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Gestão de Pessoas 1ª edição 2017 Gestão de Pessoas 5 3 Unidade 5 Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano Para iniciar seus estudos nesta unidade vamos estudar o processo de desenvolver pessoas, anali- sando programas de desenvolvimento e treinamento dos colaboradores e ainda o desenvolvimento organizacional. Atualmente o desenvolvimento dos colaboradores é força motriz da criatividade e inovação das empresas, por isso o estudo deste processo é tão importante. Objetivos de Aprendizagem • Caracterizar as etapas e especificações do treinamento. • Estabelecer as relações entre o processo de desenvolvimento de pessoas e a performance das organizações. • Discutir as relações entre desenvolver pessoas e desenvolvimento organizacional. 4 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano 5.1 Processo de Desenvolver Pessoas Segundo Fleury (2010), gerir o conhecimento organizacional é o principal fator de sucesso das organizações que crescem neste momento de mudanças. Ser capaz de ensinar o que já é de conhecimento organizacional e apren- der as novas competências necessárias para as mudanças são os elementos do processo de desenvolver pessoas. Bittencourt (2010) desenvolve o conceito de organização de aprendizagem, que são as empresas criativas, que adquirem e transmitem conhecimentos com facilidade e estão prontas para modificar sua atuação sempre que necessário. Estas organizações são as que estão despontando na Era da Informação e terão sucesso. O desenvolvimento dos colaboradores tem como objetivo desenvolver competências, ou seja, dar novos conhe- cimentos, ensinar formas de fazer e fomentar novos comportamentos e atitudes. Por isto, vamos estudar o desenvolvimento e a aprendizagem individual. Vamos nos aprofundar em como realizar treinamentos, pois esta é a principal forma que a organização tem de ensinar a seus colaboradores. Também vamos estudar o desenvol- vimento da organização, a gestão do conhecimento organizacional e os programas de mudança organizacional. 5.2 Desenvolvendo Pessoas Como falamos na Unidade 1, as pessoas são o principal diferencial de uma organização. É por isso que as orga- nizações que tem sucesso atualmente investem alto em seus colaboradores. Desenvolver pessoas melhora seus resultados diretamente e é importante para os colaboradores que serão capazes de realizar trabalhos com maior significado, além de perceber que a empresa está investindo em seu futuro. Por essas características, um bom programa de treinamento e desenvolvimento (T&D) é uma excelente fonte de motivação e melhora do clima (CASCIO; BODREAU, 2010). Figura 5.1 – Aprendendo. Desenvolver pessoas melhora seus resultados diretamente e é importante para os cola- boradores que serão capazes de realizar trabalhos com maior significado. Fonte: Disponível em: <https://pt.123rf.com/photo_46955116_stock-vector-businessman-making-a-presentation-to- -sitting-people-vector.html>. 5 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano Aprendizagem significa uma mudança no comportamento da pessoa pela incorporação de novos hábitos, atitudes, conhecimentos, destrezas e competências (CHIAVENATO, 2010). Glossário O processo de aprendizagem dos colaboradores é feito por meio de diversas ferramentas, como avaliação de desempenho (que estudamos na Unidade 3), feedback, treinamento, desenvolvimento, entre outros. Chiavenato (2010) destaca a diferença entre treinamento e desenvolvimento, indicando que ambos são processos de aprendi- zagem, porém o treinamento tem enfoque no presente e no cargo atual do colaborador. O desenvolvimento é um investimento nas competências que serão necessárias no futuro. Os métodos de desenvolvimento de pessoas são: 1. Rotação de cargos: bastante utilizado na integração de pessoas, é a técnica de trocar os colaboradores de cargos com o objetivo de desenvolver competências diferenciadas, tornando as pessoas mais gene- ralistas. A rotação pode ser horizontal ou vertical. Ela difere-se de uma promoção, pois tem um tempo determinado. Algumas empresas têm programas de rotação para todos os cargos, por entender que um programa assim promove uma grande melhora no resultado final da organização. Também é utilizada por empresas com quadros reduzidos, para cobrir férias e licenças (ao invés de recorrer a uma contratação temporária). Também é uma saída para manter colaboradores que desejam se desenvolver, mas não têm opções na carreira que estão seguindo. 2. Posições de assessoria: serve para o desenvolvimento de uma futura liderança com alto potencial. O colaborador é realocado como assistente dos gerentes da organização. A pessoa em questão desenvol- verá bons conhecimentos sistêmicos sobre a organização e será preparada para liderar no futuro. É um programa bastante individual e utilizado em casos específicos. 3. Aprendizagem prática: é uma técnica de treinamento em que o participante deve resolver uma situação prática. Geralmente é aplicada como complemento de outras técnicas. 4. Comissões: a empresa cria comissões para resolução de uma situação, oportunizando ao colaborador atribuições temporárias e desafiadoras, desenvolvendo novas competências. Em geral as comissões são criadas com um objetivo e dissolvidas após a solução. 5. Participar de cursos e seminários externos: frequentar cursos específicos de acordo com uma deter- minada competência a ser desenvolvida. 6. Simulação: são aplicações de situações hipotéticas nas quais o colaborador deve apresentar uma solu- ção. Esta ferramenta é utilizada no desenvolvimento e no treinamento de colaboradores, por ser uma ótima forma de eles vivenciarem situações que podem ocorrer em seu dia a dia. São formas de simula- ções: jogos de empresa, cases, simulação de papéis, entre outros (IVANCEVICH, 2011). 7. Treinamentos fora da empresa (outdoor): geralmente são treinamentos de competências mais amplas, que extrapolam o trabalho. São realizados fora da empresa, com atividades diversas que visam integrar os colaboradores e trabalhar a importância da equipe. 8. Centro de desenvolvimentos internos: são locais dentro da organização que buscam o desenvolvi- mento da empresa como um todo ou de uma equipe e unem os esforços em prol disto. A universidade corporativa é o melhor exemplo. 6 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano 9. Coaching: as lideranças da empresa podem atuar como coach de seus colaboradores, trabalhando como um orientador e impulsionador da mudança de seus subordinados. O trabalho de coaching é individuali- zado e pode ser feito em consonância com a avaliação de desempenho. 10. Tutoria ou mentoria: similar ao coaching, na tutoria há um líder que busca desenvolver um subordinado. Entretanto, a tutoria está mais ligada a um processo de aconselhamento. O tutor também responde por seu subordinado diante da direção da empresa, sendo responsável por seu desenvolvimento (diferente do coach). 11. Aconselhamento: é quando um líder aconselha um colaborador diante de problemas de desempenho. 12. Programa trainee: os participantes do programa realizam um estágio estruturado, com tempo pré- -determinado. O programa visa o desenvolvimento de futuros líderes da organização e ao final é decidido para qual área o colaborador será direcionado. Em geral, é voltado para novos colaboradores, recém- -formados. Podemos observar uma mudança ocorrendo em como se entende o desenvolvimento individual e a necessi- dade de treinamento. O paradigma tradicional compreende que o treinamento de colaboradores é para o melhor desempenho das atividades, da função, por isso é focado em métodos já estabelecidos de como fazer as tarefas. Respondeàs necessidades de curto prazo e procura manter o status quo. Muitas vezes o planejamento é casual ou randômico: é realizado apenas quando surge a necessidade ou os participantes são sorteados. A abordagem mais moderna entende que deve desenvolver seus colaboradores de forma ampla. Para isto, o enfoque é nas competências (não apenas em suas habilidades) e os processos de aprendizagem devem preparar os funcionários para serem mais produtivos e criativos, gerando valor para a organização agora e no futuro. Figura 5.2 – Abordagens de desenvolvimento de pessoas. Abordagens de desenvolvimento de pessoas. Fonte: Adaptada de Chiavenato (2010). Fleury (2010) apresenta também as diferenças no entendimento do conhecimento como objeto e como pro- cesso. As teorias mais tradicionais entendem que o conhecimento é um recurso, um objeto, como o maquinário 7 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano da organização. O conhecimento seria apenas a organização de informações que garantem que as atividades ocorram corretamente e evitando a necessidade de repensar métodos (reinventar a roda). Há pouca preocupa- ção com as pessoas neste tipo de gestão do conhecimento. A perspectiva de entender o conhecimento como um processo apresenta o próprio termo conhecimento de forma diferente. Não se restringe a saber algumas informações, ou a conhecimento formal, mas vai além, é “um ato de conhecer revelado na solução de problemas e nas práticas produtivas de indivíduos e grupos na organi- zação” (SPENDER apud FLEURY, 2010). O conhecimento só existe na relação prática das pessoas no dia a dia, por isso não é desenhado pelos gestores, mas desenvolvido por todos os colaboradores em seus processos individu- ais de criatividade, inovação, motivação e comunicação. Com novos modelos de negócios, em que novas empresas surgem a todo o tempo, a autonomia e o desenvol- vimento individual são de suma importância para as organizações. Por isso, é preciso entender como estamos passando nosso conhecimento, o que estamos promovendo com estes elementos. Como as organizações que você conhece entendem o conhecimento: como processo ou como objeto? O desenvolvimento dos colaboradores é só nas atividades práticas ou é reali- zado de forma ampla? 5.2.1 Treinamento O treinamento é um processo de aprendizagem focado nas competências que a organização necessita que seus colaboradores desenvolvam para responder às necessidades do momento. Os treinamentos podem ser de varia- dos formatos (dinâmica, apresentação, vivência, job rotation etc.), tamanhos de grupos, duração e objetivos. A maioria dos treinamentos estão focados em transmitir informações sobre políticas, normas, procedimentos, diretrizes e planejamento da organização, trabalhando o conhecimento dos colaboradores. Podem ocorrer trei- namentos que busquem desenvolver habilidades das pessoas para realizarem suas atividades. Há ainda tipos de treinamento que buscam o desenvolvimento de novas atitudes e comportamentos, como por exemplo postura profissional, como lidar com clientes e relacionamento na equipe. O quarto tipo de treinamento presente nas organizações busca aumentar o nível de abstração dos colaboradores, melhorando as capacidades de julga- mento, raciocínio, decisão etc. 8 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano Figura 5.3 – Tipos de mudança de comportamento decorrentes do treinamento. Tipos de mudança de comportamento decorrentes do treinamento. Fonte: Adaptada de Chiavenato (2010, p. 372). Apesar dos treinamentos costumeiramente terem um enfoque maior em um destes objetivos, é bastante comum que simultaneamente estejam também trabalhando com o desenvolvimento de outros elementos. Por exemplo: um treinamento de vendas apresenta um padrão de comportamento esperado, mas também dá informações novas ao colaborador, treina suas habilidades de venda e pode ainda apresentar técnicas que melhorem o poder de decisão do colaborador. As organizações que seguem preceitos mais modernos de treinamento desenvolvem seus programas mapeando as competências organizacionais, funcionais e individuais que necessitam desenvolver. O programa de treina- mento por competências tem como objetivo o desenvolvimento de competências individuais que estarão dispo- níveis para responder a diversos desafios que surgirem (não apenas as atividades atuais do cargo). Nesse sentido, o treinamento precisa ser planejado a médio e longo prazo, evitando trabalhar apenas na repo- sição de colaboradores com as competências adequadas para o momento, mas também pensando nas compe- tências que a organização precisa desenvolver agora, para responder no futuro. Se não planejado desta forma, a empresa não terá pessoas prontas para responder às mudanças. Para alcançar os objetivos planejados, é impor- tante que os colaboradores estejam comprometidos com as mudanças e a cultura interna esteja alinhada com as metas dos treinamentos. O treinamento deverá ser significativo e aplicável no trabalho. Para um treinamento ser eficaz, os treinandos devem estar motivados para aprender, entendendo a importância do que será apresentado, e ter as capacidades para absorver o conteúdo. Da mesma forma, o aplicador deve ser capacitado para ensinar. O treinamento deverá melhorar o desempenho do colaborador, por isso é importante o acompanhamento posterior por parte dos líderes. Muitas vezes, o aprendizado de um treinamento pode ser difícil de colocar em prática, por isso o recebimento de feedback é importante. O líder deve reforçar a importância de aplicar as novas competências e indicar o que precisa ser aprimorado, além de reforçar o que já está certo (IVAN- CEVICH, 2011). 9 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano O desenvolvimento de treinamento é um processo mais amplo que a simples aplicação de curso. É um processo cíclico que busca desenvolver as competências de forma contínua. Este processo ocorre em quatro etapas: 1. Diagnóstico: é também chamado de levantamento de necessidades de treinamento (LNT) e busca entender as competências que a organização necessita que seus colaboradores apresentem. Deve levar em conta os objetivos da organização, problemas de produção, problemas de relacionamentos interpes- soais e resultados da avaliação de desempenho. O diagnóstico também auxilia na definição de priorida- des de treinamento. 2. Desenho: elaborar o treinamento que atenderá às necessidades levantadas, informando quais cursos serão realizados, quem deverá participar, quando será feito e por quem. 3. Implementação: é a etapa de execução do desenho, quando o treinamento é aplicado. O treinamento pode ser aplicado por diversas pessoas como: gerente de linha, Gestão de Pessoas, líderes dos departa- mentos ou da empresa, bem como por terceiros (em geral por consultorias especializadas no assunto em questão). 4. Avaliação: posterior ao treinamento, devemos avaliar sua eficácia, monitorando os novos processos, ava- liando e medindo resultados e comparando os resultados anteriores. Devem também realizar uma aná- lise custo/benefício do programa de treinamentos. A etapa de avaliação gera insumos para as próximas necessidades de treinamento a serem atendidas. Figura 5.4 – As quatro etapas do processo de treinamento. As quatro etapas do processo de treinamento. Fonte: Adaptada de Chiavenato (2010). 10 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano O diagnóstico das necessidades de treinamento é realizado por meio de levantamentos e pesquisas internas, pois nem todas as necessidades estarão claras. Esta etapa é especialmente importante se a área de Gestão de Pessoas tem um responsável pelo treinamentode toda a empresa, pois não terá acesso no dia a dia às necessidades das equipes (IVANCEVICH, 2011). Em algumas empresas os gestores já são os responsáveis pelo planejamento de treinamento. Nestes casos, o especialista de Gestão de Pessoas tem o papel de dar apoio às etapas e buscar monitorar se o líder utilizou boas técnicas para ouvir seus colaboradores (ULRICH, 2013). O principal objetivo desta primeira etapa é levantar os gaps de competências (conhecimentos, habilidades e atitudes): a diferença entre o que a pessoa faz e o que ela deveria fazer. O treinamento deverá ser realizado para superar estes gaps de forma que realmente se torne um investimento com retorno para a empresa (e não apenas um custo). A atividade de diagnóstico é contínua, pois a avaliação dos treinamentos anteriores gera insumos para indicar como melhorar ainda mais o desempenho (CHIAVENATO, 2010). Figura 5.5 – LNT Clássico. LNT Clássico. Fonte: Disponível em: <https://pt.123rf.com/photo_18344717_worker-is-new-assigned-to-a-machine-in-a-textile- -factory-the-foreman-explains-something.html>. A maneira mais clássica de fazer o levantamento de necessidades remete ao início da área de Gestão de Pessoas, às primeiras décadas do século XX, nas quais a administração estudava o processo produtivo e indicava as melho- rias necessárias. Esta é uma técnica bastante útil ainda hoje, pois pode-se analisar como as pessoas fazem suas atividades e quais as barreiras, erros e pontos fracos dos métodos atuais e planejar o treinamento a partir destes elementos. Este método é bastante interessante, mas demanda planejamento para a observação de todos. Também pode-se conversar com as pessoas da organização buscando um feedback de o que cada um identifica que necessita para realizar melhor o seu trabalho. Este método é mais rápido para aplicar, porém está limitado ao que o colaborador percebe e nem sempre ele conseguirá avaliar corretamente as necessidades, pois não é um especialista na área. O terceiro método é analisar os objetivos organizacionais e a visão da empresa, entendendo quais melhorias precisaram ser feitas para chegar lá. Esta avaliação indica novas tecnologias que precisam ser aprendidas, novos processos e competências. 11 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano É indicado que os métodos sejam utilizados em conjunto. Os líderes e a área de Gestão de Pessoas devem ser treinados para identificar as necessidades de treinamento e poderem responder mais prontamente à definição dos melhores métodos para cada caso. Além disso, é importante observar alguns eventos que indicam a necessidade de treinamento. Alguns destes eventos sabemos antes de eles ocorrerem que será preciso desenvolver os colaboradores para respondê-los. São eles: expansões da empresa, mudanças no quadro (aumento, redução ou substituição), mudanças em métodos e processos, absenteísmos, faltas, licenças, férias, mudanças de horários, trocas de equipamentos ou tecnologias e entradas de novos produtos. O diagnóstico organizacional é feito em cinco níveis de análise (IVANCEVICH, 2011; CHIAVENATO, 2010): 1. Organizacional: diagnóstico de toda a organização, buscando definir missão, visão e objetivos. Indica as competências necessárias para alcançar os resultados esperados. 2. Competências organizacionais requeridas: estudo dos gaps de competências requeridas pelo negócio. Define as competências organizacionais necessárias, quais existem e quais não existem na empresa. 3. Recursos Humanos: busca entender quais comportamentos e competências são necessários para que as pessoas de forma geral contribuam para organização. 4. Análise da estrutura de cargos: examina os requisitos de cada cargo e determina as competências para exercê-los. Indica quais conhecimentos, habilidades e atitudes precisam ser desenvolvidos pelas pessoas para a execução de suas atividades. 5. Treinamento: analisar os treinamentos aplicados, com seus objetivos e metas, para determinar as neces- sidades ainda em aberto. O desenho do treinamento utiliza os gaps levantados e planeja um programa de treinamento coeso e integrado para superá-los. Para realizar o planejamento devemos entender qual o domínio de aprendizado que estamos buscando: (1) Cognitivo – aprendizado intelectual, (2) Afetivo - sensibilização e gradação de valores e (3) Psico- motor – habilidades e execução das tarefas. Também devemos saber qual o nível de aprendizado que o colabo- rador deve apresentar ao final do curso. Baseado nestes elementos, deve-se indicar qual o treinamento a ser dado, para quem, como será o treinamento (método ou recursos), em que treinar (qual o assunto ou conteúdo), por quem (quem será o instrutor, se é da organização ou externo), onde treinar (local, há alguma necessidade específica, como um equipamento), quando treinar (qual a data, se há uma necessidade específica como realizar treinamentos na baixa temporada do empre- endimento) e para que treinar (objetivos). O programa de treinamento deve ser planejado com cuidado e ser específico à realidade da organização. Por isso, nem sempre é possível resolver estes gaps com programas prontos e é indicado que o programa como um todo seja planejado pela própria empresa e sejam chamados especialistas externos para tratar de um assunto. Por exemplo: será desenvolvido um programa de treinamento de comunicação dentro da organização, no qual serão promovidos cursos sobre diversos assuntos e serão desenvolvidos novos métodos de feedback a serem aplicados pela equipe. Pode ser necessário trazer um especialista de comunicação escrita para trabalhar este assunto, ou ainda a equipe que desenvolverá o método de feedback pode necessitar de uma consultoria espe- cializada para obter novos conhecimentos. Neste sentido, os especialistas podem vir de fora organização, mas a empresa ainda será protagonista de seu programa. Devemos definir também os recursos utilizados pelo treinamento. A empresa pode optar por fazer alguns de seus treinamentos por Educação a Distância (EaD). Este formato é bastante indicado para cursos que serão muito repetidos e não requerem o contato entre pessoas (trabalho em equipe, atividades conjuntas etc.), principal- mente quando o objetivo é apresentar novos conhecimentos aos funcionários (IVANCEVICH, 2011). 12 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano Figura 5.6 – E-learning. Treinamento e-learning. Fonte: Disponível em: <https://pt.123rf.com/photo_42148051_e-learning-concept-schooldesk-and-chalkboard-on-the- -laptop-keyboard-3d.html>. O treinamento EaD ou e-learning tem a vantagem de precisar apenas que o instrutor o grave uma vez para todas as aplicações. Além disso, a aplicação é totalmente flexibilizada, enquanto um treinamento ao vivo requer que todos os participantes estejam juntos ao mesmo tempo. A gravação destes treinamentos pode ser feita de forma elaborada, com animações e plataformas educacionais, mas pode também ser apenas a captura de tela, com recursos mais simples (CHIAVENATO, 2010). Assim, ele permite a criação de redes de conhecimento que sempre estão atualizando o conteúdo, tem baixo custo, alta escalabilidade, é totalmente customizável e pode ser facilmente atualizado. As novas tecnologias sempre proporcionam novas maneiras de ensinar e aprender. É preciso estar sempre de olho nas novidades para utilizá-las como recursos que engajem os colabo- radores nos programas de T&D. A execução do treinamento é a aplicação do treinamento em si e pode utilizar diversos recursos e diversas técni- cas (separadas ou combinadas). Quanto ao uso das informações do treinamento, as técnicas podem ser: orien- tadas para o conteúdo (leitura e instrução programada); orientadas para o processo (dramatização, treinamento afetivo,desenvolvimento de grupos); ou mistas (estudos de casos, jogos, simulações, on-the-job). O treinamento pode ser realizado antes do funcionário iniciar suas atividades (integração) ou posteriormente. Também pode ocorrer no local de trabalho ou fora. O treinamento em classe é o formato mais comum, no qual todos os participantes estão reunidos juntos em uma sala. O instrutor passará o treinamento, que pode ser apresentação de conteúdos, atividades, dinâmicas, cases, entre outros. Há bastante interação entre todos quando o instrutor é da organização; ele pode ter o feedback imediato das pessoas em relação ao que foi apresentado. 13 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano O treinamento também pode ocorrer no local de trabalho, focando nas tarefas do cargo. Pode ser apresentação e demonstração de métodos ou a avaliação de como um colaborador está executando suas atividades (com fee- dback e demonstração de melhorias). Além disso, pode ser utilizada leitura (instrutor lê as informações, sem interação com treinandos), instrução pro- gramada (séries de informação e exercícios pré-desenvolvidos que o colaborador faz sem a intervenção de um aplicador; pode ser por meio de apostila ou programas de computador), computer-based training (treinamentos feitos através de recursos do computador: animação, gráficos, filmes etc.), e-learning, entre outros. A última etapa de um treinamento é a sua avaliação, a verificação do alcance dos objetivos iniciais e o retorno do investimento da organização. Segundo Chiavenato (2010), devemos medir o custo (valor investido pela orga- nização), qualidade (se o treinamento apresentou a qualidade esperada), serviço (relativo ao atendimento das necessidades dos participantes), rapidez (quanto tempo foi preciso para preparar os aprendizes) e resultados finais do programa. A avaliação da reação mede a satisfação do treinando. É um acompanhamento de como os colaboradores se sentiram durante o treinamento, que permite perceber a sua qualidade. Pode ser feita de forma qualitativa, com a observação do instrutor sobre a reação das pessoas, mas também pode ser medida por meio de questionários ou pedindo o feedback dos participantes. Figura 5.7 – Avaliação de reação. Avaliação de reação. Fonte: Disponível em: <https://br.123rf.com/search.php?word=50567413&srch_lang=br&imgtype=&t_ word=50567413&t_lang=br&oriSearch=satisfa%C3%A7%C3%A3o&mediapopup=50567413>. É preciso bastante cuidado com esta avaliação, pois como ela é sobre a aplicação do treinamento, não é possí- vel medir no momento o resultado alcançado. Muitas empresas utilizam apenas este dado como indicador de treinamento e ele pode mascarar problemas. Por exemplo, um treinamento com atividades interessantes pode apresentar alta satisfação dos participantes, que vivem um momento lúdico e divertido, fora da rotina, mas pode não retornar nenhum aprendizado prático. Para aumentar a percepção sobre o resultado do treinamento, deve-se aplicar outras técnicas como a avaliação da aprendizagem. Ela mede o quanto o participante aprendeu. Pode ser realizada com um teste de conheci- mentos ou de habilidades, posterior ao treinamento. A avaliação de desempenho avalia a performance do colaborador após o treinamento. Se a organização já aplica uma avaliação deste tipo, pode-se comparar os resultados da avaliação anterior e posterior. A diferença da 14 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano avaliação da aprendizagem para esta, é que a avaliação de desempenho mede a aplicação do que se aprendeu a fazer no treinamento. Algumas vezes o aprendizado é alto, mas reflete pouco no resultado, pois os colaboradores podem enfrentar barreiras ao novo comportamento. Por isso a importância do acompanhamento e do feedback por parte da gestão. A avaliação precisa do desempenho deve levantar com precisão os elementos que foram trabalhados no treina- mento. Diferentes indicadores resultam em diferentes medidas de impacto (CASCIO; BODREAU, 2010). Pode-se medir o resultado do treinamento, que deve refletir em redução de custo e maior lucratividade. Em nível organizacional, os resultados do treinamento podem aparecer no aumento da eficácia; na melhoria do clima e do relacionamento entre colaborador e empresa; no melhor atendimento do cliente e na melhoria na imagem da empresa; na maior facilidade de mudar; no maior envolvimento dos gestores no desenvolvimento de seus colaboradores. Em nível de recursos humanos, podemos observar se a rotatividade diminuiu, a eficácia individual e de grupos aumentou, se houve aumento no nível de conhecimento, se ocorreram mudanças de comportamento e atitudes e se a qualidade de vida no trabalho aumentou. Podemos ainda avaliar o resultado no nível do cargo, no qual os resultados refletem em uma melhor adequação das pessoas a suas atividades, aumento da cooperação e produtividade, diminuição dos acidentes de trabalho e manutenção das máquinas. No nível do treinamento, devemos observar se os objetivos foram alcançados. Algumas vezes é difícil separar o resultado do treinamento de outras ações de Gestão de Pessoas. Podemos ter uma diminuição da rotatividade de uma equipe na qual ocorreram treinamentos, mas também uma melhoria de benefícios e salários. Assim é impossível determinar o quanto deste resultado é responsabilidade de treina- mentos. Entretanto ainda assim devemos investigar estes dados. Podemos perguntar aos colaboradores se o treinamento melhorou a relação com a empresa, assim saberemos se houve influência, ainda que não saibamos o tamanho dela. Por último, podemos avaliar o retorno do investimento (ROI), analisando o custo de treinamento em compara- ção com a produtividade e gastos posteriores (resultados). Para medir o ROI, será preciso definir indicadores claros. Figura 5.8 – Avaliação dos resultados do treinamento. Avaliação dos resultados do treinamento. Fonte: Chiavenato (2010, p. 384). 15 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano Como falamos ao longo do capítulo, são tendências da área de T&D das organizações a aprendizagem como estratégia empresarial, treinamentos e-learning, treinamentos focados nos gaps de competências, lideranças atuando como coaching de seus colaboradores. O papel atual da Gestão de Pessoas neste processo não é mais de aplicadora de cursos e treinamentos, mas ser a gestora do conhecimento organizacional, planejando e auxi- liando as equipes a alcançarem a excelência. Conheça a página da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD), acesse os artigos e fique a par de eventos e novidades da área. Disponível em: <http://portal. abtd.com.br/portal/home.html> 5.3 Desenvolvimento Organizacional O modelo tradicional de gestão foi pensado na Era Industrial e responde a um período de poucas mudanças e alta estabilidade. Como falamos na Unidade 1, a Era da Informação é um contexto de alta competitividade e de relações globalizadas. É um período instável, no qual as organizações precisam apresentar uma enorme capaci- dade adaptativa. Os principais elementos contextuais para isso são: mudanças rápidas de demanda de mercado, mudanças e melhorias rápidas dos concorrentes de seus produtos, inovação tecnológica cada vez mais acelerada e mudanças nas políticas governamentais para acompanhar as mudanças de mercado (CHIAVENATO, 2010). Por isso, as orga- nizações capazes de aprender e gerir seus conhecimentos têm grande vantagem competitiva (BITENCOURT, 2010). A organização que aprende apresenta pensamento sistêmico, incentiva o domínio pessoal (expandindo a capa- cidade das pessoas de criar e inovar), tem modelos mentais bem desenvolvidos comparando sempre a teoriae a prática para atualizá-los, compartilham sua visão e aprendem em equipe. Em resposta a este cenário, as empresas vêm mudando, reduzindo seus níveis hierárquicos e descentralizando as decisões, apostando no autocontrole e autodireção de seus colaboradores, com estruturas mais orgânicas e flexíveis. Os cargos não estão 100% definidos, mas passam por constante readequação. As atividades não são individualizadas e de apenas um cargo, mas desempenhadas por equipes autogeridas. A comunicação é matri- cial ou em sistema de redes e mais com os pares do que com o líder. O engajamento dos colaboradores é a força motriz da organização (CHIAVENATO, 2010). Por isso, a gestão estratégica do conhecimento desponta como essencial para as organizações. Segundo Fleury (2010), a gestão do conhecimento é “a tarefa de identificar, desenvolver, disseminar e atualizar o conhecimento estrategicamente relevante para a empresa, seja por meio de processos internos, seja por meio de processos externos às empresas”. O conhecimento organizacional é tácito e podemos entender como a informação organizada somada às experi- ências, valores e informações sobre o contexto que geram uma prática. Ele é fruto da interação entre as pessoas da organização e não pertence a uma pessoa, mas a todos os colaboradores, por isso está em constante melhoria (CHIAVENATO, 2010; FLEURY, 2010). 16 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano O capital intelectual da empresa, os conhecimentos gerados, podem ser divididos entre tecnologia, informação, habilidades, competências e inovação (CHIAVENATO, 2010). A gestão do conhecimento deve integrar todos esses conhecimentos e geri-los de forma a organizar, sistema- tizar, aplicar e disseminar os conhecimentos organizacionais. Para isso, precisa entender quais são os conheci- mentos críticos da organização e criar fluxos de informação que promovam o incremento e o desenvolvimento das competências individuais. Figura 5.9 – A incessante roda da gestão do conhecimento. A incessante roda da gestão do conhecimento. Fonte: Chiavenato (2010, p. 399). O principal desafio da gestão do conhecimento é criar uma infraestrutura para administrar o conhecimento. É preciso desenvolver uma estrutura física, como construção de redes e banco de dados. Algumas empresas desenvolvem programas de universidade corporativa para realizar esta administração. Atualmente as tecnolo- gias tornaram a gestão do conhecimento mais fácil. Existem diversas ferramentas para o compartilhamento de informações, além de softwares específicos. Os resultados das ações devem ser acompanhados de perto, com bons indicadores para entender o retorno que a Gestão do Conhecimento trás para a organização. 17 Gestão de Pessoas | Unidade 5: Processo de desenvolver pessoas: capacitação e desenvolvimento humano O principal elemento para o desenvolvimento do conhecimento organizacional é a fomentação da criatividade e da inovação dentro das organizações. A criatividade está intimamente ligada ao empowerment dos colabora- dores, pois é o envolvimento e o empoderamento que dão ferramentas para que todos na organização possam apresentar novas soluções e agregar valor por meio de seu trabalho. Enquanto a criatividade refere-se à enge- nhosidade e a novas ideias, a inovação é a maneira de colocá-las em prática, na busca por desenvolver novos produtos ou melhorar os já oferecidos pela empresa. Para criar um ambiente propício às novas ideias, a empresa deve incentivar a sugestão de mudanças ou inova- ções. Além disso, deve facilitar que elas sejam testadas. A empresa deve proporcionar o contato entre pessoas, promovendo a disseminação de conhecimento. Isto pode ocorrer por meio de programas de sugestões, grupos de brainstorming, oficinas de novos conceitos, grupos de estudo, treinamentos, entre outros. As novas ideias precisam ser experimentadas por meio de protótipos e amostras. Quanto mais rápido forem tes- tadas, mais rapidamente podem ser corrigidas e aprimoradas e mais facilmente a empresa pode determinar a viabilidade de colocá-las em prática. Para o processo completo, a empresa deve monitorar os resultados da ino- vação, o que por sua vez gera insights em seus colaboradores para recomeçar o processo. A cultura da organização deve ser de incentivo e aceitação de novas ideias, abraçando as mudanças. Além disso, os erros devem ser tolerados e entendidos como parte do processo de inovar. Os acertos devem ser reconhecidos e recompensados. Dê sua contribuição e participe do Fórum Desafio! Com o conhecimento adquirido até aqui, você já pode discutir com seus colegas em busca de uma solução para o pro- blema apresentado. 18 Considerações finais Nesta unidade estudamos os processos de aprendizagem dos colabora- dores. Eles são divididos entre programas de desenvolvimento, que visam as competências para o futuro da empresa, e os treinamentos, que visam responder às necessidades atuais da organização. O paradigma mais moderno da Gestão de Pessoas entende que os pro- gramas de treinamento devem desenvolver as competências dos colabo- radores de forma a torná-los autônomos e criativos, capazes de inovarem e gerarem valor para a organização. Também estudamos o desenvolvimento organizacional. Ele é feito por meio da gestão do conhecimento. O conhecimento organizacional deve ser administrado, sistematizado e disponibilizado de forma que a orga- nização possa aprender mais rapidamente. As organizações que apren- dem estão despontando por sua adaptabilidade e rápida resposta ao meio externo. Referências bibliográficas 19 BITENCOURT, C. Gestão contemporânea de pessoas. 2. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. CASCIO, W.; BODREAU, J. Investimento em pessoas. Porto Alegre: Book- man, 2010. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 3. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2010. FLEURY, M. T. L.; OLIVEIRA Jr, M. M. (Orgs.). Gestão estratégica do conhe- cimento: integrando aprendizagem, conhecimento e competências. São Paulo: Atlas, 2010. IVANCEVICH, J. M. Gestão de recursos humanos. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. ULRICH, D. et al. A transformação do RH. Porto Alegre: Bookman, 2011.