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Circulação e migração de leucócitos para os tecidos Ocorrem 3 movimentos no contexto da resposta imune: 1. Diapedese de neutrófilos e monócitos para os tecidos: migram para os tecidos e locais de infecção ou lesão, onde as células realizam suas funções protetoras de eliminar patógenos infecciosos, limpando tecidos mortos e reparando o dano. 2. Migração de linfócitos pelas HEV de linfonodos para tecidos, e vice e versa: eles vão para órgãos linfoides secundários, onde eles reconhecem antígenos e se diferenciam em linfócitos efetores. 3. Migração de células T efetoras para os tecidos: ajuda na defesa microbiana; imunidade mediada por célula. A adesão e o recrutamento de leucócitos a qualquer tecido necessita de moléculas que sinalizará os linfócitos e ativará o endotélio, e moléculas de adesão em todos os leucócitos e endotélio, permitindo assim que ocorra o recrutamento e migração das células para o local da infecção. Para que ocorra esses processos é necessário uma adesão temporária de leucócitos a superfície endotelial, isso ocorre por meio de moléculas de adesão como integrinas e selectinas, e seus ligantes. As células endoteliais nos locais de infecção e tecidos danificados são ativadas pelas citocinas e quimiocinas secretadas pelos macrófagos e outras células teciduais nestes locais, resultando em expressão aumentada das moléculas de adesão. A expressão destas moléculas varia dentre diferentes tipos de leucócitos e em vasos sanguíneos de diferentes localizações, e estas diferenças influenciam quais tipos celulares migram preferencialmente para qual tecido. Selectinas e ligantes de selectina: as selectinas são moléculas de adesão ligadas a carboidratos de membrana plasmática que medeiam um passo inicial de adesão de baixa afinidade dos leucócitos circulantes nas células endoteliais. As células endoteliais expressam dois tipos de selectinas, denominadas P-selectina (CD62P) e E-selectina (CD62E). A P-selectina é armazenada nos grânulos citoplasmáticos das células endoteliais, sendo rapidamente redistribuída para a superfície luminal em resposta à histamina dos mastócitos e da trombina gerada durante a coagulação sanguínea. A E-selectina é sintetizada e expressa na superfície da célula endotelial dentro de 1 a 2 horas em resposta às IL-1 e TNF, que são produzidos pelos macrófagos teciduais em resposta à infecção; produtos microbianos, como LPS, também estimulam E-selectina. Os ligantes nos leucócitos que se ligam a E-selectina e P-selectina das células endoteliais são complexos de grupos de carboidratos sializados e relacionados com Lewis X ou família Lewis A. Uma terceira selectina, denominada L-selectina (CD62L), é expressa em leucócitos, e não em células endoteliais. Os ligantes para L-selectinas são sialomucinas nas células endoteliais, cuja expressão é aumentada pela ativação das células por citocinas. A L-selectina dos neutrófilos promove a adesão destas células às células endoteliais que são ativadas por IL-1, TNF e outras citocinas produzidas nos locais de inflamação. Na imunidade adaptativa, a L-selectina é importante para a adesão dos linfócitos T e B naïve (maduros) aos linfonodos através das HEV. Os leucócitos expressam L-selectina ou o carboidrato ligante para P-selectina e E-selectina, facilitando as interações com as moléculas na superfície da célula endotelial. Integrinas e ligantes de integrina: as integrinas são proteínas heterodiméricas da superfície celular compostas de duas cadeias polipeptídicas ligadas não covalentemente que medeiam a adesão de células a outras células ou à matriz extracelular, por meio de interações específicas de ligação com vários ligantes. Duas importantes integrinas expressas nos leucócitos são LFA-1 e VLA-4. Um importante ligante para LFA-1 é a molécula de adesão intercelular 1 (ICAM-1, CD54), uma glicoproteína de membrana expressa nas células endoteliais ativadas por citocinas e em uma variedade de outros tipos celulares, incluindo linfócitos, células dendríticas, macrófagos, fibroblastos e queratinócitos. A porção extracelular da ICAM-1 é composta de domínios globulares, denominados domínios de imunoglobulinas (Ig), que compartilham homologia de sequência e características funcionais com domínios encontrados nas moléculas de Ig. A ligação de LFA-1 à ICAM-1 é importante para as interações leucócito-endotélio e interações da célula T com células apresentadoras de antígenos. Há ICAM-2, que é expressa nas células endoteliais, e a ICAM- 3, que é expressa nos linfócitos. A VLA-4 se liga à molécula 1 de adesão celular vascular (VCAM1, CD106), uma proteína da superfamília da Ig expressa nas células endoteliais ativadas por citocina, em algum tecido. Uma característica importante das integrinas é sua habilidade de responder a sinais intracelulares com aumento rápido em suas afinidades por seus ligantes. Isso é referido como ativação de integrina e ocorre em todos os leucócitos em resposta à ligação da quimiocina ao receptor de quimiocina e em células T quando os antígenos se ligam aos receptores de antígeno. As quimiocinas também induzem agrupamento das integrinas na membrana. Isso resulta em concentração local aumentada de integrinas na superfície celular, levando à avidez aumentada das interações da integrina com ligantes nas células endoteliais e, assim, ligação mais firme dos leucócitos ao endotélio. Quimiocinas e receptores de quimiocina: as quimiocinas são uma grande família de citocinas estruturalmente homólogas que estimulam o movimento dos leucócitos e regulam a migração dos leucócitos do sangue para os tecidos. As quimiocinas estão classificadas em quatro famílias baseadas no número e localização de resíduos N-terminais de cisteína. As duas principais famílias são as quimiocinas CC, onde os dois resíduos de cisteína são adjacentes, e a família CXC, onde estes resíduos são separados por um aminoácido. Poucas quimiocinas adicionais têm uma única cisteína (família C) ou duas cisteínas separadas por três aminoácidos (CX3C). O recrutamento de neutrófilos é mediado principalmente pelas quimiocinas CXC, o recrutamento de monócitos é mais dependente das quimiocinas CC e o recrutamento de linfócitos é mediado por ambas as quimiocinas CXC e CC. A secreção das quimiocinas, por leucócitos e outros tipos celulares, é induzida pelo reconhecimento dos microrganismos através de vários receptores celulares do sistema imune inato. Além disso, as citocinas inflamatórias, incluindo TNF, IL-1 e IL- 17, induzem a produção de quimiocinas. Diferentes combinações de receptores de quimiocinas são expressas em diferentes tipos de leucócitos, o que resulta em padrões distintos de migração dos leucócitos. Existem 10 receptores distintos para as quimiocinas CC (chamados de CCR1 ao CCR10), seis para as quimiocinas CXC (chamados de CXCR1 ao CXCR6) e um para CX3CL1. Ações biológicas das quimiocinas: • As quimiocinas são essenciais para o recrutamento de leucócitos circulantes dos vasos sanguíneos para os locais extravasculares. Adesão aumentada dos leucócitos ao endotélio e migração dos leucócitos para locais de infecção ou tecido danificado. • As quimiocinas estão envolvidas no desenvolvimento dos órgãos linfoides e regulam o tráfego dos linfócitos e outros leucócitos através das diferentes regiões dos tecidos linfoides periféricos. • As quimiocinas são necessárias para a migração das células dendríticas dos locais de infecção para a drenagem dos linfonodos. As células dendríticas são ativadas pelos microrganismos e, então, migram para os linfonodos para informar os linfócitos T da presença de infecção; essa migração é dependente de receptores para quimiocinas. As selectinas, integrinas e quimiocinas agem em conjunto pararegular a migração de leucócitos para os tecidos. Uma sequência de eventos é comum para a migração da maioria dos leucócitos: 1. Rolamento de leucócitos no endotélio mediado por selectina: citocinas liberadas pelos macrófagos estimulam a expressão endotelial de E-selectina, e outros mediadores induzem a expressão na superfície de P- selectina. A interação entre as selectinas e seus receptores é de baixa afinidade, fazendo com que ela se rompa facilmente devido ao fluxo sanguíneo; esse ligamento/desligamento faz com que o leucócito role no endotélio. 2. Aumento na afinidade das integrinas mediada pela quimiocina: a ligação entre integrinas e o leucócito é mais forte, “prendendo” o leucócito à parede do endotélio. 3. Adesão estável de leucócitos ao endotélio mediada pela integrina: os leucócitos se ligam firmemente ao endotélio, seu citoesqueleto é reorganizado e eles se espalham para fora da superfície endotelial. 4. Transmigração de leucócitos através do endotélio. Circulação e recirculação de linfócitos: a recirculação de linfócito maximiza as chances de que pequeno número de linfócitos naïve que são específicos para um antígeno estranho em particular irá encontrar aquele antígeno se ele for apresentado em qualquer local do corpo. Os linfócitos que reconheceram e se tornaram ativados pelo antígeno dentro dos tecidos linfoides secundários proliferam e se diferenciam para produzir milhares de células efetoras e de memória. Os linfócitos efetores e de memória podem se mover de volta para a corrente sanguínea e, então, migrar para locais de infecção ou inflamação nos tecidos periféricos (não linfoide). Os linfócitos T naïve são distribuídos aos tecidos linfoides secundários através do fluxo sanguíneo arterial, e eles deixam a circulação e migram para o estroma dos linfonodos através das HEVs. As células T efetoras que foram geradas por ativação induzida por antígeno de células T naïve saem dos tecidos linfoides secundários através da drenagem linfática e retornam para o sangue circulante. As células B naïve utilizam os mesmos mecanismos básicos que as células T naïve para migrarem para os tecidos linfoides secundários de todo o corpo, o que garante sua probabilidade de responder aos antígenos microbianos em locais diferentes.