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Nefropatias Hereditárias - Anatomia e Fisiologia Patológicas (Resumo)

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1 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
Nefropatias Hereditárias 
NEFROPATIAS HEREDITÁRIAS 
• Anomalias de volume ou número: 
o Agenesia renal: 
▪ Agenesia bilateral: 
❖ Rara e incompatível com a vida 
❖ Redução/Ausência de urina fetal → Oligoidrâmio (diminuição do líquido amniótico) → Sequência 
de Potter (hipoplasia pulmonar, deformações da face e das extremidades por compressão do feto) 
▪ Agenesia unilateral: 
❖ Compatível com a vida 
❖ O rim formado sofre hipertrofia compensadora 
o Hipoplasia renal: 
▪ Rara 
▪ Presença de 5 ou menos cálices e papilas (critério 
diagnóstico) 
▪ O rim fica mais susceptível a infecções 
▪ A hipoplasia renal bilateral (raríssima) resulta em 
insuficiência renal precoce 
o Rim supranumérico: 
▪ Raro 
▪ Tem sua própria pelve e normalmente se abre no ureter normal do mesmo lado 
▪ Pode ter seu próprio ureter e esse ureter desaguar em outro local que não na bexiga (Ex.: Vagina) 
• Anomalias de posição: 
o Rim ectópico: 
▪ Anomalia mais comum 
▪ Ausência da subida e da rotação lateromedial do rim (normais no desenvolvimento) 
▪ Consequências anatômicas: 
❖ Rim em posição baixa (lombar, ilíaca ou pélvica) 
❖ Forma discoide, com pelve e ureter anteriores (a forma reniforme é devida à rotação) 
❖ Ureter mais curto e retilíneo 
❖ Artéria Renal originando em ponto mais baixo da Aorta 
BOGLIOLO 
 
Figura 17.2 Hipoplasia do rim esquerdo 
(comparar com o rim direito, normal). 
 
2 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
▪ Sede frequente de infecção e litíase 
▪ Pode comprimir estruturas como vasos e nervos (Podendo 
simular outras doenças) 
▪ Rins ectópicos podem fundir-se (Ex.: Rim em ferradura – 
Fusão de polos inferiores), predispondo-os a várias 
afecções 
• Anomalias de diferenciação (Doenças císticas do rim): 
o Doença renal policística autossômica recessiva: 
▪ Rara e bilateral 
▪ Pode causar a morte por insuficiência renal em horas (forma perinatal), semanas (forma neonatal) ou 
raramente meses/anos de vida (formas infantil e juvenil) 
▪ Rins volumosos ou de tamanho normal, com aspecto esponjoso e com inúmeros pequenos cistos 
enfileirados em sentido radial (cistos da medula para o córtex, aspecto de laranja) 
▪ Cistificação de ductos corticais e medulares → Cistos com parede delgada, revestidos por células 
cuboides ou achatadas e com líquido claro 
▪ Falha no gene PKHD (localizado em 6p21), que codifica fibrocistina 
▪ Associado com malformações hepáticas (Síndrome Fibrocística Hepatorrenal). Podem ocorrer cistos 
hepáticos, fibrose hepática congênita e, nas formas infantil e juvenil, até hipertensão portal e 
esplenomegalia (mais graves que o quadro renal) 
▪ Podem coexistir também cistos pancreáticos e pulmonares 
▪ Rim não funcionante → Oligoidrâmio → Hipoplasia pulmonar 
 
Figura 17.4 Doença policística autossômica recessiva. A. Cistos em disposição radial, formados pela dilatação dos túbulos 
coletores. B. Cistos revestidos por epitélio tubular comprimindo os glomérulos remanescentes. 
o Doença renal policística autossômica dominante (Doença policística renal do adulto): 
▪ Comum (1 a cada 500 a 1000 nascidos vivos) 
▪ Bilateral 
▪ Transtorno na nefrogênese: Alterações na policistina → Distúrbios de proliferação e diferenciação do 
epitélio tubular, modificações na matriz extracelular e na secreção de fluidos → Cistos 
▪ Mutações nos genes que codificam policistina 1 e 2 (PKD1*, PKD2 e PKD3) 
Figura 17.3 Fusão renal pelos polos 
inferiores (rim em ferradura). 
 
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❖ Doença herdada em heterozigose, mas sua expressão depende do "segundo golpe" no alelo normal 
(homozigose) 
❖ Ainda pode haver um evento isquêmico associado (chamado de terceiro golpe) 
▪ Rim aumentado de volume e ocupado de inúmeros cistos deformando a superfície externa 
▪ Cistos: 
❖ Vários tamanhos (microscópicos até 5 cm) 
❖ Uni ou multiloculares 
❖ Com líquido ou substância gelatinosa de cores diversas (Rim policístico e policromático) 
❖ Revestidos por epitélio achatado (às vezes colunar) 
❖ Em qualquer parte do néfron (principalmente túbulos e sistema coletor) 
❖ Envoltos por ilhotas de parênquima renal comprimidas ou isquêmicas (por espessamento intimal 
das arteríolas) 
❖ Podem ocorrer também no fígado* (fígado policístico), pâncreas, baço e pulmões 
▪ Aspectos clínicos: 
❖ Manifestação tardia (lento dano estrutural e parênquima renal remanescente mantendo função), 
geralmente depois dos 40 anos 
❖ Hematúria, proteinúria discreta, poliúria, insuficiência renal progressiva, hipertensão arterial e suas 
complicações 
❖ Sobrevida longa (70-80 anos) 
❖ Não tem predileção por sexo, mas nos homens evolui mais rápido 
❖ Infecções, hemorragias e litíase renal agravam o curso da doença 
❖ Pode estar associado com aneurismas cerebrais (10-30%), que podem romper e levar a óbito (5-
10%) e com prolapso da valva mitral (normalmente assintomático) 
 
Figura 17.5 Doença policística autossômica dominante. A. Superfície externa. B. Superfície de corte. Rim aumentado de 
volume. Parênquima renal quase totalmente substituído por cistos de tamanho e coloração variados. 
o Doença renal glomerulocística: 
▪ Geralmente em recém-nascidos, crianças ou adultos jovens com insuficiência renal e cistos renais 
▪ Cistos glomerulares envolvendo o espaço de Bowman (em mais de 5% dos glomérulos) 
 
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▪ Formas: 
❖ Familial 
❖ Associada a doenças hereditárias 
❖ Sindrômica 
❖ Esporádica 
❖ Adquirida 
▪ Pode ser expressão da DRPAD e DRPAR ou estar 
associada a esclerose tuberosa, displasia renal, 
síndrome da displasia renal-hepaticopancreática 
e trissomia do cromossomo 13 (Síndrome de 
Patau) 
▪ A gravidade depende da forma e da intensidade 
das lesões, podendo levar a insuficiência renal 
crônica 
 
 
o Nefronoftise medular: 
▪ Herança autossômica recessiva 
▪ Causa insuficiência renal crônica em crianças e adolescentes 
▪ Defeitos em genes do complexo cílio-centrossomo → Ciliopatia 
▪ Gera poliúria e polidipsia 
▪ Rins moderadamente contraídos e com superfície granular e cortical delgada 
▪ Cistos (nem sempre encontrados) preferencialmente na junção corticomedular e com revestimento 
epitelial cuboide ou plano. Há fibrose e infiltrado inflamatório de mononucleares em volta 
▪ Túbulos hipotróficos (membrana basal espessada, delaminada e irregular) 
o Doença cística da medular: 
▪ Herança autossômica dominante → MCKD1 e MCKD2 - Uromodulina (Tamm-Horsfall) 
▪ Acomete adultos 
▪ Dificuldade de concentrar a urina, poliúria, polidipsia e cistos na junção corticomedular e na medular 
▪ Achados morfológicos semelhantes à Nefronoftise (hipotrofia, fibrose, infiltrado inflamatório etc.) 
▪ Cistos pequenos (USG pode não detectar) 
▪ Glomeruloesclerose invariavelmente presente, focal ou difusamente 
▪ Achados histológicos inespecíficos (suspeita baseada em história familiar) 
o Von Hippel-Lindau (VHL): 
▪ Herança autossômica dominante → Mutação inativadora de VHL → Acúmulo intracelular de HIF e vias 
efetoras (VEGF, PDGF, TGF etc.) → Efeito na ciliogênese (proliferação e diferenciação dos túbulos renais) 
Figura 17.6 Doença renal glomerulocística. Cisto glomerular. 
 
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▪ No rim → Cistos renais e carcinoma de células renais 
▪ Manifestações extrarrenais → Hemangioblastoma (SNC), cistos pancreáticos, cistadenoma (pâncreas e 
ovário), tumores neuroendócrinos, feocromocitoma etc. 
o Esclerose tuberosa: 
▪ Herança autossômica dominante 
▪ Doença multissistêmica (retardo mental, epilepsia, hamartomas) 
▪ No rim → Angiomiolipomas e cistos renais 
▪ Manifestações extrarrenais → Nódulos subependimários, astrocitoma subependimário de células 
gigantes, rabdomiomas cardíacos, linfagioleiomiomatosepulmonar, polipose intestinal etc. 
▪ Inativação de TSC1 e TS2 (tuberina-hamartina - supresor tumoral por inibição da mTOR) 
❖ Defeito ciliar associado – disfunção da polaridade celular 
o Rim da medular esponjosa: 
▪ Geralmente adultos homens 
▪ Poucos casos hereditários (5%) 
▪ Dilatação dos ductos coletores → Cistos de 8 a 10 cm na medular 
▪ Cistos revestidos por epitélio colunar, achatado ou transicional 
▪ Hematúria e sinais/sintomas relacionados com obstrução e infecção urinárias 
▪ Quadro radiológico característico (estriações lineares ou aspecto de flores, leque ou cacho de uvas) 
▪ Pode estar associado com pielonefrite crônica → Rim fica diminuído e esclerótico 
o Displasia renal: 
▪ Doença esporádica (sem caráter familial) 
▪ Geralmente unilateral (bilateral é incompatível com a vida) 
▪ Parada de ramificação das ampolas dos ramos ureterais → Falta de indução de desenvolvimento de 
néfrons + Formação de cistos 
▪ Doença cística renal mais frequente e causa mais comum de massa abdominal em recém-nascidos 
▪ Pode ocorrer involução pós-natal (1/3 dos casos) 
▪ Frequentemente associada à Síndrome de Potter, ectopia renal, duplicação ureteral e hidroureter 
▪ Coexistem malformações na pelve, nos cálices e no ureter. Pode ter estenose congênita das vias urinárias 
▪ Cistos revestidos por epitélio prismático ou cúbico 
▪ Encontram-se tecido metanefrógeno com pequenos dúctulos e massas de tecido mesenquimal 
indiferenciado (podendo haver ilhotas de cartilagem e músculo liso) 
 
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Figura 17.7 Displasia renal cística. A. Aspecto macroscópico. Massa irregular formada por cistos de tamanho variado. 
Perda da forma renal. B. Cistos de forma e tamanho variados, circundados por tecido mesenquimal indiferenciado, em meio 
a túbulos rudimentares e imaturos. 
o Cistos solitários/simples/urinosos: 
▪ Muito comuns (principalmente em idosos) 
▪ Patogênese relacionada com divertículos tubulares 
adquiridos em pontos de enfraquecimento da MB 
▪ Diagnóstico diferencial de tumores renais 
▪ Cistos: 
❖ Pequenos (1 a 4 cm) 
❖ Quase sempre na cortical 
❖ Parede fina, semitransparente, com superfície 
interna lisa ou finamente trabeculada, revestida 
por epitélio cuboide ou achatado 
▪ Com líquido incolor, límpido, raramente gelatinoso 
ou hemorrágico 
▪ Assintomáticos (exceto quando raramente se infectam ou são grandes ao ponto de simular tumores e 
comprimir estruturas adjacentes, como a A. Renal) 
o Anomalias dos vasos renais: 
▪ Exemplos: 
❖ Artéria renal acessória (vindo da A. Aorta, da A. Renal principal ou, mais raramente, das Aa. Ilíacas) 
❖ Bifurcação extrarrenal da A. Renal 
▪ Podem comprimir o ureter e causar hidronefrose 
▪ Lesões estenosantes ou ligadura cirúrgica desses vasos podem levar à hipertensão arterial renovascular 
Figura 17.8 Cisto renal simples. Parede fina e 
lisa (seta).

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