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Ética e Profissionalismo em Psicologia

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ÉTICA E PROFISSIONALISMO EM 
PSICOLOGIA
ÉTICA E DIREITOS HUMANOS
Saulo Santos Menezes de Almeida
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Introdução
Nesta unidade trataremos de pontos cruciais para o ser-psicólogo. Você já parou para pensar no que é ser
psicólogo? Como deve ser a conduta de um psicólogo? Como distinguir a vida pessoal da vida de outra pessoa
/grupo/comunidade na qual o psicólogo vai atuar? Estas e outras perguntas é o que tentaremos ajudá-lo a
responder durante nosso estudo.
Vale pontuar que aqui se destaca o “ser-psicólogo” com o hífen, enfatizando que a construção individual é
indissociável da construção profissional. Para esta empreitada, vamos então pensar sobre os princípios da ética
profissional; ética e moral: aspectos filosóficos e históricos; ética e direitos humanos e a tríade conhecimento 
teórico: autoconhecimento/psicoterapia pessoal e supervisão.
Sobre os Princípios da Ética profissional destaca-se a necessidade de se re(pensar) os valores centrais da vida
pessoal, a fim de entender que estes são responsáveis pelas ações do ser profissional. No tópico “Ética e Moral:
aspectos filosóficos e históricos” apresentam-se alguns dos principais filósofos que assinalam sobre a discussão
do que é Ética e Moral. Posteriormente, acerca da Ética e Direitos Humanos, ressalta-se a importância de
discorrer a construção dos Direitos Humanos na história da humanidade, destacando a Declaração Universal dos
Direitos Humanos e sua garantia dos direitos que resguardam a dignidade humana. Por fim, reforça-se a
necessidade da tríade conhecimento teórico, autoconhecimento/psicoterapia pessoal e supervisão para o
estabelecimento de uma prática sedimentada no respeito a diversidade e dignidade humana.
Vamos lá? Acompanhe esta unidade com atenção!
1.1 Princípios da Ética Profissional
Você sabe o que são os valores humanos e a sua importância para a construção de uma ética profissional?
Valores são construtos guias que nos orientam quanto as nossas ações e julgamentos; portanto, ao se pensar nos
valores que construímos como centrais para a nossa vida, permitimos também ter contato com o projeto ou
sentido da nossa vida. Isto desemboca diretamente nos propósitos e práticas profissionais. Assim, o objetivo de
aprendizagem deste tópico é o de conhecer os conceitos básicos de ética e entender o papel dela na profissão do
psicólogo.
1.1.1 Ética e valores humanos
A ética é a mola propulsora da conduta humana. Ela é um objeto da vontade humana, sendo “o bem”, ou seja,
aquilo que se arremete à vontade humana. (SÁ, 2009). Vale ressaltar que a concepção de conduta humana aqui
defendida parte de uma concepção tripartite, tradicional na história da Psicologia, que aponta a conduta/atitude
como um conjunto de cognições, sentimentos e predisposições/volição para agir. O aspecto volitivo, é, neste
sentido, um aspecto que se associa aos pensamentos, ideias, emoções e sentimentos presentes no indivíduo.
Ainda que se saiba que estas partes se estabeleçam na relação sujeito-mundo, ela se encaixa na vida do indivíduo
através de uma normalização de pressupostos morais e valores humanos.
A Ética é uma tipologia dos modos de existência imanentes; substitui a Moral, a qual relaciona
sempre a existência a valores transcendentais [...]. A oposição dos valores (Bem/Mal) é substituída
pela diferença qualitativa dos modos de existência (bom/mau). (DELEUZE, 2002. p. 28-29)
Os valores humanos ocupam um lugar de importância no conjunto dos conceitos psicossociais considerados
essenciais para o entendimento dos fenômenos de interesse de estudos das ciências sociais. (ESTRAMIANA et al,
2013). Segundo Gouveia (2003), os valores humanos são princípios norteadores que representam
cognitivamente as necessidades humanas, e atendem a critérios específicos. Eles estão ligados às buscas de
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cognitivamente as necessidades humanas, e atendem a critérios específicos. Eles estão ligados às buscas de
necessidades de cada indivíduo e servem para conduzir o homem no mundo, surgindo a partir das experiências
próprias de cada um.
Segundo Gouveia (2003), a primeira função psicológica dos valores seria guiar as ações do ser humano numa
orientação pessoal, voltada para o indivíduo; social, voltada para a sociedade, a coletividade; ou central, alvos
compatíveis com o individual e o social. A segunda função diz respeito ao tipo de necessidade que é expressa
pelos valores: necessidades materialistas ou pragmáticas, ligadas a ideias práticas e imediatas, como
sobrevivência e aspectos normativos; e necessidades idealistas ou humanitárias, de origem universal, ligadas a
princípios abstratos e ideias imateriais. Os valores materialistas evidenciam ideias práticas, e possuem um
pensamento mais voltado no agora, visando resultados imediatos. Já os valores humanitários focam mais no
futuro e são baseados em princípios e ideias abstratas.
De acordo com estas tipologias, estima-se que as pessoas guiadas por valores pessoais tendem a ser mais
egocêntricas, de maneira geral, enquanto aquelas que são guiadas por valores sociais priorizam a vida em
sociedade e possuem um foco interpessoal. Neste sentido, tomando como base esta teoria dos valores humanos
aqui descrita, e olhando para a formação ética do profissional, identifica-se que os valores humanos priorizados
pelos profissionais podem coadunar com atuações mais egocêntricas, ou mais sociais e interpessoais, na sua
atuação.
1.1.2 Ética profissional e valores humanos
A ética profissional pode ser entendida como o estudo da conduta humana no exercício de uma profissão. Neste
caso, segundo Amendola (2014), ao se pensar na prática do psicólogo, faz-se importante uma postura
fundamentalmente ética. Um profissional que possui no seu bojo de práticas demandas morais, deve questionar
suas ações para que não transforme o exercício de sua profissão em uma prática opressiva, adestradora ou de
normalização das relações sociais vigentes.
Os valores humanos, portanto, devem se posicionar como um componente essencial na formação profissional,
uma vez que o curso de graduação em Psicologia, a partir das Diretrizes Curriculares, publicadas em 15 de março
de 2011, prevê em seu Art. 3º que o curso de graduação deve assegurar uma formação baseada na
compreensão crítica dos fenômenos sociais, econômicos, culturais e políticos do País, fundamentais
ao exercício da cidadania e da profissão; atuação em diferentes contextos, considerando as
necessidades sociais e os direitos humanos, tendo em vista a promoção da qualidade de vida dos
indivíduos, grupos, organizações e comunidades; respeito à ética nas relações com clientes e
usuários, com colegas, com o público e na produção e divulgação de pesquisas, trabalhos e
informações da área da Psicologia. (p. 1).
Bernardes (2012) propõe que o desafio na formação do profissional da Psicologia está vinculado à superação da
VOCÊ SABIA?
Até a Idade Média, pensadores como Santo Tomás de Aquino (1225-1274), afirmavam que a
felicidade só seria encontrada na união com Deus. Desta forma, os valores seriam
transcendentais e viriam de Deus, por isso o homem precisava teme-Lo; para alcançar a
felicidade. Se quiser saber mais, leia o artigo “Premissas do pensamento ético de Tomás de
Aquino”, neste link <https://revistas.pucsp.br/reveleteo/article/download/7696/5634>.
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Bernardes (2012) propõe que o desafio na formação do profissional da Psicologia está vinculado à superação da
ideia de que o currículo não se reduz a uma lista ou à grade de disciplinas, mas é implementado no campo das
relações de poder e na produção de cultura. Segundo Witter e Ferreira (2005), a formação do psicólogo deve
acompanhar a mudança constante da sociedade e do mercado de trabalho. Ressalta-se, assim, que analisar a
ética e os valores humanos mais privilegiados pelos profissionais é compreender que estes podem afetar a
maneira em que percebem o mundo, suas decisões, preferências e suas ações, influenciadas pelos contextos
sociais, além de refletir as soluções que os mesmos podem desenvolver para responder aos desafiosda
existência.
Desta forma, problematiza-se se o profissional tem se aproximado de uma formação crítica voltada para a busca
de uma sociedade democrática, com uma ampla visão do ser humano e comprometida com a melhoria da
qualidade de vida do homem, preparando-o para se inserir na sociedade como um ser consciente de que sua
participação efetiva, contribuindo para um mundo mais humano e mais cooperativo. Assim, não se sustentam
‘verdades’ pré-estabelecidas em uma prática profissional baseada em uma ética ligada a valores humanos, pois a
verdade está na existência cotidiana (existência aqui definida como a indissociabilização sujeito-mundo). A
verdade existencial é uma construção da experiência que se dá a partir de significantes que existem no mundo e
coexistem com a vida cotidiana. Essa consolidação de uma prática profissional ética acontece ao se assumir que
há uma responsabilidade de se lançar no mundo, sendo capturado e responsável pelas suas condutas.
A responsabilidade, inclusive pelo outro, que estará sendo auxiliado pelo trabalho profissional, dá-se a partir do
momento que se entende que, como sujeitos livres para expressar a suas singularidades, permite-se que o outro
também possa exprimir as suas. Como ser lançado no mundo, a normatividade é um lugar impróprio.
Politicamente, deve-se assumir um lugar de luta para saber como lidar com o diferente, o que foge a norma. Isso
é acolhimento. Isso é ética profissional.
Neste sentido, a ética profissional respalda-se na concepção de que todo conhecimento é inválido, uma vez que
nasce no mundo e atravessa o ser, capturando-o. Ao ser capturado pela experiência, todo modo de existência é
possível e, portanto, validado. Se toda verdade sobre a existência humana é apenas uma limitação ou recorte,
todas as formas de existência devem ser possíveis, ainda que limitadas ou circunscritas por algum pressuposto
ou teoria. Ninguém pode falar de si, a não ser o próprio sujeito. Ninguém pode falar da diversidade, a não ser o
diverso. Ou seja, cada um constitui uma singularidade que não pode ser compreendida, apenas experienciada.
Nisso se faz diversidade e ética. Pensando nisso, diga então, quem é você?
Qualquer categoria ou enunciado lançado sobre si será incapaz de dizer do Ser próprio, daquele que possui uma
indeterminação ontológica. Toda e qualquer forma de entendimento é limitante; é violência; não é ética. A
existência é singular, apesar dos diversos significantes que o circulam. A única possibilidade é compreender a si
e aos outros como seres abertos, e só isso. Usando de Sedgwick (1993), o sujeito é “uma trama aberta de
possibilidades, brechas, sobreposições, dissonâncias e ressonâncias, lapsos e excessos de significados”. (p.8).
1.1.3 Ser ético
Ser ético, incluindo no campo profissional, é entender que toda e qualquer forma de aparato que tente controlar,
reverter e dizer de que forma se deve viver a existência transforma-se em uma violência, uma vez que esta tem
origem complexa em uma combinação de fatores inatos e contextuais, significados a partir da relação com o
mundo. Nem mesmo as suas expectativas podem ser correspondidas, pois a existência escapa ao domínio da
consciência. Isto equivale a dizer que não encontramos na consciência nenhum sujeito, nem o sujeito psicológico,
que já é objeto para a consciência, nem o sujeito transcendental, que é apenas uma ficção ope-rada a partir do
sujeito psíquico.
Neste sentido, pensando a prática profissional e a ética, respalda-se aqui a concessão de que o corpo é mais do
que um instrumento de ação no mundo; ele é nossa expressão no mundo, a figura visível de nossas intenções.
Perceber e interpretar o mundo, é tornar algo presente a si com a ajuda do corpo, e consistindo a decifração em
colocar cada detalhe nos horizontes perceptivos que lhe convenha. Há a necessidade de se construir um espaço
habitável para as vivências e narrativas. Isso é acolhimento. Isso é ética.
Como sujeitos avarentos, busca-se defender as suas próprias crenças, suas “verdades”, e mesmo que elas sejam
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Como sujeitos avarentos, busca-se defender as suas próprias crenças, suas “verdades”, e mesmo que elas sejam
derrubadas, isso pode, numa tentativa de manter-se em estabilidade, não fazer repensar. Busca-se sustentar uma
suposta identidade constituída por imagens que se tem de si e dos outros, ou encontrar um lugar para sustentar
a sua existência. Isso demonstra o quanto somos construídos para sermos submissos e idolatrarmos verdades
pré-estabelecidas que violentam as existências possíveis.
Na presença dessas ideias, é uma falta de ética adotar práticas inócuas e que são aviltantes a uma população
específica e manter critérios interventivos ou diagnósticos que servem de matriz para tais práticas. Então, o que
fazer? Pensar, junto com este indivíduo/grupos/sociedade, que os sofrimentos e determinações nascem na
relação com o mundo. As escolhas precisam ser autênticas quando pensadas pelo próprio sujeito a partir das
múltiplas possibilidades de expressar os seus desejos. Importa como ele vai experienciar a sua existência 
cotidiana. Isso é acolhimento, isso é cuidado, isso é ética.
1.2 Ética e moral: aspectos filosóficos e históricos
A ética e a moral são temas que pautam discussões desde a antiguidade até a contemporaneidade, pois pensar a
conduta humana é algo que intriga os pensadores humanos. Mas, o que é ética? ética e moral são a mesma coisa?
O que representa um comportamento ético? Para responder estas perguntas, os objetivos de aprendizagem
deste tópico são os de diferenciar os conceitos de ética e moral; analisar os aspectos filosóficos e históricos dos
conceitos apresentados; e relacionar ética aos direitos humanos.
1.2.1 Ética e moral: alguns dos principais autores
Ética (do grego ), originalmente tinha o sentido de “morada”, ganhando o significado posterior de “caráter”,ethos
“modo de ser” adquirido ao longo da vida. (Cortina e Martínez, 2005). Diferenciando de Moral, diz-se que “a
Moral ordena; a Ética aconselha. A Moral responde à pergunta: “o que devo fazer? ”; a Ética, à pergunta: “como
devo viver? ”. (COMTE-SPONVILLE, 1998).
Para Cortina e Martínez (2005), o que se pode destacar da Ética e da Moral é que, enquanto a Moral responde à
pergunta: “O que devemos fazer? ”, a Ética responde: “Por que devemos? ”. Esta compreensão associa-se aos
pressupostos de que a ética não pode se identificar com nenhum código moral, ainda que seja responsável pela
crítica dos costumes morais, esclarecer e fundamentar a moralidade, e aplicar aos diferentes âmbitos da vida
social os resultados obtidos destas críticas (Cortina e Martínez, 2005). Neste sentido, clique nos itens a seguir e
veja os pensadores que destacam-se quando associados a história da discussão ética e seus argumentos:
Aristóteles com os seus argumentos empírico-racionais.
Immanuel Kant com seu racionalismo transcendental.
Friedrich Hegel com uma vertente dialética-absoluta.
Karl Marx dentro de uma perspectiva dialético-materialista.
VOCÊ QUER VER?
Aproveite este momento e reflita a partir da música “Metal contra as Nuvens” - Legião Urbana,
1991. Para acessar, clique neste link <https://www.youtube.com/watch?v=_vV44b2HiQo>.
Após ouvi-la, responda a seguinte pergunta: a educação familiar, escolar e social tem como
ponto mais forte a moral ou a ética?
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Friedrich Hegel com uma vertente dialética-absoluta.
Karl Marx dentro de uma perspectiva dialético-materialista.
Friedrich Nietszche alicerçado em construções genealógicas e desconstrutivas.
Edmund Husserl radicalizando a relação homem-mundo através da intencionalidade e fenomenologia
transcendental.
Aristóteles defendia a ciência empírica, a ética e a política. Perguntando sobre o fim ultimo do homem, a ética,
sendo um saber prático, se daria através do uso correto da razão, de um exercício de conhecimento de suas ações
e escolhas, e da felicidade (eudaimonia), esta alcançada através das virtudes e moderação. Destacam-se três
obras sobre a ética e da moral. Clique nos números a seguir para conhecê-las.1 Ética a Nicômaco.
2 Ética a Eudemo.
3
Grande Ética, compêndio das duas
precedentes.
Na figura a seguir, veja o busto de Aristóteles:
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Figura 1 - Busto de Aristóteles.
Fonte: MidoSemsem, Shutterstock, 2019.
Immanuel Kant destaca a razão como guia das ações humanas, porém, sendo esta limitada, pode despertar
contradições. A razão humana, incapaz de alcançar o modelo ideal de realização da felicidade, do existir, do
querer e do escolher eticamente, deve ser restrita a uma razão prática definidora dos limites da conduta
humana, ou seja, através da autonomia há a liberdade da razão enquanto faculdade prática, e o ser humano deve
agir de acordo com o dever. Esta é a ética Kantiana. A pergunta, então, que norteia a conduta humana é: “isso fará
o bem do coletivo? ”. Se sim, é uma atitude ética, se não, é antiético. Assim, o ser humano deve agir, segundo uma
máxima tal, que possas querer ao mesmo tempo que sua ação se torne lei universal (Imperativo Categórico).
Neste mundo, e até mesmo fora dele, nada é possível pensar que possa ser considerado como bom
sem limitação a não ser uma só coisa: uma . [...] Poder, riqueza, honra, mesmo a saúde, eboa vontade
todo o bem-estar e contentamento com a sua sorte, sob o nome de felicidade, dão ânimo que muitas
vezes por isso mesmo desanda em soberba, se não existir também a boa vontade que corrija a sua
influência sobre a alma e juntamente todo o princípio de agir e lhe dê utilidade geral. [...] e assim a
boa vontade parece constituir a condição indispensável do próprio facto de sermos dignos de
felicidade. (KANT, 2004. p. 21).
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felicidade. (KANT, 2004. p. 21).
Figura 2 - Pintura de Immanuel Kant.
Fonte: Nicku, Shutterstock, 2019.
Também de forma racional, Hegel defende a ética, porém de forma contextualista. Diferentemente de Kant, que
foca na intenção, Hegel propõe que se analise a ação e a julgue a partir do contexto em que o indivíduo esteja
inserido para a realização desta. Em resumo, Hegel afirma que considerar a intenção do indivíduo para um
julgamento ético não é suficiente. Da mesma maneira, determinar regras universais (imperativo categórico) para
reger as ações dos indivíduos traz este mesmo problema. Pensa-se assim, em uma ética de caráter subjetivo e de
caráter contextual, considerando uma determinada cultura, seus hábitos e crenças e o momento histórico em
que elas são praticadas. A ética envolve, assim, uma relação dos indivíduos com o Estado: ética subjetiva/pessoal
(manifestada através de cada indivíduo); e objetiva/do Estado (que diz respeito às normas, leis e costumes,
responsáveis por moldar a natureza do homem).
Com Karl Marx, discute-se uma ética baseada em uma crítica às teorias éticas de fundamentação especulativa,
idealista, utilitarista, religiosa e ao modo de produção capitalista e sua maneira de conceber, pensar, agir,
organizar as relações homem-sociedade. Portanto, esta ética sustenta-se na concepção de homem como ser
concreto, social e histórico. (SOUZA, 2017).
São os homens que produzem suas representações, suas ideias etc., mas os homens reais, atuantes, tais como são
condicionados por um determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e das relações que a elas
correspondem, inclusive as mais amplas formas que estas podem tomar. A consciência nunca pode ser mais que
o ser consciente; e o ser dos homens é o seu processo de vida real. (MARX; ENGELS, 2002, p. 18-19).
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Figura 3 - Retrato de Karl Marx.
Fonte: Everett Historical, Shutterstock, 2019.
A ética marxista, portanto, é uma ética baseada em uma sociedade de classes, e para que haja a transformação do
homem e da sociedade como possibilidade histórica e real, faz-se necessário um questionamento das
determinações e condicionamentos do modo de produção capitalista através de uma educação revolucionária da
classe trabalhadora. (SOUZA, 2017).
Pensando também que os valores morais são produtos histórico-culturais, impostos pelos homens, Nietszche,
numa perspectiva genealógica, propôs um repensar da formação histórica dos valores morais. Criticando,
inclusive as éticas kantiana e cristã, supõe que a proposta de ética universal leva a um processo de
“desindividuação”. Ao contrário, deve-se apresentar a humanidade os valores “afirmativos da vida”, como a
vontade, a criatividade e o sentimento estético, ao mesmo tempo em que “nega que a moral disponha de uma boa
razão para reivindicar nossa adesão, como também insiste que ela é nociva e deveria ser superada”. (CLARK,
2017).
A ética Husserliana em um conceito de responsabilidade e a partir de uma inacabável prática de autorreflexão ou
explicitação de si, defende que em um retorno ao originário do eu humano, livre e transcendental, ocorre um
envolvimento de uma redução de significados e pressupostos, tornando a realização do sujeito um compromisso
com a racionalidade. Um compromisso ético. Ainda que discorde do imperativo categórico de Kant, pelo fato de
defender uma realização pessoal do sujeito que busca o bem e não simplesmente a necessidade de obedecer uma
norma ao integrar o racional, o volitivo e o contingente, concorda com este ao provocar uma discussão ética em
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norma ao integrar o racional, o volitivo e o contingente, concorda com este ao provocar uma discussão ética em
direção a uma humanidade melhor e a uma autêntica cultura. (GUBERT, 2015).
Figura 4 - Imagem de Edmund Husserl.
Fonte: Marusya Chaika, Shutterstock, 2019.
A partir do que já estudamos, há de se convir que a ética pode ser considerada a ciência da conduta, ou “causas”
da conduta humana. (ABBAGNANO, 1998). Assim, agir eticamente é agir de acordo com uma moral instituída,
sustentando as nossas ações no mundo. Estudar ética é pensar como as ações no mundo podem ser vistas e
revistas, de forma a se questionar sobre o bem comum e a construção de valores coerentes com a realidade
pessoal e/ou coletiva.
1.3 Ética e Direitos Humanos
Você já se perguntou o que é ser humano? Já parou para se questionar sobre como você se define? Há humanos
superiores e inferiores? Somos todos iguais? Essas questões assolam a humanidade desde as primeiras
civilizações. A partir do momento em que as relações pessoais e sociais foram se estabelecendo, estas questões
começam a despertar diversas compreensões do que pode e do que não pode, mas, muito mais do que isso,
estabeleceram-se hierarquias sociais, onde algumas pessoas ou grupos passam a se sentir superiores e tirar a
“humanidade” de outras pessoas/grupos consideradas inferiores.
O conceito de ser humano é algo que demanda um aprofundamento das diversas discussões ontológicas e
epistemológicas, porém a proposta deste tópico é um passeio sobre alguns apontamentos históricos da evolução
dos “humanismos”, analisar os conceitos de ética e moral relacionando-os aos direitos humanos, e compreender
a ética da profissão do psicólogo à luz dos direitos humanos na contemporaneidade.
- -11
1.3.1 Os Humanismos
Antes de adentrar a discussão sobre ética e direitos humanos, tem-se que se questionar “o que é o Humano? ”, ou
ainda, como o filósofo Heidegger, “o que é o Ser? ”. Para tanto, se faz necessária uma aprofundada discussão
ontológica. A importância de entender que a discussão sobre direitos humanos está justamente pautada na
provocação sobre possíveis diferenças ou essências humanas.
Destaca-se, neste texto, a prerrogativa de que o que caracteriza a existência individual, ou mesmo o ser humano,
é a possibilidade do ser em escolher-se a si mesmo com autenticidade; construir o seu destino, num processo
dinâmico de vir-a-ser; e ser capaz de fazer escolhas livres e intencionais. (TEIXEIRA, 2006). Para tanto, faz-se
necessário que o indivíduo tenha condições de estabelecer-se no mundo através de suas várias dimensões
integradas (física, social, psicológica e espiritual), onde a dignidade humana está em permitir que o indivíduo
possa sentir-se seguro e bem na relação com os outros, consigo próprio, e com o desconhecido.
[...] o homem ligado por um compromisso e que se dá conta de que não é apenasaquele que escolhe
ser, mas de que é também um legislador pronto a escolher, ao mesmo tempo que a si próprio, a
humanidade inteira, não poderia escapar ao sentimento da sua total e profunda responsabilidade.
(SARTRE, 1946. p. 7.)
Desde a antiguidade o pensar sobre o que é o ser humano se faz presente, mas é na modernidade que começa a
ganhar maior repercussão pelos dilemas éticos presentes em um mundo onde a tradição deu lugar a processos
novos de mercado, e o coletivo foi suplantado pelo individual. Gomes, Holanda e Gauer (2004), apontam que um
humanismo clássico, no início da idade moderna, ocasionou um nascimento de uma áurea de individualidade,
singularidade e expressividade irrestrita, abrindo também espaço para um humanismo romântico de defesa da
expressão plena dos sentimentos, focando, neste caso, na intuição e no sentimento.
Já o humanismo individual, surgido principalmente após as duas guerras mundiais, na busca por uma maior
liberdade humana, destaca um ser humano independente, hedonista, tolerante e com capacidade de
autoexpressão, em um horizonte de liberdade de expressão e da convivência social, defesa da democracia e das
minorias na política. Ainda mais radical, o humanismo social, caracterizado pela revolta contra as injustiças, as
desigualdades, e as diferenças de classe, desperta uma luta contra a alienação dos processos dominadores das
forças econômicas e históricas, através da autonomia e da tomada de consciência. (GOMES, HOLANDA E GAUER,
2004).
Essas perspectivas ainda convivem com um humanismo crítico, que nega todos os humanismos, entendendo que
o ser humano deve cuidar-se para não ser tragado pelo mundo-dos-outros e isentar-se da responsabilidade
individual de escolher seu existir. Assim, o ser-no-mundo vive numa ambivalência: a existência condicionada
pelo mundo, e a existência da liberdade absoluta de escolha e transcendência (dentro de e junto com o mundo). (
GOMES, HOLANDA E GAUER, 2004).
VOCÊ QUER VER?
Em meio a esta discussão sobre Humanismos, assista ao filme “Laranja Mecânica”, que nos
conta a história de um jovem que, ao ser preso, passa por uma técnica de modificação de
comportamento para ter de volta sua liberdade. Reflita após assistir: Como pensar uma
sociedade sem que todos os homens sejam dotados de liberdade e respondam por seus atos?
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1.3.2 Os Humanismos e os Direitos Humanos
Neste caminho, a discussão sobre Direitos Humanos vai ganhando espaço em meio a conquistas e princípios
históricos, ora a partir de uma compreensão de que as leis são impostas e devem ser dirigidas pelo Estado, ora
exaltando os valores grupais e leis naturais como balizadores de direitos. Essas compreensões respaldam-se em
uma ordem jusnaturalista ou juspositivista.
Quadro 1 - Diferenças entre o Jusnaturalismo e o Juspositivismo.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2019.
Dentre as mais importantes conquistas de Direitos Humanos, temos a Declaração de Independência dos Estados
Unidos e Declaração dos Direitos da Virgínia (1776), a mais antiga constituição nacional escrita que está em
vigor.
Nesta declaração, os poderes do governo federal são limitados para que os direitos de todos os cidadãos sejam
protegidos. Clique nas abas a seguir e conheça as proteções e proibições desta declaração:
• Proteções
Dentre as proteções, encontram-se:
- liberdade de expressão e de religião;
- direito de guardar e usar armas;
- liberdade de assembleia;
- liberdade de petição.
• Proibições
Como proibições, encontramos:
- busca e a apreensão sem razão alguma;
- castigo cruel e insólito;
- autoinculpação forçada.
Já na declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, da Revolução Francesa, encontramos os seguintes direitos
para todos os cidadãos: direitos de liberdade, propriedade, segurança e resistência à opressão.
Estas declarações servem como parâmetro para a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH),
proclamada no dia 10 de dezembro de 1948, na Assembleia Geral das Nações Unidas, frente aos desrespeitos a
dignidade humana, produzidos, em especial, pelas duas guerras mundiais. Afirma a Declaração Universal dos
Direitos Humanos (1948):
A Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal
•
•
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A Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal
comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e
cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta declaração, se esforce, através do ensino e da
educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas
progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua
observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios estados-membros, quanto entre os
povos dos territórios sob sua jurisdição. (p. 4).
Figura 5 - Ilustração de Direitos Humanos.
Fonte: magic pictures, Shutterstock, 2019.
Alguns eventos são importantes para a criação da Convenção dos Direitos Humanos, que legitima a Declaração
Universal dos Direitos Humanos. 
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Figura 6 - Eventos que antecedem a criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2019.
Em suma, ações como as guerras mundiais, em especial os fascismos e o nazismo, produziram uma necessidade
urgente de se pensar o respeito à dignidade humana. Efetivar os direitos humanos é potencializar a capacidade
humana de realização pessoal, favorecida pelas circunstâncias externas defendidas pelo Estado e por todos que
lutam por uma sociedade mais justa e igualitária.
Os direitos naturais do homem, segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos são a liberdade e
igualdade, propriedade, segurança e o direito de resistir à opressão. Além disso, algumas outras características
são importantes:
• universalidade: os direitos prescritos são de todos os homens;
• a Declaração Universal dos Direitos Humanos supera os direitos naturais: apesar de responder a uma 
necessidade de valores humanos universais, estes devem ser efetuados e protegidos pelo Estado. Nisto, 
são necessárias condições objetivas para se efetivarem, entendendo as políticas públicas como a 
operacionalização dos Direitos Humanos. Portanto é necessário que haja a promoção, controle e garantia 
dos direitos;
• foi assinada por 48 países: Afeganistão, Argentina, Austrália, Bélgica, Bolívia, Brasil, Burma, Canadá, 
Chile, China, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Dinamarca, República Dominicana, Equador, Egito, El Salvador, 
Etiópia, França, Grécia, Guatemala, Haiti, Islândia, Índia, Irã, Iraque, Líbano, Libéria, Luxemburgo, México, 
Países Baixos, Nova Zelândia, Nicarágua, Noruego, Paquistão, Panamá, Paraguai, Peru, Filipinas, Tailândia, 
Atualmente, todos os 193 Suécia, Síria, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos, Uruguai e Venezuela. 
VOCÊ O CONHECE?
Eleanor Roosevelt, envolvida com causas ligadas aos direitos humanos, foi presidente da
Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas e agente da criação da Declaração
Universal dos Direitos do Homem, foi inclusive, denominada “primeira - dama do mundo” pelo
presidente Truman, graças às suas realizações humanitárias ao longo de toda a sua vida.
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Atualmente, todos os 193 Suécia, Síria, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos, Uruguai e Venezuela. 
países-membros da ONU assinam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O Brasil foi um dos 48 
países que votaram a favor desta, durante a Assembleia de 1948.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos visa a proteção à vida em sua plenitude e os Direitos Humanos são
a base da democracia, tendo a paz como pressuposto de sua proteção. Sendo escrito por não juristas, há a
importância da luta para sua garantia, e a união entre o Estado e a Sociedade Civil. Para tanto, faz-se necessário
implementar medidas eficientes que alcancem a efetivação, mantenham a história viva das lutas históricas,
trazendo a concepção de direitos humanos para o cotidiano, e saindo do individualismo para a solidariedade.Consonante a tudo isso, nota-se que sustentar os direitos humanos na sua prática profissional é de suma
importância. Não há como pensar nas relações humanas demarcadas por situações de opressão, discriminação e
/ou marginalização, uma vez que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, são
dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. ”
(DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIRETOS HUMANOS, 1948. p. 4).
1.4 O fazer ético: sustentação na tríade “conhecimento 
teórico, autoconhecimento e psicoterapia pessoal
/supervisão”
A apresentação do Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005) relata que as profissões são construídas a
partir de um corpo de práticas. Estas práticas devem ser norteadas por aparatos técnicos e normas éticas,
garantindo uma relação positiva com os outros profissionais da área ou de outras áreas e com a sociedade como
um todo.
Neste sentido, a exigência de uma prática profissional ética só pode ser efetivamente elaborada a partir de um
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profissional da Psicologia.
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Neste sentido, a exigência de uma prática profissional ética só pode ser efetivamente elaborada a partir de um
rebuscado conhecimento teórico de sua prática e de uma busca constante por um autoconhecimento e
psicoterapia pessoal. O objetivo deste tópico é, portanto, analisar, a partir dos conhecimentos adquiridos, um
caso de dilema ético, considerando as necessidades de cuidado com a formação teórica e prática, além do
autocuidado pessoal na atuação do psicólogo.
1.4.1 A importância da tríade
A formação em Psicologia é teórica, mas também uma formação enquanto sujeito no mundo. Neste ponto, o
psicólogo em formação deve ser capaz de sentir e viver o trabalho, para assim ser capaz de discernir, observar e
identificar o momento oportuno de intervir. (KICHLER E SERRALTA, 2014). Contudo, apesar do
autoconhecimento construído na psicoterapia, ela ainda é buscada mais no final do curso atrelando-se a chegada
do estágio profissional e aos conflitos internos decorrentes desse processo. O tripé formador do psicoterapeuta
(conhecimento teórico, manejo da técnica/supervisão e autoconhecimento) é responsável pela constituição do
ser-psicólogo, como pessoa e como profissional. Além disso, Passos (2007) sustenta que a relação entre o
psicólogo e seus usuários de serviços deve ser de aceitação do conhecimento deste, a partir de uma relação de
sujeito-sujeito, respeitando emoções e sentimentos. Leia o caso a seguir:
Coimbra (2000) afirma que “nossas práticas produzem efeitos no mundo, e que só quando ao articularmos
Psicologia, Política e Direitos Humanos é que poderemos contribuir para uma transformação social”. (p. 147).
Em um momento na Psicologia brasileira, no qual os psicólogos lutam pelo espaço de discussão sobre relações
CASO
Um psicólogo passou recentemente por uma situação pessoal muito difícil. Sua tia, irmã de sua
mãe, foi assassinada pelo seu companheiro. Esta situação de violência doméstica causou um
desconforto emocional intrapessoal e interpessoal. Na última semana, ele atendeu, numa
primeira consulta, uma senhora que foi violentada fisicamente pelo seu companheiro. Para
tomar a decisão de encaminhar ou atender o cliente, quais questões precisam estar incluídas
na reflexão deste psicólogo, como componentes fundamentais da prática clínica?
Reflita:
Agora leia a descrição abaixo:
postura ética esperada no caso: o psicólogo passou por uma perda importante em sua vida.
Apesar de precisar ser empático, a sua postura não deve ser de envolvimento afetivo-
emocional a ponto de não separar sua vida pessoal da história narrada pelo cliente. Essa
dificuldade de certa neutralidade deve ser trabalhada em psicoterapia pessoal e
autoconhecimento. O trabalho pessoal é fundamental! Todos nós temos nossos princípios
morais. Nós os carregamos pela vida e por onde quer que estejamos. O caso nos confronta com
princípios morais que muitos carregam: os princípios da fidelidade, da família como algo
sagrado etc. Não precisamos nos desvencilhar dos nossos princípios, porém, não podemos
impor nossos princípios morais ou religiosos aos nossos pacientes. Precisamos respeitar a
subjetividade e o modo de estar no mundo de outras pessoas e oferecer ao outro a
neutralidade necessária ao acolhimento. É natural que muitos tenham se sentido incomodados,
porém, é importante que um profissional da Psicologia seja capaz de acolher essa
subjetividade com ética e respeito.
• Quais seus sentimentos ao ler o caso?
• Quais habilidades comportamentais o caso lhe convoca a desenvolver?
•
•
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Psicologia, Política e Direitos Humanos é que poderemos contribuir para uma transformação social”. (p. 147).
Em um momento na Psicologia brasileira, no qual os psicólogos lutam pelo espaço de discussão sobre relações
mais humanas e procuram se organizar em torno dos direitos humanos, polêmicas acerca da laicidade da
Psicologia, sobre questões de gênero e sexualidade, racismo, direito das mulheres, luta antimanicomial, às quais
se misturam questões e práticas pessoais com atuação em Psicologia, contrariando o que preconiza o Conselho
Federal de Psicologia, tornam-se muito presentes. (RECHTMAN et al, 2013), ou seja, deve-se questionar se as
ações profissionais não estão sendo balizadas por vontades pessoais ou institucionais, sem considerar o outro
em sua singularidade. (MEDEIROS, 2002).
Conclusão
Concluímos a unidade introdutória relativa à Ética e Direitos Humanos. Agora, você já conhece um pouco sobre a
importância de se refletir sobre os valores humanos e os cuidados com a dignidade humana, sempre pautando
no que preconiza a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• compreender os princípios da ética profissional através da ótica dos valores humanos;
• identificar condutas de um ser ético;
• verificar o conceito de ética e moral, junto a alguns aspectos filosóficos e históricos de alguns 
pensadores;
• identificar a associação entre a ética e os direitos humanos, especialmente com os direitos garantidos na 
Declaração Universal dos Direitos Humanos;
• verificar a importância de um fazer ético sustentado na tríade (conhecimento teórico, autoconhecimento 
e psicoterapia pessoal/supervisão).
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	Introdução
	1.1 Princípios da Ética Profissional
	1.1.1 Ética e valores humanos
	1.1.2 Ética profissional e valores humanos
	1.1.3 Ser ético
	1.2 Ética e moral: aspectos filosóficos e históricos
	1.2.1 Ética e moral: alguns dos principais autores
	1.3 Ética e Direitos Humanos
	1.3.1 Os Humanismos
	1.3.2 Os Humanismos e os Direitos Humanos
	Proteções
	Proibições
	1.4 O fazer ético: sustentação na tríade “conhecimento teórico, autoconhecimento e psicoterapia pessoal/supervisão”
	1.4.1 A importância da tríade
	Conclusão
	Bibliografia

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