Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Curso de Especializac¸a˜o em Matema´tica Universidade Tecnolo´gica Federal do Parana´ Caˆmpus Campo Moura˜o Disciplina: Ana´lise no IRn Professor Me. Ma´rcio Hiran Simo˜es UTFPR - Campo Moura˜o Junho de 2010 Cap´ıtulo 1 Noc¸o˜es Topolo´gicas do Espac¸o Euclidiano 1.1 Me´trica, Norma e Produto Interno Definic¸a˜o 1.1 Dado um conjunto na˜o-vazio M , uma me´trica em M e´ uma func¸a˜o d : M ×M −→ IR satisfazendo: (d1) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0⇐⇒ x = y, ∀x, y ∈M. (d2) d(x, y) = d(y, x), ∀x, y ∈M. (d3) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y), ∀x, y, z ∈M. Nessas condic¸o˜es dizemos que o par (M,d) e´ um espac¸o me´trico. Definic¸a˜o 1.2 Dado E um espac¸o vetorial real, uma norma em E e´ uma aplicac¸a˜o ‖ · ‖ : E −→ IR satisfazendo as seguintes propriedades: (N1) ‖x‖ > 0 se x 6= 0, ∀x ∈ E. (N2) ‖λx‖ = |λ|‖x‖, ∀λ ∈ IR, ∀x ∈ E. (N3) ‖x+ y‖ ≤ ‖x‖+ ‖y‖, ∀x, y ∈ E. Nessas condic¸o˜es, dizemos que o par (E, ‖ · ‖) e´ um espac¸o vetorial normado. 1 Observac¸a˜o 1.1 Se λ = 0 em (N2) enta˜o ‖0‖ = 0. Observac¸a˜o 1.2 Se λ = −1 em (N2) enta˜o ‖ − x‖ = ‖x‖, ∀x ∈ E. Observac¸a˜o 1.3 De (N3) podemos ver que 0 = ‖0‖ = ‖x+ (−x)‖ ≤ ‖x‖+ ‖ − x‖ = 2‖x‖ isto e´, ‖x‖ ≥ 0, ∀x ∈ E. Definic¸a˜o 1.3 Seja E um espac¸o vetorial. Um produto interno em E e´ uma aplicac¸a˜o 〈·, ·〉 : E × E −→ IR satisfazendo as seguintes propriedades: (P1) 〈x, x〉 > 0 ∀x ∈ E, x 6= 0. (P2) 〈x+ y, z〉 = 〈x, z〉+ 〈y, z〉, ∀x, y, z ∈ E. (P3) 〈λx, y〉 = λ〈x, y〉, ∀x, y ∈ E. (P4) 〈x, y〉 = 〈y, x〉, ∀x, y ∈ E. Exemplo 1.1 Seja E um espac¸o vetorial real e 〈·, ·〉 um produto interno em E. Enta˜o a aplicac¸a˜o ‖ · ‖ : E −→ IR x 7−→ ‖x‖ = √〈x, x〉 e´ uma norma (comumente chamada de norma induzida do produto interno 〈·, ·〉). De fato, (i) de (P1) temos que ‖x‖ > 0, se x 6= 0, logo a propriedade (N1) esta´ satisfeita. (ii) de (P3) temos que: ‖λx‖ = √ 〈λx, λx〉 = |λ|‖x‖, logo (N2) esta´ satisfeita. (iii) Para provar que (N3) e´ satisfeita por ‖ · ‖ precisamos do seguinte teorema: Teorema 1.1 - Desigualdade de Cauchy-Schwarz. |〈x, y〉 ≤ ‖x‖‖y‖, ∀x, y ∈ E. 2 Prova: Sejam x, y ∈ E e λ ∈ IR. Enta˜o ‖x+ λy‖2 ≥ 0, ∀x, y ∈ E ⇐⇒ 〈x+ λy, x+ λy〉 ≥ 0, ∀x, y ∈ E ⇐⇒ 〈x, x〉+〈x, λy〉+〈λy, x〉+〈λy, λy〉 ≥ 0, ∀x, y ∈ E ⇐⇒ ‖x‖2+2λ〈x, y〉+λ2‖y‖2 ≥ 0, ∀x, y ∈ E, logo ∆ = 4(〈x, y〉)2 − 4‖x‖2‖y‖2 ≤ 0, donde (〈x, y〉)2 ≤ ‖x‖2‖y‖2 ou ainda, |〈x, y〉| ≤ ‖x‖‖y‖. 2 Agora que provamos a desigualdade de Cauchy - Schwarz vamos utiliza´-la para provar (iii). Observe que: ‖x+ y‖2 = 〈x+ y, x+ y〉 = 〈x, x〉+ 2〈x, y〉+ 〈y, y〉 ≤ ‖x‖2 + 2|〈x, y〉|+ ‖y‖2 ≤ ‖x‖2 + 2‖x‖‖y‖+ ‖y‖2 = (‖x‖+ ‖y‖)2. Portanto ‖x+y‖ ≤ ‖x‖+‖y‖ e (N3) esta´ satisfeita. Segue que a aplicac¸a˜o do Exemplo 1.1 e´ uma norma. Exemplo 1.2 Seja (E, ‖ · ‖) um espac¸o vetorial normado. Enta˜o, definindo d : E × E −→ IR (x, y) 7−→ d(x, y) = ‖x− y‖ temos que d e´ uma me´trica (denominada me´trica associada a` norma ‖ · ‖). De fato, devemos mostrar que as propriedades (d1), (d2) e (d3) da definic¸a˜o de me´trica sa˜o va´lidas. Por (N1) temos que d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 se, e somente se, x = y, ∀x, y ∈ E. Assim, (d1) esta´ verificada. Usando (N2) obtemos a seguinte igualdade: d(x, y) = ‖x− y‖ = ‖(−1)(y − x)‖ = ‖y − x‖ = d(y, x). 3 Portanto, (d2) esta´ verificada. Para provar (d3) usamos (N3) na desigualdade abaixo: d(x, y) = ‖x− y‖ = ‖x− z + z − y‖ ≤ ‖x− z‖+ ‖z − y‖ = d(x, z) + d(z, y). Isto mostra que (d3) e´ va´lida e conclui a prova de que a aplicac¸a˜o d do Exemplo 1.2 e´ uma me´trica. Exemplo 1.3 (Produto interno, me´trica e norma euclidiana) Seja E = IRn. O produto interno euclidiano (ou usual) no IRn e´ definido por 〈x, y〉 = x1y1 + x2y2 + · · ·+ xnyn onde x = (x1, x2, · · · , xn) e y = (y1, y2, · · · , yn). A norma euclidiana e´ a norma proveniente do produto interno e e´ dada por ‖x‖ = [x21 + x22 + · · ·+ x2n]1/2 . Do mesmo modo, a me´trica euclidiana prove´m do produto interno euclidiano, ou seja, d(x, y) = [ (x1 − y1)2 + (x2 − y2)2 + · · ·+ (xn − yn)2 ]1/2 . Observac¸a˜o 1.4 Existem diferentes formas de se obter um produto interno no IRn. Por exemplo, considere a matriz A = [aij]n×n com as seguintes propriedades: (i) A e´ sime´trica. (ii) A e´ positiva definida, isto e´, (x1, . . . , xn) a11 · · · a1n ... . . . ... an1 · · · ann x1 ... xn = n∑ i,j=1 aijxixj > 0, se x > 0.. Enta˜o A define um produto interno no IRn da seguinte forma 〈x, y〉A = n∑ i,j=1 aijxixj Note que o produto interno usual e´ obtido com A = I. 4 Observac¸a˜o 1.5 Da mesma forma que existem va´rios produtos internos no IRn, existem tambe´m va´rias normas no IRn. Veja duas de grande importaˆncia: (i) Norma do ma´ximo. ‖x‖M = max{|x1|, |x2|, · · · , |xn|}. (ii) Norma da Soma. ‖x‖S = |x1|+ |x2|+ · · ·+ |xn| = n∑ i=1 |xi|. Exerc´ıcio 1.1 Prove que ‖ · ‖M e ‖ · ‖S sa˜o normas no IRn e verifique a desigualdade: ‖x‖M ≤ ‖x‖ ≤ ‖x‖S ≤M‖x‖M , ∀x ∈ IRn. Definic¸a˜o 1.4 Duas normas ‖ · ‖1 e ‖ · ‖2 em E sa˜o ditas equivalentes se, e somente se, existem constantes c1 > 0 e c2 > 0 tais que ‖x‖1 ≤ c1‖x‖2 e ‖x‖2 ≤ c2‖x‖1, ∀x ∈ E. Observac¸a˜o 1.6 Seja ‖ · ‖ uma norma em um espac¸o vetorial E proveniente de um produto interno 〈·, ·〉. Enta˜o, vale a identidade do paralelogramo ‖x+ y‖2 + ‖x− y‖2 = 2(‖x‖2 + ‖y‖2), ∀x, y ∈ E. De fato, note que ‖x+ y‖2 = 〈x+ y, x+ y〉 = ‖x‖2 + 2〈x, y〉+ ‖y‖2 e ‖x− y‖2 = 〈x− y, x− y〉 = ‖x‖2 − 2〈x, y〉+ ‖y‖2 Da´ı, ‖x+ y‖2 + ‖x− y‖2 = 2(‖x‖2 + ‖y‖2), ∀x, y ∈ E. Exerc´ıcio 1.2 A norma do ma´ximo em IRn prove´m de algum produto interno? E a norma da soma em IRn? 5 Cap´ıtulo 2 Sequeˆncias Definic¸a˜o 2.1 Sejam (E, ‖ · ‖) um espac¸o vetorial normado. Definimos: 1- Br(a) = {x ∈ E; d(x, a) = ‖x− a‖ < r} (bola aberta). 2- Br[a] = {x ∈ E; d(x, a) = ‖x− a‖ ≤ r} (bola fechada). 3- Sr(a) = {x ∈ E; ‖x− a‖ = r} (esfera). 4- Dados x, y ∈ E, o segmento de reta de extremos x e y e´ o conjunto [x, y] = {(1− t)x+ ty; 0 ≤ x ≤ 1}. Definic¸a˜o 2.2 Sejam (E, ‖ · ‖) um espac¸o normado e X ⊂ E. (i) Dizemos que X e´ um subconjunto convexo quando X conte´m qualquer segmento de reta cujos extremos pertencem a X. (ii) Dizemos que X e´ limitado quando existe c > 0 tal que ‖x‖ ≤ c, ∀x ∈ X. Definic¸a˜o 2.3 Uma sequeˆncia (xk)k∈IN ⊂ E (isto e´, xk ∈ E, ∀k ∈ IN) converge para um ponto a ∈ E se para todo � > 0, existe k0 ∈ IN (que depende de �) tal que ‖xk − a‖ < �, sempre que k ≥ k0. Notac¸a˜o: xk −→ a em E ou lim k→+∞ xk = a em E. 6 Teorema 2.1 Sejam ‖ · ‖1 e ‖ · ‖2 duas normas em E. Enta˜o, ‖ · ‖1 e´ equivalente a ‖ · ‖2 se, e somente se, para toda sequeˆncia (xk)k∈IN ⊂ E tem-se lim k→+∞ xk = x em (E, ‖ · ‖1)⇐⇒ lim k→+∞ xk = x em (E, ‖ · ‖2). Demonstrac¸a˜o: Suponha que ‖ · ‖1 seja equivalente a ‖ · ‖2. Enta˜o existem constantes c1 > 0 e c2 > 0 tais que ‖x‖1 ≤ c1‖x‖2 e ‖x‖2 ≤ c2‖x‖1. Logo, se (xk)k∈IN ⊂ E temos ‖xk − x‖1 ≤ c1‖xk − x‖2 e ‖xk − x‖2 ≤ c2‖xk − x‖1 (2.1) Da´ı, se xk −→ x em (E, ‖ ·‖1) tem-se que ‖xk−x‖1 −→ 0 e, portanto, ‖xk−x‖2 −→ 0 por (2.1), isto e´, xk → x em (E, ‖ · ‖2). Isto prova a necessidade. Reciprocamente, suponhamos que xk → x em (E, ‖ · ‖1) se, e somente se, xk → x em (E, ‖ · ‖2). Vamos provar que existe c1 > 0 tal que ‖x‖1 ≤ c1‖x‖2, ∀x ∈ E. Suponhamos, por absurdo, que isto na˜o ocorra. Enta˜o, existe uma sequeˆncia (xk)k∈IN ⊂ E tal que ‖xk‖1 ≥ k‖xk‖2, ∀k ∈ IN. Assim, ‖xk‖2 ‖xk‖1 < 1 k , ∀k ∈ IN. Denotemos vk = xk ‖xk‖1 , ∀k ∈ IN e teremos: ‖vk‖2 < 1 k =⇒ vk −→ 0 em (E, ‖ · ‖2) e ‖vk‖1 = 1, ∀k ∈ IN =⇒ vk 9 0 em (E, ‖ · ‖1). Isto contradiz a hipo´tese. A demonstrac¸a˜o e´ ana´loga para o caso da constante c2. 2 Dada uma sequeˆncia (xk)k∈IN ⊂ IRn enta˜o xk = (xk1, xk2, · · · , xkn), k ∈ IN, o que equivale a dar n sequeˆncias (xki)k∈IN, i = 1, 2, · ·· , n, reais. Portanto, sa˜o va´lidas todas as propriedades de sequeˆncias de nu´meros reais para as sequeˆncias do IRn. 7 Teorema 2.2 Sejam (xk)k∈IN ⊂ IRn e a = (a1, a2, · · · , an) ∈ IRn. Enta˜o lim k→+∞ xk = a ∈ IRn ⇐⇒ lim k→+∞ xki = ai, ∀i = 1, 2, · · · , n. Demonstrac¸a˜o: Para demonstrarmos este fato e´ conveniente considerar a norma do ma´ximo. Suponhamos que lim k→+∞ xk = a em IR n. Enta˜o, para i = i, 2, · · · , n, temos |xki − ai| ≤ max{|xk1 − a1|, |xk2 − a2|, · · · , |xkn − an|} = ‖xk − a‖M . Por hipo´tese, temos que ‖xk−a‖M −→ 0, quando k → +∞. Portanto, |xki−a| −→ 0, quando k → +∞, donde lim k→+∞ xki = ai para todo i = 1, 2, · · · , n. Reciprocamente, suponhamos que lim k→+∞ xki = ai, para todo i = 1, 2, · · · , n. Assim, dado � > 0, existem k1, k2, · · · , kn ∈ IN tais que |xki − ai| < �, sempre que k ≥ ki para cada i = 1, 2, · · · , n. Seja k0 = max1≤i≤n{ki}. Enta˜o, |xki − ai| < �, se k ≥ k0, ∀i = 1, 2, · · · , n. Logo, ‖xk − a‖M = max{|x1 − a1|, |x2 − a2|, · · · , |xn − an|} < � sempre que k ≥ k0. Segue que lim k→+∞ xk = a ∈ IRn. 2 Corola´rio 2.1 Sejam (xk)k∈IN e (yk)k∈IN sequeˆncias do IRn e (λk)k∈IN uma sequeˆncia real tais que lim k→+∞ xk = a, lim k→+∞ yk = b e lim k→+∞ λk = λ. Enta˜o: (1) lim k→+∞ (xk + yk) = a+ b; (2) lim k→+∞ λkxk = λa; (3) lim k→+∞ 〈xk, yk〉 = 〈a, b〉 em IR; (4) lim k→+∞ ‖xk‖ = ‖a‖ em IR. 8 Demonstrac¸a˜o: Sejam xk = (xk1, · · · , xkn), yk = (yk1, · · · , ykn), a = (a1, · · · , an), b = (b1, · · · , bn), com lim k→+∞ xki = ai e lim k→∞ yki = bi, para todo i = 1, · · · , n. Para provar (1) temos que xk + yk = (xk1 + yk1, · · ·xkn − ykn). Pelo Teorema 2.2 e sabendo que, para sequeˆncias reais, vale a igualdade lim k→+∞ (xki + yki) = lim k→+∞ xki + lim k→+∞ yki temos que lim k→+∞ (xk + yk) = lim k→+∞ (xki + yki) = lim k→+∞ xki + lim k→+∞ yki = lim k→+∞ xk + lim k→+∞ yk = a+ b Para provar (2) temos que λkxk = λk(xk1, · · · , xkn) = (λkxk1, · · · , λkxkn). Pelo Teo- rema 2.3 e sabendo que lim k→+∞ λkxki = lim k→+∞ λk lim k→+∞ xki quando esses limites existem, temos lim k→+∞ λkxk = lim k→+∞ λkxki = lim k→+∞ λk lim k→+∞ xki = λ lim k→+∞ xk = λa. Para a prova de (3) temos que 〈xk, yk〉 = xk1yk1 + · · ·+ xknykn logo lim k→+∞ 〈xk, yk〉 = lim k→+∞ (xk1yk2 + · · ·+ xknykn) = lim k→+∞ xk1yk1 + · · ·+ lim k→+∞ xknykn = lim k→+∞ xk1 lim k→+∞ yk1 + · · ·+ lim k→+∞ xkn lim k→+∞ ykn = a1b1 + · · ·+ anbn = 〈a, b〉. Resta-nos provar a igualdade (4). Para tal, necessitamos demonstrar a seguinte desi- gualdade ∣∣∣‖xk‖ − ‖a‖∣∣∣ ≤ ‖xk − a‖ 9 De fato, note que ‖xk‖ = ‖xk − a+ a‖ ≤ ‖xk − a‖+ ‖a‖. Da´ı, ‖xk‖ − ‖a‖ ≤ ‖xk − a‖. Por outro lado, ‖a‖ = ‖a− xk + xk‖ ≤ ‖a− xk‖+ ‖xk‖ = ‖xk − a‖+ ‖xk‖. Ou seja, ‖a‖ − ‖xk‖ ≤ ‖xk − a‖ Portanto, da definic¸a˜o de valor absoluto, conclu´ımos que,∣∣∣‖xk‖ − ‖a‖∣∣∣ ≤ ‖xk − a‖ Assim, dado � > 0, existe k ∈ IN tal que se k ≥ k0 tem-se que∣∣∣‖xk‖ − ‖a‖∣∣∣ ≤ ‖xk − a‖ < � visto que lim k→+∞ xk = a. 2 Teorema 2.3 (Bolzano - Weierstrass) Toda sequeˆncia limitada do IRn possui uma subsequeˆncia convergente. Demonstrac¸a˜o: Sabemos que o Teorema de Bolzano - Weierstrass e´ va´lido na reta real, isto e´, toda sequeˆncia limitada de nu´meros reais possui uma subsequeˆncia convergente. Seja (xk)k∈IN uma sequeˆncia limitada do IRn. Enta˜o, a primeira coordenada (xk1)k∈IN de (xk)k∈IN e´ uma sequeˆncia limitada e, portanto, podemos obter um subconjunto infinito IN1 ⊂ IN e um nu´mero real a1 tal que lim k→+∞ xk1 = a1. Do mesmo modo, a sequeˆncia (xk2)k∈IN1 da segunda coordenada de (xk)k∈IN e´ limitada e, portanto, podemos obter um subconjunto infinito IN2 ⊂ IN1 e um nu´mero real a2 tal que lim k→∞ xk2 = a2. 10 Seguindo o mesmo racioc´ınio, podemos obter conjuntos infinitos IN ⊃ IN1 ⊃ IN2 ⊃ · · · ⊃ INi e nu´meros reais ai tais que lim k∈INi xki = ai Pondo a = (a1, a2, · · · , an) o Teorema 2.2 nos garante que lim k∈IN xk = a. 2 Teorema 2.4 Duas normas quaisquer no espac¸o IRn sa˜o equivalentes. Demonstrac¸a˜o: Pela transitividade da equivaleˆncia das normas, basta provar que, dada uma norma ‖ · ‖ arbitra´ria no IRn, ela e´ equivalente a` norma da soma ‖ · ‖S. Dado x ∈ IRn enta˜o x = x1e1 + x2 + e2 + · · · + xnen onde {e1, e2, · · · , en} e´ a base canoˆnica do IRn. Enta˜o, ‖x‖ = ‖x1e1 + x2e2 + · · ·+ cnen‖ ≤ |x1|‖e1‖+ |x2|‖e2‖+ · · ·+ |xn|‖en‖ ≤ max 1≤i≤n {‖ei‖}(|x1|+ |x2|+ · · ·+ |xn|) = c1‖x‖E. Resta provar que existe c2 > 0 tal que ‖x‖E ≤ c2‖x‖. Suponha, por absurdo, que isto na˜o ocorra. Enta˜o, existe uma sequeˆncia (xk)k∈IN tal que ‖xk‖S > k‖xk‖, ∀k ∈ IN ou seja, ‖xk‖S ‖xk‖ < 1 k , ∀k ∈ IN. Denotemos vk = xk ‖xk‖S e teremos ‖vk‖S = 1, ∀k ∈ IN (2.2) e ‖vk‖ < 1 k , ∀k ∈ IN 11 Logo, a sequeˆncia (vk)k∈IN e´ limitada em (IRn, ‖ · ‖S). Pelo Teorema de Bolzano - Weierstrass, existem uma subsequeˆncia (vkj)j∈IN e v ∈ IRn tal que lim j→+∞ vkj = v em (IR n, ‖ · ‖S) E, pelo item 4 do corola´rio 2.1 temos que lim j→+∞ ‖vkj‖S = ‖v‖S = 1, de acordo com a equac¸a˜o(2.2). Assim, ‖v‖S 6= 0. Por outro lado, ‖vkj‖ ≤ 1kj implica que ‖vkj‖ −→ 0 quando j → +∞. Da´ı, ‖v‖ = ‖v − vkj + vkj‖ ≤ ‖v − vkj‖+ ‖vkj‖. Pela primeira parte da demonstrac¸a˜o, no´s temos que ‖v − vkj‖ ≤ c1‖v − vkj‖ −→ 0 quando j → +∞, assim como ‖vkj‖ → 0 quando j → +∞. Assim ‖v‖ ≤ 0 =⇒ ‖v‖ = 0 o que e´ uma contradic¸a˜o visto que tinhamos provado que ‖v‖ 6= 0. Isto mostra que existe c2 > 0 tal que ‖x‖S ≤ c2‖x‖. 2 12 Cap´ıtulo 3 Noc¸o˜es Topolo´gicas no IRn Definic¸a˜o 3.1 Seja X ⊂ IRn. O ponto a ∈ IRn e´ chamado ponto de acumulac¸a˜o de X quando, para todo � > 0, B�(a) ∩ ({X − a}) 6= ∅. Definic¸a˜o 3.2 Dizemos que o ponto a ∈ X ⊂ IRn e´ um ponto interior do conjunto X se existir � > 0 tal que B�(a) ⊂ X. Definic¸a˜o 3.3 Seja X ⊂ IRn. Denomina-se fronteira de X o conjunto dos pontos y ∈ IRn tais que, para todo � > 0, a bola B�(y) conte´m pontos de X e do complementar de X. Definic¸a˜o 3.4 O conjunto X ⊂ IRn e´ aberto quando todo ponto de X e´ ponto interior de X (X = intX). Definic¸a˜o 3.5 Seja X ⊂ IRn. O ponto a ∈ IRn e´ chamado de ponto aderente a X quando existe uma sequeˆncia (xk)k∈IN ⊂ X tal que lim k→+∞ xk = a. 13 Definic¸a˜o 3.6 O conjunto de todos os pontos aderentes a X e´ denominado o fecho de X e e´ denotado por X. Definic¸a˜o 3.7 Um conjunto X ⊂ IRn e´ fechado quando X conte´m todos os seu pontos aderentes. Definic¸a˜o 3.8 Dizemos que X ⊂ IRn e´ compacto se X e´ fechado e limitado. Definic¸a˜o 3.9 Seja X ⊂ IRn. Uma cobertura de X e´ uma famı´lia arbitraria de subcon- juntos (Aλ)λ∈L do IRn tais que X ⊂ ⋃ λ∈L Aλ. Observac¸a˜o 3.1 Se Aλ ⊂ IRn e´ aberto para todo λ ∈ L enta˜o (Aλ)λ∈L e´ uma cobertura aberta. Observac¸a˜o 3.2 Se L e´ enumera´vel enta˜o (Aλ)λ∈L e´ uma cobertura enumera´vel. Observac¸a˜o 3.3 Se L e´ finito enta˜o (Aλ)λ∈L e´ uma cobertura finita. Definic¸a˜o 3.10 Seja Y ⊂ X ⊂ IRn. Dizemos que Y e´ denso em X quando para todo a ∈ X existe uma sequeˆncia (yk)k∈IN ⊂ Y tal que lim k→+∞ yk = a. Proposic¸a˜o 3.1 Todo conjunto X ⊂ IRn conte´m um subconjunto E enumera´vel e denso em X. Demonstrac¸a˜o: Sabemos da ana´lise real que o conjunto Q dos nu´meros racionais e´ enumera´vel e denso em IR. Seja Q+ = {r1, r2, · · · , ri, · · ·} (uma enumerac¸a˜o de Q) enta˜o Qn = {q1, q2, · · · , qi, · · ·} (onde qi e´ uma n-upla de nu´meros racionais) e´ enumera´vel e denso no IRn. 14 Seja β = {Bri(qj); i, j ∈ IN} = {B1, B2, · · · , Bk, · · ·} e tomemos β′ uma subfamı´lia de β tal que β′ = {(Bki)ki∈IN′ , IN′ ⊂ IN;Bki ∩X 6= ∅}. Definimos E = {xki} onde xki ∈ (Bki ∩X).Enta˜o E e´ enumera´vel e E ⊂ X. Resta provar que E e´ denso em X. Sejam x ∈ X e � > 0. Existe r ∈ Q tal que r < � 2 . Como Qn e´ denso em IRn, existe q ∈ Qn tal que q ∈ Br(x) =⇒ ‖x− q‖ < r =⇒ x ∈ Br(q) = Bki para algum i ∈ IN′ logo x e xki ∈ Bki ⇒ ‖x− xki‖ < 2r < � e, portanto, x ∈ B�(x) ⊂ E. Isto mostra que E e´ denso em X. 2 Proposic¸a˜o 3.2 Seja (Ki)i∈IN uma sequeˆncia de conjuntos compactos na˜o vazios. Se K1 ⊃ K2 ⊃ · · · ⊃ Ki ⊃ · · · enta˜o ∞⋂ i=1 Ki = K e´ compacta e na˜o vazia. Demonstrac¸a˜o: E´ fa´cil ver que K e´ compacto pois cada Ki e´ compacto e K1 ⊃ K2 ⊃ · · ·. Vamos provar que K 6= ∅. Seja (xi)i∈IN uma sequeˆncia do IRn tal que xi ∈ Ki, ∀i ∈ IN. Enta˜o (xi)i∈IN ⊂ K1 o que implica em (xi)i∈IN limitada. Pelo Teorema de Bolzano - Weierstrass, existe uma subsequeˆncia (xij)j∈IN de (xi)i∈IN que converge para um ponto x ∈ IRn. Dado i ∈ IN enta˜o xij ∈ Ki, ∀ij ≥ i donde x ∈ ∞⋂ i=1 Ki. 2 Proposic¸a˜o 3.3 Se X ⊂ IRn enta˜o toda cobertura aberta (Aλ)λ∈L de X possui uma subcobertura enumera´vel. Demonstrac¸a˜o: Seja E = {x1, x2, · · · , xi, · · ·} ⊂ X um subconjunto enumera´vel, denso em X. Consideremos o conjunto β de todas as bolas abertas Br(x), com centro em um ponto de E, raio racional e tais que cada uma delas esta´ contida em algum Aλ. Observe 15 que β e´ um conjunto enumera´vel de bolas abertas. Afirmamos que as bolas B ∈ β cobrem X. Com efeito, dado x ∈ X, existe λ ∈ L tal que x ∈ Aλ. Como Aλ e´ aberto, existe r > 0 racional tal que B2r(x) ⊂ Aλ. Sendo E denso em X, podemos encontrar xi ∈ E com |x − xi| < r. Enta˜o, x ∈ Br(xi). Para mostrar que Br(xi) ∈ β, restar ver que esta bola esta´ contida em Aλ. Ora, y ∈ Br(xi)⇒ |y − xi| < r ⇒ |y − x| ≤ |y − xi|+ |xi − x| < 2r ⇒ y ∈ B2r(x) ⊂ Aλ. Isto conclui a verificac¸a˜o de que as bolas B ∈ β cobrem X. Tomando uma enumerac¸a˜o B1, · · · , Bi, · · · para essas bolas e escolhendo para cada i ∈ IN um ı´ndice λi ∈ L tal que Bi ⊂ Aλi , conclu´ımos que X ⊂ Aλ1 ∪ Aλ2 ∪ · · · ∪ Aλi ∪ · · · 2 Teorema 3.1 O conjunto K ⊂ IRn e´ compacto se, e somente se, toda cobertura aberta de K admite uma subcobertura finita. Demonstrac¸a˜o: Seja K ⊂ IRn um conjunto compacto, isto e´, K e´ fechado e limitado. Seja (Aλ)λ∈L uma cobertura aberta de K. Pela proposic¸a˜o 3.3 existe uma subcobertura enumera´vel de K, isto e´, K ⊂ (A1 ∪ A2 ∪ · · · ∪ Ai ∪ · · ·). Para cada i ∈ IN definimos Ki = K ∩ {A1∪A2∪···∪AiIRn . Enta˜o, valem as seguintes propriedades para Ki: (i) Ki e´ compacto, ∀i ∈ IN pois K e´ fechado e {A1∪A2∪···∪AiIRn e´ fechado. (ii) K ⊃ K1 ⊃ K2 ⊃ pois • se x ∈ K1 ⇒ x ∈ K e x ∈ {A1IRn ⇒ x ∈ K e x /∈ A1 logo K ⊃ K1; 16 • se x ∈ K2 ⇒ x ∈ K e x ∈ {A1∪A2IRn ⇒ x ∈ K e /∈ A1∪A2 ⇒ x ∈ K e x /∈ A1, x /∈ A2. Como x ∈ K e x /∈ A1 enta˜o K2 ⊃ K. Analogamente para os demais casos. (iii) ∞⋂ i=1 Ki = ∅. De fato, se x ∈ K enta˜o x ∈ Ai para algum i. Isto implica que x /∈ {A1∪A2∪···∪AiIRn e, portanto, x /∈ Ki. Segue que ∞⋂ i=1 Ki = ∅. Pela proposic¸a˜o 3.2, devemos ter Ki0 = ∅ para algum i0, ja´ que ∩∞i=1Ki = ∅. Da´ı, pela propriedade (ii) acima, Ki = ∅, ∀i ≥ i0. Logo K ∩ {A1∪···∪Ai0IRn = ∅. Se x ∈ K enta˜o x /∈ {A1∪···∪Ai0IRn , isto e´, x ∈ A1 ∪ · · · ∪Ai0 . Segue que {Ai}1≤i≤i0 e´ uma subcobertura finita para K. Reciprocamente, suponhamos que toda cobertura aberta de K admite uma subcober- tura finita. Provemos inicialmente que K e´ limitado. De fato, para cada x ∈ K considere a bola B1(x). Enta˜o {B1(x)}x∈K e´ uma cobertura aberta de K. Pela hipo´tese, existe uma subcobertura finita para K, ou seja, K ⊂ {B1(x1) ∪B1(x2) ∪ · · · ∪B1(xj)} logo K e´ limitado. Provemos agora que K e´ um conjunto fechado. Para tanto, suponhamos por absurdo que K na˜o e´ fechado. Isto e´, existe a ∈ K tal que a /∈ K. Para cada i ∈ IN definimos Ai = { B1/i[a] IRn . Enta˜o, temos as seguintes propriedades para Ai: 1. Ai e´ aberto para todo i ∈ IN. 2. A1 ⊂ A2 ⊂ A3 ⊂ · · · 3. K ⊂ (A1 ∪ A2 ∪ · · · ∪ Ai ∪ · · ·) 17 Com efeito, para provar 3, temos que a /∈ K e se x ∈ K enta˜o x 6= a. Da´ı, existe i ∈ IN suficientemente grande tal que x /∈ B1/i[a]. Isto implica que x ∈ Ai e assim, x ∈ (A1 ∪ A2 ∪ · · · ∪ Ai ∪ · · ·). Da hipo´tese, a cobertura (Ai)i∈IN de K admite uma subcobertura finita, isto e´, K ⊂ (A1i ∪ A2i ∪ · · · ∪ Aip). Pela propriedade 2 acima, temos que Ai1 ∪ · · · ∪ Aip e´ igual ao conjunto de maior ı´ndice. Enta˜o K ⊂ Ai, para algum i logo B1/i[a] ∩K = ∅ o que e´ um absurdo pois a e´ ponto aderente de K. Segue enta˜o que K e´ fechado. 2 18 Cap´ıtulo 4 Func¸o˜es Cont´ınuas Definic¸a˜o 4.1 Sejam X ⊂ IRm e f : X −→ IRn uma func¸a˜o. Dizemos que f e´ cont´ınua no ponto a ∈ X quando para todo � > 0 existe δ > 0 (δ dependendo de a e de �) tal que se x ∈ X e ‖x− a‖IRm < δ enta˜o ‖f(x)− f(a)‖IRn < �. Exemplo 4.1 As projec¸o˜es Πi : IR n −→ IR, i = 1, · · · , n que a cada y ∈ IRn associa Πi(y) = yi sa˜o cont´ınuas. De fato, dado � > 0 tomemos δ = �, e da´ı, se 0 < ‖x− y‖IRn < δ enta˜o |Πi(x)− Πi(y)|IR = |xi − yi| ≤ ‖x− y‖IRn < δ = �. Observac¸a˜o 4.1 A composta de uma func¸a˜o cont´ınua e´ cont´ınua, isto e´, dados X ⊂ IRm, Y ⊂ IRn, f : X ⇒ IRn cont´ınua no ponto a ∈ X, com f(X) ⊂ Y , g : Y ⇒ IRp cont´ınua no ponto b = f(a), enta˜o composta g ◦ f : X ⇒ IRp e´ cont´ınua no ponto a. Demonstrac¸a˜o: Dado arbitrariamente � > 0 existe, em virtude da continuidade de g, um nu´mero η > 0 tal que y ∈ Y, |y−f(a)| < η =⇒ |g(y)−g(f(a))| < �. Por sua vez, a partir de η, a continuidade de f nos fornece δ > 0 tal que x ∈ X, |x− a| < δ =⇒ |f(x)− f(a)| < η. Segue-se que x ∈ X, |x− a| < δ =⇒ |g(f(x))− g(f(a))| < �, logo g ◦ f e´ cont´ınua no ponto a. 2 Seja X ⊂ IRm. Dar uma func¸a˜o f : X ⇒ IRn e´ o mesmo que dar n func¸o˜es reais f1, f2, · · · , fn : X ⇒ IR definidas por fi = Πi ◦ f , as quais sa˜o chamadas as coordenadas 19 da aplicac¸a˜o f . Para todo x ∈ X, temos f(x) = (f1(x), f2(x), · · · , fn(x)). Para indicar que as fi sa˜o as func¸o˜es coordenadas de f , escreve-se f = (f1, f2, · · · , fn). Teorema 4.1 Uma func¸a˜o f = (f1, f2, · · · , fn) : X ⊂ IRm ⇒ IRn e´ cont´ınua no ponto a ∈ X se, e somente se, para todo i = 1, 2, · · · , n tem-se que fi : X ⇒ IR e´ cont´ınua no ponto a. Demonstrac¸a˜o: Suponhamos que f = (f1, f2, · · · , fn) : X ⊂ IRm ⇒ IRn e´ cont´ınua no ponto a. Sabemos que as projec¸o˜es Πi : IR n ⇒ IR sa˜o cont´ınuas. Ale´m disso, (Πi ◦ f)(x) = Πi(f(x)) = fi(x) logo, fi e´ cont´ınua para todo i = 1, 2, · · · , n. Reciprocamente, suponhamos que fi : X ⇒ IR e´ cont´ınua em a, qualquer que seja i = 1, 2, · · · , n. Da´ı, dado � > 0, existe δi > 0 tal que se x ∈ X e ‖x − a‖IRm < δi enta˜o |fi(x)− fi(a)| < �. Tomando δ0 = min{δ1, · · · , δn} temos que, se x ∈ X e ‖x − a‖IRn < δ0 enta˜o |fi(x)− fi(a)| < �, para todo i = 1, · · · , n. Isto implica que ‖f(x)− f(a)‖M,IRn = max {|f1(x)− f1(a)|, · · · , |fn(x)− fn(a)|} < �. Portanto, f e´ cont´ınua no ponto a. 2 Teorema 4.2 Uma func¸a˜o f : X ⊂ IRm ⇒ IRn e´ cont´ınua em um ponto a ∈ X se, e somente se, para toda sequeˆncia (xk)k∈IN ⊂ IRm tal que lim k→+∞ xk = a em IR m tem-se que lim k→+∞ f(xk) = f(a) em IR n. Demonstrac¸a˜o: Suponhamos que f e cont´ınua no ponto a e que lim k→+∞ xk = a. Assim, dado � > 0, existe δ > 0 tal que se x ∈ X, ‖x − a‖IRm < δ enta˜o ‖f(x) − f(a)‖IRn < �. Como lim k→+∞ xk = a, existe k0 ∈ IN tal que k > k0 implica ‖f(xk) − f(a)‖IRn < �. Logo lim k→+∞ f(xk) = f(a). 20 Reciprocamente, suponhamos que f na˜o seja cont´ınua no ponto a. Enta˜o existe � > 0 tal que, para cada k ∈ IN, podemos obter xk ∈ X com ‖xk − a‖IRm < 1/k e ‖f(xk)− f(a)‖IRm ≥ �. Enta˜o, lim k→+∞ xk = a sem que seja lim k→+∞ f(xk) = f(a) o que contradiz a hipo´tese. 2 Teorema 4.3 A func¸a˜o f : X ⊂ IRm ⇒ IRn e´ cont´ınua se, e somente se, para todo aberto A ⊂ IRm tem-se quef−1(A) ⊂ IRm e´ aberto em X. Demonstrac¸a˜o: Suponhamos que f e´ cont´ınua e A ⊂ IRn e´ um aberto. Tomemos um ponto a ∈ f−1(A). Enta˜o f(a) ∈ A. Pela definic¸a˜o de conjunto aberto, existe � > 0 tal que B�(f(a)) ⊂ A. Sendo f cont´ınua, existe δ > 0 tal que se x ∈ X, ‖x− a‖IRm < δ enta˜o ‖f(x)− f(a)‖IRn < �. Isto significa que f(Bδ(a) ∩X) ⊂ B�(f(a)) ⊂ A, donde (Bδ(a) ∩X) ⊂ f−1(A) logo f−1(A) e´ aberto em X. Reciprocamente, se a imagem inversa por f de todo aberto de IRn e´ aberto emX, enta˜o, dado a ∈ X e � > 0, como B�(f(a)) e´ aberto, conclu´ımos que A = {x ∈ X; ‖f(x) − f(a)‖IRn < �} e´ aberto em X. Evidentemente, a ∈ A. Logo existe δ > 0 tal que (Bδ(a) ∩ X) ⊂ A. Isto significa que x ∈ X, ‖x − a‖IRm < δ enta˜o ‖f(x) − f(a)‖IRn < �, ou seja, que f e´ cont´ınua no ponto a. Como a ∈ X e´ arbitra´rio, segue-se que f e´ cont´ınua em X. 2 21 Cap´ıtulo 5 Aplicac¸o˜es Lineares 5.1 Primeiros resultados Seja T : IRm ⇒ IRn uma func¸a˜o linear. Enta˜o, dado x ∈ IRm temos T (x) = T (x1e1 + · · ·+ xmem) = T (x1e1) + · · ·+ T (xmem) = x1T (e1) + · · ·+ xmT (em) = n∑ i=1 xiT (ei) onde β = {e1, · · · , em} e´ uma base canoˆnica do IRm. Seja c = max{‖T (e1)‖IRn , ‖T (e2)‖IRn , · · · , ‖T (em)‖IRn} enta˜o ‖T (x)‖IRn = ∥∥∥∥∥ m∑ i=1 xiT (ei) ∥∥∥∥∥ IRn ≤ m∑ i=1 ‖xi‖IRn‖T (ei)‖IRn ≤ m∑ i=1 c‖xi‖IRn = c m∑ i=1 |xi| isto e´, ‖T (x)‖IRn ≤ c‖x‖IRm , ∀x ∈ IRm. Assim, podemos ver que ‖T (x)− T (y)‖IRn = ‖T (x− y)‖IRn ≤ c‖x− y‖IRm , ∀x, y ∈ IRm. 22 Estas considerac¸o˜es mostram que: Teorema 5.1 Toda aplicac¸a˜o linear T : IRm ⇒ IRn e´ lipschtziana e, consequentemente, cont´ınua. Denotamos L(IRm, IRn) = {T : IRm −→ IRn;T e´ linear } Munindo L das operac¸o˜es usuais de adic¸a˜o e multiplicac¸a˜o por escalar, isto e´, • ∀T, L ∈ L(IRm, IRn); (T + L)(x) = T (x) + L(x). • ∀λ ∈ IR, ∀T ∈ L(IRm, IRn); (λT )(x) = λT (x), segue que, L(IRm, IRn) com essas operac¸o˜es, e´ um espac¸o vetorial. Consideremos β = {e1, · · · , em} e γ = {v1, · · · , vn} bases do IRm e do IRn, respectiva- mente. Enta˜o T (e1) = a11v1 + · · ·+ a1nvn T (e2) = a21v1 + · · ·+ a2nvn ... ... T (em) = am1v1 + · · ·+ amnvn (5.1) Da´ı, T (x) = m∑ i=1 T (xiei) = m∑ i=1 xiT (ei) = x1T (e1) + · · ·+ xmT (em) = x1(a11v1 + · · ·+ a1nvn) + · · ·+ xm(am1v1 + · · ·+ amnvn) = (a11x1 + · · ·+ am1xm)v1 + · · ·+ (a1nx1 + · · ·+ amnxm)vn logo [T (x)]γ = a11 · · · am1 ... . . . ... a1n · · · amn n×m x1 ... xm m×1 23 ou seja, [T (x)]γ = A t · [x]β onde At e´ a transposta da matriz dos coeficientes da equac¸a˜o (5.1). Com isso, a func¸a˜o F : L(IRm, IRn) −→Mn×m(IR) que a cada T ∈ L(IRm, IRn) associa a matriz At, isto e´, F (T ) = At, e´ um isomorfismo. Observac¸a˜o 5.1 O espac¸o L(IRm, IR) = (IRm)∗ e´ chamado de espac¸o dual de IRm. Tal espac¸o e´ isomorfo a M1×m(IR) = IRm. O espac¸o L(IR, IRn) e´ isomorfo a Mn×1(IR). O espac¸o IR∗ = L(IR, IR) e´ isomorfo a M1×1(IR). 5.2 Norma de uma aplicac¸a˜o linear Dada T ∈ L(IRm, IRn) temos que T e´ cont´ınua. Enta˜o, como B1[0] ⊂ IRm e´ um con- junto compacto vemos que ‖T (x)‖IRn assume ma´ximo (e mı´nimo) na bola fechada B1[0], Portanto, podemos definir a seguinte aplicac¸a˜o: ‖ · ‖L(IRm,IRn) : L(IRm, IRn)→ IR T 7−→ ‖T‖L(IRm,IRn) = max x∈B1[0] {‖T (x)‖IRn} . E´ fa´cil ver que ‖ · ‖L(IRm,IRn) e´ uma norma em L(IRm, IRn). Ale´m disso, dado x ∈ IRm, x 6= 0 e T ∈ L(IRm, IRn), temos que ‖T (x)‖IRn = ∥∥∥∥T (‖x‖IRm · x‖x‖IRm )∥∥∥∥ IRn = ‖x‖IRm · ∥∥∥∥T ( x‖x‖IRn )∥∥∥∥ IRn ≤ ‖T‖L(IRm,IRn) · ‖x‖IRm logo ‖T (x)‖IRn ≤ ‖T‖L(IRm,IRn) · ‖x‖IRm , ∀x ∈ IRm. Ale´m disso, se T ∈ L(IRm, IRk) e L ∈ L(IRk, IRn) enta˜o (L ◦ T ) ∈ L(IRm, IRn) e vale a desigualdade ‖L ◦ T‖L(IRm,IRn) ≤ ‖L‖L(IRm,IRn) · ‖T‖L(IRm,IRn) 24 Cap´ıtulo 6 Func¸o˜es reais de m varia´veis reais 6.1 Definic¸o˜es Sabemos que se f : I ⊂ IR −→ IR e a ∈ I, f e´ diferencia´vel no ponto a quando existe o limite f ′(a) = lim h→0 f(a+ h)− f(a) h e o nu´mero f ′(a) e´ a derivada de f no ponto a. No que segue, adotaremos a seguinte notac¸a˜o: U ⊂ IRm e´ um conjunto aberto; a ∈ U ; f : U ⊂ IRm −→ IR uma func¸a˜o. Para esta func¸a˜o f na˜o faz sentido a expressa˜o f(a+ h)− f(a) h pois na˜o e´ poss´ıvel “dividir por vetores”. Note entretanto que dado um vetor v ∈ IRm existe uma reta que passa por a e tem a direc¸a˜o de v, dada por {a+ tv; t ∈ IR} Como a ∈ U e U e´ aberto, existe δ > 0 tal que Bδ(a) ⊂ U . Portanto, se |t| < � = δ‖v‖ enta˜o ‖(a+ tv)− a‖ = ‖tv‖ = |t|‖v‖ < δ 25 Isto implica que (a+ tv) ∈ Bδ(a) ⊂ U . Logo, tomando λ : (−�, �) −→ IRm t 7−→ λ(t) = a+ tv teremos isto e´, λ(t) ∈ U, ∀t ∈ (−�, �) com λ(0) = a. Portanto, faz sentido definir a seguinte composic¸a˜o: (f ◦ λ) : (−�, �) ⊂ IR −→ IR t 7−→ (f ◦ λ)(t) = f(a+ tv) Definic¸a˜o 6.1 Dado v ∈ IRm, definimos a derivada direcional de f no ponto a, na direc¸a˜o de v como sendo ∂f ∂v (a) = (f ◦ λ)′(0). Equivalentemente, ∂f ∂v (a) = lim t→0 (f ◦ λ)(t)− (f ◦ λ)(0) t = lim t→0 f(a+ tv)− f(a) t Definic¸a˜o 6.2 Seja β = {e1, · · · , em} a base canoˆnica do IRm, enta˜o a derivada direcional de f num ponto a na direc¸a˜o de ei e´ a i-e´sima derivada parcial de f no ponto a. ∂f ∂xi (a) = ∂f ∂ei (a) = lim t→0 f(a+ tei)− f(a) t 26 6.2 Treˆs exemplos importantes Exemplo 6.1 (Existeˆncia das derivadas parciais na˜o implica em continuidade) Seja f : IR2 −→ IR dada por f(x, y) = xy x2 + y2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0) e seja v = (α, β) ∈ IR2. Enta˜o, temos (i) Se α 6= 0 e β = 0 ∂f ∂v (0, 0) = lim t→0 f(αt, 0) t = 0. (ii) Se α = 0 e β 6= 0 ∂f ∂v (0, 0) = lim t→0 f(0, βt) t = 0. (iii) Se α 6= 0 e β 6= 0 ∂f ∂v (0, 0) = lim t→0 f(αt, βt) t = lim t→0 [ t2αβ t2α2 + t2β2 · 1 t ] = α α2 + β2 lim t→0 1 t = +∞ (iv) @ lim (x,y)→(0,0) f(x, y). De fato, se y = x, enta˜o lim (x,y)→(0,0) f(x, y) = lim x→0 x2 2x2 = 1 2 e, se x = 0 enta˜o lim (x,y)→(0,0) f(x, y) = 0. De (i) e (ii) existem as derivadas ∂f ∂x (0, 0) = ∂f ∂y (0, 0) = 0 e de (iv), f na˜o e´ cont´ınua em (0, 0). Aparentemente isto se deve ao fato de que na˜o existem as derivadas direcionais exceto nas direc¸o˜es dos eixos. Entretanto, considere o pro´ximo exemplo. Exemplo 6.2 (Existeˆncia de derivadas direcionais na˜o implica continuidade) Seja f : IR2 −→ IR dada por f(x, y) = x2y x4 + y2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0) . Dado v = (α, β) ∈ IR2 enta˜o, temos 27 (i) Se α 6= 0 e β = 0 ∂f ∂v (0, 0) = lim t→0 f(αt, 0) t = 0. (ii) Se α = 0 e β 6= 0 ∂f ∂v (0, 0) = lim t→0 f(0, βt) t = 0. (iii) Se α 6= 0 e β 6= 0 ∂f ∂v (0, 0) = lim t→0 f(αt, βt) t = lim t→0 [ α2t2βt α4t4 + β2t2 · 1 t ] = lim t→0 α2β α4t2 + β2 = α2β β2 = α2 β Em resumo, ∂f ∂v (0, 0) = 0, se β = 0 α2 β , se β 6= 0. Portanto, existem as derivadas direcionais segundo qualquer direc¸a˜o. Entretanto, @ lim (x,y)→(0,0) f(x, y) De fato, se y = x2 enta˜o lim (x,y)→(0,0) f(x, y) = lim x→0 x4 2x4 = 1 2 e, se y = 0 enta˜o lim (x,y)→(0,0) f(x, y) = 0. Exemplo 6.3 (Existeˆncia de derivadas direcionais na˜o implica dependeˆncia linear da direc¸a˜o) Para cada v ∈ IRm podemos associar ∂f ∂v (a) Isto define uma aplicac¸a˜o ∂f ∂• (a) : IR m −→ IR v 7−→ ∂f ∂v (a) Sera´ que: ∂f ∂(v + w) (a) = ∂f ∂v (a) + ∂f ∂w (a) e ∂f ∂λv (a) = λ ∂f ∂v (a) 28 Na verdade, sempre temos ∂f ∂(λv) (a) = lim t→0 f(a+ tλv)− f(a) t lim t→0 λ f(a+ tλv)− f(a) tλ = λ limt→0 f(a+ (tλ)v)− f(a) (λt) = λ ∂f ∂v (a) Por outro lado, considere f(x, y) = x2y x2 + y2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0). E´ fa´cil ver que existem as derivadas direcionais e ∂f ∂(v + w) 6= ∂f ∂v + ∂f ∂w . Com efeito, se v = (a1, b1) e w = (a2, b2) enta˜o v + w = (a1 + a2, b1 + b2) e (i) ∂f ∂(v + w) (0, 0) = lim t→0 f(t(a1 + a2), t(b1 + b2)) t = lim t→0 t2(a1 + a2) 2 · t(b1 + b2) t2(a1 + a2)2 + t2(b1 + b2)2 · 1 t = lim t→0 (a1 + a2) 2(b1 + b2) 2 (a1 + a2)2 + (b1 + b2)2 = (a1 + a2) 2(b1 + b2) 2 (a1 + a2)2 + (b1 + b2)2 . (ii) ∂f ∂v (0, 0) = lim t→0 f(ta1, tb1) t lim t→0 (t2a21)(tb1) t2a21 + t 2b21 · 1 t = a21b1 a21 + b 2 1 . 29 (iii) ∂f ∂w (0, 0) = lim t→0 f(ta2, tb2) t = lim t→0 (t2a22)(tb2) t2a22 + t 2b22 · 1 t = a22b2 a22 + b 2 2 . Portanto, ∂f ∂(v + w) 6= ∂f ∂v + ∂f ∂w . Teorema 6.1 (Teorema do Valor Me´dio) Sejam U ⊂ IRm um aberto, a ∈ U, v ∈ IRm e f : U −→ IR. Se o segmento de reta [a, a + v] ⊂ U, f|[a,a+v] e´ cont´ınua e existe ∂f ∂v (x) para todo x ∈ [a, a + v], enta˜o existe θ ∈ (0, 1) tal que f(a+ v)− f(a) = ∂ ∂v (a+ θv). Demonstrac¸a˜o: Seja λ : [0, 1] −→ U t 7−→ λ(t) = a+ tv uma parametrizac¸a˜o do segmento [a, a+ v] e definamos ξ = (f ◦ λ) : [0, 1] −→ IR. Enta˜o (1) ξ e´ cont´ınua em [0, 1]; (2) ξ e´ deriva´vel em (0, 1); logo, pelo Teorema do Valor Me´dio para func¸o˜es reais de uma varia´vel real, temos que existe θ ∈ (0, 1) tal que ξ(1)− ξ(0) = ξ′(θ). 30 Mas, observe que ξ′(θ) = lim t→0 ξ(θ + t)− ξ(θ) t = lim t→0 f(a+ θv)− f(a+ θv) t = ∂f ∂v (a+ θv), ξ(1) = f(a+ v) e ξ(0) = f(a). Isto conclui a prova do teorema. 2 Corola´rio 6.1 Sejam U ⊂ IRm um conjunto aberto e conexo, f : U −→ IR. Se ∂f ∂v (x) = 0 para todo x ∈ U e para todo v ∈ IRm enta˜o f e´ contante. Demonstrac¸a˜o: De fato, fixemos a ∈ U . A existeˆncia de ∂f ∂v garante a continuidade da restric¸a˜o f|[a,b] para todo segmento de reta [a, b] ⊂ U . Pelo Teorema do Valor Me´dio, tem-se que [a, b] ⊂ U implica f(b) − f(a) = 0, isto e´, f(a) = f(b). Ora, qualquer ponto x ∈ U pode ser ligado ao ponto a por uma poligonal contida em U , com ve´rtices a0 = a, a1, · · · , ak−1, ak = x, em virtude da conexidade do aberto U . Assim, temos suces- sivamente, f(a) = f(a1) = · · · = f(x). Logo f(x) = f(a) para todo x ∈ U , donde f e´ constante. 2 6.3 Func¸o˜es diferencia´veis Sejam I ⊂ IR, a ∈ I e f : I −→ IR. Por definic¸a˜o f e´ diferencia´vel em a quando existe o limite lim h→0 f(a+ h)− f(a) h = f ′(a) e, neste caso, f ′(a) e´ a derivada de f no ponto a. 31 Equivalentemente, lim h→0 f(a+ h)− f(a) h = f ′(a)⇐⇒ lim h→0 ∣∣∣∣f(a+ h)− f(a)h − f ′(a) ∣∣∣∣ = 0⇐⇒ lim h→0 |f(a+ h)− f(a)− f ′(a)h| |h| = 0. logo, se f e´ diferencia´vel em a ∈ I, existe uma transformac¸a˜o linear Tf ′(a) : IR −→ IR h 7−→ Tf ′(a)(h) = f ′(a)h tal que lim h→0 |f(a+ h)− f(a)− Tf ′(a)(h)| |h| = 0. Reciprocamente, suponha que exista uma transformac¸a˜o linear T ∈ L(IR, IR) = IR∗ tal que lim h→0 |f(a+ h)− f(a)− T (h)| |h| = 0. Como T ∈ IR∗ vemos que T (x) = αx para algum α ∈ IR. Logo lim h→0 |f(a+ h)− f(a)− αh| |h| = 0 isto e´, existe lim h→0 f(a+ h)− f(a) h = α e, portanto, f e´ diferencia´vel em a e f ′(a) = α. O que acabamos de fazer demonstra a seguinte proposic¸a˜o: Proposic¸a˜o 6.1 Sejam I ⊂ IR um intervalo aberto, a ∈ I e f : I −→ IR. Enta˜o, f e´ diferencia´vel no ponto a se, e somente se, existe T ∈ L(IR, IR) = IR∗ tal que lim h→0 ∣∣∣∣f(a+ h)− f(a)− T (h)h ∣∣∣∣ = 0. No caso afirmativo, a transformac¸a˜o T = f ′(a) e´ a derivada de f no ponto a. Equivalentemente, f e´ diferencia´vel em a se, e somente se, existe α ∈ IR tal que lim h→0 ∣∣∣∣f(a+ h)− f(a)− αhh ∣∣∣∣ = 0. 32 No caso afirmativo, α = f ′(a) e´ a derivada de f no ponto a. Se a ∈ I e I e´ uma aberto na reta IR, existe � > 0 tal que B�(a) ⊂ I. Denotamos por F(�, IR) = {u : (−�, �) −→ IR;u e´ uma func¸a˜o }. Desta forma, dada T ∈ L(IR, IR) = IR∗ podemos associar a func¸a˜o rT ∈ F(�, IR), denominada func¸a˜o resto (ou erro) relativa a T , dada por rT (h) = f(a+ h)− f(a)− T (h) = f(a+ h)− (T (h) + f(a)), h ∈ (−�, �). A reta paralela a T passando pelo ponto (a, f(a)) e´: L(x) = αx+ f(a)− αa, onde T (x) = αx. Enta˜o L(a+ h) = αh+ f(a) = T (h) + f(a). Suponha que f e´ diferencia´vel em a. Enta˜o lim h→0 ∣∣∣∣rf ′(a)(h)h ∣∣∣∣ = limh→0 ∣∣∣∣f(a+ h)− f(a)− f ′(a)hh ∣∣∣∣ = 0 Reciprocamente, dada T ∈ L(IR, IR) suponha que lim h→0 ∣∣∣∣rT (h)h ∣∣∣∣ = 0. Pela definic¸a˜o de resto rT (h) h = f(a+ h)− f(a)− T (h) h Enta˜o, lim h→0 ∣∣∣∣f(a+ h)− f(a)− T (h)h ∣∣∣∣ = 0 Segue que f e´ diferencia´vel em a e T = f ′(a). Proposic¸a˜o 6.2 Sejam I ⊂ IR um intervalo aberto, a ∈ I e f : I −→ IR. Enta˜o, f e´ diferencia´vel no ponto a se, e somente se, existe T ∈ L(IR, IR) tal que o resto relativo a T satisfaz lim h→0 rT (h) h = 0. 33 Definic¸a˜o 6.3 Sejam I ⊂ IRm um aberto, a ∈ U e f : U −→ IR. Dizemos que f e´ diferencia´vel no ponto a quando existir T ∈ L(IRm, IR) = (IRm)∗ tal que lim h→0 |f(a+ h)− f(a)− T (h)| ‖h‖ = 0 Observamos que, se f e´ diferencia´vel em a, a transformac¸a˜o T satisfazendo a definic¸a˜o acima e´ u´nica. De fato, sejam T1, T2 ∈ L(IRm, IR) tais que lim h→0 |f(a+ h)− f(a)− T1(h)| ‖h‖ = 0 e lim h→0 |f(a+ h)− f(a)− T2(h)| ‖h‖ = 0. Enta˜o, note que |T1(h)− T2(h)| ‖h‖ = |T1(h)− (f(a+ h)− f(a)) + f(a+ h)− f(a)− T2(h)| ‖h‖ ≤ |f(a+ h)− f(a)− T1(h)|‖h‖ + f(a+ h)− f(a)− T2(h)| ‖h‖ Tomando o limite com h→ 0 temos lim h→0 |T1(h)− T2(h)| ‖h‖ = 0, isto e´, para todo � > 0, existe δ > 0 tal que 0 < ‖h‖ < δ enta˜o |T1(h)− T2(h)| < �‖h‖ Dado x ∈ IRm podemos escrever x = 2‖x‖ δ δ 2 x ‖x‖ . Enta˜o |T1(x)− T2(x)| = ∣∣∣∣T1(2‖x‖δ δ2 x‖x‖ ) − T2 ( 2‖x‖ δ δ 2 x ‖x‖ )∣∣∣∣ = 2 ‖x‖ δ ∣∣∣∣T1(δ2 x‖x‖ ) − T2 ( δ 2 x ‖x‖ )∣∣∣∣ mas ∥∥∥∥δ2 x‖x‖ ∥∥∥∥ = δ2 < 2‖x‖ δ � δ 2 = ‖x‖� 34 Assim, para todo � > 0 |T1(x)− T2(x)| < �‖x‖, ∀x ∈ IRm e, pela norma da transformac¸a˜o linear, temos 0 ≤ ‖T1 − T2‖L(IRm,IR) = max x∈B1[0] |T1(x)− T2(x)| < � Como � e´ arbitra´rio, temos que T1 − T2 = 0, ou seja, T1 = T2. Definic¸a˜o 6.4 A transformac¸a˜o linear T da definic¸a˜o anterior e´ a derivada de f no ponto a denotada por df(a). Analogamente, dada T ∈ L(IRm, IR) podemos definir rT (h) = f(a+ h)− f(a)− T (h). Teorema 6.2 Sejam U ⊂ IRm aberto, a ∈ U e f : U → IR. Enta˜o f e´ diferencia´vel no ponto a se, e somente se, existe T ∈ L(IRm, IR) tal que o resto associado a T satisfaz lim h→0 rT (h) ‖h‖ = 0. Demonstrac¸a˜o: Suponhamos f diferencia´vel no ponto a ∈ U . Isto, por definic¸a˜o, quer dizer que existe T ∈ L(IRm, IR) tal que lim h→0 |f(a+ h)− f(a)− T (h)| ‖h‖ = 0 isto e´, lim h→0 |rT (h)| ‖h‖ = 0 2 Teorema 6.3 Sejam U ⊂ IRm aberto e a ∈ U . Se f : U → IR e´ diferencia´vel em a enta˜o: (i) f e´ cont´ınua em a. (ii) f possui derivada direcional ∂f ∂v (a) segundo qualquer direc¸a˜o v ∈ IRm e ∂f ∂v (a) = df(a)(v). 35 (iii) A derivada de f no ponto a e´ df(a) = ( ∂f ∂x1 (a), · · · , ∂f ∂xm ) isto e´, df(a) : IRm −→ IR v 7−→ df(a)(v) = ( ∂f ∂x1 (a), · · · , ∂f ∂xm ) v1 ... vm = m∑ j=1 ∂f(a) ∂xj vj. (iv) As derivadas direcionais ∂f(a) ∂v dependem linearmente de v. Demonstrac¸a˜o: (i) Como f e´ diferencia´vel em a, dado � > 0, existe δ > 0 tal que |f(a+ h)− f(a)− (df(a))(h)| ≤ �‖h‖IRm , se ‖h‖IRm < δ Em particular, se � = 1 existe δ > 0 talque |f(a+ h)− f(a)− (df(a))(h)| ≤ ‖h‖IRm , se ‖h‖IRm < δ Logo, |f(a+ h)− f(a)| = |f(a+ h)− f(a)− df(a)(h) + df(a)(h)| ≤ |f(a+ h)− f(a)− df(a)(h)|+ |df(a)(h)| ≤ ‖h‖IRm + c‖h‖IRm = (c+ 1)‖h‖IRm = k‖h‖IRm isto e´, se ‖h‖IRm < δ enta˜o |f(a+ h)− f(a)| ≤ k‖h‖IRm . Segue que f e´ cont´ınua no ponto a. 36 (ii) Como f e´ diferencia´vel em a enta˜o, para todo � > 0, existe δ > 0 tal que, se 0 < ‖h‖IRm < δ enta˜o |f(a+ h)− f(a)− (df(a))(h)| ≤ �‖h‖IRm . Logo, dado v ∈ IRm, v 6= 0 tomamos h = tv para 0 < |t| < δ‖v‖IRm , ou seja, para 0 < ‖h‖IRm = |t|‖v‖IRm < δ, enta˜o |f(a+ h)− f(a)− (df(a))(tv)| ≤ �|t|‖v‖IRm donde ∣∣∣∣f(a+ h)− f(a)t − (df(a))(v) ∣∣∣∣ ≤ �‖v‖IRm Em resumo, para todo � > 0, existe η > 0 ( η = δ ‖v‖ ) tal que se 0 < |t| < η enta˜o ∣∣∣∣f(a+ tv)− f(a)t − df(a)(v) ∣∣∣∣ < ‖v‖IRm� e isto implica que lim t→0 f(a+ tv)− f(a) t = (df(a))(v) por sua vez, isto implica que existe ∂f(a) ∂v = (df(a))(v). (iii) Sabemos que L(IRm, IR) e´ isomorfo a M1×m(IR) (o conjunto das matrizes 1 ×m com entradas reais) e que df(a) ∈ L(IRm, IR). Da´ı, (df(a))(e1) = A1 (df(a))(e2) = A2 ... ... ... (df(a))(em) = Am Pelo item anterior A1 = ∂f ∂e1 (a) = ∂f ∂x1 (a) ... ... ... Am = ∂f ∂em (a) = ∂f ∂xm (a) 37 Logo, df(a) = ( ∂f ∂x1 (a), · · · , ∂f ∂xm (a) ) 1×m e (df(a))(v) = ( ∂f ∂x1 (a), · · · , ∂f ∂xm (a) ) 1×m v1 ... vm = m∑ j=1 ∂f(a) ∂xj vj. (iv) Imediato de (ii) pois df(a) e´ linear. 2 Teorema 6.4 (Condic¸a˜o de diferenciabilidade) Sejam U ⊂ IRm aberto e a ∈ U . Se f : U −→ IR e´ tal que existem as derivadas parciais ∂f ∂xj numa vizinhanc¸a de a e estas sa˜o cont´ınuas no ponto a, enta˜o f e´ diferencia´vel em a. Demonstrac¸a˜o: Seja η > 0 tal que ∂f ∂xj (x) existe, para todo x ∈ Bη(a), ∀j = 1, · · · ,m. Enta˜o, dado � > 0, existe δ > 0(0 < δ < η) tal que se ‖ξ‖IRm < δ enta˜o∣∣∣∣ ∂f∂xj (a+ ξ)− ∂f∂xj (a) ∣∣∣∣ < � Agora, seja h ∈ IRm tal que ‖h‖ < δ. Considere p(0) = (a1, a2, a3, · · · , am) p(1) = (a1 + h1, a2, a3, · · · , am) p(2) = (a1 + h1, a2 + h2, a3, · · · , am) ... p(m) = (a1 + h1, a2 + h2, a3 + h3, · · · , am + hm) = a+ h Enta˜o, f(a+ h)− f(a) = f(p(m))− f(p(0)) = f(p(m))− f(p(m−1)) + f(p(m−1) − · · · − f(p(1)) + f(p(1))− f(p(0)) = m∑ j=1 [ f(p(j))− f(p(j−1))] 38 Note que [ p(j−1), p(j) ] e´ um segmento paralelo ao j-e´simo eixo, ou seja,[ p(j−1), p(j) ] = { p(j−1) + t(hjej), t ∈ [0, 1] } onde {e1, · · · , em} e´ a base canoˆnica do IRm. Pelo Teorema do Valor Me´dio, existe θj ∈ (0, 1) tal que f(p(j))− f(p(j−1)) = ∂f ∂(hjej) (p(j−1) + θj(hjej)) = hj ∂f ∂ej (p(j−1) + θj(hjej)) = hj ∂f ∂xj (p(j−1) + θj(hjej)) Portanto f(a+ h)− f(a) = m∑ j=1 hj ∂f ∂xj (p(j−1) + θj(hjej)) donde∣∣∣∣∣f(a+ h)− f(a)− m∑ j=1 hj ∂f(a) ∂xj ∣∣∣∣∣ = ∣∣∣∣∣ m∑ j=1 ( ∂f ∂xj (p(j−1) + θj(hjej))− ∂f(a) ∂xj ) hj ∣∣∣∣∣ ≤ m∑ j=1 ∣∣∣∣ ∂f∂xj (p(j−1) + θj(hjej))− ∂f(a)∂xj ∣∣∣∣ |hj| < � m∑ j=1 |hj| = �‖h‖S,IRm < m�‖h‖IRm Resumindo, temos que para todo � > 0 existe δ > 0 tal que se 0 < ‖h‖IRm < δ enta˜o∣∣∣f(a+ h)− f(a)−∑mj=1 ∂f(a)∂xj hj∣∣∣ ‖h‖IRm < m� isto e´, lim h→0 ∣∣∣f(a+ h)− f(a)−∑mj=1 ∂f(a)∂xj hj∣∣∣ ‖h‖IRm = 0, o que prova que f e´ diferencia´vel em a e df(a)(h) = m∑ j=1 ∂f ∂xj (a)hj. 2 Observac¸a˜o 6.1 Toda func¸a˜o de classe C1 e´ diferencia´vel. 39 6.3.1 Gradiente Para cada T ∈ L(IRm, IR) = (IRm)∗ existe um u´nico vT ∈ IRm tal que T (u) = 〈vT , u〉. Definic¸a˜o 6.5 Seja f : U ⊂ IRm −→ IR uma func¸a˜o diferencia´vel no ponto a do aberto U . Enta˜o definimos o gradiente de f no ponto a, denotado por ∇f(a), como sendo o vetor do IRm tal que df(a)(u) = 〈∇f(a), u〉, ∀u ∈ IRm. Teorema 6.5 Seja f : U ⊂ IRm −→ IR diferencia´vel no ponto a do aberto U . Enta˜o ∇f(a) = ( ∂f(a) ∂x1 , · · · , ∂f(a) ∂xm ) . 6.4 Diferenciabilidade de func¸o˜es f : U ⊂ IRm −→ IRn Definic¸a˜o 6.6 Sejam U ⊂ IRm um conjunto aberto, a ∈ U e f = (f1, · · · , fn) : U ⊂ IRm −→ IRn. Dizemos que f e´ diferencia´vel no ponto a quando existe T ∈ L(IRm, IRn) tal que lim h→0 ‖f(a+ h)− f(a)− T (h)‖IRn ‖h‖IRm = 0 No caso afirmativo, a aplicac¸a˜o T e´ u´nica e e´ denominada a derivada de f no ponto a. Denota-se T = df(a). Para cada T ∈ L(IRm, IRn) podemos definir a func¸a˜o resto associada a T rT : B�(0) ⊂ IRm −→ IRn h 7−→ rT (h) = f(a+ h)− f(a)− T (h) Aqui � > 0 e´ tal que B�(a) ⊂ U . 40 Teorema 6.6 Sejam U ⊂ IRm um aberto e a ∈ U . Uma func¸a˜o f : U ⊂ IRm −→ IRn e´ diferencia´vel em a se, e somente se, existe T ∈ L(IRm, IRn) tal que o resto rT satisfaz lim h→0 rT (h) ‖h‖ = 0. Demonstrac¸a˜o: Imediata da definic¸a˜o. Definic¸a˜o 6.7 Sejam U ⊂ IRm um aberto, a ∈ U , v ∈ IRm e f : U ⊂ IRm −→ IRn. A derivada direcional de f no ponto a, na direc¸a˜o do vetor v, e´ o vetor ∂f ∂v (a) ∈ IRn dado pelo limite ∂f ∂v (a) = lim t→0 f(a+ tv)− f(a) t quando o limite existir. Equivalentemente, um vetor w ∈ IRn e´ a derivada direcional de f no ponto a, na direc¸a˜o do vetor v, quando para todo � > 0, existir δ > 0 tal que se 0 < |t| < δ enta˜o∥∥∥∥f(a+ tv)− f(a)t − w ∥∥∥∥ IRn < �. Teorema 6.7 Sejam U ⊂ IRm um aberto, a ∈ U e f = (f1, · · · , fn) : U ⊂ IRm −→ IRn. (a) Se f e´ diferencia´vel em a, enta˜o f e´ cont´ınua. (b) Se f e´ diferencia´vel em a enta˜o existe ∂f ∂v (a) segundo qualquer direc¸a˜o v ∈ IRm e, ale´m disso, ∂f ∂v (a) = df(a)(v). (c) f e´ diferencia´vel em a se, e somente se, para cada i = 1, 2, · · · , n tem-se que 41 fi : U ⊂ IRm −→ IR e´ diferencia´vel em a. No caso afirmativo temos df(a) : IRm −→ IRn v 7−→ df(a)(v) = ∂f1 ∂x1 (a) · · · ∂f1 ∂xm (a) ... . . . ... ∂fn ∂x1 (a) · · · ∂fn ∂xm (a) n×m v1 ... vm m×1 = m∑ j=1 ∂f1 ∂xj (a)vj ... m∑ j=1 ∂fn ∂xj (a))vj n×1 . Demonstrac¸a˜o: (a) Desde que f e´ diferencia´vel em a, dado � > 0 existe δ > 0 tal que se 0 < ‖h‖ < δ enta˜o ‖f(a+ h)− f(a)− df(a)(h)‖ < �‖h‖. Para � = 1, existe δ > 0 tal que ‖f(a+ h)− f(a)− df(a)(h)‖IRn < �‖h‖IRm . Enta˜o ‖f(a+ h)− f(a)‖IRn = ‖f(a+ h)− f(a)− df(a)(h) + d(f(a)(h)‖IRn ≤ ‖f(a+ h)− f(a)− df(a)(h)‖IRn + ‖d(f(a)(h)‖IRn ≤ (1 + c)‖h‖IRm se 0 < ‖h‖IRm < δ. Isto mostra que f e´ cont´ınua no ponto a. (b) Suponha f diferencia´vel em a. Enta˜o dado � > 0 existe δ > 0 tal que se 0 < ‖h‖ < δ segue que ‖f(a+ h)− f(a)− df(a)(h)‖ < �‖h‖ 42 Dado v ∈ IRm, v 6= 0, seja h = tv com 0 < |t| < δ‖v‖ . Assim, 0 < ‖h‖ = |t|‖v‖ < δ e, enta˜o ‖f(a+ tv)− f(a)− tdf(a)(v)‖ < �|t|‖v‖ ou seja, ∥∥∥∥f(a+ tv)− f(a)t − df(a)(v) ∥∥∥∥ < �‖v‖. Logo, existe lim t→0 ( f(a+ tv)− f(a) t ) = df(a)(v) = ∂f ∂v (a). (c) Suponha que f = (f1, · · · , fn) : U ⊂ IRm −→ IRn e´ diferencia´vel no ponto a. Enta˜o dado � > 0 existe δ > 0 tal que se 0 < ‖h‖ < δ enta˜o ‖f(a+ h)− f(a)− df(a)(h)‖IRn < �‖h‖IRm . Agora, note que, fixado i ∈ {1, · · · , n} temos |fi(a+ h)− fi(a)− df(a)i(h)| ≤ max 1≤k≤n {|fk(a+ h)− fk(a)− df(a)k|} = ‖f(a+ h)− f(a)− df(a)(h)‖M,IRn ≤ ‖f(a+ h)− f(a)− df(a)(h)‖IRn < �‖h‖IRm Em resumo, para todo � > 0 existe δ > 0 tal que se 0 < ‖h‖ < δ enta˜o |fi(a+ h)− fi(a)− df(a)i(h)| < �‖h‖IRm com df(a)i ∈ L(IRm, IR). Logo fi : U −→ IR e´ diferencia´vel em a e, ale´m disso, dfi(a) = df(a)i ou seja, dfi(a) : IR m −→ IR v 7−→ dfi(a)(v) = ( ∂fi ∂x1 (a), · · · , ∂fi ∂xm (a) ) v1 ... vm = m∑ j=1 ∂fi(a) ∂vj vj 43 Reciprocamente, suponhamos que para cada i = 1, · · · , n, fi : U −→ IR e´ diferencia´vel. Dado � > 0 existe δ > 0 tal que se 0 < ‖h‖ < δ enta˜o |fi(a+h)− fi(a)− dfi(a)(h)| < �‖h‖, ∀i = 1, · · · , n Definimos T : IRm −→ IRn onde Ti = dfi(a) para i = 1, · · · , n. E´ claro que T ∈ L(IRm, IRn) e T (v) = ∂f1 ∂x1 (a) · · · ∂f1 ∂xm (a) ... . . . ... ∂fn ∂x1 (a) · · · ∂fn ∂xm (a) n×m v1 ... vm m×1 Logo ‖f(a+ h)− f(a)− T (h)‖IRn ≤ n max 1≤i≤n {|fi(a+ h)− fi(a)− Ti(h)|} ≤ n�‖h‖IRm se 0 < ‖h‖ < δ, isto e´, existe T ∈ L(IRm, IRn) tal que lim h→0 ‖f(a+ h)− f(a)− T (h)‖IRn ‖h‖IRm = 0 . Logo f e´ diferencia´vel em a e df(a) = T . 2 Observac¸a˜o 6.2 A matriz ( ∂fi ∂xj ) n×m , 1 ≤ i ≤ n, 1 ≤ j ≤ m, e´ denominada matriz jacobiana de f no ponto a. Quando n = m o determinante da matriz jacobiana e´ deno- minado o Jacobiano de f no ponto a. 6.4.1 Regra da Cadeia Teorema 6.8 Sejam f : U ⊂ IRm −→ IRν e g : V ⊂ IRν −→ IRn tais que f(U) ⊂ V ( U e V sa˜o abertos). Se f e´ diferencia´vel no ponto a ∈ U e g e´ diferencia´vel no ponto b = f(a) enta˜o (g ◦ f) : U ⊂ IRm −→ IRn e´ diferencia´vel no ponto a e d(g ◦ f)(a) = (dg(b) ◦ df(a)) Demonstrac¸a˜o: Como df(a) ∈ L(IRm, IRν) e dg(a) ∈ L(IRν , IRn) temos que (dg(b) ◦ df(a)) ∈ L(IRm, IRn). Ale´m disso, 44 ‖(g ◦ f)(a+ h)− (g ◦ f)(a)− (dg(b) ◦ df(a))(h)‖IRn = = ‖(g ◦ f)(a+ h)− (g ◦ f)(a) + dg(b)(f(a+ h)− f(a))− dg(b)(f(a+ h)− f(a))− (dg(b)(df(a)(h))‖ = ‖g(f(a+ h))− g(f(a))− dg(b)(f(a+ h)− f(a)) + dg(b)(f(a+ h)− f(a)− df(a)(h))‖ ≤ ‖g(f(a+ h))− g(b)− dg(b)(f(a+ h)− f(a))‖+ ‖dg(b)(f(a+ h)− f(a)− df(a)(h))‖ ≤ c1‖f(a+ h)− f(a)− df(a)(h)‖ (6.1) Agora, como f e´ diferencia´vel no ponto a e g e´ diferencia´vel no ponto b = f(a), enta˜o dado � > 0 existe δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que ‖f(a+ h)− f(a)− df(a)(h)‖IRν ≤ �‖h‖IRm , se ‖h‖ < δ1 (6.2) e ‖g(b+ ξ)− g(b)− dg(b)(ξ)‖IRn ≤ �‖ξ‖IRµ , se ‖ξ‖ < δ2 (6.3) Ale´m disso, sabemos que existem δ3 > 0 e c2 > 0 tais que ‖f(a+ h)− f(a)‖ < c2‖h‖ se ‖h‖ < δ3 (6.4) Escolhendo δ = min{δ1, δ2 c2 , δ3} teremos se ‖h‖ < δ ⇒ ‖f(a+ h)− f(a)‖IRν ≤ c2‖h‖IRm < c2 δ2 c2 = δ2 ⇒ ‖g (b+ f(a+ h)− f(a))− g(b)− dg(b) (f(a+ h)− f(a)) ‖IRn ≤ �‖f(a+ h)− f(a)‖IRν ou seja ‖g (b+ f(a+ h)− f(a))− g(b)− dg(b) (f(a+ h)− f(a)) ‖IRn ≤ �c2‖h‖IRν . (6.5) Logo, ‖(g ◦ f)(a+ h)− (g ◦ f)(a)− (dg(b) ◦ df(a)) (h)‖IRn ≤ �c2‖h‖IRm + �‖h‖IRm = �(c2 + 1)‖h‖IRm , se ‖h‖ < δ 45 Resumindo, para todo � > 0 existe δ > 0 tal que se ‖h‖ < δ enta˜o ‖(g ◦ f)(a+ h)− (g ◦ f)(a)− (dg(b) ◦ df(a)) (h)‖IRn ≤ �(c2 + 1)‖h‖IRm , se ‖h‖ < δ. 2 Exemplo 6.4 Seja f : [0, 2pi] −→ IR2 dada por f(t) = (cos t, sen t). E´ claro que f e´ diferencia´vel em (0, 2pi) e df(t0) : IR −→ IR2 t 7−→ df(t0)(t) = − sen t0 cos t0 2×1 (t)1×1 = −t sen t0 t cos t0 isto e´, df(t0)(t) = (−t sen t0, t cos t0) ou ainda, df(t0) = (− sen t0, cos t0). Note ainda que ‖df(t0)‖L(IR,IR2) = max|t|≤1 ‖df(t0)(t)‖IR2 = max|t|≤1 |t| = 1 e ‖df(t0)‖IR2 = ‖(− sen t0, cos t0)‖IR2 = 1 logo df(t0) 6= 0, ∀t0 ∈ (0, 2pi). Entretanto, f(2pi)− f(0) = 0. Segue que f(2pi)− f(0) 6= f ′(t0)(2pi). Portanto, na˜o pode haver uma fo´rmula ana´loga ao teorema do valor me´dio quando f : U ⊂ IRm −→ IRn, n > 1. 46 Teorema 6.9 (Desigualdade do valor me´dio para func¸o˜es vetoriais) Seja f : [a, b] ⊂ IR −→ IRn uma func¸a˜o cont´ınua em [a, b] e diferencia´vel em (a, b). Enta˜o, existe x ∈ (a, b) tal que ‖f(b)− f(a)‖IRn ≤ ‖df(x)‖L(IR,IRn)(b− a), ou, equivalentemente ‖f(a+ u)− f(a)‖IRn ≤ ‖df(a+ θu)‖L(IR,IRn)|u|. Demonstrac¸a˜o: Considere v = (f(b)− f(a)). Temos que 0 6= v ∈ IRn. Definamos ϕ : [a, b] −→ IR t 7−→ ϕ(t) = 〈v, f(t)〉IRn Observe que ϕ e´ cont´ınua em [a, b] e diferencia´vel em (a, b). Pelo Teorema do Valor Me´dio, existe x ∈ (a, b) tal que |ϕ(b)− ϕ(a)| = ϕ′(x)(b− a), isto e´, |ϕ(b)− ϕ(a)| = 〈v, f ′(x)〉(b− a) ≤ ‖v‖‖f ′(x)‖(b− a). Por outro lado, |ϕ(b)− ϕ(a)| = 〈v, f(b), 〉 − 〈v, f(a)〉 = 〈v, f(b)− f(a)〉 = 〈v, v〉 = ‖v‖2. Logo ‖v‖2 ≤ ‖v‖‖f ′(x)‖(b− a). Como v 6= 0, enta˜o, da desigualdade acima resulta que ‖v‖ ≤ ‖f ′(x)‖(b− a) que, por sua vez, implica que ‖f(b)− f(a)‖ ≤ ‖f ′(x)‖IRn(b− a) 47 ou, ainda, ‖f(b)− f(a)‖ ≤ ‖df(x)‖L(IR,IRn)(b− a). 2 Teorema 6.10 Seja f : U ⊂ IRm −→ IRn uma func¸a˜o diferencia´vel no conjunto aberto e convexo U . Se a, b ∈ U enta˜o existe um ponto c no segmento (a, b) tal que ‖f(b)− f(a)‖IRn ≤ ‖df(c)‖L(IRm,IRn)‖b− a‖IRm . Demonstrac¸a˜o: A func¸a˜o λ : [0, 1] −→ IRm que a cada t ∈ [0, 1] associa λ(t) = a+t(b−a) e´ uma parametrizac¸a˜o do segmento retil´ıneo [a, b] com λ(0) = a e λ(1) = b. Ale´m disso, λ([0, 1]) ⊂ U pois U e´ convexo. Tomando (f ◦λ) : [0, 1] ⊂ IR −→ IRn segue que f ◦λ e´ cont´ınua em [0, 1] e diferencia´vel em (0, 1). Pelo teorema anterior, existe x ∈ (0, 1) tal que ‖(f ◦ λ(1)− (f ◦ λ)(0)‖IRn ≤ ‖d(f ◦ λ)(x)‖L(IR,IRn). Da´ı, ‖f(b)− f(a)‖IRn ≤ ‖d(f ◦ λ)(x)‖L(IR,IRn) Agora, observamos que (d(f ◦ λ)(x))(v) = (df(λ(x)) ◦ dλ(x))v = [df(λ(x))(dλ(x)v) = [df(λ(x))](v(b− a)), ∀v ∈ IR. Enta˜o, ‖d(f ◦ λ)(x)‖ = max |v|≤1 ‖d(f ◦ λ)(x)(v)‖IRm = max |v|≤1 ‖df(λ(x))(v(b− a))‖nIR ≤ max |v|≤1 ‖df(λ(x))‖L(IRm,IRn)|v|‖b− a‖IRm ≤ ‖f(λ(x))‖L(IRm,IRn)‖b− a‖. 48 Como x ∈ (0, 1) e λ(x) = c ∈ (a, b), segue que ‖f(b)− f(a)‖IRm ≤ ‖df(c)‖L(IRm,IRn)‖b− a‖IRm 2 6.5 Func¸o˜es Continuamente Diferencia´veis e Deriva- das de Ordem Dois Definic¸a˜o 6.8 Uma func¸a˜o f = (f1, · · · , fn) : U ⊂ IRm −→ IRn e´ dita continuamente diferencia´vel no aberto U (ou de classe C1 em U) quando para todo i = 1, · · · , n e j = 1, · · · ,m existe ∂fi ∂xj em todo ponto de U e ∂fi ∂xj : U −→ IR sa˜o cont´ınuas. Observac¸a˜o 6.3 f = (f1, · · · , fn) ∈ C1(U, IRn)⇔ fi ∈ C1(U, IR), ∀i = 1, · · · , n. Se f = (f1, · · · , fn) : U −→ IRn e´ de classe C1, enta˜o f e´ diferencia´vel em todo ponto U . Desta forma, fica definida a aplicac¸a˜o df : U −→ L(IRm, IRn) x 7−→ df(x). Teorema 6.11 A func¸a˜o f = (f1, · · · , fn) : U ⊂ IRm −→ IRn e´ de classe C1 se, e somente se, f e´ diferencia´vel em U e df : U −→ L(IRm, IRn) e´ cont´ınua. Demonstrac¸a˜o: Suponha que f : U −→ IRn e´ de classe C1. Enta˜o, existe ∂fi ∂xj em todo ponto de U e ∂fi ∂xj : U −→ IR e´ cont´ınua para todo i e todo j. Isto e os teoremas 6.4 e 6.7 implicam que f e´ diferencia´vel em U . Ale´m disso, dado arbitrariamente a ∈ U e � > 0, existe δ > 0 tal que, se ‖x− a‖IRm < δ enta˜o∣∣∣∣ ∂fi∂xj (x)− ∂fi∂xj (a) ∣∣∣∣ < �nm, ∀i, j Observe que, df(a)(v) = ( m∑ j=1 ∂f1 ∂xj (a)vj, · · · , m∑ j=1 ∂fn ∂xj (a)vj ) ; 49 df(x)(v) = ( m∑ j=1 ∂f1 ∂xj (x)vj, · · · , m∑ j=1 ∂fn ∂xj (x)vj ) ; logo df(x)(v)− df(a)(v) = ( m∑ j=1 ( ∂f1 ∂xj (x)− ∂f1 ∂xj (a) ) vj, · · · , m∑ j=1 ( ∂fn ∂xj (x)− ∂fn ∂xj (a) ) vj ) ; e, assim, ‖df(x)(v)− df(a)(v)‖IRn ≤ n‖df(x)(v)− df(a)(v)‖M,IRn = nmax {∣∣∣∣∣ m∑ j=1 ( ∂f1 ∂xj (x)− ∂f1 ∂xj (a) ) vj ∣∣∣∣∣ , · · · , ∣∣∣∣∣ m∑ j=1 ( ∂fn ∂xj (x)− ∂fn ∂xj (a) ) vj ∣∣∣∣∣ } ≤ nmax { m∑ j=1 ∣∣∣∣∂f1∂xj (x)− ∂f1∂xj (a) ∣∣∣∣ |vj| , · · · , m∑ j=1 ∣∣∣∣∂fn∂xj (x)− ∂fn∂xj (a) ∣∣∣∣ |vj| } Portanto, ‖df(x)− df(a)‖L(IRm,IRn) = max‖v‖IRm<1 ‖(df(x)− df(a))(v)‖IR n ≤ nmax { m∑ j=1 ∣∣∣∣∂f1∂xj (x)− ∂f1∂xj (a) ∣∣∣∣ , · · · , m∑ j=1 ∣∣∣∣∂fn∂xj (x)− ∂fn∂xj (a) ∣∣∣∣ } = n m∑ j=1 ∣∣∣∣ ∂fi∂xj (x)− ∂fi∂xj (a) ∣∣∣∣ < n ·m · ( � m·n ) = � ou seja, se ‖x−a‖ < δ enta˜o ‖df(x)−df(a)‖L(IRm,IRn) < �. Portanto, df : U −→ L(IRm, IRn) e´ cont´ınua no ponto a. Como a e´ arbitra´rio, conclui-se que df : U −→ L(IRm, IRn) e´ cont´ınua em U . Reciprocamente, suponhamos que f e´ diferencia´vel em U e df : U −→ L(IRm, IRn) e´ cont´ınua. Logo pelo Teorema 6.7 existe ∂f ∂v em U , segundo qualquer direc¸a˜o v ∈ IRm e ∂f ∂v (x) = df(x)(v), ∀x ∈ U . Em particular,se {e1, · · · , em} e´ a base canoˆnica do IRm, 50 existe ∂f ∂ej (x) = df(x)(ej) = ( ∂f1 ∂xj (x), · · · , ∂fn ∂xj (x) ) , ∀j = 1, · · · , n Ale´m disso, se {u1, · · · , un} e´ a base canoˆnica do IRn, temos 〈df(x)(ej), ui〉IRn = ∂fi ∂xj (x). Isto mostra que existe ∂fi ∂xj (x) em todo ponto de U , para todo i = 1, · · · ,m e todo j = 1, · · · , n e, ale´m disso, ∂fi ∂xj (x) = 〈df(x)(ej), ui〉IRn . Para provar a continuidade de ∂fi ∂xj : U −→ IR fac¸amos ∣∣∣∣ ∂fi∂xj (x)− ∂fi∂xj (a) ∣∣∣∣ = | 〈df(x)(ej), ui〉 − 〈df(a)(ej), ui〉 | = |〈df(x)(ej)− df(a)(ej), ui〉| = |〈(df(x)− df(a)) (ej), ui〉| ≤ ‖ (df(x)− df(a)) ej‖IRn‖ui‖IRn ≤ ‖df(x)− df(a)‖L(IRm,IRn)‖ej‖IRn‖ui‖IRn isto e´, ∣∣∣∣ ∂fi∂xj (x)− ∂fi∂xj (a) ∣∣∣∣ ≤ ‖df(x)− df(a)‖L(IRm,IRn) o que mostra a continuidade de ∂fi ∂xj : U −→ IR. 2 De acordo com o teorema anterior, se f : U ⊂ IRm −→ IRn e´ de classe C1 no aberto U enta˜o esta´ definida a aplicac¸a˜o df : U −→ L(IRm, IRn) x 7−→ df(x) 51 a qual e´ cont´ınua. Sabemos que L(IRm, IRn) e´ isomorfo a Mn×m(IR) que, por sua vez, e´ isomorfo a IRn·m. Via este isomorfismo, podemos escrever df : U −→ IRnm x 7−→ df(x) onde as nm func¸o˜es ∂fi ∂xj : U ⊂ IRm −→ IR sa˜o as coordenadas de df . Logo df : U −→ IRnm e´ diferencia´vel se, e somente se, as (nm) func¸o˜es ∂fi ∂xj : U −→ IR sa˜o diferencia´veis. Definic¸a˜o 6.9 Uma func¸a˜o f : U ⊂ IRm −→ IRn definida em um aberto U , diz-se duas vezes diferencia´vel no ponto a ∈ U quando existe um aberto V , com a ∈ V ⊂ U tal que f e´ diferencia´vel em V e a aplicac¸a˜o df : V −→ L(IRm, IRn) e´ diferencia´vel no ponto a. Observac¸a˜o 6.4 Uma func¸a˜o f : U ⊂ IRm −→ IRn e´ duas vezes diferencia´vel em a se, e somente se, as (nm) func¸o˜es ∂fi ∂xj : V ⊂ IRm −→ IR sa˜o diferencia´veis em a, ou seja, se, e somente se, ∂f ∂v : V −→ IRn e´ diferencia´vel no ponto a, para todo v ∈ IRm. Dada f : U ⊂ IRm −→ IRn duas vezes diferencia´vel no ponto a ∈ U , a derivada df : V −→ L(IRm, IRn) no ponto a e´ denominada derivada segunda de f no ponto a e e´ denotada por d2f(a). Enta˜o d2f(a) = d(df(a)) ∈ L(IRm,L(IRm, IRn)) ≈ L(IRm, IRnm) Exemplo 6.5 Seja f : U ⊂ IRm −→ IR duas vezes diferencia´vel. Isto e´ equivalente a dizer que as m func¸o˜es ∂f ∂xj : V −→ IR sa˜o diferencia´veis no ponto a, com d ( ∂f ∂xj ) (a) : IRm −→ IR v 7−→ d ( ∂f ∂xj ) (a)(v) = ( ∂2f ∂x1∂xj (a), · · · , ∂ 2f ∂xn∂xj (a) ) v1 ... vm = m∑ k=1 ∂2f ∂xk∂xj (a)vk 52 Enta˜o, d2f(a) = d(df(a)) ∈ L(IRm,L(IRm, IR)) ≈ L(IRm, IRm) onde d2f(a) : IRm −→ (IRm)∗ v 7−→ d2f(a)(v) = ( m∑ k=1 ∂2f ∂xk∂x1 (a)(vk), · · · , m∑ k=1 ∂2f ∂xk∂xm (a)(vk) ) = ∂2f ∂x1∂x1 (a) ∂2f ∂x2∂x1 (a) · · · ∂ 2f ∂xm∂x1 (a) ... ... . . . ... ∂2f ∂x1∂xm (a) ∂2f ∂x2∂xm (a) · · · ∂ 2f ∂xm∂xm (a) v1 ... vm = ( ∂2f ∂xj∂xi (a) ) m×m v1 ... vm m×1 e d2f(a)(v) : IRm −→ IR w 7−→ (d2f(a)(v)) (w) = ( m∑ k=1 ∂2f(a)(vk) ∂xk∂x1 , · · · , m∑ k=1 ∂2f(a)(vk) ∂xk∂xm ) 1×m w1 ... wm m×1 = w1 m∑ k=1 ∂2f(a)(vk) ∂xk∂x1 + · · ·+ wm m∑ k=1 ∂2f(a)(vk) ∂xk∂xm Assim, L(IRm,L(IRm, IR)) ≈ L2(IRm, IR) = {B : IRm × IRm −→ IR;B e´ bilinear} d2f(a) d2f(a) ↘ ↗ Mm×m(IR)( ∂2f ∂xj∂xi (a) ) 53 Assim, ( d2f(a)(v) ) (w) = (w1, · · · , wm) ( ∂2f(a) ∂xi∂xj ) ︸ ︷︷ ︸ matriz Hessiana v1 ... vm isto e´, fica definido o funcional linear d2f(a) : IRm × IRm −→ IR (v, w) 7−→ d2f(a)(v, w) = (w1, · · · , wm) ( ∂2f(a) ∂xi∂xj ) v1 ... vm Para o caso geral, se f : U ⊂ IRm −→ IRn e´ duas vezes diferencia´vel no ponto a ∈ U enta˜o d2f(a) ∈ L(IRm,L(IRm, IRn)). Mas, temos o isomorfismo L(IRm,L(IRm, IRn)) ≈ L2(IRm, IRn) = {B : IRm × IRm −→ IR;B e´ bilinear } que a cada T ∈ L(IRm,L(IRm, IRn)) associa BT onde BT (v, w) = (T (v))(w). Logo, d2f(a) e´ uma aplicac¸a˜o bilinear d2f(a) : IRm × IRm −→ IRn (v, w) 7−→ d2f(a)(v, w) = (d2f(a)(v)) (w) Definic¸a˜o 6.10 Uma func¸a˜o f : U ⊂ IRm −→ IRn e´ de classe C2 no aberto U quando f e´ duas vezes diferencia´vel em todo o ponto de U e a aplicac¸a˜o d2f : U −→ L(IRm,L(IRm, IRn)) e´ cont´ınua. Teorema 6.12 (Schwarz) Sejam U ⊂ IRm um aberto e a ∈ U . Se f : U ⊂ IRm −→ IR e´ duas vezes diferencia´vel no ponto a enta˜o ∂2f ∂xi∂xj (a) = ∂2f ∂xj∂xi (a), ∀ i, j(1 ≤ i, j ≤ k) 54 Demonstrac¸a˜o: Sem perda de generalidade, podemos considerar U ⊂ IR2 e a = (x0, y0). Como U e´ aberto, existe c > 0 tal que o quadrado (x0 − �, x0 + �)× (y0 − �, y0 + �) ⊂ U . Definimos ϕ : (−�, �) −→ IR dada por ϕ(t) = f(x0 + t, y0 + t)− f(x0 + t, y0)− f(x0, y0 + t) + f(x0, y0) Desta forma, para cada t ∈ (−�, �) fixo, a func¸a˜o ξ : [x0 − t, x0 + t] −→ IR que a cada x ∈ [x0 − t, x0 + t] associa ξ(x) = f(x, y0 + t)− f(x, y0) satisfaz (i) ξ(x0 + t)− ξ(x0) = ϕ(t) (ii) ξ e´ diferencia´vel no intervalo (x0, x0 + t) e e´ cont´ınua em [x0, x0 + t] Assim, pelo teorema do valor me´dio, temos que existe θ ∈ (0, 1) tal que ξ(x+ 0 + t)− ξ(x0) = ξ′(x+ θt)t logo ϕ(t) = [ ∂f ∂x (x0 + θt, y0 + t)− ∂f ∂x (x0 + θt, y0) ] t Como ∂f ∂x : U −→ IR e´ diferencia´vel em (x0, y0) enta˜o temos que: lim t→0 ∣∣∣∣∂f∂x (x0 + θt, y0 + t)− ∂f∂x (x0, y0)− d ( ∂f ∂x ) (x0, y0)(θt, t) ∣∣∣∣ √ θ2 + 1 |t| = 0 isto e´, lim t→0 ∂f ∂x (x0 + θt, y0 + t)− ∂f ∂x (x0, y0)− d ( ∂f ∂x ) (x0, y0)(θt, t) t = 0 e tambe´m temos lim t→0 ∂f ∂x (x0 + θt, y0)− ∂f ∂x (x0, y0)− d ( ∂f ∂x ) (x0, y0)(θt, 0) t = 0 Da´ı, lim t→0 ∂f ∂x (x0 + θt, y0 + t)− ∂f ∂x (x0 + θt, y0)− d ( ∂f ∂x ) (x0, y0)(0, t) t = 0 55 ou, lim t→0 [ ∂f ∂x (x0 + θt, y0 + t)− ∂f ∂x (x0 + θt, y0) ] t t2 − d ( ∂f ∂x ) (x0, y0)(0, t) t = 0 ou, ainda, lim t→0 ( ϕ(t) t2 − d ( ∂f ∂x ) (x0, y0)(0, t) t ) = 0 Mas, d ( ∂f ∂x ) (x0, y0)(0, t) = ∂2f ∂x2 (x0, y0)0 + ∂2f ∂y∂x (x0, y0)t Assim, lim t→0 [ ϕ(t) t2 − ∂ 2f ∂y∂x (x0, y0) ] = 0 o que implica lim t→0 ϕ(t) t2 = ∂2f ∂y∂x (x0, y0) Analogamente, considerando, no lugar de ξ, a func¸a˜o ψ : [y0 − t, y0 + t] −→ IR y 7−→ ψ(y) = f(x0 + t, y)− f(x0, y0) obtemos lim t→0 ϕ(t) t2 = ∂2f ∂x∂y (x0, y0). Segue que ∂2f ∂x∂y (x0, y0) = ∂2f ∂y∂x (x0, y0) 2 56
Compartilhar