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Linguistica e Ensino de LETRAS

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Linguística e Ensino de Letras 
Disciplina Digital 
-- 
DGT0595 
9001 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O que é Linguística Aplicada? 
Prof. Nataniel Gomes 
false 
Descrição 
Origem, definição e campo de trabalho da Linguística Aplicada como área de conhecimento de 
Letras. 
Propósito 
Compreender a origem, os pressupostos teóricos e os aspectos metodológicos do campo da 
Linguística Aplicada para ampliar o conhecimento linguístico na área do ensino-aprendizagem de 
língua. 
Objetivos 
Módulo 1 
Origem e conceito da Linguística Aplicada 
Identificar a origem e o conceito de Linguística Aplicada. 
Módulo 2 
Campo de trabalho da Linguística Aplicada 
Reconhecer o campo de trabalho da Linguística Aplicada. 
Introdução 
A Linguística Aplicada é uma ciência relativamente jovem, mas ela já tem produzido conteúdos 
cada vez mais relevante para sua área de atuação, tanto no Brasil quanto em todo o mundo. Isso 
pode ser percebido pelo grande número de artigos e livros publicados e a crescente quantidade 
de congressos, seminários e cursos nos últimos anos, colocando a área em destaque. 
Ainda há, porém, muita discussão sobre a distinção entre Linguística e Linguística Aplicada, o que 
não é nada simples de se responder. A partir dos trabalhos dos pesquisadores em Linguística 
Aplicada, pode-se encontrar um caminho de resposta, descrevendo a sua forma de abordar as 
questões da linguagem, como uma área de conhecimento explícito, objetivo e sistemático. 
Como veremos neste conteúdo, o histórico da Linguística Aplicada mostra o seu relevante 
percurso, abrangendo diferentes áreas do conhecimento, investigando a cultura, considerando os 
aspectos sócio-históricos e apontando os problemas com os quais ela tem de lidar, buscando 
soluções para eles. 
 
1 - Origem e conceito da Linguística Aplicada 
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar a origem e o conceito de Linguística Aplicada. 
A área da Linguística 
A Linguística como ciência 
Antes de a Linguística alcançar o status de ciência, ela estava ligada a outros estudos, como a 
Lógica, a Retórica, a Filosofia, a Crítica Literária, mas isso mudou quando ela passou a focar 
exclusivamente nas questões da linguagem, gerando pressupostos teóricos, a partir de 
descrições e explicações para dar conta de sua análise. 
Assim, pode-se afirmar o seguinte: 
A linguística busca fazer a descrição e a compreensão de como o ser humano é capaz de se comunicar, 
por meio de sinais sensoriais. 
Em outras palavras, a Linguística é a ciência responsável pelo estudo dos códigos utilizados para 
a comunicação (do latim, communicare, que significa “tornar comum”) e da capacidade inata da 
humanidade para adquirir a linguagem, sendo que a sua maior preocupação é com a língua 
falada. 
Podemos, então, afirmar que a Linguística estuda as línguas naturais e se interessa por, pelo 
menos, seis dimensões (FRANCHI, 1990, p. 80): 
• record_voice_over 
• Dimensão sintática 
• Conjunto estruturado dos recursos linguísticos que expressam as relações, funções e 
categorias relevantes para a interpretação dos enunciados. 
• record_voice_over 
• Dimensão semântica 
• Modos de representação da realidade, tomados como sistema de referência para essa 
interpretação. 
• record_voice_over 
• Dimensão dêitico-referencial 
• Mecanismos que relacionam essa interpretação a determinados estados de fato, nas 
coordenadas espaço-temporal e interpessoal. 
• record_voice_over 
• Dimensão pragmático-discursiva 
• Determinadas situações de uso, inclusive para avaliar os enunciados, do ponto de vista de 
sua adequação a determinadas ações e propósitos. 
• record_voice_over 
• Dimensão lógica 
• Determinadas situações de uso, inclusive para avaliar os enunciados, do ponto de vista de 
sua verdade ou falsidade. 
Os estudos sobre a linguagem assumiram o formato que encontramos atualmente graças às 
mudanças no domínio da Linguística, que ocorreram no início do século XX, abandonando o 
naturalismo que dominava a abordagem comparativista do século anterior, muito voltada para a 
comparação entre as línguas e a investigação de seus aspectos históricos. 
No início do século XX, o linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) criou os 
fundamentos para que a Linguística deixasse de ser uma investigação e passasse a ser vista 
como uma ciência. Isso se deu a partir de um curso ministrado por ele na Universidade de 
Genebra, sendo publicado como obra póstuma elaborada por seus alunos, intitulada Curso de 
Linguística Geral. 
Por isso, o século XX é considerado por muitos teóricos como o “século da linguagem”. Nele se 
destacaram filósofos com a preocupação especial nas questões da linguagem, como 
Wittgenstein, Heidegger, Habermas e outros. 
 
Ferdinand de Saussure. 
Tal interesse surgiu em diversas áreas para discutir questões ligadas ao tema. Vejamos a seguir 
alguns exemplos: 
Exemplo 
Na Teoria do Conhecimento, a crítica transcendental mudou seu enfoque para a crítica da linguagem, a 
Lógica buscou entender as linguagens artificiais, e a Antropologia percebeu que a linguagem é exclusiva 
do ser humano e afeta a sua visão de mundo. 
Daí temos a Linguística com o objetivo de pesquisar como a linguagem funciona a partir do 
estudo de línguas específicas. Para tal, ela considera a língua como seu objeto de estudo de 
forma empírica, dentro de seus limites, como acontece em outras ciências, por exemplo, a 
Biologia, a Física, a Geografia. 
Logo, sua metodologia foca principalmente a fala de determinada comunidade de usuários de 
determinada língua. 
A proposta metodológica desenvolvida pela Linguística visa descrever e analisar a partir de um 
corpus, ou seja, um conjunto de dados coletados, que são as frases realizadas pelos falantes no 
uso diário. Assim, a Linguística tem um caráter científico pautado pelo empirismo e pela 
objetividade de análise. 
Nesse sentido, seriam duas as tarefas principais da Linguística: 
Tarefa I 
Estudar as línguas particulares como um fim em si mesmo, com o objetivo de descrevê-las 
adequadamente. 
Tarefa II 
Estudar as línguas como meio de levantar informações acerca da natureza da linguagem de um modo 
geral. 
Perceba que a Linguística não é uma disciplina homogênea, pois ela tem um conjunto de opções 
teóricas e orientações na busca por investigar as questões da linguagem que afetam diretamente 
a sociedade, tanto no ensino quanto nas diversas situações cotidianas de comunicação. Assim, a 
linha de atuação da Linguística é bastante ampla, como veremos mais adiante. 
Surgimento da Linguística Aplicada 
Em 1946, Charles Fries e Robert Lado ministraram, na Universidade de Michigan, o primeiro curso 
de Linguística Aplicada. Naquele momento, o foco era o ensino de línguas e os linguistas 
buscavam uma proposta diferenciada na forma como ministravam a Linguística, com base na 
experiência que tinham no ensino do inglês como língua estrangeira. 
Em 1948, a revista Language Learning: A Journal of Applied Linguistics usou pela primeira vez o 
termo Linguística Aplicada. 
Aquele era um período próximo do final da Segunda Guerra Mundial e que se caracterizava pelo 
grande investimento no ensino de línguas, com métodos que combinavam: 
• o behaviorismo; 
• a linguística contrastiva; 
• a tecnologia dos laboratórios de línguas; e 
• as capacitações linguísticas com fins militares. 
Nesse contexto é que surge um campo fértil para desenvolvimento da Linguística Aplicada 
(ROCHA; DAHER, 2015). 
Para Rajagopalan (2006, p. 152), houve uma guinada nos estudos linguísticos em função dos 
investimentos ou “novas fontes de financiamento” no ensino de línguas, assim, “a forma como as 
pesquisas linguísticas foram conduzidas nessa época foi determinada pelas expectativas criadas 
em torno de suas possíveis aplicações”. 
Behaviorismo 
A perspectiva behaviorista da linguagem se caracteriza, em linhas gerais, peloentendimento do 
processo de aprendizagem da linguagem por meio de uma cadeia ou sequência de estímulo-
resposta-reforço. 
Linguística contrastiva 
Caracteriza-se, em linhas gerais, pelo estudo e descrição de duas ou mais línguas a fim de 
verificar diferenças e semelhanças entre elas. 
 
A Linguística Aplicada, também referida como LA, surgiu no mundo anglófono. Depois da 
Segunda Guerra Mundial, por exemplo, os Estados Unidos enxergaram o potencial de expandir a 
língua inglesa por meio do ensino, devido à necessidade de aprender novas línguas. A presença 
de soldados norte-americanos baseados em países orientais é um exemplo dessa situação. 
Naquele contexto do Pós-Guerra, a Linguística Aplicada não tinha relação nem com a 
“Linguística”, nem com a “aplicação”. Isso porque a Linguística tinha a preocupação de descrever 
línguas, algumas isoladas, estudar estruturas e assim por diante. 
Quando a Inglaterra percebe que está perdendo seu espaço no mundo, ela decide exportar o 
ensino de sua língua para se manter erguida, numa tentativa de exportar o idioma e manter o 
poder. Daí surgem os primeiros conceitos da Linguística Aplicada em sua tentativa de estender o 
ensino da língua inglesa para o resto do mundo. 
Na década de 60, quando os indianos eram tidos como falantes de um inglês 
que ninguém entendia. Gillian Brown (1990), foneticista, e seu grupo de 
pesquisa fizeram um esforço tremendo em consertar a fala dos indianos: 
estiveram em Madras (hoje Tamil Nadu) e ao final do treinamento acharam 
que tinham conseguido que os indianos falassem igual à rainha da Inglaterra. 
Um ano depois voltaram para saber o resultado de seus esforços: os falantes 
já haviam voltado a falar como antes do treinamento. Esse evento foi 
conhecido como Madras Snowball (Bola de Neve de Madras). Apesar de todo 
esse apelo a um inglês puro, na década de 70, os indianos já contavam com 
uma produção literária bastante representativa, demonstrando que o inglês 
britânico não podia mais restaurar seu império, muito menos o linguístico. 
Hoje a Índia só perde para os Estados Unidos e Inglaterra em produção em 
língua inglesa. 
(RAJAGOPALAN, 2010, p. 15) 
No início, a Linguística Aplicada era vista como uma área que tinha como propósito investigar as 
práticas de aprendizagem de línguas, portanto, voltada para métodos e técnicas científicas para 
ensino de línguas estrangeiras. 
Desse modo, a LA não nasce como uma aplicação da Linguística, antes, a LA surge a partir de uma 
abordagem indutiva, ou seja, uma pesquisa vinculada ao estudo da língua a partir de seu uso no mundo 
real, e não a partir de uma língua idealizada. 
O que podemos perceber é que a Linguística Aplicada estava ligada a um movimento imperialista 
que levava a língua inglesa para os países falantes de outros idiomas, o que nos mostra a 
Linguística sujeita a interesses sociogeopolíticos (RAJAGOPALAN, 2010). 
Conceitos e objetivos da Linguística Aplicada 
Na década de 1980, surgiu uma discussão sobre a abrangência da Linguística Aplicada. 
A LA iria além do ensino, do uso da linguagem em determinados contextos, chegando à busca da 
união entre teoria e prática, o que incluía: 
• Bilinguismo e multilinguismo 
• Comunicação por intermédio de computadores 
• Análise de conversação 
• Linguística de corpus 
• Análise crítica do discurso 
• Linguística forense 
• Planejamento e políticas linguísticas 
• Comunicação multimodal 
• Tradução 
Isso significa que a preocupação passa a ser com problemas linguísticos do mundo real, apoiada 
na multidisciplinaridade, seja na vida social, cultural e mesmo política, considerando a 
complexidade dos sujeitos. 
Com o avançar dos anos, surgiram novas formas de pesquisa e o conceito da Linguística 
Aplicada como aquela que vai resolver os problemas da linguagem foi deixado de lado. 
O que surge é a noção de que ela passa a ter um papel interdisciplinar e de produção de novos 
conhecimentos. 
Diz-se que a linguística é aplicada quando suas teorias, métodos de 
investigação e achados de pesquisa são aproveitados para elucidar e ajudar a 
resolver questões e problemas práticos relacionados à língua e a seu uso. 
(BAGNO, 2017, p. 253) 
Vale lembrar que não se trata de utilizar os conhecimentos da Linguística e aplicá-los para criar 
soluções, isto é, não é uma aplicação da Linguística. 
A Linguística Aplicada é um campo que investiga as relações linguísticas a partir de uma 
perspectiva própria, mas utilizando teorizações de diversos campos para convergir em 
discussões específicas. 
Assim, a Linguística Aplicada tem o objetivo de dialogar com diversas áreas a partir de práticas sociais, 
pensando novas formas de conhecimento e pesquisa que respondam às demandas da sociedade na qual 
estamos inseridos. 
Com a popularização das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), passa-se a 
refletir sobre as diversas semioses que se manifestam nos discursos sociais, em diversas 
culturas, a partir de diferentes usos linguísticos. 
 
Em especial, são considerados o avanço e a popularização dos usos tecnológicos dos 
computadores, o desenvolvimento do Wi-Fi, a tecnologia Bluetooth, o 4G e os smartphones e 
tablets, pensando no ensino de línguas. 
O que essas tecnologias provocam são novos letramentos, com os usuários passando a ter 
acesso tanto a recursos digitais quanto às soluções tradicionais, como papel e caneta, de acordo 
com a disponibilidade. 
Os objetivos da Linguística Aplicada 
A Linguística Aplicada se caracteriza por, pelo menos, três aspectos relacionados com seus 
objetivos: 
Objetivo I 
Responder a determinada demanda social. 
Objetivo II 
Valer-se de diferentes áreas do conhecimento. 
Objetivo III 
Usar como critério de avaliação os seus resultados. 
Rocha e Daher (2015) acrescentam a essa lista dos objetivos da Linguística Aplicada mais dois 
itens: 
• enfatizar ensino-aprendizagem de línguas; e 
• ancorar as bases teóricas na pesquisa linguística. 
Uma das características da Linguística Aplicada é sua busca por tentar resolver problemas 
ligados ao ensino de línguas, às traduções, à organização de dicionários, além de ações 
cotidianas que a área pode ajudar a solucionar, mas sempre ligadas ao engajamento às 
demandas sociais, seja no Direito, na Saúde, na Mídia ou na Administração, entre outras áreas, na 
tentativa de compreender a sociedade. 
Mesmo Saussure e seus seguidores já mostravam preocupação com aspectos práticos nas pesquisas 
linguísticas. 
Interdisciplinaridade e pesquisa na Linguística Aplicada 
Além disso, a Linguística Aplicada busca instrumentos em outras ciências, tais como a Didática 
das Línguas, que une Linguística, Psicologia e Sociologia, numa tentativa de unir teoria e prática 
no ensino de línguas, por exemplo. 
Perceba que a Linguística Aplicada é marcada pela interdisciplinaridade. 
Infelizmente, durante muito tempo não se via o especialista em Linguística Aplicada como um 
produtor de teorias, mas apenas como alguém que reproduzia teorias já existentes. 
Outro item que merece destaque é que a Linguística Aplicada é avaliada pelos resultados obtidos, 
conforme apontado acima. Isso quer dizer que seus resultados são avaliados em função da 
resposta dada à demanda averiguada. 
Segundo Rocha e Daher (2015), essa repercussão sobre as pesquisas em Linguística Aplicada se 
dá a partir da demanda formulada: 
 
Por alguém que ocupa uma posição hierárquica mais alta na situação investigada. 
 
Pelo pesquisador a partir de objetivos de pesquisa. 
 
Pelo pesquisador a partir atribuídos a um dado coletivo. 
 
Por um círculo que não exerce nenhuma função de destaque na hierarquia institucional em questão. 
Rocha e Daher (2015) ainda acrescentam que a Linguística Aplicada e o campo do ensino de 
línguas eram tratados praticamente como sinônimos nas primeiras décadas da área, já que a sua 
preocupação era ser “prática”. Mas, de lá para cá, o interesse foi ampliado paraoutras formas de 
atuação, além do ensino de línguas, ainda que fortemente calcada na área. 
A Linguística Aplicada ainda sofre do complexo de não produzir conceitos novos, mas aplicar 
teorias da Linguística. A esse respeito, pode-se afirmar o seguinte: 
A Linguística Aplicada lida com pesquisas e práticas de problemas da comunicação, aplicando teorias da 
Linguística ou desenvolvendo propostas novas a partir das suas constatações. 
A área da Linguística Aplicada 
A Linguística Aplicada mantém a sua identidade na área de estudos da linguagem. Mesmo com 
todas as mudanças pelas quais passou, ela mantém a sua proximidade com as ideias de 
Wittgenstein, com os primeiros cursos ministrados sobre o seu conteúdo. Essa área permanece 
com um eixo comum até hoje, mesmo com todas as ofertas de disciplinas novas cada vez mais 
especializadas. 
A ampliação de seu currículo acabou evitando um aprofundamento de divergências teóricas e 
querelas na sua epistemologia. O fato é que todas essas mudanças visam à busca de soluções 
dos problemas encontrados nas suas pesquisas no que se refere às questões de linguagem. 
Cursos 
Esses cursos começaram na Universidade de Edimburgo, na Escócia, em 1956. 
 
A área da Linguística Aplicada se mostra muito promissora. 
Inclusive, têm surgido propostas recentes, como da Linguística Aplicada Crítica, com a 
Linguística tendo um papel político importante, contribuindo para mudar as relações de poder no 
mundo. 
O especialista em Linguística Aplicada ajudaria o ser humano a tomar consciência sobre o 
domínio que a língua exerce sobre os outros, questionando a visão do progresso das ciências 
como algo linear, já que elas devem ser ligadas a diversas outras ideias, dentro de um contexto 
geopolítico e sócio-histórico. 
Antes de finalizarmos esta seção e conhecermos o trabalho da LA no Brasil, há uma questão à 
qual devemos responder: 
Qual a diferença entre a Linguística e a Linguística Aplicada? 
expand_more 
Para Rajagopalan (2006), a diferenciação entre a Linguística e a Linguística Aplicada surge a partir da 
preocupação com o social. 
A Linguística deixa o aspecto social para segundo plano, enquanto a Linguística Aplicada busca responder 
às demandas que a sociedade clama, quase sempre avaliada a partir de seus resultados, com forte ênfase 
no ensino e/ou aprendizagem de idiomas. 
Pesquisa em Linguística Aplicada 
Linguística Aplicada no Brasil 
No Brasil, inicialmente, o desenvolvimento da Linguística Aplicada se dá devido à sua origem 
interdisciplinar e à sua interface entre a Linguística e a Educação. Em seguida, passa por um processo de 
maior teorização e avança para uma área transdisciplinar a fim de enfatizar uma epistemologia 
indisciplinar, o que inclui questões diversas como: 
Indisciplinar 
Refere-se ao conhecimento desenvolvido para além dos limites tradicionais de determinada 
disciplina, ou seja, aponta para a ideia da Linguística Aplicada se organizando a partir de múltiplos 
centros, de diversos enfoques, constituindo-se em uma área mestiça na qual ocorrem 
intersecções e cruzamentos de fronteiras. 
• Discurso 
• Identidade 
• Etnia 
• Sexualidade e gênero 
• Letramentos 
• Entre outras 
Desse modo, a LA vai além da aplicação da Linguística para o “mundo real”, como foi vista por 
muito tempo. A Linguística Aplicada precisou incorporar novas fontes teóricas, a fim de dar conta 
das necessidades e problemáticas que surgiam, já que: 
Nenhuma área do conhecimento pode dar conta da teorização necessária 
para compreender os processos envolvidos nas ações de ensinar/aprender 
línguas em sala de aula devido a sua complexidade. 
(MOITA LOPES, 2006, p. 16) 
Por isso, existe um número considerável de especialistas com o entendimento de que é preciso 
procurar ajuda em outras áreas do saber das Ciências Humanas e Sociais, além da Linguística, 
para estudar e buscar possíveis respostas em relação às questões que afligem o mundo e 
passam pela linguagem (ligadas ou não ao ensino). 
Temas e preocupações da pesquisa em LA no Brasil 
Em nosso país, a preocupação com os estudos da Linguística Aplicada começou no final da 
década de 1970 e início dos anos 1980, muito influenciada pela imprensa, que anunciava as 
dificuldades de leitura na escola, atribuindo a responsabilidade aos docentes. Isso acabou 
culminando nas pesquisas ligadas à formação de professores. 
Logo, a leitura, primeiramente nas línguas estrangeiras e posteriormente em língua portuguesa, 
passou a ser uma das primeiras preocupações das pesquisas em Linguística Aplicada no Brasil. 
 
Tais pesquisas focadas no problema da leitura foram incorporadas em documentos oficiais, 
como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e a Base Nacional Comum Curricular 
(BNCC), além de constarem na bibliografia de cursos superiores e de concursos. Essas pesquisas 
continuam sendo objeto de discussão ainda hoje. 
A escrita, quando a Linguística Aplicada começou a dar seus primeiros passos, ainda era vista 
como suporte para o livro, mas atualmente ela se manifesta em meios variados e muito próxima 
das nossas práticas sociais e cotidianas, em mídias digitais e diversos outros suportes materiais, 
inclusive combinando com linguagens não verbais. 
Assim, a questão da leitura mudou muito nas últimas décadas. 
Particularmente, num cenário em que se fala em pós-verdade e fake news, não basta ler, mas 
investigar se a informação é verdadeira e quem está por trás dela. 
 
Nesse contexto de preocupação da pesquisa em LA com a situação da leitura e da escrita 
relacionada à formação dos estudantes e dos professores, surgem trabalhos que realizam 
análises etnográficas, por exemplo, de escolas como local de trabalho, da formação continuada 
do professor, possibilitando o registro e a análise da leitura de textos com a intenção de servir de 
motivação para professores e participantes diversos das reuniões. Tudo isso situado em um 
contexto social e ao mesmo tempo histórico, que ajuda a entender tais práticas no ambiente da 
periferia de grandes centros urbanos. 
Resumindo 
Assim, podemos dizer que a Linguística Aplicada foca um leque bastante diversificado de opções no que 
se refere aos seus objetivos e ao modo de ensino e de pesquisa, buscando respostas e contribuindo para a 
solução dos problemas ligados ao ensino e à aprendizagem, por exemplo, da língua portuguesa no Brasil. 
Podemos notar que, com mais de meio século de existência, a Linguística Aplicada conseguiu 
resgatar e renovar instrumentos, objetos, temas e conceitos, inclusive modificando as 
concepções da área, dando voz aos participantes e valorizando conhecimentos, mesmo que 
socialmente excluídos. 
Por isso, é possível que o próximo passo da Linguística Aplicada no Brasil seja a elaboração de 
currículos e materiais didáticos com a intenção de dar visibilidade a grupos tratados como 
“invisíveis” socialmente, além da inclusão de pesquisadores no ambiente escolar, valorizando 
práticas de outros contextos, dirigidas por personagens de outras culturas e de outras 
identidades, sem abandonar as mudanças pelas quais o mundo passa. 
video_library 
A Linguística Aplicada 
Neste vídeo, serão apresentados a origem, o conceito e os objetivos da Linguística Aplicada. 
 
Vem que eu te explico! 
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de 
estudar. 
 
1:53 min. 
Módulo 1 - Vem que eu te explico! 
Contexto de origem da Linguística e Linguística Aplicada 
 
1:41 min. 
Módulo 1 - Vem que eu te explico! 
Objetivos da Linguística Aplicada 
 
2:09 min. 
Módulo 1 - Vem que eu te explico! 
Diferença entre Linguística e Linguística Aplicada 
O campo de atuação da Linguística Aplicada 
Falta pouco para atingir seus objetivos. 
Vamos praticar alguns conceitos? 
Questão 1 
Analise as afirmativas a seguir, considerando a origem da Linguística Aplicada: 
 
I– O mundo anglófono e o Pós-Guerra fazem parte do contexto no qualsurgem os estudos que resultam 
na Linguística Aplicada. 
 
II– O ensino-aprendizagem de língua estrangeira, particularmente do inglês, e o desenvolvimento de 
métodos e técnicas para essa prática são objetos de estudo no surgimento da Linguística Aplicada. 
 
III– A Linguística Aplicada surge, originalmente, como uma aplicação da Linguística do começo do século 
XX, com um viés ou abordagem dedutiva. 
 
Está correto apenas o que se afirma em 
A 
I. 
B 
II. 
C 
III. 
D 
I e II. 
E 
II e III. 
A afirmativa I está correta porque a presença de militares norte-americanos em várias bases espalhadas 
pelo mundo no Pós-Guerra e a necessidade de se preservar o prestígio cultural britânico no mundo são 
aspectos que marcam o contexto anglófono dos estudos de LA. A afirmativa II está correta porque a 
pesquisa sobre técnica e métodos de ensino-aprendizagem de inglês está relacionada com o surgimento 
da LA. A afirmativa III está incorreta porque a LA não surge diretamente como aplicação da Linguística da 
época, mas como uma abordagem indutiva voltada para o estudo das práticas reais de linguagem. 
Questão 2 
O conceito de Linguística Aplicada deve ser identificado como 
A 
o estudo descritivo da língua, procurando estabelecer sua estrutura e seu funcionamento. 
B 
os estudos pedagógicos de filiação behaviorista voltados para o estabelecimento de método de ensino-
aprendizagem de inglês para crianças anglófonas. 
C 
os estudos linguísticos estruturalistas voltados para a descrição e a explicação dos fenômenos 
gramaticais. 
D 
o estudo disciplinar e o estabelecimento de área bem delimitada a fim de compreender o fenômeno do 
bilinguismo. 
E 
um campo de estudo interdisciplinar com teorias e métodos voltados para a pesquisa de questões reais 
do uso da língua. 
A Linguística Aplicada trabalha com uma abordagem interdisciplinar, com questões e metodologias de 
pesquisa específicas, tratando de problemas da língua em uso e estratégias para superá-los. Assim, a 
Linguística Aplicada não é uma mera aplicação da Linguística. 
2 - Campo de trabalho da Linguística Aplicada 
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer o campo de trabalho da Linguística Aplicada. 
O campo de atuação da LA 
Atuação e expansão da Linguística Aplicada 
Você já sabe que a Linguística Aplicada (LA) é um campo de estudo transdisciplinar, 
interdisciplinar e intercultural que identifica, explora e procura soluções para problemas 
relacionados à linguagem na vida concreta. 
Embora seu desenvolvimento tenha uma relação profunda com os estudos sobre o ensino de 
línguas, em especial, o inglês, o seu campo de interesse foi ampliado para o uso da língua 
materna, ensino de segunda língua e línguas de contato. 
No caso do Brasil, conforme Silva (2010), a LA foi, ao longo de vários anos, uma área de estudos 
voltados para o ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras e, também, do português como 
língua materna. Nesse contexto, a LA passava por mudança no foco de pesquisa e apresentava 
propostas para o ensino. 
Assim, a LA variava na seguinte sequência: 
• arrow_downward 
• Primeiro 
• A ênfase nas metodologias de ensino. 
• arrow_downward 
• Segundo 
• O tratamento da pertinência ou não do ensino de determinados aspectos linguísticos. 
• adjust 
• Terceiro 
• O exame da atuação do estudante em sala de aula. 
A Linguística Aplicada, no entanto, expandiu suas pesquisas indo além do ensino de línguas, da 
formação docente e do uso didático. Assim, ela passou a produzir seu saber inter e 
transdisciplinar para problematização e compreensão da linguagem, respondendo às demandas 
da sociedade. 
Relembrando 
A Linguística Aplicada não é simplesmente a aplicação de uma teoria ou proposta linguística a 
determinada necessidade, afinal, a simples aplicação nem sempre seria capaz de resolver os problemas 
da linguagem no cotidiano; isto é, a área se preocupa em unir teoria e prática para construção de seu 
saber. 
Por isso, Moita Lopes (1996, p. 123) destaca que “há uma preocupação cada vez maior em 
linguística aplicada com a investigação de problemas de uso da linguagem em contextos de ação 
ou em contextos institucionais, ou seja, há um interesse pelo estudo das pessoas no mundo”. 
Desse modo, a Linguística Aplicada tem como proposta: 
Entender o mundo e buscar trabalhar uma agenda contra posicionamentos hegemônicos, enfatizando a 
ideologia, o poder, o gênero, a classe e a etnia, construindo teorias que levam em conta os sujeitos, sejam 
leitores, escritores, falantes ou ouvintes dentro ou fora de determinado contexto histórico de ensino e de 
aprendizagem, sem desconsiderar a existência de limites éticos para a ciência. 
Atualmente, a LA pode ser vista, então, como uma área do conhecimento que se caracteriza por 
articular diversos domínios do saber, buscando dialogar com diferentes campos do 
conhecimento voltados para as questões da linguagem. Desse modo, a LA se apresenta como um 
campo de atuação bastante abrangente, já que a língua perpassa as diferentes esferas da vida e 
da sociedade humanas. 
Tendo em vista que a linguagem permeia todos os setores de nossa vida 
social, política, educacional e econômica, uma vez que é construída pelo 
contexto social e desempenha o papel instrumental na construção dos 
contextos sociais, nos quais vivemos, está implícita a importância da LA no 
equacionamento de problemas de origem educacional, social, política e até 
econômica. 
(CELANI, 2000, p. 19-20) 
A Linguística Aplicada, portanto, apresenta diversas áreas de atuação e interesse no campo 
pedagógico: o ensino de línguas estrangeiras, o ensino da língua materna, a formação de 
professores de língua, estudos sobre o bilinguismo nas comunidades indígenas, as línguas de 
sinais, o processo de alfabetização, as formas de letramento, as relações entre linguagem e 
mercado de trabalho, entre outras. 
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira e LA 
Considerando a prática do especialista em Linguística Aplicada, pode-se perceber como as 
questões da linguagem fazem parte do mundo globalizado. 
O caráter globalizado e digital de nosso tempo exige cada dia mais que o indivíduo saiba, pelo 
menos, uma língua estrangeira, ajudando a expandir e a ampliar sua formação cultural, 
conhecendo, pelo menos, um pouco de outras identidades. 
É bastante comum encontrar pessoas que ouvem e cantam músicas estrangeiras e passam a 
conhecer parte do léxico daquela língua, ainda que de forma inconsciente. 
 
Isso se dá também com a presença da língua inglesa como um tipo de idioma universal. 
Alguns exemplos onde isso ocorre são: 
• Em diversos aparelhos eletrônicos que apresentam botões em inglês, como power ou 
on/off para ligar/desligar. 
• Em jogos eletrônicos, que finalizam a participação do usuário com um game over. 
• Em vitrines de lojas que anunciam promoções ou liquidações com o termo sale. 
Assim, para além de necessidades no mundo profissional, as pessoas vão percebendo cada vez 
mais a necessidade de aprender ou dominar uma língua estrangeira, preferencialmente aquela 
que cultural e economicamente prevalece no mundo globalizado. 
Essa necessidade se reflete também no contexto educacional formal. 
Nesse sentido, há a percepção ou entendimento de que, ao ter acesso a outra língua, o estudante 
é capaz de desenvolver respeito pela cultura, pelo povo e pelos valores que não apenas os de seu 
país. 
Por isso, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) já defendiam, no final dos anos 1990, o estudo da 
língua materna ou mesmo estrangeira como dever de todo cidadão, como competência intercultural. 
Esse aprendizado de outras línguas, que não apenas a língua materna, vincula-se à necessidade 
de se estabelecer relações culturais com outros povos, promovendo pluralidade cultural e 
formação geral. 
No caso das línguas estrangeiras, a seguinte afirmação consta nos PCNs: 
O uso de uma Língua Estrangeira é uma forma de agir no mundopara 
transformá-lo. A ausência dessa consciência crítica no processo de ensino e 
aprendizagem de inglês, no entanto, influi na manutenção do status quo ao 
invés de cooperar para sua transformação. 
(BRASIL, 1998, p. 40) 
Logo, a experiência do professor pode ser um instrumento bastante válido na verificação de uma 
metodologia adequada à sua realidade. 
Nesse momento, entra em ação a Linguística Aplicada para analisar o contexto em que se dá 
esse processo de ensino-aprendizagem e, consequentemente, colaborar no processo do aluno e 
do professor a fim de alcançar os melhores resultados possíveis. 
Para Moita Lopes (1999), no caso do ensino de línguas estrangeiras, até o final do século XX, as 
pesquisas em Linguística Aplicada no Brasil enfatizavam os seguintes itens: 
• Ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras suprimindo a 
leitura, a produção escrita, a compreensão oral e ensino por 
intermédio de computadores. 
• Leitura. 
• Formação do professor de línguas. 
• Descrição da língua estrangeira. 
• Análise de erros e interlíngua. 
• Análise contrastiva entre a língua estrangeira e o português. 
• Análise da interação oral no ambiente da sala de aula. 
• Avaliação de material didático. 
• Produção escrita. 
• Planejamento de cursos. 
• Compreensão oral. 
• Aquisição de L2 (segunda língua). 
• Elaboração de material didático. 
• Análise do discurso em línguas estrangeiras. 
• Construção de identidade no espaço da sala de aula. 
• Ensino de língua estrangeira por intermédio de 
computadores. 
• Testagem. 
LA e produção de material didático 
Produção de material didático em língua estrangeira e LA 
Outra área de atuação da Linguística Aplicada tem a ver com a produção de material didático, em 
especial, livros. 
 
Podemos perceber um avanço na qualidade dos livros didáticos graças à influência da Linguística 
Aplicada. 
Esses livros passaram a focar as quatro habilidades da língua: 
• ouvir; 
• falar; 
• ler; e 
• escrever. 
Moita Lopes (1999), ao listar os itens da pesquisa em LA na área do ensino de língua estrangeira, 
menciona a elaboração e a avaliação de material didático. No entanto, em sua lista, não há itens 
que tratem especificamente do livro didático, pois a referência é ao material utilizado para o 
ensino de maneira geral. 
Desse modo, até o final do século XX, o foco da Linguística Aplicada estava voltado para as 
questões de ensino-aprendizagem das línguas estrangeiras a partir de uma aplicação da teoria 
para o uso pelo professor em sala de aula, diferentemente do que tem acontecido hoje. 
O início da Linguística Aplicada no país, nos anos 60 e 70, foi marcado por 
questões relativas ao ensino de línguas estrangeiras, principalmente o inglês. 
Naquela época, as dissertações de mestrado na área refletiam o pensamento 
de aplicação de teorias da Linguística para melhorias de técnicas de ensino 
em sala de aula, [...] uma das ênfases de trabalhos de investigação na área 
neste início eram as sugestões para produção e avaliação de materiais. 
(SILVA, 2010, p. 209) 
Vale ressaltar que o livro didático passou a ter maior destaque e uso a partir da década 1960, 
principalmente para atender às demandas do contexto da escola que se reformulava naquele 
momento. 
Na década de 1980, foi criado o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), para que na década 
seguinte o Ministério da Educação (MEC) passasse a ter um papel mais direto na discussão 
sobre o livro didático, incluindo um projeto pedagógico disseminado pelos PCNs. 
A Linguística Aplicada atualmente se preocupa também com o “processo de ensino-aprendizagem em sala 
de aula” (MOITA LOPES, 1999, p. 425). 
Pode-se notar que o livro didático tem sido objeto de análise dos especialistas em Linguística 
Aplicada nos últimos anos, ainda que de forma insuficiente, dada a sua importância para 
professores e alunos, quase como uma fonte de autoridade para o saber na escola, mesmo com a 
popularização da tecnologia para o ensino. 
Mas já se percebe que é comum os livros didáticos apresentarem propostas para ensinar a língua 
estrangeira por meio das repetições de sons daquela língua-alvo. 
Comentário 
Por isso, é importante, ao preparar os livros didáticos, levar em conta a língua estrangeira e a língua 
materna do falante, considerando uma descrição científica da língua aprendida, muitas vezes comparando 
com a língua daquele que está estudando. 
Vale lembrar que muitos livros didáticos são preparados visando apenas “facilitar” a vida do 
estudante, o que nem sempre é uma boa saída, podendo atrapalhar em vez de ajudar. 
Não se deve desconsiderar que o livro didático pode ser a principal fonte para o estudante 
acessar a língua que está estudando e a cultura do país em que aquela língua é utilizada. 
A urgência para aprender uma língua estrangeira pode estar ligada ao objetivo de se alcançar 
uma distinção social mais do que no próprio uso do idioma. Por isso, a Linguística Aplicada 
precisa buscar novas e melhores formas para facilitar o processo de ensino-aprendizagem. 
 
Na verdade, o livro didático, ano a ano, tem melhorado na forma de abordagem do tema. 
No entanto, há críticas ao livro didático, já que muitas vezes ele assume um papel de autoridade 
do saber para professores e alunos, direcionando o ensino, visto que a maioria das instituições 
que se propõe a ensinar línguas estrangeiras usa essa ferramenta. 
Por outro lado, dada a realidade socioeconômica, o livro didático é bem-vindo na maioria das 
escolas, especialmente as públicas, uma vez que normalmente os alunos têm dificuldade para 
aquisição de material e os livros são distribuídos gratuitamente pelo Governo Federal. 
 
Também devemos lembrar que, para aprender uma língua estrangeira, além de se usar os livros 
didáticos, é possível a utilização de músicas, filmes, aplicativos de idiomas e outros recursos 
digitais e disponíveis na internet. De forma cada vez mais rápida e eficaz, inclusive remotamente 
ou a distância, os recursos didáticos vão sendo disponibilizados graças aos avanços da 
tecnologia e às pesquisas em Linguística Aplicada. 
Ensino de língua Portuguesa e LA 
Além do ensino de língua estrangeira, a Linguística Aplicada tem focado o ensino da escrita em 
língua portuguesa e, muitas vezes, tem usado o livro didático com essa intenção, tal como 
acontece no ensino de língua estrangeira. 
Logo, a Linguística Aplicada vem investigando o ensino de língua portuguesa na escola, já que se 
entende que o ensino implica todos os usos e regularidades da língua. 
Para o estudante é importante conhecer a língua materna a fim de poder utilizá-la adequadamente nas 
mais variadas situações comunicacionais de seu cotidiano. 
Por isso, o ensino de língua portuguesa não pode ser descontextualizado tampouco autoritário. 
Nesse sentido, é fundamental buscar novas estratégias para o ensino sob novas perspectivas, 
provocando reflexões e ressignificação para quem ensina. 
 
Não é segredo que, apesar das transformações no ensino da língua portuguesa, nota-se uma 
dificuldade crescente dos alunos que terminam o ensino médio em escrever de acordo com as 
normas da gramática normativa, além da pouca habilidade para o registro claro e articulado de 
suas ideias. 
Com as mudanças da sociedade, além do desafio do ensino normativo da língua portuguesa, 
surge a necessidade de entender os contextos situacionais e verbais em que ocorrem as 
situações de interação verbal, de modo que os alunos possam compreender como determinado 
item da gramática funciona no uso real da língua. 
O trabalho com a língua não fica limitado ao estudo de frases soltas, mas considera o texto, 
ultrapassando o ensino de regras gramaticais e ampliando a análise do texto, por intermédio de 
práticas que levam à reflexão. 
Há um desafio diante da grande insatisfação dos alunos com o ensino da língua portuguesa. 
Muitos não percebem, em sua formação, a capacitação para interagir com textos diferentese o 
trabalho com diferentes linguagens em contextos distintos. 
Esses alunos não percebem que os conhecimentos aprendidos na escola nas aulas de língua portuguesa 
são suficientes para atender às necessidades do uso do idioma em situações concretas da vida. 
Os PCNs já apontavam, na virada do século XX para o XXI, essa situação problemática e 
criticavam o ensino de português reduzido ao aprendizado das regras gramaticais, quando 
afirmam que o problema não está na gramática, mas em como ensinar os fatos e as regras da 
gramática diante do ato comunicativo. 
A gramática extrapola em muito o conjunto de frases justapostas deslocadas 
do texto. O texto é único como enunciado, mas múltiplo enquanto 
possibilidade aberta de atribuição de significados, devendo, portanto, ser 
objeto também único de análise/síntese. 
(BRASIL, 2000, p. 18-19) 
Os PCNs trouxeram uma ruptura com alguns modelos de ensino e de aprendizagem de língua, 
levando o professor a estudar mais para se atualizar — tirando alguns da zona de conforto em 
que se encontravam — e contribuindo para que posicionamentos fossem revistos e se buscassem 
com mais criatividade os objetivos de promover melhores condições para a sociedade como um 
todo. 
Isso tudo provoca uma reflexão sobre a função do professor e sua prática em sala de aula, 
podendo gerar novas tentativas para melhorar seu desempenho ou mesmo a reafirmação de uma 
forma anterior de trabalhar. 
O professor tem um papel essencial na formação na área da linguagem dos estudantes e precisa 
ter a devida noção das práticas necessárias para o êxito no ensino. 
Integração entre fala e escrita 
Ensino de português integrado 
Com a finalidade do ensino da língua portuguesa, a escola tem como objetivo incentivar o estudante no 
desenvolvimento linguístico, embora seja comum a instituição dividir o ensino em “caixinhas”, como: 
Leitura e compreensão 
Literatura 
Gramática 
Produção de texto 
A forma fragmentada impede uma reflexão mais profunda sobre as questões da linguagem. 
Quase sempre, o estudante começa decifrando a língua, para depois partir para a análise por 
meio de atividades separadas. 
A Linguística Aplicada tem demonstrado que o ensino da língua portuguesa deve valorizar a fala, 
porque é a modalidade da língua que se aprende primeiramente e que está mudando 
constantemente, ou seja, a língua passa por inúmeras transformações, mas a escola não 
consegue acompanhar, porque se fundamenta essencialmente na língua que se manifesta na 
escrita. Considerando as características da língua falada, ela precisa também ser trabalhada no 
contexto de sala de aula. 
Outra questão posta é que não pode haver desarticulação entre leitura e produção de textos, já 
que eles formam um todo. No máximo, sugere-se que sejam feitas separações com o objetivo de 
facilitar o estudo, mas mantendo a sua relação com outros elementos. 
Por isso, afirmamos que gramática, texto e produção jamais devem ser separados. 
Outro problema facilmente detectado pelos professores em sala de aula é a dificuldade que os 
alunos apresentam para escrever e reproduzir a língua oral na produção textual. 
Geralmente, os alunos escrevem do modo que falam antes de desenvolver maturidade na 
competência escritora. 
Daí a necessidade de se trabalhar a oralidade e as diferenças e semelhanças entre a fala e a escrita. 
Tais como as diferenças léxicas para a constituição de textos, a sintaxe tem características 
diferentes para as duas modalidades da língua, entre outras. 
O professor ainda precisa enfatizar que na interação entre a fala e a escrita há algumas 
diferenças: 
 
Fala 
A interação ocorre face a face. 
close 
 
Escrita 
Os interlocutores não estão presentes no mesmo espaço e tempo. 
Em geral, isso implica um não planejamento prévio na fala, diferentemente da escrita. Assim, a 
fala não pode ser revisitada, enquanto a escrita pode ser revista ou reelaborada. De certo modo, a 
fala mostra o processo criativo, enquanto a escrita, seu resultado. 
O trabalho integrado de ensino do português deve articular as atividades com texto e, também, 
com elementos da gramática. 
A Linguística Aplicada esclarece que os estudos da linguagem devem ser feitos de modo a 
ampliar a capacidade de comunicação do estudante. 
Dica 
Uma das sugestões é trabalhar a partir da produção e recepção dos textos, já que eles servem para 
mostrar a língua de forma mais ampla em seu funcionamento real. 
Assim, é importante trabalhar com textos para desenvolver a competência comunicativa dos 
alunos, visto que ela se faz por intermédio dos textos, e um dos aspectos mais importantes do 
ensino de línguas é capacitar o estudante a produzir e compreender os enunciados de modo 
adequado a cada contexto de interação. 
É importante ressaltar, porém, que em algumas categorias da gramática existem elementos que 
não podem ser vinculados aos textos, por isso, apesar da importância do trabalho com textos, ele 
não é capaz de dar conta de todas as necessidades do professor e do aluno. 
Integração entre escrita e leitura 
Não podemos esquecer que vivemos em uma sociedade letrada e que o domínio de diferentes 
manifestações linguísticas é um fator primordial para que o indivíduo consiga se inserir 
socialmente. Infelizmente, diversas avaliações do ensino em nosso país alertam para a qualidade 
baixa de leitura, ou seja, temos problemas no domínio da língua escrita e nas práticas de leitura. 
O PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) coloca o Brasil entre os últimos 
países nos seus critérios avaliativos, bem abaixo de países que se enquadram na mesma 
categoria. 
Relembrando 
É essencial lembrar que esse processo de associar um sinal gráfico a um som da língua, em uma 
abordagem mais tradicional da leitura, é um processo que está no nível do automático. O aprendizado 
desse processo geralmente ocorre no ensino fundamental, embora esse período não seja suficiente para 
tornar o aluno um leitor de nível satisfatório de compreensão da leitura. 
O PISA, ao considerar os 5 níveis de complexidade da leitura, mostra que mais da metade de 
nossos alunos ficaram no primeiro nível (uma parte ficou abaixo). 
O processo de compreensão é resultado do conhecimento adquirido e da interpretação de outros 
níveis ligados ao ato de leitura. 
Os cinco níveis são: 
Fonológico 
Sons da língua. 
Ortográfico 
Representação escrita do sistema linguístico. 
Morfossintático 
Combinação de morfemas em estruturas maiores, como a palavra, a frase ou o texto. 
Semântico 
O sistema de significados. 
Pragmático 
O conhecimento ligado ao contexto extralinguístico. 
Uma proposta comumente usada é da integração, quando há um intercâmbio entre as diversas 
habilidades do leitor e do texto. Assim, o leitor usa seu repertório de conhecimento para dar 
sentido a determinado texto. 
No entanto, se o aluno tiver pouca bagagem de leitura, um repertório pobre, isso dificulta a escrita, 
limitando o seu vocabulário. 
Aprendemos, porém, continuamente, em qualquer ambiente, com todas as pessoas, mesmo sem 
notarmos, em uma bate-papo informal ou ouvindo músicas, lendo um cartaz ou andando pelo 
centro da cidade olhando vitrines, isto é, o nosso cérebro processa todas essas informações que 
chegam a ele por meio de nossos sentidos, produzindo algum tipo de conhecimento. 
Assim, o processo de aprendizagem da escrita tem uma grande importância para a leitura. 
Quando o indivíduo lê, ele incorpora certas estruturas gramaticais, a complexidade da sintaxe, o 
vocabulário, a adequação textual e até mesmo a pontuação devida para aquela situação. 
 
Por intermédio da leitura, o usuário da língua adquire a estrutura básica linguística, que muitas 
vezes não foi ensinada na escola, ou seja, a leitura é uma ferramenta muito importante no 
processo de aprendizagem de uma língua, sendo um instrumento que todo processo precisa 
enfatizar. 
O professor que tem acesso às propostas da LinguísticaAplicada passa a ter condições de 
escolher a melhor forma de trabalhar com seus alunos e de estruturar atividades que 
efetivamente ajudem no domínio da língua, de modo a ter uma maior competência no ato da 
comunicação. 
O fato é que quanto mais se estudam as propostas de determinada área, maiores são as 
oportunidades de trabalhar de maneira mais adequada com a língua, por isso é fundamental que 
o professor tenha uma boa base de formação em Linguística, o que irá ajudá-lo tanto no ensino 
do idioma materno quanto no ensino de língua estrangeira. 
Dica 
Além da formação inicial na licenciatura, por exemplo, é preciso buscar cursos de aperfeiçoamento para 
que se possa prosseguir nas pesquisas sobre Linguística Aplicada. 
Atualmente, há muito material disponível, seja em forma de artigos, vídeos ou livros, inclusive 
trazendo excelentes propostas metodológicas bem práticas para o uso em sala de aula. São 
trabalhos que versam sobre ensino-aprendizagem, seja de língua materna ou estrangeira, 
enfocando: 
A produção de textos orais e escritos 
A leitura de textos e o ensino do léxico e do vocabulário 
O ensino de gramática 
Todo esse material serve para que o professor possa desempenhar bem o exercício do 
magistério. 
No campo da formação docente, a expectativa é que a Linguística Aplicada continue a contribuir 
para o entendimento de que a linguagem tem um aspecto socialmente construído, por isso, o 
professor precisa ser conscientizado politicamente acerca dos problemas da linguagem e do 
vínculo da língua com o contexto social do falante. 
Além disso, o profissional da educação pode perceber que a interação na sala de aula durante o 
processo de ensino pode apresentar informações que ajudam o docente a compreender melhor a 
sua prática pedagógica e a experiência de seus alunos, buscando um processo de melhoria em 
suas práticas de ensino. 
video_library 
O campo de atuação da Linguística Aplicada 
Neste vídeo, serão apresentados as pesquisas em Linguística Aplicada, seu campo de atuação e 
sua contribuição para questões diversas relacionadas com a língua. 
 
Vem que eu te explico! 
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de 
estudar. 
 
1:24 min. 
Módulo 2 - Vem que eu te explico! 
Principais áreas de atuação da LA 
 
2:05 min. 
Módulo 2 - Vem que eu te explico! 
Linguística Aplicada e a superação do ensino tradicional de português 
 
1:58 min. 
Módulo 2 - Vem que eu te explico! 
Linguística Aplicada e a relação entre fala e escrita 
O campo de atuação da Linguística Aplicada 
Falta pouco para atingir seus objetivos. 
Vamos praticar alguns conceitos? 
Questão 1 
Uma das áreas de atuação da Linguística Aplicada é o ensino da língua materna, já que para o estudante é 
fundamental conhecê-la e utilizá-la de maneira adequada. A partir da contribuição dos estudos da 
Linguística Aplicada, assinale a alternativa que indica a maneira adequada de estimular o ensino da língua 
materna. 
A 
Promover o engajamento dos alunos na luta por uma escola em que o português genuíno seja ensinado, 
de modo a resgatar a importância da norma culta. 
B 
Contextualizar o ensino da língua a partir de seu uso real e promover a reflexão sobre a língua por parte 
dos alunos. 
C 
Explicitar as desigualdades existentes no falar, promovendo a unificação e a homogeneização da fala em 
qualquer região do país. 
D 
Focar o ensino a partir do texto, deixando de lado os elementos e as categorias gramaticais nas aulas de 
português. 
E 
Centrar o trabalho no livro didático, já que ele incorpora todas as inovações produzidas pelas pesquisas 
em Linguística Aplicada e alcança todos os alunos matriculados nas escolas. 
Conforme os estudos da LA, o ensino de língua materna precisa ser contextualizado e levar em conta a 
realidade do aluno, buscando novas metodologias de ensino, sem abrir mão da reflexão dos alunos. Desse 
modo, o ensino de língua materna deve integrar a escrita, a leitura, a fala, o texto, os elementos e as 
categorias gramaticais, aproximando o aprendizado da língua do mundo real e das necessidades de 
comunicação e interação apresentadas pela vida em sociedade. 
Questão 2 
Analise as afirmativas a seguir, considerando o campo de atuação da Linguística Aplicada. 
 
I– Desde seu começo até a atualidade, o campo de atuação da Linguística Aplicada se define em torno do 
ensino de língua estrangeira. 
 
II– O ensino-aprendizagem de língua materna, com questões relacionadas aos desafios da alfabetização e 
do letramento e à formação de professores, é um dos campos de atuação da LA. 
 
III– Na LA, tem surgido o interesse pela pesquisa voltada ao uso da linguagem no contexto da vida em 
sociedade, por exemplo, do mundo do trabalho. 
 
Está correto apenas o que se afirma em 
A 
I. 
B 
II. 
C 
III. 
D 
I e II. 
E 
II e III. 
 
 
 
 
 
Linguística Aplicada ao Ensino 
Prof. Nataniel Gomes 
Descrição 
Descrição linguística, diversidade linguística e linguística aplicada ao ensino de língua. 
Propósito 
Compreender as contribuições e implicações da Linguística Aplicada no ensino de língua a fim de 
desenvolver as competências para a atuação como professor de língua portuguesa na educação 
básica. 
Objetivos 
Módulo 1 
Descrição Linguística e Ensino 
Identificar a relação entre descrição linguística e ensino. 
Módulo 2 
O Professor e a Diversidade Linguística 
Identificar as implicações da diversidade linguística em sala de aula. 
Módulo 3 
Linguística Aplicada ao Ensino de Leitura e Escrita 
Identificar as contribuições da Linguística Aplicada para o ensino de leitura e escrita. 
Introdução 
A Linguística Aplicada, como uma subárea da Linguística, tem feito diferença nos estudos da 
língua em situações reais de uso, incluindo aspectos relacionados com identidade, valores e 
crenças, entre outros. Desde seu surgimento, a Linguística Aplicada também traz seus aportes 
teóricos para o tema do ensino de língua. 
A contribuição da Linguística Aplicada ao ensino-aprendizagem de língua pode ser reconhecida 
em diferentes elaborações teóricas, propostas metodológicas e até mesmo por meio de críticas a 
procedimentos tradicionais e equivocados de se abordar a língua. 
Assim, é muito importante conhecer as contribuições da Linguística Aplicada para as questões 
relacionadas com o ensino de língua, seja a língua materna (L1) ou uma língua estrangeira (L2). 
Tudo isso, afinal, pode ajudar a escola a se transformar em um espaço mais motivador, inclusivo 
e democrático de aprendizagem da língua, tornando a sala de aula uma experiência voltada para a 
cidadania exercida por meio da linguagem. 
 
1 - Descrição Linguística e Ensino 
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar a relação entre descrição linguística e ensino. 
Teoria e prática nos estudos linguísticos 
Linguística e a Relação Teoria-Prática 
Para começar nossa discussão sobre a relação entre descrição linguística e ensino, é preciso, 
primeiramente, chamar sua atenção para a falsa dicotomia entre a linguística e a prática 
cotidiana. 
Muitos estudantes acabam tendo a impressão de que as elaborações teóricas da linguística se 
opõem à prática, às situações reais e às necessidades do uso da língua. Por isso, é preciso 
reconhecer que os estudos linguísticos partem da prática e voltam para a prática. 
O professor e linguista indiano Kanavillil Rajagopalan é bastante enfático ao comentar essa 
situação de separação entre os estudos linguísticos e a prática ou uso da língua. 
Eu acho que a maior desgraça que poderia ter acontecido com a nossa 
disciplina, e qualquer outra, é a divisão de bolo entre teoria e prática. Foi um 
desastre, é um desastre! Eu me recuso a aceitar essa distinção simplesmente! 
Um teórico que não pensa na prática é um teórico inútil. 
(RAJAGOPALAN, 2003, p. 180) 
A linguística pode ter inúmeros desdobramentos para a educação, indo da qualificação 
profissional até oensino propriamente dito, servindo como recurso importante para se trabalhar a 
interação, a comunicação e a expressão em diversas áreas. 
Cada área da linguística tem uma abordagem bastante específica para o fenômeno da linguagem. 
Todas elas têm dado a sua contribuição para investigação da linguagem, cada uma a seu modo. 
É preciso estarmos cientes de que o professor, ao fazer a opção por uma certa corrente teórica, o 
que inclui uma metodologia específica, uma abordagem particular e um objeto a ser descortinado, 
acaba assumindo uma determinada perspectiva teórico-metodológica que pode ser misturar 
também a crenças e valores que o professor carrega consigo. 
 
Se alguém adota uma perspectiva da língua a partir do linguista suíço Ferdinand de Saussure, de viés 
estruturalista, assumirá uma abordagem que prevê que a língua é um sistema. 
close 
 
Já quem tem uma análise da língua a partir do linguista norte-americano Noam Chomsky, teórico da visão 
gerativista, entenderá que a gramática é inata e marcada por princípios e parâmetros. 
Outra abordagem poderia ser feita a partir do linguista russo Roman Jakobson, teórico formalista, 
que via a língua como um sistema que tem propósito comunicativo e estruturado a partir dos Seis 
elementos da comunicação, com os respectivos enfoques nas funções emotiva, conativa, 
metalinguística, poética, fática e referencial da linguagem. 
Seis elementos da comunicação 
Emissor, receptor, código, mensagem, canal e contexto. 
Ao adotarmos uma abordagem do linguista norte-americano William Labov, da sociolinguística 
variacionista, assumiremos que a língua é marcada por fatores sociais, como classe social, escolaridade, 
sexo, idade, que revelam a diversidade linguística exercida pelos falantes dentro da comunidade. 
 
O linguista William Labov. 
Vamos considerar um pouco mais a última abordagem que mencionamos, o enfoque 
sociolinguístico com ênfase na variação linguística. 
A abordagem da sociolinguística 
A perspectiva da sociolinguística ainda é muito recorrente nas salas de aula e relaciona as 
variantes linguísticas com elementos sociais que rodeiam os falantes. 
Esse tipo de abordagem no ensino de língua materna ajudou a diminuir o preconceito em relação ao uso 
de variantes linguísticas, afinal, todas as manifestações apresentam uma motivação e uma justificativa a 
partir do contexto social em que o falante está inserido. 
Desse modo, a própria norma culta passa a ser vista como mais uma variante entre tantas outras, 
que, por razões sociais, políticas e culturais, passou a ter mais prestígio e uma marca de status, 
servindo como instrumento de ascensão social. 
Ao descrever a língua a partir de um olhar sociolinguístico, o docente pode valorizar, incorporar e 
ainda usar em sala de aula outras variantes, não apenas a norma culta, de modo a expressar 
marcas linguísticas que são eficientes na comunicação e que revelam o uso cotidiano de outros 
grupos sociais, sendo formas genuínas de manifestação da língua materna adequadas ao seu 
uso. 
Logo, deve-se apresentar também outras variantes, como a variante de prestígio, na escrita e na 
fala, que precisa ser trabalhada no ambiente escolar, dado o seu papel político e ideológico de 
ascensão social. Afinal, para muitos alunos, o aprendizado da língua culta só é possível no 
contexto da educação formal, já que esses alunos vêm de famílias e contextos sociais em que há 
baixo nível de escolaridade e quase nenhum domínio da língua culta. 
A abordagem da pragmática 
Um outro olhar, entre tantos, que pode ser utilizado para a linguística de sala de aula, é o da 
pragmática, que trata de elementos externos para a produção e para a recepção da linguagem a 
partir da interação entre os falantes. 
Atenção! 
Para a abordagem pragmática, os elementos extralinguísticos, como a forma de falar, a intenção, as 
informações implícitas e os atos de fala, são destacados para se atingir o sentido. 
Do ponto de vista do ensino, a perspectiva pragmática contribui para: 
A descrição sobre os modos de produção de sentido por meio da língua e sua organização. 
A averiguação acerca do comportamento linguístico, de acordo com a cultura de cada grupo. 
A promoção do caráter interacional da linguagem, seja falada seja escrita, pois existe a necessidade de um 
interlocutor. 
Estudos linguísticos e prática docente 
Implicações dos estudos linguísticos na prática docente 
Propostas ou abordagens do tipo que acabamos de comentar brevemente tiraram o professor do 
papel de dono exclusivo do saber, sem desmerecer o seu papel, mas enfatizando os elementos 
envolvidos no processo interativo. 
Hoje, entende-se que o docente tem um papel de mediador nas relações linguísticas e que o saber 
é construído de forma conjunta, assim como todas as relações humanas. 
 
Desse modo, surge uma prática pedagógica mais democrática no ensino-aprendizagem de língua, bem 
mais próxima dos discentes, que pertencem a diferentes grupos sociais. Essa prática pedagógica, 
inspirada em abordagens teóricas mais próximas das situações reais de uso da língua em seus contextos, 
se afasta de um modelo que entende a língua de forma homogênea e bastante idealizada a partir do viés 
normativo. 
O professor e linguista brasileiro Luiz Fiorin nos lembra de que um dos desafios da ciência é ser 
prática, o que se aplicaria certamente à linguística (FIORIN, 2003). 
Fiorin trata dessa questão no contexto da universidade em termos da dicotomia entre criação e 
divulgação, dois processos que ele afirma não poderem ser separados. 
O compromisso com a educação está na ordem da divulgação. Um fato 
evidente é que o avanço da linguística pode ajudar na educação. Divulgar um 
avanço da ciência é tão importante como fazer avançar a ciência, porque, na 
verdade, a ampliação da linguagem humana, a consciência da linguagem 
humana, a compreensão dos seus mecanismos dá ao homem a possibilidade 
de ascender à construção cultural que ele fez ao longo da história; é por meio 
da linguagem que eu tenho acesso a tudo aquilo que torna o homem 
especialmente humano. A linguística não pode em momento nenhum se 
alhear dessa preocupação de que ela tem que, digamos, socializar as 
descobertas, para que cada vez mais os homens ascendam a esses 
benefícios, ampliem a sua capacidade de linguagem, ampliem seus horizontes 
linguísticos com conhecimento de outras normas, de outros registros, de 
outras variantes... no sentido de que eles possam se tornar mais plenamente 
humanos. Esse é o papel da linguagem. 
(FIORIN, 2003, p. 74-75) 
De acordo com Fiorin (2003), ao pensarmos sobre a relação da linguística com a escola, podemos 
verificar como a compreensão do fenômeno da linguagem pode ser importante para todos, 
inclusive os estudantes, desmistificando conceitos tão estratificados na sociedade, como a 
homogeneidade da linguagem e suas transformações. 
Os estudos linguísticos têm dado importante contribuição ao desfazerem o mito da 
homogeneidade da língua. Compreender “o fenômeno linguístico como um fenômeno 
intrinsecamente heterogêneo e dinâmico” vai contra a concepção tradicional da linguagem como 
algo homogêneo e estático, ao mesmo tempo em que contribui para construir uma educação 
democrática, já que a linguagem passa a ser concebida como alteridade, algo heterogêneo, assim 
como os demais aspectos da realidade humana (FIORIN, 2003, p. 74). 
Se não há homogeneidade na linguagem, cabe à linguística e ao professor de língua atuar em favor da 
educação para a democracia, da educação para a cidadania. Nesse sentido, a democracia não é entendida 
como o governo da maioria, mas como “um sistema político em que existe um respeito à diferença, um 
respeito à diversidade” (FIORIN, 2003, p. 75). 
Quando a linguística evidencia a heterogeneidade da língua, a sua diversidade e pluralidade, está 
contribuindo para uma educação democrática, uma educação para a tolerância (FIORIN, 2003). 
A dicotomia certo/erradoem língua 
É comum muitos professores de língua portuguesa valorizarem questões como certo e errado no 
uso da língua, mas os linguistas passam a relativizar os critérios que são empregados com mais 
frequência. 
O desafio dos profissionais da língua portuguesa é ensinar o modo culto, prestigiado, de falar e escrever 
em nossa língua, mas sem reduzir o ensino apenas a isso, o que seria um empobrecimento enorme do ato 
de lecionar, porque a norma culta não vem de um valor intrínseco da língua. Ou seja, não existem formas 
que sejam intrinsecamente erradas ou certas, com exceção da ortografia, que passa por uma legislação 
bastante específica. 
O conceito de certo e errado passa por uma série de necessidades e convenções assumidas pela 
sociedade, resultando em normas de comportamento, de estilo musical e até do uso da língua. 
Quando uma dessas variedades é escolhida, as outras manifestações são condenadas. 
Por exemplo, uma frase como “Os carioca ama praia e carnaval”, geralmente, não é utilizada pelos 
usuários que pertencem à elite socioeconômica, pois isso geraria algum desconforto. Esse 
incômodo, entretanto, desaparece ao falar em uma língua cuja concordância verbal é inexistente 
ou está limitada ao uso do artigo, como no caso do inglês: “Cariocas love the beach and football”. 
Assim, a norma culta é uma variedade que foi escolhida como padrão, enquanto as outras são 
rejeitadas no ensino tradicional. 
O senso comum gerou a noção de que o papel do professor de língua materna é ser um juiz togado que 
bate o martelo para definir o que é certo ou errado na língua. Mas de uma perspectiva linguística, apenas 
depois que o profissional das letras passar a conhecer com profundidade a língua, suas variações e 
modalidades, ele poderá ter ideias mais claras sobre o ensino de língua e repensar suas práticas. 
 
Assim, o ensino de língua deveria se voltar para a sua origem, como os gramáticos faziam na 
Grécia e em Roma, cuja preocupação era com a eficiência do uso da língua, e não com a 
prescrição, ou seja, a intenção era que o falante estivesse preparado para exercer seus direitos 
por meio da língua. 
Quando a gramática passou a ter um fim em si mesma, o ensino passou a sofrer com isso, 
perdendo a reflexão sobre seu uso. Devemos nos lembrar de que trazemos a gramática 
internalizada em nossa mente, logo o desafio é refletir sobre ela, explicitando-a, em vez de 
apresentar exercícios que se encaixem naquilo que foi decorado e posteriormente cobrado em 
avaliações escolares. 
A descrição linguística e suas contribuições 
As aplicações da descrição linguística 
A língua pode ser estudada a partir de diferentes perspectivas, seja descritiva, social, cognitiva ou 
outra perspectiva, e como um sistema fechado. 
Geralmente, quando se fala sobre o estudo descritivo da língua, ele pode ser dividido no nível 
fonético-fonológico, morfológico e sintático, constituindo a gramática. 
Vamos tratar do nível fonético-fonológico, que é o primeiro nível, para demonstrarmos um pouco 
a contribuição da descrição linguística. 
Exemplo 
O nível fonético-fonológico pode ser usado para análises da língua portuguesa, como nos sons [t] e [tς]. 
 
 
Encontramos [t] como som inicial na palavra “tatu”. 
Temos [tς] como som inicial da palavra “tia”, no dialeto do Rio de Janeiro. 
Em português, o [tς] não distingue palavras. A mesma palavra é pronunciada como [‘tia] em algumas 
regiões do Brasil e como [‘tςia] em outras, mas não geram significados diferentes, ou seja, a representação 
mental de [t] e [tς] é a mesma. 
Do ponto de vista do som, percebemos a diferença entre eles, mas é uma diferença que não muda o 
significado. 
Algo contrário acontece entre [p] e [b], tanto que “pato” e “bato” são palavras diferentes pela simples 
mudança de um som. 
Assim, na língua portuguesa, os sons [t] e [tς] são duas realizações possíveis do mesmo fonema. Já em 
algumas línguas, como o italiano, esses dois sons aparecem como dois fonemas diferentes. 
Se no Rio de Janeiro se pronuncia [tςia], em outros lugares do Brasil se pronuncia [tia]. Essa é uma 
diferença diatópica, em outras palavras, uma diferença geográfica. O [tς], utilizado no dialeto carioca, é um 
alofone de /t/. 
Assim, a Linguística Aplicada pode informar e formar profissionais capazes de detectar 
problemas e buscar soluções práticas que serão investigadas na tentativa de solucioná-los, 
gerando novas hipóteses e novas investigações, contribuindo com novos conhecimentos para o 
ensino. 
A partir disso, pode-se gerar uma consciência de que o docente tem valor real e potencial para 
fazer um trabalho diferenciado no ensino. 
Como afirma Castilho: 
Temos de lembrar que nosso ofício maior não é ensinar a crase, é formar o 
cidadão de um estado democrático. Na democracia, exige-se do cidadão 
senso crítico, capacidade de julgar entre alternativas e escolher a que lhe 
pareça melhor. Dele se exige ampla exposição à variedade de possibilidades, 
à variedade de entendimentos e também à variedade linguística. Se lhe 
prescrevermos sem mais debates o que é considerado certo e condenarmos o 
que os manuais afirmam ser errado, estaremos matando na fonte a formação 
do cidadão. Isso é mais grave no caso dos alunos de classes subalternas hoje 
a maioria. Estaremos destruindo seu apego à variedade linguística aprendida 
em família, um dos fundamentos de sua identidade psicossocial. Chegar à 
escola e só ouvir que você e sua família falam errado é receber uma sentença 
de exclusão. 
(CASTILHO, 2002, p. 12) 
Na visão de Castilho (2002), a tarefa do professor é levar o aluno a discernir qual é a variedade 
linguística adequada a cada contexto de comunicação e interação. Essa tarefa é coerente com a 
perspectiva de uma escola e sociedade democráticas, em que os contrários convivem. 
Assim, não seria democrático a escola e o professor estarem limitados ou reduzidos “a um único 
recorte de língua, mesmo que seja aquele prestigiado pela sociedade, condenando o resto” 
(CASTILHO, 2002, p. 12). 
Podemos entender, então, que o objetivo do ensino da língua materna é preparar os cidadãos 
para o exercício dos seus direitos e deveres, capacitando-os para a integração ao mercado de 
trabalho com possibilidade de ascensão. 
video_library 
Descrição Linguística e Ensino de Língua 
Assista agora a um vídeo em que são comentadas as abordagens da Linguística em relação à 
língua e ao ensino de língua, destacando a importância de descrição linguística na formação e 
prática do professor de língua portuguesa. 
 
Vem que eu te explico! 
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de 
estudar. 
 
2:52 min. 
Módulo 1 - Vem que eu te explico! 
Heterogeneidade da língua e o respeito à diferença no ensino 
 
2:28 min. 
Módulo 1 - Vem que eu te explico! 
A dicotomia certo X errado no ensino de língua 
 
Falta pouco para atingir seus objetivos. 
Vamos praticar alguns conceitos? 
Questão 1 
Na relação entre o trabalho de descrição linguística e o ensino de língua, é possível identificar como 
contribuição da Linguística Aplicada 
A 
a promoção de abordagens teóricas que reconheçam e promovam a homogeneidade da língua. 
B 
a dissociação entre os estudos teóricos e as práticas relacionadas com o uso da língua. 
C 
o reconhecimento da heterogeneidade da língua e a superação da dicotomia entre teoria e prática. 
D 
o reconhecimento da dicotomia entre teoria e prática, e o entendimento da língua como fenômeno 
estático. 
E 
a separação entre a pesquisa linguística e a divulgação dos resultados dessa pesquisa no contexto 
escolar. 
Os estudos linguísticos, particularmente aqueles do campo da Linguística Aplicada, podem ajudar os 
professores de língua a reconhecerem o fenômeno linguístico como algo heterogêneo e dinâmico. Tal 
reconhecimento tem implicações no ensino de língua, pois evita posturas meramente prescritivas e 
dogmáticas em relação à língua. Assim, a pesquisae os aportes teóricos se aproximam da prática, 
contribuindo para mudanças no ensino-aprendizado de língua. 
Questão 2 
O fato de a palavra “tia” ser pronunciada como [‘tia] em determinadas regiões geográficas e como [‘tςia] 
em outros lugares aponta para uma variação no nível fonético-fonológico que não implica mudança de 
significado da palavra. Ao se dar conta de tal descrição linguística, o professor de língua portuguesa deve 
concluir que 
A 
a língua apresenta variações que demandam um ensino centrado na norma culta. 
B 
a língua apresenta variações que demandam um ensino centrado nas variedades populares. 
C 
a língua se reduz a variações nos falares, mas sem implicações no aprendizado escolar. 
D 
a língua é heterogênea e, por isso, a tarefa principal do professor é definir o que é certo. 
E 
a variação linguística aponta para a necessidade de adequação das variedades a cada contexto de 
comunicação. 
Na abordagem fonético-fonológica da língua, uma possibilidade é perceber as variantes linguísticas em 
termos de pronúncia, o que destaca a necessidade de o professor ajudar o aluno a compreender esses 
fenômenos a partir da descrição linguística e perceber quando e onde cada variante é adequada. 
 
2 - O Professor e a Diversidade Linguística 
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as implicações da diversidade linguística em sala de 
aula. 
Diversidade linguística 
A Diversidade no fenômeno social da linguagem 
Nosso país possui uma enorme diversidade linguística. Tal diversidade reflete a pluralidade 
cultural de nosso território, que se manifesta em costumes, tradições, crenças e outros aspectos. 
No entanto, as variações da língua, apesar do enriquecimento cultural, linguístico e de repertório, 
ainda são alvo de preconceito. 
Vale destacar que, além da língua portuguesa, convivem em nosso país quase 200 línguas 
indígenas – no período do descobrimento eram mais de 1.200 – sem contar comunidades de 
falantes do alemão, do italiano, do japonês, do espanhol, entre outras. 
Saiba mais 
No mundo, são mais de 6.000 línguas faladas, sem contar os dialetos e algumas divisões altamente 
questionáveis, e as línguas impostas que levaram à extinção de inúmeras outras. 
Em nosso caso, a diversidade linguística está relacionada à existência e à convivência de diversas 
línguas diferentes, além dos dialetos do próprio português espalhados por toda a nação. O 
conceito da diversidade implica a defesa de que haja respeito por todas as línguas e variantes, 
promovendo a preservação das línguas que estão em extinção. 
A proposta de estudar a diversidade linguística busca promover o ensino e o respeito às 
diferenças de cada língua, de cada falar, de cada região. 
Ao nos referirmos à língua, precisamos ter em mente que a sua função é a comunicação e a 
interação entre os indivíduos. É por intermédio do uso da língua que podemos questionar, 
entender, argumentar e transmitir informações. 
As diferenças existentes nas línguas têm origem, em parte, no contato com outros idiomas, nas mudanças 
ocorridas com o passar do tempo. 
Em relação aos regionalismos ou falares regionais, notamos que cada estado da federação possui 
características próprias, que o distingue dos outros, o que também se manifesta no aspecto linguístico, no 
jeito de falar, o chamado sotaque, por exemplo, e nas palavras típicas daquela localidade. 
 
As variações linguísticas também ocorrem graças a fatores ligados à faixa etária dos falantes, à 
classe social, à profissão, entre outros. 
A lição mais importante que qualquer ciência apresenta, incluindo a linguística, é que não existe um 
fenômeno bom ou ruim, mas que todas as manifestações são igualmente legítimas. 
O que temos, em termos linguísticos, é uma variação determinada por fatores vários, que, 
normalmente, não afetam a comunicação da língua. É impossível que um território de 8,5 milhões 
de quilômetros quadrados, com um alto índice populacional de mais de 200 milhões de 
habitantes, pudesse manter a língua como um todo uniforme, sem variações. 
 
Se, por um lado, há em nosso território uma unidade linguística, que é a língua portuguesa, ela passa por 
diversidade de falares, o que não dificulta que um falante do Norte do país interaja com um falante do 
Sudeste, mesmo com variações na fonética, na estrutura sintática ou no léxico, sem comprometer a 
unidade do português. 
Por isso, se aplica a máxima "unidade na diversidade e diversidade na unidade" como questão 
central sobre a língua portuguesa. 
Como a língua é uma entidade social, ela está em constante modificação, assim como qualquer 
sociedade. Por isso, estigmatizar ou rejeitar qualquer modo de falar é um grande equívoco, 
porque, no final das contas, é rejeitar aquela comunidade da qual o falante faz parte. 
Afinal, não existe variante intrinsecamente superior a outra, mas um prestígio de algumas formas 
graças ao impacto econômico, por exemplo, que lhe dão maior destaque. Um exemplo é a norma 
culta, que está ligada ao poder que aquela camada tem sobre a sociedade. 
A escola frente à diversidade linguística 
Diversidade linguística e o desafio da escola 
A escola precisa estar atenta a essas questões porque o contexto escolar reúne diversas 
realidades culturais, sociais e econômicas no mesmo espaço. Ao se abrir espaço para o 
preconceito linguístico, contribui-se para uma queda na qualidade educacional de nossos alunos. 
Fazer comentários jocosos ou desprezar certos modos de falar é danoso para a educação. 
 
As variações linguísticas são divisões que surgem naturalmente nas línguas, que são distintas da 
norma padrão, porque têm a ver com as convenções da sociedade, com o momento histórico, o 
contexto ou a região em que o falante está inserido, sendo um tema amplamente estudado pela 
linguística. 
Uma língua só vai deixar de mudar quando morrer. Conforme diz o gramático e professor Evanildo 
Bechara, “uma língua que só apresenta um só estilo já não é uma língua viva” (BECHARA, 2009, p. 
25). 
Nesse sentido, fica claro que muitas palavras utilizadas hoje na região em que você vive, 
provavelmente, não existiam no passado, assim como formas de falar que os jovens utilizam 
diferem bastante da de seus pais e avós. Tudo isso contribui para a pluralidade linguística de 
nosso idioma. 
Assim surgem diferentes variantes da língua que apresentam características próprias. Podemos 
dividir as variações linguísticas em quatro grupos: 
Diastráticas 
Têm origem nas diferenças entre os diversos grupos e classes sociais. 
Diatópicas 
Têm origem nas diferentes regiões geográficas. 
Diacrônicas 
São características de certas épocas históricas e variam conforme o tempo. 
Diafásicas 
São características de certos contextos comunicativos, em situações de maior ou menor formalidade. 
Infelizmente, as variações linguísticas quase sempre são vistas como formas utilizadas pelas 
pessoas que não têm um bom nível de escolaridade, ou seja, é uma forma de ver a questão 
bastante preconceituosa e errada, porque tal manifestação linguística é extremamente rica e 
demonstra a complexidade e beleza da relação entre língua e sociedade. 
Assim, o ensino da língua materna precisa levar em conta as variações linguísticas e a 
heterogeneidade da língua. Com isso, o professor será capaz de desmitificar a noção 
amplamente desenvolvida de que são erros. 
Um trabalho assim é capaz de investigar sobre as variações, diminuir o preconceito linguístico, a partir da 
observação de elementos que interferem na fala. Com isso, a sociedade e a escola podem interagir para 
um melhor desenvolvimento das aulas de língua materna. 
O estudo da língua materna não pode ficar restrito apenas à escrita, mas precisa analisar a forma 
falada, já que é por meio da espontaneidade da manifestação oral que se observam elementos 
que não ficam restritos à norma culta e apresentam características regionais. Entender tudo isso 
pode contribuir para um melhor

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