Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE DE PALMAS CURSO DIREITO EDISON JUNIOR R.V. DE MORAES RELATÓRIO: O CASO DOS IRMÃOS NAVES PALMAS/TO 2021 EDISON JUNIOR R.V. DE MORAES RELATÓRIO: O CASO DOS IRMÃOS NAVES Trabalho da disciplina Teoria Geral do Processo Penal apresentado à Faculdade de Palmas – FAPAL/TO, no curso de Direito. Professora: Marina Della Torre PALMAS/TO 2021 SUMÁRIO 1. RESUMO...............................................................................................................4 O filme O Caso dos Irmãos Naves é um filme que retrata o evento que teve enorme repercussão nacional, resultante dos sucessivos erros jurídicos que aconteceram nesse acontecimento. Ressalta-se, aliás, que é conhecido como o erro judiciário mais substancial ocorrido no Brasil. O filme é uma adaptação do livro homônimo escrito por João Alamy Filho. A adaptação, dirigida por Jean-Claude Bernadert e Luís Sérgio Person, datada do ano de 1967, representa fielmente a o fato ocorrido. Para a compreensão de alguns aspectos desse caso é faz mister assimilar o cenário político-histórico da época. O ano é 1937, proêmio do governo de Getúlio Vargas, conhecido como Estado Novo. Esse regime tinha forte cunho ditatorial, e estava causando profundas alterações no país, inclusive no campo econômico. Em meio a esse panorama, na cidade de Araguari, estados de Minas Gerais, estavam dois irmãos: Joaquim Naves Rosa, de 27 anos, e Sebastião José Naves, de 32 anos. Os dois irmãos tinham uma sociedade com seu primo, Benedito Pereira Caetano. Este havia realizado diversos empréstimos, pois imaginava que o mercado daria uma guinada, o que permitiria que ele obtivesse massivos lucros investindo numa plantação de arroz. Todavia, em verdade começam a suceder reiteradas quedas de preços que afligem Benedito, que já se encontrava em uma situação econômica não favorável, devido a muitas dívidas contraídas. Na madrugada de 29 para 30 de novembro, Benedito, que estava hospedado na residência de Joaquim foge com seus últimos recursos, que somavam 90 contos de réis. Os irmãos Naves desconheciam a fuga de Benedito e, após tentar localizá-lo em diversos lugares, se dirigem a polícia para relatar o desaparecimento de seu primo para que as medidas necessárias sejam tomadas. Um inquérito foi aberto para apurar os fatos, inicialmente conduzido por Ismael Benedito do Nascimento, que era um civil que exercia a função de delegado. As investigações iniciais não trouxeram nenhum resultado satisfatório, tais como suposto cadáver ou dinheiro que eventualmente Benedito estava carregando. O governo, ao final do ano, decidiu que seria melhor um militar a frente das investigações, e com isso substituíram Ismael por um tenente chamado Francisco Vieira dos Santos, mais conhecido como “Chico Vieira”. Francisco era conhecido por ser atroz e se utilizar de métodos pungentes e impiedosos. Realmente, após sua nomeação para o caso as investigações tem sua trajetória alterada. Vieira anseia arduamente a desvendar esse caso, e para tanto realiza inúmeros procedimentos, como estudar o caso, ouvir testemunhas e, após tudo, conjectura a possibilidade de os irmãos Naves terem assassinado Benedito. A seu ver, Vieira deduz que os irmãos teria grande interesse no desaparecimento de seu primo, pois assim poderiam ficar com seu dinheiro e prosseguir sozinhos com os lucros da firma. Entretanto, Vieira não possuía nenhuma prova que pudesse atestar sua tese, não obstante estava obstinado a obter a aceitação dela através de quaisquer meios necessários. Certo dia, os irmãos vão à delegacia informar que um homem havia dito ter visto Benedito. O delegado ouve o relato, incrédulo. Considerando que essa foi uma maneira ardilosa de tentar desviar a atenção à verdade dos fatos, Vieira ordena a prisão de Joaquim. Após isso, começa o derradeiro sofrimento dos irmãos. Joaquim é submetido a torturas desumanas a fim de que seja extraída dele uma confissão sobre a autoria do crime e a suposta “verdade”. A polícia localiza a fonte dos irmãos e, após tortura-lo de maneira bárbara, consegue fazer com que ele desminta a história de ter visto Benedito e, além disso, ele estranhamente concorda com a proposição do delegado de que os irmãos eram os responsáveis pelo crime. Logo Sebastião também é preso e submetido as mesmas torturas que seu irmão. As torturas consistiam em açoites, privação de água, comida, visitas, além de espancamentos. Diante de tudo isso, os irmãos, assombrosamente, não confessaram. Com isso o delegado ordena a prisão das esposas, filhos e até mesmo da mãe dos irmãos Naves, Ana Rosa Naves, de 66 anos. A todos eles também eram aplicadas torturas que traziam o cúmulo do opróbrio humano. O tenente Vieira incita a população com sua ideia de que os irmãos eram culpados de assassinato e que a confissão que traria à tona toda a realidade seria breve. Em 12 de janeiro de 1938, em uma zona rural erma afastada da cidade, o delegado assevera finalmente haver obtido uma confissão particular de Joaquim. Em 3 de fevereiro o irmão Sebastião também assume a culpa pelo assassinato. Após algum tempo a polícia liberta Dona Ana, colocando-a sob liberdade vigiada. Desesperada, ela se dirigiu até um advogado, João Alamy Filho, e contou o caso. Inicialmente o advogado estava descrente quanto ao que Dona Ana dizia, pois assim como toda a população, ele tinha forte crença na opinião pública, que alegava que os irmãos eram culpados. No entanto, após ver o estado físico e psicológico da senhora, completamente abalado pelas torturas e por suportar o sofrimento dos filhos, o advogado fica sensibilizado e concorda em ser o defensor dos irmãos. O defensor dos irmãos Naves ingressa com um pedido de Habeas Corpus, devido ao erro da prisão preventiva sem motivos que a ensejem. Porém, a tentativa foi infrutífera. O tenente-delegado precisava “encontrar” provas para provar a materialidade dos fatos. Desse modo, elaborou depoimentos para confirmar o que presumia. O depoimento constava que os irmãos Naves se utilizaram de dissimulação e da confiança de Benedito para matá-lo por estrangulamento com uma corda e, após isso, tomaram para si a importância em dinheiro que ele carregava e atiraram seu corpo numa cachoeira. Não bastasse tudo isso, o delegado ainda fez a reconstituição do crime, fazendo com que os irmãos indicassem onde supostamente teriam escondido o dinheiro. Como nada foi encontrado, mesmo após cavar por toda a fazenda, Vieira imaginou que o dinheiro estaria em outro lugar, já escondido. Após nova falha tentativa de impetrar Habeas Corpus, o processo é iniciado. Os acusados são levados ao Tribunal do Júri, defronte à acusação de latrocínio em face de Benedito. A partir do primeiro julgamento, datado de março de 1938, a verdade repugnante começa a surgir. São relatadas as confissões extraídas através de torturas, e também através do depoimento de outros detentos sobre o tratamento sub-humano destinado aos acusados. O júri, composto de sete pessoas, decidiu por 6 votos a 1 pela absolvição de Joaquim e Sebastião. Exercendo o veto acusatório, a promotoria recorre ao Tribunal de Justiça que, por sua vez, anula o julgamento. No mesmo ano é realizado novo julgamento, no qual prevalece o veredicto anterior. O que parecia ser finalmente o alívio dos irmãos acaba rapidamente. Na época da Constituição vigente, conhecida como polaca, não havia a soberania do júri no tribunal. Diante disso, o Tribunal de Justiça altera o resultado para a condenação dos irmãos pelo crime. Os irmãos são condenados, inicialmente, a 25 anos e meio de pena privativa deliberdade, sob a modalidade de reclusão. No ano de 1940 ocorreu uma revisão penal, ocasião em que a pena foi reduzida para 16 anos de reclusão. No ano de 1946, após infindáveis 8 anos e 3 meses de prisão, os irmãos são Naves são beneficiados com o livramento condicional, em virtude de exemplar comportamento prisional. O que talvez tenha sido o maior alívio que os irmãos tiveram após sua soltura ocorreu no dia 22 de maio de 1948, quando seu carrasco, o tenente Francisco Vieira dos Santos, faleceu por derrame cerebral em Belo Horizonte. Entretanto, para Joaquim Naves não houve alegria alguma. Em 28 de agosto de 1948 ele falece por conta de uma doença que o havia acometido em virtude das sequelas das torturas sofridas. E assim, um inocente morre, em um asilo, como um simples indigente. Seu irmão, Sebastião, inicia a incansável busca para provar a inocência sua e de seu irmão. No ano de 1952, quinze anos após o ocorrido, Sebastião é informado por seu primo, através de um telegrama, que Benedito havia retornado à casa do pai. Sabendo disso, Sebastião se dirige a Nova Pontes, acompanhado de policiais, apesar de inicial relutância do juiz da cidade para deixa-lo sair da cidade. Eis que então, durante a noite, Sebastião entrou acompanhado do cabo José Marques, no quarto onde Benedito estava dormindo. Este se mostrou espantado e pensou que Sebastião fosse mata-lo. Entretanto, Sebastião apenas queria que seu primo voltasse com ele para Araguari, para que pudesse ser finalmente provada a inocência dos irmãos Naves. Ao chegarem à cidade de Araguari houve grande tumulto e revolta na população, que queria linchar Benedito. Então o delegado prendeu Benedito para evitar que este fosse morto pelos populares. Restava esclarecer o motivo do desaparecimento de Benedito. Ele relata que naquela madrugada de 1937, ele havia sido assaltado e não poderia voltar à Araguari sem possibilidades de honrar suas dívidas. Desse modo, ele partiu para a cidade de Anápolis. Benedito jurava não saber do terrível ocorrido com seus primos, contudo ele havia alterado seu nome para José Alves Gomes. Um comportamento muito estranho e que jamais foi explicado, o que denota que poderia ter sim ciência dos fatos. No ano de 1953, ocorre uma nova revisão criminal, na qual os irmãos Naves foram declarados inocentes por todas as acusações que havia sofrido. Sebastião iniciou ainda um processo de indenização civil por conta de erro judiciário. Em 1956 houve sentença favorável, entretanto houve sucessivos recursos, e somente em 1960 o Supremo Tribunal Federal deu direito a Sebastião Naves e seus herdeiros de receber indenização do Estado. Essa decisão foi histórica, sendo a primeira vez que um processo é anulado e ao mesmo tempo conhecida indenização aos acusados injustamente. Em 1962, Sebastião falece, provavelmente nesse momento já tranquilo por ter limpado o nome da família Naves.
Compartilhar