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Ensino de Química Equilíbrio químico e síntese da amônia Objetivo: Descrever a síntese da NH3 em termos de equilíbrio químico. Para as plantas crescerem é necessário hidrogênio (proveniente da água), carbono (proveniente da fotossíntese), oxigênio (proveniente da respiração) e nitrogênio. Os demais macronutrientes precisam estar no solo também. No ciclo do nitrogênio, verifica-se que a sua fixação nas plantas é fortemente dependente da presença de bactérias que vivem em simbiose com as plantas leguminosas. Essas bactérias localizam-se nos nódulos das raízes das leguminosas como feijões, ervilhas e alfafa. Portanto, a terra herda o nitrogênio dessas plantas, quando elas morrem. Daí a função da rotação de cultivos em uma plantação, pois, quando as plantações de leguminosas são alternadas com as plantações de cereais, grãos e outros vegetais possibilita-se a assimilação do nitrogênio para todos os tipos de vegetais que são plantados. Mas, com o aumento da produtividade agrícola, em muitos locais, a rotação de cultivos foi abandonada e, é claro, os solos passaram a empobrecer em nitrogênio. Daí surge a necessidade da adição de fertilizantes ao solo para garantir a quantidade necessária de nitrogênio para o crescimento dos vegetais. O esterco de animais é um fertilizante tradicional, porém ele vem cada vez mais sendo substituído por fertilizantes artificiais. Os fertilizantes são à base de amônia, nitratos e ureia . A amônia é a principal base dos fertilizantes, pois ela pode ser injetada diretamente nos solos cultivados ou ser transformada em nitratos e ureia. O processo de aperfeiçoamento em grande escala da síntese da amônia provocou um grande desenvolvimento industrial, desde o começo do século XX. Inicialmente, o químico alemão, Fritz Haber (1868 – 1934), por volta de 1908, propôs a síntese da amônia a partir dos gases nitrogênio (N2) e hidrogênio (H2): Haber propôs, em princípio, que a reação se desse a altas pressões e em baixas temperaturas. Pois bem, vamos recordar a definição de equilíbrio químico/termodinâmico: qualquer sistema vai atingir o equilíbrio quando as velocidades das reações direta e inversa forem iguais, correto? Mas, em termos termodinâmicos, isso significa que as funções de estado, entalpia e entropia , envolvidas devem ser favoráveis. Pois bem, o “árbitro” por assim dizer, entre a entalpia é a energia livre de Gibbs — que é a capacidade de um sistema de realizar trabalho — que relaciona a entalpia e a entropia e a espontaneidade por meio da seguinte relação: Lembrando que, para uma reação ser espontânea, é necessário que G < 0. Agora o mais importante a destacar é que a espontaneidade de uma reação não garante que a reação seja rápida. Mas, pode-se afirmar que quando um sistema atinge o equilíbrio termodinâmico, a reação não cessa e todas as espécies coexistem ao mesmo tempo, sem haver, portanto, alteração de suas concentrações ou pressões (como no caso da produção da amônia). Portanto, a grande novidade que Haber trouxe foi a utilização de altas pressões (500 a 1000 atm) para deslocar o equilíbrio. E, no caso específico desta reação que estamos estudando, o equilíbrio é deslocado para a formação da amônia. Quando um equilíbrio que envolve gases sofre aumento de pressão — com consequente redução do volume — o sistema se desloca para o sentido onde há o menor número de moléculas — ou, mais especificamente, a menor quantidade de matéria (mol) formada. Então, na reação de síntese da amônia, o aumento da pressão irá deslocar o equilíbrio para a direita. Baixas temperaturas também favorecem esse equilíbrio, pois sendo a reação exotérmica — pois há liberação 91,6 kJ de calor por mol de produto formado — a diminuição da temperatura favorece a reação direta pois o calor é um produto. Outra justificativa para a baixa temperatura é o ponto de ebulição da amônia que é de -33,5oC, portanto, a reação ocorrendo em -53oC, a amônia pode ser retirada no estado líquido. Em tão baixas temperaturas a reação é muito lenta, — termodinâmica é diferente de cinética, certo? — então, Haber propôs a adição de um catalisador metálico. Em primeiro lugar ele testou o ósmio e depois o urânio. E, por fim, ele não permitiu que a reação atingisse o equilíbrio, pois a amônia era continuamente retirada do sistema. Portanto, ao propor que a reação se desse em altas pressões, baixas temperaturas, na presença de um catalisador e com a retirada do produto, Haber estava perturbando o equilíbrio da reação! Ou seja, ele utilizou-se do Princípio de Le Chatelier para aperfeiçoar esta síntese. Lembrando que este princípio prova, por cálculos, que quando um equilíbrio é perturbado, a reação tende a ocorrer no sentido contrário àquela perturbação, para que o sistema retorne ao equilíbrio. Os estudos de Haber foram tão importantes que, em 1918 ele recebeu o Prêmio Nobel de Química pela síntese da amônia a partir de seus elementos. Na verdade, ele recebeu o Prêmio em 1919, pois em 1918 o comitê do Prêmio Nobel não havia encontrado um ganhador para aquele ano e, só no ano seguinte, Fritz Haber foi o escolhido e ganhou o Prêmio atrasado. Voltando a 1908, Carl Bosch (1874 – 1940) — um engenheiro metalúrgico e também químico, — que trabalhava na BASF, recebeu a tarefa de adaptar para escala industrial o processo de produção da amônia recentemente criado por Fritz Haber (a BASF acabara de adquirir os direitos sobre o processo). Bosch e sua equipe tiveram que desenvolver uma planta industrial e testar catalisadores mais baratos. Ele encontrou um catalisador de ferro, com alguns aditivos e passou a utilizar a temperatura de 500oC para a reação. Há pouco eu mencionava que a reação era favorecida por temperaturas baixas, porém, como a amônia produzida é continuamente retirada do sistema, a alta temperatura aumenta a velocidade da reação. Portanto, o baixo rendimento da reação — devido à alta temperatura — é compensado pela alta velocidade de produção da amônia. Carl Bosch ganhou o Prêmio Nobel em 1931 em reconhecimento às suas contribuições na invenção e desenvolvimento de métodos químicos a altas pressões. Ao contrário de Fritz Haber, que recebeu o Prêmio sozinho, Bosch dividiu o prêmio com o químico Friedrich Bergius, que desenvolveu métodos industriais de síntese de hidrocarbonetos, a partir de combustíveis fósseis, também utilizando altas pressões. O processo industrial de síntese da amônia é mais conhecido como processo Haber-Bosch. A amônia fabricada em escala industrial inicialmente serviu para a fabricação de explosivos e “alimentou” a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918). Até então, os explosivos eram fabricados a partir de nitratos obtidos por mineração dos grandes depósitos de sais de nitrato existentes no deserto do Atacama, no Chile. Esses depósitos continuam a ser uma importante fonte de mineração para aquele país. Nestes depósitos de nitrato encontram-se, principalmente, os seguintes sais: o nitrato de sódio, NaNO3 — o salitre do Chile — o nitrato de potássio, KNO3 e os sais mistos, nitrato e sulfato de sódio monoidratado Na3(SO4)(NO3).H2O e o nitrato e sulfato de potássio, sódio e magnésio hexaidratado, K3Na7Mg2(SO4)6(NO3)2.6H2O. Após a Primeira Guerra Mundial, a destinação da amônia produzida industrialmente passou a ser quase que totalmente destinada à fabricação de fertilizantes sintéticos. Atualmente, o processo Haber-Bosch é utilizado para produzir a maior parte da amônia que é consumida no mundo. Mais de 80% de sua produção é destinada para a produção de ureia, nitrato de amônio, sulfato de amônio e hidrogenofosfato de amônio. Algumas décadas após a síntese industrial da amônia deu-se a Revolução Verde, mais especificamente entre os anos 60 e 70 do século XX. Neste período, além da injeção de fertilizantes sintéticos no solo, também houve o desenvolvimento das máquinas agrícolas e de pesquisas — que se dão até hoje — na área da bioengenharia, para produção de sementes mais resistentes às intempéries, as chamadas sementes geneticamente modificadas. Bibliografia ATKINS, P. e JONES, L.,Princípios de Química – Questionando a Vida Moderna e o Meio Ambiente, 5ª ed., Porto Alegre: Bookman, 2012. CHANG, R. e GOLDSBY, K.A., Química, 11ª ed., Porto Alegre: AMGH, 2013. SPIRO, T.G. e STIGLIANI, W.M., Química Ambiental, 2ª ed., São Paulo: Pearson, 2008. Carl Bosch - Facts. Nobelprize.org. Nobel Media AB 2014. <http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/1931/bosch-facts.html >(acessado em 07 de outubro de 2019) Fritz Haber – Facts. Nobelprize.org. Nobel Media AB 2014. <http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/1918/haber-facts.html> (acessado em 07 de outubro de 2019) Sobre os depósitos de nitratos no Chile: https://www.cec.uchile.cl/~vmaksaev/NITRATOS%20Y%20SALARES.pdf (acessado em 18 de abril de 2017) http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/1931/bosch-facts.html http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/1918/haber-facts.html
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