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{Catabolismo de Aminoácidos} Introdução O metabolismo de aminoácidos é muito dinâmico devido ao alto turnover proteico (reciclagem proteica) e também devido ao fato de que os aminoácidos são responsáveis pela geração de 10 a 15% da energia metabólica Um aspecto muito interessante do catabolismo de aminoácidos é que ele pode acontecer nos dois principais estados metabólicos: alimentado e jejum. Assim, os aminoácidos constituem substratos multifuncionais no nosso organismo, podendo gerar proteínas e gorduras para armazenamento (no estado alimentado) e também carboidratos e corpos cetônicos para atender às necessidades imediatas (no estado de jejum). Destino dos esqueletos carbônicos na via de degradação dos aminoácidos O fluxo ao longo das vias de degradação é bastante variável, ele depende do equilíbrio entre as necessidades para a síntese de proteínas e outros compostos nitrogenados e da disponibilidade do aminoácido para gerar moléculas energéticas. Assim como um mesmo precursor gera diferentes aminoácidos pelas vias biossintéticas, os vinte aminoácidos têm seu catabolismo convergente para seis produtos principais. Alguns aminoácidos podem gerar apenas gorduras ou corpos cetônicos (aminoácidos cetogênicos), outros podem gerar intermediários do Ciclo de Krebs (aminoácidos glicogênicos); e os de cadeia lateral mais extensa são ambos. O primeiro passo na degradação de aminoácidos é a transaminação. Esta reação visa à remoção do grupamento -amino, responsável peloα impedimento químico ao metabolismo da cadeia carbonada. Essa reação é catalisada por enzimas transaminases ou aminotransferases, dependentes do cofator piridoxal- fosfato (vitamina B6). Quando determinado aminoácido é substrato dessa reação, o grupamento amino é removido e, para evitar a toxicidade da amônia, é conjugado ao alfa- cetoglutarato, tendo como produto o glutamato e o cetoácido correspondente ao aminoácido degradado. A transaminação é importantes pois concentra no glutamato grande parte do metabolismo de aminoácidos. Aminoácidos que geram piruvato Seis aminoácidos podem ser convertidos parcial ou totalmente em piruvato, sendo eles: que a alanina, a cisteína, a glicina, a serina, a treonina e o triptofano. - Alanina: gera piruvato diretamente da reação de transaminação. - Triptofano: quando tem sua cadeia lateral clivada, produz alanina e, portanto, piruvato. - Cisteína: através de duas etapas enzimáticas, uma inclui a remoção do enxofre, e acaba gerando piruvato. - Serina: gera piruvato após a remoção da hidroxila e do grupo -α amino. - Glicina: pode ser degradada por três vias, sendo que apenas uma delas gera piruvato (ela é convertida em serina e, então, segue a via de degradação da serina até piruvato). - Treonina gera piruvato através da conversão em glicina, sendo que esta rota representa cerca de 10 a 30% do catabolismo da treonina. A rota mais importante de degradação da treonina gera o succinil-CoA. Na via de degradação que predomina nos animais, a glicina sofre clivagem oxidativa, gerando outros produtos Alternativamente pode ser substrato da enzima D- aminoácido-oxidase, que é responsável pela degradação de aminoácidos da série D, a qual não é a mais comum (todos os aminoácidos que constituem as nossas proteínas são da série L). Aminoácidos degradados a Acetil-CoA Sete aminoácidos podem produzir Acetil-CoA ou acetoacetil-CoA (depois convertido em Acetil-CoA): fenilalanina, isoleucina, leucina, lisina, tirosina, treonina e triptofano Devido a cadeia lateral, as etapas finais das vias de degradação de alguns destes aminoácidos são similares às etapas finais da oxidação dos ácidos graxos. Dentre os aminoácidos citados, dois merecem maior atenção. Sendo o triptofano detentor da mais complexa entre todas as vias de catabolismo de aminoácidos. Parte da cadeia do triptofano produzirá acetil-CoA via acetoacetil-CoA, outras partes serão precursores na síntese de biomoléculas. Apesar de ter via menos complexa, a degradação da fenilalanina é singular pois defeitos genéticos nas enzimas desta via levam a doenças genéticas. A fenilalanina e a tirosina são degradadas em dois fragmentos, sendo que ambos podem acabar ingressando no Ciclo de Krebs um pedaço da cadeia gera acetoacetil-CoA e, então, acetil-CoA, e um outro fragmento gera fumarato, intermediário do ciclo. Aminoácidos convertidos em intermediários do Ciclo de Krebs A arginina, o glutamato, a glutamina, a histidina e a prolina podem ser convertidos em alfa-cetoglutarato. A prolina possui uma cadeia lateral cíclica que é aberta por oxidação de um dos carbonos e, posteriormente, gera glutamato. A glutamina também doa seu grupamento amino da cadeia lateral e gera glutamato. O glutamato pode sofrer desaminação oxidativa ou transaminação e gerar alfa-cetoglutarato. A conversão de arginina e histidina em glutamato é um pouco mais complexa devido às suas estruturas químicas, entretanto, com alguns passos enzimáticos a mais, estes aminoácidos também convergem para formar alfa-cetoglutarato como produto de degradação. A isoleucina, a metionina, a treonina e a valina são aminoácidos que geram succinil-CoA. Assim como ácidos graxos de cadeia ímpar, a degradação destes aminoácidos gera propionil-CoA, resultando em succinil-CoA. A isoleucina gera ainda acetil-CoA, o propionil-CoA gerado é convertido em succinil-CoA em uma reação dependente de vitamina B12, a qual é presente apenas em alimentos de origem animal. A cadeia carbonada da asparagina e do aspartato são degradados no citosol a oxaloacetato. Em organismos simples como bactérias, ela entra no ciclo de ácido cítrico neste formato, entretanto, em organismos complexos é convertido em malato no citosol e daí transportado para a mitocôndria. Produtos Finais do Catabolismo de Aminoácidos Os aminoácidos possuem cadeias carbonadas que podem sofrer reações catabólicas e gerar produtos que permitem a classificação deles em dois grandes grupos: aminoácidos cetogênicos e glicogênicos, sendo que alguns possuem cadeia carbonada capaz de gerar uma porção cetogênica e uma porção glicogênica. O alfa-cetoglutarato, o oxaloacetato, o succinil-CoA e o piruvato são formados pela degradação dos aminoácidos glicogênicos. Todos são capazes de ingressar na via da gliconeogênese e gerar glicose para auxiliar na manutenção da glicemia. Em uma situação de jejum, a proteína muscular é mobilizada pela sinalização da adrenalina no músculo esquelético, que inicia a degradação dos aminoácidos para geração de energia e para exportação ao fígado, sendo os aminoácidos os principais substratos na síntese de glicose pela via da gliconeogênese. No caso do estado alimentado, ocorrendo o excesso destes aminoácidos, se houver estoque de glicogênio suficiente, o citrato gerado pelo ciclo do ácido cítrico sai da mitocôndria e participa da síntese de ácidos graxos no citosol. Os aminoácidos cetogênicos geram estruturas químicas que resultam na produção de acetil- CoA ou acetoacetato, ou seja, eles contribuem diretamente para a geração de energia no Ciclo de Krebs ou para a geração de corpos cetônicos, os quais são substratos energéticos importantes que o fígado exporta no momento de jejum prolongado. No estado alimentado, esse excesso de acetil-CoA gera ácido graxos para armazenamento na forma de triacilgliceróis, visto que não há um sistema de armazenamento de aminoácidos para fins de reserva metabólica no nosso organismo. Aminoácidopatias Erros inatos do metabolismo, são capazes de levar à interrupção de vias metabólicas pela falta do funcionamento adequado de enzimas que dariam seguimento às reações. As aminoacidopatias são distúrbios que impedem a transformação químicado aminoácido. Por se tratar de um problema inato, a maior parte destas doenças se manifesta muito cedo, podendo já dar sinais nos primeiros dias de vida do indivíduo. É importante ressaltar que, como há apenas um tipo de transportador de aminoácidos na barreira hematoencefálica, se houver acúmulo periférico de um único aminoácido por falha na sua rota de degradação, haverá predominância no transporte cerebral deste aminoácido abundante e falta dos outros aminoácidos para funções básicas cerebrais, como produção de neurotransmissores e outros produtos nitrogenados; por esse motivo, falhas nas vias de degradação de aminoácidos são tão graves em termos de efeitos cerebrais.
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