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NEFROLITÍASE A nefrolitíase é um problema extremamente comum. ⇨ Apesar de, nos países ricos, ser um problema mais frequente em adultos, em países pobres, as crianças também fazem parte da estatística. O encontro de um cálculo renal deve ser interpretado como um distúrbio permamnente no qual o paciente sempre estará suscetível à formação de novos cálculos. ⇨ A taxa de recorrência é de 60% em 10 anos! A doença litíasica é mais comum em homens e tem seu pico de incidência entre 20-40 anos. COMPOSIÇÃO DOS CÁLCULOS Os cálculos compostos por sais de cálcio representam 70-80% dos casos. ⇨ Em sua maioria, são cálculos de oxalato de cálcio, que representam 60% de todos os cálculos renais. o Em metade dos casos, o cálculo é puro; o Na outra metade, está misturado com outros sais (geralmente, fosfato de cálcio). O segundo tipo mais frequente de cálculo renal é o de estruvita (fosfato de amônio magnesiano), com 10-20% do total. ⇨ É chamado de cálculo infeccioso, pois só se desenvolve na presença de bactérias produtores de urease na urina. Em terceiro lugar está o cálculo de ácido úrico, com 5-10%; Em quarto lugar, o cálculo de cistina, com 2-3%. MORFOLOGIA DOS CÁLCULOS Fatores de risco ⇨ História pessoal de NL ⇨ História familiar de NL ⇨ Baixa ingesta hídrica ⇨ Urina ácida o Resistência à insulina o Obesidade o DM2 o Diarreia crônica ⇨ História de gota ⇨ HAS ⇨ Cirurgia bariátrica ⇨ Infecção urinária crônica ou recorrente Tipo de cálculo Freq. 1. Oxalato de cálcio a. Oxalato puro b. Oxalato + hidroxiapatita c. Oxalato + ácido úrico 2. Estruvita 3. Ácido úrico 4. Hidroxiapatita (fosfato de cálcio puro) 5. Cistina 70-80% 33% 34% 1% 10-20% 5-10% 6% 2-3% Oxalato de cálcio Ovalados ou octaédrico (bipiramidais) Estruvita Prismas retangulares (‘’tampa de caixão’’) Ácido úrico Placas losangulares Fosfato de cálcio Amorfos Cistina Hexagonais (patognomônicos) PATOGÊNESE Na urina, existem vários elementos químicos que, ao se combinarem, podem produzir sais insolúveis, levando à formação de cristais. Os cálculos renais se originam do crescimento e agregação desses cristais. CONDIÇÕES QUE FAVORECEM A SUPERSATURAÇÃO DA URINA o Hiperexcreção de solutos o Volume urinário reduzido o Alterações do pH o Deficiência dos inibidores da cristalização ALTERAÇÕES ANATÔMICAS QUE FACILITAM A ESTASE URINÁRIA o Duplicidade pielocalicial o Rim esponjoso medular o Rim em ferradura o Ureterocele Da mesma forma, existem fatores fisiológicos que inibem a formação de cálculos. ⇨ Água o Dilui a concentração de todos os componentes, diminuindo a chance de nucleação; o Aumenta o fluxo de urina, facilitando a eliminação dos cristais recém-formados. PASSO 1 – SUPERSATURAÇÃO ⇨ A urina está supersaturada de algum sal; ⇨ Dizemos que a urina está supersaturada quando o produto da concentração de seus componentes individuais está acima de um determinado valor. o Isso quer dizer que os componentes necessários à produção do cálculo estão suficientemente disponíveis para tal. ⇨ Este produto sofre influência do pH urinário; o Uma urina alcalina (pH >7) favorece: ▪ Apatita ▪ Estruvita o Uma urina ácida (pH <5) favorece: ▪ Ácido úrico ▪ Cistina o A solubilidade do oxalato de cálcio não é afetada pelo pH. PASSO 2 – NUCLEAÇÃO ⇨ É o processo no qual ocorre a formação dos cristais; ⇨ Pode ser homogênea ou heterogênea, dependendo da concentração dos elementos. PASSO 3 – CRESCIMENTO E AGREGAÇÃO ⇨ Formados os cristais, ele se aderem à superfície epitelial urinária. ⇨ A adesão mecânica garante tempo suficiente para a formação do cálculo (crescimento e agregação). QUADRO CLÍNICO CÓLICA NEFRÉTICA o É decorrente de sua mobilização. o Os cálculos impactam em 3 pontos: ▪ Junção ureteropélvica ▪ Terço médio do ureter ▪ Junção vesicoureteral o A localização da dor se relaciona com a topografia do cálculo: ▪ JUP – dor em flanco ▪ TMU – dor abdominal com irradiação para ligamento inguinal e bolsa escrotal ▪ JUV – disúria, polaciúria, urgência e dor uretral o O mais comum é que os cálculos impactem de maneira transitória. o Na tentativa de forçar a passagem do cálculo, o ureter se contrai de maneira espasmódica e repetitiva, gerando o caráter paroxístico da dor. SINAL DE GIORDANO o Se houver obstrução importante, há distensão aguda da cápsula renal. MANIFESTAÇÃO DO SNA o Náuseas, vômitos, sudorese fria e síncope o Taquicardia e hipertensão HEMATÚRIA INFECÇÃO o É a complicação mais temível da litíase. o Evoluem com febre alta, calafrios, leucocitose desviada. OBSTRUÇÃO o Se for total, pode acarretar hidronefrose progressiva. NEFROCALCINOSE o Forma de litíase por apatita, com calcificação do parênquima renal. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito em 3 passos: 1. Confirmar a presença de nefrolitíase 2. Determinar a composição do cálculo 3. Determinar o distúrbio que forma o cálculo PASSO 1 – CONFIRMANDO A SUSPEITA A suspeita é formulada com a presença de 1 ou mais da tríade: ⇨ Síndrome da cólica nefrética ⇨ Hidronefrose ⇨ Hematúria Diante da suspeita, um exame de imagem é necessário para confirmar a presença do cálculo. TC HELICOIDAL NÃO CONTRASTADA o Identifica diversos tipos de cálculo, inclusive os radiotransparentes, como de ácido úrico. o Diagnostica outras causas de dor em flanco o Exposição à radiação ionizantes USG DO TRATO URINÁRIO o Método de escolha na ausência/contraindicação da TC. o Gestantes ok! o Sensibilidade maior para cálculos da pelve ou cálices renais. RNM o É uma opção para as grávidas RADIOGRAFIA DE ABDOME o Diagnostica apenas cálculos radiopacos UROGRAFIA EXCRETORA o Um excelente exame o Capacidade de avaliar indiretamente a função renal! o Pode detectar cálculos mais distais na via urinária. o Usa contraste iodado! Passo 2 – identificando a composição do cálculo ⇨ Análise direta o É a melhor forma de acessar sua composição ▪ Espectroscopia por infravermelho ▪ Difração por raios-x o O paciente ‘’filtra’’ a urina com uma gaze. ⇨ EAS o Pode identificar cristais, entretanto, nem sempre os cristais são da mesma composição que o cálculo sintomático! ⇨ Urinocultura e análise bioquímica da urina o pH o Presença de Proteus, Klebsiella (germes produtores de urease) PASSO 3 – IDENTIFICANDO A CAUSA DO CÁLCULO Cada cálculo possui variadas etiologias, que serão melhores discutidas no tratamento crônico da nefrolitíase mais à frente. TRATAMENTO AGUDO CÓLICA NEFRÉTICA ANALGESIA ⇨ AINE o Efeito analgésico o Prevenção do espasmo do ureter ⇨ Opioides o Quando AINE não for suficiente ou tolerado ▪ Risco de IRA ou DRC BLOQUEADORES ALFA-1-ADRENÉRGICOS ⇨ Relaxam diretamente a musculatura lisa ureteral, aumentando a chance da eliminação do cálculo. ⇨ Terapia médica expulsiva (TME) o AINE o Alfabloqueador (tansulosina) ⇨ Se cálculo =<10mm, TME por 4-6 semanas. o É necessário avaliação semanal ou quinzenal com USG para verificar migração do cálculo. ⇨ Quando não expelido em 4-6 semanas, é programada a intervenção cirúrgica. HIDRATAÇÃO o Hidratação deve ser mínima, apenas para corrigir quadro de desidratação ou quando houver indicação de analgesiaparenteral. INTERVENÇÃO UROLÓGICA ⇨ O ponto de corte aceito para a intervenção precoce é de >10mm; LITOTRIPSIA COM ONDAS DE CHOQUE EXTRACORPÓREA (LOCE) ⇨ Cálculos renais e ureterais proximas <20mm ⇨ Também é útil em cálculos no ureter médio ⇨ Suspender AAS 2 semanas antes e AINE 48h antes; ⇨ Contraindicações o Gravidez o Aneurisma de artéria renal ou aórtica o Diátese hemorrágica o Marca-passo o Hipertensão severa LITOTRIPSIA POR URETERORRENOSCOPIA ⇨ Cálculos em ureter distal ou médio NEFROLITOTOMIA PERCUTÂNEA ⇨ Cálculos >2cm ⇨ Cálculos coraliformes ⇨ Localizados no polo renal inferior ⇨ Refratários à LOCE NEFROLITOTOMIA ABERTA ⇨ Refratariedade aos outros métodos ⇨ Cálculos anatomicamente complexos, em geral coraliformes LITÍASE COMPLICADA É a litíase que se associa à infecção renal ou quando sobrevém IRA pós-renal. Em tais casos a primeira preocupação é a desobstrução da via urinária. Dois procedimentos podem ser usados: ⇨ Nefrostomia percutânea (cateter único-J) ⇨ Stent ureteral (cateter duplo-J) TRATAMENTO CRÔNICO ⇨ A conduta específica depende do tipo de cálculo, mas de forma geral, sempre é recomendado o aumento na ingesta hídrica (2-3L/dia). CÁLCULOS DE CÁLCIO HIPERCALCIÚRIA IDIOPÁTICA A hipercalciúria idiopática é o principal distúrbio relacionado. Indicações de intervenção urológica precoce ⇨ Cálculo >10mm ⇨ Infecção urinária associada ⇨ Sintomas refratários ao tto clínico ⇨ Obstrução persistente ou progressiva ⇨ IRA ⇨ Restrição de sal e proteínas de origem animal, mas não de cálcio. o O sódio é reabsorvido junto com o cálcio nos túbulos renais. o O metabolismo proteico aumenta a produção de H+, estimulando a retirada de cálcio do osso, elevando a calciúria. ⇨ Se não resolver, diuréticos tiazídicos. o Hidroclorotiazida ⇨ Em última tentativa, quelantes de cálcio. HIPEROXALÚRIA A forma mais comum é a entérica, causada por síndrome disabsortiva. ⇨ O cálcio é absorvido junto do oxalato, que em condições de disabsorção, se liga a AG e é excretado na urina. ⇨ Tto: redução do oxalato e gorduras da dieta, suplementos orais de cálcio e colestiramina (quelante de sais biliares e oxalato). HIPERURICOSURIA (MESMO TTO P CÁLCULOS DE ÁCIDO ÚRICO) ⇨ Restrição de alimentos ricos em purinas o Fígado, miolos, aves, alguns peixes, espinafre ⇨ Alcalinizadores de urina o Citrato de potássio ⇨ Se falhar (uricosuria >1000mg/dia), alopurinol. HIPOCITRATÚRIA Se liga ao cálcio e o elimina na urina sem deixar cristais. ⇨ Tto o Reposição oral de citrato de potássio ACIDOSE TUBULAR DISTAL Secreção de H+ no túbulo é ‘’tamponada’’ pelo osso, que libera cálcio. ⇨ Reposição oral de álcali (citrato de potássio) HIPERPARATIREOIDISMO Aumenta a reabsorção de cálcio. ⇨ Paratireoidectomia subtotal CÁLCULOS DE ESTRUVITA ⇨ As bactérias produtoras de urease são: o Proteus o Pseudomonas o Enterococcus o Klebsiella o Serratia o Enterobacter ⇨ A urease facilita a formação de amônio, que em ph alcalino, se combina com o fosfato e forma os cristais de estruvita. ⇨ Tto o Remoção dos cálculos ▪ Nefrolitotomia percutânea ou nefrolitotomia aberta o Correção do estado obstrutivo/anomalia, se possível ▪ Se não for possível corrigir ou retirar os cálculos, ATB profilática. o O ácido acetoidroxâmico ajuda no tto. ▪ Antagonista de urease. CÁLCULOS DE CISTINA ⇨ Ingesta hídrica adequada ⇨ Citrato de potássio + acetazolamida ⇨ Penicilamina impede a formação dos cristais, porém possui efeitos colaterais importantes.
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