Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO 1. Definição ....................................................................... 3 2. Epidemiologia .............................................................. 3 3. Fisiopatologia e etiologias ...................................... 4 4. Quadro clínico e crise asmática ............................ 8 5. Diagnóstico ................................................................10 6. Controle e Classificação ........................................15 7. Tratamento .................................................................17 Referências Bibliográficas .........................................25 3ASMA 1. DEFINIÇÃO A asma é uma doença crônica das vias aéreas inferiores, de etiologia desconhecida, e com presença de vá- rias células e elementos celulares. É caracterizada pela inflamação crô- nica e hiper-reatividade brônqui- ca, além de episódios recorrentes de obstrução generalizada das vias aéreas – que se reverte espontanea- mente ou com tratamento. A hiper-reatividade brônquica se ex- pressa como uma resposta bronco- constritora exagerada a estímulos que, em situações normais, não cau- sariam qualquer sintoma em indiví- duos normais. O quadro clínico clássico da asma in- clui tosse, dispneia, sibilância e opres- são torácica, especialmente à noite e no início da manhã. Entretanto, outros sinais e sintomas menos clássicos podem estar frequentes, o que vere- mos com mais detalhes ao longo des- se resumo! CONCEITO! Asma é uma doença crôni- ca das vias aéreas inferiores caracteri- zada pela inflamação, hiper-reatividade brônquica e episódios recorrentes de obstrução das vias aéreas – que se re- verte espontaneamente ou com trata- mento 2. EPIDEMIOLOGIA A asma é um distúrbio extremamente comum. Atinge cerca de 300 milhões de pessoas ao redor do mundo, tendo a maioria dos casos início antes dos 25 anos de idade – embora possa acometer qualquer faixa etária. O Brasil ocupa a 8ª posição em pre- valência de asma. A prevalência va- ria de 4,7% a 30,5% - com média de 20% da população, segundo o estudo multicêntrico ISAAC, envolvendo 56 países. Além disso, segundo o Data- SUS, o Brasil teve 160 mil internações por asma em 2011, colocando a asma como quarta causa de internações. Os meses de outono e inverno possuem taxas maiores de internação, o que destaca o caráter sazonal da doença. Figura 1: Worldwide variation in prevalence of symp- toms of asthma, allergic rhinoconjuctivitis and atopic eczema: ISAAC. 4ASMA 3. FISIOPATOLOGIA E ETIOLOGIAS Ainda não se sabe exatamente o que causa a asma, mas sabe-se que existem diversos fatores envolvidos na fisiopatologia da doença, como a hereditariedade – diversos genes são envolvidos na sua patogênese, em- bora não se tenha encontrado um que isoladamente precipite a doença – fatores ambientais e a obesidade. A principal característica da asma é a inflamação dos brônquios, pre- sente mesmo naqueles oligossinto- máticos ou assintomáticos. A mucosa brônquica inflamada gera hiper-rea- tividade a diversos estímulos, que podem variar entre cada indivíduo. A atopia é o fator predisponente identificável mais forte para a asma. Em mais de 90% das crianças e 60% dos adultos, a asma tem origem alérgi- ca e seu mecanismo envolve a produ- ção de imunoglobulinas IgE. Nela, te- mos a reação imediata e a reação tardia, constituindo a inflamação crônica que caracteriza a doença. Essa inflamação irá gerar diminuição do calibre das vias aéreas – pelo edema e pela hipersecre- ção de muco – bem como hipersensibi- lidade a estímulos, que contrai a mus- culatura brônquica exageradamente. Do ponto de vista imunológico... E como tem início todo esse processo? Primeiramente, temos um processo de sensibilização: os alérgenos são inalados e têm contato com as células dendríticas do epitélio brônquico. Estas reconhecem, processam e apresentam fragmentos dos alérgen os aos linfó- citos T auxiliares. Estes, por sua vez, passam a produzir citocinas em res- posta, causando proliferação de linfó- citos T helper 2 – os famosos Th2. SAIBA MAIS “Se quiser vencer, volte sempre aos básicos”: vamos usar o conselho de dr. Richard We- bber para Cristina Yang e voltar à imunologia para compreender o que acontece na asma. (Eu sei, Grey’s Anatomy é tãão clichê...) Vamos lá: temos as vias Th1, Th2 e Th17. O que decide que uma via vai ser produzida, em detrimento da outra? Os estímulos! As cito- cinas produzidas lá no início da resposta imune estimularão a produção de linfócitos T CD4 específicos de uma ou outra via. A via do Th1 produz a gamainterferona e IL-12; a do Th2 produzem a IL-4 e a via do Th17 produz citocinas pró-inflamatórias. A produção de IL-4 e outras citocinas mais específicas estimulará ainda mais a diferenciação dos linfócitos em Th2, bem como irá inibir o desenvolvimento de outras vias. Logo, um desequilíbrio desse mecanismo, favorecendo a produção de Th2, é fundamental na patogênese da asma alér- gica. E o que é tão importante de saber sobre o papel da Th2 nesse caso? É que condições mediadas pela via do Th2 geralmente respondem muito bem aos corticoides! Por outro lado, veremos mais à frente que existem fenótipos de asma cuja patogênese não necessariamen- te segue a via do Th2. Vamos ver também que esses fenótipos geralmente não respondem bem aos corticoides, e é por isso que vamos considerá-los quando o paciente for refratário à terapia com essa classe de medicamentos. 5ASMA De volta à patogênese, os linfócitos T aos quais foram apresentados os an- tígenos produzem, então, citocinas. Essas citocinas estimulam a produ- ção de IgE, pelos linfócitos B – além de estimular produção de mastócitos e aumentar meia-vida de eosinófilos. Os anticorpos produzidos alcançam a cir- culação e se ligam aos receptores de alta afinidade nos mastócitos. Figura 2: Ilustração da ativação e especialização dos linfócitos. Fonte: Abbas, 2012, p. 216 Pronto, isso tudo foi o processo de sensibilização. A partir daí, o que acontece? Sempre que o indivíduo entrar em contato com o alérgeno que estimulou esse processo, este alérge- no irá se ligar aos IgE nos mastócitos. Os mastócitos, então, vão liberar me- diadores e abrir a junção entre as célu- las do epitélio, promovendo a entrada do alérgeno na mucosa e a produção de mais mastócitos e eosinófilos, que também liberarão mediadores nesse momento. Esses mediadores promo- vem o broncoespasmo, aumento da permeabilidade vascular, produção de muco e recrutamento de célu- las do sangue: isso por via direta e por reflexos neuronais – pois a le- são epitelial causa desnudamento do epitélio, expondo nervos sensoriais aferentes. Essa reação se denomina reação imediata, caracterizada pela obstrução de vias aéreas, principal- mente pela contração da muscula- tura lisa. 6ASMA FISIOPATOLOGIA CITOCINAS Linfócitos T auxiliares Linfócitos T helper 2 (Th2) Produção de mastócitos Aumentar meia-vida eosinófilos Produção de IgE por Linfócitos B Produção e liberação de mediadores Broncoespasmo Aumento permeabilidade vascular Produção de muco Alérgenos Células dendríticas Sensibilização Reação imediata 7ASMA Já a fase tardia, que ocorre após ho- ras do contato com o alérgeno, tem início com a chegada de leucócitos, com liberação de mediadores produ- zidos pelos próprios leucócitos, pelo endotélio e pelas células epiteliais. É caracterizada pela hiper-sensibilida- de brônquica e pela inflamação eosi- nofílica. Logo, os eventos precoces na res- posta asmática são a ativação de células inflamatórias locais, espe- cialmente mastócitos e eosinófilos. Mediadores de fase aguda (leuco- trienos, prostaglandinas e histamina) induzem rapidamente a contração de músculos lisos, hipersecreção e vasodilatação, com vazamento en- dotelial e produção de edema. Célu- las epiteliais também liberam leuco- trienos, prostaglandinas e citocinas inflamatórias. Há também recruta- mento, ativação e multiplicação de células inflamatórias imunes, que participamde uma série prolongada de eventos que perpetua a inflama- ção e a hiper-reatividade. Em alguns portadores com asma mais grave, células epiteliais e miofi- broblastos abaixo do epitélio prolife- ram e fazem deposição intersticial de colágeno e proteoglicanos, gerando espessamento e outras lesões irre- versíveis. Pode haver também hiper- trofia e hiperplasia do músculo liso, aumento do número das células ca- liciformes e das glândulas submuco- sas, bem como alteração do depósito e degradação da matriz extracelular. Isso tudo altera a arquitetura das vias aéreas, podendo afetar diretamente a função pulmonar de maneira irre- versível. Repetindo o que citamos ali em cima: apesar de a asma alérgica ser o prin- cipal mecanismo de patogênese da doença, existem ainda vias que esti- mulam eosinófilos sem contato com aeroalérgenos, gerando quadro clíni- co asmático. São substâncias irritan- tes como cigarro, fármacos poluição atmosférica, alterações climáticas, exercícios, infecções de vias aéreas, exposições ocupacionais e outros agentes físico-químicos. De qual- quer forma, há ativação de células locais – especialmente eosinófilos e mastócitos – e pode ocorrer ativação de IgE ou a partir de outros proces- sos, resultando na ação de mediado- res de fase aguda já explicados an- teriormente. SE LIGA! Existe ainda a asma não eosi- nofilia, sendo a neutrofílica um dos seus subtipos. A asma neutrofílica envolve infiltrado inflamatório atípico, com recru- tamento de neutrófilos, participação im- portante da IL-8 e que frequentemente é resistente ao tratamento com corticoi- des, bem como associada à asma grave. No escarro do paciente com asma neu- trofílica, a taxa de neutrófilos é superior a 61%. Esse exame ajuda a elucidar o fenótipo da asma do paciente, e geral- mente é realizado naqueles indivíduos com asma refratária ao tratamento tra- dicional. 8ASMA Do ponto de vista patológico... Já com relação às alterações fisioló- gicas decorrentes desse quadro, te- mos que a obstrução do fluxo de ar gera aumento da resistência das vias aéreas e redução da velocida- de de fluxo em toda a capacidade vital. Isso é importante para entender o diagnóstico da asma. Além disso, durante a inspiração, a pressão pleural cai muito abaixo da pressão necessária para o fluxo aéreo; enquanto na fase expiratória, a pres- são aumenta muito além da necessá- ria, com o paciente forçando a saída de ar. As pressões pleurais baixas na inspiração tendem a dilatar as vias aé- reas e, as pressões altas na expiração, a estreitá-las. Essas amplas alterações na pressão, associadas às alterações mecânicas, geram uma resistência ao fluxo de ar expiratório muito maior do que ao fluxo aéreo inspiratório. Por isso, dizemos que o paciente “retém” ar e fica “insuflado”. A estimulação dos receptores intra- pulmonares – lembra que o epitélio da via aérea fica “desnudo” pela le- são epitelial? – tem efeitos no centro respiratório central, aumentando a frequência respiratória e gerando a taquipneia. Além disso, o estreita- mento da via aérea e o fluxo de ar mais rápido causam sobrecarga da bomba ventilatória, o que aumenta o trabalho respiratório e predispõe à necessidade do uso da musculatura acessória. Por fim, em uma crise grave, o estreita- mento focal e heterogêneo da via aérea gera má distribuição da ventilação (V) em relação à perfusão (Q) pulmonar. Essa alteração da relação V/Q para va- lores menores que 1 podem acarretar hipoxemia arterial. Associado a isso, a hiperpneia acaba diminuindo os níveis de CO2 devido à hiperventilação, impli- cando uma PCO2 arterial reduzida. SE LIGA! Isto é, se um paciente está utilizando a musculatura acessória, sig- nifica que em algum momento ele pode se cansar de fazer este esforço, certo? Portanto, se o paciente passa a acu- mular CO2 (hipercapnia), isso é sinal de gravidade, pois significa que o paciente cansou de ventilar. 4. QUADRO CLÍNICO E CRISE ASMÁTICA Após ler sobre a fisiopatologia, você deve já imaginar as principais mani- festações clínicas do paciente com asma. Na verdade, em período en- tre as crises, o paciente pode estar assintomático ou oligossintomático, além de ter um exame físico normal. Já a crise de asma em si pode ser de- sencadeada, dentre outros, pelo conta- to com alérgeno, substâncias irritantes, prática de exercício, infecções de vias aéreas, ingestão de ácido acetilsalicíli- co, mudanças de temperatura, exposi- ções ocupacionais e até mesmo não ter um fator desencadeante identificável. 9ASMA Ocorrem com mais frequência à noite e pela manhã e melhoram espontane- amente ou com uso de medicamento (corticoides e broncodilatadores). Os sintomas clássicos incluem: dispneia, tosse, sibilância e sensação de opressão torácica. Como o quadro clínico pode ser muito variável, um ou outro sintoma podem estar ausentes. Ao exame físico, características co- muns são a taquipneia (frequentemen- te entre 25ipm e 40ipm), taquicardia e pulso paradoxal (queda exagerada da PAS durante a inspiração). A magnitu- de do pulso se correlaciona com a gra- vidade da crise. À oximetria de pulso, comumente a saturação se encontra próxima dos 90%. Ao exame do tórax, encontramos uso da musculatura acessória, hiper-insu- flação torácica, fase expiratória pro- longada, hipertimpanismo à percus- são, frêmito toraco-vocal diminuído e presença de sibilos à ausculta. Os si- bilos costumam ser difusos e polifôni- cos, sendo que sua ausência constitui sinal de gravidade, indicando obstru- ção grave das vias aéreas. A associação entre Asma e Rinite alér- gica é grande, então é comum achar também sintomas altos, como dupla prega palpebral, fácies de respirador bucal, obstrução nasal, rinorreia. Es- ses sinais não são confirmatórios de asma, apenas indicam um paciente com maior predisposição alérgica. Os achados relacionados a crises graves incluem: ansiedade, sudorese, tiragem intercostal ou supraesternal, inquietação, pulso paradoxal, altera- ção do nível de consciência e “tórax silencioso”. QUADRO CLÍNICO E CRISE ASMÁTICA Sibilância Sintomas clássicos CRISE HIPERTENSIVA Exame físico Associação com Rinite alérgica Opressão torácicaDispneia Tosse Taquipneia Taquicardia Pulso paradoxal Sibilo à ausculta (difusos e polifônicos) Uso de mm. acessória Dupla prega palpebral Fácies de respirador bucal Rinorreia Obstruçao nasal gabri Sticky Note Escrever "Asma" no lugar de "Crise hipertensiva" 10ASMA 5. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de asma requer histó- rico ou presença de sintomas respi- ratórios consistentes com asma as- sociado a limitação variável do fluxo de ar expiratório. Preferencialmente, o diagnóstico deve ser feito antes de dar início ao tratamento, uma vez que o diagnóstico se torna mais difícil após o tratamento ter sido estabelecido. O histórico de sintomas respiratórios pode incluir tosse, opressão toráci- ca, dispneia e sibilos. Pacientes com asma geralmente têm mais de um desses sintomas, embora não neces- sariamente todos tenham todos es- ses sintomas clássicos. Já a limitação do fluxo de ar expira- tório pode ser documentada por meio de exames complementares, os quais veremos a seguir: Espirometria A espirometria é um exame que ava- lia a função pulmonar e serve para diagnosticar e monitorar pacientes com asma. Ela documenta a função pulmonar basal, faz avaliação diag- nóstica e serve para monitorar os pa- cientes. Além da avaliação inicial em pacientes asmáticos, também reali- zamos outra espirometria após início do tratamento e estabilização dos sintomas ou do pico de fluxo expira- tório (PEF), em períodos de progres- são da doença, ou pelo menos a cada um ou dois anos. O exame é realizado com o pacien- te sentado. Ele respira normalmente usando o volume corrente e, em de- terminado momento, faz uma inspira- ção máxima forçada. Logo em segui- da, faz expiração com força máxima e esforço vigoroso continuado. Essa expiração deve durar pelo menos 6 segundos.Essa manobra deve ser realizada pelo menos três vezes, de modo a conseguir três amostras de qualidade. Como é um exame que exige esforço físico do paciente, pode haver dificuldade em conseguir essas três amostras. Porém, é essencial que sejam realizadas para a interpretação apropriada do exame. De volta ao básico, vamos relembrar o ciclo respiratório e as medidas mais importantes ao longo desse ciclo. Figura 3: Diagrama das medidas ao longo do ciclo res- piratório. Fonte: Tratado de Fisiologia Médica, Guyton - 12ed. 11ASMA A seguir, vamos pontuar algumas me- didas importantes da espirometria: • FVC (Forced Vital Capacity): é a capacidade vital (CV) forçada. Também conhecido como “volu- me expiratório forçado”, é o volu- me máximo de gás exalado com o esforço máximo, partindo do estado de inspiração máxima for- çada. A medida mais alta de FVC deve ser a utilizada para interpre- tação. • FEV6 (Forced Expiratory Volume in six seconds): pode ser usado como substituto ao FVC, propor- cionando menos exaustão física ao paciente pois este força expiração por exatos seis segundos. • FEV1: (Forced Expiratory Volume in one second): é o volume máximo de ar exalado no primeiro segundo de uma expiração forçada que se- gue uma inspiração forçada. Refle- te a taxa média do fluxo durante o primeiro segundo da manobra da FVC. Seu parâmetro de normalida- de é >80% do valor predito. • FEV1/FVC: acabamos de ver que o FEV1 é o volume de ar exalado no primeiro segundo da manobra da FVC, e que a FVC é o volume má- ximo que foi exalado na expiração durante o exame. Ou seja, a FEV1/ FVC representa a proporção ou a porcentagem do volume que o paciente expirou no primeiro segundo em relação ao tempo total da manobra. Para o cálcu- lo dessa medida, e sabemos que o paciente realizará pelo menos 3 vezes a manobra, medida mais alta de FEV1 e de FVC devem ser utilizadas no cálculo, mesmo que as medidas isoladas venham de manobras diferentes. No exame, são geradas as curvas de fluxo-volume, que são então compa- radas a padrões especiais. É impor- tante saber identificar esses padrões de curva, para saber que o exame foi feito de maneira adequada. Figura 4: Curvas de fluxo-volume (acima) e de volume- -tempo (abaixo). Fonte: Revista Brasileira de Medicina do Trabalho. Em pacientes asmáticos, a FEV1 di- minui com a piora clínica da obstrução 12ASMA aérea e aumenta com o tratamen- to bem-sucedido. Deve ser utilizada para determinar o grau de obstrução e acompanhar a evolução do paciente. Já a FEV1/FVC é o parâmetro mais importante para detectar a limita- ção do fluxo aéreo em pacientes com Asma ou DPOC. Porém, uma vez de- terminada a limitação do fluxo, não é um bom parâmetro para acompanhar a evolução da doença, na medida em que a FVC também diminui com a pio- ra da obstrução e atrapalha o cálculo. O volume residual (VR) não pode ser delimitado diretamente pela espiro- metria, sendo necessária e diluição com hélio ou métodos pletismográ- ficos. Ele é necessário para calcular a capacidade total (CT), que mede a capacidade de ar do pulmão em ins- piração para avaliar presença de obs- trução do fluxo de ar. A caracteriza- ção da obstrução se dá pela redução desproporcional do volume expirató- rio forçado no primeiro minuto (VEF1) em relação à capacidade vital forçada (CVF). Boa parte das referências uti- lizam VEF1/CVF < 0,7 para o diag- nóstico, embora o GINA 2019 con- sidere que adultos normais possuam relação VEF1/CVF > 0,75 a 0,8. Além disso, a variação na função pulmonar deve ser maior do que em indivíduos saudáveis. Como assim? Temos duas opções. ◊ O volume expiratório força- do no primeiro minuto (VEF1) deve aumentar ou mais que 200mL ou mais de 12% do valor basal após uso de bron- codilatador. ◊ O volume expiratório forçado no primeiro minuto (VEF1) au- menta mais de 12% ou 200mL em relação ao valor basal após 4 semanas de tratamento com anti-inflamatório (consideran- do indivíduo sem infecções de vias aéras). Quanto maiores essas variações fo- rem, mais fidedigno é o diagnóstico de asma. SE LIGA! Além disso, a partir da análise da FEV1, CVF e Capacidade Pulmonar Total (CPT) sugerem-se as categorias principais de doença pulmonar venti- latória: obstrutiva ou restritiva. VEF1 e VEF1/CVF reduzidos associados a grande CPT indicam obstrução das vias aéreas – o tempo de expiração está au- mentado; na doença pulmonar restriti- va, o VEF1, a CVF e a CPT geralmente estão diminuídas, ao passo que a rela- ção VEF1/CVF está geralmente normal ou aumentada. Por fim, a reversibilida- de da obstrução na doença obstrutiva fala mais a favor de asma, enquanto na DPOC o paciente não reverte a obstru- ção após uso de broncodilatador. Medida de pico de fluxo expiratório Esse exame apresenta menos acu- rácia do que a espirometria, poden- 13ASMA do ser utilizado quando esta não está disponível. A medida é feita em equi- pamentos portáteis que documentam o fluxo em litros por minuto. Medidas matinais e vespertinas são aferidas por uma a duas semanas, em dois momentos do dia – pela manhã e pela tarde. O menor PEF (pico de fluxo expiratório) é subtraída do maior PEF, e o resultado é divido pela média entre o maior e o menor PEF do dia. Vimos na aula do Sanarflix que a va- riação do PEF superior a 20% indica diagnóstico de asma. Já o GINA 2019 traz que, nesse exame, a variação diurna no (PEF) maior do que 10% em adultos documenta a variabilida- de da obstrução aérea. Verificação da hiperresponsividade das vias aéreas Alguns indivíduos podem ter asma, mas apresentar espirometria normal ou sem resposta broncodilatadora significativa. Nesse caso, o diagnós- tico é demonstrado pela hiper-res- ponsividade das vias aéreas. Pode-se medir a responsividade por inalação de substâncias constrictoras ou pelo teste de broncoprovocação por exer- cício, havendo uma queda do VEF1 em pelo menos 20%. Tem alta sensibilidade e elevado valor preditivo negativo, tornando o exame útil em pacientes com sintomas res- piratórios e espirometria normal, para descartar asma como causa desses sintomas. SE LIGA! Diagnósticos diferenciais da asma em maiores de 5 anos e adultos: os sintomas da asma podem ser bas- tante inespecíficos, considerando sua variabilidade nas manifestações clínicas. Listamos aqui os principais diagnósticos diferenciais para você pensar quando se deparar com um paciente apresentando sintomas característicos: • Rinossinusite • Síndrome da Hiperventilação Alveo- lar e Síndrome do Pânico • Obstrução de Vias Aéreas Superio- res (neoplasias e corpo estranho) • Disfunção de cordas vocais • DPOC e outras doenças obstrutivas das vias aéreas inferiores • Doenças difusas do parênquima pul- monar • IC diastólica e sistólica • Doenças da circulação pulmonar (hi- pertensão e embolia) Em crianças menores que 5 anos o diagnóstico de asma entre como diagnóstico diferencial de causa de sibilância recorrente do lactente/pré- -escolar. Nessa faixa etária, outras causas de sibilância entram no diag- nóstico diferencial, principalmente a bronquiolite e sibilância pós infecção viral. A sibilância recorrente do lactente é diagnosticada por 3 episódios de sibi- lância em um ano antes dos 5 anos. Al- 14ASMA gumas fontes também colocam a pos- sibilidade de 2 episódios em 6 meses. Pela dificuldade de realizar provas de função pulmonar em crianças menores que 5 anos, utilizamos escores prediti- vos (ver abaixo) e história relacionadas a gravidade dos quadros de sibilância e a recorrência dos episódios. A criança deve ter uma história de 4 ou mais episódios de sibilância, com no mínimo 1 diagnóstico médico CRITÉRIOS MAIORES História parental de asma Diagnóstico médico de dermatite atópica Sensibilização alérgica a mais de 1 aeroalérgeno (ácaros domésticos) Critérios menores Sensibilização alérgica alimentar Sibilância não associada a gripe Eosinofilia em sangue periférico > 4% Tabela 1: Escore Castro modificadopor Guilbert 1 critério maior ou 2 critérios menores. VPP: risco de 47,5% a 51,5% de crianças entre 6 a 13 anos de ter asma persistente DIAGNÓSTICO Sintomas respiratórios consistentes com asma/limitação variável do fluxo de ar expiratório FEV1 reduzida Peak flow Escore preditor (Castro modificado por Guilbert) Hiperresponssividade das vias aéreasEspirometria FEV1/FVC < 0,7s VEF1 aumentar após broncodilatador Variação PEF > 10% Substâncias constrictoras Broncoprovocação 15ASMA 6. CONTROLE E CLASSIFICAÇÃO O controle da asma é baseado no ní- vel de sintomas e nos fatores de ris- co para desfechos desfavoráveis da asma. Um questionário pode ser apli- cado para obter essa informação. NAS ÚLTIMAS 4 SEMANAS, O PACIENTE: BEM CONTROLADA PARCIALMENTE CONTROLADA NÃO-CONTROLADA Sintomas diurnos mais de 2x/ semana? Nenhum desses foi marcado. 1-2 desses marcados. 3 ou mais desses mar- cados. Despertar noturno devido à asma? Medicamento de alívio foi ne- cessário mais de 2x/semana? Alguma limitação na atividade devido à asma? SAIBA MAIS Embora não esteja presente no GINA 2019, ainda existe na diretriz da SBPT o critério da função pulmonar. Consiste em avaliar se o PEF ou FEV1 está <80% do predito ou da melhor medida prévia conhecida do paciente, caso esta seja conhecida. Asma não controlada é um fator de risco para exacerbações. Além disso, listamos os fatores de risco modificáveis para exacerbações, mes- mo em pacientes oligossintomáticos: Medicação – não-uso de CI inalatório, má-adesão, técnica incorreta do uso do inalador, uso excessivo de β2-a- gonista de curta duração. Comorbidades – obesidade, rinos- sinusite crônica, DRGE, alergia a ali- mento confirmada, ansiedade, de- pressão, gravidez. Exposições – fumo, alérgeno, polui- ção atmosférica. Estabelecimento – más condições socioeconômicas Função pulmonar – baixo FEV1, em particular se <60% do valor predito; reversibilidade mais intensa. Outros exames – eosinofilia do san- gue ou escarro, FENO (Fração de óxi- do nítrico exalado) em adultos alérgi- cos em uso de CI inalatório. Fatores de risco independentes para exacerbações: • Ter sido intubado ou internado em UTI devido a asma; • Ter tido uma ou mais exacerba- ções graves nos últimos 12 meses. 16ASMA CONTROLE E CLASSIFICAÇÃO Exacerbação grave < 12 meses Comobridades Exposições Medicação Estabelecimento Outros exames Função pulmonar• Eosinofilia do sangue ou escarro • FENO em adultos alérgicos em uso de CI inalatório • Não uso de CI • Má adesão • Técnica incorreta do uso do inalador • Uso excessivo de B2-agonista de curta • Obesidade • Rinossinusite crônica; DRGE • Alergia alimentar confirmada • Ansiedade; Depressão • Gravidez • Fumo • Alérgeno • Poluição atmosférica • Más condições socioeconômicas • Baixo FEV1 • Reversibilidade mais intensa Fatores de risco não modificáveis Intubado ou UTI por Asma 17ASMA Em relação à gravidade da asma, em 2006, as diretrizes brasileiras clas- sificavam a asma em intermitente e persistente, sendo a persistente ain- da classificada em leve, moderada e grave, conforme a tabela abaixo. INTERMITENTE LEVE PERSISTENTE MODERADA GRAVE Sintomas Raros Semanais Diários Diários ou contí- nuos Despertares notur- nos Raros Mensais Semanais Quase diários Necessidade de beta-2 para alívio Rara Eventual Diária Diária Limitação de ativi- dades Nenhuma Nas exacerbações Nas exacerbações Contínua Exacerbações Raras Afeta atividade e o sono Afeta atividade e o sono Frequentes VEF1 ou PFE ≥ 80% predito ≥ 80% predito 60-80% predito ≤60% predito Variação VEF1 ou PFE < 20% < 20-30% > 30% > 30% Tabela 2: Classificação de bravidade de asma. Figura 5. IV DIretrizes Brasileiras para o Manejo da Asma. J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 7):S 447-S 474 Já na diretriz de 2012, a gravidade da asma é classificada de acordo com a intensidade da terapia que a controla. Veremos isso melhor daqui a pouqui- nho, quando falarmos do tratamento. 7. TRATAMENTO Antes de iniciarmos a abordagem do tratamento da asma, convém pontu- ar que o GINA 2019 (Global Initiati- ve for Asthma 2019), a principal di- retriz internacional sobre o assunto, atualizou as recomendações de tra- tamento. Dado isso, vamos primeiro falar como tratamos a asma a partir de 2019, pois pode diferir da aula que você acabou de ver na SanarFlix. Exacerbação da asma (domiciliar) É altamente recomendado que o pa- ciente com asma seja reavaliado pe- riodicamente, e que tenha um “plano de ação” para quando houver exa- cerbação. Esse plano de ação deve conter: • Os medicamentos em uso; • Como e quando aumentar a dose dos medicamentos, bem como quando iniciar uso de corticoes- teroide oral. Pode ser necessário 18ASMA aumentar a dose do medicamento inalatório de alívio, do medicamen- to de controle ou iniciar corticoes- teroide; • Como procurar ajuda médica se sintomas piorarem ou não respon- derem à terapia. Esse plano de ação deve basear-se nos sintomas e, no caso de adultos, na PEF. Se houver piorar, procurar ajuda médica rapidamente. Também é recomendado que o pa- ciente se auto-monitore para os sin- tomas de asma ou para a sua função pulmonar. Além disso, é necessário que o médico peça para o paciente usar o inalador na sua presença, para certificar-se de que a técnica de ina- lação está correta. Por fim, como orientamos o paciente em relação a exacerbações? O tratamento de alívio é: corti- coide inalatório + β2-agonista de longa duração Outra opção: corticoide inalató- rio + β2-agonista de curta du- ração Asma na unidade de emergência Paciente chega com sinais e sinto- mas de asma na emergência. Como iremos manejar esse paciente? Iremos avaliá-lo em relação a disp- neia, FR, FC, saturação de O2 e FEV, enquanto já iniciamos β2-agonista de curta duração e oxigênio. Iniciar tratamento com doses repe- tidas de β2-agonista de curta du- ração, corticoide oral e oxigênio. Reavaliaremos sintomas e saturação frequentemente, e mediremos função pulmonar após 1 hora. Iremos avaliar também necessidade de transferência do paciente se hou- ver sinais de exacerbação severa, ou para unidade de cuidados intensivos se: sonolento, confuso ou com tórax silencioso. Se a exacerbação for severa, usamos brometo de ipratrópio e considera- mos administrar β2-agonista de cur- ta duração pelo nebulizador. Sulfato de magnésio intravenoso pode ser administrado caso tratamento inicial não funcione. 19ASMA Na aula de crise asma da SanarFlix, falamos também sobre a aminofilina, lembra? Pois bem, ela é trazida pela diretriz brasileira, mas não é uma op- ção que utilizamos rotineiramente. É um derivado da teofilina, que relaxa o músculo liso. Usamos apenas em cri- ses refratárias devido aos seus efei- tos colaterais cardiovasculares, neu- rológicos e gastrintestinais. E quando liberaremos nosso pacien- te? Quando os sintomas apresenta- rem melhora, até não ser mais preciso o uso de beta2-agonista; o PEF esti- ver melhorando, ultrapassando 80% a 90% do valor predito ou do melhor valor basal do paciente (se conheci- do); se oxigenação maior que 94% em ventilação espontânea e souber- mos que o paciente tem os recursos necessários em casa. Além disso, o paciente manterá o corticoide oral por 5 a 7 dias e irá retornar em cerca de uma semana – independentemente da gravidade da asma. Realizaremos raio-x ou exame de ga- sometria em casos selecionados. Se saturação <92%, realizaremos a ga- sometria arterial e, caso este aponte hipercapnia, temos um sinal de gra- vidade e de franca insuficiência res- piratória. O raio-x pode ser utilizado para descartar outras patologias ou verificar condições associadas. INTENSIDADE DAS EXACERBAÇÕES ACHADO LEVE A MODERADA GRAVE MUITO GRAVE Impressão clínica geral Sem alterações Sem alterações Cianose, sudorese, exaus- tão Estado mental Normal Normal/Agitação demo- rada Agitação, confusão, sono- lência intensa Dispneia Ausente ou leve Moderada IntensaFala Frases completas Frases incompletas Frases curtas ou monos- silábicas. No lactente: Dificuldade alimentar Musculatura acessória Retrações leves/ausentes Retrações acentuadas Retrações acentuadas Sibilância Ausentes com MV nor- mal, localizados ou difusos Localizados ou difusos Ausentes com MV dimi- nuído FR (ipm) Normal ou aumentada Aumentada Aumentada FC (bpm) ≤ 100 Ø110 >140 ou bradicardia PFE % previsto > 50 30-50 < 30 SpO2 Ø95 91-95 ≤ 90 PaO2 Normal Ao redor de 60 < 60 PaCO2 < 40 < 45 ≥ 45 Tabela 3:Classificação da intensidade das exacerbações em crianças e adultos. Fonte: Sociedade Brasileira de Pneu- mologia e Tisiologia, 2012. 20ASMA EXAMES COMPLEMENTARES Úteis para ajudar a classificar a gravidade da doença, avaliar complicações e possíveis fatores precipitantes associados Radiografia de tórax Na suspeita de pneumonia, derra- me pleural, outras complicações e no caso de internamento Gasometria arterial Nos doentes graves, com hipoven- tilação e desconforto respiratório importantes. Na crise asmática geralmente há hipercapnia devido a hiperventilação Hemograma Suspeita de pneumonia e no caso de internamento Eletrólitos Casos de internação e nos pa- cientes que necessita de doses frequentes de beta-2-agonistas devido ao risco de hipocalemia Eletrocardio- grama Pacientes cardiopatas, portadores de DPOC e pacientes com mais de 50 anos Peak Flow Útil em pacientes pouco precep- tores de sintomas. Avaliação da função pulmonar é melhor preditor de graidade Tabela 4 Tratamento de controle Primeiramente, precisamos saber que o tratamento da asma a longo pra- zo é baseado nos Steps. O que são esses steps? São “etapas” nas quais os pacientes asmáticos são classifi- cados. Elas indicam a gravidade da doença e irão guiar o tratamento. Existem as etapas de 1 a 5. Via de re- gra, asma leve é aquela que, para um bom controle, precisa de baixa inten- sidade de tratamento (etapa 2); asma moderada é necessita de intensidade intermediária de tratamento (etapa 3); e asma grave, de alta intensidade (etapas 4 e 5). Se um paciente está com sintomas intensos, iniciamos o tratamento com base em uma das etapas e, após re- avaliação em 2 a 3 meses, decidimos se reduzimos a dose para a de uma etapa abaixo. Iremos detalhar o tratamento agora, de etapa por etapa. Etapa 1 Nessa etapa, o paciente não vai pre- cisar tomar remédio todo dia. Utiliza- remos apenas medicação de deman- da, dessa forma: Corticoide inalatório em dose baixa + β2-agonista de longa duração de demanda Outra opção é corticoide inalatório em dose baixa + β2-agonista de curta duração de demanda. Existia desde 2014 a opção de utilizar corticoide inalatório em doses baixas diariamente, mas o GINA 2019 pas- sou a não mais recomendar seu uso devido à baixa aderência de uso diário em pacientes com poucos sintomas. Etapa 2 Corticoide inalatório em doses bai- xas diário (padrão ouro) ou; Corticoide inalatório em doses bai- xas + β2-agonista de longa dura- 21ASMA ção de demanda também é uma pos- sibilidade. Outras opções são: uso isolado de anti-leucotrienos diário, embora me- nos efetivo que corticoide inalatório, ou corticoide inalatório em doses bai- xas + β2-agonista curta duração de demanda. Etapa 3 Corticoide inalatório dose baixa + β2-agonista de longa duração diá- rios; Ou seja, a partir da etapa 3, não tem para onde ir: o paciente vai precisar entrar com medicação di- ária necessariamente, não apenas de demanda. Outras opções incluem: corti- coide inalatório dose moderada diário, ou cor- ticoide inalató- rio dose baixa + anti-leucotrie- nos diários ou corticoide inala- tório dose baixa + imunoterapia sublingual di- ários com em pacientes com rinite e alergia a ácaros. Etapa 4 Corticoide inalatório dose modera- da + β2-agonista de longa duração diários Outras opções: corticoide inalatório dose alta diário, ou corticoide inalatório dose alta + anti-leucotrienos, ou corti- coide inalatório em dose alta + tiotrópio diários ou corticoide inalatório dose alta + imunoterapia sublingual em pacien- tes com rinite e alergia a ácaros. Etapa 5 Corticoide inalatório em dose alta + β2-agonista de longa duração di- ários; Outras opções incluem: associar tio- trópio ou anti-IgE se asma alérgica (omalizumabe – anticorpo específico contra IgE) ou anti IL-5 se asma eo- sinofílica (mepolizumabe) ou corticoi- de oral dose baixa diário (mais barato, mas inúmeros efeitos adversos). Pacientes na etapa 5 devem ser en- caminhados para avaliação mais de- talhada. Vamos resumir tudo nessa tabelinha a seguir. 22ASMA Reavaliaremos o paciente após 2 a 3 meses do início do tratamento – che- car sintomas, exacerbações, efeitos colaterais e satisfação do paciente – e consideraremos reduzir para a tera- pia da etapa logo abaixo (step down) após 3 meses de sintomas controla- dos. ETAPA 1 ETAPA 2 ETAPA 3 ETAPA 4 ETAPA 5 CI em dose baixa + B2-agonista de longa duração de demanda. Outras opções: CI em dose baixa + B2-agonista de curta duração de demanda. CI em dose baixa diário ou; CI em dose baixa + B2-agonista de longa duração de demanda. Outras opções: anti-leucotrienos diário ou CI em dose baixa + B2-agonista curta duração de demanda. CI em dose baixa + B2-agonista de lon- ga duração diários. Outras opções: CI dose moderada diá- rio; ou CI dose baixa + anti-leucotrienos diários; ou CI dose baixa + imunotera- pia sublingual diá- rios em pacientes com rinite e alergia a ácaros. CI em dose mode- rada + B2-agonista de longa duração diários. Outras opções: CI dose alta diário; ou CI dose alta + anti-leucotrienos; ou CI em dose alta + tiotrópio diários ou CI dose alta + imu- noterapia sublingual em pacientes com rinite e alergia a ácaros. CI em dose alta + B2-agonista de lon- ga duração diários. + Encaminhar para avaliação fenotípica. Outras opções: associar tiotrópios; ou anti-IgE se asma alérgica (omalizu- mabe – anticorpo específico contra IgE); ou anti IL-5 se asma eosinofílica (mepolizumabe); ou corticoide oral dose baixa diário (mais barato, mas inúmeros efeitos adversos) Tabela 5: Etapas de tratamento da ASMA. GINA 2019 Figura 5: Ciclo da prevenção, controle e tratamento da Asma. GINA 2019 23ASMA Lista de medicamentos que podem ser utilizados na Asma: • Corticoides inalatórios. Sempre orientar higiene bucal após o uso SAIBA MAIS Por fim, qual foi a principal mudança trazida pelo GINA 2019? Por muito tempo, pacientes na etapa 1 não associavam o corticoide inalatório ao beta-a- gonista no tratamento, cabendo apenas o uso isolado deste. No entanto, evidências mais recentes demonstraram benefícios na associação do corticoide, incluindo menos chances de exacerbações graves (GINA, 2019). na prevenção de candidíase e ro- quidão. SUBSTÂNCIA NOME COMERCIAL® DOSE MCG/DIA CRIANÇAS/ADULTOS Baixa Média Alta Beclometasona Beclosol 250mcg Clenil 200 e 400mcg 100-200/200- 500 200- 400/500- 1000 > 400/>1000 Budesonida Busonid 200mcg Pulmicort turbuhaler 100-200/200-400 200-400/400-800 > 400/>800 Ciclesonida Alvesco 80 e 160mcg 80/80- 160 80-160/160-320 >160/> 320 Fluticasona Flixotide spray e diskus 100-200/100-250 200-400/250-500 > 400/>500 Mometasona Oximax 110-220 220-440 >440 Triancinolona Azmacort 100mcg 400-800/400- 1000 800-1200/1000- 2000 >1200/>2000 Beta-2 agonistas: Curta duração usa apenas na crise. Longa duração sem- pre associado com corticoide inala- tório (aumento do risco de óbitos re- lacionados à asma na monoterapia). Beta de longa só em crianças acima de 5 anos. SUBSTÂNCIA DOSE MCG/ Fenoterol 5mg/mL: NBZ – 3 a 20gts/8/8 horas (varia com a idade) Salbutamol 2,5mg/5mL: NBZ – 1gt/2Kg 6/6 horas 100mcg: Aerossol – 1-2puffs 6/6 horas SUBSTÂNCIA DOSE MCG/DIA (MÁXIMA) Formoterol (24) Salmeterol (100) 24ASMA FLUXO RESUMO/TRATAMENTO • Avaliação inicial • História + Exame físico • Oximetria de pulso • Gasometria arterial (se gravidade)Crise leve a moderada CRISE DE ASMA Crise grave • β2-agonista de curta duração a cada 20min na primeira hora • O2 suplementar se SatO2 <92% • Corticoide oral • Reavaliar paciente após cada inalação • Fenoterol ou Salbutamol: 10 gotas (máx 20gts) em 03 a 05mL de SF 0,9% • Salbutamol spray 100mcg/jato: 4-6 jatos a cada vinte minutos • Manter SatO2 entre 93 e 95%, especialmente se houver risco de hipercapnia • Gestante: SatO2 > 95% • Overlap asma + dpoc: SatO2 entre 88 e 92% • Prednisona 40-60mg • Corticoide sistêmico • β2-agonista de curta + Ipratrópio a cada 20min por uma hora • O2 suplementar se SatO2 < 92% • Reavaliar paciente após cada inalação • Metilprednisolona 60-125mg/dose • Hidrocortisona 100-500 mg/dose • Brometo de Ipratrópio. 40 gotas a cada 20min, via nebulização com o β2- agonista de curta • Sala de observação • β2-agonista de curta + Ipratrópio contínuo • Sulfato de magnésio venoso • O2 suplementar se SatO2 <92% • Repetir corticoide venoso SN • Considerar VNI • Considerar UTI • NBZ contínua • Considerar VM invasiva • Avaliar patologias associadas Ventilação mecânica • RNC; Parada respiratória; PCR; Fadiga progressiva; Tórax silêncioso • Falha em reverter acidose respiratória • Falha em reverter hipoxami Se m re sp os ta Se m re sp os ta Sem resposta 25ASMA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GOLDMAN L., AUSIELLO D. Cecil: Medicina. 23ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2009. Clínica Médica, volume 2: doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, emergências e terapia intensiva. – 2 ed. – Barueri, SP; Manole, 2016. HAMMER, Gary D.; MCPHEE, Stephen J. Fisiopatologia da doença: uma introdução à medici- na clínica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016 ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. H. I. V. Imunologia celular e molecular. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. Miller MR, Hankinson J, Brusasco V, et al. Standardisation of spirometry. Eur Respir J 2005; 26:319. GINA 2019 – Global Initiative for Asthma. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para o Manejo da Asma – 2012. J Bras Pneumol. v.38, Suplemento 1, p.S1-S46 Abril 2012 IV Diretrizes Brasileiras para Manejo da Asma. J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 7):S 447-S 474 Asma não eosinofílica. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, 2008. <Disponível em: http://itarget.com.br/newclients/sbpt.org.br/2011/downloads/arquivos/Revisoes/REVI- SAO_08_ASMA_NAO_EOSINOFILICA.pdf>. Último acesso: 06/12/2019. HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. 26ASMA
Compartilhar