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Inteligência Competitiva e Pedagogia Linguística

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8ºAula
Criatividade e método:
um parêntese!
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de:
• observar e conhecer a origem da inteligência competitiva;
• familiarizar-se com os vários conceitos sobre inteligência competitiva;
• observar a importância da inteligência competitiva para as pequenas empresas;
• observar as semelhanças e diferenças entre gestão da informação, gestão do conhecimento e inteligência competitiva.
Caro(a) aluno(a),
Para finalizar nossa disciplina, passemos à reflexão 
acerca da relação entre Linguística Aplicada e Pedagogia. 
Excepcionalmente, trabalharemos com um artigo científico em 
sua íntegra, pois, considerando a quantidade de informações 
fornecidas ao longo desta disciplina, chegou a hora de refletir. 
Para isso, nada melhor do que uma boa leitura. Contudo, 
faremos intervenções em meio ao texto disponibilizado a fim 
de dar-se contexto didático.
Boa Leitura e excelente reflexão!!!!
Bons estudos!
Fundamentos de Linguística Aplicada 46
1 - O campo da pedagogia linguística
2 - Aplicando a pedagogia linguística
1 - O campo da pedagogia linguística
Em nossa abordagem de linguagem visual, teremos como 
parâmetro a atividade projetista que soluciona problemas 
específi	cos,	tendo	o	ser	humano	como	fi	gura	mais	importante.
O Campo da Pedagogia Linguística - Trecho 
introdutório do artigo intitulado “A UMA PEDAGOGIA 
LINGUÍSTICA NA ESCOLA” utilizado na íntegra nesta 
aula.
O presente texto toma a Linguística e a Pedagogia 
como matrizes de ordem prática e teórica para a montagem 
de um modelo sócio pedagógico de orientação do ensino 
e coordenação de línguas em escolas da rede pública. 
Especifi	camente,	a	proposta	incorpora	a	Linguística	Aplicada	
como	campo	prático	de	identifi	cação	e	solução	de	problemas	
concernentes ao ensino de línguas, ampliando-se esta categoria 
aos usos e variações da língua na escola.
Vamos começar nossa oitava aula. Vejamos...
ATENÇÃO!!!
Nas seções 1 e 2, temos respectivamente os tópicos “o 
campo da pedagogia Linguística” e “aplicando a pedagogia 
linguística”. Esses temas estão contidos no artigo que iremos 
trabalhar e, conforme explicação feita na introdução desta 
aula, não pretendemos dividi-lo para não prejudicar a sua 
compreensão e o sentido global, respeitando, com isso, as 
teorias da Linguística Textual tão discutidas ao longo desta 
disciplina.
É importante destacar que os grifos e as intervenções 
coloridas existentes no texto abaixo são nossas!
Passemos, então, ao artigo....
A UMA PEDAGOGIA LINGUÍSTICA NA ESCOLA [1]
Sérgio Arruda de Moura (UENF)
Marinete Sales de Souza (UENF) 
Andressa do Amaral Machado (UENF)
Este artigo traz resultados parciais da pesquisa intitulada Políticas 
Linguísticas em Escolas da Rede Pública, coordenada por Sérgio 
Arruda de Moura, Professor Associado III na Universidade Estadual 
do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF.
O CAMPO DA PEDAGOGIA LINGUÍSTICA
O presente texto toma a Linguística e a Pedagogia como matrizes 
de ordem prática e teórica para a montagem de um modelo sócio 
pedagógico de orientação do ensino e coordenação de línguas em 
escolas da rede pública. Especifi camente, a proposta incorpora a 
Linguística Aplicada como campo prático de identifi cação e solução 
de problemas concernentes ao ensino de línguas, ampliando-se esta 
Seções de estudo
categoria aos usos e variações da língua na escola. Pela mesma via, 
toma- se a Pedagogia como “a refl exão sobre a prática educativa 
que se efetiva através e por meio das diversas Ciências Sociais e 
Humanas, procurando delimitar o ‘ser’ do ato educativo... O objeto de 
conhecimento seria, então, o fazer educativo em suas circunstâncias, 
em suas múltiplas determinações” (Mazzoti, 1998:15). A pedagogia 
linguística, aqui expressa, salienta a habilidade e a necessidade 
social da língua como fator fundamental para o desenvolvimento 
lento de alunos em escola – e cidadãos usuários da língua –, prestes 
a ingressar numa esfera social e profi ssional cujos requisitos 
imediatos se resumem ao domínio de uma língua com fl exibilidade 
sufi ciente para se adequar a contextos específi cos de uso. A vertente 
sociolinguística – na análise que faz das línguas como estruturas que 
se transformam diacronicamente e se estabelecem na sua variedade 
social, cultural e regional (níveis diastráticos e diatópicos) – tem no 
nosso projeto de trabalho considerável projeção, uma vez que o 
que a Pedagogia apropriou para a área como conceitos teóricos 
para justifi car sua ação, em quesitos tais como escola construtora, 
pedagogia libertadora, etc., serve para aproximá-la da Linguística 
quando lida com variação dos falares, na perspectiva diatópica e 
diastrática.
Linguística e projetos pedagógicos têm projeção conceitual na 
linguagem, esta assumida como instituição social envolvida com a 
construção da identidade e da cidadania. No aspecto mais prático, 
nosso trabalho se restringe à observação da relevância do Projeto 
Político Pedagógico das escolas selecionadas para sua aplicação[2], 
nas suas implicações no cotidiano escolar e nas circunstâncias em 
que se demandam mudanças, especialmente aquelas relacionadas 
aos usos sociais da língua. Preocupação nas escolas e presença 
obrigatória em todos os currículos – do ensino fundamental aos 
estudos universitários –, o ensino de línguas é fator essencial à 
capacitação do aluno em todas as demais disciplinas, incluindo o 
desenvolvimento das aptidões para a vida produtiva.
Trabalhar nossa pesquisa no ISEPAM (Instituto Superior de Educação 
Professor Aldo Muylaert) representa poder fazer ampla observação 
em diferentes segmentos educacionais, pois esta unidade escolar 
oferece Educação Infantil (29 turmas), Ensino Fundamental (48 
turmas), Ensino Médio (28 turmas) e Ensino Superior (18 turmas).
Atualmente, o ISEPAM é a única escola pública, no município, a formar 
professores para atuar na educação infantil e nas quatro primeiras 
séries do ensino fundamental. Desde 1955 o então IEPAM sedia a 
antiga escola normal, tornando- se, portanto, importante marco na 
formação de professores em Campos dos Goytacazes. Hoje, com a 
implantação do Normal Superior, em atendimento à exigência da 
LDB nº 9.394/96, esta conceituada escola eleva sua formação ao nível 
superior.
Com aproximadamente 3.500 alunos e 300 professores, o ISEPAM 
nos chamou a atenção pela sua diversidade linguística, pois recebe 
alunos e professores de todas as partes do município e da região, 
com diferentes históricos de vida, garantindo assim rico material de 
pesquisa e excelentes possibilidades de representar um quadro real 
das condições de utilização e manejo da língua, ponto essencial de 
nosso trabalho.
O problema detectado diz respeito, inicialmente, às inadequações 
metodológicas e curriculares dos programas de curso que, via de 
regra, podem inviabilizar o desenvolvimento satisfatório da habilidade 
expressiva do falante/aluno, difi cultando-lhe a expressão. Embora 
os problemas listados a seguir assumam forma generalizante, não 
observados diretamente na escola citada, tais problemas, na vivência 
47
linguística do aluno na relação deste com os padrões instituídos de 
uso da língua no âmbito escolar, são vários, sendo os mais críticos:
• descompasso entre o seu registro linguístico e aquele instituído 
na escola por força de vários mecanismos, um dos quais a 
gramática ideológica;
• desenvolvimento ainda insatisfatório de repertório adequado 
em circunstâncias específicas de uso da língua, especialmente, 
dentro da escola no cumprimento de tarefas acadêmicas;
• habilidade não desenvolvida de uso de padrões de fala 
diferenciados socialmente;
• intimidação ideológica resultante de censura ao uso de dialetos 
não padrão, ou de baixo prestígio social;
• O professor de comunicação e expressão ou língua materna vive 
um desafio multifacetado, que não são obstáculos diferentes 
daqueles encontrados pelos demais professores das outras 
disciplinas. Em geral, este professor sente-se incapaz de:• munir-se de um instrumental teórico que possa embasar 
sua prática;
• questionar/avaliar o material didático, entre os quais a 
gramática normativa, adequando-o à realidade político- 
cultural e linguístico-funcional;
• evitar o fracasso escolar por meio de estratégias de 
valorização do conhecimento do aluno e incorporação 
instrumental que respalde suas relações sociais;
• atualizar-se nas formulações e reformulações teóricas 
das ciências sociais, para que possa adequar sua ação 
pedagógica aos novos desafios;
• dominar as novas tecnologias de ensino, que constituem, 
hoje, a linguagem das transformações sociais.
Perceba	quantos	desafios	enfrentaremos!	Nossa	missão	é	
estar preparados para não continuar e não aceitar uma prática 
de ensino a qual não tenha objetivos claros e alicerces teóricos 
bem	 fundamentados!	 Continuemos	 nossa	 reflexão...	 agora	
com um novo enfoque!!! Continuemos com o artigo.... 
POR QUE UMA PEDAGOGIA LINGUÍSTICA?
Nossa estratégia consiste, primeiramente, em justificar a necessidade 
de se avaliar as políticas de ensino de línguas, especialmente a 
materna, nas escolas públicas estaduais de Campos dos Goytacazes, 
com vistas a respaldar projetos futuros de capacitação docente. 
Para tanto, uma visão mais aproximada da realidade da linguagem 
(na sua diversidade, função e adequação) deve se fazer presente na 
ação administrativa da escola para que novas políticas e diretrizes 
estejam permanentemente agindo entre os professores no âmbito 
das relações sociais conduzidas pela linguagem, o que julgamos 
fundamental como pesquisadores das áreas de Educação e 
Linguagem. No que diz respeito ao cruzamento Pedagogia-Linguística, 
a ação coordenadora daquela se alia à prática teórica desta.
Justifica-se, ainda, a nossa estratégia por desejarmos dispor 
os grupos pesquisados de um aparato teórico adequado para 
encaminhamento de solução de problemas concernentes ao uso da 
língua como instituição social que é. Desde os anos 70, a Linguística 
passou a compor o currículo dos cursos de Letras, o que propiciou 
uma reflexão crítica sobre a natureza variacional das línguas entre os 
futuros professores. A partir de então, os professores passaram a ter 
condições de orientar sua prática em sala de aula dentro dos critérios 
científicos. Entretanto, esta intervenção na prática não se efetivou 
plenamente por conta de outros obstáculos tais como: metodologias 
e aplicação da Linguística não satisfatórias nos livros didáticos 
utilizados, orientação dos currículos para atendimento a exigências 
de concurso e não para o uso social e funcional da língua, inculcação 
da gramática ideológica. Estes a nosso ver constituem entraves ao 
desenvolvimento da língua na sua funcionalidade.
A orientação científica dos estudos de linguística, por força dos 
obstáculos, não se encontra plenamente estabelecida, razão pela qual 
entendemos que a gramática continua sendo o apoio fundamental 
da orientação dos programas de línguas, uma vez que se observa que 
a noção que se procura ter de língua é a de uma estrutura estável, 
acabada, disponível de maneira uniforme entre todos os falantes. Na 
ausência de um saber e de uma prática compatíveis com a Linguística, 
o professor, frequentemente, deixa-se guiar pelo senso comum, 
da ordem do ideológico, no qual a ilusão de uma língua perfeita se 
estabelece. Entendemos que tal arbítrio justifica o desenvolvimento 
de um Projeto como o que se propõe. IMPORTANTE, POIS REFLETE A 
PROBLEMÁTICA EXISTENTE!!!!
OBJETIVOS DE UMA PEDAGOGIA LINGUÍSTICA
O objetivo geral de uma pedagogia linguística consiste em 
desenvolver na escola condições que criem no aluno, no professor 
e na administração da escola a liberdade para o uso expressivo e 
funcional do seu idioma, de forma a assumir sua cultura linguística 
onde quer que esteja, sem embaraços de ordem ideológica, como 
forma de instituir o pleno domínio da própria cidadania. Nestes 
termos, o Projeto se define ao objetivar pôr em prática um saber 
desenvolvido pela Linguística, que contrapõe a discriminação de 
usos linguísticos não padrão própria da Gramática Ideológica (ou 
Tradicional) à liberdade que devem ter os falantes de dispor de 
sua própria língua em consonância com sua identidade e herança 
Linguística.
Especificamente objetivamos:
Fundamentar linhas de ação teórico-práticas de uma pedagogia 
linguística destinada a orientar o pedagogo e o professor a definir 
políticas de ensino de línguas no ensino fundamental e secundário;
criar condições para o pleno desenvolvimento da memória linguística 
do aluno, compreendida como bem de capital linguístico sem o qual 
não se opera a compreensão do mundo;
avaliar criticamente o material didático (livros) que se apresenta na 
escola e fazer circular crítica e reflexivamente material discursivo que 
expresse a diversidade de usos da língua;
introduzir na escola, com critérios específicos, a produção teórica em 
termos de técnicas e metodologias de ensino com base na ciência 
linguísticas;
capacitar o professor a enfrentar, com a devida instrumentação, 
o fracasso escolar em decorrência da inadequação do ensino de 
línguas;
municiar os professores com instrumentos teóricos que possibilitem 
a autorreflexão de sua ação pedagógica.
Nossa,	você	percebe	que	estamos	iniciando	as	reflexões	
conclusivas de nossa aula!!! 
APLICANDO A PEDAGOGIA LINGUÍSTICA
A metodologia de trabalho com pedagogia linguística consiste no 
levantamento inicial das políticas de orientação do ensino de línguas 
nas escolas selecionadas para observação, para deduzir do material 
observado um modelo que expresse claramente o estágio em que se 
encontra tal prática.
Fundamentos de Linguística Aplicada 48
O conhecimento e a análise minuciosa dos currículos, programas e 
bibliografi a em uso nas escolas, bem como a escuta de aulas servirão 
de baliza para a orientação futura de uma política linguística que dê 
curso aos objetivos traçados a partir da consecução das seguintes 
atividades:
• Consulta à documentação (currículos, programas, Projeto 
Político Pedagógico) para uma análise qualitativa que permita 
traçar o perfi l das escolas relacionadas para a pesquisa e, assim, 
esboçar sua dinâmica política e educacional concernente ao 
ensino de língua materna;
• Proceder a entrevistas e aplicação orientada de questionários 
entre professores e alunos que objetivam identifi car o perfi l 
dos programas de língua portuguesa, bem como a atuação de 
uma pedagogia linguística na prática de ensino de línguas por 
professores;
• Defi nir o universo de expectativas comunicacionais de alunos 
e professores, em um ambiente tradicionalmente restritivo no 
que diz respeito a práticas sociolinguísticas.
Estes itens se tornam quase obrigatórios para que 
possamos atingir nossas metas na durante a prática pedagógica. 
Sendo assim, preste muita atenção!!!
Um estudo com estas características e objetivos tem, como público 
alvo, estudantes e professores das áreas de Pedagogia e Letras. 
Pedagogos com habilitação em Administração e Gestão Escolar, bem 
como Educação Infantil (ênfase ora em estágio de implantação na 
graduação de Ciência da Educação da UENF), têm na linguagem um 
campo vasto de formação, preponderante para o desenvolvimento 
das demais habilidades na escola. O Professor de Letras, ao lidar 
com as classes de língua materna, principalmente, desenvolve, 
obrigatoriamente, outros aspectos envolvidos com a construção da 
cidadania, quando operam o respeito que se deve ter para com as 
variedades linguísticas. Aqui, ele vai encarar a norma culta padrão 
como uma variante dialetal urbana (caracterizada como de bastante 
prestígio), ao lado da qual subsistem todas as demais variantes. Estas 
constituem parte fundamental da riqueza linguístico- cultural inerente 
a todas as línguas e das quais não podemos abrir mão. A abordagem 
da linguagem no seu campo científi co específi co – i. é., na Linguística 
– repercute em considerações de aplicações sociais, culturais, 
políticas e cognitivas amplasquando operadas pelo pedagogo e pelo 
professor de línguas, quais sejam:
• a linguagem é um bem capital e cultural, vetor de identidades e 
de relações sociais;
• a linguagem é um fator de afi rmação regional (diatópica) e 
cultural, tanto coletiva quanto individual (diastráticas).
Caro	aluno,	temos	aqui	a	refl	exão	sobre	a	fusão	entre	a	
Linguística e a Pedagogia e como devemos proceder durante 
a prática em sala de aula. Perceba também que os autores 
mencionam a interdisciplinaridade entre as áreas dos estudos 
linguísticos na perspectiva social, inserindo em seus programas 
disciplinas tais como Linguística Textual, Sociolinguística, 
Análise do Discurso, além da Linguística propriamente dita! 
Interessante, não acha????
Professores e alunos de Letras e Pedagogia têm como horizonte de 
expectativas conjunturais e teóricas as ciências da linguagem nos 
avanços operados até hoje, desde quando, nos anos 60, a herança 
estruturalista reorientou os estudos linguísticos na perspectiva 
social, inserindo em seus programas disciplinas tais como Linguística 
Textual, Sociolinguística, Análise do Discurso, além da Linguística 
propriamente dita. Assim, operacionalmente, este projeto visa à 
implantação de Projetos de capacitação em escolas como forma de 
fazer da linguagem um fórum permanente de discussão social pela 
via de uma pedagógica linguística. 
Vamos continuar lendo?!
O CONHECIMENTO CRÍTICO DA LÍNGUA NAS ESCOLAS
Nosso primeiro empenho de pesquisa se efetiva numa consulta 
formal a um universo de informantes constituído de 61 professores 
do já citado ISEPAM, assim distribuídos: 15 atuam no nível Superior; 
13, no Ensino Médio, e 33, no Ensino Fundamental. Os docentes que 
atuam na Educação Infantil não foram ouvidos nesta primeira parte 
da pesquisa, por ainda não termos defi nido estratégias metodológicas 
mais específi cas. O questionário (ver Anexo) foi formatado em 
programa Excel com as respostas obtidas, em números inteiros 
e percentuais, por grupo de informante e na soma total. A soma 
dos percentuais ultrapassa 100% por ter sido permitido assinalar 
livremente mais de uma resposta às questão. A seguir, trataremos os 
dados usando os percentuais gerais.
Do universo de 61 professores, depreendemos um quadro um tanto 
quanto homogêneo sobre o que constitui um saber e uma refl exão 
crítica sobre a língua com respeito a sua função social, ou seja, como 
meio para a expressão individual e entre grupos, e não como um 
fi m em si mesma. Contudo, subsistem certas particularidades com 
relação à observância da norma e, principalmente, quanto à estratégia 
de solução de certos “vícios” presentes na fala de alunos. Convivendo 
com alunos de variadas procedências socioeconômicas e culturais, 
os professores, de uma forma geral, desejam unifi car o uso da língua, 
que signifi ca desempenhar o dialeto padrão, trabalhando sempre 
com a perspectiva de que uma língua culta, unifi cada, constitui o 
grande objetivo da aula de português. Em mais de uma circunstância, 
os professores não entendem que esta estratégia tende a alienar o 
aluno de sua identidade linguísticas própria em construção, língua 
esta que se encontra tanto sob a infl uência de universos infantis (ou 
infanto-juvenis) – que os atestam como desconhecedores de práticas 
linguísticas sociais mais amplas –, quanto de sua realidade soció-
cultural.
Neste momento, temos a descrição metodológica da 
pesquisa. É interessante você prestar atenção, pois irá fazer 
isso em seu TCC. E perceba como os autores analisam os 
dados e os relacionam... continuemos então...
A norma, contudo, é a grande fonte de questões relativas aos 
sentidos produzidos tanto em sala de aula por professores e 
alunos, quanto no senso comum externo à escola. A verdade é que 
a variação da norma linguísticas entre grupos é defi nidora de mais 
de uma característica sociocultural do indivíduo. Em geral, a palavra 
norma está ligada apenas à norma documentada pela gramática. 
Assim, o termo acaba rotulando a tradição de correção e esmero do 
bem falar que deve ser próprio das classes escolarizadas. Contudo, 
entre os professores ouvidos, apenas 20% (questão 8) entendem 
que usar a língua de acordo com as normas gramaticais em vigor 
corresponde a falar corretamente uma língua. Na mesma questão, 
70% das respostas relacionam a efi ciência à clareza, em detrimento 
49
BAGNO, M. A inevitável travessia: da prescrição 
gramatical à educação linguística. In: BAGNO, M; STBUS, 
Vale a pena ler
Vale a pena
da norma. A estratégia de professores fi ca evidente na questão 12, 
onde 49% das respostas privilegiam o domínio da norma como algo 
que produz o desenvolvimento de uma metodologia de expressão 
de ideias bem colocadas possibilitando uma interlocução culta e 
agradável. Pela mesma via, constitui questão relevante o fato de 61% 
das respostas, na mesma questão, indicarem que uma excessiva 
preocupação com os elementos gramaticais impede a fl uência das 
ideias. Porém, expressivos 49% acham que o domínio da gramática 
normativa desenvolve uma metodologia de expressão de ideias bem 
colocadas possibilitando uma interlocução culta e agradável.
Do outro lado da expectativa dos alunos, situam-se professores, 
encarregados de promoverem com sucesso, a mobilização linguística 
e social almejada pela escola e pelos seus programas. O conhecimento 
da língua na sua natureza é imprescindível para que esta operação 
não seja frustrada na raiz, por conta mesmo da inclinação já natural 
de facultar à língua poderes de que ela não é capaz, de por si poder 
providenciar a mobilização social.
Perceba	 que	 algumas	 refl	exões	 são	 recorrentes	 e,	 com	
isso, começamos a estabelecer alguns parâmetros do nosso 
próprio	 desafi	o...	 quebrar	 certos	 paradigmas	 em	 relação	 ao	
ensino –aprendizado de línguas.
O conhecimento puro e simples de uma língua não habilita 
socialmente o seu falante. Não é de admirar que a língua/dialeto 
padrão tenha apenas relativo prestígio social (52%), ao invés de 
bastante prestígio social (28%), de acordo com a questão 2. A língua, 
neste caso, deve ser encarada como um instrumento auxiliar de 
desempenhos sociais, e integrador de sua identidade na medida em 
que seu universo cultural e individual é habitado por experiências em 
que a linguagem tem papel preponderante.
Depreender que todos possuem sua própria individualidade e que 
a diversidade só existe na unidade é um passo essencial. Entre os 
professores ouvidos, 79% deles (questão 1) acham que a unidade 
linguística é um mito e que o português é diversifi cado porque 
também entendem que “o dinamismo histórico trata de incorporar 
à língua particularidades culturais de seu povo”. Desta forma, 95% 
(questão 4) dos entrevistados consideram o português brasileiro, 
simplesmente, diferente do português de Portugal.
Dada como função preponderante, a coerência é uma das 
reivindicações clássicas tanto de professores quanto de livros 
didáticos. A bibliografi a a esse respeito é ampla, podendo ser 
mencionado o já clássico A coerência textual, de Ingedore Villaça 
Koch e Luiz Carlos Travaglia (ver Bibliografi a). A matéria é amplamente 
discutida além do âmbito da gramática tradicional por importantes 
nomes da pesquisa linguística, entre eles Luiz Antônio Marcuschi. 
Entre os professores abordados, 98% acreditam que saber a língua 
portuguesa signifi ca expressar-se com coerência e clareza através 
da fala e da escrita (questão 5). Embora esta resposta seja óbvia e 
não reste a menor dúvida sobre a coerência como conceito operante 
fundamental na fala, entre as respostas alternativas apontadas consta 
também o zelo pela capacidade de escrever e falar obedecendo às 
normas gramaticais, com 20% de incidência. A coerência, sabe-se, não 
depende sobremaneira da correção gramatical. É possível um texto 
“correto” e criativo a revelia das normas. Portanto, a escola esmera-
se nesta capacidade muito mais em função dos seus programas e 
do seu próprio universo do que em função da expressão linguísticassem controles institucionais. Entre os professores, isto se esclarece 
da seguinte forma: embora desenvolvam esta aptidão no aluno, 
30% deles acreditam que, independentemente de o indivíduo ter 
frequentado aulas de português, seu discurso pode ser sempre 
coerente (questão 11).
Quanto ao campo ideológico das gramáticas normativas, onde se 
travam as lutas entre o “certo” e o “errado” no que concerne ao “bom” 
uso da língua, 82% dos professores consultados têm a seguinte 
noção de língua como instituição que se defi ne em detrimento da 
fragmentação social: as pessoas sem instrução escolar falam de 
acordo com seu status sociocultural (questão 7). Esta resposta se 
complementa com uma noção, situada na ordem do senso comum, 
segundo a qual todos os falantes de uma língua têm o seu próprio 
linguajar (38%). Uma resposta é coerente com a outra, embora se 
situem em patamares teóricos distintos. Não ter conhecimento da 
gramática (33%) não constitui impedimento, portanto, a uma prática 
de linguagem condizente com seu status sociocultural. Contudo, o 
conhecimento da gramática normativa traz uma funcionalidade 
linguística, na concepção dos professores: 70% das respostas dadas 
na questão 11 fazem-nos crer que o indivíduo escolarizado amplia 
seus horizontes comunicativos, pois domina maior quantidade 
de instrumentos verbais, mas não chega a ser determinante na 
construção da fala do indivíduo (13%).
No que diz respeito à língua em si, um mito alardeado por 
brasileiros, especialmente aqueles de quem são exigidos mais de 
uma modalidade normativa, os professores consultados acham que 
(questão 6) o português é muito difícil (70%), embora não concordem 
que só em Portugal se fala bem português. A incidência de respostas 
livres de 87% dá a noção de que, quando uma nação adota uma 
língua, o faz num determinado momento; a partir daí, o dinamismo 
histórico trata de incorporar à língua particularidades culturais de seu 
povo.
Estas são conclusões parciais foram fruto da análise de respostas 
a um questionário fechado de respostas para uma pesquisa 
quantitativa. As respostas abertas serão tratadas posteriormente. 
O que temos aqui é um primeiro levantamento de dados que vão 
possibilitar a incursão desejada no universo de professores com os 
objetivos defi nidos.
Ufa, acabamos!? Sim, acabamos, pois nesta aula, você 
não	 terá,	 excepcionalmente,	 as	 conversa	fi	nal.	Fizemos	 tais	
conclusões durante a leitura do artigo, o qual faz uma excelente 
refl	exão	fi	nal	desta	nossa	disciplina.
Chegamos, assim, ao fi nal da oitava aula. Espero que você tenha 
refl etido bastante acerca dos conteúdos trabalhados durante toda 
esta disciplina e que tenha fi cado clara a importância da teoria 
Linguística no processo de ensino da Língua Portuguesa!
Nesta aula, você não terá, excepcionalmente, a conversa fi nal. 
Fizemos tais conclusões durante a leitura do artigo, o qual faz uma 
excelente refl exão fi nal desta nossa disciplina. 
Fundamentos de Linguística Aplicada 50
M; GAGNÉ, G (orgs.) Língua Materna: letramento, variação 
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Vale a pena acessar
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