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1 Julia Florenzano Soares – GT7 PNEUMO COR PULMONALE Definição Referido como doença cardiopulmonar, pode ser definido como alteração da estrutura e/ou função de VD, em quadro de doença pulmonar crônica, desencadeada pelo surgimento de hipertensão pulmonar. Definido como hipertrofia e dilatação ventriculares direitas secundárias à hipertensão pulmonar causada por doenças do parênquima pulmonar e/ou da vasculatura pulmonar, sem relação com o lado esquerdo do coração. Etiologia e epidemiologia O cor pulmonale ocorre em resposta a alterações agudas ou crônicas na vasculatura e/ou no parênquima pulmonares que sejam suficientes para causar hipertensão pulmonar A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a bronquite crônica são responsáveis por aproximadamente 50% dos casos de cor pulmonale. Cor pulmonale agudo: tromboembolismo pulmonar é a causa mais comum. Cor pulmonale crônico: DPOC. Outras causas: fibrose cística, obesidade , bronquiectasia, pneumoconioses, cifoescoliose, altas altitudes, colagenoses, pneumoconiose, síndrome da apneia do sono, hipertensão pulmonar primária, aneurismas, arterite pulmonar granulomatosa (sarcoidose, esquistossomose). Fisiopatologia O mecanismo fisiopatológico comum é uma hipertensão pulmonar que seja suficiente para alterar a estrutura do VD (dilatação com ou sem hipertrofia) e a função. Em quadros de doença do parênquima pulmonar, distúrbios vasculares primários do pulmão ou hipoxia (alveolar) crônica, o leito circulatório é submetido a graus variáveis de remodelamento vascular, vasoconstrição e destruição. Consequentemente, a pressão arterial pulmonar e pós-carga de VD aumentam, estabelecendo o quadro de cor pulmonale. As consequências sistêmicas do cor pulmonale estão relacionadas com alterações no débito cardíaco, assim como com a homeostase do sal e da água. Assim, a manutenção de sobrecarga pressórica imposta pela hipertensão pulmonar e pelo aumento na resistência vascular pulmonar finalmente causa a descompensação do VD. O cor pulmonale agudo ocorre após estímulo súbito e intenso (embolia pulmonar maciça), com dilatação e falência do VD, mas sem hipertrofia. O cor pulmonale crônico está associado a uma evolução mais lenta, com hipertensão pulmonar progressiva que causa hipertrofia inicial leve do VD seguida por dilatação. A descompensação aguda de cor pulmonale crônico previamente compensado é uma ocorrência clínica comum. Entre os desencadeantes estão agravamento de hipoxia por qualquer causa (pneumonia), acidemia (DPOC exarcebada), embolia pulmonar aguda, 2 Julia Florenzano Soares – GT7 PNEUMO taquiarritmia atrial, hipervolemia e ventilação mecânica que levam a pressão compressiva sobre os vasos sanguíneos alveolares. Alem disso, no cor pulmonale crônico, a hipertensão pulmonar faz com que haja represamento do sangue no VD, que aumenta sua pós-carga e força de contração para retirar o excesso de sangue. Com o tempo isso faz com que haja uma hipertrofia concêntrica do VD com consequente dilatação do VD. Esse processo sobrecarrega o AD que dilata, comprometendo o retorno venoso e causando os sintomas sistêmicos. OBS: Cor Pulmonale Crônico hipertensivo (não há hipóxia alveolar, ocorre em fibroses intersticiais difusas e doenças tromboembolíticas) e hipóxico (hipóxia alveolar, que gera vasoconstrição e poliglobulia secundária). O pulmão sobrecarrega o trabalho do ventrículo direito por mecanismos que aumentam a resistência vascular nos vasos pulmonares e, consequentemente, causam hipertensão pulmonar. Hipertensão pulmonar = PA média na artéria pulmonar >20mmHg (repouso) ou >25mmHg (esforço) Causas de aumento da resistência vascular: 1. Redução do leito vascular: Destruição dos septos alveolares (ex: Enfisema): leva a destruição dos capilares nele situados. Ressecção cirúrgica do parênquima pulmonar: reduz o leito vascular na mesma proporção da ressecção. Obliteração dos vasos pulmonares (por meio de fenômenos embólicos ou tromboembólicos) Vasoconstrição: ocorre diante de uma hipóxia alveolar ou de um estresse oxidativo (estimulam a produção de endotelina – vasoconstritor – pelas células endoteliais) 2. Aumento da viscosidade sanguínea Poliglobulia: primária (policitemia vera) ou secundária (estágio inicial de hipóxia, altitudes, etc) O aumento da viscosidade sanguínea faz com que os eritrócitos toquem as paredes dos vasos, provocando aumento da resistência vascular. Manifestações clinicas 1) Sintomas: geralmente estão relacionados com a doença pulmonar subjacente Dispneia, o sintoma mais comum, costuma resultar de maior esforço respiratório secundário às alterações na elasticidade pulmonar (doenças pulmonares fibróticas) ou à alteração nos mecanismos respiratórios (hiperinsuflação no DPOC), ou ventilação ineficiente (doença vascular pulmonar primária) A dor abdominal e a ascite que ocorrem no cor pulmonale são semelhantes às observadas na IC direita que acompanha a IC crônica. Pode haver edema dos membros inferiores secundariamente à ativação neuro- hormonal, à elevação da pressão de enchimento VD ou ao aumento do dióxido de carbono e hipoxemia, que podem levar à vasodilatação e formação de edema 2) Sinais: Taquipneia, aumento da pressão venosa jugular, hepatomegalia e edema dos membros inferiores. 3 Julia Florenzano Soares – GT7 PNEUMO Os pacientes podem apresentar ondas v proeminentes no pulso venoso jugular como resultado de regurgitação tricúspide. Outros sinais cardiovasculares incluem íctus de VD palpável ao longo da borda esternal esquerda ou no epigástrio. A cianose é um achado tardio no cor pulmonale, sendo secundária ao baixo débito cardíaco com vasoconstrição sistêmica e desuniformidade ventilação- perfusão no pulmão. 3) Ao EF: Hiperfonese de B2 em foco pulmonar: é um achado pouco sensível, pois, o aumento do diâmetro AP e a intromissão do parênquima pulmonar entre o coração e a caixa torácica (na DPOC, por exemplo) dificultam sua exteriorização e sua identificação na ausculta. Por outro lado, quando encontrado, é um forte indício de hipertensão pulmonar (↑especificidade). Hepatomegalia Taquipneia Ingurgitamento da jugular Ictus de VD palpável Cianose (casos mais graves) Diagnostico É importante avaliar o paciente quanto às funções sistólica e diastólica do VE. ECG: na hipertensão pulmonar grave apresenta onda P pulmonale, desvio do eixo para a direita e hipertrofia do VD Radiografia do tórax: pode revelar aumento das artérias pulmonares centrais principais e dos vasos hilares Espirometria e os volumes pulmonares: possível identificar disfunção com padrões obstrutivos ou restritivos indicativos de doença do parênquima pulmonar. Gasometria arterial: capaz de revelar hipoxemia e/ou hipercapnia TC helicoidal do tórax pode ser útil para o diagnóstico de doença tromboembólica aguda e a TC de alta resolução do tórax é capaz de identificar a doença pulmonar intersticial. Cintilografia de ventilação-perfusão: o exame mais adequado para o diagnóstico de doença tromboembólica crônica Ecocardiograma: útil para estimar a pressão arterial pulmonar, medir a espessura do VD e as dimensões da câmara Cateterismo do coração direito: útil para confirmar o diagnóstico de hipertensão pulmonar e excluir aumento das pressões no coração esquerdo (medidas como pressão encunhada da artéria pulmonar) como causa da insuficiência cardíaca direita Os níveis do BNP e do fragmento N terminal do pró-BNP estão elevados nos pacientes com cor pulmonale secundário ao estiramento miocárdico do VD, podendo estar significativamente aumentados na embolia pulmonar aguda. 4 Julia Florenzano Soares – GT7 PNEUMO Tratamento Além do tratamento da doença de base, baseia-se na melhora da oxigenação e contratilidade do VD, com consequente melhora do débito cardíacoe transporte de O2. Cessação do tabagismo Reabilitação pulmonar Oxigênioterapia: Em pacientes com DPOC e hipoxemia, melhora a sobrevida. Diuréticos: Melhora do edema e da dispneia. Anticoagulante: Tratamento paliativo. Melhora da sobrevida em pacientes com hipertensão arterial pulmonar Inibidores de fosfodiesterase-5: Primeira escolha. Ações: amplificam efeito do óxido nítrico e do BNP (fator natriurético cerebral), promovendo vasodilatação e efeito antiproliferativo na circulação pulmonar. Exemplos: sildenafil (viagra), vardenafil, tadalafil. Antagonistas de endotelina: A endotelina é sintetizada na circulação pulmonar com propriedades vasoconstritoras e mitogênicas. Ações dos antagonistas: minimizam efeito vasoconstritor e proliferativo; melhoram a tolerância ao exercício. Via inalatória e intravenosa. Exemplos: bosentan, sitaxsentan. Óxido nítrico: Vasodilatador pulmonar seletivo em pacientes com hipertensão pulmonar. Ações: abaixa a pressão arterial pulmonar e inibe o crescimento vascular pulmonar. Apesar de promissor, é caro, a infusão é contínua e o gás é inflamável. Prostaciclina: O endotélio na hipertensão pulmonar primária é caracterizado pela produção deficiente de prostaciclinas (prostaglandinas vasodilatadoras). Ações dos análogos da prostaciclina: vasodilatação, inibição da agregação plaquetária e crescimento vascular do músculo liso. Exemplo: epoprostenol.
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