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Antropologia III: Estruturalismo e Funcionalismo

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Montes Claros/MG - 2014
Carlos Caixeta de Queiroz
Leonardo Turchi Pacheco
2ª edição atualizada por 
Carlos Caixeta de Queiroz
Antropologia iii
2ª EDIÇÃO
2014
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
Ficha Catalográfica:
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
REITOR
João dos Reis Canela
VICE-REITORA
Maria Ivete Soares de Almeida
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Humberto Velloso Reis
EDITORA UNIMONTES
Conselho Consultivo
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César Henrique de Queiroz Porto
Duarte Nuno Pessoa Vieira
Fernando Lolas Stepke
Fernando Verdú Pascoal
Hercílio Mertelli Júnior
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José Geraldo de Freitas Drumond
Luis Jobim
Maisa Tavares de Souza Leite
Manuel Sarmento
Maria Geralda Almeida
Rita de Cássia Silva Dionísio
Sílvio Fernando Guimarães Carvalho
Siomara Aparecida Silva 
CONSELHO EDITORIAL
Ângela Cristina Borges
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Betânia Maria Araújo Passos
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo
César Henrique de Queiroz Porto
Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Jânio Marques Dias
Luciana Mendes Oliveira
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Maria Aparecida Pereira Queiroz
Maria Nadurce da Silva
Mariléia de Souza
Priscila Caires Santana Afonso
Zilmar Santos Cardoso
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Roselma Athayde Moraes
Waneuza Soares Eulálio
REVISÃO TÉCNICA
Karen Torres C. Lafetá de Almeida 
Káthia Silva Gomes
Viviane Margareth Chaves Pereira Reis
DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Andréia Santos Dias
Camila Pereira Guimarães
Camilla Maria Silva Rodrigues
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Magda Lima de Oliveira
Sanzio Mendonça Henriiques
Wendell Brito Mineiro
Zilmar Santos Cardoso
Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Unimontes
Maria das Mercês Borem Correa Machado
Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Antônio Wagner Veloso Rocha
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes
Mariléia de Souza
Chefe do Departamento de Educação/Unimontes
Andréa Lafetá de Melo Franco
Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes
Ângela Cristina Borges
Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes
Anete Marília Pereira
Chefe do Departamento de História/Unimontes
Francisco Oliveira Silva
Jânio Marques dias
Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares
Cléa Márcia Pereira Câmara
Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais
Helena Murta Moraes Souto
Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
Carlos Caixeta de Queiroz
Ministro da Educação
José Henrique Paim Fernandes
Presidente Geral da CAPES
Jorge Almeida Guimarães
Diretor de Educação a Distância da CAPES
João Carlos Teatini de Souza Clímaco
Governador do Estado de Minas Gerais
Alberto Pinto Coelho Júnior
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
narcio Rodrigues da Silveira
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros - 
Unimontes
Maria ivete Soares de Almeida
Pró-Reitor de Ensino/Unimontes
João Felício Rodrigues neto
Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes
Jânio Marques dias
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autores
Carlos Caixeta de Queiroz
Bacharel em Ciências Sociais – Antropologia. Mestre em Sociologia e Antropologia pela 
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
Leonardo Turchi Pacheco
Bacharel em Ciências Sociais.Doutor em História pela Universidade Federal de Minas Gerais – 
UFMG.
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
A antropologia social inglesa: Radcliffe-Brown e Evans-Pritchard . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 O movimento teórico-metodológico na Antropologia: um sobrevoo ao debate 
crítico entre as escolas do pensamento antropológico para contextualizarmos a 
perspectiva estrutural-funcionalista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.3 Alguns pontos centrais constituintes da abordagem funcionalista . . . . . . . . . . . . . . . .13
1.4 Função e estrutura social em Radcliffe-Brown . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
1.5 Evans-Pritchard: estrutura social, ordem, conflito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23
O estruturalismo de Lévi-Strauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2 Lévi-Strauss: o homem e suas ideias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.3 A noção de estrutura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26
2.4 Trocas simbólicas, alianças e proibições: de colares a mulheres . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
2.5 Totemismo e a lógica do concreto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
Referências básicas, complementares e suplementares . . . . .39
Atividades de Aprendizagem – AA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
9
Ciências Sociais - Antropologia III
Apresentação
A disciplina Antropologia III é parte constituinte da estrutura do Curso de Ciências Sociais 
Licenciatura da Universidade Aberta do Brasil – UAB –, da Universidade Estadual de Montes Cla-
ros – Unimontes.
Nesta disciplina abordaremos duas “tradições” ou “perspectivas” da Antropologia: o estrutu-
ral-funcionalismo, a partir de dois fundadores, Radcliffe-Brown e Evans-Pritchard; e o estrutura-
lismo francês a partir de Lévi-Strauss. Privilegiaremos os métodos, alguns conceitos e categorias 
cunhados pela tradição britânica e pela tradição francesa para a investigação dos processos so-
cioculturais. Procuraremos, assim, situar as discussões e as temáticas dessas duas escolas do pen-
samento antropológico.
A disciplina tem como objetivos:
•	 Aprofundar o conhecimento sobre as principais vertentes da teoria antropológica;
•	 Propiciar a reflexão teórica e metodológica sobre conceitos fundamentais da Antropologia 
clássica, especificamente da Antropologia social inglesa e do estruturalismo de Lévi-Strauss;
•	 Possibilitar o estudo de temas e conceitos das perspectivas estrutural-funcional e estrutura-
lista da Antropologia;
•	 Possibilitar ao alunouma incursão na constituição histórico-teórica da Antropologia.
A disciplina estará organizada a partir de duas Unidades temáticas:
Unidade 1 – A Antropologia social inglesa: Radcliffe-Brown, Evans-Pritchard 
Abordaremos a perspectiva estrutural-funcionalista na Antropologia a partir de temas e dos 
conceitos de função e estrutura que fundaram essa tradição antropológica. Pontuaremos, tam-
bém, a crítica ao evolucionismo e a ênfase no trabalho de campo e na abordagem sincrônica dos 
processos sociais.
Unidade 2 – O estruturalismo de Claude Lévi-Strauss 
Será dedicada primeiramente uma centralidade aos aspectos biográficos de Lévi-Strauss, 
cruzando com o contexto para se entender o estruturalismo. Em seguida, discutiremos a análi-
se estrutural em Linguística e Antropologia, focalizando a noção de estrutura. Enfim, apresenta-
remos de maneira esquemática o método estruturalista, os estudos sobre parentesco, as trocas 
simbólicas, o totemismo e a lógica do concreto.
11
Ciências Sociais - Antropologia III
UnidAdE 1 
A antropologia social inglesa: 
Radcliffe-Brown e Evans-Pritchard 
Carlos Caixeta de Queiroz
1.1 Introdução
Apresentaremos nesta unidade a tradição britânica ou a escola estrutural-funcionlista, na 
Antropologia, a partir de dois autores: Radcliffe-Brown e Evans-Pritchard. Será dedicada uma 
centralidade no método e conceitos cunhados por esses autores para a investigação de pro-
cessos socioculturais. Portanto, não se pretende abarcar a totalidade da tradição britânica na 
Antropologia.
Vale ressaltar que outros autores, que não estaremos tratando aqui, fazem parte da chama-
da Antropologia inglesa, ou do estrutural-funcionalismo, e que tiveram uma importância crucial 
na formação do pensamento antropológico, sendo, portanto, centrais para se entender a consti-
tuição histórica da Antropologia. Podemos mencionar, por exemplo, Mary Douglas, Victor Turner, 
Max Gluckman, Raymond Firth, Edmund Leach, entre outros.
1.2 O movimento teórico-
metodológico na Antropologia: 
um sobrevoo ao debate 
crítico entre as escolas do 
pensamento antropológico para 
contextualizarmos a perspectiva 
estrutural-funcionalista
Vamos retomar inicialmente algumas questões já apontadas no Caderno Didático da disci-
plina Antropologia II para contextualizarmos o surgimento da perspectiva estrutural-funcionalis-
ta na Antropologia.
Como vocês puderam observar, a partir das discussões que fizemos no Caderno Didático 
da disciplina Antropologia I, a perspectiva evolucionista foi a primeira grande síntese teórica na 
Antropologia. A tradição evolucionista foi dominante durante quase toda a segunda metade do 
século XIX.
Como vimos, os principais autores fundadores da escola evolucionista, Morgan, Frazer, Tylor, 
cada qual a sua maneira, procuraram mostrar que a humanidade era percebida como um todo, 
mas com estágios evolutivos diferentes. Toda sociedade deveria passar pela mesma sucessão de 
diCA
A história da Antropo-
logia para o antropó-
logo não é apenas um 
passado, mas fonte de 
inspiração para solucio-
nar as novas questões 
que se colocam no pre-
sente (PEIRANO,1995, 
p. 48).
12
UAB/Unimontes - 3º Período
fases de desenvolvimento na sua marcha evolutiva. Nesse esquema, a Antropologia evolucionis-
ta procurou abordar a história da humanidade como única, mas dividida em estágios evolutivos, 
que iam do “primitivo” ao “civilizado”. 
Os autores evolucionistas procuraram reconstruir historicamente os estágios evolutivos da 
evolução social. Entendiam que todas as sociedades passariam pelos mesmos estágios evoluti-
vos, numa sequência contínua e necessária. Postulavam, assim, uma História linear ou unilinear, 
ou seja, a evolução seguia em uma única direção: do simples ao complexo, da magia à ciência, 
por exemplo. Para justificar essa teoria, os evolucionistas postularam a existência de leis unifor-
mes que regeriam o comportamento humano. Assim, as semelhanças entre fenômenos sociais 
encontrados em várias sociedades e situados em espaços diferentes foram interpretadas como 
resultado da uniformidade da experiência humana.
Para os evolucionistas, o progresso tecnológico representaria uma prova contundente do 
desenvolvimento e, portanto, da melhoria das sociedades humanas. 
Mas é importante ressaltar que os evolucionistas, como Morgan, centraram suas análises 
não apenas no desenvolvimento tecnológico para explicar a evolução social. Morgam, importan-
te autor para o pensamento antropológico, dedicou uma centralidade à análise das instituições 
sociais. O parentesco para Morgan, por exemplo, era principalmente uma porta de entrada para 
o estudo da evolução social. Morgan sustentava que as sociedades primitivas organizavam-se 
sobre a base do parentesco. As variações terminológicas entre sistemas de parentesco tinham 
correlação com variações na estrutura social. “Mas ele também supunha que a terminologia do 
parentesco mudava lentamente e que, portanto, continha indicações para uma compreensão de 
estágios anteriores da evolução social” (ERIKSEN, 2007, p. 30).
É necessário lembrar que essas questões são importantes princípios elaborados pelos evo-
lucionistas na Antropologia, como já discutimos na disciplina Antropologia II, pois as abordagens 
que se seguiram na Antropologia se consolidaram e se posicionaram de forma crítica ao evolu-
cionismo.
Assim, a perspectiva difusionista se opôs ao evolucionismo, elaborando uma nova com-
preensão dos processos socioculturais. O chamado difusionismo na Antropologia centralizou-se 
não no estudo linear da evolução das sociedades, mas nos processos de difusão cultural, de tro-
cas entre as sociedades. “Os difusionistas procuraram estudar a distribuição geográfica e a migra-
ção de traços culturais e postulavam que culturas eram mosaicos de traços com várias origens e 
histórias” (ERIKSEN, 2007, p. 39).
No entanto, o primeiro a formular uma crítica mais radical aos evolucionistas foi Franz Boas, 
como já vimos na disciplina Antropologia II. Boas, que ocupou um lugar central no desenvol-
vimento da Antropologia, criticou as noções de origem e de reconstrução de estágios propos-
tas pelos autores evolucionistas, e mostrou que “um costume só tem significado se for relacio-
nado ao contexto particular no qual se inscreve” (LAPLANTINE, 2000, p. 77-78). Em substituição 
à reconstrução de uma história linear universal, formulada pelos evolucionistas, Boas propôs o 
princípio do particularismo histórico. Para esse autor, cada cultura continha em si seus próprios 
valores e sua própria história. Defendeu que a tarefa da Antropologia seria primeiramente a com-
preensão das culturas em suas particularidades. Assim, Boas procurou estabelecer que em vez de 
ir diretamente a conclusões gerais, como fizeram os evolucionistas, seria necessário identificar as 
circunstâncias únicas que haviam gerado culturais particulares.
Pelo exposto acima, como vocês já devem ter percebido, podemos identificar o evolucionis-
mo como a primeira síntese teórica metodológica na Antropologia e o particularismo histórico 
de Franz Boas como uma segunda grande perspectiva. Outra perspectiva que dominou as dis-
cussões na Antropologia foi conhecida como estrutural-funcionalismo, a qual abordaremos da-
qui em diante.
13
Ciências Sociais - Antropologia III
1.3 Alguns pontos centrais 
constituintes da abordagem 
funcionalista
Vamos situar minimante algumas questões constituintes da abordagem estrutural-funcional 
na Antropologia antes de comentarmos a centralidade do pensamento de Radcliffe-Brown na 
história teórica da Antropologia.
O termo “funcionalismo” tem sido associado à obra de Malinowski e Radcliffe-Brown e seu 
sentido pode ser entendido como uma reação às teorias evolucionistas (DA MATTA, 1990, p. 101). 
Como já discutimos a perspectiva apresentada por Malinowski na disciplina Antropologia I, va-
mos retomar rapidamente algumas proposições formuladas por esse autor para percebermos 
como o funcionalismo reagiu ao evolucionismo. Em seguida, trataremos mais detalhadamentealgumas questões teóricas formuladas por Radcliffe-Brown. 
Primeiramente, é importante destacar a importância atribuída ao trabalho de campo. Como 
comenta:
A observação participante de Malinowski estabeleceu um novo padrão para a 
pesquisa etnográfica. Todo fato, mesmo o mais insignificante, devia ser regis-
trado. Na medida em que fosse praticamente possível, o etnógrafo devia par-
ticipar do fluxo contínuo da vida do dia-a-dia, evitando questões específicas 
que pudessem desviar o curso dos eventos e sem restringir a atenção a partes 
específicas da cena. (ERIKSEN, 2007, p. 57)
Percebemos, assim, que Malinowski chamava a atenção para o fato de que seria extrema-
mente importante que os antropólogos colhessem seus próprios dados. Seria, portanto, cienti-
ficamente necessário a pesquisa de campo como requisito para se contextualizar os processos 
socioculturais tomados para investigação antropológica. Trata-se, ainda, de formular um conhe-
cimento das culturas vivas, em sua realidade empírica.
◄ Figura 1: Malinowski em 
“trabalho de campo” 
nas Ilhas Trobriand, 
pacífico sul.
Fonte: Disponível em 
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Bronis%C5%82aw_
Malinowski. Acesso em 20 
mai. 2014.
14
UAB/Unimontes - 3º Período
As figuras 1, 2 e 3 têm um significado importante, que o próprio Malinowski procurou 
transmitir: o realismo etnográfico que marcou a Antropologia estrutural-funcionalista. Malino-
wski sempre procurou penetrar na mentalidade dos outros, em compreender o que sentem os 
homens e mulheres que pertencem a uma cultura que não é nossa (LAPLANTINE, 2000, p. 80). 
Como afirma Kuper (1978, p. 51), “Malinowski trouxe um novo realismo para a Antropologia So-
cial, com sua percepção aguda dos interesses reais subentendidos no costume e suas técnicas 
radicalmente novas de observação”.
Em segundo lugar, com o funcionalismo há um deslocamento da preocupação em recons-
truir uma história linear universal da evolução das sociedades, para focalizar a estrutura e o fun-
cionamento da cultura. Tratava-se de interpretar como as culturas funcionam.
Assim, pode-se dizer que o funcionalismo instaura uma preocupação teórica de explicar as 
formas pelas quais as instituições e estruturas de uma sociedade se interligam, para formar um 
todo complexo. Desloca-se sua ênfase para o funcionamento da cultura, numa perspectiva sin-
crônica de estudo e pesquisa. 
As culturas, e observem-se culturas e não cultura como no evolucionismo, passam a ser pen-
sadas como um sistema composto de elementos ou unidades que se interagem uns com os ou-
tros, formando sínteses. A preocupação central dos funcionalistas passa a ser como interpretar o 
funcionamento dos sistemas culturais.
Já temos condições de perceber algumas características da abordagem funcionalista. Pri-
meiro, podemos dizer que as sociedades humanas e suas respectivas culturas existem como to-
dos orgânicos, constituídos de partes interdependentes. Em segundo lugar, as partes não podem 
ser plenamente compreendidas separadamente do todo, e o todo deve ser compreendido em 
termos de suas partes, suas relações uma com as outras e com o sistema sociocultural em con-
junto (WHITE, 1948).
Figura 2: Malinowski em 
“trabalho de campo” 
nas Ilhas Trabriand, 
Pacífico Sul.
Fonte: Disponível em 
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Bronis%C5%82aw_
Malinowski. Acesso em 20 
mai. 2014.
►
Figura 3: Malinowski em 
“trabalho de campo” 
nas Ilhas Trabriand, 
Pacífico Sul.
Fonte: Disponível em 
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Bronis%C5%82aw_
Malinowski. Acesso em 20 
mai. 2014.
►
15
Ciências Sociais - Antropologia III
Na abordagem funcionalista, a cultura passa a ser concebida como um todo cujos traços es-
tão funcionalmente relacionados. Assim, a cultura não pode ser entendida mais como um aglo-
merado de partes ou traços desconectados. Cada elemento da cultura é entendido como tendo 
uma função específica no esquema integral.
Procurando entender como funcionam os sistemas culturais, Malinowski elabora a teoria 
funcionalista da cultura. Para esse autor, os indivíduos em qualquer tempo e lugar sentem de-
terminadas necessidades. Então, coletivamente, elaboram suas respostas a essas necessidades. 
Cada cultura tem como função satisfazer as necessidades biológicas individuais. Segundo Mali-
nowski, a certas necessidades biológicas correspondem certas respostas culturais. 
Assim, Malinowski desenvolve o conceito de cultura numa tentativa de desvendar o funcio-
namento das culturas. Esse autor argumenta que cada sociedade desenvolve suas próprias res-
postas culturais, e é esse fato que torna as sociedades diferenciadas. 
Vale lembrar que para Malinowski:
Todas as práticas e instituições sociais eram funcionais no sentido de que se 
ajustavam num todo operante, ajudando a mantê-lo [...] o objetivo último do 
sistema eram os indivíduos, não a sociedade. As instituições existiam para as 
pessoas [...] e eram as necessidades das pessoas, em última análise suas neces-
sidades biológicas, que constituíam o motor primeiro da estabilidade social e 
da mudança (ERIKSEN, 2007, p. 59).
Podemos perceber, então, que o programa funcionalista de Malinowski se opôs ao projeto 
de reconstrução de estágios evolutivos. Esse autor argumenta e defende que a explicação antro-
pológica deveria estar centrada no contexto e nas inter-relações, pois as sociedades são sistemas 
coerentemente integrados de relações sociais. Rompendo com a história conjetural dos evolu-
cionistas, Malinowski considera que uma sociedade deve ser estudada como uma totalidade, tal 
como funciona no momento mesmo em que a observamos (LAPLANTINE, 2000, p. 80).
Laplantine (2000, p. 98) situa a perspectiva estrutural-funcional, da qual Malinowski é um 
expoente máximo, bem como Radcliffe-Brown, do qual falaremos mais adiante:
•	 É uma Antropologia antievolucionista, que se constitui desde Malinowski 
em oposição a uma compreensão histórica do social [...]; dedica-se prefe-
rencialmente à investigação do presente a partir de métodos funcionais 
(Malinowski) e, em seguida, estruturais (Radcliffe-Brown);
•	 É uma Antropologia antidifusionista, o que a opõe à Antropologia ameri-
cana, a qual se preocupa em compreender o processo de transmissão dos 
elementos de uma cultura para outra;
•	 É uma Antropologia de campo, que se desenvolve muito rapidamente, a 
partir do início do século, com Malinowski e, antes, com Radcliffe-Brown, 
o qual é, mais ainda que Malinowski, um dos pais fundadores, de quem a 
maioria dos antropólogos britânicos contemporâneos se considera suces-
sora;
•	 É uma Antropologia social que, ao contrário da Antropologia americana, 
privilegia o estudo da organização dos sistemas sociais em detrimento do 
estudo dos comportamentos culturais dos indivíduos.
Recapitulamos algumas questões elaboradas por Malinowski, por ser esse um autor impor-
tante na história do desenvolvimento da Antropologia, constituindo um dos principais expoen-
tes da Antropologia funcionalista britânica. A seguir, passaremos a enfocar a perspectiva de 
outro autor, que junto com Malinowski, tem sido considerado um dos pais fundadores do estru-
tural-funcionalismo: Radcliffe-Brown. Não tencionamos comentar a totalidade do pensamento 
de Radcliffe-Brown e de sua contribuição para o pensamento antropológico e para a própria his-
tória teórica da Antropologia. Vamos apenas tecer alguns comentários sobre a concepção desse 
autor a respeito do que deveria ser a Antropologia Social e suas elaborações conceituais sobre 
função e estrutura social e sua preocupação sobre ordem social.
ATiVidAdE
Reflita criticamente 
sobre a ideia de que a 
cultura é uma respos-
ta às necessidades 
biológicas proposta por 
Malinowski, e procure 
pensar nas limitações 
da perspectiva teórica 
funcionalista. Discutire-
mos sobre o assunto no 
fórum.
diCA
Reflita sobre a principal 
crítica que os funciona-
listas elaboraram sobre 
o evolucionismo.
16
UAB/Unimontes - 3º Período
1.4 Função e estrutura social em 
Radcliffe-Brown
Alfred ReginaldRadcliffe-Brown nasceu em Sparkbrook, Birminghan, em 1881. Pertencia à 
geração de Malinowski, mas seu contexto familiar era da classe operária inglesa. “Três anos mais 
velho que Malinowski, sobreviveu-lhe onze anos e dele tomou a liderança da Antropologia Social 
britânica no final da década de 1930” (KUPER, 1978, p. 51). 
Radcliffe-Brown iniciou seus estudos em medicina em Oxford, mas foi orientado por incentivo, 
principalmente de Rivers, a mudar-se para os estudos antropológicos em Cambridge. Rivers foi pro-
fessor de Cambridge, psicólogo-médico que participou da expedição aos Estreitos de Torres, o em-
preendimento pioneiro de Cambridge na área da pesquisa antropológica de campo (ibidem, p. 53).
Malinowski e Radcliffe-Brown são considerados importantes expoentes da An-
tropologia britânica ou da perspectiva estrutural-funcionalista na Antropolo-
gia. No entanto, esses antropólogos fundaram duas linhagens na Antropologia 
social britânica. Malinowski trouxe um novo realismo para a Antropologia So-
cial, com sua percepção aguda dos interesses reais subentendidos no costume 
e suas técnicas radicalmente novas de observação. Radcliffe-Brown, por sua 
vez, introduziu a disciplina teórica da Sociologia Francesa e veio em ajuda dos 
novos pesquisadores de campo com uma bateria mais rigorosa de conceitos. 
(KUPER, 1978, p. 51).
Pode-se, então, dizer que Malinowski estabeleceu um método de trabalho de campo espe-
cífico, que ficou conhecido como “observação participante”. Radcliffe-Brown se empenhou por 
estabelecer categorias e conceitos numa preocupação em transformar a Antropologia em uma 
verdadeira ciência. No entanto, as divergências entre esses autores podem ser entendidas em 
outro ponto crucial: Malinowski interessava-se pelos indivíduos, buscava compreender as moti-
vações humanas e a lógica da ação. Radcliffe-Brown buscou compreender e explicar princípios 
estruturais abstratos e mecanismos de integração social (ERIKSEN, 2007, p. 59). A obra de Rad-
cliffe-Brown refletia a sua preocupação com a situação formal, as regras e os rituais. “Faltava-lhe 
completamente a simpatia de Malinowski pelos indivíduos...” (KUPER, 1978, p. 56).
Radcliffe-Brown foi responsável pelo desenvolvimento 
e aperfeiçoamento de centros antropológicos impor-
tantes na Cidade do Cabo, Sydney e Chicago. Diferente-
mente de Malinowski, foi seguidor de Durkeim, por 
considerar o indivíduo como produto da sociedade, e, 
principalmente, por se voltar para o estudo de mecanis-
mos de integração social, de coesão social nas socieda-
des ditas primitivas. Seu primeiro trabalho de campo, 
em que procurou interpretar os dados etnográficos a 
partir da teoria durkheimina, foi nas Ilhas Andaman, a 
leste da Índia. Publicou sua monografia Andaman Islan-
ders em 1922.
Pois bem, vamos a partir de agora procurar enten-
der a concepção de Antropologia de Radcliffe-Brown e 
os conceitos de função e estrutura social, conceitos cen-
trais forjados por esse autor e que refletem sua conver-
gência à sociologia durkheimiana.
A posição teórica de Radcliffe-Brown aparece, em-
bora de forma tímida, em seu último livro A Natural 
Science of Society (baseado numa série de palestras proferidas pelo autor em Chicago em 1937 
e publicado postumamente em 1957) e nos ensaios intitulados sobre o conceito de função nas 
Ciências Sociais (1935) e Sobre a Estrutura Social (1940). Esses dois ensaios foram publicados no 
livro Structure and Function in Primitive Society de 1952. Esse livro foi traduzido no Brasil pela Edi-
tora Vozes Ltda, em 1973, sob o título Estrutura e Função na Sociedade Primitiva.
Nos ensaios de 1935 e 1952, Radcliffi-Brown expressa de forma categórica sua posição sobre 
o que é ou o que deveria ser a Antropologia. A Antropologia social foi encarada por ele como 
ATiVidAdE
Procure elaborar um 
pequeno texto argu-
mentando sobre a re-
lação entre indivíduo e 
sociedade, tendo como 
referência Malinowski 
e Radcfliffe-Brown. 
Ressalte as divergên-
cias entre esses dois 
autores. Haverá no 
Ambiente Virtual de 
Aprendizagem um link 
para a sua postagem.
Figura 4: Foto de 
Radcliffe-Brown 
Fonte: Disponível em 
Antropologia.forumcom-
munity.net/?t=12849910. 
Acesso em 20 mai. 2014.
►
17
Ciências Sociais - Antropologia III
uma “ciência natural da sociedade”. Como o próprio autor afirma: “concebo a Antropologia social 
como a ciência teórico-natural da sociedade humana, isto é, a investigação dos fenômenos so-
ciais por métodos essencialmente semelhantes aos empregados nas ciências físicas e biológicas” 
(RADCLIFFE-BROWN, 1973, p. 233).
Pode-se dizer que essa ideia de encarar a Antropologia social como uma ciência natural da 
sociedade reflete a preocupação de Radcliffe-Brown em transformar a Antropologia em uma 
“ciência real”. Ou seja, uma preocupação em dar um status de ciência à Antropologia através de 
métodos análogos aos das ciências naturais. Para esse autor, então, a Antropologia não estuda a 
cultura, mas a sociedade. O objeto de estudo que Radcliffe-Brown reivindicava para a Antropolo-
gia era o sistema social ou processo social. Eram as “relações de associação entre os organismos 
individuais”. Radcliffe-Brown (1973, p. 234) afirma que, “em Antropologia interessamo-nos apenas 
por seres humanos, e na Antropologia social, conforme a defini, o que temos de investigar são as 
formas de associação que se encontram entre os seres humanos”. 
O objeto de estudo eram as estruturas sociais, ou mais precisamente as formas de estruturas 
sociais. Antes, no entanto, de entendermos mais precisamente a noção de estrutura social em 
Radcliffe-Brown, vamos discutir sobre o conceito de função para esse autor.
1.4.1 Sobre o conceito de função
Radcliffe-Brown elabora a noção de função recorrendo à analogia entre vida social e vida 
orgânica. Segundo esse autor, a analogia entre sistemas biológicos e organismos sociais foi re-
corrente entre sociólogos como Spencer e Durkheim. Assim, esse autor diz que, para Durkheim, 
a função de uma determinada instituição é a correspondência entre ela e as necessidades da or-
ganização social. Mas Radcliffe-Brown adverte que ele não usa o termo “necessidades”, mas “con-
dições necessárias de existência”. Assim, na vida orgânica, a função de um processo fisiológico é 
uma correspondência entre ele e as condições necessárias de existência do organismo. “A vida 
do organismo é concebida como o funcionamento de sua estrutura. É mediante a continuida-
de do funcionamento que a continuidade da estrutura se mantém” (RADCLIFFE-BROWN, 1973, 
p. 221). Esse autor conclui que, na vida social, “função é a contribuição que determinada ativi-
dade proporciona à atividade total da qual é parte. A função de determinado costume social é a 
contribuição que este oferece à vida social total como o funcionamento do sistema social total” 
(Idem, p. 224).
Assim, Radcliffe-Brown afirma que “a função de qualquer atividade periódica, tal como a 
punição de um crime, ou uma cerimônia fúnebre, é a parte que ela desempenha na vida social 
como um todo, e, portanto, a contribuição que faz para a manutenção da continuidade estru-
tural” (Idem, p. 223). Tal como na vida do organismo, uma célula ou órgão tem atividade e essa 
atividade tem uma função para que o organismo continue funcionando em sua totalidade.
Ao elaborar a definição de função, Radcliffe-Brown tencionava estabelecer o objeto de es-
tudo da Antropologia, que eram os sistemas sociais ou as formas de estruturas sociais. Passemos 
então a comentar sobre a noção de estrutura para esse autor.
1.4.2 Sobre estrutura social
Como já notamos, Radcliffe-Brown concebe a Antropologia como uma ciência que estuda 
os sistemas sociais ou processos sociais. Para esse autor, o que a Antropologia investiga “são as 
formas de associações que se encontram entre os seres humanos” (RADCLIFFE-BROWN, 1973, 
p. 234). Então, o objeto de estudo da Antropologia eram sistemas de relações reais de encadea-
mento entre indivíduos ou entre indivíduos que ocupam papéis sociais.Isso constitui a estrutura 
social (KUPER, 1978, p. 68). Segundo Radcliffe-Brown, o termo estrutura social designa uma rede 
de relações sociais. A estrutura social é uma realidade concreta, pois é uma série de relações real-
mente existente que agrupa seres humanos, que podem ser observadas diretamente.
Percebemos, portanto, que Radcliffe-Brown encara a estrutura social como uma rede de re-
lações entre os indivíduos, são relações constituintes de uma determinada estrutura real. São as 
relações entre uma associação de indivíduos. Não obstante, essas relações são circunscritas ou 
prescritas por força de uma estrutura de regras jurídicas e normas morais que regulam o com-
portamento. Ou seja, é possível dizer que Radcliffe-Brown concebe uma estrutura real, a relação 
18
UAB/Unimontes - 3º Período
entre indivíduos que ocupam papéis sociais, e uma estrutura formal, ou seja, uma “forma estru-
tural, que está explícita em usos sociais, ou normas sociais, as quais se reconhecem geralmente 
como obrigatórias e são largamente observadas” (KUPER, 1978, p. 68). A forma estrutural existe 
independentemente dos atores individuais que a reproduzem (ERIKSEN, 2007, p. 60).
Enquanto a estrutura real muda, indivíduos morrem, outros nascem, o velho chefe morre e é 
substituído, pessoas se divorciam e voltam a se casar, as formas sociais continuam estáveis, pois 
persistem os “usos sociais”.
É importante observar que, para Radcliffe-Brown (1973), as sociedades são vistas como sis-
temas, cujos elementos internos estão funcionalmente integrados. Assim, o papel das institui-
ções é garantir o funcionamento do sistema social. Temos assim uma preocupação com a ordem 
dos sistemas sociais sem levar em conta os conflitos inerentes aos próprios sistemas sociais. O 
suporte básico para se compreender ou explicar os sistemas sociais está no conceito de estrutura 
social. 
Assim, os fundamentos estruturantes das sociedades são buscados no sistema de relações 
sociais. Radcliffe-Brown propõe estudar a estrutura e a função das instituições sociais com o 
objetivo de desvendar as normas e valores que as regem para estabelecer leis de integração 
social. Para esse autor, as sociedades contam com normas que regulam as relações sociais. Es-
sas normas se expressam como sistemas de deveres e direitos entre os indivíduos, necessários 
para criar certa harmonia e manter a integração social. A estrutura, em última instância, refere-
se às relações reais que se produzem dentro dos grupos sociais. A estrutura é vista como uma 
regularidade. 
Podemos dizer que Radcliffe-Brown, ao situar a noção de estrutura, ressalta a importância 
da coesão social para a estabilidade dos sistemas sociais desconsiderando o conflito inerente às 
relações sociais. Subjacente às explicações ou ao conhecimento sobre os sistemas sociais, encon-
tra-se uma preocupação com o problema da ordem. Os sistemas sociais estão em equilíbrio e 
tendem ao equilíbrio na medida em que as instituições cumprem suas funções. Pode-se dizer 
que o problema fundamental reside na tentativa de se explicar as sociedades como se fossem 
uma totalidade articulada e integrada, o que acabou levando a uma negligência das mudanças 
dos sistemas sociais.
1.5 Evans-Pritchard: estrutura 
social, ordem, conflito
Edward Evans-Pritchard foi 
um importante antropólogo da 
Antropologia britânica. Estudou 
com Malinowski na London School 
of Economics em Londres. Realizou 
suas pesquisas de campo no Sudão 
durante os anos de 1930, principal-
mente entre o povo azande o os 
nuer. Seu primeiro livro, publicado 
em 1937, foi Witchcraft, Oracles and 
Magic among the Azande. Sua se-
gunda obra importante foi The Nuer, 
de 1940. O primeiro livro foi publi-
cado no Brasil com o título Bruxaria, 
Oráculos e Magia entre os Azande; e 
o segundo, com o título Os Nuer. Em 
Os Nuer, Evans-Pritchard faz um es-
tudo da organização política de um 
povo pastoril patrilinear que vivia ao 
norte dos Azandes, próximo ao rio 
Nilo, hoje Sudão.
Adam Kuper escreve:
diCA
Para aprofundar o 
entendimento sobre os 
conceitos de função e 
estrutura social, leiam 
os capítulo IX (Sobre o 
Conceito de Função nas 
Ciências Sociais) e o X 
(Sobre a Estrutura So-
cial) do livro: RADCLIF-
FE-BROWN, Alfred R. 
Estrutura e Função na 
Sociedade Primitiva. 
Rio de Janeiro: Editora 
Vozes, 1973.
Figura 5: E. E. Evans-
Pritchard with Zande 
boys in Southern 
Sudan, Unknown 
photographer, 1927-
1930. 
Fonte: Disponível em 
http://southernsudan.
prm.ox.ac.uk/de-
tails/1998.341.576/. Aces-
so em 20 mai. 2014.
►
19
Ciências Sociais - Antropologia III
Quando Evans-Pritchard estudou os Nuer, numa série de visitas relativamente 
breves ao campo na década de 1930, o seu número totalizava umas 200.000 
pessoas espalhadas numa área de 78.000 Km2 no Sudão Meridional. Os Nuer 
estavam justamente se recuperando de um brutal programa de “pacificação”, 
o qual incluíra o bombardeio de seus rebanhos e o enforcamento dos seus 
profetas – e não estavam por isso no melhor dos ânimos para propiciar uma 
acolhida hospitaleira a visitantes brancos. Nessas circunstâncias nada auspicio-
sas, Evans-Pritchard descobriu e demonstrou pela primeira vez como um siste-
ma político pode existir sem governantes num estado que ele denominou de 
“anarquia ordeira”, sendo as relações entre grupos territoriais conceptualiza-
das num idioma de relações lineares e regidas por processos de fissão e fusão. 
(ADAM KUPER, 1978, p. 107)
Passemos a comentar, sumariamen-
te, a obra de Evans-Pritchard, focalizando 
o tema ordem e conflito e a noção de es-
trutura social.
Os Nuer marcaram uma forma es-
pecífica de produção do conhecimento 
antropológico, tanto do ponto de vista 
teórico quanto metodológico. Teórico na 
medida em que se propõe um conheci-
mento da sociedade a partir da noção 
de estrutura social, buscando um refina-
mento dessa noção; portanto, indo além 
do realismo simplista de Radcliffe-Brown, 
para quem a noção de estrutura social se 
confunde com as realidades empíricas, 
observáveis a partir das relações sociais. 
Metodológico, pois é um experimento de 
análise sincrônica, significativo para a his-
tória da Antropologia na medida em que 
Evans-Pritchard produziu uma descrição 
etnográfica mais consistente e rigorosa e, 
nesse sentido, o autor reforça uma preo-
cupação central relacionada à forma de 
se produzir o conhecimento na Antropo-
logia: o trabalho de campo, que requer o 
contato íntimo com os povos que se quer 
estudar, uma preocupação recorrente desde Boas, que se intensificou a partir de Malinowski.
No entanto, o mais fascinante na pesquisa de Evans-Pritchard sobre os Nuer está na descri-
ção da ordem social de uma sociedade a partir de uma relação à primeira vista quase enigmática: 
ordem e conflito, fissão e fusão. Como o autor mostra, a ordem social entre os Nuer resulta de um 
jogo envolvente entre fusão e oposição de acordo com as relações entre os vários segmentos 
grupais dessa sociedade. Assim, é possível dizer que Evans-Pritchard ultrapassa os modelos de 
sociedade que pressupunham equilíbrio entre as partes, em que os indivíduos consensualmente 
obedecem involuntariamente normas e regras impostas pela sociedade, vigentes na perspectiva 
funcionalista na Antropologia.
Os Nuer constituem em uma descrição de um povo que vivia ao longo do rio Nilo, que não 
contavam com uma autoridade política centralizada e que se ordenavam socialmente a partir 
de valores comunitários e pelo sistema de linhagem e segmentação tribal. Segundo Evans-Prit-
chard, os Nuers não tinham governo e seu estado pode ser descrito como uma “anarquia ordena-
da”. O ordenamento político Nuer era garantido através das relações de fusão e oposição entre os 
sistemas de linhagens e por relações de parentesco.
Segundo Evans-Pritchard (1993, p. 7), “os Nuer, que chamam a si mesmos de Nath, são apro-
ximadamente duzentas mil almas e vivem nos pântanos e savanas planas que se estendem em 
ambos os lados do Nilo”. Eles formavam, juntamentecom os Dinka, uma subdivisão de um gru-
po nilota que ocupava parte da África oriental. Os Nuer se dividem em tribos, maior segmen-
to político, que por sua vez dividem-se em uma série de segmentos “territoriais, e estes consti-
tuem mais do que meras divisões geográficas, pois os membros de cada um consideram-se a si 
mesmos como comunidades distintas e algumas vezes agem como tais”, que se segmentam em 
◄ Figura 6: Garota 
nuer. Foto de Evans-
Pritchard.
Fonte: Disponível em fa-
culty.dwc.edu/wellman/
cattle.htm. Acesso em 02 
abr. 2014.
20
UAB/Unimontes - 3º Período
outras seções: secundária e terciária. A seção terciária consiste de uma série de aldeias, as quais 
constituem as menores unidades políticas da terra Nuer (Idem, 1993, p. 10).
Evans-Pritchard mostrou, então, como um sistema político pode existir sem governantes, 
sendo as relações entre os grupos territoriais conceitualizadas num idioma de relações lineares e 
regidas por processos de fissão e fusão (KUPER, 1978, p. 107).
Dois objetivos centrais marcam o livro Os Nuer. Por um lado, nos primeiros capítulos, Evans
-Pritchard descreve o meio ambiente e o valor supremo que os Nuer atribuem ao gado e os limi-
tes que o meio ambiente impõe à organização social Nuer. Por outro lado, o autor apresenta, nos 
últimos capítulos do livro, uma organização Nuer calcada no sistema político e que não depende 
simplesmente da ecologia.
Os Nuer suprem suas necessidades a partir da criação de gado e da agricultura, principal-
mente de milho e sorgo. Assim, têm que ajustar suas vidas às necessidades de seus rebanhos e às 
estações do ano, divididas em chuvosa e estiagem. Na estação chuvosa, os Nuer se concentram 
nas aldeias e, na época da estiagem, em acampamentos construídos próximos a ribeirões devido 
à escassez de água. Assim, Evans-Pritchard atribuiu uma importância fundamental às limitações 
que o meio ambiente cria para a organização social Nuer.
Mas, por outro lado, como o autor observou, essas limitações ecológicas não podem expli-
car as relações estruturais entre grupos Nuer. Assim, o autor oscila entre a importância da ecolo-
gia e das relações humanas para explicar a organização Nuer.
De fato, Evans-Pritchard atribui uma importância fundamental do meio ambiente físico para 
entender a vida Nuer. Mas, se Evans-Pritchard dá ênfase ao meio ambiente físico e ao gado, ele 
o faz em respeito à importância que o gado tem para os Nuer. Nesse sentido, observa-se que o 
autor não fala de uma determinação ecológica sobre a sociedade. O meio ambiente apenas dá 
condições para a vida social, pois as relações estruturais entre os grupos Nuer não podem ser en-
tendidas simplesmente a partir das limitações que o meio ambiente impõe aos Nuer.
Dessa forma, as explicações estruturais entre grupos nuer são formuladas em função de 
“princípios estruturais”. O argumento de Evans-Pritchard se desloca da importância das “condi-
ções materiais de existência” para o plano dos “valores sociais”. A partir daí, o autor observa que a 
ordem social Nuer é mantida por valores comunitários e pelo sistema de linhagem e segmenta-
ção tribal. O ordenamento político é garantido através das relações de fusão e oposição entre os 
sistemas de linhagens e por relações de parentesco.
No capítulo três, Evans-Pritchard explorou as noções de tempo e espaço argumentando 
que, entre os Nuer, essas noções não são abstratas. O autor introduz aí a ideia de “relatividade 
Foto 7: Garotas nuers. 
Foto recente. 
Fonte: Disponível em 
http://www.dhushara.
com/paradoxhtm/culture.
htm.Acesso em 02 mai. 
2014.
►
21
Ciências Sociais - Antropologia III
social”. As categorias tempo e espaço são construções sociais. Evans-Pritchard mostra que as no-
ções de tempo e espaço Nuer são construídas de acordo com a ecologia, mas principalmente de 
acordo com a estrutura social. Os tempos mais longos são estruturais e os tempos mais breves 
são ecológicos.
Assim, Evans-Pritchard mostra que o ano Nuer é dividido em duas estações – tot e mai – 
sendo que a primeira corresponde ao período das chuvas e a segunda ao período da estiagem. 
Mas, a noção de tempo não deriva simplesmente das mudanças climáticas, mas das atividades a 
elas relacionadas. Para o Nuer, o tempo se divide em períodos de residência na aldeia e outros no 
acampamento. Portanto, o tempo é percebido pelos Nuer em termos de mudanças físicas e das 
relações sociais.
Evans-Pritchard (1993) cunhou a noção de tempo estrutural devido ao fato de que é mais 
fácil pensar o modelo Nuer em função das atividades da estrutura social, pois entre os Nuer não 
existe um termo ou um vocábulo equivalente a tempo.
Evans-Pritchard (1993, p.123) procura mostrar também, que entre os Nuer, a noção de espa-
ço não está apenas relacionada à ecologia, mas também à estrutura social. O autor fala, então, de 
distância estrutural, que seria o espaço estabelecido entre grupos de pessoas dentro de um siste-
ma social, expressos em termos de valores. Assim: 
Uma tribo Nuer que está separada de outra tribo Nuer por quarenta quilôme-
tros está, estruturalmente, mais próxima desta do que de uma tribo dinka da 
qual está separada por apenas vinte quilômetros. Quando abandonamos os 
valores territoriais e falamos de linhagens e conjuntos etários, o espaço é me-
nos determinado pelas condições do meio ambiente (Idem, p. 123).
A discussão que Evans-Pritchard fez sobre o tempo e espaço Nuer serviu como uma liga-
ção entre os capítulos iniciais do livro e os finais. Nas últimas partes do livro, capítulos 4 (O sis-
tema político), 5 (O sistema de linhagens) e 6 (O sistema de conjuntos etários), Evans-Pritchard 
demonstra o modo como as relações de grupo eram conceituadas em termos territoriais e em 
termos de relações de linhagens, construídas na genealogia que se estendia pelo menos a três 
gerações passadas.
Evans-Pritchard observa, ainda, que as relações políticas na terra Nuer são relações territo-
riais. A estrutura política dos Nuer consiste em um ordenamento e reordenamento dos sistemas 
de linhagens, articulados num processo de fusão e oposição. Ou seja, as tribos Nuers se segmen-
tam em seções que se estruturam a partir do parentesco e das oposições ocupadas no território. 
Os vários segmentos da tribo Nuer ora se fundem ora se opõem de acordo com relacionamentos 
para estabelecerem a guerra ou disputas. As tribos Nuer dividem-se em segmentos primário, se-
cundário e terciário. As seções tribais primárias constituem os maiores segmentos da tribo Nuer 
que, por sua vez, dividem-se em seções secundárias e terciárias (Evans-Pritchard,1993, p. 152). A 
menor seção tribal, denominada terciária, “compreende várias comunidades de aldeias, que são 
compostas por grupos domésticos e de parentesco” (Idem, p. 152). Evans-Pritchard mostra que 
os segmentos operam a partir da fusão e da oposição a outros segmentos.
Dessa forma, o sistema político Nuer é explicado a partir das relações territoriais e políticas 
que se expressam em termos de linhagens. Assim, uma tribo Nuer tinha um clã dominante que 
se segmentava em unidades menores: linhagens máximas, linhagens menores e linhagens míni-
mas. Essas linhagens mantinham relações de fusão e oposição umas com as outras.
Evans-Pritchard (1993, p. 224) mostra, então, que a estrutura tribal era dividida em várias se-
ções, e os sistemas de linhagens, com suas tendências para a fusão e oposição, mantêm o equilí-
brio estrutural da sociedade Nuer, garantindo assim uma ordem em que não existe nenhum tipo 
de poder centralizado. Especificamente, com relação ao sistema de linhagens, ele seria “o princí-
pio organizador da estrutura”.
Pode-se dizer que em Os Nuer, Evans-Pritchard está preocupado com o problema da ordem 
social, um problema recorrente na Antropologia social britânica. Porém, não está interessado 
simplesmente em mostrar como as sociedades atingem a integração social. Um ponto central 
que o autor procura desvendar é como se mantém um equilíbrio estrutural. Assim, observa que, 
entre os Nuer, a ordemé resultado do princípio estrutural, das relações entre grupos que man-
têm relações de fissão e fusão, cunhados a partir da ideia que Evans-Pritchard denominou de “re-
latividade social”. Assim, pode-se dizer que o conflito, expressos nas relações de oposição entre 
grupos nuer, torna-se importante para o equilíbrio estrutural dessa sociedade. O conflito assume 
um ponto estratégico na análise que Evans-Pritchard fez sobre os nuer, pois ele promove a or-
dem social, e consequentemente, a estrutura social.
22
UAB/Unimontes - 3º Período
É nesse sentido que se pode entender a importância que as “vendetas” têm para os Nuer. As 
“vendetas”, uma instituição tribal, que ocorre quanto houver uma infração à lei, e como um modo 
aprovado e regulado de comportamento entre comunidades dentro de uma tribo, mantêm a 
oposição equilibrada entre segmentos tribais e suas tendências complementares de fundir-se e 
dividir-se, princípio básico da estrutura política nuer.
O livro de Evans-Pritchard, embora tenha sido considerado um produto da estrutura colo-
nial, o que provocou reações contra o conhecimento antropológico por ser conveniente com o 
colonialismo, contribuiu para o conhecimento dos povos situados na África. Evans-Pritchard, a 
partir de intenso trabalho de campo, pode mostrar como um grande grupo se estrutura sem um 
poder centralizado, sem uma autoridade política. O trabalho de campo começa assim a ter um 
novo status ou um novo reconhecimento. Assim, a Antropologia passa a se preocupar não com 
a busca do exótico em outras sociedades. O trabalho de campo possibilitou também novas mu-
danças teóricas na Antropologia. Em Os Nuer, pode-se apreender que a estrutura social não se 
confunde com a estrutura concreta. O autor desloca-se da estrutura social como uma realidade 
empírica para entendê-la como relações conceitualizadas pelo antropólogo. Assim, o autor con-
cebe a estrutura social como um modelo que não se confunde com a realidade, aproximando-se 
da noção de estrutura que Lévi-Strausss desenvolveria posteriormente.
Vimos, então, nesta Unidade, que a perspectiva estrutural-funcionalista na Antropologia 
pode ser entendida como uma reação ao evolucionismo. Como ressalta Da Matta (1990, p. 101), 
os funcionalistas reagiram, sobretudo, ao conceito de “sobrevivência” dos evolucionistas. Pu-
demos ver que Malinowski foi o fundador do “programa funcionalista”. Da perspectiva fundada 
por Malinowski, as sociedades eram consideradas como sistemas integralmente funcionais. Para 
entender como as sociedades funcionam, Malinowski desenvolveu o conceito de cultura como 
uma resposta às necessidades biológicas. Para esse autor, as instituições existem para os indiví-
duos. Por outro lado, vimos como Radcliffe-Brown, outro importante antropólogo da Antropo-
logia britânica, assimilou a perspectiva teórica durkheimiana ao incorporar em sua análise o en-
tendimento dos princípios abstratos e mecanismos de integração social. Esse autor, ao elaborar 
a ideia de função e estrutura social, interessou-se em compreender como as sociedades se man-
têm coesas. Finalmente, analisamos a etnografia de Evans-Pritchard, buscando entender como 
relaciona ordem e conflito como um momento empírico, mas, sobretudo, como um problema da 
teoria antropológica.
Referências
DA MATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à Antropologia social. Rio de Janeiro: 
Rocco, 1990.
ERIKSEN, Thomas Hylland. História da Antropologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
EVANS-PRITCHARD, Edward Evans. Os nuer. São Paulo: Perspectiva, 1993.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2000.
KUPER, Adam. Antropólogos e Antropologia. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978.
MALINOWSKI, Bronislaw. Uma Teoria Científica da Cultura. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
PEIRANO, Mariza. A favor da etnografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1995.
RADCLIFFE-BROWN, Alfred R. Estrutura e Função na Sociedade Primitiva. Rio de Janeiro: Vo-
zes, 1973.
WHITE, Lesly. Evolucionismo e Anti-Evolucionismo na Teoria Etnológica Americana. In: Sociolo-
gia, São Paulo, vol. 10, nº 1, 1948.
ATiVidAdE
Faça uma reflexão 
sobre a relação entre 
ordem e conflito, to-
mando como referên-
cia Radcliffe-Brown e 
Evans-Pritchard.
diCA
Para uma melhor com-
preensão da etnografia 
de Evans-Pritchard, e 
para um entendimen-
to mais aprofundado 
de como é possível 
a manutenção dos 
sistemas políticos em 
sociedades sem Estado, 
leia os capítulos 3 
(“Tempo e Espaço”) e 
4 (“O Sistema Político”) 
do livro Os Nuer de 
Evans-Pritchard.
23
Ciências Sociais - Antropologia III
UnidAdE 2 
O estruturalismo de Lévi-Strauss
Leonardo Turchi Pacheco
Carlos Caixeta de Queiroz
2.1 Introdução
O pensamento de Claude Lévi-Strauss é complexo. Não é possível abarcá-lo em poucas pá-
ginas. Nesse sentido, esta Unidade tem como proposta introduzir as ideias básicas da teoria des-
se grande pensador. As subseções seguintes podem ser entendidas a partir de uma imagem: as 
ideias expostas são gotículas na imensidão oceânica do pensamento lévi-straussiano.
Tendo essa imagem em mente, escolhemos, no primeiro momento, apresentar a trajetória 
do homem Lévi-Strauss, suas influências intelectuais. Em seguida, apresentaremos de maneira 
esquemática e sintética o método estruturalista, os estudos sobre parentesco, as trocas simbóli-
cas, o totemismo e a lógica do concreto. 
Será uma grande vitória se vocês, acadêmicos, ao conhecerem as ideias de Lévi-Strauss, sen-
tirem-se estimulados a submergirem nos meandros mais complexos de sua lógica e de sua teo-
ria. E se vocês, por acaso, tomarem essa decisão, será imprescindível a leitura dos livros desse 
autor.
2.2 Lévi-Strauss: o homem e suas 
ideias
Claude Lévi-Strauss nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em 1908. Pouco depois, sua família se 
mudou para a França, onde ele foi criado. É bem possível que o pequeno Lévi-Strauss, através da 
presença de seu pai, que era pintor, e da lembrança de seu bisavô, que era violinista e maestro, 
tenha tido seu primeiro contato com as artes. Como morava no distrito XVI região boêmia da 
cidade das luzes, Paris, é também bem provável que tenha tido contato desde muito cedo com a 
poesia e os artifícios da linguagem.
Pois bem, pintura, música, poesia e linguagem, além de um galinheiro no fundo da casa, 
faziam parte da vivência da infância de Lévi-Strauss. Como veremos, exceto pelo galinheiro, o 
contato com as artes foram pri-
mordiais para a construção de 
suas ideias e da Antropologia es-
truturalista.
Quando eclodiu a I Guerra 
Mundial, seu pai foi recrutado e 
então o pequeno Lévi-Strauss, de 
sete anos, foi morar com sua mãe 
e suas irmãs na casa de seu avô 
materno, que era um rabino em 
Versailles. Essa associação com o 
judaísmo faria Lévi-Strauss fugir 
para Martinica e refugiar-se em 
Nova York, devido à invasão a Paris 
na II Guerra Mundial.
diCA
Para se familiarizar com 
o homem Lévi-Strauss, 
leia uma entrevista 
realizada com ele pela 
professora Beatriz 
Perrone Moises, da 
universidade de São 
Paulo. Essa entrevista 
se encontra na revista 
de antropologia da USP 
no sítio: http://www.
scielo.br/scielo.php?pi-
d=s0034-77011999000
100002&script=sci_
arttext
diCA
Leiam “Tristes Trópicos”, 
e preste atenção aos 
capítulos 6, 28 e 38 que 
são intitulados “Como 
se faz um etnógrafo”, 
“Lição de escrita” e 
“Um copinho de rum”, 
respectivamente. Se 
preferirem, leiam esses 
três capítulos e depois 
se aventurem pelo 
resto do livro.
◄ Figura 8: foto de Lévi-
Strauss no Brasil em 
1934.
Fonte: Disponível em 
http://i.telegraph.co.uk/
multimedia/archive/01515/
levi_strauss1_1515787c.
jpg. Acesso em 02 jun. 
2014.
24
UAB/Unimontes - 3º Período
Mas antes da II Guerra Mundial e antes de reinventar a Antropologia moderna e ter seu 
nome associado ao movimento estruturalista, Lévi-Strauss estudou Direito, Filosofia em Sorbon-
ne e veio duas vezes ao Brasil.
Em “Tristes Trópicos” (1996), seu livro mais acessível, mas ainda assim um tratado etnológi-
co disfarçado de biografia,Lévi-Strauss conta como, desiludido com o Direito e a Filosofia, tor-
nou-se um etnógrafo. No capítulo intitulado “Como se faz um Etnógrafo”, o autor compartilha 
suas percepções sobre o Direito e a Filosofia com os leitores e, de maneira mágica, descreve sua 
vocação antropológica.
Lévi-Strauss conta:
Sem dúvida, desde a tenra infância eu me dedicara a uma coleção de curiosi-
dades exóticas. Mas era uma atividade de antiquário, voltada para as áreas em 
que nem tudo era inacessível às minhas posses. Na adolescência, minha orien-
tação ainda continuava tão indecisa, que o primeiro que tentou formular um 
diagnóstico, meu professor de Filosofia do último ano, chamado André Cres-
son, indicou-me os estudos jurídicos como os que melhor correspondiam a 
meu temperamento; conservo profunda gratidão por sua memória devido à 
semiverdade que esse erro encobria. Desisti, portanto, da Escola Normal e ins-
crevi-me em Direito ao mesmo tempo em que fiz o curso de Filosofia; simples-
mente porque era muito fácil. Uma curiosa fatalidade pesa sobre o ensino de 
Direito. Preso entre a teologia da qual, nessa época, seu espírito o aproximava, 
e o jornalismo, para o qual a recente reforma está fazendo pender, parece que 
lhe é impossível situar-se num plano a um só tempo sólido e objetivo: perde 
uma das virtudes quando tenta conquistar ou conservar a outra. Objeto de es-
tudo para o homem de ciência, o jurista fazia-me pensar num animal que pre-
tendesse mostrar a lanterna mágica ao zoólogo. [...] Mais ainda do que sua es-
terilidade repelia-me a clientela do Direito (LEVI-STRAUSS, 1996, p. 51-52).
Se o Direito se distanciava do autor, a Filosofia, por sua parte, também não contribuía para 
torná-lo empolgado pelas experiências científicas. O modo como era ensinado o ofício filosófico 
na Sorbonne de então fazia Lévi-Strauss um constante indignado. E, para piorar a situação, quan-
do deu aula no Liceu, uma espécie de ensino médio para os franceses, descobriu que sua vida 
seria uma eterna repetição dos conteúdos apreendidos na escola de Sorbonne.
Lévi-Strauss lembra que:
Ali comecei a aprender que todo problema, grave ou fútil, pode ser liquidado 
pela aplicação de um método, sempre idêntico, que consiste em contrapor 
duas visões tradicionais da questão; em introduzir a primeira pelas justifica-
Figura 9: Foto de 
Claude Lévi-Strauss.
Fonte: Disponível 
em http://www.ugr.
es/~pwlac/G26_01Pedro_
Gomez_Garcia.html. 
Acesso em 02 jun. 2014.
►
25
Ciências Sociais - Antropologia III
ções do sentido comum, depois em destruí-las por meio da segunda; por úl-
timo, opô-las mutuamente graças a uma terceira que revela o caráter também 
parcial das outras duas, reduzidas pelos artifícios do vocabulário aos aspectos 
complementares de uma mesma realidade: forma e fundo, continente e con-
teúdo, ser e parecer, contínuo e descontínuo, essência e existência etc. Tais 
exercícios logo se tornam verbais baseados numa arte de trocadilho que ocupa 
o lugar da reflexão; as assonâncias entre os termos, as homofonias e as ambi-
guidades fornecem progressivamente a matéria dessas piruetas especulativas 
por cuja engenhosidade se reconhecem os bons trabalhos filosóficos. [...] A Fi-
losofia não era ancilla scientiarum, a serva e a auxiliar da exploração científica, 
mas uma espécie de contemplação estética da consciência em si mesma. Viam-
na, através dos séculos, elaborando construções cada vez mais leves e audacio-
sas, resolvendo problemas de equilíbrio ou de alcance, inventando requintes 
lógicos, e tudo isso era tanto mais meritório quanto maior fosse a perfeição 
técnica e a coerência interna; o ensino filosófico tornava-se comparável ao de 
uma história da arte que proclamaria o gótico como necessariamente superior 
ao românico, e no âmbito do primeiro, o flamboyante mais perfeito que o pri-
mitivo, mas em que ninguém indagaria o que é belo e o que não o é. O signifi-
cante não se reportava a nenhum significado, já não havia referente. O savoir-
faire substituía o gosto pela verdade (LEVI-STRAUSS, 1996, p. 49-50).
Essas inquietações apontam para o desapontamento com as ferramentas para atingir o co-
nhecimento proporcionado pela Filosofia. Se Levi-Strauss percebeu o Direito como algo estéril, a 
Filosofia foi entendida como uma repetição esquemática para os problemas científicos. Ao que 
parece, segundo o relato do autor, o caminho para o encontro com a etnografia era uma questão 
de tempo, uma atração inevitável e uma vocação sempre presente no inconsciente.
E, assim, mais do que de repente um grito: Eureka! Como exclamariam os filósofos gregos ao 
descobrirem e se encantarem com uma nova ideia. A Antropologia foi o grito vocacional Levi-s-
traussiano, a descoberta de seu lugar no mundo das ideias, a descoberta de seu lugar no mundo 
concreto.
É assim que, de maneira poética, com uma sensibilidade ímpar, daquelas que o leitor menos 
atento derrama lágrimas de emoção e o mais compenetrado decide mudar de vida, ele descreve 
sua descoberta. E como se não bastasse mostrar ao leitor a sua descoberta, ele ainda descreve os 
meandros de sua vocação no espírito do pesquisador, do etnógrafo, aquela “profissão-vocação
-refúgio-missão” que ele inconscientemente se viu atraído:
Nessa antinomia que opõe, de um lado, a profissão, e de outro, um projeto 
ambíguo que oscila entre a missão e o refúgio, e que sempre participa de uma 
ou de outro, sendo ora um ora outro, a etnografia ocupa decerto um lugar pri-
vilegiado. É a forma mais extrema que se possa conceber do segundo termo. 
Sempre se considerando o humano, o etnógrafo procura conhecer e julgar o 
homem de um ponto de vista elevado e distante o suficiente para abstraí-lo 
das contingências próprias a esta sociedade ou àquela civilização. Suas condi-
ções de vida e de trabalho o isolam fisicamente de seu grupo por longos perío-
dos; pela brutalidade das mudanças a que se expõe, ele adquire uma espécie 
de desarraigamento crônico: nunca mais se sentirá em casa, em nenhum lugar, 
permanecerá psicologicamente mutilado. Como a matemática ou a música, a 
etnografia é uma das raras vocações autênticas. Podemos descobri-la em nós, 
ainda que não tenha sido ensinada por ninguém (LEVI-STRAUSS, 1996, p. 53).
Descoberta a vocação, Lévi-Strauss em-
barcou para o Brasil em uma expedição onde 
viveu vários meses entre os índios Nambikwa-
ra. Voltaria ao Brasil em outra expedição para 
estudar a organização social e a expressão ar-
tística dos índios Bororo e Cadiweu. Todos es-
ses encontros foram relatados em “Tristes Tró-
picos”.
Entre uma e outra viagem ao Brasil, Lévi-S-
trauss se refugiou nos Estados Unidos, escre-
veu sua obra mais famosa, que revolucionou o 
conhecimento antropológico sobre os sistemas 
de parentesco, e o tornou uma referência entre os antropólogos, intitulada “As estruturas ele-
mentares do parentesco”, colecionou obras de arte “primitiva” e conheceu Roman Jakobson.
Roman Jakobson era professor de Linguística na Escola de Praga. Foi através dos ensina-
diCA
Para entenderem e ou-
virem uma aula sobre 
Lévi-Strauss, consulte 
o site do estado de São 
Paulo e ouça os comen-
tários de Luiz Zanir.
Fonte: http://www.
estadao.com.br/espe-
ciais/100-anos-de-levi
-strauss,38179.htm
◄ Figura 10: Desenhos 
minuciosos e 
simétricos, traçados 
com tinta obtida da 
mistura do suco do 
jenipapo com pó de 
carvão, marcam, até 
hoje, a pintura corporal 
dos Kadiwéu. Foto: 
Claude Lévi-Strauss, 
1935. 
Fonte: Disponível em 
http://img.socioambien-
tal.org/v/publico/institu-
cional/. Acesso em 02 jun. 
2014.
ATiVidAdE
Façam uma pesquisa na 
internet sobre a vida de 
Lévi-Strauss. Identi-
fiquem a correlação 
entre matemática, 
linguística, música 
e pintura para o seu 
pensamento.
26
UAB/Unimontes - 3º Período
mentos de Jakobson que Lévi-Strauss entrou em con-
tato com os métodos, os princípios e a ideias que o 
ajudaram a formular suas próprias ideias sobre o estru-
turalismo. Essas ideias resultaram no nascimento da An-
tropologia estrutural.
Vocês perceberama trajetória de Lévi-Strauss? No-
taram com as expressões artísticas, como a música e a 
pintura são importantes para pensar a Antropologia? 
Notaram que a Filosofia, Linguística e a Matemática são 
elementos fundamentais de sua formação?
Pois bem, agora nós iremos tratar nas próximas 
subseções das ideias, categorias e conceitos formulados 
por Lévi-Strauss sobre o método estruturalista, o paren-
tesco, o simbólico, a linguagem, o totemismo e a lógica do concreto.
Peguem um caderno, uma caneta ou lápis e prestem muita atenção. O pensamento de Lévi
-Strauss é complexo e cheio de nuances. Não é possível entendê-lo sem estruturá-lo e sistemati-
zá-lo em uma folha de papel. 
Ordem, aqui, é tudo!
2.3 A noção de estrutura
Ao construir a noção de estrutura em Antropo-
logia, a abordagem de Lévi-Strauss privilegiou os 
modelos constituídos a partir da realidade. Modelos, 
criados a partir do método de linguística fonológi-
ca, que têm um caráter de sistema que, por sua vez, 
formam estruturas inconscientes aos seres humanos, 
mas presentes no modo como esses comunicam suas 
ações.
Confuso? Então vamos por partes.
Em 1952, numa comunicação proferida em Nova 
York, Lévi-Strauss se propõe a definir o que é estrutu-
ra. A sua noção de estrutura se distancia da noção de 
estrutura da escola britânica que tinha como princi-
pal figura Radcliffe Brown. O problema da escola bri-
tânica residia no fato dela confundir a estrutura social 
com as relações sociais. Ora, para Lévi-Strauss, Rad-
cliffe Brown reduzia a estrutura social às relações ob-
serváveis na sociedade. A realidade era revelada pela 
simples observação do sensível, perceptível esponta-
neamente através de fatos sociais, isolados, dos quais 
os homens têm plena consciência.
Lévi-Strauss discorda de Radcliffe Brown na me-
dida em que entende que: “O princípio fundamental 
é que a noção de estrutura social não diz respeito à 
realidade empírica, mas aos modelos construídos em 
conformidade com esta” (LÉVI-STRAUSS, 1967, p. 315). 
Assim, para Lévi-Strauss, as observações do sen-
sível e das percepções espontâneas não dão conta de 
explicar as relações sociais. É preciso mergulhar no nível do sistema inconsciente. É preciso des-
cortinar as categorias que os homens utilizam sem saber Direito o porquê. É preciso fazer isso 
através de modelos das percepções inconscientes dos seres humanos. Dessa forma, as relações 
sociais se constituiriam em material para se alcançar as estruturas das lógicas de pensamento e 
ações.
Em relação aos modelos e sua natureza, o autor aponta que,
Figura 11: Foto de Lévi-
Strauss jovem no Brasil.
Fonte: Disponível 
em http://www.ugr.
es/~pwlac/G26_01Pedro_
Gomez_Garcia.html 
Acesso em 02 jun. 2014.
►
Figura 12: Estrutura de 
cano e aço vista de cima.
Fonte: Disponível em 
www.fotosearch.com.br. 
Acesso em 02 jun. 2014.
►
Figura 13: Estrutura de 
uma folha.
Fonte: Disponível em 
www.fotosearch.com.br. 
Acesso em 02 jun. 2014.
►
27
Ciências Sociais - Antropologia III
Um modelo qualquer pode ser consciente ou inconsciente, esta condição não 
afeta sua natureza. Pode-se apenas dizer que uma estrutura superficialmente 
enterrada no inconsciente torna mais provável a existência de um modelo que 
a mascare, com um écran, para a consciência coletiva. Com efeito, os modelos 
conscientes – que chamamos comumente de “normas” – contam-se entre os 
mais pobres que há, em virtude de sua função que é perpetuar as crenças e 
usos. Mais do que revelar-lhes a força motora. Assim a análise estrutural se de-
para com a situação paradoxal, bem conhecida do linguista: quanto mais níti-
da a estrutura aparente, mas difícil se torna aprender a estrutura profunda, por 
causa de modelos conscientes e deformados que se interpõem entre o obser-
vador e seu objeto. O etnólogo deverá, portanto, distinguir entre as duas situa-
ções em que está sujeito a ser colocado. Ele pode ter de construir um modelo 
correspondente a fenômenos cujo sistema não foi percebido pela sociedade. 
[...] Em outros casos, entretanto, o etnólogo tem de se haver, não somente com 
materiais brutos, mas também com modelos já construídos pela cultura consi-
derada, sob a forma de interpretações (LÉVI-STRAUSS, 1980, p. 9).
Mas como são construídos esses modelos que são o objeto da análise estrutural? Quais são 
as condições necessárias para que um modelo possa ser entendido como uma estrutura?
Para o modelo se tornar uma estrutura é necessário que ele satisfaça quatro condições (LEVI
-STRAUSS, 1967, p. 316 e 1980, p. 7):
a. O modelo deve oferecer um caráter de sistema. Isso implica que a modifica-
ção de um elemento dentro do sistema acarreta a transformação de todos os 
outros.
b. Todo modelo deve pertencer a um grupo de transformações. Cada transfor-
mação corresponderá a um modelo da mesma família. Por sua vez, o conjunto 
das transformações deve resultar num grupo de modelos.
c. Previsibilidade da reação do modelo se os elementos forem modificados.
d. O modelo deve ser construído de forma que seu funcionamento explique to-
dos os fatos observados.
Esses modelos se constituem como regras, leis univer-
sais das ordenações possíveis das relações sociais observá-
veis. Ou seja, os modelos analisados pelo viés estruturalista, 
devido às regras e leis, são de número limitado, assim como 
suas variações. 
Além disso, os modelos possuem uma lógica binária 
de classificação e seus elementos não podem ser entendi-
dos de forma isolada, mas sim em relação um com o outro. 
Portanto, os modelos são sistemas de relações que dotam a 
realidade de significado.
Vejamos dois exemplos desses sistemas: o primeiro se 
refere à alimentação e o segundo ao jogo de cartas. Para 
Lévi-Strauss, os alimentos são bons tanto para comer como 
para pensar as lógicas de significados de cada sociedade.
Os vocábulos queijo, cheese, frommage, isoladamente e 
fora do contexto estrutural em que cada um está inserido, 
podem dar a impressão de que se trata do mesmo alimen-
to. No entanto, se pensados dentro de um esquema cultural 
das sociedades brasileira, americana e francesa, esses ali-
mentos adquirem conotações completamente diferentes.
Para os brasileiros, o queijo é um alimento de gosto 
salgado. O queijo é associado a outros alimentos de sabo-
res salgados como o pão e pode ser consumido com uma 
boa xícara de café. Também pode ser consumido com do-
ces como a goiabada, a banana, o doce de figo, o que o torna saboroso devido ao contraste entre 
doce e salgado.
Para os americanos, o cheese é um alimento de gosto insosso. Não tem sabor. Não é nem 
salgado, nem amargo, nem ácido. É um completo sem sabor para ser consumido nos sanduíches 
e demais fast food.
Para os franceses o frommage é um alimento de gosto picante. Ao contrário da culinária bra-
sileira, o frommage na culinária francesa não é consumido com doces, mas sim com vinhos e pão.
◄ Figura 14: A estrutura 
cromática do 
caleidoscópio pode 
tomar diversas formas, 
dentro de um limite 
pré-estabelecido. 
O mesmo acontece 
com a estrutura dos 
fenômenos sociais 
dentro de uma 
determinada cultura.
Fonte: Disponível em 
www.fotosearch.com.br. 
Acesso em 02 jun. 2014.
diCA
Atenção! Quando 
Lévi-Strauss se refere à 
lógica binária, devemos 
entender que as clas-
sificações da realidade 
são feitas a partir de 
oposições de pares de 
opostos. A realidade, 
para adquirir sentido, 
geralmente, é ordenada 
e classificada tomando 
pares de coisas seme-
lhantes e diferentes. 
Assim temos: dia/noite, 
casa/rua, cru/cozido, 
masculino/feminino, 
público/privado, sagra-
do/profano e assim por 
diante. 
◄ Figura 15: Queijo, 
cheese, frommage.
Fonte: Disponível em 
www.fotosearch.com.br. 
Acesso em 02 jun. 2014.
28
UAB/Unimontes - 3º Período
Queijo = Brasil = Salgado
Frommage = França = Picante
Cheese = Estados Unidos = Insosso (sem gosto/bor-
rachudo)
Temos aqui um sistema que opera por contrastes, 
não podendo ser pensado isoladamente. O queijo to-
mado em relação com a culinária de cada país adquire 
sentidos múltiplos.O objeto que parecia o mesmo em 
todos os lugares ganha sua peculiaridade quando pen-
sado numa estrutura relacional.
O baralho também pode ser pensado como uma 
estrutura pré-determinada e com variações limitadas 
dentro do jogo que os participantes escolheram jogar. 
Os baralhos de língua portuguesa possuem 52 cartas 
distribuídas em 4 naipes, com 13 cartas cada de valores diferentes. 
Pode-se perceber que a estrutura das cartas permite uma série de combinações, dependen-
do do jogo. O truco, por exemplo, é uma disputa em três rodadas onde os indivíduos se organi-
zam em duplas. Cada indivíduo deve possuir três cartas nas mãos. Os valores dessas cartas vão 
desde a mais alta o 4 de paus, 7 de copas, Ás de espada (espadilha), 7 de ouro, todos os 3, todos 
os 2, todos os ases, até a mais baixa de todas: os reis, valetes e damas. No poker, o jogo é indivi-
dual, a sequência e os valores das cartas se modificam. A maior sequência é chamada “Straight 
Flush”, são cinco cartas em sequência do mesmo naipe. Logo após, a quadra “four of a kind” que 
são quatro cartas do mesmo valor de naipes diferentes. A seguinte é a “full house”, ou seja, uma 
sequência de três cartas de mesmo valor de naipes diferentes e duas cartas de mesmo valor e 
naipes diferentes. E assim por diante até chegar à combinação menos valiosa, o par.
Vejamos as semelhanças entre o jogo e o matrimônio. Ambos os fenômenos estão pré-es-
tabelecidos pelos sistemas em que se inserem. O casamento, se visto como um baralho, pode 
tomar várias formas; se nas cartas temos o jogo de truco, no casamento temos a monogamia; se 
nas cartas temos o jogo de poker, no casamento temos a poligamia. Os jogos e os matrimônios 
são pouco variáveis e universais. Em outras palavras, existe em cada cultura um número limitado 
de jogos possíveis de se jogar dentro de um sistema organizado. O mesmo ocorre com as formas 
de matrimônio. 
Ao construir a noção de estrutura na Antropologia, Lévi-Strauss precisou romper com uma 
série de preceitos filosóficos, históricos, atomísticos e empíricos (LAPLANTINE, 1996, p. 134-139).
O autor rompeu, no primeiro momento, com a Filosofia. O rompimento se deu na medida 
em que ele inverteu as ordens dos termos para se pensar o sujeito do conhecimento. A racionali-
dade consciente inserida na famosa frase de Descartes, “penso, logo, existo” é rejeitada. O incons-
ciente toma seu lugar como uma forma de se conhecer os sujeitos e a realidade mais profunda 
de suas relações.
Rompeu com o historicismo e com o evolucionismo na medida em que entendeu que a his-
tória linear e preocupada com o progresso e com as mudanças é um modelo ocidental. Existem 
outras formas de se conceber a história que não implica em uma cultura ser superior a outra. As 
lógicas de pensamento histórico são alinhadas a percepção do tempo e espaço de cada cultura.
Rompeu com o atomismo e com o empirismo. Como o modelo estruturalista provém da 
Linguística, ele só pode ser entendido a partir da relação entre seus elementos e nunca a partir 
de um fato isolado. Além do mais, os sistemas não são fatos observáveis pela impressão espon-
tânea. Os sistemas não são conscientes, mas sim inconsciente. Assim, como a língua tem uma 
gramática que não pensamos para utilizar suas regras, nas relações culturais acontece o mesmo. 
Não é preciso se perguntar os motivos de todos nós em um momento ou em outros contrairmos 
casamento para casarmos e entender que as pessoas simplesmente casam. Na nossa cultura, diz-
se que uma pessoa se casa porque está intimamente envolvida, afetiva e sexualmente com outra, 
porque está amando, porque encontrou sua outra metade, sua parte que faltava. Mas, por detrás 
dessas afirmações e categorias como amor, completude e envolvimento se escondem outras as 
quais os indivíduos não têm plena consciência. Existem regras, normas e leis – um sistema estru-
turado – que regem todo esse processo chamado casamento.
Enfim, o programa estruturalista se baseia nas seguintes abordagens:
diCA
A regra de ouro do 
estruturalismo é a se-
guinte: as inter-relações 
dos elementos são mais 
importantes do que os 
elementos sozinhos.
Figura 16: As cartas e 
suas estruturas
Fonte: Disponível em 
www.fotosearch.com.br. 
Acesso em 02 jun. 2014.
►
ATiVidAdE
Pesquisar o que Lévi
-Strauss entende por 
sociedades quentes e 
frias. Pesquisar o que 
Lévi-Strauss entende 
por história.
29
Ciências Sociais - Antropologia III
a. Existe certo número de materiais culturais sempre idênticos e invariáveis.
b. As diferentes estruturações são limitadas: “leis universais que regem as ativi-
dades inconscientes universais do espírito”.
c. Leis culturais semelhantes às leis gramaticais. (LAPLANTINE, 1996, p. 139):
2.4 Trocas simbólicas, alianças e 
proibições: de colares a mulheres 
A teoria do parentesco proposta por Lévi-Strauss é influenciada pelos estudos sobre o pa-
rentesco de dois antropólogos clássicos: Bronislaw Malinowski e Marcel Mauss.
Malinowski, apesar de pertencer à escola britânica de tradição empirista, a mesma que Rad-
cliffe Brown, foi fundamental para as ideias de Lévi-Strauss na medida em que mostrou como as 
alianças são forjadas por bens simbólicos. Em seu tratado etnográfico intitulado “Os argonautas 
do pacífico ocidental”, Malinowski estudou uma cerimônia chamada Kula. O Kula era um sistema 
cerimonial baseado na troca de presentes entre as tribos do Pacífico ocidental. Essa troca era es-
tabelecida por regras muito bem estruturadas. Os presentes, ora conchas, ora colares, eram tro-
cados em direções opostas de forma a circularem entre uma quantidade X de ilhas. Então, como 
um ponteiro de relógio, os colares e outros adornos circulam para um lado e as conchas para o 
outro.
Essa circulação possuía regras definidas de modo que determinados grupos recebiam co-
lares e determinadas famílias recebiam colares mais elaborados, dependendo da aliança que o 
grupo visitante almejasse estabelecer. Ao receber o presente, o sujeito deveria retribuir com uma 
concha ou um colar de forma que um grupo nunca permanecesse definitivamente com o objeto 
recebido. O interessante é que esses objetos – conchas e colares – não possuíam valor econômi-
co, de mercado. No entanto, possuíam valores simbólicos, pois permitiam que os grupos pudes-
sem se aliar e prestar favores. Além disso, essas trocas estabeleciam uma memória coletiva. Era 
possível, através das trocas, contar a história dos grupos e de seus antepassados envolvidos na 
cerimônia.
Marcel Mauss, impressionado com os relatos de Malinowski, elaborou uma teoria para en-
tender o papel das trocas de presentes nas sociedades humanas. Essa teoria foi explicada em 
seu estudo clássico intitulado “O ensaio sobre a Dádiva”. Nesse ensaio, Mauss dialoga com a eco-
nomia, assim como havia feito Malinowski, para mostrar que existem objetos que têm um valor 
◄ Figura 17: Malinowski e 
os Trobriandeses
Fonte: Disponível em 
http://ant1mcc.blogspot.
com.br/2010/09/o-kula-
-no-argonautas-do-pa-
cifico.html Acesso em 02 
jun. 2014.
ATiVidAdE
Pesquisem objetos na 
sua localidade; objetos 
que, apesar de não 
possuírem valor eco-
nômico, são valiosos 
simbolicamente.
diCA
Para entender a lógica 
das trocas e alianças e 
a teoria da reciprocida-
de, leiam os capítulos 
iniciais dos Argonautas 
do Pacífico ocidental e, 
em sequência, o ensaio 
sobre a dádiva. Depois, 
leiam os primeiros 
capítulos das Estruturas 
elementares do paren-
tesco. 
30
UAB/Unimontes - 3º Período
simbólico maior que o valor econômico do que ele pressupõe. Ainda, existem objetos/dádivas/
presentes que se obrigam a estabelecer relações de trocas e movimentam vários elementos da 
sociedade.
A teoria da reciprocidade se relacionada com a dádiva em uma obrigação tripla: dar, receber 
e retribuir. Assim como o Kula, diversas outras cerimônias implicam que os indivíduos engaja-
dos devem dar e esperam receber mais do que deram, para depois retribuir ainda mais. É assim 
que se constituem as alianças, se demonstram os afetos, e fazem

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