmamento, assim como no crime de contrabando, previsto no artigo 334-A do Código Penal, em relação aos cigarros advindos do exterior. b) Sim, Lima faz jus ao instituto da colaboração premiada, nos termos do artigo 4º da Lei 12.850/13 – Lei de Organização Criminosa. A colaboração premiada consiste em um benefício que poderá ser concedido pelo juiz àquele que colaborar, de forma efetiva e voluntária, com as investigações e com o processo criminal. No caso em tela, Lima apontou outros coautores e partícipes da organização criminosa, o que corresponde ao resultado previsto no art. 4º, inciso I da mencionada lei. Assim sendo, poderá fazer jus a um dos benefícios previstos no caput deste artigo – perdão judicial, redução em até 2/3 da pena privativa de liberdade ou a sua substituição por pena restritiva de direitos. 03. Bruno objetivando conseguir dinheiro para custear uma grande festa de aniversário em uma casa de praia que pretendia alugar, decide subtrair objetos de uma mansão no Morumbi/SP. Assim, passou a observar e estudar a rotina do bairro e das pessoas que trabalham e residem no imóvel, bem como o sistema de segurança da casa. No terceiro dia de observação, Bruno toma conhecimentoatravés de que toda a família iria viajar para o litoral de São Paulo no próximo final de semana, sendo concedido folga para todos os empregados. Nesse instante, Bruno retorna para sua casa e planeja toda a empreitada criminosa: iria realizar o assalto sábado, durante o período noturno, pois seria mais difícil alguém perceber o delito. No dia e horário programado, vai até a residência, pula o muro, arromba a porta de trás da casa e subtrai alguns pertences de alto valor, como relógios, joias, prataria, dentre outros. Diante da situação apresentada responda qual(is) crime(s) foi praticado(s) por Bruno, justificando a sua resposta. (Valor: 1,25) PADRÃO DE RESPOSTA Bruno incorreu no crime de furto majorado por ter sido cometido durante o repouso noturno e qualificado pelo emprego de escalada e pela destruição ou rompimento de obstáculos na subtração da coisa, nos termos do artigo 155, §1º em combinação com o §4º, incisos I e II do Código Penal brasileiro, respectivamente. Perceba que a questão informou que Bruno realizou o assalto, durante o período noturno, o que consiste na aplicação da causa de aumento de pena de um terço, conforme estabelece o artigo 155, §1º do Código Penal. Trouxe também a informação de que Bruno pulou o muro da residência, arrombou a porta de trás da casa, qualificando o furto pelo fato de destruir ou romper www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 4 obstáculo para a subtração dos pertences de alto valor. Ressalte-se que a jurisprudência já é dominante no sentido de que é possível a aplicação da majorante do repouso noturno ainda que o crime seja na sua forma qualificada. 04. José, maior e capaz, foi contratado para a função de zelador na Escola W. No primeiro dia de trabalho, conheceu a jovem Marília, de 13 anos de idade, estudante do oitavo ano, por quem se apaixonou. Na festa de São João da escola, ao perceber que Marília se afastava do local onde ocorria o evento para atender o telefone, pegou a vítima a força e levou até uma sala afastada, amarrando-a e praticando com ela conjunção carnal e outros atos libidinosos. Ao término de sua conduta, José evadiu-se do local. Horas depois, Marília foi encontrada por dois professores, sendo levada até o hospital, ocasião em que os pais da menor chegaram e tomaram ciência do ocorrido. Três meses depois, em decorrência da prática delitiva, foi constatado o estado gestacional de Marília, requerendo os seus pais a realização procedimento abortivo ao médico George, tendo Marília informado que queria manter a gravidez. Com base nas informações descritas acima, pergunta-se: a) Qual(is) crime(s) praticado(s) por José? (Valor: 0,6) b) Tomando por base o posicionamento jurídico-penal, qual deve ser o procedimento de George? (Valor: 0,65) Justifique suas respostas. PADRÃO DE RESPOSTA a) José praticou o crime de estupro de vulnerável, tipificado ao teor do artigo 217-A do Código Penal Brasileiro com a pena aumentada face ao estado gestacional da agente conforme previsão no artigo 234-A, III do mesmo diploma legal. Sabe-se que, o crime de estupro de vulnerável consiste em ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos de idade. Assim sendo, resta claro que José ao praticar conjunção carnal e outros atos libidinosos com Marília, 13 anos de idade, incorreu no crime de estupro de vulnerável, conforme estabelece o artigo 217-A do Código Penal. Face ao estado gestacional da agente, é possível a majoração da pena em virtude do constante no art. 234-A, III do Código Penal, devendo a pena de José ser aumentada da metade. b) O médico George não deve realizar o procedimento abortivo, tendo em vista que deve preservar os interesses da gestante. O Código Penal, em seu artigo 128, inciso II, estabelece a possibilidade de aborto em gravidez resultante de estupro, desde que haja consentimento da gestante. Em que pese este dispositivo legal trazer a possibilidade do aborto no crime de estupro, entende a doutrina majoritária que é possível aplicar ao crime de estupro de vulnerável, por ser algo benéfico a vítima. Todavia, no caso em questão, George não poderá adotar o procedimento abortivo, mesmo a requerimento dos pais de Marília, tendo em vista que o interesse da www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 5 menor deve ser preservado, não sendo realizado, assim, a interrupção do seu estado gestacional. 05. Cardoso, Lopes, Oliveira e Moraes são policiais militares no Estado Delta e são muito conhecidos nas comunidades da zona sul, pois constrangem os comerciantes a pagarem 40% (quarenta por cento) de todo faturamento como forma de autorizar o funcionamento desses estabelecimentos comerciais, bem como para que haja segurança privada. No dia 17 de agosto de 2015, Sr. Waldo, comerciante em uma dessas comunidades, foi assassinado, o que resultou numa investigação na Delegacia de Homicídios. Findas as diligências, a Autoridade Policial concluiu em seu relatório que a morte de Waldo foi em decorrência do não pagamento da suposta prestação de serviços de segurança privada realizada por Cardoso, Lopes, Oliveira e Moraes. Diante das informações descritas acima, pergunta-se: a) É possível tipificar a conduta praticada pelos policiais militares? (Valor: 0,85) b) Qual o órgão do judiciário competente para processar e julgar uma possível ação em desfavor dos agentes? (Valor: 0,4) Justifique suas respostas. PADRÃO DE RESPOSTA a) Os Policiais Miliares incorreram nos crimes de milícia privada, extorsão majorada por ter sido praticada em concurso de duas ou mais pessoais, homicídio majorado por ter sido praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviços de segurança, todos em concurso material de crimes, nos moldes dos artigos 288-A, 158, §1º, 121, §6º e 69, respectivamente, todos do Código Penal Brasileiro. Para conceituar milícia, a doutrina se vale do Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a ação de milícias no âmbito do Estado do Rio de Janeiro. Assim, milícia é um grupo armado irregular, formado por agentes do Estado, que controla de forma coercitiva determinado território e a população que nele habita, tendo como animus a obtenção de lucro individual, utilizando-se o discurso de legitimação referida proteção aos moradores e à instauração da ordem. Os policiais militares incorreram no crime de constituição de milícia privada, tipificado ao teor do art. 288-A do Código Penal, por integrar milícia particular com a finalidade de praticar crimes previstos no Código Penal. Restou configurado o crime de extorsão, tendo em vista que constrangeram os comerciantes, mediante violência ou grave ameaça, a pagarem 40% de todo faturamento como forma de autorizar o funcionamento dos estabelecimentos comerciais. Além disso, será majorado pelo fato do crime ter sido cometido por duas ou mais pessoas, conforme estabelece o art. 158, §1º. Por fim, incorreram no crime de homicídio majorado, pois foi praticado por milícia privada, sob o pretexto de serviços de segurança, tipificado ao teor do art. 121, §6º do Código Penal. Ressalte-se que todos os crimes terão suas penas somadas, tendo em vista tratar-se de concurso material de crimes, nos moldes do art. 69 do Código Penal. www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 6 b) O Órgão competente para processar e julgar todos os crimes praticados pelos Policiais Militares será o Tribunal do Júri, pela regra da conexão, nos moldes do artigo 78, inciso I do Código de Processo Penal. É imperioso destacar ainda que, em observância ao princípioda unicidade do processo, todos os crimes serão de competência do Tribunal do Júri. Isso porque, o crime doloso contra a vida, atrai os demais crimes. 06. Vinícius, dono de dois salões de beleza em Recife, vende em seus estabelecimentos cosméticos e produtos de beleza de marcas estrangeiras, cuja importação é permitida, com preços bastantes acessíveis à população. O preço dessas mercadorias é cerca de 30% (trinta por cento) mais barato do que as demais lojas que comercializam o mesmo produto. Daniela, Delegada da Polícia Civil da região onde os estabelecimentos ficam situados, enquanto aguardava na sala de espera do salão para ser atendida, presenciou Vinícius recebendo uma carga de vários produtos sem nota fiscal. Dirigiu-se até ele e deu voz de prisão em flagrante ao agente, capturando-o e conduzindo-o à Delegado de Polícia. Com a chegada de seu advogado, Vinícius foi ouvido, informando que adquire esses produtos com baixo custo, tendo em vista a entrada clandestina dessas mercadorias no Brasil. Com base nas informações fornecidas acima, pergunta-se: a) A prisão de Vinícius foi legal? (Valor: 0,5) b) Vinícius praticou alguma infração penal? Caso positivo, qual(is)? (Valor: 0,75) PADRÃO DE RESPOSTA a) A prisão de Vinícius foi legal, tendo em vista que ele se achava em situação de flagrância no crime de descaminho, sendo correto o procedimento adotado por Daniela, autoridade policial. Vinícius foi autuado em flagrante quando estava cometendo a infração penal, incorrendo no flagrante próprio, nos moldes do artigo 302, inciso I do Código de Processo Penal. b) Sim, Vinícius praticou o crime de Descaminho, tipificado ao teor do artigo 334, §1º, inciso III do Código Penal, pois vendeu em seu estabelecimento, cosméticos e produtos de beleza de marcas estrangeiras, cuja importação é permitida, mas sem pagar os impostos devidos. OBSERVAÇÃO: Apenas a título de conhecimento, ao crime de descaminho não se aplica a Súmula Vinculante 24 do Supremo Tribunal Federal, por se tratar de crime formal. Neste sentido, segue recente julgado do Superior Tribunal de Justiça: PENAL E PROCESSUAL. DESCAMINHO. ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. DESNECESSIDADE. CRIME FORMAL. EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. 1. O Superior Tribunal de Justiça firmou www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 7 entendimento de que, para a configuração do crime previsto no art. 334 do Código Penal, não se exige a constituição definitiva do crédito tributário para a instauração da ação penal, por se tratar de delito de natureza formal. [...] (STJ, AgRg no AREsp 637.818/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, 5ª Turma, Dje 04/08/2015). 07. Pablo, Prefeito do Município de Sofrência, desviou, em proveito próprio, cerca de 30% (trinta por cento) do valor destinado para construção de uma instituição de ensino que seria vista como referência para a educação. Ainda durante seu mandato, inverteu a ordem de pagamento de duas empresas de construção civil, credoras do município, onde um dos beneficiados é seu amigo de infância, não trazendo nenhum benefício ao erário. Apenas com base nas informações descritas acima, pergunta-se: a) É possível a responsabilização penal de Pablo na conduta de desviar o valor destinado à construção da escola? (Valor: 0,75) b) Pablo incorreu em alguma infração penal ao inverter a ordem de pagamento das construtoras civis? (Valor: 0,5) Justifique suas respostas. PADRÃO DE RESPOSTA a) Pablo, na conduta de desviar o valor destinado à construção da escola, incorreu no crime tipificado ao teor do art. 1º, I do Decreto-lei 201/67, que consiste no desvio de rendas públicas em proveito próprio ou alheio. Pelo fato do sujeito ativo do delito ser prefeito municipal, em atendimento ao princípio da especialidade, aplica-se o Decreto-Lei nº 201/67, que dispõe sobre os crimes de responsabilidade dos prefeitos e vereadores. Como a questão informa que o prefeito Pablo desviou, em proveito próprio, 30% do valor destinado para construção de uma instituição de ensino, incorre no crime tipificado no artigo 1º, inciso I do referido decreto. b) Pablo, na conduta de inverter a ordem de pagamento das construtoras civis, praticou o crime tipificado no art. 1º, XII do Decreto-lei 201/67, que consiste em antecipar ou inverter a ordem de pagamento a credores do Município, sem vantagem para o erário. No caso em questão, Pablo inverteu a ordem de pagamento de duas empresas de construção civil, credoras do município, onde um dos beneficiados é seu amigo de infância, não trazendo nenhum benefício ao erário, o que configura o crime descrito acima. 08. Munhoz, maior e capaz, ao dirigir o veículo automotor de seu pai, Mariano que lhe confiou a direção, foi parado em uma blitz de rotina realizada pela Polícia Rodoviária Federal, enquanto trafegava na BR 232. Foi constatado pelos policiais que Munhoz não tinha permissão para dirigir e que, no momento, estava dirigindo o veículo de forma irregular, gerando perigo de causar prejuízo. Diante das informações apresentadas, pergunta-se: www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 8 a) Poderá ser imputada alguma responsabilização a Munhoz? (Valor: 0,65) b) Mariano incorreu em algum crime? (Valor: 0,6) Justifique todas as suas respostas. PADRÃO DE RESPOSTA a) Munhoz incorreu no crime previsto no artigo 309 do Código de Trânsito Brasileiro – Lei nº 9.503/97 – que prever a conduta de dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida permissão para dirigir, gerando perigo de dano. Destaca-se que, conforme entendimento jurisprudencial, para a caracterização deste crime, é necessário que o sujeito ativo gere perigo de dano, nos moldes da Súmula 720 do Supremo Tribunal Federal. b) Mariano incorreu no crime tipificado ao teor do artigo 310 da Lei nº 9.503/97 - Código de Trânsito Brasileiro - por ter permitido, confiado e entregue a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada. Importante destacar ainda que o crime em questão é de perigo abstrato, ou seja, dispensa demonstração da efetiva potencialidade lesiva da conduta daquele que permite, confia ou entrega a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada. 09. Mauro resolveu comemorar seu aniversário de 30 anos na famosa Boate Agitação, localizada na capital do Estado Gama, convidando alguns amigos. Antes de ir, adquiriu uma pequena quantidade de dietilamida do ácido lisérgico, popularmente conhecida como LSD. Enquanto aproveitava os eventos do local, reparou que Patrícia, sua amiga, não estava consumindo nenhuma bebida alcóolica e, ao indagá-la o porquê, obteve como resposta que ela estava com seu carro e não iria consumir substância alcóolica, pois estava dirigindo. Mauro, inconformado porque sua amiga não iria beber em seu aniversário, colocou um comprimido de LSD em seu refrigerante, sem que a mesma percebesse. Patrícia ingeriu sem se dar conta da mistura. Minutos depois, Patrícia, entorpecida, resolveu ir para casa sem se despedir do grupo, saindo do local. Enquanto dirigia, teve um surto de pânico e um desencadeamento de psicose, vindo a atropelar e lesionar três pessoas. Diante da situação exposta, Patrícia poderá ser penalmente responsabilizada pelo ocorrido? (Valor: 1,25). PADRÃO DE RESPOSTA Patrícia não poderá ser penalmente responsabilizada, tendo em vista que estava submetida a uma embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior, nos termos do artigo 28, §1º do Código Penal brasileiro. Apesar de Patrícia, ter ocasionado, na direção de veículo automotor, lesão corporal de três pessoas, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esseentendimento, por estar submetida a embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior. Razão pela qual, a embriaguez lhe atingiu a revelia de sua vontade, sendo isenta de pena, conforme determina o artigo 28, §1º do Código Penal. www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 9 10. Evandro, maior e capaz, foi encontrado com 3 (três) cartuchos .38 após ser abordado por três policiais militares que faziam a ronda de rotina no bairro em que caminhava. Apesar de não ser encontrado com nenhuma arma de fogo, estando apenas com as munições, os referidos policiais o autuaram em flagrante, conduzindo-o à Delegacia de Polícia do bairro, ocasião em que a Autoridade Policial, realizou o auto de prisão em flagrante delito. Apenas com base nas informações apresentadas acima, pergunta-se: a) A autoridade policial agiu corretamente ao lavrar o auto de prisão em flagrante delito? (Valor: 0,8) b) Seria possível a própria Autoridade Policial arbitrar fiança? (Valor: 0,45) Justifique as suas respostas. PADRÃO DE RESPOSTA a) A autoridade policial agiu corretamente ao lavrar o auto de prisão em flagrante, tendo em vista que Evandro estava em situação de flagrante próprio (art. 302, I do CPP), pois trazia a munição consigo munições de arma de fogo. Salienta-se que Evandro incorreu no crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, por portar munição de arma de fogo de uso permitido, conforme estabelece o artigo 14 da Lei nº 10.826/03 – Estatuto do Desarmamento, e disciplinado pelo Regulamento 105 do Exército Brasileiro em seu artigo 17, incisos I e II. OBSERVAÇÃO: Para caracterizar o crime de porte de munição de arma de fogo caracteriza o delito de porte ou posse de arma de fogo, ainda que desacompanhada da arma. Nesse sentido: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. VÍCIOS. INEXISTÊNCIA. PRETENSÃO DE REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. IMPOSSIBILIDADE. APREENSÃO DE MUNIÇÃO. CRIME DE PORTE/POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. TIPICIDADE CONFIGURADA. CRIME FORMAL. [...] 3. O porte de munição, ainda que desacompanhada da arma, caracteriza o delito de porte/posse de arma de fogo, ou seja, é típico. [...] (STJ, EDcl no AgRg no AREsp 610.230/DF, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo, Desembargador convocado do TJ/PE, 5ª Turma, DJe 24/06/2015) b) Sim, o crime é praticado por Evandro é afiançável, podendo a autoridade policial conceder a fiança, nos termos do artigo 322 do Código de Processo Penal. Estabelece o Código de Processo Penal que a Autoridade Policial poderá conceder a fiança para os crimes cuja pena máxima abstratamente ao delito não seja superior a 4 anos. O crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido tipifica o porte de arma, munição ou acessória de uso permitido, sem autorização ou em desacordo com www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 10 determinação legal ou regulamentar e tem como sanção penal a pena de reclusão de 2 a 4 anos e, multa, sendo possível o arbitramento da fiança pela Autoridade Policial. 11. Júlio Cesar possui uma vultosa fazenda em Cuiabá e todas as noites costuma sair para apreciar a paisagem e principalmente Hortência, sua árvore favorita, pois desde criança, junto com sua mãe, cuidava da referida plantação como se fosse filha. Após o falecimento de sua mãe, batizou a árvore com seu nome. Certo dia, ao passear a cavalo, verificando a existência de um ninho de arara azul na sua árvore, criado de forma natural, decidiu por bem destruí-lo no intuito de não deixar nada na sua plantação. Diante da informação descrita acima, pergunta-se: a) É possível tipificar a conduta praticada por Júlio César? (Valor: 0,65) b) Sendo a conduta do agente tipificada no ordenamento jurídico, qual o tipo de ação penal ao delito? (Valor: 0,6) PADRÃO DE RESPOSTA a) Júlio Cesar praticou crime ambiental, mais especificamente contra a fauna, por ter destruído o ninho de arara azul, majorada por ter ocorrido durante a noite, conforme estabelece o artigo 29, §1º, inciso II em combinação com o §4º, inciso III, ambos da Lei 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais. O crime previsto no artigo 29, §1º, inciso II da Lei 9.605/98 consiste na conduta de modificar, danificar ou destruir ninho, abrigo ou criadouro natural. Assim sendo, Júlio Cesar, praticou crime ambiental. O crime terá a aplicação da causa de aumento de pena da metade, por ter sido a infração penal praticada durante o período noturno, nos moldes do artigo 29, §4º, inciso III da Lei de crimes ambientais. b) A conduta praticada por Júlio Cesar, tipificada como crime ambiental, é ensejador de Ação Penal Pública Incondicionada, conforme estabelece o artigo 26 da Lei 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais. 12. José Augusto, primário e de bons antecedentes, cumpre com bom comportamento, pena privativa de liberdade de 21 (vinte e um) anos de reclusão em regime fechado, pela prática do crime de roubo qualificado pelo resultado morte, tipificado ao teor do artigo 157, §3º, in fine, do Código Penal. Em 01 de julho de 2015, completou 14 (quatorze) anos e 1 (um) dia do total da pena. Além disso, constatou-se condições pessoais favoráveis ao agente no intuito de demonstração de que ele não voltará a delinquir. Com base nas informações descritas acima, pergunta-se: a) Como advogado de José Augusto, qual(is) benefício(s) pode(m) ser concedido(s)? (Valor: 0,6) b) Qual a competência para a apreciação de tal pedido? (Valor: 0,4) c) O Juiz está obrigado a conceder tal(is) benefício(s)? (Valor: 0,25) Justifique todas as suas respostas. www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 11 PADRÃO DE RESPOSTA a) Como advogado de José Augusto pode ser pleiteado o benefício do livramento condicional, nos termos do artigo 131 da Lei 7.210/84 – Lei das Execuções Penais. O instituto do livramento condicional consiste na antecipação da liberdade do condenado que preencha os requisitos estabelecidos no artigo 83 do Código Penal. De acordo com as informações fornecidas pela questão, José Augusto é primário e de bons antecedentes, foi condenado pelo crime de roubo qualificado pelo resultado morte, a uma pena privativa de liberdade de 21 anos de reclusão em regime fechado. Além disso, o exame criminológico constatou que as condições pessoais são favoráveis a José Augusto no intuito de demonstração de que não vai voltar a delinquir. Ademais, José Augusto cumpriu mais de 2/3 da pena imposta, tendo em vista que já cumpriu mais de 14 anos da pena privativa de liberdade. Portanto, todos os requisitos previstos no artigo 83 do Código Penal foram preenchidos. b) É de competência do juiz das Execuções Penais decidir acerca do livramento condicional do processo, conforme estabelece o artigo 66, inciso III, alínea “e” da Lei 7.210/84 – Lei de Execuções Penais. c) O entendimento doutrinário e jurisprudencial é no sentido de que o livramento condicional obrigatoriamente deve ser concedido pelo juiz das Execuções Penais. Caso o juiz negue tal concessão, cabe agravo em execução, com fundamento no artigo 197 da 7.210/84 – Lei das Execuções Penais. 13. Jorge, funcionário público, responsável na análise das propostas encaminhadas pelos licitantes, informa a Rafael que faltam diversos documentos que o impede de efetuar o cadastro naquele dia e que o prazo para a entrega dos referidos documentos venceria na sexta-feira. Assim, no último dia, Rafael retorna com os documentos faltantes, mas é informado por outro funcionário público que o prazo encerrou na terça-feira, estando atrasado 03 (três) dias. Rafael, indignado, vai tomar satisfaçãocom Jorge, tendo este pedido desculpas e informado ser um equívoco de sua parte, pois acreditava sinceramente que o último dia do prazo era a sexta-feira. Nesse instante, Rafael, irritado com a repartição e com o funcionário público que indicou o prazo de maneira equivocada, começou a xingar Jorge, informando ser este um incompetente, que não sabia sequer, passar uma informação com veracidade e, por isso, estava numa repartição atendendo, de forma precária, a população. Tomando por base as informações constantes acima, qual o crime praticado por Rafael? Justifique sua resposta. (Valor: 1,25) PADRÃO DE RESPOSTA www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 12 Rafael incorreu no crime de injúria majorada por ter ocorrido contra funcionário público, em razão das funções, nos termos do artigo 140 do Código Penal, em combinação com o artigo 141, inciso II do referido diploma legal. O crime de injúria consiste na ação do agente em ofender a honra subjetiva da vítima, injuriando, ofendendo sua dignidade ou decoro. No presente caso, Rafael xingou Jorge de incompetente, o que caracteriza o crime em questão. Analisando o caso concreto, é possível se verificar que Rafael queria ofender a pessoa de Jorge, e para ocorrência de tal ofensa, aproveitou-se do fato de Jorge ser funcionário público, caracterizando-se, nesse caso, como crime contra a honra. Observação: Não caberia a tipificação no crime de Desacato tipificado ao ter do artigo 331 do CP, pois neste crime a intenção é atingir a função pública que está sendo desempenhada independente de quem esteja desempenhando aquela função, ou seja, de quem esteja personificando a função. 14. Maurício, ao fornecer informações à Receita Federal quando da feitura da declaração do imposto de renda da pessoa física, deixou de recolher em uma das operações realizadas, o valor do tributo referente à obrigação, causando prejuízo ao Erário Público. Ressalte-se que Maurício realizou a declaração no último dia para a feitura desta, na qualidade de sujeito passivo com a clara intenção de não pagar a totalidade dos tributos. Diante das informações mencionadas, Maurício responderá penalmente por alguma infração penal? Justifique sua resposta. (Valor: 1,25) PADRÃO DE RESPOSTA Maurício praticou o crime contra a ordem tributária, previsto no artigo 2º, inciso II da Lei 8.137/90 – Lei de crimes contra a ordem tributária por ter deixado de recolher, no prazo legal, valor de tributo. Conforme apresentado na questão, Maurício deixou de recolher determinado valor do tributo quando forneceu à Receita Federal declaração de imposto de renda da pessoa física. Destaca-se que, Maurício deixou de realizar o pagamento correto do tributo com a intenção de não pagar a sua totalidade, o que demonstra o dolo em sua conduta, razão pela qual deverá responder pelo crime contra a ordem tributária tipificado ao teor do artigo 2º, inciso II da Lei 8.137/90. 15. João Victor, de 18 anos de idade, foi denunciado pelo representante do Ministério Público pelo crime de dano qualificado por motivo egoístico, previsto no artigo 163, parágrafo único, IV, do Código Penal. Informa a inicial acusatória que o agente danificou no dia 17 de agosto de 2006 uma televisão que estava na vitrine da enorme e famosa Lojas B, pelo valor de R$ 299,00 (duzentos e noventa e nove reais), na promoção. O juiz da 3ª Vara Criminal da Comarca A, recebeu a denúncia verificando estarem presentes todos os requisitos constantes no artigo 41 do Código de Processo Penal. Oito anos depois, o juiz mandou citar o réu. O réu, ao receber a citação, contratou você para redigir a Resposta à Acusação e realizar os demais atos processuais. Com base nas informações www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 13 mencionadas acima, o que pode ser arguido em sede de defesa do agente? Justifique suas resposta. (Valor: 1,25) PADRÃO DE RESPOSTA Pode ser arguido em sede de defesa do agente a aplicação do princípio da insignificância e a consequente exclusão do crime por atipicidade material da conduta, o que acarreta na ausência de interesse e necessidade para o exercício da ação, bem como inexistência de justa causa, por faltar prova da materialidade do delito, requerendo de plano a rejeição liminar da peça acusatória, nos termos do artigo 395, incisos II e III do Código de Processo Penal, respectivamente. Caberá ainda, a alegação do instituto da prescrição, causa de extinção da punibilidade, com previsão legal no artigo 107, inciso IV em combinação com o artigo 109, inciso IV, e art. 115, todos do Código Penal Brasileiro. É possível, também, como tese defensiva, requerer a ilegitimidade por parte do representante do Ministério Público em propor a peça inicial acusatória, uma vez que o crime de dano qualificado tipificado no artigo supra informado é motivador de ação penal privada, conforme previsão no art. 167 do Código Penal, não sendo o Parquet parte legítima para apresentar a referida denúncia, o que deveria ter ocasionado a rejeição liminar da peça acusatória. Segundo o Supremo Tribunal Federal (STF), o reconhecimento da insignificância, no caso concreto, acarreta na atipicidade material da conduta, excluindo o fato típico e, consequentemente, inexistindo crime. Estabelece ainda que este reconhecimento suscita a presença cumulativa de quatro vetores, são eles: mínima ofensividade da conduta do agente, ausência de periculosidade social da ação, reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica provocada. Ademais, o crime de dano qualificado tem pena máxima abstrata de 3 anos, prescrevendo em 8 anos, conforme estabelece o artigo 109, IV do Código Penal. A questão informa que oito anos após o recebimento da denúncia, o juiz manda citar João Victor para apresentar resposta à acusação. Por ser o agente menor de 21 anos na data do crime, a prescrição cai pela metade, conforme previsão no artigo 115 do Código Penal, prescrevendo-se, o delito, nesse caso, em 04 anos, conforme previsão no art. 109, IV em combinação com o artigo 115, ambos do mesmo diploma legal. Portanto, resta claro que deverá ser arguido o instituto da prescrição e, consequentemente, a sua extinção da punibilidade. 16. Raul, militar, ao fazer uma ronda de rotina na viatura da Polícia, percebeu que Manoel, dono da lanchonete “Comebem”, situada na praça da cidade, com funcionamento diário das 17h00min às 23h00min, havia instalado fios elétricos para capturar energia do poste que ficava próximo à lanchonete, permitindo o funcionamento dos eletrodomésticos utilizados no local. Diante de uma possível ligação clandestina de energia, Raul solicitou de Manoel R$ 1.000,00 (mil reais) para não autuá-lo em flagrante, o que foi recusado por Manoel. Diante das informações apresentadas, pergunta-se: a) Qual(is) crime(is) praticado(s) por Manoel? (Valor: 0,65) www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 14 b) A conduta de Raul pode ser penalmente responsabilizada? (Valor: 0,6) Justifique suas respostas. PADRÃO DE RESPOSTA a) Manoel incorreu no crime de furto de energia elétrica, nos moldes do artigo 155, §3º ambos do Código Penal em virtude da realização da ligação clandestina. Isso porque instalou fios elétricos para capturar energia do poste que ficava próximo à lanchonete, permitindo o funcionamento dos eletrodomésticos utilizados no local, o que acarreta no furto de energia elétrica, conforme estabelece o artigo 155, §3º do Código Penal Brasileiro. b) Raul pode ser penalmente responsabilizado no crime de corrupção passiva, tipificadoao teor do artigo 317 do Código Penal Brasileiro. O delito de corrupção passiva consiste na conduta do funcionário público solicitar, receber ou aceitar promessa de vantagem indevida, para si ou para outrem, ainda que fora de suas funções. No caso apresentado pela questão, Raul, militar, no exercício de suas funções, solicitou vantagem indevida a Manoel, o que configura o crime de corrupção passiva. 17. Artur, maior e capaz, foi aprovado em 1º lugar no concurso público para exercer o cargo de Agente da Polícia Civil. Foi nomeado pela autoridade competente, mas ainda não foi empossado. Dez dias depois do ato da nomeação, tomou ciência de que em uma casa à rua perto do local onde reside, foi inaugurado um estabelecimento para promover loteria, sem autorização legal. Após uma semana, percebendo a movimentação constante na casa e o volume de pessoas, resolve abordar o proprietário do estabelecimento, Lucas Mourão, e, declarando-se Policial Civil, exige o pagamento, dentro de 24 horas, em espécie, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) para não informar o fato a Autoridade competente da Delegacia de Polícia que será lotado. Diante das informações, pergunta-se: a) Qual(is) infração(ões) penal(is) praticada(s) por Artur? (Valor: 0,4) b) Qual(is) infração(ões) penal(is) praticada(s) por Lucas Mourão? (Valor: 0,4) c) Qual o momento consumativo da(s) infração(ões) penal(is) cometida(s) por Artur? (Valor: 0,45) Justifique todas as suas respostas. PADRÃO DE RESPOSTA a) Artur incorreu no crime de concussão, tipificado ao teor do artigo 316 do Código Penal, tendo em vista que exigiu, mesmo antes de assumir a função pública, mas em razão dela, vantagem indevida. O crime de concussão consiste na conduta do funcionário público exigir, para si ou para um terceiro, ainda que fora das funções ou antes de assumi-la, mas me razão dela, vantagem indevida, o que caracteriza a conduta praticada por Artur. www.cers.com.br OAB XVII EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 15 b) Lucas Mourão praticou a contravenção penal de loteria não autorizada, prevista no artigo 51 da Lei 3.688/41 – Lei de Contravenções Penais, uma vez que promoveu loteria sem autorização legal. c) O momento consumativo do crime de concussão, praticado por Artur se deu no momento da exigência da vantagem indevida. Trata-se de crime formal, ou seja, a exigência da vantagem indevida já caracteriza a consumação do delito, sendo o pagamento da vantagem indevida mero exaurimento do crime.
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