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Agentes antimicobacterianos Tuberculose e hanseníase são doenças infecciosas causadas por agentes micobacterianos. São prevalentes em imunocomprometidos e populações pobres e que têm tratamento dificultoso pela resistência natural a antibióticos, poucas opções novas, por falta de pesquisa e eficácia duvidável em monoterapia, sendo empregados maioritariamente em poliquimioterapia, além do tratamento também ser dificultado por ser longo. No tratamento da tuberculose tem-se uma fase intensiva de tratamento e uma fase de continuação, com poliquimioterapia, para reduzir as chances de resistência. Como particularidades das micobactérias tem-se uma parede celular com composição diferente, composta por ácido lipólico, que torna a entrada do fármaco no interior da bactéria mais dificultada. Com isso, tem-se fármacos que agem diretamente na parede celular, mas também, medicamentos que alteram os mecanismos de transcrição e tradução do material genético. Uma forma delas garantirem a sobrevivência é a indução da fagocitose por fagócitos específicos, como o macrófago e a sobrevivência e proliferação em lisossomos, que reduzem o acesso a fármacos e da resposta imune na atuação contra esses organismos, sendo um limitante da farmacologia, já que o fármaco ‘perfeito’ deveria ter a capacidade de entrar nos fagócitos, penetrar no lisossomo, se manter ativo mesmo com o pH extremamente ácido, entre outros. Com relação aos mecanismos de resistência tem-se o fato delas terem a capacidade de entrar no meio intracelular, em lisossomos, de modo que alguns fármacos perdem a função em meios ácidos. Além disso, a composição diferenciada das paredes, faz com que a maioria dos fármacos não consiga penetrar nas micobactérias. Também se tem a alteração de processos metabólicos que podem impedir os efeitos de antimicrobianos habituais, já que micobactérias tem metabolismo muito mais lento que as bactérias em geral. Além disso, existem produção de bombas de efluxo, para eliminar fármacos que consigam entrar, mutações em genes, que conseguem acionar modificações no efeito habitual de alguns fármacos, como também alterações de proteínas alvo. O antimicrobiano ideal deveria ter características: Bactericida: causa morte dos bacilos no intuito de reduzir a progressão da patologia e reduzir o contágio. Bacteriostática: faz com que torne as bactérias mais estáticas, deixando mais susceptível a resposta imune dos fármacos, diminuindo também a capacidade de resistência, por reduzir a reprodução do fármaco. Esterilizantes: capacidade de virtualmente o fármaco eliminar todos os bacilos presentes em todos os locais do organismo, principalmente lesões, essas que podem servir como foco para uma recidiva. Fármacos para tuberculose 1) Isoniazida É um dos fármacos mais antigos no tratamento da tuberculose. Possui toxicidade seletiva para os procariotos, já que em eucariotos é metabolizada em metabólitos hidrossolúveis e excretada pelos rins. É um pró-fármaco inativo, que penetra na membrana da micobactéria e uma transformação em metabólito ativo (que atua como radical livre) com utilização de enzimas específicas da própria micobactéria. Além disso, a formação de outros radicais livres auxilia no tratamento por aumentar o estresse oxidativo e causar a morte. Esse metabólito inativo em conjunto com NAD+ e NADP, irá formar dois metabólitos ativos que atuarão reduzindo a síntese de ácido micólico, necessário para proliferação celular e reduzindo a conversão e reduzindo a ativação de folato, necessário para reações metabólicas da bactéria e para produção de pirimidinas, importantes na divisão celular. Vários pontos são alvos de mutações e modificações micobacterianas que podem conferir resistência, como em enzimas de ativação da micobactéria, produção de antioxidantes que irão proteger a célula de estresse oxidativo por hiperexpressão de enzimas antioxidantes ou alteração de enzimas específicas que são alvos de efeitos de fármacos, impedindo, por exemplo, a redução dos possíveis efeitos. Pontos positivos Pró-fármaco de ativação e eficácia seletiva e pouca toxicidade para eucariotos; Atuação bacteriostática e bactericida, em especial para populações menos ativas (latentes); Leva à perda de integridade da parede e morte celular; Tem-se possibilidade de uso oral e quase 100% biodisponível; Tem-se capacidade da entrada em lesões, como as caseosas, impedindo recidiva. Pontos negativos É um análogo da vitamina B6, competindo por essa substância em algumas rotas de rações específicas, causando alterações metabólicas por hipovitaminose, com efeitos em especial nas células nervosas, por essa vitamina estar envolvida na produção de GABA; Tem-se metabolização no fígado e produção de radicais livres, podendo gerar sobrecarga hepática e efeitos como icterícia, náusea e alteração de apetite; Conseguem promover hemólise em pacientes com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase; Pode causar neuropatias periféricas e anemias (alteração de metabolismo responsáveis pela manutenção das quantidades de hemácias); Pode se acumular no SNC, podendo gerar perda de memória, psicose, euforia e convulsão; Bloqueia a MAO, podendo gerar reação do queijo, interação com simpatomiméticos, por menor metabolização das aminas simpatomiméticas; Risco de overdose. Existem diferenças metabólicas relacionadas com polimorfismos genéticos, em que a população pode ser dividida em metabolizadores rápidos ou lentos de isoniazida, contribuindo para efeitos indesejados. Os que metabolizam rápido teriam um pico e uma depuração rápida, podendo ter eficácia reduzida, enquanto que os metabolizadores lentos terão concentrações maiores do fármaco do sangue e depuração lenta, mantendo a eficácia, mas aumentando a chance de toxicidade. Tem potencial grande em inibir enzimas hepáticas da CYP450, reduzindo o metabolismo de outros fármacos e aumentando a concentração desses e potencializando a toxicidade, que pode acontecer como carbamazepina e fenitoína, promovendo interações medicamentosas graves. 2) Rifampicina É um fármaco utilizado para tuberculose e hanseníase, sendo bactericida e esterilizante. Atua na subunidade beta da RNA polimerase inibindo a síntese de RNA, interferindo no metabolismo micobacterianos. Tem muita capacidade de penetrar em fagócitos e abcessos para matar os bacilos, que otimiza o tratamento. A subunidade beta da RNA polimerase pode sofrer mutação, impedindo o fármaco de se ligar e alterando sua efetividade. Tem excreção renal e biliar, informação importante para pacientes com comprometimento desses órgãos, já que pode ocorrer com mais facilidade o acúmulo do fármaco e maiores efeitos. Náusea, vômito e hepatotoxicidade Reações de hipersensibilidade, com sintomas como exantema, febre, eosinofilia e mialgia, até sintomas mais graves como hemólise, hematúria e hemoglobinúria, que sobrecarregam o rim e causam insuficiência renal aguda, essa que é reversível mesmo envolvendo mecanismos de necrose tubular. Alterações da cor das secreções, que ficam laranja, como saliva, suor e lágrima. Síndrome do homem vermelho, caracterizando overdose, tendo as secreções, pele e esclera colorido em tons alaranjados. Causa uma indução de enzimas hepáticas, tendo um aumento da expressão dessas enzimas, aumento no metabolismo e aumento na expulsão de outros fármacos, como anticoncepcionais, corticoides, cetoconazol, anticoagulantes orais, entre outros. Além disso, essa indução pode potencializar efeitos tóxicos de outros fármacos, em especial no fígado, como a isoniazida, fator que promove o aumento da produção de radicais livres. A interação com alguns antivirais, pode acontecer de duas formas. Primeiramente, os antivirais são inibidores enzimáticos, de modo que podem aumentar a concentração da rifampicina por reduzir sua metabolização ou tambéma rifampicina pode aumentar a quantidade de enzimas e metabolizar os antivirais mais rapidamente. Ainda, essas duas coisas podem acontecer ao mesmo tempo, dependendo da dose de rifampicina. Além da rifampicina também se tem outras rifamicinas, como a rifabutina e a rifapentina, com diferentes parâmetros cinéticos. 3) Pirazinamida É um fármaco bacteriostático e bactericida e só ativo em meio ácido, com pH menor que 5,5, garantindo efeito no meio intracelular dos fagócitos ou em locais de necrose. É ativado por enzimas micobacterianas, não tendo mecanismo comprovado, mas teoricamente atuando em inibição da síntese do ácido micólico, interrompendo transporte de membrana e reduzindo o pH micobacteriano. Como efeitos indesejados tem-se hepatotoxicidade em doses altas e aumento das concentrações de ácido úrico, pois compete com essa substância na excreção renal, tendo que prestar atenção em pacientes com gota ou com predisposição. 4) Etambutol É um fármaco bacteriostático, reduzindo a chance de resistência por tornar a célula mais sensível aos fármacos. Tem efeito seletivo para micobactérias, inibindo uma enzima importante na síntese da parede celular, reduzindo a proliferação. Como problemas do fármaco, tem-se a possível existência de bactérias resistentes às bombas de efluxo do etambutol, podendo selecionar essas populações se em uso isolado desse fármaco. Além disso, eles utilizam enzimas de metabolismo idênticas às usadas no metabolismo do etanol, podendo promover uma interação entre o etanol e o etambutol, acumulando o produto tóxico do etanol. O principal efeito indesejado é a alteração progressiva na percepção de cores e na acuidade visual, por uma neurite retrobulbar e lesão do nervo óptico. Neuropatias periféricas também podem acontecer, embora em menos frequência. 5) Estreptomicina É um fármaco de 2º escolha que inibe a síntese proteica por atuar inibindo irreversivelmente a subunidade 30s do ribossomo, sendo bactericida exclusivamente em agentes extracelulares, já que é inativada em pH ácido. Tem efeito pós-antibiótico por ter inibido irreversivelmente a subunidade 30s, tendo efeito também em gram negativos aeróbicos. É o agente de substituição mais comum na troca de fármacos. Tem a presença de vários nitrogênios, tendo vários pontos passíveis de protonação, sendo ionizada em meio ácido e dificultando a absorção, além de tornar esse fármaco inativo. A nefrotoxicidade é comum, mas é leve e reversível. Enquanto isso, ocorre uma ototoxicidade irreversível, tanto coclear com impacto na audição ou vestibular com impacto no equilíbrio. Eles também podem potencializar a ação dos bloqueadores neuromusculares, por promover uma redução da entrada de cálcio intracelular, além de diminuir a liberação de acetilcolina. Tem baixa adesão por não ter absorção oral, devendo ser utilizada por outras vias. Efeitos indesejados dos fármacos usados na tuberculose Efeitos adversos menores: ocorrem geralmente, não devendo suspender o tratamento. Efeitos maiores: deve-se suspender o tratamento. A terapia combinada na tuberculose é de curso rápido, com duração de seis meses e com a combinação de quatro fármacos de 1º linha. Para adultos e adolescentes, usa-se: Fase inicial ou fase de ataque (2 meses): rifampicina, isoniazida, etambutol e pirazinamida, todos os dias. Fase de manutenção ou continuação (4 meses): rifampicina e isoniazida. Para crianças, não se administra o etambutol da fase de ataque, já que ele causa neurite óptica e essa população acaba sendo mais susceptível a danos oftalmológicos durante as fases de crescimento. Em pacientes em alto risco, pode-se utilizar doses para profilaxia, com isoniazida ou rifampicina. Quais fatores fazem a terapia combinada ser melhor que monoterapia? 1º) Usando vários fármacos, tem-se mecanismos diferenciados que culminam em sinergismo e alcance de múltiplos alvos, otimizando o efeito bactericida; 2º) Redução da resistência, já que reduz a frequência de mutantes resistentes em relação a todos os fármacos. 3º) Compensação farmacocinética, em relação a constante de absorção, meia-vida e distribuição tecidual, suprindo a deficiência de um fármaco com outro. 4º) Menor duração do tratamento, maior eficácia e menor dose. Farmacologia do tratamento da hanseníase Ocorre com menos opções e tem maior duração de tratamento. É dividido em doses para: Forma paucibacilar (até 5 lesões): dapsona diária e dose mensal de rifampicina e dapsona supervisionada. Dura de 6- 9 meses. Forma multibacilar (mais de 5 lesões): dose supervisionada com dapsona, rifampicina e clofazimina, e doses diárias de dapsona e clofazimina. Dura de 12-18 meses para o fim do tratamento. Dapsona é um inibidor da síntese de ácido fólico, por ser uma substância análoga ao PABA, de modo que não se tem síntese de folato, importante para multiplicação do fármaco. Tem meia vida de 24-48 horas, de modo que as doses podem ser menos frequentes, aumentando a adesão. Tem como efeitos negativos a possível causa de hepatotoxicidade, hemólise, metemoglobinemia e a promoção de reações hansênicas (hipersensibilidade e exacerbação do quadro clínico). Clofazimina é um agente corante que deixa secreções em tons avermelhados, que tem como função reduzir o número de bactérias, além de agir como anti-inflamatório, efeito importante na reversão das reações hansênicas. Promove alterações no DNA micobacterianos, aumenta a produção de radicais livres e promovem o bloqueio no transporte de elétrons. Além disso, tem meia vida de cerca de 4-8 semanas, por ficar estocado em reservatórios, melhorando o prognóstico e os efeitos desse fármaco. O início dos efeitos pode demorar cerca de 6-7 semanas, podendo gerar como efeitos adversos descoloração de lesões na pele, dor, diareia, náuseas, vômito, entre outros. Reação hansênica do tipo 1 ou reação reversa: tem-se piora das lesões já existentes, ocorrendo em indivíduos paucibacilares com edema, infiltração, dor e neurite. Utiliza- se como tratamento prednisona ou dexametasona, corticoides que irão atuar na reação inflamatória. Reação hansênica do tipo 2 ou eritema nodoso hansênico: ocorre preferencialmente em indivíduos multibacilares, com piora das lesões já existentes e o desenvolvimento de nódulos eritematosos e doloridos, além de efeitos sistêmicos como febre, mialgia, náuseas, artralgia, edema e neurite. Como tratamento, além do uso de corticoides pode-se adicionar a talidomida, que reduz reação inflamatória por reduzir a produção de TNF- mas é teratogênico PROVA: REAÇÕES INDESEJADAS PARTICULARES DE CADA FÁRMACO
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