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Nefrolitíase Acadêmica: Juliana Rabelo da Silva Sousa Epidemiologia: 3% da população. Nos países pobres é mais comum em crianças e se apresenta como cálculos vesicais de ácido úrico. Já nos países ricos ocorre mais em adultos, predominando no TUS, com a maioria compostos por cálcio. Fatores de risco História pessoal de nefrolitíase HF de nefrolitíase Baixa ingesta hídrica Urina ácida (resistência à insulina, obesidade, DM2, diarreia crônica) História de gota HAS Cirurgia bariátrica Uso prolongado de certos medicamentos (indinavir em adultos e ceftriaxone em crianças) ITU crônica ou recorrente Composição dos cálculos Tipo de cálculo Frequência Oxalato de cálcio 70-80% Oxalato de cálcio puro (33%) Oxalato de cálcio + Hidroxiapatita (34%) Oxalato de cálcio + Ácido úrico (1%) Fosfato Amoníaco Magnesiano (Estruvita) 10-20% Ácido úrico 5-10% Fosfato de cálcio (Hidroxiapatita) 6% Cistina 2-3% Brushita 1% Fisiopatologia Urina supersaturada Na urina, existem vários elementos químicos que, ao se combinarem, podem produzir sais insolúveis, formando de cristais. Os cálculos renais se originam do crescimento e agregação desses cristais. Condições que favorecem a supersaturação: hiperexcreção de solutos, volume urinário reduzido, alterações do pH e deficiência dos inibidores da cristalização. Alterações anatômicas facilitam a formação de cálculos ao produzirem estase urinária. Urina com pH >7,0 (alcalino) favorece a supersaturação do fosfato de cálcio (apatita) e do fosfato de amônio magnesiano (estruvita), enquanto um pH urinário <5,0 (ácido) reduz a solubilidade do ácido úrico e da cistina. Nucleação - processo de formação dos cristais Homogênea: de um mesmo material. Heterogênea: materiais diferentes. Formação do cálculo O fluxo urinário pode eliminar os cristais antes que eles cresçam e se tornem cálculos renais verdadeiros. Formado o cristal, dois processos adicionais sobrevêm: crescimento e agregação. Alguns cristais se formam aderidos à superfície do epitélio urinário, geralmente nas papilas renais. Inibidores fisiológicos Água: uma urina diluída reduz a concentração de todos os seus elementos químicos, diminuindo a chance de nucleação (cristalização). A diluição urinária aumenta também o fluxo de urina, facilitando a eliminação dos cristais recém-formados. Ou seja, o aumento da ingesta hídrica inibe todas as fases de formação de um cálculo renal (nucleação, crescimento e agregação). Citrato, magnésio e pirofosfato: inibem por ligação direta. Proteínas urinárias: Tamm-Horsfall, nefrocalcina, uropontina. Fator predisponente à formação de cálculo Cálculos de Cálcio Hipercalciúria idiopática 50-55% Hipocitratúria 15-60% Hiperuricosúria 20% Hiperparatireoidismo primário 5% Hiperoxalúria intestinal 1-2% Acidose tubular renal Tipo I 1% Cálculo idiopático 20% Cálculo de ácido úrico Gota + hiperuricosúria 50% Hiperuricosúria (sem gota) 50% Cálculo de estruvita Infecção por germe produtor de urease 100% Cálculo de cistina Cistinúria Manifestações clínicas Assintomática Cólica Nefrética (ureterolitíase sintomática) A dor é decorrente de sua mobilização, o que produz graus variáveis de obstrução ao fluxo de urina. Na tentativa de forçar a passagem do cálculo o ureter se contrai de maneira espasmódica e repetitiva, justificando crises de dor em cólica que duram 20-60 min. Se provocar obstrução importante ocorre um grande aumento na pressão do trato urinário, gerando distensão aguda da cápsula renal (sinal de Giordano). Náuseas, vômitos, sudorese fria, síncope, taquicardia e HÁ costumam acompanhar a dor. Pontos de constricção fisiológica do ureter: Junção ureteropélvica (mais comum): dor em flanco e sinal de Giordano precocemente positivo. Terço médio do ureter (cruzamento com os vasos ilíacos internos): dor abdominal com irradiação para o ligamento inguinal e/ou testículo/grande lábio ipsilateral. Junção vesicureteral: podem ser confundidos com cistite bacteriana, cursando com disúria, polaciúria, urgência e dor uretral (no homem: dor peniana). Pode ou não haver sinal de Giordano. Complicações Pielonefrite: evoluem com febre alta, calafrios e leucocitose com desvio à esquerda. Por ser complicada (infecção fechada), a sepse costuma ser intensa e de rápida instalação, cursando com bacteremia. Se o rim infectado não for logo desobstruído existe grande chance de ser rapidamente destruído por pionefrose. Obstrução: pode ser total, acarretando hidronefrose progressiva e perda do parênquima renal, caso a obstrução não seja desfeita. Nefrocalcinose: forma de apresentação da litíase por fosfato de cálcio (apatita), definida como uma calcificação do parênquima renal. Cálculos coraliformes: geralmente assintomáticos que crescem de modo a ocupar quase toda a pelve e cálices renais. São mais comumente formados por estruvita. Associam-se a um mau prognóstico do rim acometido (degeneração parenquimatosa) e sempre indicam terapia intervencionista. Diagnóstico EAS: Hematúria macro ou microscópica. Cristais. Urocultura: cálculos de estruvita só se desenvolvem na presença de infecção urinária por germes produtores de urease, como Proteus e Klebsiella. Urina 24h (colhida em pelo menos duas ocasiões) dos seguintes elementos: pH, ureia, creatinina, cálcio, ácido úrico, citrato, fosfato, magnésio, sódio, potássio e volume urinário, cloreto, amônia, sulfato. Dosagens séricas: cálcio, fosfato, sódio, potássio, cloro, bicarbonato, ácido úrico, ureia, creatinina, albumina e paratormônio. TC helicoidal não contrastada: é considerada padrão- ouro. US renal: é menos sensível para a visualização de cálculos, porém, passa a ser o método de escolha na ausência da TC e nas gestantes (radiação). Urografia excretora: perde em acurácia para a TC. A principal vantagem sobre a US é a capacidade de avaliar indiretamente a função renal e pode detectar cálculos mais distais na via urinária. Tratamento Cólica Nefrética Analgesia AINES (1º escolha): têm efeito analgésico excelente e previnem o espasmo da musculatura lisa do ureter. Opióides: Pcts que não toleram ou respondem aos AINES, não amenizam o espasmo ureteral e provocam EA (náuseas e vômitos). Bloqueadores alfa-1-adrenérgicos (Tamsulosin): Relaxam diretamente a musculatura lisa ureteral, conseguem diminuir o espasmo facilitando a movimentação do cálculo de modo a aumentar a chance de eliminação espontânea. Reduzem a intensidade e as recidivas da cólica nefrética Hidratação: intuito de aumentar a produção de urina e a coluna de pressão acima do cálculo para facilitar sua eliminação espontânea. Dissolução química do cálculo: o único cálculo passível de ser dissolvido é o de ácido úrico. Este só se forma em urinas ácidas, logo, a alcalinização urinária (bicarbonato VO) é capaz de dissolvê-lo. Terapia Médica Expulsiva: AINE + alfabloqueador Cálculos ureterais ≤10mm, cujos sintomas conseguem ser bem controlados e que não apresentam indicações para uma abordagem urológica imediata, podem tentar a TME por um período de até 4-6 semanas. Reavaliar o paciente (ex. USG após 7-14 dias), a fim de verificar se houve migração do cálculo. Quando o cálculo não for expelido no prazo, uma abordagem intervencionista deverá ser programada. Intervenção urológica Indicações 1. Cálculo >10mm 2. Infecção urinária associada 3. Sintomas refratários ao tto clínico (dor, náuseas e vômitos) 4. Obstrução persistente e/ou progressiva 5. IRA (obstrução bilateral completa ou unilateral em rim único) Quatro modalidades Litotripsia com ondas de choque extracorpórea Litotripsia por ureterorrenoscopia Nefrolitotomia percutânea Nefrolitotomiaaberta Tratamento crônico Formadores crônicos de cálculos devem receber tratamento preventivo a fim de evitar novos episódios. A conduta específica se baseia no tipo de cálculo encontrado e, fundamentalmente, no distúrbio metabólico predisponente.
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