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Fundamentos historicos,teoricos e mtodologicos do serviço social 3 n8

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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS 
E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL 
III
A FASE DO ESPRAIAMENTO DA 
PERSPECTIVA DE INTENÇÃO DE RUPTURA
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Olá!
A terceira fase da perspectiva de Intenção de Ruptura foi chamada por José Paulo Netto de “fase do
espraiamento”, ou seja, de disseminação e consolidação da perspectiva marxista no Serviço Social brasileiro.
Esse processo ocorre no período de redemocratização do país, sob o clima de participação e organização da
sociedade civil, mobilizações sociais e retorno ás liberdades políticas, na década de 80 . A categoria das
assistentes sociais articulada por suas organizações representativas, vai alcançar o auge de sua organização e
proposição política no “Congresso da Virada”, onde o novo projeto ético-político da profissão passa a ser
assumido nacionalmente.
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Descrever o contexto sócio-econômico-político do processo de abertura política e democratização do país na
década de 1980.
2. Apresentar como se deu a disseminação da perspectiva de Intenção de ruptura no Serviço Social.
3. Demarcar a importância do III Congresso Nacional de Serviço Social, “ O Congresso da Virada”.
1 O contexto sócio-econômico-político do processo de 
redemocratização do país na década de 80
O processo de democratização, iniciado no final da década de 70, se inscreve num cenário onde verifica-se uma
crise econômica e política. A crise econômica, em relação ao modelo desenvolvimentista conduzido pelo regime
militar, sofre impactos do movimento da economia mundial, num período de profundas transformações. A crise
política refere-se ao Estado “Autocrático Burguês”, questionado em sua legitimidade e eficácia, já que o “milagre
do desenvolvimento” não trouxe frutos para todos os trabalhadores, que foram responsáveis por aumentar em
grande escala a produção de riquezas no país. Também passa a ser questionado pelo cerceamento das liberdades
civis, políticas e dos meios de comunicação social. Vejamos a relação entre os acontecimentos que levaram à
crise do regime e ao processo de redemocratização do país.
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No Brasil, o Estado ditatorial, chamado por José Paulo Netto de “Autocracia Burguesa”, promoveu um ponderável
desenvolvimento das forças produtivas, realizando de fato a “industrialização pesada”, com a imposição de um
“modelo econômico”, entre 1969 e 1974. Este período configurou o chamado “milagre brasileiro da era
desenvolvimentista”, tendo por base o endividamento externo, a super-exploração da classe trabalhadora, cujas
resultantes são:
Inserção subordinada e dependente do país, em uma nova divisão internacional do trabalho;
Ampliação e consolidação de um considerável parque industrial;
Criação de um sistema bancário-financeiro monopólico;
Constituição de uma oligarquia financeira;
Redimensionamento da agropecuária voltada para a exportação;
Agravamento dos desequilíbrios regionais;
Crescimento urbano caótico;
Brutal concentração de renda e da propriedade.
Saiba mais
Clique no link e continue sua leitura sobre esse assunto: http://estaciodocente.webaula.com.br
/cursos/gon187/docs/04FH_aula8_doc01.pdf
http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula8_doc01.pdf
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2 A relação do Serviço Social com os movimentos sociais
De um lado, a crítica ao Desenvolvimento de Comunidades promovida no âmbito do Movimento de
Reconceituação do Serviço Social, mais especificamente pela perspectiva de Intenção de Ruptura, que
desvendara seu caráter ideológico, reiterativo e manipulador, apontava seus limites e sinalizava a necessidade
de novos aportes teóricos e metodologias voltadas para os movimentos sociais.
Por outro lado, o Movimento de Reconceituação do Serviço Social também apontava os limites da ação dos
profissionais no interior das instituições. Com base na teoria marxista, começa-se a desenvolver um estudo que
expõe claramente as relações de poder típicas do sistema capitalista, e passam a explicitar o papel legitimador
das instituições, no que concerne à dominação e à exploração de classe.
Baseado nos estudos sobre Antonio Gramsci (autor fundamental na perspectiva marxista para o Serviço Social),
entendeu-se que a profissão, na lógica capitalista, está inserida nas organizações para buscar obter o necessário
consentimento das classes dominadas, visando assegurar a ordem burguesa estabelecida. Nesse sentido, na
busca do equilíbrio entre consenso e coerção, as instituições revestem-se de uma roupagem humanitária,
distribuindo bens e serviços, que em última instância reforçam a acumulação capitalista, ao colaborar com o
capital na oferta de condições mínimas imprescindíveis à reprodução da força de trabalho.
Assim, o debate no âmbito do Serviço Social, no final da década de 70 e início dos anos 80, com base no novo
referencial teórico marxista, apontava para a um novo posicionamento político: atuar em prol da classe
trabalhadora, dos movimentos sociais. Isso significava rever seu clássico papel de colaborador com a classe
dominante na exploração e dominação política e ideológica da classe trabalhadora.
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Várias experiências inovadoras passam a ser desenvolvidas, principalmente através das universidades, via
projetos de estágio e extensão universitária. Um exemplo de prática profissional voltada para atuação junto às
classes populares com base nesse novo referencial, é relatado por AMMANN, em seu livro “Ideologia do
Desenvolvimento de Comunidade no Brasil”, cujo trecho reproduzimos:
“A prática do Serviço Social da PUC de São Paulo junto ao Movimento popular decorreu da criação de
campos-piloto, objetivando trabalho com a população moradora da periferia da cidade. Ela se
viabilizou pela inserção no Movimento de Loteamentos Clandestinos, cujos objetivos, em 1978 (
época da prática) , eram os seguintes: conseguir as escrituras; conscientizar os moradores dos
loteamentos por que acontecem as coisas; aumentar a participação dos moradores nos bairros;
formação de lideranças; criação de organizações permanente nos bairros, isto é, o povo estar sempre
organizado, inclusive para resolver outros problemas; ligar o Movimento dos Loteamentos
Clandestinos a outros movimentos.
A equipe adotou o método de investigação-ação, procurando superar o caráter acadêmico, formal,
distanciado da realidade. A primeira aproximação com a população deu-se a partir das necessidades
concretas no âmbito das melhorias urbanas: água, luz, ônibus, coleta de lixo, etc. Elas viabilizaram o
estabelecimento de vínculos, de relações com os moradores, e a ação valorizada pela equipe, ao
permitir a participação no cotidiano das classes populares. A reflexão permanente sobre as ações era
privilegiada pela busca de explicações mais amplas das práticas desenvolvidas pela população, num
processo de pensar e repensar suas práticas.
Uma das funções importantes da equipe de estágio diz respeito a seu assessoramento à população,
na recorrência às instituições: facilitando seu acesso ao cumprimento de exigências problemáticas;
como redigir documentos; organização de idas coletivas à prefeitura; obtenção de informações;
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mapeamento da área e da rede de serviços etc.. Por esse meio, a equipe procurava contribuir para a
inclusão do movimento nos serviços institucionais aos quais tem direitos, forçando inclusive as
instituições a redimensionarem suas prioridades.” ( AMMANN, 1977, p. 186)
Uma avaliação das práticas inovadoras desenvolvidas pela equipe da PUC de São Paulo, apresentou conclusões
sobre os procedimentos profissionais pautados nesse novo referencial teórico-metodológico, muito importantes,
que demarcam com clareza a distinção entre essa nova proposta e a metodologia de Desenvolvimento de
Comunidade, baseada em outro referencial teórico, metodológico e político, que transcrevemos:
Praticas inovadoras
A reflexão sobre o processo de inserção do Serviço Social junto ao Movimento Popularem pauta desemboca em
conclusões válidas para outras experiências:
A realidade e os sujeitos nela situados estão em relação e em movimento. O “dever-ser” ( o novo, o futuro) é
encontrado com os próprios atores em ação e relação.
O desvelamento da realidade e dos sujeitos situados não ocorre de imediato. É a ação e reflexão duradoura nela e
com eles que permite ultrapassar as aparências e reconhecer a essência.
Os grupos se formam a partir de um processo motivador, calcado no próprio universo de vida destes, de suas
necessidades concretas de subsistência e existência.
Assim posto, os grupos já têm elaborado e vivenciado um prática social nascida de sua própria necessidade de
efetividade, compreensão e luta pela subsistência. Dessa forma, o agente técnico não pode ir aos grupos com
programas prontos.
O grupo caminha com maior riqueza quando sua proposta está calcada em ação.” ( AMMANN, 1977, p. 189-190).
3 O III Congresso Brasileiro de Serviço Social: “O Congresso 
da Virada”
São diversos os eventos da categoria que antecedem e preparam o debate que se dará de forma inovadora no III
Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. O CELATS exerceu um papel fundamental junto à categoria, tendo
priorizado a articulação e o fortalecimento de organizações sindicais de assistentes sociais no Brasil, na gestão
de Leila Lima Santos como diretora executiva. Financiou no período de 1978 a 1979 três encontros nacionais.
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As convenções da Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social – ABESS, realizadas em 1973 ( São Luiz,
Maranhão), 1976 ( Piracicaba, São Paulo) e 1979 em Natal, são palcos de discussão de diferentes perspectivas
teóricas e de disputa política pela hegemonia da entidade, pelos setores progressistas da profissão.
Em 1978, ocorre a rearticulação do Movimento Estudantil no Serviço Social, com a realização do Encontro
Nacional de Estudantes de Serviço Social – ENESS, realizado me Londrina, em 1978.
No III Encontro Nacional de Entidades Sindicais, realizado em 1979, em São Paulo, é criada a Comissão Executiva
Nacional de Entidades Sindicais de Assistentes Sociais – CENEAS. Isso porque havia necessidade de articulação
dos diversos sindicatos de assistentes sociais existentes no país, em torno de formulação de propostas coletivas
para a categoria de assistentes sociais que aumentava a cada dia, em decorrência do aumento do número de
Escolas de Serviço Social e das demandas por esse profissional no mercado de trabalho.
A Convenção realizada pela ABESS em Natal, 1979, aprovou a nova proposta curricular para a profissão:
“O novo currículo aprovado expressou as diversas tendências do meio profissional, numa
perspectiva pluralista. Para essa solução, houve um embate teórico-metodológico significativo, entre
as posições antagônicas com relação a formação profissional. Na eleição para a entidade, foi eleita
uma chapa de composição liberal progressista. Para a solução encontrada na Convenção de Natal,
ressalta-se a contribuição de Nadir Kfouri, que defendeu a necessidade de haver uma renovação no
Serviço Social, ressaltando a contribuição de jovens professores. O novo currículo mínimo só foi
aprovado pelo Conselho Federal de Educação em 1982, através do Parecer nº 412.” ( Serviço Social e
Sociedade, nº 100, 2009, p.687).
Saiba mais
Saiba mais: Para finalizarmos os assuntos dessa aula clique no link e leia o texto “O III
Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais”: http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos
/gon187/docs/04FH_aula8_doc02.pdf
Assista o DVD: O Congresso da Virada e os 30 anos da revista Serviço Social e Sociedade. São
Paulo: Cortez, out. dez; 2009.
http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula8_doc02.pdf
http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula8_doc02.pdf
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O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• A hegemonia do materialismo histórico-dialético no Serviço Social brasileiro
• Como se dá a consolidação da perspectiva do materialismo histórico no Serviço Social nas Diretrizes 
Curriculares e agenda política da categoria.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• O contexto sócio-econômico-político do processo de redemocratização do país na década de 80;
• Como a perspectiva marxista se tornou hegemônica no Serviço Social brasileiro.
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	Olá!
	1 O contexto sócio-econômico-político do processo de redemocratização do país na década de 80
	2 A relação do Serviço Social com os movimentos sociais
	3 O III Congresso Brasileiro de Serviço Social: “O Congresso da Virada”
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

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