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HISTÓRIA-MODERNA

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SANTA CRUZ DO SUL - RS 
 
 
 
1 
 
1 SUMÁRIO 
2 A CIÊNCIA ANTIGA E A CIÊNCIA MODERNA .......................................... 3 
3 IDADE MODERNA: SEC. XVII E XVIII ....................................................... 4 
3.1 As condições históricas ........................................................................ 4 
3.2 O humanismo renascentista do sec. XV ............................................... 5 
3.3 A descoberta do Novo Mundo .............................................................. 6 
3.4 A Reforma Protestante ......................................................................... 6 
3.5 A revolução científica moderna ............................................................ 6 
3.6 Desenvolvimento do mercantilismo e ruptura da economia feudal ...... 8 
3.7 Grandes núcleos urbanos e a invenção da imprensa .......................... 8 
4 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO ....................................................... 8 
5 RACIONALISMO ........................................................................................ 9 
6 EMPIRISMO ............................................................................................. 10 
6.1 Francis Bacon .................................................................................... 11 
6.2 John Locke ......................................................................................... 11 
7 ALGUNS IMPORTANTES PENSADORES E CIENTISTAS MODERNOS
 12 
7.1 Galileu Galilei ..................................................................................... 12 
7.2 Isaac Newton ...................................................................................... 12 
8 A IDADE CONTEMPORÂNEA .................................................................. 13 
8.1 Idealismo ............................................................................................ 13 
8.2 Definição de idealismo ....................................................................... 14 
8.3 Ideias básicas do Idealismo ............................................................... 14 
9 RENÉ DESCARTES: UMA BREVE BIOGRAFIA ...................................... 15 
10 DEUS, A CIÊNCIA E O LIVRE-ARBÍTRIO ............................................ 17 
11 O PROBLEMA DO HOMEM: A MORAL ................................................ 19 
 
 
2 
 
12 UTILITARISMO ...................................................................................... 20 
12.1 Princípio da Utilidade ...................................................................... 21 
12.2 Perspectiva moral e política: Características gerais ........................ 21 
13 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO UTILITARISMO ............................ 23 
13.1 O cálculo utilitarista ......................................................................... 24 
14 EXISTENCIALISMO .............................................................................. 25 
14.1 Origem ............................................................................................ 26 
14.2 História do Existencialismo ............................................................. 26 
14.3 Temáticas ........................................................................................ 26 
14.4 Relação com a religião .................................................................... 27 
14.5 Fé e existencialismo ........................................................................ 27 
14.6 A existência precede e governa a essência. ................................... 28 
14.7 Liberdade ........................................................................................ 28 
14.8 O Indivíduo versus a Sociedade ..................................................... 30 
14.9 Importantes Filósofos para o Existencialismo ................................. 30 
15 Leitura complementar ............................................................................ 32 
16 As Reformas Religiosas na Europa Moderna notas para um debate 
historiográfico ............................................................................................................ 32 
17 BILIOGRAFIA BÁSICA .......................................................................... 53 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
2 A CIÊNCIA ANTIGA E A CIÊNCIA MODERNA 
 
Fonte: filosofiacienciaevida.uol.com.br 
Filosofia Medieval Cristã constituiu-se do pensamento cristão e da ciência 
antiga. A ciência antiga tinha como base o dogmatismo: era especulativa e partia de 
interpretações da Bíblia. A ciência antiga era baseada na lógica e na demonstração 
de verdade, sem considerar a observação e a experiência. É o caso da teoria 
geocêntrica, ou seja, a teoria que postulava que a terra é o centro do universo, 
vigorava há quase vinte séculos e constituía a maneira pela qual o homem antigo e 
medieval via a si mesmo e ao mundo. 
A concepção medieval cristã via o homem como é o ser supremo da criação 
divina e a terra era o centro do universo. A teoria de que a terra era o centro do mundo, 
geocentrismo, era uma explicação que justificava tal visão. A ciência antiga era um 
corpo de verdades teóricas universais, de certezas definitivas, que não admitiam 
erros, mudanças ou crítica. 
O novo período – Idade Moderna - vai significar uma ruptura com essa 
concepção de mundo dogmática, que não permitia a reflexão e a crítica, por isso, mais 
uma vez vamos abordar sobre a filosofia moderna, enfatizando sobre a sua 
importância para o desenvolvimento do conhecimento humano. 
http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/87/artigo299834-3.asp
 
 
4 
 
3 IDADE MODERNA: SEC. XVII E XVIII 
Após a Idade Média, há um período de transição entre o século XV e XVI para 
a Idade Moderna, que significou ruptura com a tradição anterior cristã, fundamentada 
em Deus, e passou-se a valorizar o homem. É o período chamado Humanismo 
Renascentista: artes plásticas, valorização do homem - liberdade e criatividade. É o 
momento em que se rompe com a visão sagrada e teológica na arte, no pensamento, 
na política, na literatura. Os pensadores desse período passam a valorizar o saber 
dos gregos antigos. Valoriza-se o homem e rompe-se com o pensamento teocêntrico, 
que considera Deus como o centro de tudo, e a Ciência Antiga. 
A Idade Moderna traz a proposta de uma nova ordem e visão de mundo, 
rejeitando a autoridade imposta pelos costumes e pela hierarquia da nobreza e Igreja, 
em favor da recuperação do que há de virtuoso, intuitivo e espontâneo na natureza 
humana. Surge um novo estilo com nova temática. 
Valoriza-se o corpo humano, artes, pensamento, política, ciência. É o momento 
de novos pensadores e artistas, tais como Leonardo da Vince, William Shakespeare, 
Rafael, Maquiavel, Michelangelo, Montaigne. 
3.1 As condições históricas 
Surge uma nova maneira de pensar e ver o mundo, resultado das 
transformações históricas que ocorreram na Europa. Entre os fatores históricos, pode-
se destacar: 
 O humanismo renascentista do sec. XV 
 A descoberta do Novo Mundo (sec. XV) 
 A Reforma Protestante do sec. XVI 
 A revolução científica do sec. XVII 
 Desenvolvimento do mercantilismo e ruptura da economia feudal 
 Grandes núcleos urbanos e a invenção da imprensa. 
 
 
5 
 
3.2 O humanismo renascentista do sec. XV 
Nasceu na península itálica, sendo um período de transição entre a Idade 
Média e a Moderna. Rompeu com a filosofia cristã da escolástica medieval e, valoriza 
o saber dos gregos antigos, retomando a concepção do humanismo. O período 
medieval, anterior, foi marcado por uma forte visão hierárquica e religiosa de mundo, 
em que a arte está voltada para o sagrado, filosofia está vinculada à teologia e à 
problemática religiosa. 
O homem e seus atributos de liberdade e razão passam a ser importantes 
novamente, e não apenas as o mundo divino. Nas artes predomina os temas pagãos, 
afastados da temática religiosa. É a arte voltadapara o homem comum, não mais reis 
e santos. Valoriza-se o corpo e a dignidade humana. 
 
 
Fonte: www.ub.edu 
Thomas Morus, em a Utopia, defende a tolerância religiosa, critica o 
autoritarismo dos reis e da Igreja, favorecendo a razão e a virtude natural. Maquiavel, 
autor escreveu O Príncipe, inaugurou o pensamento moderno da política, em que faz 
uma análise do poder como fato político, independente das questões morais. 
 
 
6 
 
3.3 A descoberta do Novo Mundo 
Outro fator importante que levou a mudança do pensamento moderno foi à 
descoberta do Novo Mundo, pois revelou a falsidade e fragilidade da geografia antiga, 
o desconhecimento da flora e fauna encontradas. Revelou também a falta de 
conhecimento de outros povos e culturas. Muita coisa precisava ser reformulada. 
A ciência antiga perde a autoridade é questionada, pois nada explica sobre a 
nova realidade e suas narrativas. Acreditava que a “terra era plana”, desconhecem os 
novos habitantes dessas terras descobertas, sua natureza, sua origem, sua cultura, 
tão distintas da europeia. 
3.4 A Reforma Protestante 
Martin Lutero contesta a autoridade da Igreja marcada pela corrupção e passa 
a valorizar a consciência individual de buscar a própria fé, sem ser pela imposição das 
verdades dogmáticas. Rompe com Igreja Católica e funda a Igreja protestante. 
Essa nova igreja propõe e representa, assim, a defesa da liberdade individual 
e da consciência em lugar da certeza, valorizando a ideia de que o indivíduo é capaz 
de encontrar sua própria verdade religiosa. 
3.5 A revolução científica moderna 
Outro fator essencial desse processo de transformação é a revolução científica 
que significou o ponto de partida para a ciência nos moldes que conhecemos hoje. 
Nicolau Copérnico no século XVI vai defender matematicamente que a Terra gira em 
torno do Sol, rompendo com o sistema geocêntrico de Ptolomeu (sec.II) e inspirado 
em Aristóteles. 
A teoria do geocentrismo vigorava há quase vinte séculos e era maneira pela 
qual o homem antigo e medieval via a si mesmo e ao mundo. A ciência moderna surge 
quando se torna mais importante observar e experimentar, ao contrário da visão antiga 
que partia de princípios estabelecidos e dogmáticos. 
É um processo de transição e não uma ruptura radical. Ao longo desse 
processo surgem Galileu e Isaac Newton, entre outros, que vão transformar a visão 
científica do século XVII seguinte. 
 
 
7 
 
O rompimento com a ciência antiga revelou uma concepção de distinto do 
universo antigo, que é fechado, finito e geocêntrico. A nova ciência propõe o modelo 
Heliocêntrico e o universo é infinito. A ciência é ativa valoriza a observação e o 
método experimental, une ciência e técnica. A ciência antiga é contemplativa, separa 
ciência e técnica. 
No século XVII a Filosofia e a Ciência se separam. Galileu, usando um 
telescópio, demonstra o modelo de desenvolvido por Copérnico. Vai ser interpelado 
pela Igreja. Entre os principais pensadores daquele momento, destacam-se: 
_ Copérnico, um sacerdote polonês, propôs a teoria heliocêntrica que atingia a 
concepção medieval cristã de que o homem é ser supremo da criação divina e que 
por isso a terra é o centro do universo. 
_ Giordano Bruno leva adiante a ideia de Copérnico e desenvolve a concepção 
de universo infinito. É condenado e morre queimado vivo na fogueira. 
_Galileu Galilei contribuiu com descobertas científicas, como o 
aperfeiçoamento do telescópio, e com uma nova postura metodológica de 
investigação científica: observação, experimentação, uso da linguagem matemática. 
Por condenar os dogmas tradicionais da Igreja, também foi condenado pela 
Inquisição, mas optou por viver e seguiu fazendo suas pesquisas clandestinamente. 
A revolução científica pode ser considerada uma grande realização do espírito 
crítico humano, e acaba concentrando sua atenção na natureza do universo, na 
ciência da natureza. 
 
 
8 
 
3.6 Desenvolvimento do mercantilismo e ruptura da economia feudal 
 
Fonte: www.colegioweb.com.br 
O mercantilismo antecede ao desenvolvimento da indústria e trouxe novas 
necessidades com o surgimento da burguesia, diferentes dos interesses da nobreza. 
3.7 Grandes núcleos urbanos e a invenção da imprensa 
Surgimento dos grandes centros urbanos leva a novos valores e necessidades. 
E a invenção da Imprensa permite que as ideias possam ser publicadas e difundidas. 
4 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO 
A Idade Moderna é um período é marcado por grandes transformações. Estas 
transformações e o desenvolvimento da ciência moderna levaram o homem a 
questionar os critérios e os métodos usados para aquisição do conhecimento 
verdadeiro da realidade. 
Como podemos conhecer? Quais os fundamentos do conhecimento? O que é 
conhecer? Essas questões são essenciais pra a ciência, a ética e epistemologia. A 
Filosofia Moderna vai enfrentar o prestígio que o pensamento de Aristóteles tinha e a 
supremacia da doutrina da Igreja, na Idade Média, e inaugurou um modo novo de 
conceber e compreender o conhecimento. O século XVII viu nascer o método 
 
 
9 
 
experimental e a possibilidade de explicação mecânica e matemática do Universo, 
que deu origem à ciência moderna. 
A partir desses questionamentos, duas novas perspectivas para o saber, às 
vezes complementares, às vezes antagônicas. Surgem o racionalismo e o empirismo. 
O racionalismo e o empirismo constituem novos paradigmas da filosofia moderna 
para conhecer a realidade. 
O que é a razão? Existem vários sentidos de razão no nosso dia a dia. A 
Filosofia se define como conhecimento racional da realidade natural e cultural, das 
coisas e dos seres humanos. A razão é a organização e ordenação de ideias, para 
assim poder sistematizá-las. 
A razão é atividade intelectual de conhecimento da realidade natural, social, 
psicológica, histórica. Possui um ideal de clareza, de ordenação e de rigor e precisão 
dos pensamentos e de palavras. 
A razão, em sua origem, é a capacidade intelectual de pensar e exprimir-se 
correta e claramente, de modo a organizar e ordenar a realidade, os seres, os fatos e 
as ideias. 
Desde o começo da Filosofia, a origem da palavra razão fez com que ela fosse 
considerada oposta a quatro outras atitudes mentais: 
 Ao conhecimento ilusório 
 Às emoções, aos sentimentos, às paixões, 
 À crença religiosa, em que a verdade nos é dada pela fé numa revelação divina Ao 
êxtase místico 
A Filosofia Moderna foi o período em que mais se confiou nos poderes da razão 
para conhecer e conquistar a realidade e o homem – por isso foi chamado de Grande 
Racionalismo Clássico. O marco dessa forma de pensamento é René Descarte, 
matemático e filósofo, inventor da geometria analítica. O método escolhido é o 
matemático, por ser o exemplo de conhecimento integral racional. 
5 RACIONALISMO 
O racionalismo sustenta que há um tipo de conhecimento que surge 
diretamente da razão. É baseado nos princípios da busca da certeza e da 
 
 
10 
 
demonstração, sustentados por um conhecimento que não vêm da experiência e são 
elaborados somente pela razão. 
O racionalismo considera que o homem tem ideias inatas, ou seja, que não são 
derivadas da experiência, mas se encontram no indivíduo desde seu nascimento e 
desconfia das percepções sensoriais. Enquanto a ciência cristã e antiga constituía um 
corpo de verdades teóricas universais, de certezas definitivas, não admitindo erros, 
mudanças ou crítica, a ciência moderna e racional vai propor formular leis e princípios 
que expliquem o funcionamento da realidade. 
O pensamento racional ao introduzir a dúvida no processo do pensamento, 
introduz a crítica como parte do desenvolvimento do conhecimento científico. São 
esses princípios da ciência moderna que encontramos hoje. 
Principais pensadores: René Descartes (1596-1650), Pascal (1623-1662), 
Spinoza (1632-1677) e Leibniz (1646-1716), Friedrich Hegel (1770-1831). 
6 EMPIRISMO 
 
Fonte:felipepimenta.com 
O Empirismo defende que o conhecimento humano provém da nossa 
percepção do mundo externo e da nossa capacidade mental, valorizando a 
experiência sensível e concreta como fonte do conhecimento e da investigação. 
 
 
11 
 
Segundo os empiristas, o conhecimento da razão, da verdade e das ideias racionais 
é importante, mas desde que estejam ligados à experiência, pois as ideias são 
adquiridas ao longo da vida e mediante o exercício da experiência sensorial e da 
reflexão. 
O método empirista baseia-se na formulação de hipóteses, na observação, na 
verificação de hipóteses com base nos experimentos. O empirismo provoca uma 
revolução para a ciência. A partir da valorização da experiência, o conhecimento 
científico, que antes se contentava em contemplar a natureza, passa a querer dominá-
la, buscando resultados práticos. 
Principais filósofos: Francis Bacon, John Locke, David Hume, Thomas 
Hobbes e Hohn Stuart Mill. 
6.1 Francis Bacon 
Nasceu na Inglaterra criou o lema saber é poder, pois compreende que o 
desenvolvimento da pesquisa experimental aumenta o poder dos homens sobre a 
natureza. 
6.2 John Locke 
Médico inglês, dizia que o mente humana é uma tábula rasa, um papel em 
branco sem nenhuma ideia previamente escrita e que todas as ideias são adquiridas 
ao longo da vida mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão. 
Defendeu que a experiência é a fonte das ideias. Desenvolveu uma corrente 
denominada Tabula Rasa, onde afirmou que as pessoas desconhecem tudo, mas que 
através de tentativas e erros aprendem e conquistam experiência. 
 
PARA LEMBRAR: O racionalismo e o empirismo são pensamentos distintos, 
embora exista um elemento em comum: a preocupação com o entendimento 
humano. 
 
 
12 
 
7 ALGUNS IMPORTANTES PENSADORES E CIENTISTAS MODERNOS 
Esses filósofos com seus pensamentos contribuíram para que a humanidade 
construísse novos conhecimentos. 
7.1 Galileu Galilei 
Nasceu na Itália e é considerado o fundador da física moderna. Defendeu as 
explicações do universo a partir da teoria heliocêntrica e rejeitava a física de 
Aristóteles, adotadas como verdade absoluta pelo cristianismo. Por contrariar essa 
visão tradicional foi considerado herege. Questionava a Bíblia, sendo julgado pelo 
Tribunal da Inquisição e condenado a fogueira ou a renegar suas concepções 
científicas. Optou por se retratar, mas continuou fiel às ideias e publicou 
clandestinamente uma obra que contrariava os dogmas cristãos. 
7.2 Isaac Newton 
 
Fonte: www.brighthub.com 
Nasceu na Inglaterra, físico e matemático, continuou à revolução científica que 
deu origem à física clássica. Fala de um universo ordenado, como uma grande 
máquina. Além de física, matemática, filosofia e astronomia, estudou também 
alquimia, astrologia, cabala, magia e teologia, e era um grande conhecedor da Bíblia. 
 
 
13 
 
Considerava que todos esses campos do saber poderiam contribuir para o estudo dos 
fenômenos naturais. 
Suas investigações experimentais, acompanhadas de rigorosa descrição 
matemática, constituíram-se modelo de uma metodologia de investigação para as 
ciências nos séculos seguintes. 
 
Leitura Recomendada: 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando. 
São Paulo, Moderna, 2003. 
 
 
 
8 A IDADE CONTEMPORÂNEA 
A Idade contemporânea (ou pós-moderna) é o período que se encontra no final 
do século XIX até os dias de hoje. Caracteriza-se por uma visão crítica frente a moral, 
à religião e a ciência. Assim, os filósofos pós-modernos procuram criticar as bases 
morais da sociedade ocidental, questionar o cristianismo e os abusos da Ciência. Há, 
também, uma crítica especialmente forte quanto à Política, que sofreu tantas 
reviravoltas nesse período no Ocidente. 
Uma das correntes filosóficas dessa época é o Idealismo. Explicaremos sobre 
essa abaixo: 
8.1 Idealismo 
O Idealismo é uma corrente filosófica que emergiu apenas com o advento da 
modernidade, uma vez que a posição central da subjetividade é fundamental na 
modernidade. Seu oposto é o materialismo. 
Tendo suas origens a partir da revolução filosófica iniciada por Descartes, 
associada a Kant até Hegel, que seria talvez o último grande idealista da modernidade. 
Muitos, ainda, acreditam que a teoria das ideias de Platão é historicamente a primeira 
 
 
14 
 
dos idealismos, em que a verdadeira realidade está no mundo das ideias, das formas 
inteligíveis, acessíveis apenas à razão. 
8.2 Definição de idealismo 
É muito difícil resumir o pensamento idealista, uma vez que há divergências de 
perspectivas teóricas entre os filósofos idealistas. De todo modo, podemos considerar 
o primado do Eu subjetivo como central em todo idealismo, o que não significa 
necessariamente reduzir a realidade ao pensamento. Assim, na filosofia idealista, o 
postulado básico é que Eu sou Eu, no sentido de que o Eu é objeto para mim (Eu). 
Ou seja, a velha oposição entre sujeito e objeto se revela no idealismo como incidente 
no interior do próprio eu, uma vez que o próprio Eu é o objeto para o sujeito (Eu). 
8.3 Ideias básicas do Idealismo 
1. Qualquer teoria filosófica em que o mundo material, objetivo, exterior só pode 
ser compreendido plenamente a partir de sua verdade espiritual, mental ou subjetiva. 
Seus opostos seriam representados pelo realismo ('na filosofia moderna') e 
materialismo; 
1.1 No sentido ontológico, doutrina filosófica, cujo exemplo mais conhecido é o 
platonismo, segundo a qual a realidade apresenta uma natureza essencialmente 
espiritual, sendo a matéria uma manifestação ilusória, aparente, incompleta, ou mera 
imitação imperfeita de uma matriz original constituída de formas ideais inteligíveis e 
intangíveis; 
1.2. No sentido epistemológico, tal como ocorre no kantismo, teoria que 
considera o sentido e a inteligibilidade de um objeto de conhecimento dependente do 
sujeito que o compreende, o que torna a realidade cognoscível heterônoma, carente 
de autossuficiência, e necessariamente redutível aos termos ou formas ideais que 
caracterizam a subjetividade humana; 
1.3 No âmbito prático, cujo exemplo mais notório é o da ética kantiana, doutrina 
que supõe o caráter fundamental dos ideais de conduta como guias da ação humana, 
a despeito de uma possível ausência de exeqüibilidade integral ou verificabilidade 
empírica em tais prescrições morais. 
 
 
15 
 
2 Propensão a idealizar a realidade ou a deixar-se guiar mais por ideais do que 
por considerações práticas; 
3 Teoria ou prática que valoriza mais a imaginação do que a cópia fiel da 
natureza. Seu oposto seria o realismo. 
Idealismo absoluto: Doutrina idealista inerente ao hegelianismo, 
caracterizada pela suposição de que a única realidade plena e concreta é de natureza 
espiritual, sendo a compreensão materialística ou sensível dos objetos um estágio 
pouco evoluído e superável no paulatino desenvolvimento cognitivo da subjetividade 
humana. 
Idealismo dogmático: Idealismo, especialmente o berkelianismo, que se 
caracteriza por negar a existência dos objetos exteriores à subjetividade humana 
[Termo cunhado pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) para designar uma 
orientação idealista com a qual não concorda.]. Seu oposto seria o idealismo 
transcendental. 
 
Idealismo imaterialista: Idealismo defendido por Berkeley (1685-1753) que, 
partindo de uma perspectiva empirista, na qual a realidade se confunde com aquilo 
que dela se percebe, conclui que os objetos materiais se reduzem a ideias na mente 
de Deus e dos seres humanos; berkelianismo, imaterialismo. 
Idealismo transcendental (também chamado formal ou crítico): Doutrina 
kantiana, segundo a qual os fenômenos da realidade objetiva, por serem incapazes 
de se mostrar aos homens exatamente tais como são, não aparecem como coisas-
em-si, mas como representações subjetivas construídas pelas faculdades humanas 
de cognição. Seu opostoseria o idealismo dogmático. 
9 RENÉ DESCARTES: UMA BREVE BIOGRAFIA 
Uma personalidade dominante da história intelectual ocidental, René Descartes 
foi um filósofo, fisiologista e matemático francês, nascido em 31 de março de 1596, 
em La Haye, na província de Touraine. Ele foi um contemporâneo de Galileu e Pascal 
e, portanto trabalhou sob as mesmas influências religiosas repressoras da Inquisição. 
Cedo em sua vida, pouco após ter se alistado no exército, em 1617, Descartes 
descobriu que tinha talento para matemática, de modo que ele passou a maior parte 
 
 
16 
 
de seus anos militares e subsequentes (ele pediu demissão quatro anos mais tarde) 
estudando matemática pura, especialmente geometria analítica, que se tornou o 
campo ao qual fez suas maiores contribuições. Em 1626 ele se estabeleceu em Paris, 
mas foi persuadido a mudar-se para a Holanda em 1628, país que estava, então, no 
auge do seu poder. Ali ele morou e trabalhou pelos próximos 20 anos, devotando seu 
tempo e esforços ao estudo da matemática e filosofia, na perseguição da verdade. Em 
1649, foi convidado para ser professor da Rainha Cristina da Suécia, mudando-se 
para Estocolmo, mas morreu poucos meses após chegar, de pneumonia aguda, em 
11 de fevereiro de 1650. 
Os trabalhos de Descartes em filosofia e ciência foram publicados em cinco 
livros: Le Monde (O Mundo), uma tentativa de descrever o universo físico, o Discours 
de la Méthode Pour Bien Conduire Sa Raison et Chercher La Vérité Dans Les 
Sciences (Discurso sobre o Método de Bem Conduzir sua Razão e Procurar a Verdade 
nas Ciências), seu trabalho mais importante; Meditationes, um sumário de suas ideias 
filosóficas em epistemologia, Principia Philosophiae (Princípios da Filosofia), cuja 
maior parte foi devotada à física, especialmente as leis do movimento, e Les Passions 
de L'ame (As Paixões da Alma), sua mais importante contribuição à fisiologia e à 
psicologia. As contribuições de Descartes à física foram feitas principalmente na 
óptica, mas ele escreveu extensamente sobre muitos outros temas, incluindo biologia, 
cérebro e mente. Ele não foi um experimentalista, no entanto. 
O esteio da filosofia de Descartes pode ser resumido por sua famosa frase em 
latim: Cogito, ergo sum (penso, logo existo). Ele foi o primeiro a levantar a doutrina do 
dualismo corpo/mente, a propor uma sede física para a mente, e a maneira como ela 
se inter-relaciona com o corpo. Portanto, ele discutiu temas importantes para as 
neurociências, que vieram a dominar os quatro séculos seguintes, tais como a ação 
voluntária e involuntária, os reflexos, consciência, pensamento, emoções, e assim por 
diante. 
 
 
17 
 
10 DEUS, A CIÊNCIA E O LIVRE-ARBÍTRIO 
 
Fonte: totumuno.files.wordpress.com 
Para Descartes, o Deus criador transcende radicalmente a natureza. Deus Foi 
"inteiramente indiferente ao criar as coisas que criou". Não se submeteu a nenhuma 
verdade prévia. Em virtude do poder de seu livre-arbítrio, criou as verdades. Eis por 
que Deus quer que a soma dos ângulos de um triângulo seja igual a dois ângulos 
retos. 
Acrescentemos que, para Descartes, Deus criou o mundo instante por instante 
(é a "criação contínua"). O tempo é descontínuo e a natureza não tem nenhum poder 
próprio. As leis da natureza só são o que são a cada momento, em virtude da vontade 
do criador. É importante compreender que essa transcendência radical de Deus 
possui duas consequências fundamentais. O livre-arbítrio humano e a independência 
da ciência. 
O homem não é uma parte de Deus. A transcendência do criador afasta 
qualquer panteísmo. O homem, simples criatura ultrapassada por seu criador 
(concebo Deus porque descubro em mim a marca de sua infinitude, mas não o 
compreendo), recebo, assim, uma autonomia que será perdida no sistema panteísta 
de Spinoza. O homem é livre, pode dizer sim ou não às ordens de Deus. É certo que, 
na Quarta Meditação, Descartes fala da liberdade esclarecida, dessa liberdade que 
não pode tratar da verdade ou do bem, dessa liberdade que é antes um estado de 
 
 
18 
 
libertação do que uma decisão pura, situada além de todas as razões. Mas nos 
Princípios e sobretudo nas cartas ao Pe. Mesland, de 2 de maio de 1644 e 9 de 
fevereiro de 1645, Descartes afirma radicalmente o livre-arbítrio, o poder de recusar a 
Verdade e o Bem até mesmo na presença da evidência que se manifesta. Esses 
textos esclarecem a teoria do juízo presente na Quarta meditação. O entendimento 
concebe a verdade e é a vontade que dá as costas a ou afirma essa verdade. Deus 
propõe e o homem, por intermédio de seu livre-arbítrio, dispõe. Desse modo, Deus 
não é o culpado dos meus erros nem dos meus pecados. Sou eu que me engano, sou 
eu que peco. Meu livre-arbítrio me faz merecedor ou culpado. 
 
Do mesmo modo, a transcendência de Deus vai tornar possível uma ciência 
puramente racional e mecanicista da natureza. 
A natureza, segundo Descartes, não possui dinamismo próprio. Todo 
dinamismo pertence ao criador. Na medida em que a natureza é despojada de toda 
profundidade metafísica, Descartes pode eliminar as noções aristotélicas e medievais 
de forma, alma, ato e potência. Toda finalidade desaparece e a natureza é reduzida a 
um mecanicismo inteiramente transparente para a linguagem matemática. A natureza 
nada tem de divino, é um objeto criado, situado no mesmo plano da inteligência 
humana, e, por conseguinte, inteiramente entregue à sua exploração. Isto consiste, 
ao mesmo tempo, na rejeição de todo naturalismo pagão (a natureza não é uma 
deusa) e na fundamentação metafísica do racionalismo científico. 
Nem tudo tem o mesmo valor na obra científica de Descartes. Se sua ótica e 
suas considerações sobre a expressão algébrica das curvas (ele é, juntamente com 
Fermat, o inventor da geometria analítica) constituem incontestável contribuição 
científica, sua física (dada, aliás, mais como uma possibilidade racional do que como 
a verdade certa) não passa de um romance. Mas o espírito dessa física e da fisiologia 
cartesiana - que não passa de um capítulo da física - nada mais é do que o espírito 
do mecanicismo. Quando Descartes declara que os animais são máquinas, ele coloca, 
em princípio, que é possível explicar as funções fisiológicas por intermédio de 
mecanismos semelhantes àqueles que fazem mover os autômatos que vemos "nos 
jardins de nossos reis". O detalhe das explicações não passa de um sonho. Mas a 
direção tomada é a ciência moderna. Para Descartes, o mundo físico não possui 
 
 
19 
 
mistérios. As coisas se determinam reciprocamente (leis do choque), por contato 
direto, num espaço em que não existe o vazio. 
11 O PROBLEMA DO HOMEM: A MORAL 
No Discurso sobre o Método, Descartes adota uma moral provisória - pois a 
ação não pode esperar que a filosofia cartesiana engendrasse uma nova moral. 
Recordemos seus três preceitos: 
Submeter-se aos usos e costumes de seu país. 
Antes mudar os próprios desejos que a ordem do mundo e vencer-se a si 
próprio do que à fortuna. 
Ser sempre firme e resoluto em suas ações; saber decidir-se mesmo na 
ausência de toda evidência, à semelhança do viajante perdido na floresta que, ao 
invés de ficar fazendo voltas, adota uma direção qualquer e nela se mantém! (O 
cartesianismo, antes de ser uma filosofia da inteligência, é uma filosofia da vontade). 
É certo que a moral definitiva de Descartes não apresenta uma unidade 
perfeita. Influências estoicas, epicuristas e cristãs estão presentes nela. Mas, na 
realidade, essa complexidade reflete a própria complexidade da condição humana. 
No plano das ideias claras e distintas, Descartes separa claramente as duas 
substâncias, alma e corpo: a essência da alma é pensar; a do corpo é ser um objeto 
no espaço. E no entanto, o pensamento está preso a esse fragmento de extensão. A 
alma age sobre o corpo e este age sobre ela. (Para Descartes, o ponto de aplicação 
da alma ao corpo é a glândula pineal,isto é, a epífise.) Mas isso não esclarece a união 
da alma e do corpo, que é um fato de experiência, puramente vivido e ininteligível. 
Na medida em que Descartes considera o homem no que ele tem de essencial, 
enquanto espírito, ou quando se ocupa do composto humano, sua moral assume 
aspectos diferentes: 
Consideremos o homem enquanto espírito, enquanto liberdade: o valor 
supremo é a generosidade. "A verdadeira generosidade que faz com que um homem 
se estime, no ponto máximo em que ele pode legitimamente estimar-se, consiste, em 
parte, na consciência de que nada lhe pertence verdadeiramente, exceto essa livre 
disposição de suas vontades... e em parte no sentimento de uma firme e constante 
 
 
20 
 
resolução de bem usá-la, isto é, de nunca lhe faltar vontade para empreender e 
executar todas as coisas que julgar melhores, o que é seguir a virtude perfeitamente". 
Se considerarmos o homem enquanto espírito unido a um corpo, somos 
obrigados a levar em conta as paixões, isto é, a afetividade em sentido amplo. Paixão 
é, para Descartes, tudo o que o corpo determina na alma. E Ele, que nada tem de 
asceta, acha que devemos antes dominá-las do que desenvolvê-las. Isso porque ele 
se coloca do ponto de vista da felicidade. O bom funcionamento do corpo, as ligações 
harmoniosas entre os espíritos animais e os pensamentos humanos são altamente 
desejáveis. A moral surge, então, como uma técnica de felicidade e, nessa técnica, a 
medicina desempenha importante papel. A moral surge aqui como uma aplicação 
direta ao mecanicismo cartesiano. 
12 UTILITARISMO 
Em Filosofia, o utilitarismo é uma doutrina ética que prescreve a ação (ou 
inação) de forma a aperfeiçoar o bem-estar do conjunto dos seres envolvidos. O 
utilitarismo é então uma forma de consequencialismo, ou seja, ele avalia uma ação 
(ou regra) unicamente em função de suas consequências. 
Filosoficamente, pode-se resumir a doutrina utilitarista pela frase: Agir sempre 
de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (Princípio do bem-estar 
máximo). 
Trata-se então de uma moral eudemonista, mas que, ao contrário do egoísmo, 
insiste no fato de que devemos considerar o bem-estar de todos e não o de uma única 
pessoa. 
Antes de quaisquer outros, foram Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart 
Mill (1806-1873) que sistematizaram o princípio da utilidade e o aplicaram a 
questões concretas – sistema político, legislação, justiça, política econômica, 
liberdade sexual, emancipação feminina, etc. 
Em Economia, o utilitarismo pode ser entendido como um princípio ético no 
qual o que determina se uma decisão ou ação é correta, é o benefício intrínseco 
exercido à coletividade, ou seja, quanto maior o benefício coletivo, tanto melhor a 
decisão ou ação. 
 
 
21 
 
12.1 Princípio da Utilidade 
 
Fonte: pt.wikipedia.org 
John Stuart Mill foi um dos filósofos que se debruçaram sobre o princípio da 
utilidade Bentham expõe o conceito central da utilidade no primeiro capítulo do livro 
Introduction to the Principles of Morals and Legislation (―Introdução aos princípios da 
moral e legislação‖), da seguinte forma: 
― Por princípio da utilidade, entendemos o princípio segundo o qual toda ação, 
qualquer que seja, deve ser aprovada ou rejeitada em função de sua tendência de 
aumentar ou reduzir o bem-estar das partes afetadas pela ação. (...) Designamos por 
utilidade a tendência de alguma coisa em alcançar o bem-estar, o bem, o belo, a 
felicidade, as vantagens, etc. “O conceito de utilidade não deve ser reduzido ao 
sentido corrente de modo de vida com um fim imediato". 
12.2 Perspectiva moral e política: Características gerais 
O utilitarismo, concebido como um critério geral de moralidade pode e deve ser 
aplicado tanto às ações individuais quanto às decisões políticas, tanto no domínio 
econômico quanto nos domínios sociais ou judiciários. O Utilitarismo é um tipo de ética 
normativa -- com origem nas obras dos filósofos e economistas ingleses do século 
XVIII e XIX, Jeremy Bentham e John Stuart Mill, -- segundo a qual uma ação é 
moralmente correta se tende a promover a felicidade e condenável se tende a produzir 
a infelicidade, considerada não apenas a felicidade do agente da ação, mas também 
a de todos os afetados por ela. 
 
 
22 
 
O utilitarismo rejeita o egoísmo, opondo-se a ideia de que o indivíduo deva 
perseguir seus próprios interesses, mesmo à custa dos outros, e se opõe também a 
qualquer teoria ética que considere ações ou tipos de atos como certos ou errados 
independentemente das consequências que eles possam ter. 
O utilitarismo assim difere radicalmente das teorias éticas que fazem o caráter 
de bom ou mal de uma ação depender do motivo do agente porque, de acordo com o 
Utilitarismo, é possível que uma coisa boa venha a resultar de uma motivação ruim no 
indivíduo. 
Antes, porém, desses dois autores darem forma ao Utilitarismo, o pensamento 
utilitarista já existia, inclusive na filosofia antiga, principalmente no de Epicuro e seus 
seguidores na Grécia antiga. E na Inglaterra, alguns historiadores indicam o Bispo 
Richard Cumberland, um filósofo moralista do século XVII, como o primeiro a 
apresentar uma filosofia utilitarista. Uma geração depois, Francis Hutcheson, com sua 
teoria do "sentido interior da moralidade" ("moral sense") manteve uma posição 
utilitarista mais clara. Ele cunhou a frase utilitarista de que "a melhor ação é a que 
busca a maior felicidade para o maior número de indivíduos". Também propôs uma 
forma de "aritmética moral" para cálculo da melhor consequência possível. David 
Hume tentou analisar a origem das virtudes em termos de sua contribuição útil. 
O próprio Bentham disse haver descoberto o "princípio de utilidade" nos 
escritos de vários pensadores do século XVIII como Joseph Priestley, um clérigo 
dissidente famoso por haver descoberto o oxigênio, e Claude-Adrien Helvétius, autor 
de uma filosofia de meras sensações, de Cesare Beccaria, jurista italiano, e de David 
Hume. Helvétius foi posterior a Hume e deve ter conhecido seu pensamento, e 
Beccária o de Helvétius. 
Outro apoio ao Utilitarismo é o de natureza teológica, devido a John Gay, um 
filósofo estudioso da Bíblia que argumentava que fazer a vontade de Deus era o único 
critério de virtude, mas que, devido à bondade divina, ele concluía que Deus desejava 
que o homem promovesse a felicidade humana. 
Bentham, que aparentemente acreditava que o indivíduo, no governo de seus 
atos iria sempre buscar maximizar seu próprio prazer e minimizar seu sofrimento, 
colocou no prazer e na dor ambos a causa das ações humanas e as bases de um 
critério normativo da ação. 
 
 
23 
 
À arte de alguém governar suas próprias ações, Bentham chamou "ética 
particular". Neste caso a felicidade do agente é o fator determinante; a felicidade dos 
outros governa somente até o ponto em que o agente é motivado por simpatia, 
benevolência, ou interesse na boa vontade e opinião favorável dos outros. 
Para Bentham, a regra de se buscar a maior felicidade possível para o maior 
número possível de pessoas devia ter papel primordial na arte de legislar, na qual o 
legislador buscaria maximizar a felicidade da comunidade inteira criando uma 
identidade de interesses entre cada indivíduo e seus companheiros. Aplicando penas 
por atos mal-intencionados, o legislador seria prejudicial para um homem que 
causasse danos ao seu vizinho. O trabalho filosófico mais importante de Bentham, An 
Introduction to the Principles of Morals and Legislation ("Uma introdução aos princípios 
de moral e legislação"), de 1789, foi pensado como uma introdução a um projeto de 
Código Penal. 
Jeremy Bentham atraiu jovens intelectuais como discípulos, entre eles o 
economista David Ricardo, James Mill e o jurista John Austin. Mais tarde John Stuart 
Mill, filho de James Mill, defendia o voto feminino, a educação paga pelo Estado para 
todos, e outras propostasradicais para sua época, com base na visão utilitarista de 
que tais medidas eram essenciais à felicidade e bem estar de todos, assim como 
também a liberdade de expressão e a não interferência do governo quando o 
comportamento individual não afetasse as outras pessoas. Seu ensaio "Utilitarianism," 
publicado no Fraser's Magazine (1861), é citado como uma elegante defesa da 
doutrina Utilitarista e considerada ser ainda a melhor introdução ao assunto, 
apresentando o Utilitarismo como uma ética tanto para o comportamento do indivíduo 
comum quanto para a legislação social. 
13 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO UTILITARISMO 
Cinco princípios fundamentais são comuns a todas as versões do utilitarismo: 
 Princípio do bem-estar (the greatest happiness principle em inglês) – O ―bem é 
definido como sendo o bem-estar. Diz-se que o objetivo pesquisado em toda ação 
moral se constitui pelo bem-estar (físico, moral, intelectual). 
 Consequencialismo – As consequências de uma ação são a única base permanente 
para julgar a moralidade desta ação. O utilitarismo não se interessa desta forma pelos 
 
 
24 
 
agentes morais, mas pelas ações – as qualidades morais do agente não interferem 
no ―cálculo‖ da moralidade de uma ação, sendo então indiferente se o agente é 
generoso, interessado ou sádico, pois são as consequências do ato que são morais. 
Há uma dissociação entre a causa (o agente) e as consequências do ato. Assim, para 
o utilitarismo, dentro de circunstâncias diferentes um mesmo ato pode ser moral ou 
imoral, dependendo se suas consequências são boas ou más. 
 Princípio da agregação – O que é levado em conta no cálculo é o saldo líquido (de 
bem-estar, numa ocorrência) de todos os indivíduos afetados pela ação, 
independentemente da distribuição deste saldo. O que conta é a quantidade global de 
bem-estar produzida, qualquer que seja a repartição desta quantidade. Sendo assim, 
é considerado válido sacrificar uma minoria, cujo bem-estar será diminuído, a fim de 
aumentar o bem-estar geral. Esta possibilidade de sacrifício se baseia na ideia de 
compensação: a desgraça de uns é compensada pelo bem-estar dos outros. Se o 
saldo de compensação for positivo, a ação é julgada moralmente boa. O aspecto dito 
sacrificial é um dos mais criticados pelos adversários do utilitarismo. 
 Princípio de otimização - O utilitarismo exige a maximização do bem-estar geral, o 
que não se apresenta como algo facultativo, mas sim como um dever. 
 Imparcialidade e universalismo - Os prazeres e sofrimentos são considerados da 
mesma importância, quaisquer que sejam os indivíduos afetados. O bem-estar de 
cada um tem o mesmo peso dentro do cálculo do bem-estar geral. 
Este princípio é compatível com a possibilidade de sacrifício. A princípio, todos 
têm o mesmo peso, e não se privilegia ou se prejudica ninguém – a felicidade de um 
rei ou de um cidadão comum são levadas em conta da mesma maneira. 
O aspecto universalista consiste numa atribuição de valores do bem-estar que 
é independente das culturas ou das particularidades regionais. Como o universalismo 
de Kant, o utilitarismo pretende definir uma moral que valha universalmente. 
13.1 O cálculo utilitarista 
Um dos traços importantes do utilitarismo é seu racionalismo. A moralidade 
de um ato é calculada, ela não é determinada a partir de princípios diante de um valor 
intrínseco. Este cálculo leva em conta as consequências do ato sobre o bem-estar do 
 
 
25 
 
maior número de pessoas. Ele supõe então a possibilidade de se calcular as 
consequências de um ato, e avaliar seu impacto sobre o bem-estar dos indivíduos. 
Para alguns utilitaristas, como o filósofo Peter Singer, o cálculo utilitarista de 
prazer e dor deve incluir todos os seres dotados de sensibilidade, sendo legítimo 
assim incluir os animais no cálculo da moralidade de um ato. Singer se refere ao 
cálculo utilitarista que seja exclusivo para o ser humano, como uma forma de 
"especismo", ou seja, preconceito de espécie. 
 
14 EXISTENCIALISMO 
O existencialismo é uma corrente filosófica e literária que destaca a liberdade 
individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser humano. O existencialismo 
considera cada homem como um ser único que é mestre dos seus atos e do seu 
destino. 
O existencialismo afirma a prioridade da existência sobre a essência, segundo 
a célebre definição do filósofo francês Jean-Paul Sartre: "A existência precede e 
governa a essência." Essa definição funda a liberdade e a responsabilidade do 
homem, visto que este existe sem que seu ser seja pré-definido. Durante a existência, 
à medida que se experimentam novas vivências redefine-se o próprio pensamento (a 
sede intelectual, tida como a alma para os clássicos), adquirindo-se novos 
conhecimentos a respeito da própria essência do que é o homem. Esta característica 
do ser é fruto da liberdade de eleição. Sartre, após ter feito estudos sobre 
fenomenologia na Alemanha, criou o termo utilizando a palavra francesa "existence" 
como tradução da expressão alemã "Da sein", termo empregado por Heidegger em 
Ser e tempo. 
Após a Segunda Guerra Mundial, uma corrente literária existencialista contou 
com Albert Camus e Boris Vian, além do próprio Sartre. É importante notar que Albert 
Camus, filósofo além de literato, ia contra o existencialismo, sendo este somente 
característica de sua obra literária. Vian definia-se patafísico. 
 
 
26 
 
14.1 Origem 
O existencialismo foi inspirado nas obras de Arthur Schopenhauer, Søren 
Kierkegaard, Fiódor Dostoiévski e nos filósofos alemães Friedrich Nietzsche, Edmund 
Husserl e Martin Heidegger, e foi particularmente popularizado em meados do século 
XX pelas obras do escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre e de sua companheira, 
a escritora e filósofa Simone de Beauvoir. Os mais importantes princípios do 
movimento são expostos no livro de Sartre "L'Existentialisme est un humanisme" ("O 
existencialismo é um humanismo"). O termo existencialismo foi adotado apesar de 
haver o termo: existência filosófica, usado inicialmente por Karl Jaspers, da mesma 
tradição. 
14.2 História do Existencialismo 
O existencialismo é um movimento filosófico e literário distinto pertencente aos 
séculos XIX e XX, mas os seus elementos podem ser encontrados no pensamento (e 
vida) de Sócrates, Aurélio Agostinho e no trabalho de muitos filósofos e escritores pré-
modernos. Culturalmente, podemos identificar pelo menos duas linhas de pensamento 
existencialista: Alemã-Dinamarquesa e Anglo-Francesa. As culturas judaica e russa 
também contribuíram para esta filosofia. Após ter experienciado vários distúrbios civis, 
guerras locais e duas guerras mundiais, algumas pessoas na Europa foram forçadas 
a concluir que a vida é inerentemente miserável e irracional. Heidegger e Kierkegaard 
foram os pioneiros neste debate sobre a crise da existência humana. Hoje, o 
existencialismo não morreu de fato, pelo contrário, continua a produzir, quer na 
filosofia, quer na literatura, no cinema, ou até na ideologia de vida. 
14.3 Temáticas 
Os temas existencialistas são férteis no terreno da criação literária, 
nomeadamente na literatura francesa, e continuam a exibir vitalidade no mundo 
filosófico e literário contemporâneo. 
As principais temáticas abordadas sugerem o contexto da sua aparição (final 
da Segunda Guerra Mundial), refletindo o absurdo do mundo e da barbárie 
injustificada, das situações e das relações quotidianas ("L'enfer, c'est les autres", ["O 
 
 
27 
 
inferno são os outros"], Jean-Paul Sartre). Paralelamente, surgem temáticas como o 
silêncio e a solidão, corolários óbvios de vidas largadas ao abandono, depois da 
"morte de Deus" (Friedrich Nietzsche). A existência humana, em toda a sua natureza, 
é questionada: quem somos? O que fazemos? Para onde vamos? Quem nos move? 
É esta consciência aguda de abandono e de solidão (voluntária ou não), de 
impotência e de injustificabilidadedas ações, que se manifesta nas principais obras 
desta corrente em que o filosófico e o literário se conjugam. 
14.4 Relação com a religião 
Apesar de muitos, senão a maioria, dos existencialistas terem sido ateístas, os 
autores Soren Kierkegaard, Karl Jaspers e Gabriel Marcel propuseram uma versão 
mais teológica do existencialismo. O ex-marxista Nikolai Berdyaev desenvolveu uma 
filosofia do Cristianismo existencialista na sua terra natal, Rússia, e mais tarde na 
França, na véspera da Segunda Guerra Mundial. 
14.5 Fé e existencialismo 
O existencialismo não é uma simples escola de pensamento, livre de qualquer 
e toda forma de fé. Ajuda a entender que muitos dos existencialistas eram, de fato, 
religiosos. Pascal e Kierkegaard eram cristãos dedicados. Pascal era católico, 
Kierkegaard, um protestante radical marcado pelo ríspido antagonismo com a igreja 
luterana. Dostoiévski era greco-ortodoxo, a ponto de ser fanático. Kafka era judeu. 
Sartre realmente não acreditava em força divina. Sartre não foi criado sem religião, 
mas a Segunda Guerra Mundial e o constante sofrimento no mundo levaram-no para 
longe da fé, de acordo com várias biografias, incluindo a de sua companheira, Simone 
de Beauvoir. Curiosamente, Sartre passou seus últimos anos de vida explorando 
assuntos de fé com um judeu ortodoxo. Apenas podemos imaginar suas conversas, 
já que Sartre não as registrou. 
Para os existencialistas cristãos, a fé defende o indivíduo e guia suas decisões 
com um conjunto rigoroso de regras em algumas vertentes cristãs e para outras como 
o espiritismo, as decisões são guiadas pelo pensamento, pela alma. Para os ateus, a 
"ironia" é a de que não importa o quanto você faça para melhorar a si ou aos outros, 
 
 
28 
 
você sempre vai se deteriorar e morrer. Muitos existencialistas acreditam que a grande 
vitória do indivíduo é perceber o absurdo da vida e aceitá-la. Resumindo, você vive 
uma vida miserável, pela qual você pode ou não ser recompensado por uma força 
maior. Se essa força existe, por que os homens sofrem? Se não existe, por que não 
cometer suicídio e encurtar seu sofrimento? Essas questões apenas insinuam a 
complexidade do pensamento existencialista. 
14.6 A existência precede e governa a essência. 
É um conceito da corrente filosófica existencialista. A frase foi primeiramente 
formulada por Jean-Paul Sartre, e é um dos princípios fundamentais do 
existencialismo. 
O indivíduo, no princípio, somente tem a existência comprovada. Com o passar 
do tempo ele incorpora a essência em seu ser. Não existe uma essência pré-
determinada. 
Com esta frase, os existencialistas rejeitam a ideia de que há no ser humano 
uma alma imutável, desde os primórdios da existência até a morte. Esta essência será 
adquirida através da sua existência. O indivíduo por si só define a sua realidade. 
Em 1946, no "Club Maintenant" em Paris, Jean Paul Sartre pronuncia uma 
conferência, que se tornou um opúsculo com o nome de "O Existencialismo é um 
Humanismo". Nele, ele explica a frase, desta forma: "... se Deus não existe, há pelo 
menos um ser, no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de 
poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz 
Heidegger, a realidade humana. Que significa então que a existência precede a 
essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no 
mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se 
não é definível, é porque primeiramente é nada. Só depois será, e será tal como a si 
próprio se fizer.”. 
14.7 Liberdade 
Com essa afirmação vemos o peso da responsabilidade por sermos totalmente 
livres. E, frente a essa liberdade de eleição, o ser humano se angustia, pois a liberdade 
 
 
29 
 
implica fazer escolhas, as quais só o próprio indivíduo pode fazer. Muitos de nós 
ficamos paralisados e, dessa forma, nos abstemos de fazer as escolhas necessárias. 
Porém, a "não ação", o "nada fazer", por si só, já é uma escolha; a escolha de não 
agir. A escolha de adiar a existência, evitando os riscos, a fim de não errar e gerar 
culpa, é uma tônica na sociedade contemporânea. Arriscar-se, procurar a 
autenticidade, é uma tarefa árdua, uma jornada pessoal que o ser deve empreender 
em busca de si mesmo. 
Os existencialistas perguntaram-se se havia um Criador. Se sim, qual é a 
relação entre a espécie humana e esse criador? As leis da natureza já foram pré-
definidas e os homens têm que se adaptar a elas? Esses homens estiveram tão 
dedicados aos seus estudos que se tornaram antissociais, enquanto se preocupavam 
com a humanidade. 
Kierkegaard, Nietzsche e Heidegger são alguns dos filósofos que mais 
influenciaram o existencialismo. Os dois primeiros se preocupavam com a mesma 
questão: o que limita a ação de um indivíduo? Kierkegaard chegou à possibilidade de 
que o cristianismo e a fé em geral são irracionais, argumentando que provar a 
existência de uma única e suprema entidade é uma atividade inútil. 
Nietzsche, frequentemente caracterizado como ateu, foi, sobretudo um crítico 
da religião organizada e das doutrinas de seu tempo. Ele acreditou que a religião 
organizada, especialmente a Igreja Católica e Protestante, era contra qualquer poder 
de ganho ou autoconfiança sem consentimento. Nietzsche usou o termo rebanho para 
descrever a população que, de boa vontade, segue a Igreja. Ele argumentou que 
provar a existência de um criador não era possível nem importante. 
Na verdade, Nietzsche valorizava e exaltava a vida como única entidade que 
merecia louvor. Prova disso é o eterno retorno em que ele afirmava que o homem 
deveria viver a vida como se tivesse que vivê-la nova e eternamente. A implicação 
disso é uma extrema valorização da vida, imaginemos cada segundo, cada minuto 
vivido igual e eternamente? E quanto à Igreja, Nietzsche a condenava, pois ela é um 
traço das influências que negavam o valor da vida na sociedade contemporânea; ele 
era sim ateu, e para ele, dentre os mais inteligentes, o pior era o padre, pois 
conseguia incutir nos pensamentos do rebanho, fundamentos falsos, exteriores e 
metafísicos demais, que só contribuíam para o afastamento da vida. 
 
 
30 
 
14.8 O Indivíduo versus a Sociedade 
O existencialismo representa a vida como uma série de lutas. O indivíduo é 
forçado a tomar decisões e frequentemente as escolhas são ruins. Nas obras de 
alguns pensadores, parece que a liberdade e a escolha pessoal são as sementes da 
miséria. A maldição do livre arbítrio foi de particular interesse dos existencialistas 
teológicos e cristãos. 
As regras sociais são o resultado da tentativa dos homens de planejar um 
projeto funcional. Ou seja, quanto mais estruturada a sociedade, mais funcional ela 
deveria ser. 
Os existencialistas explicam por que algumas pessoas se sentem atraídas à 
passividade moral baseando-se no desafio de tomar decisões. Seguir ordens é fácil; 
requer pouco esforço emocional e intelectual fazer o que lhe mandam. Se a ordem 
não é lógica, não é o soldado que deve questionar. Deste modo, as guerras podem 
ser explicadas, genocídios em massa podem ser entendidos. As pessoas estavam 
apenas fazendo o que lhes fora mandado fazer. 
14.9 Importantes Filósofos para o Existencialismo 
 Martin Heidegger 
 Jean-Paul Sartre 
 Søren Kierkegaard 
 Edmund Husserl 
 Friedrich Nietzsche 
 Arthur Schopenhauer 
 Martin Buber 
 
Há duas linhas existencialistas famosas, quer de impulsionadores, quer de 
existencialistas propriamente ditos. 
A primeira, de Kierkegaard, Schopenhauer, Nietzsche e Heidegger é agrupada 
intelectualmente. Esses homens são os pais do existencialismo e dedicaram-se a 
estudar a condição humana. A segunda, de Sartre, Camus e Beauvoir, era uma linha 
 
 
31 
 
marcada pelo compromisso político. Enquanto outras pessoas entraram e saíram, 
esses sete indivíduos definiram o existencialismo.O filosofar heideggeriano é uma constante interrogação, na procura de revelar 
e levar à luz da compreensão o próprio objeto que decide sobre a estrutura dessa 
interrogação, e que orienta as cadências do seu movimento: a questão sobre o Ser. 
A meta de Heidegger é penetrar na filosofia, demorar nela, submeter seu 
comportamento às suas leis. O caminho seguido por ele deve ser, portanto, de tal 
modo e com tal direção, que aquilo de que a Filosofia trata atinja nossa 
responsabilidade, vise a nós homens, nos toque e, justamente, nos transforme. 
O pensamento de Heidegger é um retorno ao fundamento da metafísica num 
movimento problematizador, uma meditação sobre a Filosofia no sentido daquilo que 
permanece fundamentalmente velado. 
A Filosofia sobre a qual ele nos convida a meditar é a grande característica da 
inquietação humana em geral, a questão sobre o Ser, ou seja, o que significa ―estar 
no mundo ou ―ser no mundo. 
 
 
 
32 
 
 
15 LEITURA COMPLEMENTAR 
Autor: Rodrigo Bentes Monteiro1 
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
87752007000100008 
Data do acesso: 09/05/2016 
16 AS REFORMAS RELIGIOSAS NA EUROPA MODERNA NOTAS PARA UM 
DEBATE HISTORIOGRÁFICO 
RESUMO 
O artigo, como um verbete destinado aos cursos em História, pretende analisar 
a produção historiográfica, sobretudo europeia, acerca das Reformas Religiosas no 
início da Europa Moderna. Evidencia a crítica de abordagens mais tradicionais 
adotadas por autores comprometidos com sua fé, e os estudos meramente 
institucionais, doutrinários ou funcionalistas. O artigo destaca a atenção dada por 
historiadores do século XX ao contexto da "pré-reforma", à intensa devoção religiosa 
então vivida, e à conexão entre aspectos da vida religiosa, cultural, política e social da 
Europa Moderna. 
Palavras-chave: Reformas Religiosas, Europa Moderna, debate 
historiográfico 
ABSTRACT 
The article, as an introduction aimed to the course in History, intends to analyze 
the European historical production, related to the Religious Reformation in the Early 
Modern Europe. It focuses the more traditional approaches adopted by authors 
 
1 Doutor em História Social - Universidade de São Paulo. Departamento de História 
- Universidade Federal Fluminense. 
 
 
33 
 
compromised with their own faith and on merely institutional, theological and functional 
studies. The article points to the attention given by the XX th Century historians, to the 
"pre-reformation" context, to the profound faith of the time, and to the connection of the 
religious, cultural, political and social aspects of life in Modern Europe. 
Key words: Religious Reformation, Modern Europe, historical debate 
No século XVIII, com o surgimento da filosofia da história em meio ao ambiente 
iluminista potencialmente revolucionário e ante eclesiástico, o movimento conhecido 
como Reforma protestante era inserido no processo de modernização da sociedade 
ocidental, conforme as ideias de Hegel. Era a "mundanização positiva", diferente da 
conotação negativa atribuída pelo filósofo alemão ao contexto anterior da Escolástica. 
Enquanto estudiosos laicos entendiam a Reforma como fundação do caminho para a 
liberdade, católicos ultramontanos, defensores da infalibilidade papal, observavam-na 
como um equívoco que desestabilizou princípios de autoridade, ordem social e 
disciplina, característicos da cristandade medieval. 
Na primeira metade dos Oitocentos, Leopold von Ranke inaugurou uma 
abordagem menos confessional e apologética, concomitante ao estabelecimento da 
História como disciplina e aos propósitos nacionais e políticos da Prússia após o 
Congresso de Viena, em 1815. No preâmbulo de sua história sobre os papas, as 
nações nórdicas e mediterrânicas ocultavam a tradicional dicotomia entre católicos e 
protestantes. Ranke queria enfatizar as relações entre setentrionais e meridionais, na 
passagem do século XV ao XVI. Mas, por trás de sua conhecida erudição no lidar com 
fatos militares, políticos e diplomáticos, subsistiam juízos de valor. Não obstante a 
aplicação do método de Barthold Niebuhr no estudo crítico das fontes, o jovem e 
fervoroso luterano centrou-se no período em que papado e império perdiam poder. 
Com a Reforma luterana, nascia a Idade Moderna, quando o "povo" se tornava 
protagonista na história. Sua concepção de História Moderna não era assim forjada 
apenas por governantes e sacerdotes. Ela harmonizava-se também às necessidades 
do Estado prussiano, cuja política eclesiástica naquele momento dependia dos 
delicados matrimônios mistos entre protestantes e novos súditos católicos, cheios de 
soberba e inspirados nas tradições renanas. Também em sua obra maior sobre a 
história alemã na época da Reforma, Ranke mal disfarçou sua admiração por Lutero, 
embora afirmasse fazer uma história desapaixonada e imparcial do papado, pois a 
Roma católica já não ameaçava a nova e grande Prússia, fortalecida desde o século 
 
 
34 
 
XVIII, até a unificação alemã em 1870-1871. Reprovava-se assim a Ranke a sua 
"malignidade protestante", bem como ter considerado a história da Igreja e da 
cristandade, mormente em seus aspectos político e institucional. 
Em 1906 o teólogo e filósofo Ernst Troeltsch - colega de Max Weber - 
apresentava seu livro sobre o protestantismo e o mundo moderno em um congresso 
de historiadores. Seu tema era a relação entre a herança religiosa do século XIV e a 
modernidade. Sem dogmatismo, o autor expôs a influência do protestantismo nas 
novas formas de ser e de pensar do final do século XVIII. Troeltsch defendia que a 
religião protestante se assemelhava ao catolicismo medieval, em seu intento por 
restaurar a cultura religiosa antiga, com a novidade de enfatizar a liberdade individual. 
Embora tenha assinalado características próprias do luteranismo e do calvinismo, 
especialmente ante as autoridades políticas, o estudo de Troeltsch, na linha de uma 
teologia liberal, caracterizou-se por ser uma reflexão geral. 
 
Fome de Deus 
 
Com efeito, o tema das Reformas Religiosas pertinente ao início da Época 
Moderna possui implicações que ultrapassam as mudanças institucionais 
eclesiásticas no século XVI, relacionando-se também a aspectos culturais, 
econômicos e de poder vividos na Europa. A historiografia nem sempre foi atenta a 
esses desdobramentos e relações, e pode-se afirmar que uma transformação 
significativa na análise das questões religiosas referentes ao século XVI começou a 
ocorrer a partir da década de trinta do século XX, com os trabalhos de Delio Cantimori, 
Lucien Febvre e Hubert Jedin, até os anos cinquenta. A explicação das novidades 
desta tríade de estudiosos e de seus respectivos desdobramentos, poderá esclarecer 
melhor o "antes" e o "depois" da produção historiográfica sobre as Reformas. 
Delio Cantimori é bastante conhecido por suas reflexões acerca dos problemas 
de periodização do Renascimento. Mas não somente. Em Umanesimo e Religione nel 
Rinascimento, o historiador italiano que propôs o termo Idade Humanística para a 
Época Moderna também procura relações entre o humanismo e a Reforma, 
concluindo que o protestantismo em seu advento representou o próprio fracasso do 
ideal humanista, da autoconfiança exacerbada no potencial do homem, otimismo 
excessivo em sua transformação através do livre arbítrio. Dessa forma, o servo 
 
 
35 
 
arbítrio de Lutero seria não apenas o antídoto contra o livre arbítrio de Erasmo – 
princípio essencial à teologia católica -, mas a confirmação da onipotência divina em 
oposição ao programa educacional encetado pelos homens do Renascimento. 
Em Storici e Storia, grande obra do estudioso acerca da discussão historiográfica 
sobre Renascimento e Reforma, Cantimori coteja as interpretações realizadas sobre 
a Reforma protestante, desde o século XIX até meados do XX. Transparece assim a 
inovaçãodo autor - também interessado em heterodoxias e heresias -, ao defender 
uma pesquisa mais argumentativa, que contemple a piedade e a sensibilidade 
religiosa, rompendo com controvérsias teológicas e eclesiásticas que caracterizavam 
muitos dos estudos. 
Lucien Febvre, como Delio Cantimori, não se particularizava por realizar uma 
história confessional – algo ainda relativamente novo entre estudiosos da Reforma – 
e como o italiano propunha também uma história da espiritualidade mais abrangente 
que as questões institucionais e teológicas vividas no século XVI, na Europa ocidental. 
No célebre estudo sobre os "problemas de conjunto", em Au Coeur Religieux du XVIe 
Siècle, publicado postumamente, este historiador interroga-se sobre as origens da 
Reforma em França. Febvre refere-se ao problema dos historiadores franceses que, 
absorvidos pelas questões da "especificidade", da "prioridade" e da "nacionalidade", 
buscavam uma origem para a Reforma francesa em Lefèvre d'Étaples – um dos 
primeiros "pré-huguenotes" a realizar colóquios com Margarida de Valois, objeto de 
outro livro de Febvre -, em comparação a Lutero. Ao questionar, neste caso, a validade 
da história comparada, Lucien Febvre indica que o suposto primeiro reformador 
francês não criticava os abusos da Igreja, e que o problema do surgimento da Reforma 
deveria levar em conta a intensa religiosidade vivida na Europa – inclusive na França 
– ao final do século XV e no início do século XVI: fidelidade às velhas crenças, 
devoção tradicional, a fé concretizada nos "testemunhos de pedra" do gótico tardio e 
no sucesso de obras surgidas no século XV, como a Imitação de Cristo, de Tomás de 
Kempis, que iria mais tarde conquistar a admiração de Erasmo de Rotterdam. Se a 
realidade devocional era forte, entre ela e o clero existia um abismo marcado pela 
insensibilidade. Deste modo, o historiador francês justifica o sucesso da Reforma – na 
França e alhures – mediante dois fatores: pelo surgimento da Bíblia em língua vulgar, 
e pela questão da justificativa da salvação pela fé. Em conclusivo, defende que a 
Reforma deve ser relacionada a uma crise moral e religiosa de muita gravidade que 
 
 
36 
 
assolou a Europa naquele tempo. Para compreender este fenômeno, seria preciso 
pesquisar todas as manifestações diversas então vividas, na política, na economia, 
na sociedade, na cultura intelectual e artística. Portanto, para Febvre, os historiadores 
franceses atrapalhavam-se, quando buscavam origens específicas em situações que 
eram gerais. A história da Reforma, segundo o historiador dos Annales, não poderia 
limitar-se em marcos institucionais, políticos e eclesiásticos. No entender de 
Cantimori, Febvre seria o "historiador psicólogo" atento, entretanto, às especificidades 
do homem do século XVI. 
Pode-se afirmar que Jean Delumeau desenvolveu e ampliou questões já 
estabelecidas por Lucien Febvre. Em Un Chemin d'Histoire, Chrétienté et 
Christianisation, Delumeau estuda os cristãos no tempo da Reforma e, também como 
Febvre, indaga-se sobre as causas do movimento protestante, mencionando a 
princípio duas explicações mais tradicionais: uma primeira que remete aos abusos da 
Igreja, e outra de cunho economicista, sobre a luta da burguesia contra o feudalismo. 
Delumeau argumenta que os protestos contra os abusos da Igreja não eram novidade, 
e que esta possibilidade explicativa não responde, por exemplo, ao fato de Erasmo, 
apesar de seus "protestos", ter continuado na Igreja católica, e nem à situação dos 
protestantes que não retornaram a ela quando o catolicismo se reformou. A explicação 
marxista, por sua vez, não esclarece a razão da Península Itálica, região próspera 
economicamente no início do século XVI, ligada ao comércio mercantil, ter 
permanecido católica. O historiador francês indica as fragilidades existentes neste tipo 
de discussão, mais concentrada na difusão da Reforma que em suas causas, 
negligenciando também aspectos teológicos do debate. 
A seguir Delumeau – como já o fizera Lucien Febvre – detém-se na análise dos 
comportamentos religiosos na Europa do início do século XVI. Em resumo, ele verifica 
a existência de um cristianismo popular mais íntimo e profundo, cristianismo vivido de 
forma plena – em seu aspecto formal – somente pelas elites. Tratava-se então de um 
mundo de ignorância religiosa, distante dos abusos da Igreja. O historiador refere-se, 
como exemplo, ao livro de Keith Thomas, Religion and the Decline of Magic, que 
retrata a sociedade inglesa do século XVI repleta de práticas mágicas e crenças, 
relacionadas pelo autor aos mecanismos de solidariedade aldeã, em contraposição à 
afirmação da propriedade privada e do individualismo. Processo no qual o(a) outro(a), 
o(a) estranho(a), o(a) diferente, tendia a ser acusado(a) de feitiçaria pelos vizinhos. 
 
 
37 
 
Delumeau também – repetindo Febvre – refere-se ao sucesso de Imitação de Cristo, 
obra que resume o ideal de devotamento, pobreza e piedade na Europa de então. Era 
um mundo também de medo – retomando um dos mais conhecidos temas do 
historiador abordado em La Peur en Occident, tão bem expresso pelo holandês Johan 
Huizinga, já em 1919, no seu Herfsttij der Middeleeuwen, literalmente Outono da 
Idade Média. Peste, fome e guerra estavam relacionadas ao pânico, e à superstição 
como solução para os problemas. O combate à superstição constitui outro tema 
desenvolvido por Delumeau, luta importante efetuada por Lutero e Calvino. Tentando 
analisar os escritos dos reformadores como material etnológico, o historiador francês 
concebe a Reforma como promoção da vontade cristianizadora, contra o catolicismo, 
mas também contra a idolatria, vilões não distintos para eles. 
A realidade conflituosa e mesclada em termos religiosos, recuperada por 
Delumeau, deve alertar os estudiosos do período sobre a imprudência que podem 
demonstrar ao tentar separar, sempre, o que é religioso do que émágico. São muitos 
os exemplos procedentes em relação a esta questão: o estudo de Emmanuel Le Roy 
Ladurie, Montaillou, village occitan de 1294 à 1324, demonstra que, já no final da 
Idade Média, cristão ereligioso não eram sinônimos. Em Le Carnaval de Romans. De 
la chandeleur au mercredi des cendres 1579-1580, sobre os festejos realizados 
naquela cidade francesa, que misturavam aspectos religiosos e profanos, Ladurie 
verifica a mesma dificuldade de classificação, bem percebida por Natalie Davis na 
coletânea de ensaios intitulada Society and Culture in Early Modern France, sobre a 
Reforma e os grupos sociais populares franceses no século XVI. O exemplo mais 
conhecido talvez seja o estudado por Carlo Ginzburg – discípulo de Cantimori em sua 
atenção às heresias e à micro-história - em Il Formaggio e i Vermi. Il cosmo di un 
mugnaio del 500. Na cosmologia toda especial de Menocchio, percebe-se não 
somente a circularidade cultural, mas a dificuldade de tipificação do que seria a boa 
religião, aceita pelos inquisidores. O moleiro era batizado e se confessava e, no 
entanto, foi considerado blasfemador e herege pela Igreja. O livro de Ginzburg chama 
atenção para a possibilidade de diferentes leituras sociais e culturais do cristianismo. 
Em conclusivo, na obra há pouco referida, Jean Delumeau concebe a marcha do 
cristianismo como progressiva e não triunfal dentro da cristandade, sublinhando o 
equívoco perigoso para os historiadores que lidam somente com os aspectos 
institucionais da filiação religiosa. 
 
 
38 
 
A consideração de outra obra do mesmo historiador, Le Catholicisme entre 
Luther et Voltaire, indica o caminho para a abordagem da Reforma católica, e para o 
modo como o referido autor concebe as reformas: como atos não sequenciais entre 
si, tentando entender sua gênese para além da tradicional questão em torno dos 
abusos da Igreja. Neste livro, Delumeau argumenta que a renovação da Igreja se deu 
em dois momentos, o da pré-reforma e o iniciadono Concílio de Trento (1545-1563), 
quando os prelados ali reunidos atenderam alguns pleitos de João Huss, Bernardo de 
Siena e Savonarola. O autor também chama atenção para o ambiente de solidez 
teológica da Espanha no século XVI, onde surgiu a vocação religiosa de Inácio de 
Loyola e o neotomismo da Universidade de Salamanca. Em relação ao Concílio de 
Trento, Delumeau desenvolve seu estudo em torno de uma questão: como um evento 
que contou com tantas dificuldades, que foi iniciado com tanto ceticismo e com tão 
pouco expressivo número de clérigos, como este acontecimento que enfrentou 
obstáculos por parte de soberanos europeus como Francisco I, e que precisava tanto 
do apoio dos chefes de Estado católicos, como pôde este evento marcar de tal forma 
a história da Igreja. Delumeau responde a esta questão defendendo que a grandeza 
do Concílio de Trento consistiu em atender às necessidades religiosas de seu tempo, 
tal como a Reforma protestante. Estabelece um paralelo entre o Édito de 
Nantes (1598) e este concílio, pois os dois acontecimentos efetivamente realizaram o 
que os anteriores decretos de tolerância – no caso do primeiro – e as anteriores 
reformas, no segundo, não concretizaram, permanecendo letra morta. Segundo o 
autor, a cristandade ocidental, em meados do século XVI, vivia uma mutação 
profunda, tinha "fome de Deus". Esta fome se manifestava, por um lado, pela busca 
da palavra da vida, mas também pelo pânico dos pecados. A saciedade desta fome 
pode ser percebida, após o Concílio, pelo comportamento mais moralizado de alguns 
papas, pela renovação de Roma enquanto capital religiosa, pelos sínodos, seminários 
e visitas pastorais intensificados, e pelas novas ordens religiosas criadas. Algumas 
ordens, como a dos capuchinhos e das ursulinas, precederam o próprio Concílio, 
impressionando a sensibilidade religiosa da época. Outras se destacaram pela 
pujança de suas realizações, como foi o caso notório dos jesuítas, soldados de Cristo 
que abrangeram o além-mar, e dos carmelitas descalços liderados por Teresa d'Ávila, 
renovando o catolicismo na Espanha de Felipe II. Deste modo, nesta obra, o autor 
propõe duas leituras da Reforma católica: uma sobre o endurecimento das estruturas, 
 
 
39 
 
com um clero mais firme e com ênfase na catequese; e outra, a falar de santidade e 
piedade, de exemplos heróicos testemunhados nas vidas de papas e religiosos do 
século XVI. 
Torna-se oportuno, assim, em se tratando de Reforma católica, recuperar um 
nome apenas mencionado ao início como componente de uma tríade fundamental 
para o entendimento das inovações historiográficas sobre a Reforma. Coube a Hubert 
Jedin, jesuíta alemão que conseguiu o acesso aos documentos do Concílio de Trento, 
a criação do conceito de Reforma católica, diferente de Contra-Reforma. Em sua 
história sobre o Concílio de Trento, Jedin renova os estudos da estrutura 
organizacional da Igreja no século XVI, contemplando também o período da pré-
reforma, o que possibilita pensar as mudanças vividas no papado durante os 
Quinhentos. O autor alemão enfatiza as linhas de força do Concílio, caracterizadas 
pelo reforço das escrituras e da tradição, seguindo passo a passo a marcha do evento, 
analisando a diplomacia entre Roma, Trento e Salamanca, e a influência das ideias 
erasmianas. Jedin é mencionado por Jean Delumeau como o melhor historiador da 
Reforma católica. 
Contudo, a Reforma católica, como já foi indicado, não pode ser restrita ou 
tipificada apenas pelas decisões conciliares. John Bossy, em Christianity in the West 
1400-1700, fornece-nos o interessante exemplo de uma reforma silenciosa, 
caracterizada pela investida dos clérigos em disciplinar as práticas do casamento - em 
oposição às fiançailles, que consumavam a união antes do laço institucional definitivo 
-; do batizado logo após o nascimento; da confissão periódica. Nesses casos, tratava-
se de promover a passagem de uma cristandade medieval para um moderno 
catolicismo, mediante rompimento dos vínculos de uma solidariedade grupal para uma 
delegação de responsabilidades ao indivíduo como católico. A Reforma católica em 
Portugal tem sido trabalhada por Federico Palomo com ênfase neste catolicismo 
moderno. Retomaremos essa questão tão importante sobre a "modernidade" das 
Reformas Religiosas ao final do artigo. 
Deve-se ainda mencionar, para que se tenha noção de um quadro mais rico e 
complexo acerca do universo religioso no século XVI - não necessariamente 
polarizado entre protestantismo e catolicismo -, a existência de outras correntes de 
pensamento não tão engajadas em disputas. O historiador italiano Alberto Tenenti 
desenvolveu um já clássico estudo sobre o libertinismo, publicado nos Annales, no 
 
 
40 
 
qual se faz evidente - mais uma vez - a dificuldade de classificação sobre o que seria 
herético ou ortodoxo em termos religiosos. Não obstante, o autor indica três tipos de 
libertinismo entre a metade do século XVI e o início do século XVII. Um libertinismo 
espiritual, mais relacionado aos místicos medievais; o demonstrado por Jean Bodin, 
em seuHeptaplomeres, que Tenenti relaciona a um tempo futuro, o das Luzes; e 
aquele praticado por Pierre Charron, este sim, segundo o autor, mais identificado ao 
seu tempo. Posteriormente, o libertinismo foi estudado por Sergio Bertelli, 
em Rebeldes, Libertinos y Ortodoxos en El Barroco. Este historiador italiano 
organizaria ainda o colóquio Il Libertinismo in Europa, que resultou em obra também 
publicada. 
O quadro complexo, referente ao universo religioso e cultural na Europa do 
início da Época Moderna, também deveria englobar outros movimentos, dentro do 
próprio contexto de pré-reforma no século XV, como o evangelismo e, posteriormente, 
no século XVII, o jansenismo. Também seria importante aprofundar o entendimento 
do papel fundamental desempenhado pela eloquência e pela retórica na Reforma 
católica, em especial na obra dos jesuítas, tema desenvolvido por Marc Fumaroli, 
em L'Âge d'Éloquence. 
 
Secularização desencantada 
 
Mas para se buscar coerência em relação ao sugerido, sobre a indistinção na 
Europa de início da Época Moderna entre múltiplos aspectos componentes daquele 
mundo e o tema das Reformas Religiosas, alguns estudos complementam o 
argumento proposto. 
Na segunda metade do século XX, enquanto estudiosos marxistas 
identificavam na figura de Thomas Müntzer um líder revolucionário em meio às 
guerras camponesas no século XVI, a historiografia revisionista esforçava-se por 
atacar modelos teóricos de interpretação. Em ensaio bastante divulgado, Hugh 
Trevor-Roper dialoga com a conhecida tese de Max Weber sobre a ética protestante 
e o espírito do capitalismo. Após investigar trajetórias e comportamentos de 
empresários calvinistas neerlandeses, soberanos católicos e protestantes, em meio 
à Guerra dos Trinta Anos (1618-1638) que assolou a Europa, o historiador inglês 
conclui sobre a existência de um vínculo indireto entre calvinismo e capitalismo na 
 
 
41 
 
Europa ocidental – e não direto, como advogavam interpretações marxistas e 
weberianas, ainda que de modos muito distintos. Em síntese, Trevor-Roper constata 
uma conversão generalizada de empresários "capitalistas" erasmianos (simpatizantes 
de Erasmo), perseguidos pela Igreja de Roma e desfavorecidos pelas cortes católicas, 
para o calvinismo. Esta conversão teria sido acompanhada de uma migração dos 
mesmos de países católicos para repúblicas protestantes, por conta do avanço da 
burocracia estatal das cortes europeias, que sufocava o capitalismo independente dos 
simpatizantes de Erasmo. Portanto, segundo o autor, não seria propriamente o 
catolicismo a impedir diretamente o capitalismo nas cidades do sul do Sacro Império, 
das Penínsulas Ibérica e Itálica, pois nessas regiões já existiria um "capitalismo 
medieval" feito por católicos – termo excêntrico empregado por Roper. Nessa 
perspectiva

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