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Gestão de Processos 1ª edição 2017 Gestão de Processos 5 3 Unidade 5 Monitoramento e a Gestão de Processos Para iniciar seus estudos Durante o estudo da unidade 5, conheceremos metodologias que nos per- mitem monitorar a eficiência de um processo. Vamos relembrar que o pro- cesso existe para produzir algo em determinado tempo e utilizando deter- minados recursos; é necessário monitorar e criar mecanismos que indiquem se os resultados estão de acordo com o esperado pela organização. Objetivos de Aprendizagem • Conhecer as principais metodologias e ferramentas para monito- ramento e gestão dos processos; • Entender os conceitos e a classificação de indicadores de desem- penho. 4 Gestão de Processos | Unidade 5 - Monitoramento e a Gestão de Processos 5.1. Monitoramento de processos de negócios Em algumas pesquisas, também encontramos o tema “Medição de Processos”. Assim como a prática de melho- rar o que já existe, a medição ou monitoramento também deve ser constante. Aliás, esse também é um processo cíclico: identificar processos importantes, mapear/modelar processos, melho- rar, implementar e medir/monitorar. Durante a fase de monitoramento, podem ser identificadas falhas ou opor- tunidades que servirão de insumo para uma nova iniciativa de melhoria. Viu como o ciclo é perfeito? Figura 1: Ciclos de vida do BPM Legenda: Representação de cada etapa do ciclo total de vida do método BPM. Fonte: <http://blog.iprocess.com.br/2012/04/um-bpmn-para-cada-proposito-de-modelagem-de-processos/>. http://blog.iprocess.com.br/2012/04/um-bpmn-para-cada-proposito-de-modelagem-de-processos/ 5 Gestão de Processos | Unidade 5 - Monitoramento e a Gestão de Processos 5.2. Indicadores de desempenho Para que esse acompanhamento reflita a realidade e nos forneça informações precisas e confiáveis, entram em cena os indicadores de desempenho. Antes de seguirmos, vamos conhecer algumas definições presentes no CBOK e que nos ajudarão a esclarecer algumas dúvidas, pois a literatura poderá apresentar outros termos quando o assunto for medir ou acompanhar resultados: • Medida é a quantificação de dados em um padrão e qualidade aceitáveis (exatidão, completude, consis- tência, temporalidade). • Métrica é uma extrapolação de medidas, isto é, uma conclusão com base em dados finitos. • Indicador é uma representação de forma simples ou intuitiva de uma métrica ou medida para facilitar sua interpretação quando comparada a uma referência ou alvo. Para o nosso curso, quando pensarmos em acompanhar/monitorar resultados, estaremos nos referindo aos Indi- cadores de Desempenho de Processos, em inglês Key Performance Indicator – KPI. A função de um KPI é, a partir de como a tarefa é realizada, garantir o desempenho do processo e garantir que esteja atingindo o objetivo determinado, medindo: Independentemente do tamanho da organização, os indicadores de desempenho são uma importante ferra- menta de gestão. O SEBRAE é uma importante organização cuja função é dar suporte aos micro e pequenos empreendedores. Os sites e as consultorias do SEBRAE oferecem diversas ferramentas de gestão. É possível fazer download de apostilas e cartilhas, como essa: <https://www.sebrae. com.br/sites/PortalSebrae/bis/indicadores-de-desempenho-e-gestao-empresarial>, que trata de Indicadores de Desempenho de Processos. https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/bis/indicadores-de-desempenho-e-gestao-empresarial https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/bis/indicadores-de-desempenho-e-gestao-empresarial 6 Gestão de Processos | Unidade 5 - Monitoramento e a Gestão de Processos Conheceremos ferramentas que auxiliam na construção de indicadores, mas precisamos ter em mente as pre- missas básicas, ou seja, os passos que devem estar concluídos antes de se idealizar a medição: Figura 2: Premissas para implementação de indicador Legenda: As cinco premissas para se implementar um indicador de desempenho. Fonte: BRITTO, Gart Capote de. Medição de Valor de Processos para BPM. Rio de Janeiro: Gart Capote, 2013. 1. Modelagem da verdade: significa ter em mente que os mapas dos processos foram gerados retratando ao máximo a realidade do que é executado; 2. Medição para análise: pensar em indicadores que de fato darão suporte para o processo de decisão; 3. Análise para Criação de Oportunidades de Melhoria: os indicadores devem oferecer subsídio para o ciclo do BPM, originando informações capazes de identificar melhorias a serem realizadas; 4. Criação de Indicadores para Monitoramento: falaremos mais à frente em ferramentas que auxiliam na construção de indicadores de desempenho; 5. Medição e Análise constante: os indicadores também devem ser analisados de tempos em tempos para garantir sua efetividade. Eles devem sofrer atualizações, por exemplo, sempre que há mudanças nos processos. Vamos entender melhor agora sobre a construção dessa importante ferramenta. 5.2.1 Construindo sistemas de medição Mas como criar indicadores de desempenho eficientes? Faça o seguinte exercício: suponha que você é gerente em uma clínica de saúde. Caso você elabore um indicador que mostre apenas quantos clientes foram atendidos por dia, quais análises você conseguirá extrair? Poucas. Mas se o seu indicador mostrar o número de clientes atendidos por dia versus o tempo de espera para cada aten- dimento, você começará a analisar, por exemplo, a capacidade de atender que a clínica possui. E pode, ainda, perceber se a clínica está atendendo acima ou abaixo de sua capacidade. Os sistemas de medição possuem uma hierarquia, dividida em três níveis, dependendo da complexidade e estrutura do gerenciamento que será ado- tado pela organização. 7 Gestão de Processos | Unidade 5 - Monitoramento e a Gestão de Processos Figura 3: Níveis de um sistema de Medicação Legenda: Os três níveis na hierarquia de um sistema de medição de desempenho Fonte: Guia de mapeamento e gestão por processos – BPM da Gauss Consultoria. • Nível estratégico: indicadores com o objetivo de avaliar os efeitos da estratégia nas partes interessadas e nas causas desses efeitos; • Nível gerencial: indicadores utilizados para verificar a contribuição dos setores; • Nível operacional: indicadores que avaliam o desempenho dos processos ou rotinas (conjunto de tare- fas) individuais. Existem metodologias que nos ajudam a definir melhor os indicadores que acompanharão os processos de negó- cios, a saber: 5.2.1.1 Performance Pyramid Também conhecida como SMART (Strategic Measurement, Analysis and Report Technique) é um modelo que busca representar os objetivos estratégicos da empresa de cima para baixo (top – down) e usa como insumo as medidas de desempenho distribuídas de baixo para cima (bottom – up). Sua finalidade é garantir a correta relação entre estratégia e operação. Ou seja, a realização de cada objetivo em um nível mais baixo, por exemplo melhorias na qualidade e nos prazos de entrega, ajudará a atingir objetivos de nível mais alto de satisfação do cliente, o que ajuda a aumentar a participação de mercado. É semelhante a próxima ferramenta, balanced scorecard, em que o mercado pode ser visto do ponto de vista do cliente. 8 Gestão de Processos | Unidade 5 - Monitoramento e a Gestão de Processos Figura 4: Exemplo de Performance Pyramid Legenda: Exemplo da ferramenta conhecida como Prisma de Performance. Fonte: Cross and Lynch (1992). 5.2.1.2 Balanced Scorecard – BSC É uma ferramenta criada por professores de Harvard e divulgada pela primeira vez em 1992 em um artigo. Por meio do BSC, que traduzido significa “indicadores balanceados de desempenho”, é possível realizar análises por quatro perspectivas: financeira, dos clientes, dos processos internos e do aprendizado e crescimento. • Perspectiva financeira: para sermos bem-sucedidos financeiramente, como deveríamos ser vistos pelos nossos acionistas? • Perspectiva dos clientes: para alcançarmos nossa visão, como deveríamos ser vistos pelos nossos clientes? • Perspectiva dos processos internos:para satisfazermos nossos acionistas e clientes, em que processo de negócio devemos alcançar a excelência? • Perspectiva do aprendizado e crescimento: para alcançarmos nossa visão, como sustentaremos nossa capacidade de mudar e melhorar? Historicamente, sempre que se pensava em medidas de desempenho, os indicadores traduziam apenas a pers- pectiva financeira, gerando uma expectativa incompleta do funcionamento futuro da organização. 9 Gestão de Processos | Unidade 5 - Monitoramento e a Gestão de Processos Logo, há a necessidade de se criarem indicadores com uma visão geral além da rentabilidade financeira. A implantação do BSC tem por premissa o estabelecimento da estrutura abaixo: Figura 5: Estrutura de implantação do BSC Legenda: As etapas que devem ser levadas em consideração durante a implementação de BSC. Fonte: Kaplan e Norton (1997). 10 Gestão de Processos | Unidade 5 - Monitoramento e a Gestão de Processos 5.2.1.3 Performance Prism Para essa ferramenta a peça fundamental no sistema de medição de desempenho são os stakeholders. Segundo Lima (2008) “o Performance Prism se torna capaz de criar indicadores que monitoram a estratégia e satisfaçam os principais interessados no sucesso do negócio”. Para o Prisma de Performance, tradução literal do nome da ferra- menta, são cinco as perspectivas que devem ser analisadas no processo de seleção das métricas de desempenho: Figura 6: As faces do Performance Prism Legenda: Os componentes de cada face da pirâmide. Fonte: Neely, Adams e Kennerly (2002). • Satisfação dos stakeholders: quem são e o que eles querem? • Contribuição dos stakeholders: o que queremos dos stakeholders? • Estratégias: quais estratégias precisaram pôr em prática para satisfazer os desejos e as necessidades dos nossos stakeholders? • Processos: quais os processos que precisamos pôr em prática para que possamos executar as estratégias? • Habilidades: quais aptidões são necessárias para operar nossos processos? “Para os autores desse modelo, as medidas de desempenho devem ser derivadas das necessidades dos stakehol- ders, contrariando outros modelos que pregam que as medidas devem ser derivadas da estratégia da organização”. 11 Gestão de Processos | Unidade 5 - Monitoramento e a Gestão de Processos 5.3. Monitoramento de processos Agora que a organização implementou um sistema de medição de desempenho, faz-se necessário manter uma rotina de coleta e processamento das informações coletadas pelos indicadores. Existem metodologias para monitoramento de processos já em execução: 5.3.1 Business Intelligence – BI É uma ferramenta que possibilita reunir dados independentes, de fontes distintas, e ajustar os dados para serem entregues resultados de acordo como desejado para visualização. No conceito, BI é um conjunto de metodolo- gias, processos, arquiteturas e tecnologias que transformam dados brutos em informações significativas e úteis. O BI pode ser utilizado para diversos fins: a. monitoramento; b. visão analítica: construção de processos quantitativos; c. emissão de relatórios: construção de informações para a gestão estratégica da empresa; d. colaboração: compartilhamento e processamento de dados de diversas áreas da empresa; e. gestão do conhecimento. Dada sua complexidade, o BI é executado nas empresas por profissionais de tecnologia da informação. O profis- sional analista de BI analisa e levanta requisitos, define modelos de dados que serão transformados em informa- ção e aplica a melhor ferramenta para a extração desses dados. 5.3.2 Business Activity Monitoring – BAM Segundo Gartner (2013), Business Activity Monitoring – BAM – é um termo que define como podemos prover acesso em tempo real (real-time) aos indicadores críticos de desempenho de negócios para melhorar a veloci- dade e eficiência de operações de negócios. Vamos pensar em uma empresa de geração e transmissão de energia elétrica. São muitos os indicadores que precisam ser trabalhados durante as operações de geração e transmissão. Existem alguns fatores que podem causar impactos (falhas) nesse processo, como escassez de chuva. Se não chover o suficiente, os reservatórios não enchem e pode não haver geração de energia suficiente para abastecer os lares e comércios de uma região. Um indicador utilizado é “Indicador de Continuidade dos Pontos de Controle”, que monitora, em tempo real, os níveis de água. Enquanto o BI tende a analisar dados acumulados para apontar padrões e tendências, o BAM trabalha em tempo real utilizando bancos de dados transacionais, serviços via web, mensagens etc. Logo, com a implantação do BAM, as empresas são capazes de monitorar seus processos e identificar falhas em tempo real. 12 Gestão de Processos | Unidade 5 - Monitoramento e a Gestão de Processos 5.3.3 Demais ferramentas Além das ferramentas apresentadas, existem outras possibilidades de monitorar/acompanhar o desempenho dos processos da organização. A empresa que contar com uma área de Tecnologia da Informação (TI) pode desenvolver bancos de dados e similares para auxiliar na tomada de decisão. E também a área de Qualidade pode oferecer uma visão do andamento dos processos produtivos com os resultados de suas próprias metodologias. • Ferramentas construídas internamente: a própria área de Tecnologia da Informação da organização pode desenvolver softwares de coleta e análise de dados a partir das informações geradas pelos indica- dores de processos. • Ferramentas da Qualidade: além das ferramentas mencionadas até agora, existem diversas ferramen- tas de Gestão da Qualidade aplicadas para o gerenciamento dos processos de negócios. Vale a pena destacar duas: • Seis Sigmas: tem por meta específica reduzir defeitos de produção para níveis próximos a zero. O sigma é uma letra grega que os estatísticos utilizam para representar o desvio-padrão em amostragens. Tudo aquilo que não atende às expectativas dos clientes é entendido como “defeito” e tratado pelo Seis Sig- mas. Exemplo: quando você solicita um hambúrguer sem queijo e sem picles e mesmo assim recebe um sanduíche completo, é considerado defeito no processo de “montar pedido número x”. Entre outros objetivos do programa, listam-se: a. redução de variabilidade; b. melhoria nos produtos; c. custos mais baixos; d. aumento de lucratividade com a redução de defeitos. • DMAIC: é semelhante ao PDCA. Figura 7: Etapas do DMAIC Legenda: O ciclo de etapas da metodologia DMAIC. Fonte: Autoria do professor. 13 Gestão de Processos | Unidade 5 - Monitoramento e a Gestão de Processos 1. Definir – definir o escopo do projeto; 2. Medir – determinar indicadores apropriados para medir o projeto; 3. Analisar – determinar as causas de cada problema definido; 4. Melhorar (Improve) – avaliar e implementar soluções para cada problema prioritário; 5. Controlar – garantir a perpetuação das mudanças. Consulte seu material de Gestão da Qualidade e liste as ferramentas que podem oferecer suporte ao sistema de medição de desempenho de uma organização. • Auditoria de processos: de acordo com CHOU, DU e LAI (2007) “Auditoria é um processo que estima o grau ou nível com o qual as atividades ou procedimentos de uma corporação correspondem a certos critérios estabelecidos, por exemplo regras corporativas, políticas corporativas e princípios gerais estabe- lecidos por órgãos regulamentadores e autoridades responsáveis”. Em geral, as empresas investem em áreas de auditorias contábeis cujo foco são os resultados financeiros da organização. Porém, empresas com maior grau de maturidade em processos costumam inserir a figura de Auditoria Interna. Os audi- tores internos buscam as evidências geradas pelos processos a fim de compará-los com os resultados apontados pelos indicadores e os objetivos estratégicos estabelecidos. Em resumo, a auditoria interna busca conformidade. De acordo com a ISSO 19011, a auditoria é caracterizada pela confiança em alguns princípios. Estes, por sua vez, tornam a auditoria uma ferramenta eficaz econfiável. Figura 8: Princípios da auditoria. Legenda: Os seis princípios da Auditoria. Fonte: Autoria do professor. 14 Gestão de Processos | Unidade 5 - Monitoramento e a Gestão de Processos 5.4. Escritório de Processos Conforme falamos, a implementação da Gestão de Processos não depende do porte da organização: seus “ensi- namentos” podem ser aplicados até por empreendedores individuais na organização de suas rotinas de trabalho. Porém, a quantidade de ferramentas e metodologias empregadas na implementação e no posterior monitora- mento está diretamente ligada ao nível de maturidade em processos em que se encontra a organização. Quando a empresa é madura nos conhecimentos de BPM e já está bem estruturada, é criado o Escritório de Pro- cessos. Tal escritório é tido como um centro de excelência na disciplina e executa a governança dos processos. Significa que é criada uma estrutura dedicada ao gerenciamento dos processos da organização, com visão cen- tralizada e efetiva, com recursos alocados exclusivamente para manter esse centro. Não devemos confundir o Escritório de Processos com o Escritório de Projetos. Existem diferenças, como: • Os projetos controlados por um escritório possuem prazos de entrega determinados, enquanto iniciati- vas de processos não se encerram (são cíclicas, lembra?); • Como vimos, processos podem ser auditados e melhorados. Projetos não podem ser melhorados depois de entregues. Um pode prestar suporte ao outro, pois as atividades de mapeamento e modelagem de processos podem ser organizadas, programadas e encerradas utilizando-se os conhecimentos de gestão de projetos. Assim como o Escritório de Processos pode mapear e monitorar as atividades de rotina executadas pela equipe de projetos. 15 Considerações finais Chegamos ao final da Unidade 5. Esperamos que você seja capaz de entender a importância de se monitorar desempenho. Faça o seguinte exercício: você adquiriu uma calculadora e espera que todas as teclas estejam funcionando e que os resultados das contas que você fará nela estejam corretos. Porém, você nota um defeito. Esse defeito é resultado de uma falha no processo que fabricou esse produto. E essa falha poderia ter sido evitada se existissem mecanismos que apontassem aos tomado- res de decisão que o processo está com problemas. Conhecemos, nesta Unidade, diversas ferramentas prontas ou meio de construí-las para nos alertar desses problemas em nossa organização. Além disso, esperamos que você consiga: • Entender princípios básicos de indicadores de desempenho; • Conhecer ferramentas típicas de controle e medição de desem- penho; • Estabelecer a relação entre as ferramentas de qualidade e o moni- toramento do desempenho de processos; • Conhecer, de forma geral, as atividades do Escritório de Processos. Referências bibliográficas 16 PAVANI Júnior, Orlando. Mapeamento e Gestão por Processos – BPM. São Paulo: M. Books do Brasil, 2011. LIMA, A. C. C.; CAVALCANTI, A. A.; PONTE, V. Da onda da gestão da quali- dade a uma filosofia da qualidade da gestão: balanced scorecard promo- vendo mudanças. Revista Contabilidade & Finanças. USP, 2008. DE BRITTO, Gart Capote. Medição de Valor de Processos para BPM. Rio de Janeiro: Gart Capote, 2013. CHOU, C. L.; DU, T.; LAI, V. S. Continuous auditing with a multi-agent system. Decision Support Systems, 2007.