Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Intoxicações exógenas Betabloqueadores Mecanismo de toxicidade: Embora a especificidade do receptor B seja observada com baixas doses, ela é perdida no caso de superdosagem. Propranolol, acebutolol: reduzem a contratilidade e a condução miocárdica e podem estar associados às taquiarritmias ventriculares. Penetração no cérebro (lipossoluvel) pode levar ao choque e ao coma. Pindolol, acebutolol e pembutolol (B-agonista parcial): taquicardia e hipertensão. Sotalol: prolonga o intervalo QT, torsade de pointes e fibrilação ventricular. Labetalol, carvedilol (bloqueadoras alfa e B-adrenérgicas não seletivas) e nebivolol (antagonista seletivo B1): vasodilação direta contribui para hipotensão. Dose tóxica: variável, dependendo da doença médica de base ou de outras medicações. Ingestão de 2-3x a dose terapêutica pode ser considerada potencialmente fatal para todos os pacientes. Apresentação clínica Distúrbios cardíacos: bloqueio cardíaco de 1º grau, hipotensão, bradicardia, BAV de alto grau, distúrbios de condução intraventricular, choque cardiogênico e assístole. ECG: geralmente QRS normal, com IPR aumentados, alargamento de QRS ocorre no caso de intoxicação intensa. Prolongamento de QT e torsade de pointes (sotalol). Toxicidade do SN: convulsões, coma e parada respiratória (propanolol) Broncoespasmo: paciente com asma ou doença broncospásmica crônica. Hipoglicemia e hiperpotassemia. Diagnóstico História de ingestão + bradicardia e hipotensão. Testes toxicológicos da urina. Outros: eletrólitos, glicose, ureia, creatinina, gasometria arterial, ECG. Tratamento Manter uma via aérea aberta e fornecer ventilação quando necessário Tratar coma, choque, hipotensão, hiperpotassemia e hipoglicemia caso ocorram. Antídotos Bradicardia e hipotensão Glucagon: 5-10mg em bólus, repetido quando necessário e seguido por uma infusão de 1 a 5 mg/h Atropina: 0,01-0,03mg/kg IV Isoproterenol: iniciar com 4g/min e aumentar a infusão quando necessário. Epinefrina: infusão IV inicial de 1 a 4 g/min e titulada. Insulina de alta dose combinada à terapia com glicose Terapia com emulsão lipídica IV Marca-passo cardíaco Distúrbios de condução do complexo QRS alargado e hipotensão Bicarbonato de sódio: 1 a 2 mEq/kg Taquicardia ventricular polimórfica (torsade de pointes) + prolongamento de QT Proterenol, magnésio ou overdrive pacing Correção da hipopotassemia Broncospasmo: broncodilatadores nebulizados. Monitorar continuamente os sinais vitais e o ECG por pelo menos 6 h após a ingestão. Bloqueadores dos canais de cálcio Mecanismo de toxicidade: Reduzem a entrada de cálcio pelos canais celulares do tipo L, atuando primariamente sobre o músculo liso vascular e o coração. Eles causam vasodilatação coronariana e periférica, contratilidade cardíaca reduzida, condução nodal atrioventricular reduzida e depressão da atividade do nódulo sinusal. A redução da pressão sanguínea por meio de uma queda na resistência vascular periférica poderá ser compensada pela taquicardia reflexa. São venenos metabólicos que causam um aumento da dependência do coração pelo metabolismo de carboidratos, em vez dos ácidos graxos livres usuais. Esse efeito tóxico é completado pela inibição da liberação de insulina pancreática, tornando difícil para o coração usar esses carboidratos durante o choque. Dose tóxica: Qualquer dose superior à faixa terapêutica usual deverá ser considerada como potencialmente fatal. Apresentação clínica Hipotensão: vasodilatação periférica, contratilidade cardíaca reduzida, taxa cardíaca diminuída ou uma combinação das três condições. Bradicardia: bradicardia sinusal, BAV de 2º ou 3º grau ou de parada sinusal com ritmo juncional. Manifestações não cardíacas: naúseas e vômito, estado mental anormal (estupor e confusão), acidose metabólica (provavelmente resultante da hipotensão) e hiperglicemia (devido ao bloqueio da liberação de insulina). A hipoinsulinemia prejudica a captação de glicose pelo miocárdio, reduzindo a contratilidade e contribuindo para a hipotensão. Diagnóstico Hipotensão e bradicardia + parada sinusal ou BAV na ausência de prolongamento do intervalo QRS. Outros: eletrólitos, glicose, ureia, creatinina, gasometria arterial ou oximetria e monitoramento cardíaco e do ECG. Tratamento Manter uma via aérea aberta e fornecer ventilação quando necessário Tratar coma, hipotensão e bradiarritmias caso ocorram. Monitorar os sinais vitais e o ECG por pelo menos 6 horas após a ingestão. Produtos de liberação contínua (verapamil) requererão um período mais longo de observação (24h para varapamil, 18h para os demais). Internar pacientes sintomáticos por pelo menos 24 h. Antídotos Cálcio: reverte a depressão da contratilidade cardíaca em alguns pacientes. Adm cloreto de cálcio a 10%, 10 mL (0,1 a 0,2 mL/kg), IV, ou gluconato de cálcio a 10%, 20 a 30 mL (0,3 a 0,4 mL/kg), IV. Repetir a cada 5 a 10 minutos, quando necessário. Epinefrina: efeitos alfa-adrenérgicos quanto B-adrenérgicos e poderá aliviar a hipotensão e a bradicardia, 0,5 mg/h, IV, em adultos. Glucagon: leva a pressão sanguínea em pacientes com hipotensão refratária e também poderá ajudar nos casos com bradiarritmias. Poderá ser iniciado como um bólus de 5 mg em adultos (0,05 mg/kg), repetido em 10 minutos caso não haja resposta, observando-se o vômito, que poderá ocorrer. Cocaína Mecanismo de toxicidade: O estímulo e a inibição da captação de catecolamina pelo SNC resultam em um estado de estímulo simpático generalizado muito semelhante ao da intoxicação por anfetamina. Os efeitos cardiovasculares resultantes de altas doses de cocaína, provavelmente relacionados ao bloqueio dos canais de sódio da célula cardíaca, incluem depressão de condução (prolongamento de QRS) e de contratilidade. Relatado prolongamento de QT. Dose tóxica: depende da tolerância individual, da via de administração e da presença de outros fármacos. A injeção rápida IV ou o ato de fumar podem produzir níveis transitoriamente elevados no cérebro e no coração, levando a convulsões ou arritmias cardíacas, enquanto a mesma dose ingerida ou cheirada pode produzir apenas euforia. Ingestão igual ou >1g de cocaína será provavelmente fatal. Apresentação clínica Manifestações de toxicidade do SNC podem ocorrer em minutos após fumar ou injetar por via IV ou podem ser retardadas em 30 a 60 minutos após aspiração nasal, aplicação na mucosa ou ingestão oral. A euforia inicial poderá ser seguida de ansiedade, agitação, delirium, psicose, tremor, rigidez ou hiperatividade muscular e convulsões. Altas doses poderão causar parada respiratória. As convulsões costumam ser breves e autolimitadas; o estado epilético sugere absorção continuada do fármaco (como a partir de preservativos preenchidos com cocaína e rompidos no trato GI) ou hipertermia. O coma poderá ser causado por um estado pós-choque, hipertermia ou hemorragia intracraniana resultante da hipertensão induzida. A cocaína é a causa mais comum de derrames induzidos por fármacos. O derrame poderá ser hemorrágico (relacionado com a hipertensão grave), embólico (resultante de fibrilação arterial ou endocardite) ou isquêmico (resultante de constrição da artéria cerebral e trombose). Deve-se suspeitar de derrame se houver alteração do estado mental e/ou déficits neurológicos focais. No caso do uso crônico de cocaína, poderá ocorrer insônia, perda de peso e psicose paranoide. Observou-se uma síndrome de wash-out em viciados em cocaína após um consumo prolongado, consistindo em letargia e sono profundos, que podem durar de horas a dias, seguidos por recuperação espontânea. Toxicidade cardiovascular também poderá ocorrer rapidamente após o ato de fumar ou após a injeção IV e é mediada por superatividade simpática.Taquicardia ventricular fatal ou fibrilação poderão ocorrer. Prolongamento do intervalo QRS. A hipertensão grave poderá causar acidente vascular cerebral hemorrágico ou dissecção aórtica. Espasmo e/ou trombose da artéria coronária poderá levar ao infarto do miocárdio. O choque pode ser causado por infecção miocárdica, intestinal ou cerebral, hipertermia, taquiarritmias ou hipovolemia, produzida pelo sequestro do fluido extravascular causado por vasoconstrição. O infarto intestinal poderá ser complicado por hemorragia GI difusa grave e hemoperitônio. A insuficiência renal poderá levar ao choque, ao espasmo e/ou ao infarto da artéria renal ou à rabdomiólise com mioglobinúria. O óbito é geralmente causado por uma arritmia fatal repentina, estado epilético, hemorragia intracraniana ou hipertermia. A hipertermia é, em geral, advinda de convulsões, hiperatividade muscular ou rigidez e está associada a rabdomiólise, insuficiência renal mioglobinúrica, coagulopatia e insuficiência múltipla de órgãos. Outros efeitos Dor torácica musculoesquelética Pneumotórax e pneumomediastino Poderá ocorrer perfuração do septo nasal A injeção acidental SC de cocaína poderá causar úlceras necróticas localizadas (“queimaduras de coca”) Diagnóstico História de uso da cocaína + achados típicos de intoxicação simpaticomimética. Marcas na pele de abuso crônico de drogas por via IV, especialmente com cicatrizes de queimaduras de coca e perfuração do septo nasal após aspiração crônica sugerem o uso de cocaína. Dor torácica com evidência eletrocardiográfica de isquemia ou infarto em um jovem com outras características saudáveis também sugere o uso de cocaína. A cocaína e seu metabólito benzoilecgonina são facilmente detectados na urina até 72 horas após a ingestão e fornecem confirmação qualitativa do uso da cocaína. Outros: eletrólitos, glicose, ureia, creatinina, CK, exame de urina, mioglobina na urina, troponina cardíaca, ECG e monitoramento do ECG, TC da cabeça (em caso de suspeita de hemorragia) e radiografia abdominal (em caso de suspeita da ingestão de preservativos ou pacotes contendo cocaína). Tratamento Manter uma via aérea aberta e fornecer ventilação quando necessário. Tratar coma, agitação, convulsões, hipertermia, arritmias e hipotensão caso ocorram. Antídotos Benzodiazepinas: hipertensão e taquicardia. A angina de peito pode ser tratada com benzodiazepinas, ácido acetilsalicílico, nitratos ou bloqueadores de canais de cálcio. No caso de infarto agudo do miocárdio, a trombólise tem sido recomendada, porém é controversa. Monitorar os sinais vitais e o ECG por várias horas. Pacientes com suspeita de espasmo da artéria coronária deverão ser internados em uma unidade de tratamento coronariano e, devido aos registros de espasmos coronarianos recorrentes ou persistentes por até vários dias após a exposição, considerar o uso de um antagonista de cálcio oral e/ou nitratos cardíacos por 2 a 4 semanas após a liberação. Carbamatos e organofosforados Também conhecidos como inibidores da colinesterase, são bastante utilizados como pesticidas. Mecanismo de toxicidade inibem duas enzimas: a acetilcolinesterase (AChE), encontrada nas junções sinápticas e nas hemácias, e a butirilcolinesterase, também conhecida como pseudocolinesterase (PChE) ou colinesterase plasmática, encontrada no sangue. Cada uma dessas enzimas quebra a acetilcolina. O bloqueio da AChE é o efeito clinicamente mais significativo dos OFs e dos carbamatos, pois leva ao acúmulo de quantidades excessivas de acetilcolina nos receptores muscarínicos (encontrados em diversas células secretoras colinérgicas), nos receptores nicotínicos (localizados sobre as junções neuromusculares esqueléticas e nos gânglios autonômicos) e no SNC. Os efeitos dos carbamatos sobre o SNC em geral são menos pronunciados porque apresentam maior dificuldade em atravessar a barreira hematencefálica. Dose tóxica: Existe um amplo espectro de potência relativa dos compostos OFs e dos carbamatos Apresentação clínica Metanol Definição: Ingrediente comum em muitos solventes, soluções limpadoras de para-brisas, fluidos de fotocopiadoras e removedores de tinta. Mecanismo de toxicidade: é lentamente metabolizado pela álcool desidrogenase, gerando formaldeído e pela aldeído desidrogenase, gerando ácido fórmico (formato). A acidose sistêmica é causada por ambos, enquanto a cegueira é causada principalmente pelo formato. Dose tóxica: oral fatal é estimada em 30-240mL (20-150g). O limite de exposição no local de trabalho para a inalação é de 200ppm por 8 h, e o nível considerado imediatamente perigoso à vida é de 6.000ppm. Apresentação clínica Nas primeiras horas após a ingestão, apresentam inebriação e gastrite. Após um período latente de até 30h, poderão ocorrer acidose metabólica grave de intervalo aniônico, distúrbios visuais, convulsão, coma, IRA com mioglobinúria, e morte. A fundoscopia poderá revelar hiperemia ou palidez do disco óptico, obstrução venosa, peripapiledema e edema da retina ou do disco óptico. Diagnóstico História, sintomas e achados laboratoriais. O cálculo dos intervalos osmolar e aniônico pode ser usado para estimar o nível de metanol e prever a gravidade da ingestão. Amplo intervalo aniônico não induzido por lactato elevado sugere possível intoxicação por metanol (ou etilenoglicol). Níveis séricos de metanol>40mg/dL deverão ser considerados muito perigosos. Outros: eletrólitos (e intervalo aniônico), glicose, ureia, creatinina, osmolalidade sérica e intervalo osmolar, gasometria arterial, nível de etanol e nível de lactato. Tratamento Manter via aérea aberta e fornecer ventilação quando necessário. Tratar coma e convulsões, caso ocorram. Antídotos Tratar a acidose metabólica com bicarbonato de sódio IV. Administrar fomepizol ou etanol para saturar a enzima álcool desidrogenase e prevenir a formação de metabólitos tóxicos a partir do metanol. A terapia é indicada para os pacientes com: História de ingestão significativa de metanol, quando os níveis séricos não estiverem imediatamente disponíveis e o intervalo osmolar for >10 mOsm/L. Acidose metabólica e intervalo osmolar >10 mOsm/L não induzido pelo etanol. Concentração sanguínea de metanol >20 mg/dL. Ácido fólico ou folínico: aumenta a conversão do formato em dióxido de carbono e água. A dose é de 1 mg/kg (até 50 mg), IV, a cada 4 h. Monóxido de Carbono Definição: gás incolor, inodoro, insípido e não irritante produzido pela combustão incompleta de qualquer material que contenha carbono. Fontes de exposição: inalação da fumaça de incêndios, fumaças da exaustão de automóveis, fogões a gás, querosene ou carvão mal- ventilados, fumaça de cigarro e cloreto de metileno. Mecanismo de toxicidade: liga-se à hemoglobina com uma afinidade 250x > ao oxigênio, levando à redução e à saturação da oxi-hemoglobina e à diminuição da capacidade carreadora de O2 pelo sangue. A curva de dissociação da oxi-hemoglobina é deslocada para a esquerda, prejudicando a liberação para os tecidos. Poderá inibir diretamente a citocromo oxidase, comprometendo a função celular, e pode se ligar à mioglobina, contribuindo para o prejuízo da contratilidade do miocárdio. Lesão pós-anóxica parece ser complicada pela peroxidação de lipídeos, pela liberação excessiva de espécies reativas de oxigênio e NTs excitatórios e alterações inflamatórias. A hemoglobina fetal é mais sensível à ligação com o CO, e os níveis fetais ou neonatais poderão ser superiores. Dose tóxica: O nível considerado imediatamente perigoso à vida e à saúde é de 1.200 ppm (0,12%). Entretanto, a duração da exposição é muito importante. Apresentação clínica Dor de cabeça, tontura e náuseas. Pcts com doença coronariana podem experimentar angina ou IAM.Em caso de exposições mais sérias, poderão ocorrer comprometimento do raciocínio, síncope, coma, convulsões, arritmias cardíacas, hipotensão e morte. Sobreviventes de intoxicação grave podem experimentar diversas sequelas neurológicas consistentes com uma lesão hipóxica-isquêmica, oscilando de sérios déficits como parkinsonismo e um estado vegetativo persistente, a súbitos transtornos de personalidade e memória. A exposição durante a gravidez poderá levar o feto ao óbito. Diagnóstico História de exposição. Não há achados clínicos específicos confiáveis, cor da pele vermelho-cereja ou sangue venoso vermelho brilhante é altamente sugestivo. Gasometria arterial: saturação de oxigênio é calculada a partir da PO2 e não é confiável em pacientes com intoxicação por CO. Oximetria de pulso: fornece resultados falsamente normais por não distinguir entre a oxi-hemoglobina e a COHb. Cooximetria: Deve-se obter uma concentração específica de COHb com sangue venoso ou arterial. Outros: eletrólitos, glicose, ureia, creatinina, ECG e testes de gravidez. Acidose metabólica: sugere intoxicação mais grave. Inalação de fumaça: medir o nível sanguíneo de metemoglobina e o nível de cianeto. Tratamento Emergência Manter uma via áerea aberta e fornecer ventilação. Se tiver ocorrido inalação, considerar a IOT precoce para proteção da via aérea. Tratar coma e choque caso ocorram. Monitorar continuamente o ECG por várias horas após a exposição. Como a fumaça geralmente contém outros gases tóxicos, considerar a possibilidade de intoxicação por cianeto, metemoglobinemia e lesão gasosa irritante. Antídotos Adm oxigênio: máscara de alto fluxo (FO2100%), pois acelera a eliminação do CO da hemoglobina em cerca de 1h, ou adm o oxigênio por tubo endotraqueal. Tratar até que o nível de COHb seja <5%. Considerar o oxigênio hiperbárico em casos graves.
Compartilhar