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preservação do local do crime

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PRESERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA 
PROVA
COLETA DE PROVAS: CUIDADOS E 
PROCEDIMENTOS
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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Reconhecer as diferentes fontes de prova;
2- Diferenciar e classificar as provas;
3- Identificar os procedimentos a serem adotados na coleta de provas.
Na aula anterior, estudamos o contexto da prova na investigação criminal. Vimos que o principal cuidado na
coleta da prova está relacionado à sua legalidade, pois uma prova coletada de forma irregular pode ser
invalidada, bem como as provas decorrentes dela, podendo com isso comprometer toda a investigação criminal e
levar à impunidade do(s) criminoso(s). Nesta aula, vamos estudar mais detalhadamente os procedimentos que
envolvem a coleta e a produção dos diferentes tipos de prova. Você vai aprender que o meio de coleta ou
produção é determinado pelo tipo de prova. Por exemplo: enquanto uma mancha de sangue é coletada por um
perito, um depoimento é colhido pelo investigador cartorário. Finalmente, você vai aprender a distinguir que o
trabalho de coleta se divide em fases distintas: reconhecimento, documentação, coleta propriamente dita,
transporte e preservação. Vamos conhecer então como são produzidos ou coletados os diferentes tipos de
prova?
1 Provas periciais
As provas periciais se enquadram na classe das provas materiais, também chamadas de provas reais, e são
colhidas pela Polícia Técnico-Científica.
A perícia pode ser realizada em qualquer fase do processo, do inquérito à execução. Na fase policial (inquérito), é
realizada por determinação da autoridade policial.
Com o oferecimento da denúncia, a perícia é realizada por determinação da autoridade judicial.
A exceção se dá com a perícia de insanidade, que, mesmo na fase policial, é realizada somente por determinação
da autoridade judicial.
O resultado do trabalho do perito é o laudo pericial.
2 Provas periciais: Tipos de perícia
Existem vários tipos de perícia. Veja alguns deles, abaixo, de acordo com os casos indicados.
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Pessoas
No caso de pessoas, podemos ter um auto de exame cadavérico ou um auto de exame de corpo de delito. O exame
de corpo de delito, por sua vez, também se subdivide em diferentes modalidades: lesões corporais, conjunção
carnal, entre outras.
Objetos
Quando o objeto da perícia é uma coisa, e não uma pessoa, a gama de modalidades é ainda maior.
3 Provas periciais: coleta de material humano
Impressões digitais
As impressões digitais são marcas deixadas por nossos dedos quando tocamos em alguma coisa.
Observe as partes internas da ponta de seus dedos: você verá que elas apresentam desenhos; por meio destes,
podemos identificar uma pessoa. Esse processo é denominado datiloscopia.
A datiloscopia é uma parte da papiloscopia, que conta ainda com a quiroscopia (identificação pela palma das
mãos) e com a podoscopia (identificação pela planta dos pés).
Em nosso estudo, vamos nos limitar à datiloscopia, que se baseia em alguns princípios ligados às propriedades
dos desenhos datiloscópicos:
Perenidade
os desenhos datiloscópicos são definidos ainda na gestação e são permanentes.
Imutabilidade
os desenhos datiloscópicos não se alteram, salvo em caso de doenças como hanseníase ou em acidentes como
queimaduras.
Variabilidade
os desenhos datiloscópicos são diferentes entre os indivíduos e ainda entre os dedos de um mesmo indivíduo.
Sangue e sêmen
O sangue em estado líquido deve ser coletado com o auxílio de uma seringa, uma pipeta automática ou um conta-
gotas, devendo ser armazenado em um tubo de ensaio.
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Se o sangue a ser coletado tiver de ser extraído da vítima, o procedimento deve ser feito pelo médico-legista, um
perito que é também um profissional da área da saúde.
Os materiais devem estar estéreis.
Se o sangue estiver coagulado, deve ser coletado com o auxílio de uma espátula e armazenado preferencialmente
em um recipiente de vidro. Espátula e recipiente devem estar estéreis.
As manchas de sangue armazenadas em tecidos e em pequenos objetos devem ser removidas na forma em que
estiverem (roupas, lençóis, livros etc.). Se o objeto for muito grande, de difícil remoção, a região em que estiver a
mancha deve ser destacada e removida.
Se isso não for possível, a superfície deve ser previamente documentada por fotografia e relatório e então
raspada ― no caso de uma parede ― com uma ferramenta estéril e adequada à superfície em questão.
Em relação ao sêmen, os procedimentos são idênticos aos adotados na coleta do sangue, observando as
diferenças relativas ao estado líquido, impregnado em tecidos, em objetos ou ainda caso o material tenha de ser
coletado da própria vítima.
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Figura 1 - Uso de SWABs e Espátulas
Swabs: Manchas de sangue, sêmen, urina e saliva também podem ser coletadas com swabs, que são uma espécie
de cotonete esterilizado e com haste comprida.
São estéreis e de grande capacidade absorvente, retendo facilmente os fluidos celulares. Após a coleta, basta
esfregar vigorosamente os swabs nas lâminas de microscópio, compondo os chamados “esfregaços”.
Deve-se evitar o uso de fixadores ou reagentes, que podem comprometer a qualidade das amostras ou mesmo
inutilizá-las.
Urina e saliva
Se estiverem em estado líquido, a urina e a saliva devem ser armazenadas em garrafas plásticas ou de vidro
estéreis, de preferência em vidro.
Se estiverem sob a forma de manchas ou impregnadas, devem ser coletadas utilizando-se os mesmos
procedimentos e cuidados referidos para o sangue e para o sêmen.
Um cuidado a ser observado: sempre que possível, as amostras devem ser isoladas de fontes de luz e calor, que
podem deteriorá-las rapidamente.
Fios de cabelo, ossos e outros tecidos
Fios de cabelo devem ser coletados com o auxílio de pinças, devendo-se utilizar amostras que contenham a raiz
do fio. Devem ser armazenados em papel com a identificação do local do corpo de onde foram retirados.
Para armazenar fios de cabelo, não se deve utilizar fitas adesivas ou qualquer outro material, pois podem
danificar e até inutilizar a amostra.
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Já para evitar perdas, basta armazená-la em envelopes ou dobrar o papel.
No caso de ossos (de cadáver), deve-se procurar tecido compacto e que ainda não esteja deteriorado em virtude
da ação de bactérias ou fungos, devendo-se evitar tecido ósseo negro ou esverdeado.
Quanto à amostra, deve-se dar preferência a tecidos ósseos das costelas, do fêmur ou da mandíbula.
4 Provas periciais: coleta de objetos
Armas de fogo e munições
O primeiro cuidado a ser tomado quando coletamos ou manuseamos esse tipo de prova é que a arma de fogo
deve ser recolhida pelo cano, e não pela coronha, pois é nela que, graças à empunhadura, normalmente ficam as
impressões digitais de quem manuseou a arma.
Se o perito tocar na coronha, pode inutilizar essas impressões. É recomendável ainda a utilização de luvas.
Os estojos deflagrados, se houver, devem ser recolhidos com pinças. Estojos deflagrados são vestígios de grande
interesse não apenas pelas marcas deixadas pela arma por ocasião do disparo (extrator e/ou percussor) mas
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também, ou sobretudo, pelas marcas deixadas pelo próprio atirador, pois raramente quem municiou a arma ―
que normalmente é o atirador ― usou luvas para isso. Assim, esses estojos são prováveis fontes de impressões
digitais.
O manuseio desses estojos tem de ser feito com extremo cuidado para que eventuais fragmentos de impressões
digitais não sejam destruídos.
Quanto aos projéteis, se estiverem destacados, devem ser recolhidos com pinças, da mesma forma que os estojos.
No entanto, se o projétil estiver incrustado em paredes, portas ou outros objetos, o perito deve retirar o pedaço
da parede, do madeiramento ou do objeto em que o projétil se encontrar.
Caso seja destacado da superfície em que estiver incrustado, o projétil pode ser danificado, o que inviabilizaria o
exame pericial.
O projétil tem diâmetro ligeiramente superior ao do cano da arma, de forma que ele sai “prensado”. Esse atrito
geramarcas tanto na arma quanto no projétil. A maioria das armas tem o cano raiado, o que imprime um
movimento de rotação ao projétil quando este passa pelo cano. A ação dessas raias também deixa marcas
características.
Resíduos de substâncias
Diversas substâncias ― como venenos, remédios e outras ― podem ter interesse pericial. Devem ser recolhidas
com material adequado e armazenadas de acordo com sua natureza para que mantenham suas propriedades.
Esses resíduos podem ser encontrados na própria vítima, no autor ou ainda no ambiente.
Exemplo:
Após efetuar o disparo de uma arma de fogo, o autor fica com sua mão impregnada de vestígios de pólvora, que
permanecem durante alguns dias, mesmo após lavagens e esfregaços.
Esses vestígios não são visíveis a olho nu, mas podem ser detectados com o auxílio de instrumentos.
Outro exemplo: em caso de envenenamento, muitas vezes a vítima expele parte da substância que foi ingerida ou
inalada.
5 Provas testemunhais
A prova testemunhal também recebe o nome de subjetiva. Diferentemente da prova pericial, ou real, esse tipo de
prova .não é incontestável
A declaração prestada pela testemunha pode se revelar falsa ou incompleta, ocasião em que a testemunha
responderá pelo .crime de falso testemunho
Veja o que diz o Código Penal:
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Falso testemunho ou falsa perícia
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador,
tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo
arbitral: (Redação dada pela Lei n. 10.268, de 28.8.2001).
Pena ― reclusão, de um a três anos, e multa.
Observe que não apenas a testemunha, mas ainda o perito, o contador, o intérprete e os demais profissionais
envolvidos no processo também podem cometer o crime de falso testemunho ou falsa perícia.
O informante
Em uma “zona nebulosa” entre profissionais e testemunhas, encontramos o informante (figura que pode ser
indispensável ou desastrosa para a investigação).
O informante é uma fonte não oficial da investigação criminal. Ele não tem nenhum vínculo com as instituições
de Segurança Pública, tampouco presta algum compromisso legal. Suas informações nem sequer podem ser
utilizadas para instruir o inquérito policial. A confiabilidade de suas informações também é duvidosa e, ainda
assim, são elementos preciosos na investigação criminal.
O informante não é uma testemunha ― a não ser que tenha presenciado o fato, ocasião em que deverá ser
convocado formalmente a prestar declarações ―, mas tem informações complementares a respeito do autor, da
vítima, das circunstâncias e da motivação que podem nortear a investigação preliminar e formular as hipóteses
iniciais.
As informações prestadas podem ser de grande relevância, mas o investigador deve sempre se questionar sobre
qual seria a real motivação do informante:
• Interesse financeiro?
• Consciência?
• Dever cívico?
• Vingança?
• Paixão?
Exemplo:
Vanessa Caroline Alcântara, após ser abandonada, denunciou todo o esquema de corrupção na Prefeitura de São
Paulo, onde seu ex-amante de Alexandre Cardoso Magalhães (fiscal) estaria envolvido, deflagrando uma grande
investigação. Leia sobre o caso aqui. http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2013/11/ex-de-fiscal-preso-
em-sp-fala-sobre-vida-de-luxo-com-dinheiro-de-propina.html
O informante pode, na verdade, estar tentando prestar uma contrainformação, desviando o foco da investigação,
no intuito de proteger o verdadeiro autor ― por amizade ou interesse em relação a este último ― ou incriminar
algum desafeto.
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http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2013/11/ex-de-fiscal-preso-em-sp-fala-sobre-vida-de-luxo-com-dinheiro-de-propina.html
http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2013/11/ex-de-fiscal-preso-em-sp-fala-sobre-vida-de-luxo-com-dinheiro-de-propina.html
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O informante pode, na verdade, estar tentando prestar uma contrainformação, desviando o foco da investigação,
no intuito de proteger o verdadeiro autor ― por amizade ou interesse em relação a este último ― ou incriminar
algum desafeto.
Por exemplo, o informante pode indicar como pedófilo ou estuprador um vizinho, colega de trabalho ou
síndico do prédio com o objetivo de criar-lhe um constrangimento perante vizinhos, familiares ou
colegas de trabalho.
Algumas vezes, porém, ainda que o informante não esteja motivado por um sentimento nobre, as informações
prestadas podem ser verdadeiras.
Por exemplo, a amante que, desprezada pelo criminoso, se vinga fornecendo detalhes acerca de sua
localização, estocagem de armas, drogas etc.
A testemunha
A entrevista de uma testemunha fornece ao investigador uma prova subjetiva. O investigador deve ter em mente
que, diferentemente das provas reais, a veracidade do conteúdo das declarações de uma testemunha pode não se
confirmar.
Por outro lado, ao prestar o compromisso legal, a testemunha sujeita-se às penas do crime de falso testemunho
ou falsa perícia (art. 342 do Código Penal, mencionado anteriormente) caso preste falsa informação ou omita a
verdade, enquanto o informante, pelo próprio caráter informal de suas informações, não está sujeito a
penalidades em caso de falsas declarações. Exceto se ele próprio noticiar um crime que sabe falso, caso em que
responderá por falsa comunicação de crime; ou ainda se acusar alguém de um crime sabendo que essa pessoa é
inocente, quando então responderá pelo crime de denunciação caluniosa (art. 339 do Código Penal).
É muito importante que o investigador esteja previamente preparado para a entrevista, inteirando-se dos fatos e
determinando o que deseja que seja esclarecido pelo entrevistado.
Fique ligado
Os dados coletados por intermédio de informantes não servem como prova, mas podem
indicar onde encontrá-las. O investigador nunca deve desprezar essas informações, tampouco
dar-lhes credibilidade, sendo prudente sempre verificá-las da forma mais discreta possível.
Tenha em mente que diligências malplanejadas, baseadas tão somente em informações
temerárias, podem comprometer a credibilidade de toda a investigação.
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Infelizmente, em virtude da carga de procedimentos sob a responsabilidade de nossos investigadores, esse
cuidado raramente é adotado e, quando o é, normalmente se dá em casos de mais repercussão.
O investigador deve ainda verificar previamente a confiabilidade da testemunha. Antes de começar a entrevista
propriamente dita e sem que o entrevistado saiba, deve fazer perguntas cujas respostas já conheça a fim de
traçar um perfil comportamental e de confiabilidade da testemunha.
Além das palavras, a linguagem corporal do entrevistado, representada por gestos, cacoetes e expressões, diz
muito sobre sua autenticidade, podendo confirmar ou contradizer o que estiver sendo verbalizado.
6 Provas documentais
No contexto da investigação criminal, documento não deve ser entendido apenas de forma stricto sensu, como
identidade, CPF, certidão de nascimento ou de casamento etc.
Devem ser considerados, por exemplo: contratos, fotografias e até e-mails.
Moacyr Amaral Santos (2011) define documento como:
“coisa representativa de um fato e destinada a fixá-lo de modo permanente e idôneo, reproduzindo-o
em juízo”.
Essa definição torna extremamente abrangente o conceito de documento para o processo civil e, por tabela, para
o processo penal, objeto de nosso estudo.
Na esteira desse raciocínio, podemos concluir que o documento de que tratamos pode ser público ou particular.
Os documentos públicos podem ser de origem judicial, notarial ou administrativa.
Os documentos particulares representam uma gama bem maior, podendo ser representados por contratos,
cartas, fotografias etc.
Exemplo:
Imagine uma operação contra o tráfico de drogas em uma determinada comunidade. Entre outras coisas,
apreende-se na comunidade um caderno contendo várias anotações, a chamada “ ”. Essascontabilidade do tráfico
anotações constituem uma prova documental.
Gravações de circuito interno de TV
A gravação de um vídeopode servir de prova documental de duas formas:
A primeira, quando é utilizada para documentar o local, identificar vestígios e evidências sem necessidade de
manuseá-los. É aconselhável aos peritos que, antes de manusear e arrecadar os vestígios, documentem a cena do
crime com fotografias e filmagens.
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Outra forma de se utilizar um vídeo como prova documental é quando imagens de circuitos de TV registram a
prática de uma ação criminosa.
Em uma sociedade cada vez mais vigiada, frequentemente câmeras instaladas em residências, comércio e
prédios em geral acabam por captar alguma prática delituosa. Essas câmeras podem ainda estar instaladas em
alguma repartição pública ou fazer parte de um sistema de segurança pública.
Um exemplo de como as imagens captadas pelas câmeras de segurança podem ser determinantes é o caso do
assassinato da juíza Patrícia Acioli em 11/8/2011. Na ocasião, a polícia utilizou imagens de várias câmeras
instaladas no trajeto entre o Fórum de São Gonçalo (RJ), onde a juíza trabalhava, e a região oceânica de Niterói
(RJ), onde ela morava.
Veja em: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2011/09/cameras-mostram-ultimos-passos-de-juiza-
antes-de-assassinato-no-rj.html
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• Delimitação, isolamento e preservação da cena do crime;
• Identificação das principais dificuldades para esse isolamento.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Reconheceu as diferentes fontes de prova;
• Diferenciou e classificou as provas;
• Identificou os procedimentos a serem adotados na coleta de provas.
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http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2011/09/cameras-mostram-ultimos-passos-de-juiza-antes-de-assassinato-no-rj.html
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2011/09/cameras-mostram-ultimos-passos-de-juiza-antes-de-assassinato-no-rj.html
	Olá!
	1 Provas periciais
	2 Provas periciais: Tipos de perícia
	3 Provas periciais: coleta de material humano
	4 Provas periciais: coleta de objetos
	5 Provas testemunhais
	6 Provas documentais
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

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