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FACULDADE DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE PERNAMBUCO Pós-Graduação Lato Sensu CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO FERNADA MOTA SILVA EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: CONTRIBUIÇÕES PARA EDUCAÇÃO INFANTIL PETROLINA-PE 2021 FERNADA MOTA SILVA EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: CONTRIBUIÇÕES PARA EDUCAÇÃO INFANTIL Trabalho de conclusão de curso, Artigo, apresentado a Faculdade de Educação Superior de Pernambuco-FACESP, Campus Petrolina-PE, como requisito de nota para obtenção do título de pós graduada. Sob a orientação da: Orientadora: Prof.ª Me, Francisca Alves da Mota Oliveira Co-orientadora: Prof.ª. Esp. Cristiane Almeida Santos PETROLINA-PE 2021 FACULDADE DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE PERNAMBUCO Portaria nº 676 de 18/07/2016 Rua Matias de Albuquerque, 123, Gercino Coelho, Petrolina – PE (87) 3866-2246 ______________________________________________________ Fernanda Mota Silva ARTIGO APROVADO EM _______/______/_________ BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________________ Prof.ª Me. Francisca Alves da Mota Oliveira Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Évora Orientadora ____________________________________________________________ Prof.ª Esp. Cristiane Almeida Santos Esp. Programação de Ensino de Biologia pela Universidade de Pernambuco- UFP. Co-orientadora CONCEITO FINAL: _________________ EDUCAÇÃO CIENTIFICA NA PERSPECTIVA DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: CONTRIBUIÇÕES PARA EDUCAÇÃO INFANTIL SILVA, Fernanda Mota 1 OLIVEIRA, Francisca Alves da Mota2 SANTOS, Cristiane Almeida3 REUSMO Educação científica pode ser definida como aquela que trabalha os conceitos e observações científicas, os quais preparem o educando para a sociedade pelo processo de ensino de ciências, cuja função é despertar o olhar científico, rompendo com o senso comum. Nessa perspectiva o presente artigo objetiva refletir sobre relação e importância da educação científica(EC) na educação infantil(EI), fazendo uma investigação por meio de uma revisão bibliográfica sobre as definições acerca da alfabetização cientifica (AC) e do letramento cientifico (LC), verificando similaridades entre eles e suas contribuições para o desenvolvimento da criança. Utilizamos como base para a reflexão autores como CUNHA (2017), SOARES(2009), CHASSOT (2003), LORENZETTI; DELIZOICOV, 2001), MENEZES (20016), entre outros. Os resultados mostraram que a AC quando trabalhada desde a Educação Infantil pode possibilitar um desenvolvimento maior da criança com o mundo da Ciência. Concluímos que a EC iniciada desde EI pode contribuir cada vez mais para formar cidadãos pensantes, críticos, reflexivos e que possam resolver problemas da sociedade de maneira consciente. Palavras-chave: Alfabetização cientifica, Letramento, Educação Infantil ABSTRAT Scientific education can be defined as the one that works the concepts and scientific observations, which prepare the student for society by the process of teaching science, whose function is to awaken the scientific eye, breaking with common sense. In this perspective, this article aims to reflect on the relationship and importance of scientific education (EC) in early childhood education, making an investigation through a bibliographic review on the definitions about scientific literacy (CA) and scientific literacy (LC), verifying similarities between them and their contributions to the child's development. We used as a basis for reflection authors such as CUNHA (2017), SOARES (2009), CHASSOT (2003), LORENZETTI; DELIZOICOV, 2001), MENEZES (20016), among others. The results showed that CA when worked since Early Childhood Education can enable a greater development of the child with the world of Science. We conclude that THE initiated since EI can contribute more and more to forming thoughtful, critical, reflective citizens who can consciously solve society's problems. Keywords: Scientific Literacy, Early Childhood Education, Science Teaching. 1 INTRODUÇÃO A preocupação crescente com a educação científica (EC) vem sendo defendida não só por educadores em ciências, mas também por profissionais de diversas áreas do conhecimento com grande abrangência em seus objetivos. 1 Pós-graduanda do curso de especialização em Alfabetização e Letramento pela FACESP. E-mail: fernanda89mota@gmail.com 2 Prof.ª Orientadora Me. Em ciências da Educação pela Universidade Évora. E-mail: franoliveira12@gmail.com 3 Prof.ª Co-orientadora Esp. em Programação de Ensino de Biologia pela Universidade de Pernambuco- UFP. E-mail: cris-almeidas@hotmail.com mailto:fernanda89mota@gmail.com mailto:franoliveira12@gmail.com mailto:cris-almeidas@hotmail.com 4 Devido a abrangência da temática em diferentes contextos, surge também diferentes definições para o processo de alfabetização científica (AC) e ou letramento cientifico (LC), os termos pode variar de acordo com o grupos de interesse e público alvo. (CUNHA2017). Neste contexto surge a problemática dessa pesquisa quais as contribuições que a EC na perspectiva da AC e do LC pode trazer para EI? O termo Scientific Literacy, é geralmente interpretado como a capacidade de ler e escrever e por isso boa parte de autores de trabalhos em língua portuguesa especialmente no Brasil, optam por traduzir literacy com alfabetização. No entanto destacam-se extensões como letramento digital, letramento cultural, letramento político e claro letramento cientifico e seus aspectos semânticos são muito importantes em tais extensões. (CUNHA 2017). Vários fatores podem influenciar interpretações do significado EC, tais fatores incluem a existência de diferentes grupos de atores sociais preocupados com a EC, surge então diferentes definições e proposições para os termos AC e/ou LC. (SANTOS 2007). Percebe-se que as indagações a respeito da AC e/ou LC estão sempre voltadas para o ensino de ciências, ou por motivos que guiam o planejamento desse ensino para construção de benefícios práticos para as pessoas, a sociedade e o meio ambiente. (SASSERON, CARVALHO 2011). Neste trabalho destacamos que a AC e/ou LC pode ser considerado como uma das extensões para potencializar escolhas que privilegiam uma educação mais expressiva e deve ser uma preocupação significativa principalmente no ensino fundamental. (CHASSOT 2003). Todas, as pessoas deveriam ser capazes de tomar decisões sobre assuntos relacionados a ciência e tecnologia baseados na análise dos ricos e benefícios. Para isso o ensino de ciências nas escolas primarias e secundarias deveriam ser mais efetivos a fim de fornecer a base para uma familiaridade duradoura com a ciência e noção de suas implicações sociais(CUNHA2017). 7 Essa afirmação reforça a questão do LC, assim como toda língua materna e na aquisição da escrita, nas basta aprender a ler e escrever (ser alfabetizado), mas sobretudo fazer uso efetivo da escrita em pratica sociais (ser letrado) (SOARES 2009). Sobre a ótica de documentos pedagógicos, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as diretrizes curriculares, a AC se expressa mediante o desenvolvimento de competências e habilidades argumentativas, que permitem ao educando questionar a ciência e a tecnologia no contexto em que vive, e está diretamente relacionada à educação em ciências. (VITOR, SILVA 2017). Diante deste contexto percebe-se a importância de se discutir sobre a implementação do AC ou LC desde a primeira etapa da educação básica visto que a mesma pode proporcionar uma maior segurança para as crianças no seu processo de aprendizageme de ser, como um todo, possibilitando um maior desenvolvimento da criança com o mundo da ciências, dando a ela mais significado as coisas compreendendo melhor o mundo que as cerca contribuindo assim para o construção de um adulto capaz de ser mais atuante nas tomadas de decisões. Em assuntos da vida cotidiana (ALMEIDA, TERÁN 2013). Sendo assim, torna-se relevante discutir os diferentes significados e funções que se têm atribuído à AC e/ou LC com o intuito de levantar referenciais para estudos nas diferentes áreas que visem analisar o papel da EC na formação do cidadão. Neste trabalho empregaremos os dois termos, usando o termo LC para quando o significado se referir ao uso social do conhecimento cientifico. (SANTOS 2017). A pesquisa apresenta uma discussão sobre consensos e as controvérsias entre AC/LC e sua importância para EI trazendo uma reflexão sobre as contribuições do AC/LC desde a primeira infância com o objetivo de refletir sobre relação e importância da EC na EI, fazendo uma investigação por meio de uma revisão bibliográfica sobre as definições acerca da AC e do LC, verificando similaridades entre eles e suas contribuições para o desenvolvimento da criança. 13 Fazer uma reflexão sobre abordagens que percebam a criança na sua condição ou sujeito sócio histórico e de direitos que vive cada momento e etapa de sua vida como sujeito único capaz de estabelecer relações produtoras de sentido, de construir conhecimentos pela experiência e contribuir com outras crianças e com adultos na visão ao mundo da qual faz parte. (MENEZES2016). Utilizamos como base para a reflexão autores como AFONSO(2208), CUNHA (2017), SOARES(2009), CHASSOT (2003), LORENZETTI; DELIZOICOV, 2001), MENEZES (20016), entre outros, as fontes de dados foram artigos selecionados através das plataformas Scielo, google acadêmico e periódicos. A pesquisa foi estruturada da seguinte forma no tópico 2 discorremos sobre definições, similaridades e controvérsias entre AC e o LC. No tópico 3 discutimos a importância e possibilidade de implementação da EC na EI, tópico 4 refletimos sobre as contribuições da alfabetização cientifica para EI e por fim no tópico 5 fizemos nossos argumentos em relação a implantação da EC desde a infância e possíveis contribuições que EC pode trazer para o desenvolvimento da criança. 2 ALFABETIZAÇÃO CIENTIFICA X LETRAMENTO CIENTIFICO A palavra letramento na maioria das vezes está associada a “alfabetização”. O letramento surge na década de 80 com o objetivo de distinguir a aprendizado do código da escrita. A pessoa que sabe ler e escrever dizer-se alfabetizada, pessoas que passa fazer uso da leitura e escrita torna-se letrada. O letramento surge como uma nova perspectiva sobre a pratica social da escrita. Nos estudos internacionais scientific literacy se torna controverso pelo fato de sua definição variar de acordo com grupo de interesse e público alvo. (CUNHA 2017). No contexto histórico quem primeiro empregou a expressão scientific literacy foram pessoas ligadas a grandes grupos econômicos nos Estados Unidos Da América (EUA): Fundação Rockefeller e Shell Chemicals Corporation, em contexto no qual as organizações internacionais no campo da educação, impactadas pelas consequências da Segunda Guerra Mundial, incentivavam os países afora, à adotar políticas públicas sustentadas pelo ideal de que o sistema educacional poderia ser usado de forma mais eficaz para preparar as pessoas para viver e trabalhar em um 13 mundo em rápida transformação. O lançamento do Sputnik repercutiu nos EUA, fazendo-os sentirem-se desafiados nos mais diversos aspectos, isso estimulou a reforma curricular na área do ensino das ciências na tentativa de tornar esta área um dos pilares do ensino no âmbito escolar (TEIXEIRA 2013). Segundo os estudos um dos primeiros pesquisadores a usar o termo scientific literacy foi o professor Paul Hurd conhecido como o reformador da educação cientifica trazendo no seu trabalho a ideia dos filósofos Francis Bacon com a ideia de que as pessoas fossem preparadas intelectualmente para o bom uso de suas faculdades intelectuais e a ideia do filosofo Herbet Spencer que defendia que as escolas ensinarem o que se faz parte da vida cotidiana de seus educandos que segundo ele se dá por meio de conhecimento construído pela ciências. (SASSERON 2011). Outro estudo interessante sobre LC é o de Reidiger Laugksch que admite que o conceito LC pode receber diferentes significado e interpretações, em seus trabalhos ele destaca que para uma pessoa ser considerada alfabetizada cientificamente deve ter conhecimento das relações entre a ciência e ciência e tecnologia e possui conhecimentos fundamentais sobre o conceito básicos das ciências e perceber e entender as relações entre as ciências e a humanidade (CUNHA 2017). Na pesquisa de Lorenzetti e Delizoicov (2001), em que utilizou a expressão AC, apresenta uma abordagem direcionada para um contexto de letramento, pois para os autores esse seria o uso que as pessoas fazem em seu contexto social da leitura e da escrita e que não é preciso saber ler e escrever para que se construam conhecimentos científicos na educação básica, os autores destacam que: O letramento vai além da alfabetização, para os mesmos o LC se refere à forma como as pessoas utilizarão os conhecimentos científicos, melhorando a sua vida ou auxiliando na tomada de decisões frente a um mundo em constante mudança (LORENZETTI; DELIZOICOV, 2001, p. 8). No Brasil a expressão scientific literacy pode ser traduzida como AC ou LC. Sendo que o termo scientific continua relacionado à ciência mesmo após sua tradução, levando a diferentes interpretações de cunho histórico e epistemológico, 8 trazendo problemas, uma vez que pode ser traduzido como alfabetização ou letramento. Literacy significa, no dicionário, a habilidade para ler e escrever. No entanto, no contexto atual em que vivemos, a habilidade para ler e escrever carrega vários significados que perpassam tanto os diferentes modos pelos quais a comunicação é feita quanto as circunstâncias em que ela se dá. (VITOR, SILVA 2017). Segundo SOARES 2009 no nosso pais o surgimento do termo literacy representa uma mudança histórica das práticas sociais: novas demandas sociais de uso da leitura e da escrita exigiram uma nova palavra para designá-las. À mudança na maneira de considerar o significado do acesso à leitura e à escrita em nosso país - da mera aquisição da "tecnologia" do ler e do escrever à inserção nas práticas sociais de leitura e escrita, de que resultou o aparecimento do termo letramento ao lado do termo alfabetização (SOARES2009 p. 21). Boa parte dos pesquisadores brasileiros que adotaram o termo LC, apoiaram- se no significado defendido por duas grandes pesquisadoras de linguística, Ângela Kleimam que adota a definição como sendo um conjunto de práticas sociais que usam a escrita enquanto sistema simbólico e a tecnologia em contextos específicos para objetivos específicos e Magda soares que define o LC como sendo resultado da ação de ensinar a ler e escrever. (SASSERON, CARVALHO 2011). Para SOARES 2004, os termos letramento e alfabetização, quando relacionados à linguística e à educação da língua materna, misturaram-se e confundem-se sob diversas circunstâncias. Embora os processos - letramento e alfabetização - ocorrerem de forma simultânea e fazerem parte do contexto social, ambos tem características distintas. Assim, no âmbito da aprendizagem inicial da língua, a alfabetização pode ser entendida como aquisição e apropriação em um contexto social, enquanto o letramento, como o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita nas práticas sociais (SOARES 2004). Do ponto de vista de SOARES (2004, 2009), O conceito de LC indica que o educando pode ser capaz de tornar o educando alfabetizado e letrado em ciências,visto vez que ele não só adquire conhecimentos acerca da área, como também 9 aprende a emprega o conhecimento adquirido para tomar decisões que afetem sua prática social. Para Paulo Freire: A alfabetização cientifica é definida como o mais simples domínio psicológico e mecânico de técnicas de ler e escrever. E o domínio destas técnicas em termos conscientes implica numa autoformarão que possa resultar uma postura interferente do homem sobre seu contexto (FREIRE1980P.111). De acordo com a perspectiva freireana a AC acontece quando a pessoa consegue fazer conexões com conhecimento cientifico e o mundo ao seu redor, ou seja a alfabetização favorece a uma pessoa a capacidade de ter um pensamento logico e auxilia na construção de consciência crítica em relação ao mundo que a cerca. (SASSERON, CARVALHO 2011). O indivíduo alfabetizado necessita conhecer e dominar a linguagem para poder interpretar o sentido explícito e implícito dela no seu contexto social. A EC deve incorporar ao currículo discussões de valores e reflexões críticas que possibilitem desvelar a condição humana, nem contra, nem a favor do uso da tecnologia, mas uma educação em que os alunos possam refletir sobre a sua condição no mundo frente aos benefícios e riscos atribuídos à ciência e tecnologia, e neles intervir. (MENEZES 2016). De acordo com TEIXEIRA (2013), AC e LC são conceitos que serve para se referir ao ensino de ciências na educação básica, e que, sofre alterações no vocábulo mas que, não apresentam diferenças entre si. Desse modo, transforma-se num conceito que expressa uma EC com pretensões de que o educando entenda a ciência e se aproprie dela. Porém, não se trata apenas de uma EC neutra e autônoma. Dessa maneira, scientific literacy seria assegurar que todas as pessoas se apropriassem da ciência, independentemente de seu status social. Na verdade, assinala-se que o conhecimento científico deveria ser um meio para atingir a 10 formação de indivíduos críticos com capacidades de analisar e relacionar informações e encontrar alternativas mais adiante (TEIXEIRA, 2013). Nota-se que as expressões AC e LC possuem significados diferentes e estão ligados aos interesses tanto dos autores que escrevem sobre o tema quanto a política e economia vigentes. O LC vai além do domínio da linguagem científica, tornando-se uma proposta da AC. Por meio do LC destaca-se a função social das ciências e das tecnologias, pois o conhecimento científico está envolvido com os aspectos sociais e ambientais e o desenvolvimento de uma EC acontece pelas influências entre as ciências, as tecnologias e a sociedade. (SANTOS2007). As constantes transformações da sociedade e os vários modelos sócios econômicos e novos conceitos de qualidade de vida exige cada vez mais dos indivíduos preparados para adaptação do mundo moderno. Neste contexto a AC surge como componente primordial na formação de cidadãos críticos e conscientes, capazes de participar ativamente do processo sociopolítico do seu países (ALMEIDA; TERAN 2013). Percebe-se que a cultura científica são centradas em oportunidades que ultrapassam o sentido da investigação como algo que se restringe a geração de um produto, ignorando o importância do processo que é de bastante relevância para a formação do cidadão, pois traz a vivencia e maturidade proporcionando um aprendizado mais significativo, preparando-o para o pleno exercício da cidadania. (ALMEIDA; TERAN 2013). 3 EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA INAFÂNCIA Pudemos perceber ao longo da discussão sobre AC e ou LC a existência de um consenso sobre a importância de todo indivíduo ter a oportunidade de ser educado cientificamente. No entanto, outra questão que se sobrepõe a essa é qual a melhor idade do indivíduo ser educado cientificamente. De acordo com algumas pesquisas, essa idade varia, porém, muitos especialistas defendem a tese de, quanto mais cedo melhor (MENEZES 2016). 11 Pesquisas têm apontado que as crianças apresentam grande potencial para a aprendizagem dos conceitos científicos devido à maior quantidade de conexões neuronais (GATICA et al., 2011). Para Afonso 2008 A ciência constitui-se como instrumento útil para o desenvolvimento de determinadas capacidades intelectuais, permitindo o desenvolvimento de processos cognitivos de diferentes graus de complexidade e abstração (AFONSO, 2008, p. 18). A estimação dada a criança através de sua inclusão concreta e de seus papéis sociais variam de acordo com as formas de organização da sociedade. O conceito de infância nem sempre foi o mesmo (ALMEIDA; TERAN 2013). De acordo com Ariès (2011), por muito tempo a criança foi considerada como um ser incapaz de desenvolver pensamento político e crítico. Por isso, durante muitos séculos não se deu a devida atenção ao desenvolvimento cognitivo das crianças na primeira infância. (ARIÈS 2011). Por um longo período de tempo, a educação das crianças era de responsabilidade das famílias, por isso não se existiam instituição responsável por compartilhar essa etapa formativa da criança com seus pais. A parti do aparecimento da sociedade industrial a incorporação da mulher no mercado de trabalho, surgiram novas exigências educativas devido as novas ocupações no mundo do trabalho (ALMEIDA; TERAN 2013). No final do século XVIII, surgiram as “creches” com o objetivo de atender ou “guardar” crianças durante o período de trabalho das famílias, trazendo uma nova maneira de pensar o que é criança, a educação da criança. Que atualmente deve envolver simultaneamente os dois processos educar e cuidar. (ALMEIDA; TERAN 2013). O cuidar está ligado à atenção aos meios pedagógicos e aos aspectos de higiene, cuidado com o corpo, percebe-se que esses cuidados citados torna-se indissociáveis do projeto educativo para uma criança pequena, precisa-se pensar e da tenção aos instrumentos pedagógicos utilizados para tal. Já o educar está relacionado a atenção com as pessoas e as coisas. Assim a educação infantil faz 12 com que a criança passe a participar de uma experiência cultural que é própria de seu grupo social. (ALMEIDA; TERAN 2013). Para isso é necessário que o educador de creche tenha conhecimentos de psicologia do desenvolvimento, sensibilidade para realizar a mediação entre a criança e o ambiente, saiba diversificar os recursos utilizados, afetividade para estabelecer relações interpessoais, clareza na proposta das atividades, confiança na capacidade das crianças, percepção dos diferentes estilos e ritmos de aprendizagem, complementando, reconstruindo e resinificando situações. Esse educador precisa, ainda, apropriar-se de um instrumental teórico-metodológico que permita planejar e avaliar as possibilidades de ação e construção (SANCHES, 2003). Pensar sobre a infância no cotidiano escolar é ainda um desafio para educação infantil uma vez que, ao longo da história a brincadeira, o universo lúdico os jogos não tem sido considerados como periódicos. Devemos reconhecer que a imaginação a fantasia a criação a brincadeira são específicos da infância. De acordo com Freitas e Shelton (2005), após anos de estudos, especialistas têm indicado que nos primeiros anos de vida do ser humano são formadas as bases para o seu desenvolvimento em várias dimensões (cognitiva, emocional, social e moral), (MENEZES 2016). Os documentos oficiais brasileiros que orientam as propostas pedagógicas para a Educação Infantil têm demonstrado certo grau de preocupação com a EC na primeira infância. Fazendo uma breve análise dos Referenciais Curriculares para a Educação Infantil – RCNEI, elaborados e distribuídos pelo Ministério da Educação desde 1998, especialmente no volume três, podemos observar um direcionamento para que a criança tenha uma compreensão do mundo no qual se encontra inserida. O documento esboça seis eixos de trabalho orientados para a construção dasdiferentes linguagens pelas crianças e para as relações que estabelecem com os objetos de conhecimento: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática (MENEZES 2016). No entanto, como afirma Cerisara (2003), a área da Educação Infantil no Brasil ainda encontra-se em um processo de construção, o que exige percorrer um 13 grande caminho na busca de propostas e práticas pedagógicas que possam favorecer a compreensão do mundo pelas crianças já na sua primeira infância, de maneira coerente com os seus níveis intelectuais e com as suas realidades de vida, pois: [...] a educação pré-escolar é a fase da construção de pilares essenciais para o desenvolvimento futuro e para a construção de novas aprendizagens, novos desenvolvimentos (AFONSO, 2008, p. 9). Dessa forma, é necessário o investimento de políticas públicas que favoreçam o desenvolvimento de pesquisas e a formação de professores, visando encontrar meios que facilitem a inserção da Educação Científica na EI, pois a EC é um direito da criança, que necessita se apropriar do conhecimento científico construído em uma cultura relativa ao seu modo de compreender o mundo e a escola tem a função social de ensinar isso, reconhecedora como um dos pilares fundamentais para a formação dos cidadãos que buscam melhorar a qualidade de vida (ATEHORTÚA; DELGADO, 2011). É nesse contexto que se apresenta esta pesquisa, pois visa propor meios que facilitem a EC na Educação Infantil, não apenas nos seus aspectos conceituais, mas numa perspectiva crítica, lúdica e prazerosa, que possa favorecer aos educandos a compreensão e a transformação da realidade na qual encontram-se inseridos. No entanto, o processo de EC com crianças ainda na Educação Infantil deve ser pensado e adequado a essa etapa com base em resultados de pesquisas do que a criança já pode compreender e produzir, considerando-se também os aspectos metodológicos para esse nível como sugerem as DCNEI, através das interações e brincadeiras, visando-se planejar atividades que favoreçam a compreensão de alguns fenômenos naturais e do desenvolvimento de uma postura cidadã, reflexiva e crítica diante dos avanços científicos e tecnológicos. (BRASIL, 2010) 4 POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA ALFABETIZAÇÃO CIENTIFICA PARA EDUCAÇÃO INFANTIL 14 A implementação da AC desde a primeira etapa da educação básica poderá proporciona maior segurança para crianças no seu processo de aprendizagem e de ser, como um todo. A AC trabalhada desde EI pode possibilitar um desenvolvimento da criança com o mundo da ciências dando a criança mais significado as coisas entendo melhor o mundo que os cerca. (ALMEIDA; TERAN 2013). No Brasil, a EI passou a ser um direito à criança a partir do seu nascimento, com a Constituição de 1988. Nela, há um dispositivo que concede à família a matrícula de seus filhos até os seis anos, cabendo ao Estados e Municípios ofertar o número de vagas suficientes para atender as demandas existentes. Salientado que a oferta de vagas na EI é competência prioritária dos Municípios, que devem implementá-la em instituições próprias: creches e pré-escolas (BRASIL 2006). Incluir a criança no processo de AC não significa necessariamente transmitir conteúdos e prepara-los para serie seguinte, mas que os conhecimentos cientifico podem estar presentes nas experiências de aprendizagem permitindo às crianças de maneira integrada, participativa e lúdica. Atender as especificidades da criança pequena, considerando suas formas próprias de pensar, interagir, ser e estar no mundo, é uma condição necessária à promoção de processos de AC. (MARQUES, MARANDINO 2018). Acreditamos que a EI baseada no caráter questionador, na argumentação, na observação e na atitude de cidadão preocupado com o meio ambiente, que um dos desígnios da AC, é uma forma de estimular ainda mais a curiosidade da criança que a todo instante procuram compreender o mundo que as cerca. (ALMEIDA; TERAN 2013). A criança sendo estimulada desde a creche e a pré-escola contribuirá para a formação de cidadãos com maior conhecimento de mundo e também mais consciente, convidando as crianças pequenas a serem corresponsáveis pelo cuidado ao meio ambiente e podendo colaborar e agir de forma solidaria em relação aos temas ligados ao bem estar da sociedade de qual fazem parte. (ALMEIDA; TERAN 2013). 15 Utilizando-se concepções trazida pela AC a EI pode promover a formação mais integral do cidadão um ser cada vez mais pensante e atuante, responsável pelos destinos da sociedade. Quando encarada nesta perspectiva a criança torna-se mais rápida e facilmente cidadã que constrói suas abstrações através de vários atos interativos com seus pares e com o meio em que vive. Ela é capaz de fomentar a produção cidadãos esclarecidos capazes de utilizar os recursos intelectuais da língua para criar fatores do desenvolvimento do homem enquanto ser humano. (ALMEIDA; TERAN 2013). Para a criança pequena, estar em processo de AC não implica necessariamente apropriar-se de termos e conceitos científicos, ainda que isso possa ocorrer. Estar em contato com o conhecimento científico por meio de uma visita ao zoológico ou a uma exposição, cuidando de pequenos animais na escola, observando o caminho da formiga que carrega uma folha e visualizando representações do corpo humano em uma enciclopédia já significa vivenciar o processo de AC, aproximando-se de elementos da cultura científica. (MARQUES, MARANDINO 2018 p.4). Percebe-se que é importante que o ensino na educação básica, parta de atividades problematizadoras e que os educandos consigam relacionar os temas com a realidade deles. É fundamental que o ensino mostre a ciência como um elemento presente no cotidiano e que os conhecimentos adquiridos no espaço escolar estejam relacionados com a tecnologia, a sociedade e o meio ambiente. Assim desta maneira, estaremos não somente ensinando disciplinas nas escolas e sim formando cidadãos que terão capacidade de promover mudanças significativas em suas realidades. (SASSERON 2011). Construir propostas integradoras, pautadas na brincadeira e na interação, é condição necessária à promoção de processos de AC que, de fato, tomem a criança como sujeito, e não como objeto. Nessa perspectiva, entendemos que a aproximação entre a cultura da criança e a científica pode se dar a qualquer momento de seu desenvolvimento. (MARQUES, MARANDINO 2018). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 16 Destacamos neste trabalho a importância da AC/LC como uma ferramenta importante para uma EC mais eficaz, sinalizando que a mesma deve ser trabalhada desde a Educação Infantil, pois ela auxilia, significativamente, no processo de ensino-aprendizagem. Percebemos ao longo da pesquisa que necessita-se de mais discussões acerca da AC/LC, tanto no contexto escolar como no contexto científico, com o objetivo de superarmos as circunstâncias que se apresentam à essas crianças, em relação à uma EC de qualidade, apesar das dificuldades a serem transpostas, os estudos demonstraram diversas possibilidades em relação à EC das crianças quanto os educandos serem preparados para a vida em sociedade, levando em conta sua atuação cidadã, crítica e responsável. Acreditamos que a AC/LC na Educação Infantil pode propiciar a interação com diferentes matérias; a observação e o registro de muitos fenômenos; a elaboração de explicações mais fundamentadas; e também a construção de conhecimentos e valores pelas crianças. Diante desses fatos argumentamos pontamos para a necessidade da sociedade e dos seus gestores discutirem e repensarem as políticas públicas de formação continuada e dos Projetos dos cursos de Pedagogia se realmente quisermos ampliar o campo da alfabetização da língua para a EC das crianças. Compartilhamos do conceito que mudanças significativas no processo de AC não dependeapenas dos aspectos metodológicos do ensino de ciências, mas, de fatores políticos, sociais e econômicos. Acredita-se que há um longo caminho a ser percorrido até a AC chegar às escolas e ser visada, principalmente na Educação Infantil, para assim, cada vez mais formar cidadãos pensantes, críticos, reflexivos e que possam resolver problemas da sociedade de maneira consciente. 18 REFERÊNCIAS AFONSO, M. M. A educação científica no 1º ciclo do ensino básico: das teorias às práticas. Porto: Porto Editora, 2008. ARIÉS, P. História social da criança e da família. Tradução: Dora Flaksman. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011. ATEHORTÚA, L. D. DELGADO, F. A. Enseñar y aprender ciencias en las primeras edades. In: ROSALES, S. D. GATICA, M. Q. (Orgs.). La enseñanza de las ciencias naturales em las primeras edades, v. 5: pp.128-143, 2011. BRASIL, Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Lei nº. 5.962, de 11 de agosto de 1971. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5692.htm . Acesso em: Jan 2021. _________, Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais. 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