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Linguistica e Ensino de LETRAS

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Linguística e Ensino de Letras
Disciplina Digital
--
DGT0595
9001
 
O que é Linguística Aplicada?
Prof. Nataniel Gomes
false
Descrição
Origem, definição e campo de trabalho da Linguística Aplicada como área de conhecimento de Letras.
Propósito
Compreender a origem, os pressupostos teóricos e os aspectos metodológicos do campo da Linguística Aplicada para ampliar o conhecimento linguístico na área do ensino-aprendizagem de língua.
Objetivos
Módulo 1
Origem e conceito da Linguística Aplicada
Identificar a origem e o conceito de Linguística Aplicada.
Módulo 2
Campo de trabalho da Linguística Aplicada
Reconhecer o campo de trabalho da Linguística Aplicada.
Introdução
A Linguística Aplicada é uma ciência relativamente jovem, mas ela já tem produzido conteúdos cada vez mais relevante para sua área de atuação, tanto no Brasil quanto em todo o mundo. Isso pode ser percebido pelo grande número de artigos e livros publicados e a crescente quantidade de congressos, seminários e cursos nos últimos anos, colocando a área em destaque.
Ainda há, porém, muita discussão sobre a distinção entre Linguística e Linguística Aplicada, o que não é nada simples de se responder. A partir dos trabalhos dos pesquisadores em Linguística Aplicada, pode-se encontrar um caminho de resposta, descrevendo a sua forma de abordar as questões da linguagem, como uma área de conhecimento explícito, objetivo e sistemático.
Como veremos neste conteúdo, o histórico da Linguística Aplicada mostra o seu relevante percurso, abrangendo diferentes áreas do conhecimento, investigando a cultura, considerando os aspectos sócio-históricos e apontando os problemas com os quais ela tem de lidar, buscando soluções para eles.
Inserindo imagem...
1 - Origem e conceito da Linguística Aplicada
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar a origem e o conceito de Linguística Aplicada.
A área da Linguística
A Linguística como ciência
Antes de a Linguística alcançar o status de ciência, ela estava ligada a outros estudos, como a Lógica, a Retórica, a Filosofia, a Crítica Literária, mas isso mudou quando ela passou a focar exclusivamente nas questões da linguagem, gerando pressupostos teóricos, a partir de descrições e explicações para dar conta de sua análise.
Assim, pode-se afirmar o seguinte:
A linguística busca fazer a descrição e a compreensão de como o ser humano é capaz de se comunicar, por meio de sinais sensoriais.
Em outras palavras, a Linguística é a ciência responsável pelo estudo dos códigos utilizados para a comunicação (do latim, communicare, que significa “tornar comum”) e da capacidade inata da humanidade para adquirir a linguagem, sendo que a sua maior preocupação é com a língua falada.
Podemos, então, afirmar que a Linguística estuda as línguas naturais e se interessa por, pelo menos, seis dimensões (FRANCHI, 1990, p. 80):
	record_voice_over
	Dimensão sintática
	Conjunto estruturado dos recursos linguísticos que expressam as relações, funções e categorias relevantes para a interpretação dos enunciados.
	record_voice_over
	Dimensão semântica
	Modos de representação da realidade, tomados como sistema de referência para essa interpretação.
	record_voice_over
	Dimensão dêitico-referencial
	Mecanismos que relacionam essa interpretação a determinados estados de fato, nas coordenadas espaço-temporal e interpessoal.
	record_voice_over
	Dimensão pragmático-discursiva
	Determinadas situações de uso, inclusive para avaliar os enunciados, do ponto de vista de sua adequação a determinadas ações e propósitos.
	record_voice_over
	Dimensão lógica
	Determinadas situações de uso, inclusive para avaliar os enunciados, do ponto de vista de sua verdade ou falsidade.
Os estudos sobre a linguagem assumiram o formato que encontramos atualmente graças às mudanças no domínio da Linguística, que ocorreram no início do século XX, abandonando o naturalismo que dominava a abordagem comparativista do século anterior, muito voltada para a comparação entre as línguas e a investigação de seus aspectos históricos.
No início do século XX, o linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) criou os fundamentos para que a Linguística deixasse de ser uma investigação e passasse a ser vista como uma ciência. Isso se deu a partir de um curso ministrado por ele na Universidade de Genebra, sendo publicado como obra póstuma elaborada por seus alunos, intitulada Curso de Linguística Geral.
Por isso, o século XX é considerado por muitos teóricos como o “século da linguagem”. Nele se destacaram filósofos com a preocupação especial nas questões da linguagem, como Wittgenstein, Heidegger, Habermas e outros.
Ferdinand de Saussure.
Tal interesse surgiu em diversas áreas para discutir questões ligadas ao tema. Vejamos a seguir alguns exemplos:
Exemplo
Na Teoria do Conhecimento, a crítica transcendental mudou seu enfoque para a crítica da linguagem, a Lógica buscou entender as linguagens artificiais, e a Antropologia percebeu que a linguagem é exclusiva do ser humano e afeta a sua visão de mundo.
Daí temos a Linguística com o objetivo de pesquisar como a linguagem funciona a partir do estudo de línguas específicas. Para tal, ela considera a língua como seu objeto de estudo de forma empírica, dentro de seus limites, como acontece em outras ciências, por exemplo, a Biologia, a Física, a Geografia.
Logo, sua metodologia foca principalmente a fala de determinada comunidade de usuários de determinada língua.
A proposta metodológica desenvolvida pela Linguística visa descrever e analisar a partir de um corpus, ou seja, um conjunto de dados coletados, que são as frases realizadas pelos falantes no uso diário. Assim, a Linguística tem um caráter científico pautado pelo empirismo e pela objetividade de análise.
Nesse sentido, seriam duas as tarefas principais da Linguística:
Tarefa I
Estudar as línguas particulares como um fim em si mesmo, com o objetivo de descrevê-las adequadamente.
Tarefa II
Estudar as línguas como meio de levantar informações acerca da natureza da linguagem de um modo geral.
Perceba que a Linguística não é uma disciplina homogênea, pois ela tem um conjunto de opções teóricas e orientações na busca por investigar as questões da linguagem que afetam diretamente a sociedade, tanto no ensino quanto nas diversas situações cotidianas de comunicação. Assim, a linha de atuação da Linguística é bastante ampla, como veremos mais adiante.
Surgimento da Linguística Aplicada
Em 1946, Charles Fries e Robert Lado ministraram, na Universidade de Michigan, o primeiro curso de Linguística Aplicada. Naquele momento, o foco era o ensino de línguas e os linguistas buscavam uma proposta diferenciada na forma como ministravam a Linguística, com base na experiência que tinham no ensino do inglês como língua estrangeira.
Em 1948, a revista Language Learning: A Journal of Applied Linguistics usou pela primeira vez o termo Linguística Aplicada.
Aquele era um período próximo do final da Segunda Guerra Mundial e que se caracterizava pelo grande investimento no ensino de línguas, com métodos que combinavam:
	o behaviorismo;
	a linguística contrastiva;
	a tecnologia dos laboratórios de línguas; e
	as capacitações linguísticas com fins militares.
Nesse contexto é que surge um campo fértil para desenvolvimento da Linguística Aplicada (ROCHA; DAHER, 2015).
Para Rajagopalan (2006, p. 152), houve uma guinada nos estudos linguísticos em função dos investimentos ou “novas fontes de financiamento” no ensino de línguas, assim, “a forma como as pesquisas linguísticas foram conduzidas nessa época foi determinada pelas expectativas criadas em torno de suas possíveis aplicações”.
Behaviorismo
A perspectiva behaviorista da linguagem se caracteriza, em linhas gerais, pelo entendimento do processo de aprendizagem da linguagem por meio de uma cadeia ou sequência de estímulo-resposta-reforço.
Linguística contrastiva
Caracteriza-se, em linhas gerais, pelo estudo e descrição de duas ou mais línguas a fim de verificar diferenças e semelhanças entre elas.
A Linguística Aplicada,também referida como LA, surgiu no mundo anglófono. Depois da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, os Estados Unidos enxergaram o potencial de expandir a língua inglesa por meio do ensino, devido à necessidade de aprender novas línguas. A presença de soldados norte-americanos baseados em países orientais é um exemplo dessa situação.
Naquele contexto do Pós-Guerra, a Linguística Aplicada não tinha relação nem com a “Linguística”, nem com a “aplicação”. Isso porque a Linguística tinha a preocupação de descrever línguas, algumas isoladas, estudar estruturas e assim por diante.
Quando a Inglaterra percebe que está perdendo seu espaço no mundo, ela decide exportar o ensino de sua língua para se manter erguida, numa tentativa de exportar o idioma e manter o poder. Daí surgem os primeiros conceitos da Linguística Aplicada em sua tentativa de estender o ensino da língua inglesa para o resto do mundo.
Na década de 60, quando os indianos eram tidos como falantes de um inglês que ninguém entendia. Gillian Brown (1990), foneticista, e seu grupo de pesquisa fizeram um esforço tremendo em consertar a fala dos indianos: estiveram em Madras (hoje Tamil Nadu) e ao final do treinamento acharam que tinham conseguido que os indianos falassem igual à rainha da Inglaterra. Um ano depois voltaram para saber o resultado de seus esforços: os falantes já haviam voltado a falar como antes do treinamento. Esse evento foi conhecido como Madras Snowball (Bola de Neve de Madras). Apesar de todo esse apelo a um inglês puro, na década de 70, os indianos já contavam com uma produção literária bastante representativa, demonstrando que o inglês britânico não podia mais restaurar seu império, muito menos o linguístico. Hoje a Índia só perde para os Estados Unidos e Inglaterra em produção em língua inglesa.
(RAJAGOPALAN, 2010, p. 15)
No início, a Linguística Aplicada era vista como uma área que tinha como propósito investigar as práticas de aprendizagem de línguas, portanto, voltada para métodos e técnicas científicas para ensino de línguas estrangeiras.
Desse modo, a LA não nasce como uma aplicação da Linguística, antes, a LA surge a partir de uma abordagem indutiva, ou seja, uma pesquisa vinculada ao estudo da língua a partir de seu uso no mundo real, e não a partir de uma língua idealizada.
O que podemos perceber é que a Linguística Aplicada estava ligada a um movimento imperialista que levava a língua inglesa para os países falantes de outros idiomas, o que nos mostra a Linguística sujeita a interesses sociogeopolíticos (RAJAGOPALAN, 2010).
Conceitos e objetivos da Linguística Aplicada
Na década de 1980, surgiu uma discussão sobre a abrangência da Linguística Aplicada.
A LA iria além do ensino, do uso da linguagem em determinados contextos, chegando à busca da união entre teoria e prática, o que incluía:
	Bilinguismo e multilinguismo
	Comunicação por intermédio de computadores
	Análise de conversação
	Linguística de corpus
	Análise crítica do discurso
	Linguística forense
	Planejamento e políticas linguísticas
	Comunicação multimodal
	Tradução
Isso significa que a preocupação passa a ser com problemas linguísticos do mundo real, apoiada na multidisciplinaridade, seja na vida social, cultural e mesmo política, considerando a complexidade dos sujeitos.
Com o avançar dos anos, surgiram novas formas de pesquisa e o conceito da Linguística Aplicada como aquela que vai resolver os problemas da linguagem foi deixado de lado.
O que surge é a noção de que ela passa a ter um papel interdisciplinar e de produção de novos conhecimentos.
Diz-se que a linguística é aplicada quando suas teorias, métodos de investigação e achados de pesquisa são aproveitados para elucidar e ajudar a resolver questões e problemas práticos relacionados à língua e a seu uso.
(BAGNO, 2017, p. 253)
Vale lembrar que não se trata de utilizar os conhecimentos da Linguística e aplicá-los para criar soluções, isto é, não é uma aplicação da Linguística.
A Linguística Aplicada é um campo que investiga as relações linguísticas a partir de uma perspectiva própria, mas utilizando teorizações de diversos campos para convergir em discussões específicas.
Assim, a Linguística Aplicada tem o objetivo de dialogar com diversas áreas a partir de práticas sociais, pensando novas formas de conhecimento e pesquisa que respondam às demandas da sociedade na qual estamos inseridos.
Com a popularização das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), passa-se a refletir sobre as diversas semioses que se manifestam nos discursos sociais, em diversas culturas, a partir de diferentes usos linguísticos.
Em especial, são considerados o avanço e a popularização dos usos tecnológicos dos computadores, o desenvolvimento do Wi-Fi, a tecnologia Bluetooth, o 4G e os smartphones e tablets, pensando no ensino de línguas.
O que essas tecnologias provocam são novos letramentos, com os usuários passando a ter acesso tanto a recursos digitais quanto às soluções tradicionais, como papel e caneta, de acordo com a disponibilidade.
Os objetivos da Linguística Aplicada
A Linguística Aplicada se caracteriza por, pelo menos, três aspectos relacionados com seus objetivos:
Objetivo I
Responder a determinada demanda social.
Objetivo II
Valer-se de diferentes áreas do conhecimento.
Objetivo III
Usar como critério de avaliação os seus resultados.
Rocha e Daher (2015) acrescentam a essa lista dos objetivos da Linguística Aplicada mais dois itens:
	enfatizar ensino-aprendizagem de línguas; e
	ancorar as bases teóricas na pesquisa linguística.
Uma das características da Linguística Aplicada é sua busca por tentar resolver problemas ligados ao ensino de línguas, às traduções, à organização de dicionários, além de ações cotidianas que a área pode ajudar a solucionar, mas sempre ligadas ao engajamento às demandas sociais, seja no Direito, na Saúde, na Mídia ou na Administração, entre outras áreas, na tentativa de compreender a sociedade.
Mesmo Saussure e seus seguidores já mostravam preocupação com aspectos práticos nas pesquisas linguísticas.
Interdisciplinaridade e pesquisa na Linguística Aplicada
Além disso, a Linguística Aplicada busca instrumentos em outras ciências, tais como a Didática das Línguas, que une Linguística, Psicologia e Sociologia, numa tentativa de unir teoria e prática no ensino de línguas, por exemplo.
Perceba que a Linguística Aplicada é marcada pela interdisciplinaridade.
Infelizmente, durante muito tempo não se via o especialista em Linguística Aplicada como um produtor de teorias, mas apenas como alguém que reproduzia teorias já existentes.
Outro item que merece destaque é que a Linguística Aplicada é avaliada pelos resultados obtidos, conforme apontado acima. Isso quer dizer que seus resultados são avaliados em função da resposta dada à demanda averiguada.
Segundo Rocha e Daher (2015), essa repercussão sobre as pesquisas em Linguística Aplicada se dá a partir da demanda formulada:
Por alguém que ocupa uma posição hierárquica mais alta na situação investigada.
Pelo pesquisador a partir de objetivos de pesquisa.
Pelo pesquisador a partir atribuídos a um dado coletivo.
Por um círculo que não exerce nenhuma função de destaque na hierarquia institucional em questão.
Rocha e Daher (2015) ainda acrescentam que a Linguística Aplicada e o campo do ensino de línguas eram tratados praticamente como sinônimos nas primeiras décadas da área, já que a sua preocupação era ser “prática”. Mas, de lá para cá, o interesse foi ampliado para outras formas de atuação, além do ensino de línguas, ainda que fortemente calcada na área.
A Linguística Aplicada ainda sofre do complexo de não produzir conceitos novos, mas aplicar teorias da Linguística. A esse respeito, pode-se afirmar o seguinte:
A Linguística Aplicada lida com pesquisas e práticas de problemas da comunicação, aplicando teorias da Linguística ou desenvolvendo propostas novas a partir das suas constatações.
A área da Linguística Aplicada
A Linguística Aplicada mantém a sua identidade na área de estudos da linguagem. Mesmo com todasas mudanças pelas quais passou, ela mantém a sua proximidade com as ideias de Wittgenstein, com os primeiros cursos ministrados sobre o seu conteúdo. Essa área permanece com um eixo comum até hoje, mesmo com todas as ofertas de disciplinas novas cada vez mais especializadas.
A ampliação de seu currículo acabou evitando um aprofundamento de divergências teóricas e querelas na sua epistemologia. O fato é que todas essas mudanças visam à busca de soluções dos problemas encontrados nas suas pesquisas no que se refere às questões de linguagem.
Cursos
Esses cursos começaram na Universidade de Edimburgo, na Escócia, em 1956.
A área da Linguística Aplicada se mostra muito promissora.
Inclusive, têm surgido propostas recentes, como da Linguística Aplicada Crítica, com a Linguística tendo um papel político importante, contribuindo para mudar as relações de poder no mundo.
O especialista em Linguística Aplicada ajudaria o ser humano a tomar consciência sobre o domínio que a língua exerce sobre os outros, questionando a visão do progresso das ciências como algo linear, já que elas devem ser ligadas a diversas outras ideias, dentro de um contexto geopolítico e sócio-histórico.
Antes de finalizarmos esta seção e conhecermos o trabalho da LA no Brasil, há uma questão à qual devemos responder:
Qual a diferença entre a Linguística e a Linguística Aplicada?
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Para Rajagopalan (2006), a diferenciação entre a Linguística e a Linguística Aplicada surge a partir da preocupação com o social.
A Linguística deixa o aspecto social para segundo plano, enquanto a Linguística Aplicada busca responder às demandas que a sociedade clama, quase sempre avaliada a partir de seus resultados, com forte ênfase no ensino e/ou aprendizagem de idiomas.
Pesquisa em Linguística Aplicada
Linguística Aplicada no Brasil
No Brasil, inicialmente, o desenvolvimento da Linguística Aplicada se dá devido à sua origem interdisciplinar e à sua interface entre a Linguística e a Educação. Em seguida, passa por um processo de maior teorização e avança para uma área transdisciplinar a fim de enfatizar uma epistemologia indisciplinar, o que inclui questões diversas como:
Indisciplinar
Refere-se ao conhecimento desenvolvido para além dos limites tradicionais de determinada disciplina, ou seja, aponta para a ideia da Linguística Aplicada se organizando a partir de múltiplos centros, de diversos enfoques, constituindo-se em uma área mestiça na qual ocorrem intersecções e cruzamentos de fronteiras.
	Discurso
	Identidade
	Etnia
	Sexualidade e gênero
	Letramentos
	Entre outras
Desse modo, a LA vai além da aplicação da Linguística para o “mundo real”, como foi vista por muito tempo. A Linguística Aplicada precisou incorporar novas fontes teóricas, a fim de dar conta das necessidades e problemáticas que surgiam, já que:
Nenhuma área do conhecimento pode dar conta da teorização necessária para compreender os processos envolvidos nas ações de ensinar/aprender línguas em sala de aula devido a sua complexidade.
(MOITA LOPES, 2006, p. 16)
Por isso, existe um número considerável de especialistas com o entendimento de que é preciso procurar ajuda em outras áreas do saber das Ciências Humanas e Sociais, além da Linguística, para estudar e buscar possíveis respostas em relação às questões que afligem o mundo e passam pela linguagem (ligadas ou não ao ensino).
Temas e preocupações da pesquisa em LA no Brasil
Em nosso país, a preocupação com os estudos da Linguística Aplicada começou no final da década de 1970 e início dos anos 1980, muito influenciada pela imprensa, que anunciava as dificuldades de leitura na escola, atribuindo a responsabilidade aos docentes. Isso acabou culminando nas pesquisas ligadas à formação de professores.
Logo, a leitura, primeiramente nas línguas estrangeiras e posteriormente em língua portuguesa, passou a ser uma das primeiras preocupações das pesquisas em Linguística Aplicada no Brasil.
Tais pesquisas focadas no problema da leitura foram incorporadas em documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), além de constarem na bibliografia de cursos superiores e de concursos. Essas pesquisas continuam sendo objeto de discussão ainda hoje.
A escrita, quando a Linguística Aplicada começou a dar seus primeiros passos, ainda era vista como suporte para o livro, mas atualmente ela se manifesta em meios variados e muito próxima das nossas práticas sociais e cotidianas, em mídias digitais e diversos outros suportes materiais, inclusive combinando com linguagens não verbais.
Assim, a questão da leitura mudou muito nas últimas décadas.
Particularmente, num cenário em que se fala em pós-verdade e fake news, não basta ler, mas investigar se a informação é verdadeira e quem está por trás dela.
Nesse contexto de preocupação da pesquisa em LA com a situação da leitura e da escrita relacionada à formação dos estudantes e dos professores, surgem trabalhos que realizam análises etnográficas, por exemplo, de escolas como local de trabalho, da formação continuada do professor, possibilitando o registro e a análise da leitura de textos com a intenção de servir de motivação para professores e participantes diversos das reuniões. Tudo isso situado em um contexto social e ao mesmo tempo histórico, que ajuda a entender tais práticas no ambiente da periferia de grandes centros urbanos.
Resumindo
Assim, podemos dizer que a Linguística Aplicada foca um leque bastante diversificado de opções no que se refere aos seus objetivos e ao modo de ensino e de pesquisa, buscando respostas e contribuindo para a solução dos problemas ligados ao ensino e à aprendizagem, por exemplo, da língua portuguesa no Brasil.
Podemos notar que, com mais de meio século de existência, a Linguística Aplicada conseguiu resgatar e renovar instrumentos, objetos, temas e conceitos, inclusive modificando as concepções da área, dando voz aos participantes e valorizando conhecimentos, mesmo que socialmente excluídos.
Por isso, é possível que o próximo passo da Linguística Aplicada no Brasil seja a elaboração de currículos e materiais didáticos com a intenção de dar visibilidade a grupos tratados como “invisíveis” socialmente, além da inclusão de pesquisadores no ambiente escolar, valorizando práticas de outros contextos, dirigidas por personagens de outras culturas e de outras identidades, sem abandonar as mudanças pelas quais o mundo passa.
video_library
A Linguística Aplicada
Neste vídeo, serão apresentados a origem, o conceito e os objetivos da Linguística Aplicada.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
1:53 min.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Contexto de origem da Linguística e Linguística Aplicada
Inserindo imagem...
1:41 min.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Objetivos da Linguística Aplicada
2:09 min.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Diferença entre Linguística e Linguística Aplicada
O campo de atuação da Linguística Aplicada
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Analise as afirmativas a seguir, considerando a origem da Linguística Aplicada:
I– O mundo anglófono e o Pós-Guerra fazem parte do contexto no qual surgem os estudos que resultam na Linguística Aplicada.
II– O ensino-aprendizagem de língua estrangeira, particularmente do inglês, e o desenvolvimento de métodos e técnicas para essa prática são objetos de estudo no surgimento da Linguística Aplicada.
III– A Linguística Aplicada surge, originalmente, como uma aplicação da Linguística do começo do século XX, com um viés ou abordagem dedutiva.
Está correto apenas o que se afirma em
A
I.
B
II.
C
III.
D
I e II.
E
II e III.
A afirmativa I está correta porque a presença de militares norte-americanos em várias bases espalhadas pelo mundo no Pós-Guerra e a necessidade de se preservar o prestígio cultural britânico no mundo são aspectos que marcam o contexto anglófono dos estudos de LA. A afirmativa II está correta porque a pesquisa sobretécnica e métodos de ensino-aprendizagem de inglês está relacionada com o surgimento da LA. A afirmativa III está incorreta porque a LA não surge diretamente como aplicação da Linguística da época, mas como uma abordagem indutiva voltada para o estudo das práticas reais de linguagem.
Questão 2
O conceito de Linguística Aplicada deve ser identificado como
A
o estudo descritivo da língua, procurando estabelecer sua estrutura e seu funcionamento.
B
os estudos pedagógicos de filiação behaviorista voltados para o estabelecimento de método de ensino-aprendizagem de inglês para crianças anglófonas.
C
os estudos linguísticos estruturalistas voltados para a descrição e a explicação dos fenômenos gramaticais.
D
o estudo disciplinar e o estabelecimento de área bem delimitada a fim de compreender o fenômeno do bilinguismo.
E
um campo de estudo interdisciplinar com teorias e métodos voltados para a pesquisa de questões reais do uso da língua.
A Linguística Aplicada trabalha com uma abordagem interdisciplinar, com questões e metodologias de pesquisa específicas, tratando de problemas da língua em uso e estratégias para superá-los. Assim, a Linguística Aplicada não é uma mera aplicação da Linguística.
2 - Campo de trabalho da Linguística Aplicada
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer o campo de trabalho da Linguística Aplicada.
O campo de atuação da LA
Atuação e expansão da Linguística Aplicada
Você já sabe que a Linguística Aplicada (LA) é um campo de estudo transdisciplinar, interdisciplinar e intercultural que identifica, explora e procura soluções para problemas relacionados à linguagem na vida concreta.
Embora seu desenvolvimento tenha uma relação profunda com os estudos sobre o ensino de línguas, em especial, o inglês, o seu campo de interesse foi ampliado para o uso da língua materna, ensino de segunda língua e línguas de contato.
No caso do Brasil, conforme Silva (2010), a LA foi, ao longo de vários anos, uma área de estudos voltados para o ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras e, também, do português como língua materna. Nesse contexto, a LA passava por mudança no foco de pesquisa e apresentava propostas para o ensino.
Assim, a LA variava na seguinte sequência:
	arrow_downward
	Primeiro
	A ênfase nas metodologias de ensino.
	arrow_downward
	Segundo
	O tratamento da pertinência ou não do ensino de determinados aspectos linguísticos.
	adjust
	Terceiro
	O exame da atuação do estudante em sala de aula.
A Linguística Aplicada, no entanto, expandiu suas pesquisas indo além do ensino de línguas, da formação docente e do uso didático. Assim, ela passou a produzir seu saber inter e transdisciplinar para problematização e compreensão da linguagem, respondendo às demandas da sociedade.
Relembrando
A Linguística Aplicada não é simplesmente a aplicação de uma teoria ou proposta linguística a determinada necessidade, afinal, a simples aplicação nem sempre seria capaz de resolver os problemas da linguagem no cotidiano; isto é, a área se preocupa em unir teoria e prática para construção de seu saber.
Por isso, Moita Lopes (1996, p. 123) destaca que “há uma preocupação cada vez maior em linguística aplicada com a investigação de problemas de uso da linguagem em contextos de ação ou em contextos institucionais, ou seja, há um interesse pelo estudo das pessoas no mundo”.
Desse modo, a Linguística Aplicada tem como proposta:
Entender o mundo e buscar trabalhar uma agenda contra posicionamentos hegemônicos, enfatizando a ideologia, o poder, o gênero, a classe e a etnia, construindo teorias que levam em conta os sujeitos, sejam leitores, escritores, falantes ou ouvintes dentro ou fora de determinado contexto histórico de ensino e de aprendizagem, sem desconsiderar a existência de limites éticos para a ciência.
Atualmente, a LA pode ser vista, então, como uma área do conhecimento que se caracteriza por articular diversos domínios do saber, buscando dialogar com diferentes campos do conhecimento voltados para as questões da linguagem. Desse modo, a LA se apresenta como um campo de atuação bastante abrangente, já que a língua perpassa as diferentes esferas da vida e da sociedade humanas.
Tendo em vista que a linguagem permeia todos os setores de nossa vida social, política, educacional e econômica, uma vez que é construída pelo contexto social e desempenha o papel instrumental na construção dos contextos sociais, nos quais vivemos, está implícita a importância da LA no equacionamento de problemas de origem educacional, social, política e até econômica.
(CELANI, 2000, p. 19-20)
A Linguística Aplicada, portanto, apresenta diversas áreas de atuação e interesse no campo pedagógico: o ensino de línguas estrangeiras, o ensino da língua materna, a formação de professores de língua, estudos sobre o bilinguismo nas comunidades indígenas, as línguas de sinais, o processo de alfabetização, as formas de letramento, as relações entre linguagem e mercado de trabalho, entre outras.
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira e LA
Considerando a prática do especialista em Linguística Aplicada, pode-se perceber como as questões da linguagem fazem parte do mundo globalizado.
O caráter globalizado e digital de nosso tempo exige cada dia mais que o indivíduo saiba, pelo menos, uma língua estrangeira, ajudando a expandir e a ampliar sua formação cultural, conhecendo, pelo menos, um pouco de outras identidades.
É bastante comum encontrar pessoas que ouvem e cantam músicas estrangeiras e passam a conhecer parte do léxico daquela língua, ainda que de forma inconsciente.
Isso se dá também com a presença da língua inglesa como um tipo de idioma universal.
Alguns exemplos onde isso ocorre são:
	Em diversos aparelhos eletrônicos que apresentam botões em inglês, como power ou on/off para ligar/desligar.
	Em jogos eletrônicos, que finalizam a participação do usuário com um game over.
	Em vitrines de lojas que anunciam promoções ou liquidações com o termo sale.
Assim, para além de necessidades no mundo profissional, as pessoas vão percebendo cada vez mais a necessidade de aprender ou dominar uma língua estrangeira, preferencialmente aquela que cultural e economicamente prevalece no mundo globalizado.
Essa necessidade se reflete também no contexto educacional formal.
Nesse sentido, há a percepção ou entendimento de que, ao ter acesso a outra língua, o estudante é capaz de desenvolver respeito pela cultura, pelo povo e pelos valores que não apenas os de seu país.
Por isso, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) já defendiam, no final dos anos 1990, o estudo da língua materna ou mesmo estrangeira como dever de todo cidadão, como competência intercultural.
Esse aprendizado de outras línguas, que não apenas a língua materna, vincula-se à necessidade de se estabelecer relações culturais com outros povos, promovendo pluralidade cultural e formação geral.
No caso das línguas estrangeiras, a seguinte afirmação consta nos PCNs:
O uso de uma Língua Estrangeira é uma forma de agir no mundo para transformá-lo. A ausência dessa consciência crítica no processo de ensino e aprendizagem de inglês, no entanto, influi na manutenção do status quo ao invés de cooperar para sua transformação.
(BRASIL, 1998, p. 40)
Logo, a experiência do professor pode ser um instrumento bastante válido na verificação de uma metodologia adequada à sua realidade.
Nesse momento, entra em ação a Linguística Aplicada para analisar o contexto em que se dá esse processo de ensino-aprendizagem e, consequentemente, colaborar no processo do aluno e do professor a fim de alcançar os melhores resultados possíveis.
Para Moita Lopes (1999), no caso do ensino de línguas estrangeiras, até o final do século XX, as pesquisas em Linguística Aplicada no Brasil enfatizavam os seguintes itens:
	Ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras suprimindo a leitura, a produção escrita, a compreensão oral e ensino por intermédio de computadores.
	Leitura.
	Formação do professor de línguas.
	Descrição da língua estrangeira.
	Análise de erros e interlíngua.
	Análise contrastiva entrea língua estrangeira e o português.
	Análise da interação oral no ambiente da sala de aula.
	Avaliação de material didático.
	Produção escrita.
	Planejamento de cursos.
	Compreensão oral.
	Aquisição de L2 (segunda língua).
	Elaboração de material didático.
	Análise do discurso em línguas estrangeiras.
	Construção de identidade no espaço da sala de aula.
	Ensino de língua estrangeira por intermédio de computadores.
	Testagem.
LA e produção de material didático
Produção de material didático em língua estrangeira e LA
Outra área de atuação da Linguística Aplicada tem a ver com a produção de material didático, em especial, livros.
Podemos perceber um avanço na qualidade dos livros didáticos graças à influência da Linguística Aplicada.
Esses livros passaram a focar as quatro habilidades da língua:
	ouvir;
	falar;
	ler; e
	escrever.
Moita Lopes (1999), ao listar os itens da pesquisa em LA na área do ensino de língua estrangeira, menciona a elaboração e a avaliação de material didático. No entanto, em sua lista, não há itens que tratem especificamente do livro didático, pois a referência é ao material utilizado para o ensino de maneira geral.
Desse modo, até o final do século XX, o foco da Linguística Aplicada estava voltado para as questões de ensino-aprendizagem das línguas estrangeiras a partir de uma aplicação da teoria para o uso pelo professor em sala de aula, diferentemente do que tem acontecido hoje.
O início da Linguística Aplicada no país, nos anos 60 e 70, foi marcado por questões relativas ao ensino de línguas estrangeiras, principalmente o inglês. Naquela época, as dissertações de mestrado na área refletiam o pensamento de aplicação de teorias da Linguística para melhorias de técnicas de ensino em sala de aula, [...] uma das ênfases de trabalhos de investigação na área neste início eram as sugestões para produção e avaliação de materiais.
(SILVA, 2010, p. 209)
Vale ressaltar que o livro didático passou a ter maior destaque e uso a partir da década 1960, principalmente para atender às demandas do contexto da escola que se reformulava naquele momento.
Na década de 1980, foi criado o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), para que na década seguinte o Ministério da Educação (MEC) passasse a ter um papel mais direto na discussão sobre o livro didático, incluindo um projeto pedagógico disseminado pelos PCNs.
A Linguística Aplicada atualmente se preocupa também com o “processo de ensino-aprendizagem em sala de aula” (MOITA LOPES, 1999, p. 425).
Pode-se notar que o livro didático tem sido objeto de análise dos especialistas em Linguística Aplicada nos últimos anos, ainda que de forma insuficiente, dada a sua importância para professores e alunos, quase como uma fonte de autoridade para o saber na escola, mesmo com a popularização da tecnologia para o ensino.
Mas já se percebe que é comum os livros didáticos apresentarem propostas para ensinar a língua estrangeira por meio das repetições de sons daquela língua-alvo.
Comentário
Por isso, é importante, ao preparar os livros didáticos, levar em conta a língua estrangeira e a língua materna do falante, considerando uma descrição científica da língua aprendida, muitas vezes comparando com a língua daquele que está estudando.
Vale lembrar que muitos livros didáticos são preparados visando apenas “facilitar” a vida do estudante, o que nem sempre é uma boa saída, podendo atrapalhar em vez de ajudar.
Não se deve desconsiderar que o livro didático pode ser a principal fonte para o estudante acessar a língua que está estudando e a cultura do país em que aquela língua é utilizada.
A urgência para aprender uma língua estrangeira pode estar ligada ao objetivo de se alcançar uma distinção social mais do que no próprio uso do idioma. Por isso, a Linguística Aplicada precisa buscar novas e melhores formas para facilitar o processo de ensino-aprendizagem.
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Na verdade, o livro didático, ano a ano, tem melhorado na forma de abordagem do tema.
No entanto, há críticas ao livro didático, já que muitas vezes ele assume um papel de autoridade do saber para professores e alunos, direcionando o ensino, visto que a maioria das instituições que se propõe a ensinar línguas estrangeiras usa essa ferramenta.
Por outro lado, dada a realidade socioeconômica, o livro didático é bem-vindo na maioria das escolas, especialmente as públicas, uma vez que normalmente os alunos têm dificuldade para aquisição de material e os livros são distribuídos gratuitamente pelo Governo Federal.
Também devemos lembrar que, para aprender uma língua estrangeira, além de se usar os livros didáticos, é possível a utilização de músicas, filmes, aplicativos de idiomas e outros recursos digitais e disponíveis na internet. De forma cada vez mais rápida e eficaz, inclusive remotamente ou a distância, os recursos didáticos vão sendo disponibilizados graças aos avanços da tecnologia e às pesquisas em Linguística Aplicada.
Ensino de língua Portuguesa e LA
Além do ensino de língua estrangeira, a Linguística Aplicada tem focado o ensino da escrita em língua portuguesa e, muitas vezes, tem usado o livro didático com essa intenção, tal como acontece no ensino de língua estrangeira.
Logo, a Linguística Aplicada vem investigando o ensino de língua portuguesa na escola, já que se entende que o ensino implica todos os usos e regularidades da língua.
Para o estudante é importante conhecer a língua materna a fim de poder utilizá-la adequadamente nas mais variadas situações comunicacionais de seu cotidiano.
Por isso, o ensino de língua portuguesa não pode ser descontextualizado tampouco autoritário. Nesse sentido, é fundamental buscar novas estratégias para o ensino sob novas perspectivas, provocando reflexões e ressignificação para quem ensina.
Não é segredo que, apesar das transformações no ensino da língua portuguesa, nota-se uma dificuldade crescente dos alunos que terminam o ensino médio em escrever de acordo com as normas da gramática normativa, além da pouca habilidade para o registro claro e articulado de suas ideias.
Com as mudanças da sociedade, além do desafio do ensino normativo da língua portuguesa, surge a necessidade de entender os contextos situacionais e verbais em que ocorrem as situações de interação verbal, de modo que os alunos possam compreender como determinado item da gramática funciona no uso real da língua.
O trabalho com a língua não fica limitado ao estudo de frases soltas, mas considera o texto, ultrapassando o ensino de regras gramaticais e ampliando a análise do texto, por intermédio de práticas que levam à reflexão.
Há um desafio diante da grande insatisfação dos alunos com o ensino da língua portuguesa. Muitos não percebem, em sua formação, a capacitação para interagir com textos diferentes e o trabalho com diferentes linguagens em contextos distintos.
Esses alunos não percebem que os conhecimentos aprendidos na escola nas aulas de língua portuguesa são suficientes para atender às necessidades do uso do idioma em situações concretas da vida.
Os PCNs já apontavam, na virada do século XX para o XXI, essa situação problemática e criticavam o ensino de português reduzido ao aprendizado das regras gramaticais, quando afirmam que o problema não está na gramática, mas em como ensinar os fatos e as regras da gramática diante do ato comunicativo.
A gramática extrapola em muito o conjunto de frases justapostas deslocadas do texto. O texto é único como enunciado, mas múltiplo enquanto possibilidade aberta de atribuição de significados, devendo, portanto, ser objeto também único de análise/síntese.
(BRASIL, 2000, p. 18-19)
Os PCNs trouxeram uma ruptura com alguns modelos de ensino e de aprendizagem de língua, levando o professor a estudar mais para se atualizar — tirando alguns da zona de conforto em que se encontravam — e contribuindo para que posicionamentos fossem revistos e se buscassem com mais criatividade os objetivos de promover melhores condições para a sociedade como um todo.
Isso tudo provoca uma reflexão sobre a função do professor e sua práticaem sala de aula, podendo gerar novas tentativas para melhorar seu desempenho ou mesmo a reafirmação de uma forma anterior de trabalhar.
O professor tem um papel essencial na formação na área da linguagem dos estudantes e precisa ter a devida noção das práticas necessárias para o êxito no ensino.
Integração entre fala e escrita
Ensino de português integrado
Com a finalidade do ensino da língua portuguesa, a escola tem como objetivo incentivar o estudante no desenvolvimento linguístico, embora seja comum a instituição dividir o ensino em “caixinhas”, como:
Leitura e compreensão
Literatura
Gramática
Produção de texto
A forma fragmentada impede uma reflexão mais profunda sobre as questões da linguagem.
Quase sempre, o estudante começa decifrando a língua, para depois partir para a análise por meio de atividades separadas.
A Linguística Aplicada tem demonstrado que o ensino da língua portuguesa deve valorizar a fala, porque é a modalidade da língua que se aprende primeiramente e que está mudando constantemente, ou seja, a língua passa por inúmeras transformações, mas a escola não consegue acompanhar, porque se fundamenta essencialmente na língua que se manifesta na escrita. Considerando as características da língua falada, ela precisa também ser trabalhada no contexto de sala de aula.
Outra questão posta é que não pode haver desarticulação entre leitura e produção de textos, já que eles formam um todo. No máximo, sugere-se que sejam feitas separações com o objetivo de facilitar o estudo, mas mantendo a sua relação com outros elementos.
Por isso, afirmamos que gramática, texto e produção jamais devem ser separados.
Outro problema facilmente detectado pelos professores em sala de aula é a dificuldade que os alunos apresentam para escrever e reproduzir a língua oral na produção textual.
Geralmente, os alunos escrevem do modo que falam antes de desenvolver maturidade na competência escritora.
Daí a necessidade de se trabalhar a oralidade e as diferenças e semelhanças entre a fala e a escrita.
Tais como as diferenças léxicas para a constituição de textos, a sintaxe tem características diferentes para as duas modalidades da língua, entre outras.
O professor ainda precisa enfatizar que na interação entre a fala e a escrita há algumas diferenças:
Fala
A interação ocorre face a face.
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Escrita
Os interlocutores não estão presentes no mesmo espaço e tempo.
Em geral, isso implica um não planejamento prévio na fala, diferentemente da escrita. Assim, a fala não pode ser revisitada, enquanto a escrita pode ser revista ou reelaborada. De certo modo, a fala mostra o processo criativo, enquanto a escrita, seu resultado.
O trabalho integrado de ensino do português deve articular as atividades com texto e, também, com elementos da gramática.
A Linguística Aplicada esclarece que os estudos da linguagem devem ser feitos de modo a ampliar a capacidade de comunicação do estudante.
Dica
Uma das sugestões é trabalhar a partir da produção e recepção dos textos, já que eles servem para mostrar a língua de forma mais ampla em seu funcionamento real.
Assim, é importante trabalhar com textos para desenvolver a competência comunicativa dos alunos, visto que ela se faz por intermédio dos textos, e um dos aspectos mais importantes do ensino de línguas é capacitar o estudante a produzir e compreender os enunciados de modo adequado a cada contexto de interação.
É importante ressaltar, porém, que em algumas categorias da gramática existem elementos que não podem ser vinculados aos textos, por isso, apesar da importância do trabalho com textos, ele não é capaz de dar conta de todas as necessidades do professor e do aluno.
Integração entre escrita e leitura
Não podemos esquecer que vivemos em uma sociedade letrada e que o domínio de diferentes manifestações linguísticas é um fator primordial para que o indivíduo consiga se inserir socialmente. Infelizmente, diversas avaliações do ensino em nosso país alertam para a qualidade baixa de leitura, ou seja, temos problemas no domínio da língua escrita e nas práticas de leitura.
O PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) coloca o Brasil entre os últimos países nos seus critérios avaliativos, bem abaixo de países que se enquadram na mesma categoria.
Relembrando
É essencial lembrar que esse processo de associar um sinal gráfico a um som da língua, em uma abordagem mais tradicional da leitura, é um processo que está no nível do automático. O aprendizado desse processo geralmente ocorre no ensino fundamental, embora esse período não seja suficiente para tornar o aluno um leitor de nível satisfatório de compreensão da leitura.
O PISA, ao considerar os 5 níveis de complexidade da leitura, mostra que mais da metade de nossos alunos ficaram no primeiro nível (uma parte ficou abaixo).
O processo de compreensão é resultado do conhecimento adquirido e da interpretação de outros níveis ligados ao ato de leitura.
Os cinco níveis são:
Fonológico
Sons da língua.
Ortográfico
Representação escrita do sistema linguístico.
Morfossintático
Combinação de morfemas em estruturas maiores, como a palavra, a frase ou o texto.
Semântico
O sistema de significados.
Pragmático
O conhecimento ligado ao contexto extralinguístico.
Uma proposta comumente usada é da integração, quando há um intercâmbio entre as diversas habilidades do leitor e do texto. Assim, o leitor usa seu repertório de conhecimento para dar sentido a determinado texto.
No entanto, se o aluno tiver pouca bagagem de leitura, um repertório pobre, isso dificulta a escrita, limitando o seu vocabulário.
Aprendemos, porém, continuamente, em qualquer ambiente, com todas as pessoas, mesmo sem notarmos, em uma bate-papo informal ou ouvindo músicas, lendo um cartaz ou andando pelo centro da cidade olhando vitrines, isto é, o nosso cérebro processa todas essas informações que chegam a ele por meio de nossos sentidos, produzindo algum tipo de conhecimento.
Assim, o processo de aprendizagem da escrita tem uma grande importância para a leitura. Quando o indivíduo lê, ele incorpora certas estruturas gramaticais, a complexidade da sintaxe, o vocabulário, a adequação textual e até mesmo a pontuação devida para aquela situação.
Por intermédio da leitura, o usuário da língua adquire a estrutura básica linguística, que muitas vezes não foi ensinada na escola, ou seja, a leitura é uma ferramenta muito importante no processo de aprendizagem de uma língua, sendo um instrumento que todo processo precisa enfatizar.
O professor que tem acesso às propostas da Linguística Aplicada passa a ter condições de escolher a melhor forma de trabalhar com seus alunos e de estruturar atividades que efetivamente ajudem no domínio da língua, de modo a ter uma maior competência no ato da comunicação.
O fato é que quanto mais se estudam as propostas de determinada área, maiores são as oportunidades de trabalhar de maneira mais adequada com a língua, por isso é fundamental que o professor tenha uma boa base de formação em Linguística, o que irá ajudá-lo tanto no ensino do idioma materno quanto no ensino de língua estrangeira.
Dica
Além da formação inicial na licenciatura, por exemplo, é preciso buscar cursos de aperfeiçoamento para que se possa prosseguir nas pesquisas sobre Linguística Aplicada.
Atualmente, há muito material disponível, seja em forma de artigos, vídeos ou livros, inclusive trazendo excelentes propostas metodológicas bem práticas para o uso em sala de aula. São trabalhos que versam sobre ensino-aprendizagem, seja de língua materna ou estrangeira, enfocando:
A produção de textos orais e escritos
A leitura de textos e o ensino do léxico e do vocabulário
O ensino de gramática
Todo esse material serve para que o professor possa desempenhar bem o exercício do magistério.
No campo da formação docente, a expectativa é que a Linguística Aplicada continue a contribuir para o entendimento de que a linguagem tem um aspecto socialmente construído, por isso, o professor precisa ser conscientizado politicamente acerca dos problemas da linguagem e do vínculo da língua com o contextosocial do falante.
Além disso, o profissional da educação pode perceber que a interação na sala de aula durante o processo de ensino pode apresentar informações que ajudam o docente a compreender melhor a sua prática pedagógica e a experiência de seus alunos, buscando um processo de melhoria em suas práticas de ensino.
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O campo de atuação da Linguística Aplicada
Neste vídeo, serão apresentados as pesquisas em Linguística Aplicada, seu campo de atuação e sua contribuição para questões diversas relacionadas com a língua.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
1:24 min.
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Principais áreas de atuação da LA
Inserindo imagem...
2:05 min.
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Linguística Aplicada e a superação do ensino tradicional de português
1:58 min.
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Linguística Aplicada e a relação entre fala e escrita
O campo de atuação da Linguística Aplicada
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Uma das áreas de atuação da Linguística Aplicada é o ensino da língua materna, já que para o estudante é fundamental conhecê-la e utilizá-la de maneira adequada. A partir da contribuição dos estudos da Linguística Aplicada, assinale a alternativa que indica a maneira adequada de estimular o ensino da língua materna.
A
Promover o engajamento dos alunos na luta por uma escola em que o português genuíno seja ensinado, de modo a resgatar a importância da norma culta.
B
Contextualizar o ensino da língua a partir de seu uso real e promover a reflexão sobre a língua por parte dos alunos.
C
Explicitar as desigualdades existentes no falar, promovendo a unificação e a homogeneização da fala em qualquer região do país.
D
Focar o ensino a partir do texto, deixando de lado os elementos e as categorias gramaticais nas aulas de português.
E
Centrar o trabalho no livro didático, já que ele incorpora todas as inovações produzidas pelas pesquisas em Linguística Aplicada e alcança todos os alunos matriculados nas escolas.
Conforme os estudos da LA, o ensino de língua materna precisa ser contextualizado e levar em conta a realidade do aluno, buscando novas metodologias de ensino, sem abrir mão da reflexão dos alunos. Desse modo, o ensino de língua materna deve integrar a escrita, a leitura, a fala, o texto, os elementos e as categorias gramaticais, aproximando o aprendizado da língua do mundo real e das necessidades de comunicação e interação apresentadas pela vida em sociedade.
Questão 2
Analise as afirmativas a seguir, considerando o campo de atuação da Linguística Aplicada.
I– Desde seu começo até a atualidade, o campo de atuação da Linguística Aplicada se define em torno do ensino de língua estrangeira.
II– O ensino-aprendizagem de língua materna, com questões relacionadas aos desafios da alfabetização e do letramento e à formação de professores, é um dos campos de atuação da LA.
III– Na LA, tem surgido o interesse pela pesquisa voltada ao uso da linguagem no contexto da vida em sociedade, por exemplo, do mundo do trabalho.
Está correto apenas o que se afirma em
A
I.
B
II.
C
III.
D
I e II.
E
II e III.
Linguística Aplicada ao Ensino
Prof. Nataniel Gomes
Descrição
Descrição linguística, diversidade linguística e linguística aplicada ao ensino de língua.
Propósito
Compreender as contribuições e implicações da Linguística Aplicada no ensino de língua a fim de desenvolver as competências para a atuação como professor de língua portuguesa na educação básica.
Objetivos
Módulo 1
Descrição Linguística e Ensino
Identificar a relação entre descrição linguística e ensino.
Módulo 2
O Professor e a Diversidade Linguística
Identificar as implicações da diversidade linguística em sala de aula.
Módulo 3
Linguística Aplicada ao Ensino de Leitura e Escrita
Identificar as contribuições da Linguística Aplicada para o ensino de leitura e escrita.
Introdução
A Linguística Aplicada, como uma subárea da Linguística, tem feito diferença nos estudos da língua em situações reais de uso, incluindo aspectos relacionados com identidade, valores e crenças, entre outros. Desde seu surgimento, a Linguística Aplicada também traz seus aportes teóricos para o tema do ensino de língua.
A contribuição da Linguística Aplicada ao ensino-aprendizagem de língua pode ser reconhecida em diferentes elaborações teóricas, propostas metodológicas e até mesmo por meio de críticas a procedimentos tradicionais e equivocados de se abordar a língua.
Assim, é muito importante conhecer as contribuições da Linguística Aplicada para as questões relacionadas com o ensino de língua, seja a língua materna (L1) ou uma língua estrangeira (L2).
Tudo isso, afinal, pode ajudar a escola a se transformar em um espaço mais motivador, inclusivo e democrático de aprendizagem da língua, tornando a sala de aula uma experiência voltada para a cidadania exercida por meio da linguagem.
1 - Descrição Linguística e Ensino
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar a relação entre descrição linguística e ensino.
Teoria e prática nos estudos linguísticos
Linguística e a Relação Teoria-Prática
Para começar nossa discussão sobre a relação entre descrição linguística e ensino, é preciso, primeiramente, chamar sua atenção para a falsa dicotomia entre a linguística e a prática cotidiana.
Muitos estudantes acabam tendo a impressão de que as elaborações teóricas da linguística se opõem à prática, às situações reais e às necessidades do uso da língua. Por isso, é preciso reconhecer que os estudos linguísticos partem da prática e voltam para a prática.
O professor e linguista indiano Kanavillil Rajagopalan é bastante enfático ao comentar essa situação de separação entre os estudos linguísticos e a prática ou uso da língua.
Eu acho que a maior desgraça que poderia ter acontecido com a nossa disciplina, e qualquer outra, é a divisão de bolo entre teoria e prática. Foi um desastre, é um desastre! Eu me recuso a aceitar essa distinção simplesmente! Um teórico que não pensa na prática é um teórico inútil.
(RAJAGOPALAN, 2003, p. 180)
A linguística pode ter inúmeros desdobramentos para a educação, indo da qualificação profissional até o ensino propriamente dito, servindo como recurso importante para se trabalhar a interação, a comunicação e a expressão em diversas áreas.
Cada área da linguística tem uma abordagem bastante específica para o fenômeno da linguagem. Todas elas têm dado a sua contribuição para investigação da linguagem, cada uma a seu modo.
É preciso estarmos cientes de que o professor, ao fazer a opção por uma certa corrente teórica, o que inclui uma metodologia específica, uma abordagem particular e um objeto a ser descortinado, acaba assumindo uma determinada perspectiva teórico-metodológica que pode ser misturar também a crenças e valores que o professor carrega consigo.
Se alguém adota uma perspectiva da língua a partir do linguista suíço Ferdinand de Saussure, de viés estruturalista, assumirá uma abordagem que prevê que a língua é um sistema.
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Já quem tem uma análise da língua a partir do linguista norte-americano Noam Chomsky, teórico da visão gerativista, entenderá que a gramática é inata e marcada por princípios e parâmetros.
Outra abordagem poderia ser feita a partir do linguista russo Roman Jakobson, teórico formalista, que via a língua como um sistema que tem propósito comunicativo e estruturado a partir dos Seis elementos da comunicação, com os respectivos enfoques nas funções emotiva, conativa, metalinguística, poética, fática e referencial da linguagem.
Seis elementos da comunicação
Emissor, receptor, código, mensagem, canal e contexto.
Ao adotarmos uma abordagem do linguista norte-americano William Labov, da sociolinguística variacionista, assumiremos que a língua é marcada por fatores sociais, como classe social, escolaridade, sexo, idade, que revelam a diversidade linguística exercida pelos falantes dentro da comunidade.
O linguista William Labov.
Vamos considerar um poucomais a última abordagem que mencionamos, o enfoque sociolinguístico com ênfase na variação linguística.
A abordagem da sociolinguística
A perspectiva da sociolinguística ainda é muito recorrente nas salas de aula e relaciona as variantes linguísticas com elementos sociais que rodeiam os falantes.
Esse tipo de abordagem no ensino de língua materna ajudou a diminuir o preconceito em relação ao uso de variantes linguísticas, afinal, todas as manifestações apresentam uma motivação e uma justificativa a partir do contexto social em que o falante está inserido.
Desse modo, a própria norma culta passa a ser vista como mais uma variante entre tantas outras, que, por razões sociais, políticas e culturais, passou a ter mais prestígio e uma marca de status, servindo como instrumento de ascensão social.
Ao descrever a língua a partir de um olhar sociolinguístico, o docente pode valorizar, incorporar e ainda usar em sala de aula outras variantes, não apenas a norma culta, de modo a expressar marcas linguísticas que são eficientes na comunicação e que revelam o uso cotidiano de outros grupos sociais, sendo formas genuínas de manifestação da língua materna adequadas ao seu uso.
Logo, deve-se apresentar também outras variantes, como a variante de prestígio, na escrita e na fala, que precisa ser trabalhada no ambiente escolar, dado o seu papel político e ideológico de ascensão social. Afinal, para muitos alunos, o aprendizado da língua culta só é possível no contexto da educação formal, já que esses alunos vêm de famílias e contextos sociais em que há baixo nível de escolaridade e quase nenhum domínio da língua culta.
A abordagem da pragmática
Um outro olhar, entre tantos, que pode ser utilizado para a linguística de sala de aula, é o da pragmática, que trata de elementos externos para a produção e para a recepção da linguagem a partir da interação entre os falantes.
Atenção!
Para a abordagem pragmática, os elementos extralinguísticos, como a forma de falar, a intenção, as informações implícitas e os atos de fala, são destacados para se atingir o sentido.
Do ponto de vista do ensino, a perspectiva pragmática contribui para:
A descrição sobre os modos de produção de sentido por meio da língua e sua organização.
A averiguação acerca do comportamento linguístico, de acordo com a cultura de cada grupo.
A promoção do caráter interacional da linguagem, seja falada seja escrita, pois existe a necessidade de um interlocutor.
Estudos linguísticos e prática docente
Implicações dos estudos linguísticos na prática docente
Propostas ou abordagens do tipo que acabamos de comentar brevemente tiraram o professor do papel de dono exclusivo do saber, sem desmerecer o seu papel, mas enfatizando os elementos envolvidos no processo interativo.
Hoje, entende-se que o docente tem um papel de mediador nas relações linguísticas e que o saber é construído de forma conjunta, assim como todas as relações humanas.
Desse modo, surge uma prática pedagógica mais democrática no ensino-aprendizagem de língua, bem mais próxima dos discentes, que pertencem a diferentes grupos sociais. Essa prática pedagógica, inspirada em abordagens teóricas mais próximas das situações reais de uso da língua em seus contextos, se afasta de um modelo que entende a língua de forma homogênea e bastante idealizada a partir do viés normativo.
O professor e linguista brasileiro Luiz Fiorin nos lembra de que um dos desafios da ciência é ser prática, o que se aplicaria certamente à linguística (FIORIN, 2003).
Fiorin trata dessa questão no contexto da universidade em termos da dicotomia entre criação e divulgação, dois processos que ele afirma não poderem ser separados.
O compromisso com a educação está na ordem da divulgação. Um fato evidente é que o avanço da linguística pode ajudar na educação. Divulgar um avanço da ciência é tão importante como fazer avançar a ciência, porque, na verdade, a ampliação da linguagem humana, a consciência da linguagem humana, a compreensão dos seus mecanismos dá ao homem a possibilidade de ascender à construção cultural que ele fez ao longo da história; é por meio da linguagem que eu tenho acesso a tudo aquilo que torna o homem especialmente humano. A linguística não pode em momento nenhum se alhear dessa preocupação de que ela tem que, digamos, socializar as descobertas, para que cada vez mais os homens ascendam a esses benefícios, ampliem a sua capacidade de linguagem, ampliem seus horizontes linguísticos com conhecimento de outras normas, de outros registros, de outras variantes... no sentido de que eles possam se tornar mais plenamente humanos. Esse é o papel da linguagem.
(FIORIN, 2003, p. 74-75)
De acordo com Fiorin (2003), ao pensarmos sobre a relação da linguística com a escola, podemos verificar como a compreensão do fenômeno da linguagem pode ser importante para todos, inclusive os estudantes, desmistificando conceitos tão estratificados na sociedade, como a homogeneidade da linguagem e suas transformações.
Os estudos linguísticos têm dado importante contribuição ao desfazerem o mito da homogeneidade da língua. Compreender “o fenômeno linguístico como um fenômeno intrinsecamente heterogêneo e dinâmico” vai contra a concepção tradicional da linguagem como algo homogêneo e estático, ao mesmo tempo em que contribui para construir uma educação democrática, já que a linguagem passa a ser concebida como alteridade, algo heterogêneo, assim como os demais aspectos da realidade humana (FIORIN, 2003, p. 74).
Se não há homogeneidade na linguagem, cabe à linguística e ao professor de língua atuar em favor da educação para a democracia, da educação para a cidadania. Nesse sentido, a democracia não é entendida como o governo da maioria, mas como “um sistema político em que existe um respeito à diferença, um respeito à diversidade” (FIORIN, 2003, p. 75).
Quando a linguística evidencia a heterogeneidade da língua, a sua diversidade e pluralidade, está contribuindo para uma educação democrática, uma educação para a tolerância (FIORIN, 2003).
A dicotomia certo/errado em língua
É comum muitos professores de língua portuguesa valorizarem questões como certo e errado no uso da língua, mas os linguistas passam a relativizar os critérios que são empregados com mais frequência.
O desafio dos profissionais da língua portuguesa é ensinar o modo culto, prestigiado, de falar e escrever em nossa língua, mas sem reduzir o ensino apenas a isso, o que seria um empobrecimento enorme do ato de lecionar, porque a norma culta não vem de um valor intrínseco da língua. Ou seja, não existem formas que sejam intrinsecamente erradas ou certas, com exceção da ortografia, que passa por uma legislação bastante específica.
O conceito de certo e errado passa por uma série de necessidades e convenções assumidas pela sociedade, resultando em normas de comportamento, de estilo musical e até do uso da língua. Quando uma dessas variedades é escolhida, as outras manifestações são condenadas.
Por exemplo, uma frase como “Os carioca ama praia e carnaval”, geralmente, não é utilizada pelos usuários que pertencem à elite socioeconômica, pois isso geraria algum desconforto. Esse incômodo, entretanto, desaparece ao falar em uma língua cuja concordância verbal é inexistente ou está limitada ao uso do artigo, como no caso do inglês: “Cariocas love the beach and football”.
Assim, a norma culta é uma variedade que foi escolhida como padrão, enquanto as outras são rejeitadas no ensino tradicional.
O senso comum gerou a noção de que o papel do professor de língua materna é ser um juiz togado que bate o martelo para definir o que é certo ou errado na língua. Mas de uma perspectiva linguística, apenas depois que o profissional das letras passar a conhecer com profundidade a língua, suas variações e modalidades, ele poderá ter ideias mais claras sobre o ensino de língua e repensar suas práticas.
Assim, o ensino de língua deveria se voltar para a sua origem, como os gramáticos faziam na Grécia e em Roma, cuja preocupação era com a eficiência do uso da língua, e não com a prescrição, ou seja, aintenção era que o falante estivesse preparado para exercer seus direitos por meio da língua.
Quando a gramática passou a ter um fim em si mesma, o ensino passou a sofrer com isso, perdendo a reflexão sobre seu uso. Devemos nos lembrar de que trazemos a gramática internalizada em nossa mente, logo o desafio é refletir sobre ela, explicitando-a, em vez de apresentar exercícios que se encaixem naquilo que foi decorado e posteriormente cobrado em avaliações escolares.
A descrição linguística e suas contribuições
As aplicações da descrição linguística
A língua pode ser estudada a partir de diferentes perspectivas, seja descritiva, social, cognitiva ou outra perspectiva, e como um sistema fechado.
Geralmente, quando se fala sobre o estudo descritivo da língua, ele pode ser dividido no nível fonético-fonológico, morfológico e sintático, constituindo a gramática.
Vamos tratar do nível fonético-fonológico, que é o primeiro nível, para demonstrarmos um pouco a contribuição da descrição linguística.
Exemplo
O nível fonético-fonológico pode ser usado para análises da língua portuguesa, como nos sons [t] e [tς].
Encontramos [t] como som inicial na palavra “tatu”.
Temos [tς] como som inicial da palavra “tia”, no dialeto do Rio de Janeiro.
Em português, o [tς] não distingue palavras. A mesma palavra é pronunciada como [‘tia] em algumas regiões do Brasil e como [‘tςia] em outras, mas não geram significados diferentes, ou seja, a representação mental de [t] e [tς] é a mesma.
Do ponto de vista do som, percebemos a diferença entre eles, mas é uma diferença que não muda o significado.
Algo contrário acontece entre [p] e [b], tanto que “pato” e “bato” são palavras diferentes pela simples mudança de um som.
Assim, na língua portuguesa, os sons [t] e [tς] são duas realizações possíveis do mesmo fonema. Já em algumas línguas, como o italiano, esses dois sons aparecem como dois fonemas diferentes.
Se no Rio de Janeiro se pronuncia [tςia], em outros lugares do Brasil se pronuncia [tia]. Essa é uma diferença diatópica, em outras palavras, uma diferença geográfica. O [tς], utilizado no dialeto carioca, é um alofone de /t/.
Assim, a Linguística Aplicada pode informar e formar profissionais capazes de detectar problemas e buscar soluções práticas que serão investigadas na tentativa de solucioná-los, gerando novas hipóteses e novas investigações, contribuindo com novos conhecimentos para o ensino.
A partir disso, pode-se gerar uma consciência de que o docente tem valor real e potencial para fazer um trabalho diferenciado no ensino.
Como afirma Castilho:
Temos de lembrar que nosso ofício maior não é ensinar a crase, é formar o cidadão de um estado democrático. Na democracia, exige-se do cidadão senso crítico, capacidade de julgar entre alternativas e escolher a que lhe pareça melhor. Dele se exige ampla exposição à variedade de possibilidades, à variedade de entendimentos e também à variedade linguística. Se lhe prescrevermos sem mais debates o que é considerado certo e condenarmos o que os manuais afirmam ser errado, estaremos matando na fonte a formação do cidadão. Isso é mais grave no caso dos alunos de classes subalternas hoje a maioria. Estaremos destruindo seu apego à variedade linguística aprendida em família, um dos fundamentos de sua identidade psicossocial. Chegar à escola e só ouvir que você e sua família falam errado é receber uma sentença de exclusão.
(CASTILHO, 2002, p. 12)
Na visão de Castilho (2002), a tarefa do professor é levar o aluno a discernir qual é a variedade linguística adequada a cada contexto de comunicação e interação. Essa tarefa é coerente com a perspectiva de uma escola e sociedade democráticas, em que os contrários convivem.
Assim, não seria democrático a escola e o professor estarem limitados ou reduzidos “a um único recorte de língua, mesmo que seja aquele prestigiado pela sociedade, condenando o resto” (CASTILHO, 2002, p. 12).
Podemos entender, então, que o objetivo do ensino da língua materna é preparar os cidadãos para o exercício dos seus direitos e deveres, capacitando-os para a integração ao mercado de trabalho com possibilidade de ascensão.
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Descrição Linguística e Ensino de Língua
Assista agora a um vídeo em que são comentadas as abordagens da Linguística em relação à língua e ao ensino de língua, destacando a importância de descrição linguística na formação e prática do professor de língua portuguesa.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
2:52 min.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Heterogeneidade da língua e o respeito à diferença no ensino
2:28 min.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
A dicotomia certo X errado no ensino de língua
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Na relação entre o trabalho de descrição linguística e o ensino de língua, é possível identificar como contribuição da Linguística Aplicada
A
a promoção de abordagens teóricas que reconheçam e promovam a homogeneidade da língua.
B
a dissociação entre os estudos teóricos e as práticas relacionadas com o uso da língua.
C
o reconhecimento da heterogeneidade da língua e a superação da dicotomia entre teoria e prática.
D
o reconhecimento da dicotomia entre teoria e prática, e o entendimento da língua como fenômeno estático.
E
a separação entre a pesquisa linguística e a divulgação dos resultados dessa pesquisa no contexto escolar.
Os estudos linguísticos, particularmente aqueles do campo da Linguística Aplicada, podem ajudar os professores de língua a reconhecerem o fenômeno linguístico como algo heterogêneo e dinâmico. Tal reconhecimento tem implicações no ensino de língua, pois evita posturas meramente prescritivas e dogmáticas em relação à língua. Assim, a pesquisa e os aportes teóricos se aproximam da prática, contribuindo para mudanças no ensino-aprendizado de língua.
Questão 2
O fato de a palavra “tia” ser pronunciada como [‘tia] em determinadas regiões geográficas e como [‘tςia] em outros lugares aponta para uma variação no nível fonético-fonológico que não implica mudança de significado da palavra. Ao se dar conta de tal descrição linguística, o professor de língua portuguesa deve concluir que
A
a língua apresenta variações que demandam um ensino centrado na norma culta.
B
a língua apresenta variações que demandam um ensino centrado nas variedades populares.
C
a língua se reduz a variações nos falares, mas sem implicações no aprendizado escolar.
D
a língua é heterogênea e, por isso, a tarefa principal do professor é definir o que é certo.
E
a variação linguística aponta para a necessidade de adequação das variedades a cada contexto de comunicação.
Na abordagem fonético-fonológica da língua, uma possibilidade é perceber as variantes linguísticas em termos de pronúncia, o que destaca a necessidade de o professor ajudar o aluno a compreender esses fenômenos a partir da descrição linguística e perceber quando e onde cada variante é adequada.
2 - O Professor e a Diversidade Linguística
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as implicações da diversidade linguística em sala de aula.
Diversidade linguística
A Diversidade no fenômeno social da linguagem
Nosso país possui uma enorme diversidade linguística. Tal diversidade reflete a pluralidade cultural de nosso território, que se manifesta em costumes, tradições, crenças e outros aspectos. No entanto, as variações da língua, apesar do enriquecimento cultural, linguístico e de repertório, ainda são alvo de preconceito.
Vale destacar que, além da língua portuguesa, convivem em nosso país quase 200 línguas indígenas – no período do descobrimento eram mais de 1.200 – sem contar comunidades de falantes do alemão, do italiano, do japonês, do espanhol, entre outras.
Saiba mais
No mundo, são mais de 6.000 línguas faladas, sem contar os dialetos e algumas divisões altamente questionáveis, e as línguas impostas que levaram à extinção de inúmeras outras.
Em nosso caso, a diversidade linguística está relacionada à existência eà convivência de diversas línguas diferentes, além dos dialetos do próprio português espalhados por toda a nação. O conceito da diversidade implica a defesa de que haja respeito por todas as línguas e variantes, promovendo a preservação das línguas que estão em extinção.
A proposta de estudar a diversidade linguística busca promover o ensino e o respeito às diferenças de cada língua, de cada falar, de cada região.
Ao nos referirmos à língua, precisamos ter em mente que a sua função é a comunicação e a interação entre os indivíduos. É por intermédio do uso da língua que podemos questionar, entender, argumentar e transmitir informações.
As diferenças existentes nas línguas têm origem, em parte, no contato com outros idiomas, nas mudanças ocorridas com o passar do tempo.
Em relação aos regionalismos ou falares regionais, notamos que cada estado da federação possui características próprias, que o distingue dos outros, o que também se manifesta no aspecto linguístico, no jeito de falar, o chamado sotaque, por exemplo, e nas palavras típicas daquela localidade.
As variações linguísticas também ocorrem graças a fatores ligados à faixa etária dos falantes, à classe social, à profissão, entre outros.
A lição mais importante que qualquer ciência apresenta, incluindo a linguística, é que não existe um fenômeno bom ou ruim, mas que todas as manifestações são igualmente legítimas.
O que temos, em termos linguísticos, é uma variação determinada por fatores vários, que, normalmente, não afetam a comunicação da língua. É impossível que um território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, com um alto índice populacional de mais de 200 milhões de habitantes, pudesse manter a língua como um todo uniforme, sem variações.
Se, por um lado, há em nosso território uma unidade linguística, que é a língua portuguesa, ela passa por diversidade de falares, o que não dificulta que um falante do Norte do país interaja com um falante do Sudeste, mesmo com variações na fonética, na estrutura sintática ou no léxico, sem comprometer a unidade do português.
Por isso, se aplica a máxima "unidade na diversidade e diversidade na unidade" como questão central sobre a língua portuguesa.
Como a língua é uma entidade social, ela está em constante modificação, assim como qualquer sociedade. Por isso, estigmatizar ou rejeitar qualquer modo de falar é um grande equívoco, porque, no final das contas, é rejeitar aquela comunidade da qual o falante faz parte.
Afinal, não existe variante intrinsecamente superior a outra, mas um prestígio de algumas formas graças ao impacto econômico, por exemplo, que lhe dão maior destaque. Um exemplo é a norma culta, que está ligada ao poder que aquela camada tem sobre a sociedade.
A escola frente à diversidade linguística
Diversidade linguística e o desafio da escola
A escola precisa estar atenta a essas questões porque o contexto escolar reúne diversas realidades culturais, sociais e econômicas no mesmo espaço. Ao se abrir espaço para o preconceito linguístico, contribui-se para uma queda na qualidade educacional de nossos alunos. Fazer comentários jocosos ou desprezar certos modos de falar é danoso para a educação.
As variações linguísticas são divisões que surgem naturalmente nas línguas, que são distintas da norma padrão, porque têm a ver com as convenções da sociedade, com o momento histórico, o contexto ou a região em que o falante está inserido, sendo um tema amplamente estudado pela linguística.
Uma língua só vai deixar de mudar quando morrer. Conforme diz o gramático e professor Evanildo Bechara, “uma língua que só apresenta um só estilo já não é uma língua viva” (BECHARA, 2009, p. 25).
Nesse sentido, fica claro que muitas palavras utilizadas hoje na região em que você vive, provavelmente, não existiam no passado, assim como formas de falar que os jovens utilizam diferem bastante da de seus pais e avós. Tudo isso contribui para a pluralidade linguística de nosso idioma.
Assim surgem diferentes variantes da língua que apresentam características próprias. Podemos dividir as variações linguísticas em quatro grupos:
Diastráticas
Têm origem nas diferenças entre os diversos grupos e classes sociais.
Diatópicas
Têm origem nas diferentes regiões geográficas.
Diacrônicas
São características de certas épocas históricas e variam conforme o tempo.
Diafásicas
São características de certos contextos comunicativos, em situações de maior ou menor formalidade.
Infelizmente, as variações linguísticas quase sempre são vistas como formas utilizadas pelas pessoas que não têm um bom nível de escolaridade, ou seja, é uma forma de ver a questão bastante preconceituosa e errada, porque tal manifestação linguística é extremamente rica e demonstra a complexidade e beleza da relação entre língua e sociedade.
Assim, o ensino da língua materna precisa levar em conta as variações linguísticas e a heterogeneidade da língua. Com isso, o professor será capaz de desmitificar a noção amplamente desenvolvida de que são erros.
Um trabalho assim é capaz de investigar sobre as variações, diminuir o preconceito linguístico, a partir da observação de elementos que interferem na fala. Com isso, a sociedade e a escola podem interagir para um melhor desenvolvimento das aulas de língua materna.
O estudo da língua materna não pode ficar restrito apenas à escrita, mas precisa analisar a forma falada, já que é por meio da espontaneidade da manifestação oral que se observam elementos que não ficam restritos à norma culta e apresentam características regionais. Entender tudo isso pode contribuir para um melhor desempenho como professor de língua portuguesa.
A origem histórica da norma padrão
A concepção de língua que a maioria das pessoas traz vem da Grécia antiga, no século III AEC, em que a disciplina gramatical era voltada para a elite, ou seja, voltada para os que eram considerados intelectuais naquele momento histórico.
AEC
Antes da Era Comum
Essa elite era formada por aqueles que recebiam a cidadania a partir de certos requisitos, excluindo-se os escravos e as mulheres, formando um grupo muito pequeno que teria condições de se alçar à aristocracia.
Nesse sentido, o modelo utilizado por essa parcela da população passou a ser considerado padrão e deveria ser seguido por toda a população.
Conforme nos lembra o linguista brasileiro Marcos Bagno, a noção de erro em relação à língua nasce, no mundo ocidental, juntamente com “as primeiras descrições sistemáticas de uma língua específica, a língua grega” (BAGNO, 2007, p. 62).
No Brasil, a realidade não foi muito diferente. A norma utilizada pelo português padrão foi inspirada em um modelo único e de prescrição da língua, a partir de um olhar estético, baseado em escritores renomados.
Esse modelo acabou sendo considerado o correto, devendo ser utilizado na oralidade e na escrita por todos, já que seria esteticamente melhor, segundo seus defensores, desconsiderando que toda manifestação linguística ou dialetos têm a sua importância em seu contexto.
A inclinação a essa abordagem de superioridade de uma variedade do uso linguístico prejudica o aluno no acesso a outras manifestações, em um país que apresenta diversos dialetos, além dos usos familiares.
Ao considerar apenas o modelo padrão, falado por uma parcela muito pequena da população, a língua perde o seu sentido de instrumento de comunicação entre os seres humanos.
Diversidade linguística e atuação docente
O Papel do Professor diante da Diversidade Linguística
No início do século XX, Ferdinand de Saussure (1996), considerado o pai da Linguística, já dizia que a linguagem possui dois aspectos:
Um lado individual
Um lado social
Para Saussure (1996), seria impossível conceber um aspecto sem o outro. Assim, a todo momento, a linguagem implica, simultaneamente, dois aspectos:
Um sistema estabelecido
A cada instante, a linguagem se constitui como uma instituição atual.
Uma evolução
A cada instante, a linguagem é um produto do passado.
A concepção de Saussure já apresentava a língua possuindo uma manifestação coletiva e uma individual, com a língua em

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