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4 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (FGV) MBA em Gestão de Projetos Gestão de Pessoas na Sociedade do Conhecimento Clayton de Oliveira Santos COACH CARTER: ALGUMAS LIÇÕES NECESSÁRIAS SOBRE A GESTÃO DE PESSOAS Trabalho acadêmico apresentado como requisito parcial para obtenção de aprovação na disciplina de Gestão de Pessoas na Sociedade do Conhecimento do MBA em Gestão de Projetos da Fundação Getulio Vargas (FGV). Professora Ms. Nádia Santos Campinas, SP. 2021 Turma IBE120BH-XEGE76 5 Índice de Ilustrações Ilustração 1: apresentação do novo técnico aos seus jogadores. ................................................. 5 Ilustração 2: o que vocês querem para os seus futuros? .............................................................. 7 Ilustração 3: um novo contrato só piorou as coisas, mas... .......................................................... 8 Ilustração 4: o comportamento vem antes das habilidades. ........................................................ 9 Ilustração 5: o resultado acadêmico é mais importante. ............................................................ 11 Ilustração 6: a reflexão é uma das melhores forma de se aprimorar a flexibilidade. ................. 12 Ilustração 7: primeiramente, eu dou as cartas... ........................................................................ 13 Ilustração 8: tudo bem, eu entendo. ........................................................................................... 14 Ilustração 9: vamos ajudá-lo, somos uma equipe. ...................................................................... 15 Ilustração 10: você não sabe o que nós vivemos. ....................................................................... 17 Ilustração 11: qual o nosso maior medo? ................................................................................... 18 6 Sumário 1. Introdução ............................................................................................................................ 4 2. Resumo da obra analisada: Coach Carter: treino para a vida .................................... 4 2.1. Justificativa ...................................................................................................................... 5 3. Coach Carter ....................................................................................................................... 6 3.1. Desenvolvimento de competências ............................................................................. 6 3.2. Cultura organizacional e clima organizacional........................................................... 7 3.3. Recrutamento e seleção................................................................................................ 9 3.4. Avaliação de desempenho baseado em indicadores chaves ............................... 10 3.5. Liderança e comunicação ........................................................................................... 11 3.6. Gestão de conflitos ....................................................................................................... 13 3.7. Gerações ....................................................................................................................... 16 4. Our deepest fear (O nosso maior medo) ...................................................................... 17 5. Considerações finais ........................................................................................................ 18 6. Autoavaliação .................................................................................................................... 19 Referências ............................................................................................................................... 20 4 1. Introdução O objetivo deste trabalho é refletir sobre a sociedade do conhecimento e o seu impacto sobre a gestão de pessoas dentro das organizações, tendo como referência principal a obra cinematográfica e estadunidense lançada em 2005 conhecida originalmente por Coach Carter (Coach Carter: treino para a vida). A obra analisada foi baseada em fatos ocorridos na década de noventa no estado americano da Califórnia, permitindo, portanto, um traçado paralelo sobre circunstâncias reais descritas em seu roteiro com as adversidades e desafios que os gestores de pessoas enfrentam dentro das organizações. Os aspectos gerais dentro de um processo de gestão de pessoas serão analisados sob alguns pontos específicos, incluindo, o desenvolvimento de competências de colaboradores, a cultura e o clima organizacional, os desafios em recrutar e selecionar pessoas e avaliar desempenhos, liderar pessoas e possuir uma comunicação clara, gerir conflitos e administrar anseios de gerações diferentes. 2. Resumo da obra analisada: Coach Carter: treino para a vida A obra conta uma parte da história da vida de Ken Carter que ocorreu na década de noventa, mais precisamente em 1999, quando este era dono de uma loja de artigos esportivos. Ken possui uma família estruturada e um empreendimento sólido, além de uma história vitoriosa e com alguns recordes esportivos. Neste ano, ele aceita o convite para ser o técnico do time de basquetebol de sua antiga escola. E experiência no esporte e principalmente daquele ambiente de trabalho, Carter impõe algumas condições inegociáveis (redigidas em contrato para cada jogador) para o desenvolvimento do seu trabalho, que tinha como foco a disciplina civil e a regularidade acadêmica de seus jogadores. Inicialmente, o treinador enfrenta uma grande resistência por parte de seus jogadores e por parte da direção da escola, até o momento que há a unificação da equipe e os excelentes resultados nas quadras acontecem. Ao descobrir o péssimo desempenho dos jogadores dentro das salas de 5 aulas, Carter decide por bloquear o acesso do ginásio de esportes e retirar por tempo indeterminado o time das obrigações esportivas, gerando, portanto, um clima de revolta por parte da sociedade. Para que os jogadores possam ter sucesso em suas vidas pessoais e profissionais, Carter acredita fielmente que o basquetebol é um privilégio e que a vida acadêmica é prioridade. “Estou tentando discipliná-los para que possam ter melhores escolhas”. (KEN CARTER, 1999 apud COACH CARTER, 2005). Ilustração 1: apresentação do novo técnico aos seus jogadores. Fonte: Coach Carter (2005). 2.1. Justificativa Quase todo ser humano sonha em viver por meio do entretenimento ou do esporte, e a grande maioria fracassa na busca por esse objetivo. No entanto, aqueles que conseguem acabam se tornando exemplos e fontes de inspiração para os demais desafortunados, e é aí que se estabelece um grande problema. Muitos deixam a vida acadêmica de lado em busca de um sonho quase impossível, e quando se dão conta, o tempo e as oportunidades de se ter uma vida melhor passaram. Com esta premissa, o filme Coach Carter consegue apresentar bem os anseios e as camadas de um verdadeiro líder que sempre objetiva o melhor para os seus jogadores, dentro e fora das quadras. O autor deste trabalho adotou esta obra como análise devido ao fato de que há um pequeno paralelo entre a trajetória dos jogadores e a sua vida profissional. Faltou um “senhor” Carter no começo da sua carreira. 6 3. Coach Carter Coach Carter é um filme que permite diversas analogias com o mundo corporativo, seu viés motivacional é escancarado nas mais de duas horas da obra, tempo suficiente para qualquer profissional que exerça algum cargo de liderança identificar diversas teorias sobre gestão de pessoas. Desenvolvimento de competências, cultura e clima organizacional, recrutamento e seleção, avaliação de desempenho baseado em indicadores chaves, liderança e comunicação, gestão de conflitos e geraçõessão alguns dos vários pontos relacionados a gestão de pessoas identificados no filme. 3.1. Desenvolvimento de competências Uma das principais prerrogativas de um gestor de pessoas é a obrigação de desenvolver as competências dos colaboradores de sua equipe. Um líder que possui esta virtude consegue resultados espetaculares, tanto para o atingimento das metas e objetivos da organização quanto para a vida pessoal de seus liderados. O feedback e o feedforward são instrumentos fundamentais nesse processo, pois permitem que o avaliado contemple por uma visão externa as suas fraquezas, forças, ameaças e oportunidades que circulam ao seu redor. No filme, por exemplo, observa-se em várias cenas o treinador Carter aplicando o feedback e feedforward aos seus jogadores, professores, à diretora da escola e aos pais dos alunos. Junto a isso, o treinador também demonstrava (da sua forma) um interesse real pela vida e futuro dos seus jogadores, visto que ele já esteve naquela posição. Isso fez com que os jogadores acreditassem que Carter realmente se importava com o potencial de cada um. Carter a todo o momento tirava os alunos das suas zonas de conforto, tanto fisicamente como mentalmente. De início, todos acreditavam que aquilo era apenas punição por não satisfazer o ego do líder, mas foram descobrindo aos poucos que sair da mediocridade estava elevando o nível de competição da equipe. 7 Ilustração 2: o que vocês querem para os seus futuros? Fonte: Coach Carter (2005). O treinador também procurou entender as limitações que cada jogador possuía, isso permitiu a obtenção de diagnósticos e resultados mais assertivos sobre a sua equipe, e trabalhava em cima disso. Todos os treinamentos para aumento de desempenho foram baseados nestes diagnósticos. Para Meneses e Zerbini (2009, p. 50) apud Cintra (2018, p. 109), “tradicionalmente, o processo de diagnóstico de necessidades de treinamento visa à identificação de lacunas das competências requeridas para um desempenho humano adequado no trabalho. Porém, essa análise deve ser realizada de maneira contínua e alinhada, tanto com os objetivos organizacionais, quanto com os objetivos individuais dos colaboradores”. Para Carter, as competências iniciavam-se antes e fora das quadras. Ser um jogador de basquetebol era apenas um privilégio, por isso o seu empenho em fazer com que os jogadores fossem acima da média nos estudos, pois o cenário esportivo apresentava um futuro incerto, o outro era mais promissor. Dentro das organizações o líder deve priorizar o desenvolvimento das competências de cada integrante de sua equipe, sejam elas técnicas ou psicológicas, e o recursos humanos devem ser peça fundamental nessa missão, visto que é o setor que tem a base requerida para o sucesso deste processo de capacitação. 3.2. Cultura organizacional e clima organizacional Toda organização possui uma cultura e um clima, e nem sempre uma vai de encontro a outra. A cultura organizacional está relacionada diretamente com a sua estratégia organizacional, ou seja, com a sua missão, visão e valores. Já o clima organizacional está ligado diretamente ao relacionamento entre ambiente e 8 colaboradores. Nota-se no filme que a filosofia de trabalho do novo técnico é totalmente conflitante com a cultura da equipe, de forma que esse empasse impactará diretamente no clima do time, que está longe de ser a ideal. Ilustração 3: um novo contrato só piorou as coisas, mas... Fonte: Coach Carter (2005). Desta forma, o líder Carter precisará autocraticamente intervir na cultura da equipe com o propósito de se obter um novo clima. Assim, o treinador investe em um choque de cultura na equipe, promovendo uma relação de respeito e lealdade entre os jogadores. Todo líder precisa entender a estratégia organizacional da sua empresa para que consiga demonstrar aos colaboradores qual é a cultura esperada, onde por meio da aplicação de métodos adequados de gestão ele obtenha um clima satisfatório de sua equipe. De acordo com Bressan (2004, p. 8), “não é possível elaborar receituários de como lidar com a reação dos empregados às mudanças. O que de fato interessa é alertar os gestores sobre a necessidade de conhecer os indivíduos e a cultura da organização, a fim de planejar as mudanças e saber lidar com as mais diferentes reações apresentadas. No caso de Carter, ele variou entre diferentes métodos de se liderar, desde o autocrata até o liberal, para que pudesse realizar uma manutenção adequada no clima da equipe, de forma que esta seja equalizada à nova cultura almejada pelo treinador. 9 3.3. Recrutamento e seleção Segundo Chiavenato (2014, p. 118) apud Avona (2015, p. 72), “seleção é um processo decisório baseado em dados confiáveis para agregar talentos e competências capazes de contribuir no longo prazo para o sucesso da organização. Além disso, a seleção é um processo de comparação entre as características que a empresa quer encontrar nos candidatos e o que de fato estes apresentam, resultando na escolha daquele que melhor atende aos critérios estabelecidos para a posição disponível”. Assim que Carter assume a liderança da equipe e impõe um contrato aos jogadores, algo que não havia até então, parte deles recusam as obrigações e acabam por abandonar a equipe, causando um grande desconforto a todos. Carter entendia que precisava melhorar os seus recursos humanos por meio de um rigoroso processo de seleção e treinamento, para que atingisse seus objetivos dentro e fora das quadras, para tanto, uma das cláusulas do contrato obrigava os alunos a participarem de todas as aulas do colégio, sentarem-se na primeira fileira da sala e obterem uma média mínima de 5,75. Para o treinador os valores e comportamentos individuais são prioridades às habilidades. Isto vai muito de encontro com a sistemática de recrutamento de poucas (poucas, mesmo) empresas: “contrate valores e posturas, treine as habilidades”. Ilustração 4: o comportamento vem antes das habilidades. Fonte: Coach Carter (2005). É nítido os altos custos que empresas tem ao contratar de forma equivocada profissionais que não são adequados para o clima e cultura organizacional, e isto acontece muitas vezes devido ao fato de a contratação focar nas habilidades 10 pessoais e não se atentar ao emocional do candidato. Além disso, muitos dos recursos humanos não disponibilizam de regras claras com relação a um processo de seleção e recrutamento, bem como não possuem um plano de carreira eficiente que visa o sucesso profissional do colaborador à margem dos objetivos da organização. Carter sabia que os jogadores que restaram se enquadrariam na nova metodologia de trabalho, e que com a dose certa de treinamentos as habilidades aflorariam naturalmente. E foi o que aconteceu, primeiramente uma sequência de treinos físicos (suportar o que os concorrentes não suportariam), seguido de uma sequência de treinos voltados à defesa e, para concluir, uma sequência de treinos para aprimorar o ataque. Um grande jogador que saiu da equipe logo que o treinador assumiu e decidiu retornar precisou passar pelo mesmo treinamento. As suas habilidades precisavam estar equilibradas com o comportamento e habilidades dos demais membros do time. 3.4. Avaliação de desempenho baseado em indicadores chaves Dentro dos processos industriais de fabricação bem como nos processos comerciais, os indicadores chaves de desempenho, também conhecidos como KPI’s, sempre foram e são muito presentes. Índice de produtividade, qualidade, desempenho de máquinas, vendas realizadas e cancelamento de contratos, são exemplos de indicadores de desempenho utilizados nos processos comerciais e industriais de uma organização. Todavia, muitas vezes estes indicadores dependem do fator humano, e este conceito parece que ainda não foi assimilado pelos departamentos de recursoshumanos de diversas organizações. De acordo com Kelvin (1824-1907) apud Caldeira (2012, p. 6), “quando se pode medir aquilo sobre o que estamos a falar e expressá-lo em números, sabemos alguma coisa a respeito do assunto; e quando não podemos expressá-lo em números, o nosso conhecimento a respeito do assunto é de um nível pobre e insatisfatório. Pode então ser o início do conhecimento, mas, no nosso pensamento, ainda mal começamos a avançar para a fase da ciência”. No contrato entregue aos jogadores Carter determinou alguns requisitos obrigatórios relacionados a vida acadêmica dos jogadores, incluindo a participação 11 de todas as aulas e uma média mínimas nas notas escolares. Os primeiros resultados coletados pelo treinador estavam bem longe das metas por ele estipuladas, mesmo com excelentes resultados dentro da quadra, parte dos alunos não estavam frequentando as aulas e as notas obtidas não eram satisfatórias, acarretando uma decisão um tanto quanto questionável aos jogadores. Ilustração 5: o resultado acadêmico é mais importante. Fonte: Coach Carter (2005). Carter trabalhou firmemente para que os jogadores entendessem seu papel na sociedade, e que uma vida acadêmica de sucesso é fundamental para os objetivos pessoais de cada um. Quando todos os indicadores de desempenho atenderam as metas estipuladas, a equipe se encontrou em total harmonia organizacional. 3.5. Liderança e comunicação Um líder precisa enfrentar vários desafios dentro uma organização: os desafios impostos por ele mesmo, os que são impostos pelos seus pares, os impostos pelos seus liderados, os que vem do clima e cultura organizacional, e os que vem da alta direção. Bendassolli et al. (2014, p. 419) definem liderança como “um processo que envolve influenciar pessoas e ocorre em grupos, envolve a busca por mudanças reais tanto por parte dos líderes como da parte dos liderados, e envolve o estabelecimento e a realização de objetivos comuns”. Carter enfrentou todos estes desafios colocados acima, e mesmo entre 12 tantos obstáculos, ele conseguiu seus objetivos. Junto a seus pares (demais professores) ele pode coletar informações básicas sobre seus jogadores. Com os alunos ele conseguiu o devido respeito e admiração ao balancear o clima e a cultura organizacional, e relacionado à direção da escola, com muita dificuldade, ele conseguiu transmitir a sua mensagem e obter o seu apoio. Essa motivação transmitida por Carter aos seus pares vinha de sua história junto a mesma sociedade. Carter foi um ótimo aluno e atleta recordista daquela escola, e possuía um negócio naquela cidade, ou seja, o que ele vivia não era um sonho impossível, e sim um exemplo a ser seguido. Com esta premissa o treinador jamais desistiu dos seus alunos, pelo contrário, foi um motivador independentemente de seus métodos. Um líder que desiste de seus liderados apresenta uma grande inflexibilidade nos seus processos de gestão, e isto é transmitido a sua equipe. Ilustração 6: a reflexão é uma das melhores forma de se aprimorar a flexibilidade. Fonte: Coach Carter (2005). A virtude da flexibilidade de um líder está no poder que este tem de praticar empatia, muitas vezes isso ocorre por meio da reflexão sobre todas as variáveis constantes naquele meio. Carter possuía diversas qualidades que um bom gestor precisa ter: ele conhecia o ambiente, o processo e as pessoas, ele planejava as ações e tinha raciocínio rápido sob todas as condições, em um certo ponto foi um excelente ouvinte e comunicava-se de forma clara e direta, tanto verbalmente quanto fisicamente e a sua integridade não permitia titubear. De acordo com Willians (2016, p. 296), “comunicação é o processo de 13 transmissão de informação de uma pessoa ou de um lugar para outra pessoa ou outro lugar. Embora alguns chefes procurem atenuar o impacto das más notícias, gestores inteligentes compreendem que, no final, a comunicação eficaz e direta entre gestores e funcionários é essencial para o sucesso de todos. 3.6. Gestão de conflitos De acordo com Scarcella (2019) existem três tipos de conflitos, o intrapessoal, o interpessoal e intergrupal. O conflito intrapessoal é o que ocorre dentro de cada um de nós, é o conflito interno que trazemos e que impacta ao nosso redor. Afinal, são os valores morais, éticos e crenças fundamentados no meio em que fomos criados. Ao conviver com pessoas que trazem valores diferentes dos nossos é inevitável o surgimento de um conflito. Desse modo, o conflito intrapessoal acaba sendo responsável, muitas vezes, pelo surgimento do conflito interpessoal. Já o conflito intergrupal corresponde ao conflito entre grupos. Ele é muito comum em grandes empresas onde os departamentos, muitas vezes, enxergam-se como rivais Um bom gestor precisa gerenciar estes conflitos e transitar por três comportamentos (posturas) distintos a fim de mitigá-los: autocrático, democrático e liberal. Ilustração 7: primeiramente, eu dou as cartas... Fonte: Coach Carter (2005). 14 Diante de um clima e cultura organizacional inicialmente pesado que estava sobre as mãos de Carter, ele precisou gerenciar cada tipo de conflito por meio da movimentação entre cada postura com o intuito de obter os resultados pretendidos. E a primeira postura foi a autoritário, visto que a equipe possuía muitos conflitos intrapessoais, interpessoais e intergrupais, o que gerava um alto índice de rebeldia, transgressão e aversão a disciplina. Carter não tinha outra opção a não ser o autoritarismo, mesmo que isso custasse a saída de bons jogadores e o desagrado de toda a equipe. Os treinamentos eram rígidos e as normas de condutas impostas aos atletas eram atípicas daquela sociedade. Carter foi autoritário em fases distintas e opostas: na derrota e na vitória. Mesmo quando o time estava invicto no campeonato, ele decidiu por fechar os portões do ginásio até que os alunos cumprissem as metas acadêmicas estipuladas no contrato. Mesmo os jogadores entendendo a importância de se seguir regras, diante de algumas conquistas foi inevitável a quebra de algumas delas, como, por exemplo, a falta de humildade e respeito para com os adversários. Ilustração 8: tudo bem, eu entendo. Fonte: Coach Carter (2005). Como as primeiras metas eram as vitórias para elevação da moral da equipe, Carter, com uma postura liberal, permitiu alguns atos falhos de seus liderados. Com esta flexibilidade os jogadores entenderam o significado de trabalho em equipe e os conflitos foram pulverizados aos poucos. 15 Quando Timo Cruz - um dos jogadores que abandaram a equipe quando Carter assumiu – pede para retornar a equipe, Carter condiciona o retorno do atleta a uma tarefa impossível de se realizar individualmente. Ilustração 9: vamos ajudá-lo, somos uma equipe. Fonte: Coach Carter (2005). Vendo seu amigo se desgastar completamente e mesmo assim falhar, os demais jogadores avisam ao treinador que eles irão terminar a tarefa imposta ao Cruz. Carter então percebe que o time está amadurecendo em todos os aspectos e permite democraticamente que os demais jogadores terminem a tarefa por Cruz. Esta postura democrática do treinador e colaborativa dos jogadores é refletida nas quadras por meio do sucesso da equipe. É nítida a motivação e empenho dos seus atletas, Carter percebe que metade das metas foi alcançada. Porém, Carter tem outros conflitos a gerir além das quadras, ele precisa urgentemente fazer com que a sua diretora entenda o propósito do seu trabalho. Para ela o que importa são apenas os resultados em quadra, pois acredita que as vitórias serão os únicos momentos gratificantes na vida daqueles alunos. Isto é perceptível em muitas organizações, o líder não consegue extrair o máximo dos seus colaboradores devido ao fato da alta gestão não entender os objetivos particulares daquele setor. Carter precisou muitasvezes ser autocrata com seus pares e superiores. Para Ahrens (2012) apud Malakowsky e Kassick (2014), em vez de considerar o conflito como uma oportunidade de confronto entre as pessoas, as organizações consideram as situações conflitantes como oportunidades de crescimento que requerem cuidados na forma de gerenciamento, ou seja, o conflito é uma oportunidade de crescimento para a organização, visto que novas opiniões, expressões e possibilidades são criadas. 16 Quando o treinador decidiu por trancar as portas do colégio devido as péssimas notas e alto absenteísmo dos alunos na sala de aula, mesmo quando o time estava participando (e indo muito bem) no principal torneio da temporada, ele “criou” um grande conflito com toda a sociedade. Os pais dos alunos, apoiada pela imprensa local, não entendiam aquelas atitudes arbitrárias por parte do treinador. Nesta parte do filme vemos novamente uma postura autocrática com sentimentos nada flexíveis a respeito de sua decisão. Mas Carter, como todo bom gestor, possuía a estatística a seu favor, e todos os números foram escancarados aos seus jogadores, provando para todos que apenas o fracasso os esperavam caso eles não dessem prioridades aos estudos. Com uma comunicação impecável e um modo de persuasão baseado em dados, o treinador conseguiu o apoio dos jogadores e dos demais professores, atingindo o seu objetivo principal, desenvolver todas as capacidades profissionais e pessoais e prepará-los para o futuro. 3.7. Gerações Vivemos um momento incrível atualmente: a mistura de gerações dentro da sociedade e, principalmente, das organizações. Em uma única empresa é possível ver pessoas da geração baby boomers junto com as gerações X, Y e Z. Esta mistura precisa muito bem ser trabalhada dentro de qualquer empresa, e o recursos humanos também é fundamental neste processo. Cada geração tem os seus costumes, seus anseios e suas angústias, e, geralmente, são conflitantes entre cada grupo. A empresa que conseguir filtrar e absorver as melhores qualidades de cada indivíduo em sua geração conseguirá obter níveis mais elevados de desempenho e comprometimento. O objetivo principal de uma empresa é obter lucro. Para essa finalidade, ela exige um requisito básico dos colaboradores envolvidos, que é a capacidade de trabalhar em equipe. A evolução profissional individual depende do aprendizado, que, por sua vez, depende da troca de experiências. Todas as gerações têm a ensinar umas às outras. Um profissional mais velho, mesmo conservador, precisa compreender que o mais novo possui os atributos da inovação, da energia, da motivação e da habilidade em lidar com o novo, e assim vice-versa (MALAKOWSKY E KASSICK, 2014). 17 Para tanto, os recursos humanos deverão trabalhar duramente para que a cultura organizacional permita a eliminação de estereótipos entre gerações, que as expectativas de trabalho sejam transparentes a todos, que a comunicação seja estimulada e que oportunidades sejam criadas para todos. No filme, Carter precisa ser flexível quanto aos anseios da geração do seu time, bem como aos axiomas dos seus pares. Para tanto, o treinador precisa refletir e compreender os limites e desejos de todos, para assim poder resgatar o melhor de cada indivíduo em sua geração. Ilustração 10: você não sabe o que nós vivemos. Fonte: Coach Carter (2005). 4. Our deepest fear (O nosso maior medo) Sempre que assistimos a um filme ficamos aguardando pela cena épica, o ápice da história, o ponto de convergência entre muitos sentimentos. E em um filme motivacional essa expectativa é muito alta, pois colocamos esperanças de que a obra quebrará algum paradigma sobre nossas vidas pessoais ou profissionais. Em Coach Carter há várias cenas épicas e emocionantes, e que nos fazem refletir a cerca de nossas atitudes como líderes ou liderados. Procuramos em um filme como esse motivos para não termos mais medo de nossas posições e iniciativas em nossas vidas, ou pior, medo de comparar a obra com a nossa realidade e encontrar indícios de comportamento que são desagradáveis, mas que é intrínseco à nós. Quando assistimos a cena “O nosso maior medo” percebemos o quanto somos pequenos em acreditar que um grupo de pessoas sem estrutura alguma não possa evoluir. Muitas vezes essa premissa não permite que aflore em nós o coach que precisamos ser, e que esperam de nós. 18 Para contextualizar, esta cena mostra os alunos estudando dentro do ginásio trancado logo após o pedido de demissão de Carter. Esse gesto por parte dos alunos evidencia o quanto o time está fechado com o técnico, mesmo que toda a sociedade esteja contra. É o resultado de um árduo trabalho por parte do coach. Ilustração 11: qual o nosso maior medo? Fonte: Coach Carter (2005). “O nosso maior medo não é o de ser inadequados, o nosso maior medo é o de ser infinitamente poderosos. É a nossa própria luz, não a nossa escuridão que nos amedronta. Ser pequeno não engrandece o mundo, não há nada de transcendente em sermos pequenos, pois assim os outros não se sentirão inseguros ao nosso lado. Todos estamos destinados a brilhar, como as crianças, não apenas alguns de nós, mas todos. E enquanto irradiamos a nossa admirável luz interior, inconscientemente estamos a permitir aos outros fazer o mesmo. E quando nos libertarmos dos nossos próprios medos, a nossa presença automaticamente libertará os medos dos outros.” Timo Cruz, Coach Carter, 2005. 5. Considerações finais A disciplina de Gestão de Pessoas na Sociedade do Conhecimento bem como o filme Coach Carter (baseado em uma história real), nos permitiu reflexões a respeito de nossas vidas pessoais e profissionais e, reforçou sobre a importância em depositarmos forças no desenvolvimento de competências de nossos pares ou liderados. Demonstrou a necessidade de se praticar a empatia em nosso meio para que possamos entender e melhorar o clima organizacional para todos. Conseguimos também entender a necessidade de priorizarmos em determinadas ocasiões o comportamento à habilidade técnica na hora da seleção e recrutamento, bem como definirmos metas SMART as nossas equipes. Precisamos ser mais transparentes e objetivos em nossas comunicações e entender que os conflitos são reais, trabalháveis e que geram oportunidades e informações favoráveis ao crescimento de todos, incluindo para a organização. 19 6. Autoavaliação Acredito firmemente que mereço a nota máxima quanto a minha participação e dedicação nas aulas (nota 1). Estive presente em todos os momentos, tentei colaborar por meio das minhas dúvidas e experiências e tenho certeza de que em certos pontos eu contribuí para o aprendizado de todos. 20 Referências AVONA, Marcia. Gestão de Pessoas. 1ª Ed. Londrina: Editora Educacional, 2015. BENDASSOLLI, Pedro. et al. Liderança nas Organizações. In: ZANELLI, José et al. Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2014. p. 413-449. BRESSAN, Cyndia. Mudança organizacional: uma visão gerencial. Curitiba: I Seminário de Gestão de Negócios, 2004. CALDEIRA, Jorge. 100 Indicadores da Gestão. Coimbra: Editora Conjuntura Atual, 2012. CINTRA, Josiane. Psicologia Organizacional e do Trabalho I. 1ª Ed. Londrina: Editora Educacional, 2018. Coach Carter. Direção de Thomas Carter. Estados Unidos da América: MTV Films, 2002. 136 minutos. MALAKOWSKY, Franciele. KASSICK, Cristine. O Conflito no Ambiente de Trabalho: um estudo sobre causas e consequências nas relações interpessoais. Novo Hamburgo: Revista Gestão e Conhecimento, 2014. SCARCELLA, Hilda. Gestão de conflitos nas organizações com a expert Hilda Scarcella. São Paulo: Konteudo Revista Digital. Disponível < https://www.konteudos.com.br/blog/ empreendedorismo/2019/05/13/gestao-de-conflitos-nas-organizacoes/ >. Acesso em 09 de fevereiro de 2020. WILLIAMS, Chuck. ADM: uma abordagem inovadora paraensinar e aprender princípios de administração. São Paulo: Cengage Learning, 2016.