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Professor André Hacl Castro DIREITO INTERNACIONAL O DIREITO INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEO RELACÕES INTERNACIONAIS 1. RELAÇÕES INTERNACIONAIS SOB O PRISMA JURÍDICO • Teia de laços (pessoas naturais e jurídicas) perpassa fronteiras nacionais – relações complexas. RELAÇÕES INTERNACIONAIS • Estados • Organizações Internacionais • Organizações Não Governamentais (ONGs) • Empresas • Indivíduos, etc. ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS RELAÇÕES INTERNACIONAIS SOB O PRISMA JURÍDICO RELAÇÕES INTERNACIONAIS: teia de laços (pessoas naturais e jurídicas) perpassa fronteiras nacionais – relações complexas. ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Estados Organizações Internacionais Organizações Não Governamentais (ONGs) Empresas indivíduos, etc. FATORES QUE CONDICIONAM AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: • Fatores políticos • Economia • Geopolítica • Poder militar • Cultura • Interesses • Necessidades e ideais humanos. 1.1. A sociedade internacional •DIFERENÇA ENTRE “COMUNIDADE” E “SOCIEDADE” INTERNACINAL • O termo COMUNIDADE fundamenta-se em vínculos espontâneos de caráter subjetivo, envolvendo identidade e laços culturais, emocionais, históricos, sociais, religiosos e familiares comuns. Ausência de dominação, convivência é harmônica, membros possuem cumplicidade e identificação. • O termo SOCIEDADE se apoia na “vontade” dos seus integrantes, que decidiram se associar para atingir certos objetivos que compartilham. É marcada pelo papel da vontade, elemento de aproximação de seus membros, pela existência de fins a alcançar. • O que os une são seus interesses • Há muitas diferenças ainda entre os povos, dificultando a identificação de pessoas no mundo. O QUE UNE ESTADOS EM UMA SOCIEDADE INTERNACIONAL? • Em termos dos problemas globais comuns, já é possível defender a existência de uma comunidade internacional, p. ex.: • segurança alimentar • meio ambiente • desastres naturais • direitos humanos • paz E QUANDO HÁ PROBLEMAS GLOBAIS COMUNS A TODOS OS ESTADOS? UM CONCEITO DE SOCIEDADE INTERNACIONAL É o conjunto de vínculos entre diversas pessoas e entidades, que coexistem por diversos motivos e que estabelecem relações que requerem uma disciplina. 1.2. Características da Sociedade Internacional. • Ela abrange o MUNDO INTEIRO mesmo alguns países não se integrando muito. A SOCIEDADE INTERNACIONAL É UNIVERSAL • Seus atores podem apresentar significativa diferença, como econômica, cultural, etc. Quanto maior a heterogeneidade maior a influência no processo de negociação e aplicação das normas internacionais, que poderá ser mais complexo. A SOCIEDADE INTERNACIONAL É HETEROGÊNEA • Ela é composta meramente por Estados. Se fosse composta só por estados, seria paritária (integrantes com igualdade jurídica), mas há desigualdade de fato entre os Estados, o que influencia o rumo das relações internacionais. A SOC. INTERNAC. É INTERESTATAL (doutrina minoritária) • Nela não há um PODER CENTRAL INTERNACIONAL ou um GOVERNO MUNDIAL, mas VÁRIOS CENTROS DE PODER (Estados, Organizações Internacionais), não subordinados a qualquer autoridade maior. • Ela não possui uma ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL (não há subordinação, mas coordenação de interesses entre os membros, definindo as regras que regulam o convívio). É DESCENTRALIZADA 1.3. A globalização e o sistema normativo internacional • É o processo de progressivo aprofundamento da integração entre as várias partes do mundo no campo político, econômico, social e cultural para formar um “espaço internacional comum” onde bens, serviços e pessoas circulem da forma mais desimpedida possível. GLOBALIZAÇÃO • Grandes Navegações • Revolução Industrial • Pós Guerra Fria EVENTOS HISTÓRICOS DE GLOBALIZAÇÃO • Ela sustenta-se no desenvolvimento das TIC’s (tecnologias da informação e comunicação) e na ampla propagação de valores comuns no campo político e econômico de vários Estados, como o Estado Democrático de Direito e a Economia de Mercado. GLOBALIZAÇÃO NA ATUALIDADE • Aumento nos fluxos do comércio internacional e de investimento estrangeiro direto (IED) • Acirramento da concorrência no comércio internacional • Maior independência entre os países • Expansão dos blocos regionais • Redefinição do papel do Estado e de noções como a de soberania estatal. CARACTERÍSTICAS DA GLOBALIZAÇÃO NO PRESENTE IMPASSES PARA FORMAÇÃO DE UM GRANDE MERCADO MUNDIAL Eventos como o 11 de setembro e a crise econômica no fim da primeira década do século XXI causaram um recuo nas ações para promover um grande mercado mundial, afetando o livre comércio e a integração regional, reduzindo-se até o uso da palavra “globalização”. A dinamicidade das relações internacionais fez surgir novas modalidades normativas mais flexíveis, como o “soft law”. Por isso os Estados limitam cada vez mais sua soberania, ampliando a submissão a um número crescente de tratados e de órgãos internacionais encarregados de assegurar a aplicação das normas internacionais. 2. CONCEITO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO Direito é fenômeno presente também na sociedade internacional (ubi societas, ibi jus), pautando as relações entre seus integrantes, visando permitir a coexistência destes, no marco de determinados valores que atores internacionais decidiram resguardar. ENTENDIMENTO CLÁSSICO SOBRE A SOCIEDADE INTERNACIONAL • o entendimento é de que a sociedade internacional é formada apenas por Estados soberanos, o que surgiu com a paz de Westfália (séc. XVII), quando o Estado foi alçado à categoria responsável pelas relações internacionais da sociedade que governava. • Só no séc. XX as ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS passam a fazer parte da ordem internacional. Daí surgiu a visão de que o direito internacional regula somente relações entre Estados e organismos internacionais, pois as organizações internacionais são criadas e compostas por Estados. • Hoje a participação direta de empresas e indivíduos marcam as relações internacionais, muitas vezes SEM a interferência dos Estados. • Temas com impacto direto sobre as vidas das pessoas exigem a cooperação entre Estados e organismos internacionais, por sua complexidade e capacidade de gerar efeitos, como a manutenção da paz, promoção de direitos humanos e proteção ao meio ambiente. • O direito internacional público passa a tutelar uma gama de questões de interesse direto de outros atores sociais, como os indivíduos. RELAÇÕES INTERNACIONAIS NOS DIAS DE HOJE • “ramo do direito que tem sido tradicionalmente entendido como o conjunto das regras escritas e não escritas que regulam o comportamento dos Estados” (remonta à paz de Westfália). Para Francisco Rezek é um “sistema jurídico autônomo, onde se ordenam as relações entre os Estados soberanos”. CONCEITO DE DIP (Alberto do Amaral Jr) • “conjunto de normas que regula as relações externas dos atores que compõem a sociedade internacional (Estados, Organizações Internacionais, o homem, etc)”. Para Valério Mazzuoli é um “sistema de normas jurídicas que visa a disciplinar e a regulamentar as atividades exteriores das atividades dos Estados (e também modernamente das organizações e ainda do próprio indivíduo). CONCEITO DE DIP (Celso Albuquerque de Mello) CONCEITO DE DIP (Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva e Hildebrando Accioly) – “conjunto de normas jurídicas que regulam as relações mútuas dos Estados e, subsidiariamente, as relações das demais pessoas internacionais, como determinadas organizações e dos indivíduos”. 3. TERMINOLOGIA • Termo utilizado pela primeira vez em 1870 (Jeremy Benthan) para diferenciar o direito que cuida das “relações entre os Estados” (Nations em inglês – Direito Nacional = Nations Law). Por influência francesa foi inserido o termo “Público” em alusão ao interesse geral da matéria regulada pelo direito internacional e para distingui-lo do direito internacional privado. DIREITO INTERNACIONAL• Parte da doutrina critica a expressão, visto que nations também significa “nação” (nação se confunde com Estado). Há autores que preferem “Direito das Gentes”, tradução do jus gentium do direito romano. DIREITO DAS GENTES 4. OBJETO DO DIREITO INTERNACIONAL 5. FUNDAMENTO DO DIREITO INTERN. PÚBL. Porque as normas internacionais são obrigatórias? O fundamento do DIP se concentra no debate doutrinário de duas teorias: Voluntarista Objetivista. VOLUNTARISMO •Caráter subjetivista. O elemento central é a VONTADE dos sujeitos de direito internacional. No voluntarismo os Estados e organizações internacionais devem observar as normas internacionais porque aceitam livremente fazê-lo, de forma expressa (tratados) ou tácita (aceitação de um costume). O direito internacional repousa no CONSENTIMENTO dos Estados. Também chamado de “corrente positivista”. VERTENTES TEÓRICAS DO VOLUNTARISMO • AUTOLIMITAÇÃO DA VONTADE (Georg Jellinek): o Estado, por sua própria vontade, submete-se às normas internacionais e limita sua soberania. • VONTADE COLETIVA (Heinrich Triepel) – o Direito Internacional nasce não da vontade de um ente estatal, mas da conjunção das vontades unânimes de vários Estados, formando uma só vontade coletiva. • CONSENTIMENTO DAS NAÇÕES (Hall e Oppeinheim) – o fundamento do direito das gentes é a vontade da maioria dos Estados de um grupo, exercida de maneira livre e sem vícios, mas sem a exigência de unanimidade. • DELEGAÇÃO DO DIREITO INTERNO (ou do “Direito estatal interno”, de Max Wenzel), para a qual o fundamento do Direito Internacional é encontrado no próprio ordenamento nacional dos entes estatais. OBJETIVISMO •Sustenta que a obrigatoriedade do Direito Internacional decorre da existência de valores, princípios ou regras que se revestem de uma importância tal que delas pode depender, objetivamente, o bom desenvolvimento e a própria existência da sociedade internacional. Tais normas SE COLOCAM ACIMA DA VONTADE DOS ESTADOS e devem, portanto, pautar as relações internacionais, devendo ser respeitada por todos. VERTENTES TEÓRICAS DO OBJETIVISMO • JUSNATURALISMO (teoria do Direito Natural) – normas internacionais impõe- se naturalmente, por terem fundamento na própria natureza humana, tendo origem divina ou sendo baseadas na razão. • TEORIAS SOCIOLÓGICAS DO DIREITO – a norma internacional tem origem no fato social que se impõe aos indivíduos. • TEORIA DA NORMA-BASE DE KELSEN – o fundamento do Direito Internacional é a norma hipotética fundamental, da qual decorrem todas as demais, inclusive as do direito interno, até porque não haveria diferença entre normas internacionais e internas. • DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS ESTADOS – o Direito Internacional fundamenta-se no fato de os Estados possuírem direitos que lhes são inerentes e que são oponíveis em relação a terceiros. • É criticada por condicionar toda a regulamentação internacional à mera vontade dos Estados, vinculando-as a vários condicionamentos. VOLUNTARISTA • Facilita o surgimento de normas que não correspondem aos anseios do povo porque minimiza a vontade dos atores internacionais na criação das normas internacionais, colocando em risco a convivência internacional. OBJETIVISTA CRÍTICAS ÀS DUAS CORRENTES • O Direito Internacional é obrigatório por conter normas importantes para o desenvolvimento da sociedade internacional, mas que dependem da vontade do Estado para existir. Quando um Estado consente com uma norma internacional, deve cumpri-la de boa fé. TEORIA DO PACTA SUNT SERVANDA (Dionísio Anzilotti) • Inclui elementos voluntaristas e objetivistas. Estados cumprem as normas internacionais com as quais consentiram, mas o exercício da vontade estatal não pode violar o “jus cogens”, preceitos imperativos e, que por sua importância, limitam a atividade estatal, nos termos da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1959 (art. 53), que diz que “é nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma de Direito Internacional aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo”. TEORIA MISTA 6. DIR. INTERN. PÚBL. E DIREITO INTERNO INTERDEPENDÊNCIA ENTRE DIREITO INTERNACIONAL E DIREITO INTERNO O direito internacional tem impacto direto no âmbito interno dos Estados. Vários atos vinculados ao Direito Internacional dependem de regras do ordenamento nacional, como a competência para celebrar tratados. Também, muitos compromissos internacionais requer ações de autoridades estatais e execução de ações dentro dos Estados. No Brasil, por exemplo, as normas internacionais são incorporadas à ordem jurídica doméstica, facilitando sua aplicação no território, pois se tornam exigíveis pelos órgãos competentes do Estado soberano COMO SOLUCIONAR CONFLITOS ENTRE NORMAS INTERNACIONAIS E INTERNAS? • Podem ocorrer conflitos entre normas de Direito Internacional e de Direito Interno, surgindo a necessidade de definir a norma que irá prevalecer. • Em geral a doutrina examina a matéria com base em duas teorias. O dualismo e o Monismo, mas têm surgido outras possibilidade de solução desses conflitos, como p. ex. a primazia da norma mais favorável ao indivíduo, que prevalece dentro do Direito Internacional dos Direitos Humanos. • A definição acerca da relação entre o Direito Internacional e o Direito Interno geralmente é feita dentro da Constituição. • Tem como principal premissa o fato de que que os ordenamentos jurídicos internos e internacional são distintos e totalmente independentes entre si, não podendo as normas entrar em conflito umas com as outras. • Papel do direito internacional: dirigir a convivência entre os Estados. Papel do direito interno: disciplinar as relações entre os indivíduos e entre esse e o ente estatal. • Os tratados seriam apenas compromissos assumidos na esfera externa, não podendo gerar efeitos no interior dos Estados. • A eficácia das normas internacionais não dependeria de sua compatibilidade com a norma interna e o direito nacional não precisaria se conformar com o direito internacional. DUALISMO • O dualismo vincula-se à “teoria da incorporação” (“transformação de mediatização”) de Paul Laband, pela qual um tratado poderá regular relações dentro do território de um Estado somente se for incorporado ao ordenamento interno como norma nacional. • Com esse processo de incorporação os conflitos que ocorrerem não envolverão o Direito Internacional e o Direito Interno, mas apenas normas nacionais. DUALISMO (CONTINUAÇÃO) DUALISMO MODERADO – teoria defendida por Yepes Pereira, Nascimento Silva e Hidelbrando Accioly • Teoria onde não é necessário que o conteúdo das normas internacionais seja inserido em um projeto de lei interna, bastando a incorporação dos tratados ao ordenamento interno por meio de procedimento específico, incluindo a aprovação do parlamento e posteriormente a ratificação pelo Chefe de Estado. No caso do Brasil, um Decreto de Promulgação do Presidente da República incluindo o ato internacional na ordem jurídica nacional. • Fundamenta-se na premissa de que existe apenas uma ordem jurídica, com normas internacionais e internas, interdependentes entre si. • As normas internacionais podem ter eficácia condicionada à harmonia de seu teor com o direito interno, e a aplicação da norma nacional pode exigir que estas não contrariem os preceitos do direito internacional a que se vincularam o Estado. • Foram criadas duas teorias para definir a norma que prevalecerá em caso de conflito: o monismo internacionalista (ou “monismo com primazia do Direito Internacional”) e o monismo nacionalista (ou “monismo com primazia do Direito Interno”). MONISMO • Kelsen. Entendia que o ordenamento jurídico é uno e que o Direito Internacional é a ordem hierarquicamente superior, da qual deriva o direito interno e a este está subordinado. O tratado teria total supremacia sobre o Direito Nacional e norma interna incompatível com o direito internacional seria declarada inválida. MONISMO INTERNACIONALISTA RADICAL –Escola de Viena • Alfred Von Verdross – nega a “não-validade” da norma interna cujo teor contrarie norma internacional. Os dois direitos poderiam ser aplicados pelas autoridades do Estado, mas o descumprimento da norma internacional poderia ensejar a responsabilidade internacional do Estado que a violasse. MONISMO INTERNACIONALISTA MODERADO MONISMO INTERNACIONALISTA MONISMO NACIONALISTA • Prega a primazia do direito interno de cada Estado. Fundamenta-se no valor da soberania estatal absoluta de autores como Hegel, ideia predominante na prática da convivência internacional a partir da Paz de Westfália. Os Estados só se vinculariam às normas com as quais consentissem e nos termos estabelecidos pelas respectivas ordens jurídicas nacionais. O ordenamento interno é hierarquicamente superior ao internacional e as normas internas deveriam prevalecer frente às internacionais. TEORIA ADOTADA PELO DIREITO INTERNACIONAL • Monismo internacionalista – art. 27 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969). As normas internacionais devem prevalecer sobre a própria Constituição de um Estado. Mas com a manutenção da soberania dos Estados nas relações internacionais, muitos Estados adotam entendimentos próprios sobre o tema, distanciando-se da concepção consagrada pelo Direito Internacional. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA NORMA MAIS FAVORÁVEL À VÍTIMA/INDIVÍDUO • Em conflito entre normas internacionais e internas, deve prevalecer aquela que melhor promova a dignidade humana. Fundamenta-se tanto no suposto primado da ordem internacional ou nacional, como na prevalência do imperativo da proteção da pessoa humana, valor percebido por grande parte da sociedade internacional como superior a qualquer outro no universo jurídico.
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