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HISTÓRIA DA PUBLICIDADE E PROPAGANDA AULA 3 Prof. Patrick Diener 2 CONVERSA INICIAL Olá, caro aluno! Nesta aula, iremos estudar o processo de industrialização das agências brasileiras a partir da década de 1920 e as primeiras ideias conhecidas da publicidade. Conforme formos avançando, iremos compreender os efeitos da publicidade e da propaganda na constituição de sociedades e na ascensão de uma cultura global de consumo, um pensamento que hoje domina todas as esferas do nosso tempo. Sabe-se, hoje, que mais de 50% das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres e são elas quem decidem a economia doméstica: a questão da mulher é importante porque a publicidade e a propaganda acabaram criando no imaginário popular, principalmente na década de 1950, a ideia de que todas as mulheres fossem donas-de-casa, criadas para o lar e para as atividades doméstica. Trata-se, pois, de uma construção social elaborada e reforçada pelos meios de comunicação de massa. Está preparado? Vamos começar! Os temas que iremos estudar nesta rota estão assim divididos: O processo de industrialização e agências A publicidade e o imperialismo cultural As agências multinacionais e contas A influência da publicidade na mídia de massa Propaganda e cultura de massa 3 CONTEXTUALIZANDO É por volta dos anos 1920 que as grandes histórias da publicidade brasileira começam a tomar dimensões nacionais, deixando de estar vinculadas a uma cidade ou estado. É uma época em que grandes anunciantes passam a criar bordões e expressões que caem no gosto popular, conforme vimos no módulo anterior. Foi com a Revolução Industrial e o advento dos jornais como mídia de massa, ainda no século XIX (e em virtude de novas tecnologias de impressão e difusão de mensagens), que a publicidade foi criando possibilidades para se estabelecer como um motor do capitalismo e expandir-se pela economia mundial no início do século XX. Diversas fábricas e empresas, para depender menos dos comerciantes e revendedores, começam a estabelecer relacionamentos diretamente com seus consumidores, mediante a publicidade e a propaganda. Daí a necessidade de colocar sua marca em diversos meios: nas embalagens, em automóveis ou furgões de entregas, notas fiscais, fachadas, uniformes, cartões de visita e outros materiais de papelaria e, obviamente, em anúncios. Se você acha que anunciar em pacotes de pão ou sacolas é uma coisa que surgiu ontem, lembre-se que muitos destes materiais existiam já no século XIX, o que muda é a escala e os lugares em que isso ocorreu. Neste sentido, com o advento da industrialização, Kate Clair explica que surgia “a necessidade de criar identidade de produtos únicas e especiais com o propósito de desenvolver a fidelidade dos consumidores pelas marcas dos produtos” (2009, p. 79), daí as embalagens. Mas isso também se justifica porque os produtos manufaturados (da indústria) sempre têm concorrentes nas revendas, ou nos pontos-de-venda. Assim, ter uma marca que fosse recordável e agradável tornou-se uma necessidade imperiosa para a indústria. Pois bem, a publicidade é uma ciência que está “um passo à frente” do seu tempo, no sentido de que os publicitários sempre procuram se adiantar ao que se passa na mente de diferentes consumidores dos mais variados 4 segmentos. No aspecto tecnológico não é diferente: as grandes agências de propaganda (mas também agências médias) investem bastante em profissionais qualificados e em equipamentos de última geração, bem como em novas ideias. Faz parte do dia-a-dia de uma agência estar a par das últimas novidades. Assim, nesta aula iremos estudar o que as agências têm em comum e, nos anos 1920, começava a se desenhar um padrão (ocasionado pela Revolução Industrial) na condução de uma agência de propaganda. O mundo havia ficado menor: rádios, aviões, filmes e jornais agora circulavam o planeta e, neste contexto, as agências e redações do mundo inteiro passaram a adotar práticas, processos e estruturas semelhantes. Começava, assim, um período de ouro para diversas mídias. TEMA 1 - PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO E AGÊNCIAS A virada do século trazia novidades ao mundo: Paris inaugurava o metrô em 1900 na ocasião da feira Universal; a Companhia de Trens Central de Nova Iorque (NY Central Railroad Company) inaugurava sua rede do metrô (movido a eletricidade) em 1902 nas mãos do magnata Cornelius Vanderbilt: na fachada da Estação Central, há uma estátua de Mercúrio, uma mistura de mitologia, artes e comunicação (Mercúrio é uma divindade romana que representa o comércio e a comunicação). A intervenção no espaço urbano e sua gestão passam a ser prioridades. Inauguram-se avenidas largas e arborizadas, abrindo espaços para os carros, trens e bondes. As cidades se reorganizavam em formatos de grade, ordenando os edifícios em quarteirões simétricos e em zoneamentos e inauguravam-se os primeiros arranha-céus. Tudo começara no século anterior com a Revolução Industrial e o advento das ferrovias. No Brasil especificamente, as ferrovias começaram a ser construídas na década de 1850 e foram aos poucos, integrando a agricultura latifundiária do interior aos portos. Entretanto, apesar do traçado que privilegiava a exportação de riquezas, as ferrovias brasileiras foram fundamentais no estabelecimento da 5 economia doméstica (SUMMERHILL, p. 318) e foram essenciais à nossa industrialização tardia (no século XX). Com formas mais rápidas (estradas, meios de transporte etc.) de escoar a produção e de interligar economias a comunicação faz mais do que isso, pois também acelera a circulação de ideias. No caso da industrialização, diversas inovações tecnológicas permitiam novas formas de fixar e de compartilhar o conhecimento e os saberes. Nos EUA, uma instituição parecida com o nosso Ministério das Minas e Energias, o US Bureau of Mines estreava, em 1923, um filme chamado “A História do Petróleo”. Em preto e branco e de fins educativos, o filme é um documentário que explica que os EUA extraem o petróleo em seu território desde 1859 e demonstra todo o processo de produção, desde os geólogos a prospectar uma região até as linhas de ferro e oleodutos sendo construídos diante das câmeras, justificando imensos investimentos para escoar a produção e integrá- la aos centros consumidores. Apesar de se passar nos EUA, o filme retrata um exemplo do cinema a serviço da indústria petroleira, uma forma de compartilhar informações sobre o segmento à população e de defender os interesses dos governos e das indústrias. É aí que entram a publicidade e a propaganda. Para tal empreendimento foi mais do que necessária e essencial que a publicidade se industrializasse. O mundo vivia um novo momento, um período entre guerras (I e II guerra mundial) no qual diversas economias estavam crescendo e integrando-se cada vez mais. As pessoas estavam consumindo mais coisas em escala mundial: sabonetes, cervejas, eletrodomésticos e automóveis. Diversas indústrias estavam construindo sua reputação fora de suas fronteiras nacionais: as organizações hoje chamadas de transnacionais. A integração do mundo aconteceu economicamente: as linhas telegráficas e telefônicas, a navegação, os trens e os aviões além de conectar pessoas, integravam sobretudo o comércio mundial. 6 As redações dos jornais do mundo podiam comunicar-se na velocidade da luz via telégrafo, assim como portos, bancos e seguradoras. Via eletricidade, o mundo ficou menor, e houve a necessidade de algumas empresas e governos defenderem os empreendimentos de seu país comunicando-se globalmente. Então, foi uma questão de tempo para que algumas agências de propaganda tivessem que operar em mercados novos, desbravados por seus clientes em terras estrangeiras. A necessidadede se comunicar globalmente faz parte da estratégia de diversas organizações, pois seus consumidores nem sempre estão dentro de uma fronteira nacional, a integração da economia extrapola as fronteiras de territórios políticos. Em 1920, a Coca-Cola®, a Ford®, a General Motors®, as indústrias farmacêuticas, as petrolíferas, companhias de energia entre tantas outras, já eram empresas globais. No famoso edifício Rockefeller, em Nova Iorque, há uma fonte com uma estátua dourada de Prometeu, aquele que roubou o fogo dos deuses: chegávamos ao mundo no qual os empresários, e suas marcas, tinham o fogo dos deuses. Observe a imagem do bilhete de trem dos anos 1930. Apesar de ser um simples bilhete, trata-se de um produto executado em uma gráfica. A produção desse bilhete envolve a existência de uma franca atividade industrial: é nesses mercados que a publicidade se desenvolve! É essencial para o funcionamento da indústria da propaganda a existência de diversas relações, entre elas, a existência de um mercado consumidor em expansão, o desenvolvimento da indústria, do comércio e de instituições financeiras sólidas. Fonte: Mário Galuzzi (09/07/2013) 7 É necessário que haja meios de comunicação e de toda uma indústria de impressão, do fomento às artes e erudição, atividades de patronato a artistas, da formação de ilustradores, escritores, redatores entre outros. Patronos das artes, financiadores, mecenas, industriais, advogados, editores, tipógrafos, escritores, jornalistas, artesãos, fotógrafos, curadores: sem um mercado das artes que seja promissor, não existe capitalismo, tão vital para a publicidade. No alvorecer da industrialização da publicidade no Brasil, uma história importante é a da General Motors, cujo Departamento de Propaganda contava com cinco funcionários em 1926 e, no ano seguinte, aumentou para 34 pessoas, produzindo um fluxo de propaganda regular de automóveis e caminhões (RAMOS, 1985, p. 34). Elaboravam outdoors, painéis de estrada, malas-direta, materiais de exposição para as revendas. Daquele departamento da GM saíram os grandes nomes da publicidade nacional, que depois foram atuar no mercado por conta própria ou como os diretores das recém-chegadas agências estrangeiras, que internacionalizaram suas atividades na medida em que seus clientes conquistavam mercados externos. Uma das curiosidades dessa época é que, apesar do intenso uso de ilustrações e desenhos, a publicidade nacional utilizava-se de fotografias dos primeiros bancos de imagens, notadamente norte-americanos. Apesar de belas fotos, as modelos eram geralmente loiras. Assim, houve a necessidade de produzir fotos que tivessem mais a ver com os brasileiros, em sua maioria, morenos. No início 1937 foi fundada no Rio de Janeiro a Associação Brasileira de Propaganda, nossa primeira associação publicitária. Neste mesmo ano, em São Paulo, Orígenes Lessa inaugurava uma nova etapa, com a fundação de uma imprensa especializada da publicidade nacional, com a revista Propaganda, dedicada a anúncios para o mercado propagandista. Entre os anúncios, está a empresa Infante & Cia.; que comercializava anúncios nos bondes e trens de diversas cidades brasileiras (RAMOS, 1985, p. 46). Na ocasião do lançamento 8 da revista, fundava-se também a Associação Paulista de Propaganda, presidida por Lessa. Destaca RAMOS: Além da imprensa especializada e de entidades profissionais, os anos trinta viram nascer as nossas mais importantes agências [...] foram anos decisivos, sob o prisma da maturidade e profissionalização. Isto redundava em nível técnico de propaganda que se elevava e passava a estender-se (1985, p. 46). A revista Propaganda teve duas vidas; as primeiras circularam a partir de 1937 e depois foi relançada em 1956. A primeira revista especializada em publicidade chamava-se Exitus. Fundada em 1932, a Exitus circulou por cinco anos (RAMOS, 1985, p. 42). Na medida que as grandes cidades se desenvolviam e ocorria a consequente ampliação dos espaços urbanos, houve a necessidade de se estabelecer códigos que fazem parte do nosso dia a dia, como a iluminação noturna (a publicidade com neon), os sinais de trânsito, a sinalização de saídas de emergência, as fachadas das empresas, uniformes etc. Neste contexto de intensificação da comunicação urbana, crescia também a necessidade da expansão dos serviços das agências de publicidade. Não foi somente a profissionalização da publicidade que foi responsável pelo estabelecimento de identidades nacionais. RAMOS (1985, p. 42) aponta que o jornal de maior circulação em 1937 tinha uma tiragem de 50 mil exemplares, enquanto as revistas chegavam a 40 mil. Já nos anos 1940 a publicidade brasileira precisava se organizar no sentido de regulamentar a atividade publicitária em funcionamento no país, de modo a ordenar práticas como a propaganda de médicos e afins, bem como regulamentar determinados abusos, como o que entendemos hoje por propaganda enganosa. Como vimos na rota anterior, os fundadores da agência paulista a Eclectica ajudaram, em 1942, os idealizadores do IBOPE – Instituto Brasileiro Opinião e Estatística, instituição que é responsável por pesquisas, levantamentos e estudos sobre a mídia, a opinião e o mercado brasileiros, desde 9 os produtos que a classe média consome quanto às suas intenções de voto e os programas que mais assistem. Armando d’Almeida, proprietário da agência A. d’Almeida, de São Paulo, relata que: Em fevereiro de 1949, nasceu o convênio entre as principais agências de propaganda, de fixação de normas-padrão para o seu funcionamento. Desse convênio sairia, tempos mais tarde, a Associação Brasileira de Agências de Propaganda (ABAP), de tão relevante atuação na institucionalização da propaganda no Brasil, e que inclusive realizou, em 1957, o I Congresso Brasileiro de Propaganda, entre cujos grandes benefícios, cabe incluir a aprovação do Código de Ética dos Profissionais de Propaganda, hoje incorporado à legislação da publicidade (apud RAMOS, 1985, p. 63). O processo de industrialização da publicidade nacional culminou, em 1951 na fundação da Escola Superior de Propaganda e Marketing, a ESPM, pela necessidade de ser formarem profissionais para um mercado em expansão. Até então o publicitário era alguém que trabalhava com publicidade, e a maioria dos profissionais vinham de outras áreas, como o jornalismo. Os profissionais da publicidade eram sujeitos que eram, ao mesmo tempo, “contato, redator, homem de pesquisa, produtor de jingles, planejador de mídia” num contexto de “amadorismo bem-intencionado” (RAMOS, 1985, p. 62). O processo de industrialização chegava primeiro em São Paulo, antecipando as necessidades do mercado (grande parte do mercado publicitário ainda era decidido no Rio de Janeiro, sobretudo porque foi a primeira capital do Brasil). Sant’Anna et al. em “Propaganda: teoria, técnica e prática” define a propaganda mercadológica atual como um processo cujos efeitos se devem ao: 1. Aperfeiçoamento dos meios físicos de comunicação 2. Aumento da produção industrial pelo aperfeiçoamento tecnológico A propaganda mercadológica transforma-se, então, em “um fator econômico e social dos mais relevantes” (2013, p. 6). Assim, para os autores, a propaganda é definida como: 10 Símbolo de abundância de produtos e serviços que o progresso tecnológico colocava diariamente à disposição de todas as classes. [A Publicidade] torna-se parte integrante do processo de desenvolvimento econômico de um país. Sustenta o crescimento com a procura incessante de novos consumidores para produtos cada vez mais sofisticados. Dissemina a ideia de status conferida pela aquisição de objetos ligados ao conforto e ao lazer (SANT’ANNA et al., 2013, p. 7). TEMA 2 - A PUBLICIDADE E IMPERIALISMO CULTURAL A ideia de imperialismocultural é análoga à ideia do imperialismo em si, entendida como predomínio dos monopólios, da concentração de capital e de capital financeiro de um punhado de empresas de alguns países que controlam os processos produtivos em escala mundial. Isto inclui também os processos econômicos de países periféricos do capitalismo, sendo estes incapazes de gerenciar sua dependência externa, num contexto de crescente circulação de mercadorias da economia internacional, onde as periferias dependem dos países centrais. No contexto da Publicidade, para que haja essa concentração de riquezas em países de capitalismo mais avançado, é necessária uma propaganda sistemática em escala global. Então, neste modelo propagandístico de relações centro-periferia, diz-se que o imperialismo promove a exploração de determinadas culturas sobre outras e é dependente dos meios de comunicação para que sejam hegemônicos na relação centro-periferias, de modo que as economias centrais venham a suprimir quaisquer concorrências locais ou periféricas. Ainda, o conceito de imperialismo advém da ideia das antigas relações econômicas entre as metrópoles mercantilistas e suas colônias, onde as potências europeias constituíram-se como impérios e, como exemplo, temos o Império Britânico – que envolvia o controle de territórios nas Américas, na África, na Ásia e na Oceania. Então, nesta relação centro (metrópole) e periferia (colônias) sabe-se que a economia das colônias era monopolizada pelas potências. Desta forma, pensar o imperialismo sob a perspectiva da cultura, ou imperialismo cultural, exige-nos que pensemos na cultura de massas. 11 Todo esse processo integra a organização capitalista da cultura no país em sua etapa contemporânea. Ela se expressa basicamente na constituição progressiva do campo simbólico como sistema de relações de produção, circulação e consumo de bens culturais. Ocorre o aumento, a diferenciação e a profissionalização dos produtores e empresários de bens simbólicos; as agências de legitimação e difusão passam a ser regidas por leis internas ao mercado cultura e assiste-se à constituição de um público cada vez mais extenso e socialmente diversificado (LOPES, 2003, p. 17). Foi a Revolução de 1930 que acabou por estimular a industrialização nacional de modo a desenvolver um parque industrial sofisticado que desse conta de nossas demandas internas e que fez o Brasil se urbanizar, ou o que VASSALO LOPES chama de ethos urbano (2003, p. 21): Quando o país começava a tomar consciência de sua transformação demográfica, na qual passava a ser uma sociedade mais urbana e menos rural. Neste aspecto, os meios de comunicação desempenharam um papel relevante nesta transformação e na difusão deste estilo de vida urbano, atraindo pessoas às cidades onde poderiam ter um emprego, ter salário e, por consequência, consumir. Como vimos, foi mais do que necessário que houvesse um campo de produção de bens e produtos, bem como a circulação (comércio) e consumo (renda) destes produtos. Assim, a publicidade vai constituir o campo do simbólico neste contexto. Conforme visto no tema anterior, aprendemos que a publicidade nacional foi se profissionalizando. Sempre criativa, abordava a ideia de identidade nacional e buscava, ao mesmo tempo, associá-la a elementos da cultura popular: personagens como o Jeca Tatu eram extremante populares. Há anúncios de padres recomendando um xarope ou fortificante. Sugestão: Pesquise sobre Monteiro Lobato e Mário de Andrade: dois diferentes escritores que “bebiam” da cultura popular em suas obras. Há de se destacar que o advento das rádios na década de 1930 a publicidade nacional inaugurava a era dos jingles, do noticiário e música. Em 1936 a pioneira rádio Phillips foi nacionalizada e passou a chamar-se Rádio Nacional: é a era de Carmen Miranda, Noel Rosa, entre outros. Conta-se que a Rádio Tamoio, do Rio de Janeiro, é de 1927 (RAMOS, 1985, p. 44). 12 O rádio foi um importante elemento aglutinador da cultura brasileira, mas isso você estudará em outro momento. Por enquanto, podemos adiantar que o desenvolvimento das rádios no Brasil foi caracterizado por um momento nacionalista: No rádio, a radionovela, o radioteatro e os programas de auditório, cujo paradigma foi a Rádio Nacional do Rio de Janeiro nos anos 1940 e 1950; no cinema, o início da filmografia brasileira, com a Cinédia (1930), as chanchadas da Atlântida (1941) e os filmes da Vera Cruz (1949); nas revistas de fotonovelas [...] a introdução da TV (TV Tupi, Canal 3 de São Paulo). Em 1950 [...] foram o rádio e o cinema os meios que nesse período mais propiciaram às classes populares, seja às pessoas do interior, seja aos migrantes nas cidades, as primeiras vivências cotidianas da nação, difundindo a experiência cultural simultaneamente partilhada por nordestinos, paulistas, gaúchos, cariocas [...] (LOPES, 2003, p. 24). Entretanto, a Publicidade – principalmente por ter se internacionalizado, tendo clientes que eram empresas estrangeiras) – muitas vezes reproduzia aqui uma comunicação que era originalmente destinada a outros mercados, e adicionavam, aqui e ali, uma pitada de tempero local. Como concessão do Estado, é nas décadas de 1930-1940 que os meios passam a ser mais controlados, e o Estado elaborava mecanismos de controle sobre os diversos meios (lei de imprensa, órgãos de censura) (LOPES, 2003, p. 25). Ainda assim, a cultura popular, a erudita, a nacional e transnacional vieram a formar uma cultura e uma indústria desta cultura. Ainda, na discussão sobre o imperialismo cultural, temos de recorrer a um autor chamado Umberto Eco, que explica como a cultura de massas foi se organizando em diferentes níveis intelectuais: haveria uma cultura erudita (científica, letrada), a alta cultura; haveria uma baixa cultura, a popular (oral, não- letrada, empírica). A novidade é que teríamos, entre estas, a cultura de massa, mediana, que pode ser dividida entre cultura midcult ou pequeno-burguesa e masscult ou massiva. Ainda, sobre os meios de comunicação de massa, Eco explica: Os mass media dirigem-se a um público heterogêneo, e especificam- se segundo “médias de gosto” evitando as soluções originais. Nesse sentido, difundindo por todo o globo uma “cultura” de tipo “homogêneo”, destroem as características culturais próprias de cada grupo étnico. [...] em todo caso, também os produtos da cultura superior são propostos numa situação de completo nivelamento com outros produtos de 13 entretenimento; num semanário ilustrado, a reportagem sobre um museu de arte vem equiparada ao mexerico sobre o casamento da estrela. (ECO, 2008, p. 41) A perspectiva crítica de Umberto Eco sobre a cultura de massas ajuda a entender o imperialismo cultural sob a ótica da publicidade. Sabe-se que determinados padrões de beleza foram definidos na cultura de massas. Sob este aspecto, temos a discussão sobre a representação da mulher em propagandas de cerveja por exemplo. É o imperialismo cultural que vai empurrar às agências de propaganda brasileiras o estereótipo da mulher branca e loira e, às vezes, vai ceder espaço a uma morena mais “brejeira”. Observe o anúncio do sabonete Lever. Neste anúncio colorido, a atriz Elizabeth Taylor sugere: “seja mais adorável esta noite” e o anúncio termina com a assinatura: “usado por 9 entre 10 estrelas do cinema”. Este anúncio é de uma empresa norte-americana, com uma atriz norte-americana fazendo o papel de garota-propaganda da marca em escala mundial. Até aí nada de imperialismo cultural. O problema seria o padrão de beleza, ou ainda, o detalhe do casal em trajes de gala, em um anúncio veiculado em um país em que mais da metade da população é parda, ou seja, até poderia se identificar com a atriz, mas tem pouco a ver com os norte-americanos. Um anúncio da Cafiaspirina, da Bayer®, trazia comoilustração uma moça loira. Obviamente que os publicitários brasileiros percebiam que aqui não estamos na Escandinávia. Entretanto, com os fluxos da publicidade tornando-se globais no século XX, parte da nossa publicidade nacional estava reproduzindo Fonte: Reality Publicidade (21/03/2006) 14 visões de mundo e de cultura que não nos pertenciam ou com as quais não nos identificávamos. Talvez as mulheres sejam as maiores vítimas do imperialismo cultural, mas isso é uma discussão que deixamos para outro momento. Sabe-se, entretanto, que nas décadas de 1930 a 1950, popularizam-se os anúncios dirigidos às donas de casa de classe média, e a maioria dos estudos apontam uma profusão de anúncios com moças brancas, de origem europeia. Para saber mais sobre a representação feminina na publicidade, acesse a campanha da DM9 para a Kitchen Aid e veja como a publicidade de eletrodomésticos ainda é dirigida às mulheres, apesar de, nessa campanha, a marca apelar para um repertório das artes plásticas: http://www.dm9ddb.com.br/?p=1636 TEMA 3 - AGÊNCIAS MULTINACIONAIS E CONTAS Observe a foto do Edifício Martinelli, no centro de São Paulo, o mais alto da cidade na década de 1930. Os escritórios da agência norte-americana Ayer ficavam neste imponente edifício, que tinha vista para o vale do Anhangabaú. O mercado nacional de difusão da publicidade, tanto os jornais e as revistas, mas também o radiofônico e televisivo, concentravam-se nos grandes centros até a década de 1960. No interior sertanejo do Brasil, o meio que alcançava nacionalmente era o rádio. http://www.dm9ddb.com.br/?p=1636 15 Antes de 1930 chegava no Brasil a primeira agência estrangeira, a norte- americana N. Ayer & Son, para fazer as propagandas da Ford em nosso país, que logo foi substituída pela Thompson (RAMOS, 1985, p. 35). Até a vinda destas empresas, o Brasil tinha muitos self-made agency men – homens que se fizeram propagandistas, quando a indústria aqui era incipiente. A partir deste relatório de pesquisa da FGV, saiba mais sobre o impacto da internacionalização da publicidade brasileira nas relações entre as agências, anunciantes e veículos de comunicação; como as agências brasileiras têm ajustado seu modo de operação e competição; as alternativas de continuidade das agências brasileiras diante da transmissão do poder aos sucessores legais e das propostas de fusão ou incorporação de grupos estrangeiros. http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/3059/P003 04_1.pdf?sequence=1 Antes da vinda da Ayer, a agência que atendia a Ford do Brasil era a Eclectica, que basicamente comandava os anúncios e classificados do jornal “O Estado de S. Paulo” e começava a representar os jornais do interior (RAMOS, p. 41). Já a agência de Armando d’Almeida passara a ser a primeira agência brasileira a representar um grupo estrangeiro de propaganda, a Foreign Advertising. A vinda da J. W. Thompson acontecia para atender a General Motors, ocasião em que a empresa fecha seu departamento de propaganda (RAMOS, p. 42). Os funcionários dispensados da GM abriram então a própria agência, chamada de Empresa Nacional de Propaganda, na qual passaram a “aplicar no país os processos norte-americanos apreendidos na GM”: pesquisa de mercado, planejamento, grandes clientes. Em meados da década de 1930 a agência McCann-Erickson instalava dois escritórios no Brasil, um no Rio de Janeiro e outro em São Paulo. Entre as contas que anunciavam em escala nacional, destacam-se: Colgate®, Colgate- Palmolive®, General Motors®, Ford®, Texaco®, Goodyear®, Cinzano®, Pirelli®, meias Lupo®, Bayer®, Gessy®. http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/3059/P00304_1.pdf?sequence=1 http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/3059/P00304_1.pdf?sequence=1 16 RAMOS (1985) explica que a agência Ayer era extremamente ética, repassando as bonificações que recebia dos veículos como créditos ou descontos aos clientes. A Gessy® foi o primeiro anunciante brasileiro a trabalhar com esta agência estrangeira (p. 84). Para um anúncio do Instituto Brasileiro do Café a agência fez uma pesquisa de mercado em 19 estados com mais de 12.000 consumidores (p. 51) e esta pesquisa é considerada um marco no país. Contudo, a Ayer encerrou suas atividades no país na época Segunda Guerra Mundial. Basicamente as agências norte-americanas e suas práticas comerciais foram dominando o mercado nacional, inclusive no segmento de agências-house que atendiam contas como Gessy-Lever®, Ford®, GM®, a Light® de São Paulo, a Gillete®. Algumas marcas nacionais, como a Philips e a Arno, mantiveram-se por anos com agências-house brasileiras. Segundo Nívea Bona, uma house-agency é uma agência que atende apenas um cliente, geralmente uma grande organização que possua altas demandas de produção de materiais. Agências- house diminuem custos e tempo para criar campanhas e integrar-se aos objetivos mercadológicos e estratégicos do anunciante. Na década de 1950 consolidou-se o esquema de dupla de criação: redator e diretor de arte a trabalharem juntos as demandas da agência, prática que foi implantada na filial carioca da agência Thompson por Caio Aurélio Domingues (RAMOS, 1985, p. 85). É da década de 1960 em diante (quando a capital do país transferiu-se para Brasília) que as agências de propaganda nacionais tiveram maior protagonismo. Antes, o mercado pendia para as agências norte-americanas aqui instaladas (RAMOS, 1985, p. 77) – cuja participação no mercado nacional chegava a 30%. Até então, as agências norte-americanas ditavam as normas de criação e as brasileiras as seguiam. Há ainda a fusão de diversas agências brasileiras. Agências pequenas e médias uniram forças em um mercado que estava cada vez mais competitivo. Várias agências abriram escritórios em outras capitais fora do eixo Rio-São Paulo (onde concentravam-se a maioria dos anunciantes) e, mais tarde, compuseram sociedades com agências locais (RAMOS, 1985, p. 78). 17 Na década de 1960 as agências norte-americanas adquiriram participações minoritárias em agências brasileiras: destacam-se a Ogilvy- Mather, a brasileira Standard Propaganda ou ainda a Leo Burnett com a brasileira CIN. Décadas mais tarde, chegava ao Brasil a gigante Young and Rubicam. (RAMOS, 1985, p. 78). Ainda, numa iniciativa conjunta de anunciantes, agências e veículos, se organizava com a fundação do IVC (Instituto Verificador de Circulação). Em 1969, a lista das maiores agências no território brasileiro eram (RAMOS, 1985): Eclectica J.W. Thompson N.W. Ayer Standard McCann-Erickson Interamericana Alcântara Machado Norton Denison TEMA 4 - A INFLUÊNCIA DA PUBLICIDADE NA MÍDIA DE MASSAS Em Propaganda: teoria, técnica e prática, os autores entendem o fenômeno da massa como algo constituído por pessoas das mais diversas profissões, vocações, níveis culturais e de riqueza, composto de indivíduos anônimos, que se relacionam pouco entre si, a menos que estejam presentes no mesmo processo de consumo (SANT’ANNA et al. 2009, p. 4). Ainda, a massa não se comporta de forma unitária ou homogênea, ou seja, a mobilização de muitos dura pouco, devido a diversidade. Essa diversidade de sujeitos/indivíduos na massa faz com que os mesmos sejam “como elementos únicos separados que, juntos, formam a audiência de massa” (SANT’ANNA et al. 2009). 18 Quer se aprofundar nesses conceitos? Faça a leitura do livro que acabamos de mencionar! Ele está disponível no Portal ÚNICO. Outra definição que poderíamos usar é uma parábola sobre como fazer um bolo de chocolate: quais os ingredientes necessários? Listem-se o trigo, os ovos, manteiga ou óleo, açúcar, fermento químico, chocolate, leite ou água, etc. Os indivíduos da massa são como os ingredientes, distintos entre si, masque, mediante certa dosagem e mistura, homogeneízam-se de modo a formar o produto que vai a uma forma e que, em condições controladas de tempo e temperatura, finalizam em um bolo provavelmente saboroso e que, por isso, será prontamente consumido. Mas para que seja uma mistura é necessária a ação deliberada de alguém bater a massa (ou de uma máquina, como uma batedeira, para agilizar o processo). Não se pode esquecer da forma, e das condições controladas para assar o bolo! A sociedade de massas é, tal qual nosso bolo de chocolate, algo que foi deliberadamente misturado: os indivíduos (ingredientes) têm origens distintas. O mesmo vale para a forma de assar e o controle do tempo e temperatura do forno – os meios de comunicação de massa precisam de determinadas condições para que a mistura funcione, portanto, a frequência e a exposição a um anúncio ou a uma ideia são importantes para que a massa cresça. CHOMSKY (2000) assim define os meios de comunicação de massas: Atuam como um sistema de transmissão de mensagens e símbolos para o cidadão médio. Sua função é a de divertir, entreter, informar, assim como inculcar aos indivíduos os seus valores, crenças, códigos de comportamento que lhes façam integrar-se nas estruturas institucionais da sociedade (p. 21) Foi em 1933 que a cidade do Rio Janeiro contabilizava 50 mil receptores de rádio e menos de uma dezena de transmissoras. Foram as rádios que 19 trouxeram a cultura dos jingles (anúncios cantados e musicados) – e inauguravam programas extremamente populares – programas de auditório, programas de perguntas e respostas, programas de concursos e premiações (RAMOS, 1985, p. 44). O rádio popularizava por todo os país o samba, as marchinhas de carnaval, a música sertaneja e o futebol. Nas rádios brasileiras o Programa do Casé (Rádio Nacional) tinha atrações internacionais. Aliás, o primeiro programa noticioso regular do rádio chamava-se Repórter Esso (Esso é uma companhia estrangeira) – os slogans e anúncios utilizados no programa eram estratégias da agência McCann-Erickson: a assinatura do Repórter Esso – “o primeiro a dar as últimas” foi criação dessa agência de propaganda (RAMOS, 1985, p. 59). Já em 1954 o Brasil contava com 350 mil aparelhos de televisão (RAMOS, 1985, p. 73): entre os primeiros anunciantes da TV Tupi foram as Persianas Columbia e a Casa Clô (idem, p. 74). A televisão herdara os formatos de programas consolidados no rádio, bem como seus artistas e apresentadores. A cultura massiva se instituía por meio da publicidade que estava presente também nos cinemas, sob a forma de luminosos na fachada e também da exibição de slides de anúncios antes da exibição dos filmes. Aos poucos, as pessoas foram se familiarizando com anúncios nos mais diversos espaços. A massificação transformara a publicidade: se antes os anúncios eram altamente informativos e educativos (por exemplo, tendo de explicar para que serve um ferro elétrico), passavam a adotar discursos mais racionais ou emotivos, baseados em pesquisas de mercado e de opinião. Por outro lado, a publicidade acabou influenciando o nosso dia-a-dia: volta e meia escutamos alguém a cantar um jingle de cor. A essência da propaganda reside em estar na boca das pessoas, em refleti-las como um espelho, de estimular o que seja popular ou tendência, de perceber os ânimos das pessoas e de confortá-las quando a crise chegar. Existe também a ideia de anestesiar as pessoas, pois, pressupõe uma fuga à realidade: trata-se de uma proposição muitas vezes correta, mas não se pode generalizada. Vamos conhecer e relembrar alguns jingles antigos? 20 https://www.youtube.com/watch?v=PEbcnbjQQUg O brasileiro gosta de publicidade: muitos se emocionaram com um anúncio que veiculou a partir de 2011, numa grande sacada da agência Neogama/BBH para o cliente Johnnie Walker (uísque escocês): O gigante não está mais adormecido. Segundo o publicitário Alexandre Gama, para a Meio e Mensagem, “a situação é inédita, pois a marca nunca havia desenvolvido uma campanha específica para apenas uma nação” (on-line, 2011) – mas trata-se também de uma justa homenagem, pois, atualmente, o Brasil é o segundo mercado consumidor do uísque Red Label Johnnie Walker. Assista à propaganda: https://www.youtube.com/watch?v=_2cA63D3QMU Agora, façamos a leitura de um artigo no qual podemos entender como a publicidade influencia a mídia de massa. Trata-se de uma análise de uma campanha da Prefeitura de Porto Alegre e de algumas ONGs em homenagem ao dia 8 de março. Acesse o artigo A Representação da Mulher no Dia 8 de Março: Uma Análise do Percurso Gerativo de Sentido em Duas Campanhas Publicitárias: http://www.portalintercom.org.br/anais/sul2014/resumos/R40-0732-1.pdf TEMA 5 - PROPAGANDA E CULTURA DE MASSA A propaganda ideológica serviu à criação dos nacionalismos, mas também serviu como ferramenta estratégica nos períodos das grandes Guerras Mundiais. Na ocasião da Segunda Guerra Mundial a publicidade nacional vai referir-se aos apagões ocorridos no Rio de Janeiro (blecautes de energia) por conta do racionamento provocado pela diminuição do acesso ao comércio internacional (petróleo e carvão) ou ao próprio racionamento de alimentos, provocado pelo embargo ao comércio em virtude de diversos países estarem em guerra. https://www.youtube.com/watch?v=PEbcnbjQQUg https://www.youtube.com/watch?v=_2cA63D3QMU http://www.portalintercom.org.br/anais/sul2014/resumos/R40-0732-1.pdf 21 A cultura de massa é o produto de um encontro social, em um processo bem delimitado no tempo; é algo além do “ter algo em comum” ou comungar determinadas práticas ou pontos de vista com os outros. A propaganda, no sentido que a entendemos, é um dos pilares do capitalismo e cuja força advém da cultura de massa. Conforme vimos antes, a cultura das massas é algo deliberadamente “fabricado”. Para recordarmos os temas passados, cita-se BLUMER. Para ele: A massa é composta por pessoas que não se conhecem, que estão separadas umas das outras no espaço e que têm poucas possibilidades (ou nenhuma) de exercer uma ação ou uma influência recíproca. Por fim, a massa não possui tradições, regras de comportamento ou estrutura organizativa. (BLUMER, 1936; 1946) Para termos uma sociedade de massas, é necessário um tipo de relação intencional exercida sobre outrem e que vai exprimir uma afinidade entre diferentes consciências, classes e níveis intelectuais. São os meios de comunicação de massa que criam as massas. Entretanto, o contexto massivo não privilegia o contato um-a-um – pelo contrário! Na massa viramos uma multidão diversa, sem a unidade de outras multidões. Há ainda a novidade dos meios de comunicação de massa no início do século XX. Nesse contexto, o uso da propaganda por governos exerceria o papel de manipular os indivíduos, principalmente nos países de regime de governos autoritários/totalitários, ou ainda, no caso das guerras, de governos em estado de exceção. Os valores da tradição (locais, comunitários) já não eram mais suficientes para garantir a inserção do indivíduo na coletividade urbana e nacional; assim, os programas e assuntos dos veículos de comunicação de massa vão aparecer como o novo centro da vida social e da socialização entre as pessoas, e a Publicidade faz parte do processo de experiência massiva. Por outro lado, mediante o consumo de determinados produtos (mesmo que massificados), acabamos fazendo parte de alguns grupos nos quais a única coisa em comum é a preferência pelo mesmo produto. 22 O nacionalismo aparecia nos espaços da mídia e nas propagandas como uma renovação dos laços coletivos – e os meios de comunicação massivos adquirem o status de espaço público e social, onde as formas de representação e estratégias de engajamento do indivíduo vão aparecer. Convocam-se as pessoas à guerra:seja a atual “guerra” ao mosquito Aedes aegypti ou uma guerra de egos, como no anúncio do esmalte Cutex, a seguir: Fonte: Alizarine (01/04/2010) O anúncio do esmalte Cutex cita o racionamento de energia por causa da Segunda Guerra Mundial, algumas cidades importantes do litoral brasileiro ficavam às escuras a noite para prevenir um ataque surpresa – o blecaute da energia. Na cultura de massas, a propaganda vai utilizar-se de estratégias de persuasão e será vista como técnica de controle social e de adesão das massas (MENA BARRETO, p. 33) – havia, portanto, no surgimento da sociedade de massas, uma motivação econômica (formação e ampliação de mercados consumidores) e algumas motivações ideológicas (inimigos do país, nós vs. eles – algo muito comum em tempos de guerra e nos regimes fascistas e nazistas). A propaganda massiva emergia, pois, como um elemento estruturante das sociedades do século XX: novos instrumentos tecnológicos (rádio, cinema, 23 fotografia, televisão) aperfeiçoaram as técnicas de persuasão dos governos e das empresas, cujos discursos e narrativas passaram a ser baseados em intensas pesquisas de comportamento (psicologia das massas) e que se dirigiam à sociedade através do controle dos processos de produção de notícias, filmes, livros, artes, etc. A Revolução Russa, o Nazismo de Hitler, a propaganda dos Aliados na América do Norte, o governo de Getúlio Vargas no Brasil: todos estes países passaram a estimular a produção de propagandas que fizessem a persuasão e a adesão das vontades e sentimentos da população civil, visando fortalecer as identidades nacionais em um contexto de um mundo em guerra. Ao mesmo tempo, havia a contrapropaganda que vinha trazer alguma resistência às tendências homogeneizantes da cultura de massa. A era da propaganda e da cultura de massas é, também, a era em que o marketing político instala-se no campo da publicidade comercial, que passou a atuar com o objetivo de construir e fortalecer a imagem de partidos políticos, governos e empresas – os escândalos de hoje entre empresas, governos e agências de propagandas não são novos. Independentemente do caráter autoritário da propaganda massiva que alguns países implantavam, tais investimentos nas sociedades de massas acabaram por produzir, pelo incentivo às artes e à cultura, uma noção de identidade nacional (lembre-se da receita do bolo, a sociedade é diversa como os ingredientes que compõem). O discurso dos nazistas apelava para uma superioridade do povo alemão em relação ao resto do mundo. Da mesma maneira, as propagandas 24 nacionalistas de outros países iam pelo mesmo caminho: Fonte: Colégio Web (01/06/2012) Como você pode perceber observando a propaganda do Partido Integralista de Plínio Salgado, no estilo de anúncios do Tio Sam (EUA), o marketing político foi uma das mais poderosas estratégias da era moderna e vinha sempre disfarçado, pois pregava a manutenção do status quo pela desinformação e pela criação de inimigos do Estado ou da nação. A propaganda foi buscando sempre novas formas de vender: novas indústrias se desenvolveram para atender às demandas de novos consumidores. Não demorou para que as democracias também estabelecessem a lógica da lei de oferta e procura nos pleitos eleitorais. Governar um país é um grande negócio e a Publicidade faz parte deste contexto! Não foi só a casa do brasileiro que se modernizou com novos eletrodomésticos – os processos eleitorais também passaram a adotar técnicas modernas de pesquisa de opinião e a entender a política como business. Não é à toa que, em 1933, devido às transformações econômicas e sociais que estavam ocorrendo na sociedade brasileira, os governos entenderam que, em seu “mercado consumidor”, ignorar as mulheres era ignorar metade do eleitorado. Assim, daquele ano em diante, as mulheres brasileiras poderiam votar pela primeira vez. Confira esta indicação de leitura! 25 Trata-se de um artigo sobre a propaganda subliminar, um tipo de propaganda que sugere que um indivíduo pode agir que de maneira inconsciente após ver um anúncio. Essa ideia surgiu já no início da propaganda da cultura de massas, mas é uma prática bastante criticada por diversas áreas, em especial os psicólogos. Ao mesmo tempo, o artigo exemplifica a relação entre um tipo de propaganda num contexto de cultura de massa. Acesse o artigo Propaganda subliminar em mídia impressa e sua influência sobre pessoas sem tempo: http://www.portalintercom.org.br/anais/nordeste2015/resumos/R47-2293- 1.pdf NA PRÁTICA Produza um anúncio para o produto Stand Mixer (batedeira) da marca Kitchen Aid®, da empresa Whirlpool. Pesquise sobre a marca Kitchen Aid para obter informações sobre como a marca se posiciona – entenda do produto, do preço e da praça onde é vendido. Por fim, crie um anúncio de estilo All type, que são anúncios direcionados à mídia impressa e que não contém imagens/ilustrações, apenas texto, mas que, apesar de conter apenas o texto escrito, o uso de diferentes alturas de fontes e cores, bem como a disposição do texto podem produzir uma imagem. O movimento concretista (literatura) elaborava poemas desta forma. Por fim, identifique sua criação fazendo uma ficha técnica do anúncio com as seguintes informações: cliente, produto, título, criação (no caso, você) etc. Pesquise a ficha técnica do produto para você entender o que deve ser informado! SÍNTESE O que vimos nesta aula nos ajudou a entender como as grandes agências de publicidade acabaram por globalizar diversos ideais: de beleza, de nação, de povos, de famílias etc. http://www.portalintercom.org.br/anais/nordeste2015/resumos/R47-2293-1.pdf http://www.portalintercom.org.br/anais/nordeste2015/resumos/R47-2293-1.pdf 26 Assim, numa sociedade global, parece ser normal que os padrões de beleza de diversos países acabem se nivelando, se parecendo. Obviamente, aprendemos que nem em todas as sociedades as pessoas são iguais, mas, num mundo conectado como o de hoje, estamos ficando cada vez mais parecidos. Por isso, é importante que pensemos na nossa responsabilidade ao (re)produzir estereótipos, por exemplo. No século XX as mulheres entraram em todos os mercados de trabalho e puderam exercer seus direitos. Entretanto, ainda temos, na cultura massiva como um todo, padrões de beleza femininos que, em sua maioria, ainda obedecem aos estereótipos ditados pelos homens. Sobre isso, façamos a leitura da matéria publicada na página a seguir: http://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2013/09/58-diz- que-mulher-e-retratada-como-objeto-em-anuncio-de-tv-diz-estudo.html REFERÊNCIAS BONA, N. Publicidade e Propaganda: da agência à campanha. Curitiba: Ibpex, 2009. CLAIR, K. Manual de tipografia: a história, as técnicas e a arte. Porto Alegre: Bookman, 2009. ECO, U. Apocalípticos e Integrados. São Paulo: Perspectiva, 2008 [1964]. GRAF, M. G. Propaganda de lá para cá. São Paulo: Ibrasa, 2003. MARCONDES, P. Uma história da propaganda Brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. MENA BARRETO, R. Agência de propaganda e as engrenagens da história. São Paulo: Summus, 2006. http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/maioria-dos-brasileiros-acha-que-publicidade-trata-a-mulher-como-objeto-sexual-1821.html http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/maioria-dos-brasileiros-acha-que-publicidade-trata-a-mulher-como-objeto-sexual-1821.html http://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2013/09/58-diz-que-mulher-e-retratada-como-objeto-em-anuncio-de-tv-diz-estudo.html 27 RAMOS, R. Do reclame à comunicação: pequena história da propaganda no Brasil. São Paulo: Atual, 1985. SANT’ANNA, A. Propaganda: teoria, técnica, prática. Pioneira Thomson Learning, 2002. SODRÉ, N. W. A história da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999. SUMMERHILL,W. Railroads and the Brazilian Economy before 1914. In: Business and Economic History, Vol. 26, n. 2, 1997. VASSALO LOPES, M. I. Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
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